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O Custo da Dívida e a Remuneração dos Executivos nas empresas listadas na


BM&FBovespa

Cássia Neves da Silva


Mestranda – Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis Universidade Federal de Goiás
(UFG)
cassiapnn@gmail.com

Dr. Moisés Ferreira Da Cunha


Prof. Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis Universidade Federal de Goiás (UFG)
moises.cunha2807@gmail.com

Resumo

Esta pesquisa objetou analisar a relação entre o custo da dívida e a remuneração dos
executivos das empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa durante 2010 a 2014. Para
atingir esta finalidade foi constituída uma amostra com 137 empresas compondo um painel
desbalanceado com 582 observações. Os dados contábeis foram coletados da base de dados
Thomson Reuters e as informações sobre as remunerações dos executivos foram adquiridas
por meio do sistema SInC. A análise foi feita por meio do modelo de pooled. Os resultados
obtidos demonstraram que há uma relação inversa e significativa da remuneração de
executivos com o custo da dívida, bem como do endividamento. Assim, infere-se que a
remuneração elevada oriunda do alinhamento de interesses entre acionistas e gestores
corrobora com a Teoria da agência, assim como esta em consonância com outras pesquisas
internacionais que demonstram que melhores remunerações acarretam em decisões de
investimentos menos arriscadas. Assim, os gestores asseguram a não rigidez do fluxo de caixa
com os compromissos assumidos e protegem a empresa de riscos de inadimplência. A
variável referente ao tamanho apresentou uma relação positiva com o custo da dívida.

