Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Topologia e Introdução Aos Espaços Metricos PDF
Topologia e Introdução Aos Espaços Metricos PDF
7 de Fevereiro de 2014
Conteúdo
1 Preliminares sobre conjuntos 2
4 Conjuntos conexos 15
4.1 Conexidade e funções contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4.2 Os conjuntos conexos de R são os intervalos . . . . . . . . . . 18
4.3 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
∗
IMPA, Rio de Janeiro, RJ, Brazil, 22430-040.
1
5 Conjuntos compactos 21
5.1 Compactos são completos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
5.2 Compactos são totalmente limitados . . . . . . . . . . . . . . 23
5.3 O critério das subsequências convergentes . . . . . . . . . . . 26
5.4 Compactos de Rd : o teorema de Heine-Borel . . . . . . . . . . 29
5.5 Critérios topológicos para a compacidade . . . . . . . . . . . 29
5.6 Continuidade uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5.7 Conjuntos perfeitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Estas notas serão atualizadas ao longo das próximas aulas.
2
2 Introdução aos espaços métricos
Neste trecho do curso estudaremos um pouco da teoria de espaços métricos,
com ênfase em problemas topológicos, isto é, relacionados a conjuntos abertos
e fechados e a funções contı́nuas.
2.1 Definição
Definição 1 Um espaço métrico é um conjunto X 6= ∅ munido de uma
função d : X ×X → [0, +∞), chamada de métrica sobre X, com as seguintes
propriedades.
2.2 Exemplos
Veremos abaixo os principais exemplos de espaços métricos que serão recor-
rentes no curso. Ocasionalmente usaremos a convenção de denotar por dX
a métrica de X; isto será útil quando tratarmos muitos espaços métricos de
uma única vez.
3
2.2.2 O espaço Euclideano de d dimensões
Nossa segunda classe mais importante de exemplos é dada por X = Rd
com d ∈ N. Os elementos deste conjunto serão representados na forma
x ∈ Rd , com as d coordenadas de x escritas como x[1], x[2], . . . , x[d]. Às
vezes usaremos as seguintes operações:
4
Veja que a primeira soma do lado direito é kxk2 , a segunda é kyk2 e
a terceira pode ser cotada superiormente por kxk kyk (isto é precisa-
mente a desigualdade de Cauchy Schwartz!). Portanto, temos
n
X
2 2 2
kx+yk = kxk +kyk +2 x[i]y[i]. ≤ kxk2 +kyk2 +2kxk kyk = (kxk+kyk)2 .
i=1
2.2.4 Restrições
Nossa última classe de exemplos é obtida por restrições: se Y ⊂ X não é
vazio, a restrição de uma métrica dX sobre X define uma métrica dY sobre Y
[exercı́cio]. Por exemplo, Y = Q, ou Y = [0, 1] também podem ser tomado
como espaços métricos com a métrica dY (a, b) = |a − b| ((a, b) ∈ Y 2 ).
5
2.3 Sequências, limites e completude
Fixo um espaço métrico (X, dX ), podemos falar de sequências {xn }n∈N ⊂ X.
Assim como no caso de sequências reais, isto é apenas uma forma de escrever
uma função de N em X, que trataremos como uma sucessão de termos em
X. Não é difı́cil adaptar as definições da reta R para este caso.
∀n ∈ N : n ≥ n0 ⇒ d(xn , x) < ε.
Exercı́cio 3 Calcule o limite dos vetores cujas coordenadas são n/n!, n2 /n!,
. . . , nd /n! (com n ∈ N).
6
Exemplo 3 Suponha que x ∈ X é discreto, isto é, que existe um r > 0
tal que ∀x ∈ X e ∀y ∈ X\{x}, d(x, y) ≥ r. Neste caso xn é Cauchyse
e somente se existe um n0 tal que xn = xn0 para todo n ≥ n0 (de fato,
basta tomar o n0 correspondendo à escolha de ε = r). Mais ainda: quando
isto acontece, lim xn = xn0 . Segue disto que todo conjunto vira um espaço
métrico completo com a métrica dscreta.
2.4 Continuidade
Vamos definir logo de cara um dos conceitos mais importantes do curso.
X̃ := {x ∈ X : P (x) 6= 0}.