Palavras chave: Custo da dívida, Remuneração de Executivos, BM&FBovespa

1 Introdução

A literatura internacional tem demonstrado diversos fatores que influenciam nos


custos de dívida (KABIR; LI; VELD-MERKOULOVA, 2013) como destaque para a
governança corporativa (ANDERSON; MANSI; REEB, 2003; BOUBAKRI; GHOUMA,
2010). Assim como a internacional, a literatura nacional tem apresentado recentemente
resultados alinhados na temática de governança (BARROS; SILVA; VOESE, 2015; SILVA;
CUNHA, 2017)
Os credores têm uma atuação fundamental na sociedade pois os financiamentos são
basilares para o desenvolvimento dos mercados emergentes (MITTON, 2007). KABIR et. al.
(2013) ressaltam que os credores têm apresentado preocupação no que tange a remuneração
dos executivos como DURU, MANSI e REEB (2005) ao analisar o impacto dos bônus no
custo da dívida, ou a remuneração por ações (ERTUGRUL; HEGDE, 2008).
Essa preocupação dos credores em relação aos administradores é inicialmente pautada
na Teoria da Agência. Em seu artigo seminal, Jensen e Meckling (1976) demonstram que se
os administradores forem muito alinhados com os interesses dos acionistas, e que estes por
sua vez focam na maximização da utilidade, os administradores tenderão a optar por
investimentos mais arriscados ou optar por subinvestimento (MYERS, 1977) para majorarem
os dividendos. Por outro lado, o alinhamento de interesses pode induzir ao gestor a preferir
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por menores riscos assegurando um fluxo de caixa mais livre (DURU; MANSI; REEB, 2005;
KABIR ET. AL., 2013).
Outro fator a ser considerado é a elevada concentração acionária a qual é presente no
Brasil (GONZALEZ et al., 2017). A alta concentração proprietária permite que o acionista
controlador opte por decisões voltadas a benefícios próprios, consequentemente os credores
podem aumentar o prêmio exigido (ANDERSON; MANSI; REEB, 2004; ASLAN; KUMAR,
2012; LIN et al., 2011). Além do descrito acima, outros fatores são relevantes ao tratar de
custos de dívida no Brasil. Nos países da América Latina os investidores são menos
protegidos (LA PORTA et al., 1998) fazendo que o risco de expropriação dos investidores
seja mais forte com elevado custo de capital e pagamentos de dividendos menores que das
economias desenvolvidas (CHONG; LOPEZ-DE-SILANES, 2007). Consequentemente, a
possibilidade de expropriação decorrente da ausência de sistemas jurídicos mais fortes
adicionado a concentração de propriedade tende a acarretar em fatores majoradores dos custos
de dívidas.
Custos de dívida elevados são demasiado prejudiciais para as empresas visto que
enrijecem o fluxo e caixa, permitindo que a empresa fique mais vulnerável as fatores externos
como crises econômicas no país ou setor, aumentando a possibilidade de falência
principalmente se houver a necessidade de adquirir mais dívidas, além da pressão na redução
da remuneração dos executivos (KABIR ET AL., 2013). Nesse contexto, esta pesquisa
pretende responder ao seguinte problema: Qual a relação do custo da dívida com a
renumeração dos executivos nas empresas brasileiras? Objetivando assim verificar a
associação do custo da dívida com a remuneração dos executivos nas empresas listadas na
BM&FBovespa no período de 2010 a 2014.
A pesquisa justifica-se por estar em consonância com as pesquisas internacionais,
agregando a literatura tanto na temática do custo da dívida das empresas como a remuneração
dos executivos no Brasil. Ressalta-se que há escassez de ambos visto que os estudos sobre
custo da dívida tem ganhado conotação relevante nos últimos anos e somente após 2009, em
decorrência da Instrução Normativa 480/2009 da CVM (COMISSÃO DE VALORES
MOBILIÁRIOS), houve a disponibilização das informações referentes à remuneração dos
executivos. Além da temática apresentar destaque nacional e internacional (MEROFA, 2014;
TEIXEIRA E GALDI, 2013). Outro aspecto é a ausência de um consenso sobre a temática.
Por um lado a remuneração elevada pode acarretar em custos de dívidas mais altos se os
credores entenderem que há possibilidade de serem expropriados, e por outro, pode haver a
redução dos custos de dívida, pois os gestores podem preferir investimentos menos arriscados
e não comprometerem o fluxo de caixa para que a empresa não seja exposta a riscos de
inadimplência.
Também contribui para o mercado, pois ao promover subsídios sobre as consequências
das decisões dos acionistas em relação à remuneração dos executivos com os custos da dívida
permite aos investidores terem maior discernimento sobre as políticas internas a serem
adotadas, inclusive enfatizando no aprimoramento de outros segmentos que proporcionem a
redução do custo da dívida como, por exemplo, a governança corporativa.
Para executar a pesquisa a amostra foi composta por 137 empresas de 2010 a 2014
negociadas na BM&FBovespa compondo um painel desbalanceado com 582 observações, a
análise foi efetuada por meio do modelo pooled. Os resultados demonstraram a existência de
uma relação negativa e significativa entre o custo da dívida nas empresas brasileiras com a
remuneração dos executivos, demonstrando assim que os gestores optam por projetos menos
arriscados e um endividamento que não ocasione em enrijecimento do fluxo de caixa.
As seções seguintes apresentam o espoco do artigo. A seção 2 traz uma breve revisão
da Teoria da Agência relacionada aos sistemas de incentivos, juntamente com a remuneração
dos executivos e o custo da dívida. A amostra, as variáveis e a equação estrutural do custo da
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dívida estão descritas na seção 3. Na seção 4 são relatados os resultados da regressão e por
fim, na seção 5 são apresentadas algumas considerações finais.