7
Exercı́cio 6 Dado L > 0, suponha que f : X → Y é L-Lipschitz, isto é,
temos dY (f (x), f (x0 )) ≤ L dX (x, x0 ) para quaisquer x, x0 ∈ X. Mostre que f
é contı́nua.
Exercı́cio 8 Fixe S ⊂ X, S 6= ∅.
{dX (x, s) : s ∈ S}
tem um ı́nfimo.
8
Exemplo 6 Todos os subconjuntos são abertos e fechados se a métrica é
discreta.
Exemplo 7 Considere uma bola aberta B(x, r). Afirmamos que ela é um
conjunto aberto. Para isto precisamos mostrar que, dado qualquer y ∈
B(y, r), temos B(y, δ) ⊂ B(x, r) para algum δ > 0.
De fato, dado y ∈ B(x, r), temos r0 := d(x, y) < r. Tomando δ := r − r0 ,
que é positivo, vemos que
∀z ∈ B(y, δ) : d(z, x) ≤ d(z, y) + d(x, y) < δ + r0 = r.
Portanto todo z ∈ B(y, δ) também está em B(x, r), ou seja, B(y, δ) ⊂
B(x, r) CQD.
Exemplo 8 De forma semelhante, podemos provar que B[x, r] é fechado
para todo r ≥ 0 (isto inclui o caso de {x} = B[x, 0]). Para fazer isto
mostraremos que X\B[x, r] é aberto. De fato, para qualquer y ∈ X\B[x, r]
temos d(y, x) =: r0 > r, portanto, se δ := r0 − r, temos
∀z ∈ B(y, δ) : d(z, x) ≥ d(y, x) − d(z, y) > r0 − δ = r,
o que implica B(y, δ) ⊂ X\B[x, r]. Como δ > 0 e podemos encontrar o δ
para qualquer y ∈ X\B[x, r], deduzimos que X\B[x, r] é aberto, de modo
que B[x, r] é fechado.
Exercı́cio 10 Prove que ∅ e X são ambos abertos e fechados.
Exercı́cio 11 Prove que todos os subconjuntos de X são abertos se usamos
a métrica discreta.
Exercı́cio 12 Prove que os intervalos abertos e fechados de R são mesmo
abertos e fechados.
9
Não pode valer um resultado análogo para interseções de um número
infinito de abertos. Por exemplo, em R, a famı́lia
A := {(−t, t) : t > 0}
tem interseção {0}, que não é aberto. No entanto, vale que a interseção de
um número finito de abertos é aberta.
i=1 Ai . 2
o que implica B(a, δ)] ⊂ ∩m
Nos exercı́cios a seguir, é bom lembrar que um conjunto é fechado se e
somente se tem complementar aberto.
10
Vamos provar primeiro a direção “⇒”. Supondo que A é aberto, seja {xn }n
qualquer sequência convergente contida em X\A e seja x = limn xn . Fixando
y ∈ A, mostraremos que x 6= y; o fato de que y pode ser qualquer elemento
de A implica x 6∈ A, como desejado. Fixe então y ∈ A. Como A é aberto,
∃r > 0 : B(y, r) ∈ A. Por outro lado, como xn 6∈ A para todo n, temos:
∀n ∈ N : xn 6∈ B(y, r), isto é, d(xn , y) ≥ r.
O exercı́cio 7 nos mostra que a função dX (·, y) é contı́nua. Como xn → x,
isto implica que d(xn , y) → d(x, y). Pelas propriedades do limite de números
reais, isto nos diz que d(x, y) ≥ r > 0.
Para terminar a prova, mostraremos que, se A não é aberto, então
∃{xn } ⊂ F com limn xn ∈ A. De fato, se A não é aberto, então existe
z ∈ A com B(z, r) 6⊂ A para todo r > 0. Isto quer dizer que a bola aberta
B(z, r) sempre tem pelo menos um elemento de F = X\A. Em particular,
para cada n ∈ N podemos escolher um elemento
xn ∈ F ∩ B(z, 1/n).
Afirmamos que a sequência {xn } converge a z. De fato, para provar isto,
basta mostrar que d(xn , z) → 0 (ver exercı́cio 4). Para isto, observe que,
para cada n ∈ N, d(xn , z) ≥ an := 0 e
d(xn , z) ≤ bn := 1/n, já que xn ∈ B(z, 1/n).
Portanto, a sequência {d(xn , z)}n∈N está “sanduichada” entre duas sequências
an , bn → 0, o que significa d(xn , z) → 0.
Vamos agora concluir a prova observando o que fizemos. Nossa missão
era provar que, se A não é aberto, existe uma sequência {xn }n ⊂ F con-
vergindo a z 6∈ F . Veja que, de fato, a sequência {xn }n que acabamos de
construir só tem elementos de F ; por outro lado, z = limn xn ∈ A = X\F ;
portanto, missão cumprida. 2
11
Exercı́cio 14 Mostre que
e
f −1 (S\R) = f −1 (S)\f −1 (R).
12
dY (f (xn ), f (x)) < ε se n ≥ n0 . Para isto, fixamos ε > 0 e achamos o n0 cor-
respondente. Pelo item 4 podemos encontrar δ > 0 tal que dX (x0 , x) < δ im-
plica dY (f (x0 ), f (x)) < ε. Como xn → x, existe n0 ∈ N tal que dX (xn , x) < δ
sempre que n ≥ n0 . Mas então temos dY (f (xn ), f (x)) < ε sempre que
n ≥ n0 . Ou seja, este n0 assegura a propriedade desejada. 2
O fecho de S é: \
S := F.
F ⊃S : F fechado
13
Definição 7 O conjunto de pontos de acumulação de S ⊂ X, denotado por
S 0 é o conjunto que contem como elementos os x ∈ X tais que, para todo
r > 0, B(x, r) ∩ S contem um elemento diferente de x.
Teorema 2 Todo conjunto aberto de R que não é vazio pode ser escrito
como a união de um número enumerável de intervalos abertos disjutos.
14
que quaisquer intervalos distintos nesta famı́lia são disjuntos. De fato, consi-
dere Iq , Ir ∈ V com Iq ∩ Ir 6= ∅. O argumento já usado no passo anterior nos
diz que Iq ∩ Ir é intervalo aberto. Ao mesmo tempo, Iq ∪ Ir ⊂ A (pois cada
intervalo está contido em A) e q ∈ Iq ∪ Ir . Portanto Iq ∪ Ir é um intervalo
da coleção Iq definida acima. Segue que:
[
Iq ∪ Ir ⊂ I = Iq .
I∈Iq
4 Conjuntos conexos
Nesta seção (X, dX ) é um espaço métrico fixo.
Intuitivamente, um conjunto em um espaço métrico é conexo se não há
nenhuma maneira de dividir seus elementos em dois conjuntos dicotômicos
e bem separados. A definição abaixo é uma maneira formal de desenvolver
esta ideia.
No final desta seção, veremos que esta definição tem a ver com o com-
portamento de funções contı́nuas sobre Y . Mais precisamente, mostraremos
15
que Y é conexo se e somente se a imagem de Y por qualquer função contı́nua
f : Y → R é um intervalo. Isto é tı́pico de resultados topológicos: eles nos
dão uma informação relevante sobre funções contı́nuas gerais, sem especificar
exatamente como cada função se comporta.
Por outro lado, suponha que toda sequência {xn }n ⊂ com xn → x ∈ R tem
a propriedade de que ∃n0 ∈ N com xn 6∈ L para todo n ≥ n0 . Como os
elementos do fecho são precisamente aqueles que são limites de sequências
contidas em L, vemos que nenhum R pode pertencer ao fecho de L, isto é,
R ∩ L = ∅. 2
16
Teorema 3 Y ⊂ X, Y 6= ∅ é conexo se e somente se toda função contı́nua
f : Y → {0, 1} é constante. (Usamos a métrica discreta em {0, 1}.)
17
O teorema também dá condições suficientes para que uma união de con-
juntos seja conexa. Intuitivamente é claro que, quando unimos conjuntos
conexos S, R, só é possı́vel produzir um conjunto desconexo se não há um
ponto comum de S e R. O Lema a seguir mostra uma versão mais geral
disto.
18
Não é intervalo ⇒ não é conexo. Vamos supôr primeiramente que E
não é intervalo e provar que ele tem uma cisão que não é trivial. Como E
não é intervalo, existe x0 ∈ (inf E, sup E) que não pertence a E. Podemos
tomar L = E ∩ (−∞, x) e R = E ∩ (x, +∞) e observar que:
• yn → x (pois |yn − xn | = yn − xn → 0;
19
4.3 Aplicações
O teorema a seguir é um dos mais importantes de todo o cálculo.
Como quaisquer a, b ∈ Y são ligados por uma curva, deduzimos que f (a) =
f (b) para todos a, b ∈ Y , portanto f é constante. O fato de que a imagem
de conexo por caminhos também é conexo por caminhos é um exercı́cio. 2
20
Exercı́cio 23 Prove que Y ⊂ X, Y 6= ∅ é conexo se e somente se f (Y )
é intervalo para toda f : Y → R conı́nua. [Dica: o “somente se” já está
provado. O “se”resulta do fato de que um intervalo I ⊂ {0, 1} só pode conter
um ponto.]
5 Conjuntos compactos
Esta parte ainda vai passar por alterações bem grandes.
Muitos problemas em Matemática Pura e Aplicada podem ser postos na
forma de problemas de minimização.
21
Antes da prova, observe que o teorema implica que todo K ⊂⊂ X é
subconjunto fechado de X (v. exercı́cio 18).
Prova: Vamos provar que se K não é completo, então não é compacto. Su-
ponha então que existe {xn }n ⊂ K que é Cauchy, mas não converge (em
K). Nossa intuição é de que existe em algum “universo maior” um limite
para esta sequência, dado por um x∗ 6∈ K. A função f : K → R dada por
f (x) = d(x, x∗ ) é contı́nua e sempre positiva (já que x∗ 6∈ K), mas toma
valores arbitrariamente pequenos ao longo da sequência. Isto quer dizer que
inf x∈K f (x) = 0, mas não há ponto atingindo este valor.
Evidentemente, o que descrevemos acima é só intuição. A rigor o x∗ não
existe. No entanto, se ele existisse, terı́amos d(x, x∗ ) = lim d(x, xn ) para
todo n. Mostraremos que este limite faz sentido de qualquer forma e o usa-
remos para definir uma f contı́nua que não atinge seu ı́nfimo. Eis os passos
formais.
Isto segue do fato que {dK (xn , x)}n∈N ⊂ R é Cauchy, que provamos a seguir.
Veja primeiramente que, pela desigualdade triangular,
O fato que {xn }n é Cauchy implica que para todo ε > 0 existe n0 tal que o
lado direito acima é < ε para n, m ≥ n0 . Deste modo, dado ε > 0 existe um
n0 tal que
Isto é precisamente a afirmação de que {dK (xn , x)}n é Cauchy para todo x.
22
Tomando o limite quando m → +∞ vemos que f (xn ) ≤ ε para todo
n ≥ n0 . Logo inf x∈K f (x) ≤ ε. Como ε > 0 é arbitrário, isto quer di-
zer que inf x∈K f (x) ≤ 0. Como já vimos, f nunca toma valores negativos, e
disto deduzimos inf x∈K f (x) = 0.
23
Prova: Vamos provar primeiro que a existência da coleção de bolas implica
que X é totalmente limitado. Fixe δ > 0 e tome ε = δ/2. Supondo X ⊂
∪ki=1 BX (xi , ε), qualquer conjunto infinito S ⊂ X tem de conter infinitos
elementos em pelo menos uma das bolas BX (xi , ε) (isto é o caso infinito
do Princı́pio das Casas dos Pombos). Em particular, usando a desigualdade
triangular, vemos que S obrigatoriamente possui infinitos pares de elementos
a distância < δ; de fato, dados s, s0 ∈ S ∩ BX (xi , ε)
1. Escolha x1 ∈ X arbitrariamente.
Note que esta recursão faz sentido: sob a nossa hipótese, temos que para
todo n ∈ N as bolas B(x1 , ε), . . . , B(xn , ε) não cobrem X, portanto existe
um xn+1 ∈ X que não está em qualquer uma das bolas. É fácil verificar que
o conjunto
S := {xn : n ∈ N}
é separado, já que a recursão garante dX (xi , xj ) ≥ ε quando 1 ≤ i < j. 2
Prova: Vamos mostrar que um espaço métrico (X, dX ) que não é totalmente
limitado não pode ser compacto. Para isto partimos de um conjunto S ⊂ X
que é infinito e separado: d(s, s0 ) ≥ δ para quaisquer elementos distintos
s, s0 ∈ S. Sem perda de generalidade, suporemos que S é enumerável e
escreveremos S = {sj : j ∈ N}. Nosso objetivo será construir uma função
contı́nua f : X → R com sup{f (x) : x ∈ S} = +∞. isto implica que X não
é compacto porque a função contı́nua −f não atinge seu ı́nfimo sobre X.
Defina r := δ/4 > 0. Vamos começar a prova com a seguinte observação.
Dado x ∈ X, existe no máximo um ı́ndice j = j(x) ∈ N com d(x, sj ) < 2r.
24
A razão para isto é que, se houvesse outro ı́ndice k ∈ N com d(x, sk ) < 2r,
a desigualdade triangular implicaria
d(sj , sk ) ≤ d(x, sj ) + d(x, sk ) < 4r = δ,
o que contraria o fato de que a distância mı́nima entre elementos de S é δ.
Continuando, definimos, para cada j ∈ N, uma função contı́nua fj : X →
R da seguinte forma:
fj (x) := j × max{r − d(sj , x), 0} (x ∈ X).
fj (x) se j ∈ N é o único ı́ndice tal que d(x, sj ) < 2r;
f (x) :=
0 se não há sj com d(x, sj ) < 2r
Veja que f é ilimitada: de fato, para todo j ∈ N temos f (sj ) = fj (sj ) =
j.r → +∞ (pois r > 0). Portanto sup{f (x) : x ∈ X} = +∞. Falta mostrar
que ela é contı́nua. Para isto, fixamos {xn }n ∪ {x} ⊂ X com xn → x; vamos
provar que f (xn ) → f (x). Consideraremos dois casos.
25
5.3 O critério das subsequências convergentes
Nesta seção vamos mostrar que a compacidade de um espaço métrico pode
ser avaliada a partir de subsequências.
1. (K, dK ) é compacto.
26
todo n ∈ N, de modo que limn f (xn ) = −∞. Um argumento semelhante ao
que demos acima nos mostraria que uma subsequência dos xn converge a
um x∗ ∈ K; mas então f (x∗ ) = limn∈N f (xn ), o que contradiz o fato de que
f (xn ) → −∞.
Afirmação 1 Dado qualquer r > 0 existe uma subsequência {xn }n∈N tal
que ∀m, n ∈ N , dK (xm , xn ) < r.
27
Nossa tarefa final é extrair destas subsequências encaixadas e cada vez
mais apertadas uma subsequência de Cauchy. Uma tentativa poderia ser
definir {xn }n∈N com N := ∩k Nk , mas isto não pode funcionar em geral:
afinal,
n, m ∈ N ⇒ ∀k ∈ N, n, m ∈ Nk ⇒ ∀k ∈ N, dK (xn , xm ) ≤ 2−k ⇒ xn = xm .
Portanto N não pode ser um conjunto infinito (a não ser que a sequência
original tenha infinitos termos iguais).
A segunda ideia do truque diagonal é uma maneira “diagonal” de seleci-
onar um subconjunto infinito N∗ de modo que N∗ ⊂ Nk “quase vale”, isto
é, N∗ ⊂ Nk tem apenas um número finito de termos. Vamos escrever
N∗ := {n1 < n2 < n3 < . . . }
onde os nk são definidos recursivamente.
1. Em primeiro lugar, definimos n1 = min N1 (isto é válido porque N1 6= ∅
é subconjunto dos naturais).
2. Definidos n1 < · · · < nk , observamos que, como Nk+1 é infinito,
Nk+1 \[nk ] 6= ∅.
Como ele também é subconjunto dos naturais, podemos definir
nk+1 := min(Nk+1 \[nk ])
e observamos que nk+1 6∈ [nk ], de modo que nk+1 > nk .
Pela construção temos n1 < n2 < . . . . Além disto, para k, r ∈ N com k < r,
temos que
nk ∈ Nk , nr ∈ Nr ⊂ Nk
e como dK (xn , xm ) < 2−k para n, m ∈ Nk , isto implica
∀k, r ∈ N : k < r ⇒ dK (xnk , xnr ) < 2−k .
Exercı́cio 26 Para terminar a prova, deduza disto que {xnk }k∈N é Cauchy.
2
Exercı́cio 27 Use o critério das subsequências para mostrar que todo sub-
conjunto fechado de um compacto é ele próprio compacto.
28
5.4 Compactos de Rd : o teorema de Heine-Borel
Teorema 9 (Heine Borel) Um subconjunto K ⊂ Rd é compacto se e so-
mente se é fechado e limitado.
Prova: [de Heine Borel]Compactos são fechados (v. exercı́cio 18) e total-
mente limitados, e vice-versa. Basta provar então que um conjunto em Rd
é limitado se e somente se é totalmente limitado. Mas isto é simples:
1. K é compacto.
29
3. Toda coleção de fechados F de K com ∩F ∈F F = ∅ possui uma sub-
coleção finita P ⊂ F com ∩F ∈P F = ∅.
já que min ti > ` quando t1 , ,̇tk > `. Pelo item 3, isto implica que
\
Ft 6= ∅.
t>`
Afirmação 2 r é contı́nua.
Prova: [da Afirmação]Vamos mostrar que r é 1-Lipschitz, o que
implica que r é contı́nua. Para isto basta mostrar que:
30
De fato, se temos isto, podemos trocar os papeis de x, x0 e mos-
trar que também vale r(x0 ) − r(x) ≤ dX (x, x0 ), de modo que
|r(x0 )−r(x)| ≤ dX (x, x0 ) para todos x, x0 ∈ X. Para provar nosso
objetivo, tome qualquer 0 < r < r(x) e um conjunto A ∈ A com
B(x, r) ⊂ A. Note que B(x0 , r − dX (x, x0 )) ⊂ B(x, r); afinal,
31
5.6 Continuidade uniforme
Vamos mostrar no restante desta seção que uma função contı́nua em um
compacto é sempre uniformemente contı́nua.
Note que isto é diferente da definição de continuidade via ε/δ, que é:
Ou seja: dado ε, temos que achar um δ que serve para todos os x simulta-
neamente.
Portanto, fixo ε > 0, vemos que ∀δ > 0 existe um n ∈ N e um 0 < h < δ (de
fato, 2h = δ/n basta) com
32
A desigualdade triangular implica que:
Observe que
A := {BX (x, δ(x)) : x ∈ X}
é uma coleção de abertos que cobre X. A Observação 1 implica que existe
um número de Lebesgue δ > 0 tal que, se a, b ∈ X e dX (a, b) < δ, então a, b
ambos pertencem a um mesmo aberto desta coleção. Isto é:
33
Exercı́cio 32 Mostre que R, Q e R\Q são subconjuntos perfeitos de R.
Provaremos abaixo um resultado que mostra que não há conjuntos com-
pactos, perfeitos e enumeráveis.
F := {F1 , F2 , F3 , . . . }
∩n Fn 6= ∅.
Por fim, notamos que ∩n Fn , que não é vazio, não tem elementos em comum
com a imagem de f (afinal, f (j) 6∈ Fj para todo j), portanto f não pode ser
sobrejetiva.
Agora vamos partir para a construção. Para definir F1 , fixe primei-
ramente um x1 6= f (1) e defina r1 := dX (f (1), x1 )/2. Tomamos F1 :=
BX [x1 , r1 ] e notamos que f (1) 6∈ F1 , F1 6= ∅.
34
Suponha agora que F1 , . . . , Fn já foram definidas; vamos construir Fn+1 a
seguir. Sabemos que Fn := B[xn , rn ] com xn ∈ P e rn > 0. Agora usaremos
fortemente a hipótese de que P é perfeito para notar que B(xn , rn /2)\{xn }
não é vazio, de modo que podemos tomar yn ∈ P com 0 < dX (xn , yn ) <
rn /2.
Vamos construir Fn+1 considerando dois casos. Se f (n + 1) 6= xn , pode-
mos tomar
dX (f (n + 1), xn )
Fn+1 := B[xn , rn+1 ] com rn+1 := min rn , .
2
Veja que Fn+1 ⊂ Fn porque o centro da bola se manteve e o raio não pode
aumentar. Além disto, como dX (f (n + 1), xn ) > 0 e rn > 0 (por hipótese da
recursão), o raio de Fn+1 é positivo. Finalmente, f (n + 1) 6∈ Fn+1 porque a
distância entre xn e f (n + 1) é maior do que o raio da bola Fn+1 .
Resta decidir o que fazer no caso em que f (n + 1) = xn . Neste caso,
tomaremos uma bola ao redor de yn
rn dX (f (n + 1), yn )
Fn+1 := B[yn , rn+1 ] com rn+1 := min , .
2 2
35