2 Referencial Teórico

2.1 Teoria da Agência e os sistemas de incentivos

A Teoria da Agência tem sido uma das teorias mais relevantes para a contabilidade
nos últimos 25 anos (LAMBERT, 2006). Iniciada por Berle e Means em 1932 e
posteriormente delineada por Jensen e Meckling em 1976, a teoria contextualiza a realidade
da empresa em que é gerida por outra pessoa designada pelo proprietário. Desta forma, o dono
tem um representante que tomará as decisões em seu lugar. Jensen e Meckling (1976)
chamam as partes de agente e principal, sendo o agente, o gestor e o principal, o proprietário.
A atuação basilar do principal seria a inserção de capital, a assunção dos riscos e a
constituição de incentivos, sendo o agente focado na representação do principal por meio do
processo de tomada de decisão (JENSEN; MECKLING, 1976).
Na atuação de ambos, a teoria retrata a existência dos conflitos de interesses. Estes por
sua vez, são oriundos as decisões, as quais são pautadas na maximização dos benefícios
próprios de ambos. A teoria enfatiza na impossibilidade de representação perfeita do gestor
para com o proprietário ocasionando divergências entre as decisões e interesses (REES,
1985). Esses conflitos são acentuados em decorrência da presença de assimetria
informacional, visto que o administrador tende a ter acesso a informações internas antes dos
acionistas (LAMBERT, 2006).
Os sistemas de incentivos adentram no contexto ao objetivarem promover o
alinhamento de interesses entre acionistas e o gestor (BAKER; JENSEN; MURPHY, 1988).
Assim, os incentivos influenciam o gestor a tomar decisões pautadas nos interesses do
proprietário e não nos interesses próprios (BAKER; JENSEN; MURPHY, 1988). A literatura
traz diversas formas de incentivos que vão desde aspectos monetários a não monetários. Os
monetários estão comumente ligados a salários, bônus, ações, participação nos lucros e outros
(BAKER; JENSEN; MURPHY, 1988) e os não monetários são a satisfação, carreira e
oportunidades do mercado de trabalho, conforto e outros (BAIK et al., 2016;
PRENDERGAST, 1999). Bowman (2010) retrata que apesar das empresas comumente
focarem nos sistemas de incentivos monetários e os estudos pautarem a temática por mais de
30 anos, não existem consenso sobre a efetividade.

2.2 Remuneração de Executivos e o Custo da Dívida

Dentro da temática dos sistemas de incentivos, a remuneração de executivos está


situada dentre os incentivos monetários, sendo o método mais utilizado (FARRELL;
KADOUS; TOWRY, 2008). A composição da remuneração pode ser por meio de salário fixo,
bônus variável, pensões, ações, opções de compra e outros (MURPHY, 2012). Esses meios de
remuneração são utilizados com o intuito de promover o alinhamento de interesses dos
gestores com os proprietários (GHENO, 2011).
Murphy (2013) analisou a composição da remuneração de diversos CEOs (Chief
Executive Officer) norte-americanos. Ele constatou que o salário base tem o menor percentual
na remuneração total, sendo o pagamento em ações o mais impactante. No total verificou que
contém na remuneração dos CEOs salário base, bônus, incentivos de não participação, opções
de ações e outros benefícios. Duru, Mansi e Reeb (2005) descobriram que os incentivos por
meio de bônus tiveram uma relação negativa com o custo da dívida. Assim, os bônus podem
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induzir o CEO reduzir os riscos, fomentando fluxos de caixas equilibrados e não expondo a
empresa ao risco de inadimplência. Já Kabir et. al. (2013) verificou que o aumento nos
benefícios de pensões decorreu em redução no custo da dívida, estando de 1% para 0,7 a 1,7
pontos base respectivamente.
No Brasil, as pesquisas sobre remuneração de executivos têm disso amplamente
pesquisadas com o enfoque em desempenho econômico ou de mercado. Araujo, Parisi, Silva e
Nakamura (2014) constataram que houve aumento da remuneração variável em relação ao
retorno para o acionista. Gonzaga, Yoshinaga, & Junior (2013) também encontraram
resultados semelhantes em que os incentivos gerenciais afetaram o desempenho econômico,
assim como Souza, Duque, e Junior (2016). Aguiar e Pimentel (2017) constataram que a
relação entre a remuneração e o desempenho pode ser tanto de mercado quanto financeiro, e
que esta relação tende a ser bidirecional.
Assim, com base nessas pesquisas é possível observar que a remuneração é focada na
redução dos conflitos de interesses entre gestor e proprietários. Ao estimular que as ações dos
gestores sejam mais próximas dos interesses dos proprietários, cabe ressaltar o conflito entre
gestor e credor (MARLER; FAUGÈRE, 2010). A teoria da Agência é conhecida
primordialmente pela relação entre o administrador e o gestor. Entretanto, Jensen e Meckling
(1976) contextualizam os conflitos além da relação proprietário e administrador, estando
também presente na relação gestor e credores. Kabir et al. (2013) elucida que a literatura se
pauta em analisar primariamente a perspectiva do acionista, deixando de analisar a
perspectiva do credor.
Em ambientes de elevada concentração acionária, como é o caso do Brasil
(CESPEDES; GONZALEZ; MOLINA, 2010), os acionistas majoritários tem influência nas
escolhas dos projetos de investimento. Consequentemente podem optar por rejeitar projetos
com VPL (Valor Presente Líquido) positivo, também conhecido como subinvesntimento
(MYERS, 1977) para obterem maiores dividendos (SÁNCHEZ-BALLESTA; GARCÍA-
MECA, 2011), ou escolher investimentos altamente arriscados deixando o risco para o credor
e se houver retorno, o benefício fica para o acionista (HUANG; PETKEVICH, 2016;
KABIR; LI; VELD-MERKOULOVA, 2013; ORTIZ-MOLINA, 2007). Enquanto o credor
preferiria investimentos mais seguros (MURPHY, 2012). Há também que os credores possam
ser prejudicados com o aumento de dividendos e outros benefícios, pois podem pressionar o
fluxo de caixa e acarretar em dificuldade no cumprimento das obrigações assumidas
(MURPHY, 2013). Esse cenário é comumente denominado na literatura como a expropriação
de riqueza dos obrigacionistas (JENSEN; MECKLING, 1976).
Os credores ao se depararem com esse cenário tenderão a aumentar o monitoramento
em decorrência dos credores não poderem retirar sua posição de forma similar as dos
investidores (ROBERTS; YUAN, 2010). E sendo racionais, aumentam o prêmio exigido ao
conceder capital, devolvendo os custos dos riscos para os acionistas (ANDERSON; MANSI;
REEB, 2003; ASLAN; KUMAR, 2012; LIN et al., 2011). La Porta et al. (1998) denota que a
possibilidade de expropriação é mais desimpedida em países com mercados financeiros não
desenvolvidos.
Nesse contexto, ao considerar que a remuneração de executivos no Brasil é
amplamente utilizada para mitigar os conflitos entre proprietário e gestor e que parte da
literatura internacional (KABIR; LI; VELD-MERKOULOVA, 2013) elucida que influenciará
o gestor a optar por mitigar os riscos, flexibilizando os fluxos de caixas e evitando que a
empresa venha a estar risco de inadimplência, tem-se a seguinte hipótese:

Há uma relação negativa entre os custos de dívida e a remuneração dos executivos.

3 Metodologia
5

Os dados contábeis desta pesquisa foram coletados na base de dados Thomson Reuters
e as informações referentes a remuneração dos executivos na base SInC – Sistema de
Informações Corporativas disponibilizado pela Universidade Federal do Ceará. A faixa
temporal a ser analisa é de 2010 a 2014. A delimitação desse período decorre de que as
informações são demasiado escassas antes de 2010 pois o fornecimento dos dados passou a
ser obrigatório somente após a Instrução Normativa 480/2009 da CVM (Comissão de valores
mobiliários), e não consta no SInC os dados de todas as empresas referente ao ano de 2015.
A amostra é composta por empresas de capital aberto com ações na BM&FBovespa.
Foram excluídas inicialmente da amostra as empresas do setor financeiro pois apresentam
peculiaridades em relação aos demais setores como denota a literatura. Em seguida foram
retiradas as empresas que não tinham dados suficientes por pelo menos três anos sobre a
remuneração dos executivos, assim como as que não apresentavam dados de despesas de
juros, dívidas e ativo total negativo. Posteriormente, para tratar os outliers a amostra foi
winsorizada em nível de 1% perfazendo uma amostra final de 137 empresas, com 582
observações constituindo um painel desbalanceado. O software estatístico utilizado foi o Stata
14.0 e modelo de regressão usado foi pooled.
Dentre as limitações a serem destacadas tem-se a não inserção segregada dos
componentes da remuneração como bonificação em ações, opções e outros considerados
como sendo remuneração variável. Entretanto, nem todas as empresas oferecem bônus ou
pagamento em ações e opções, sendo a remuneração total mais comparável. Outro fator a ser
considerado é que algumas empresas apresentaram alterações entre os dados informados na
remuneração total de um ano para o outro. Para compensar essa fragilidade, os dados
coletados foram sempre dos relatórios mais atuais.

Custo da dívida = α + β1it RemuneraçãoTotal + β2it Tamanho + β3it Tangibilidade +


β4it Endividamento + β5it Rentabilidade + ε

3.1.1 Variável Dependente

O custo da dívida, variável dependente, é calculada pela divisão das despesas de juros
pelo passivo oneroso (BLISS; GUL, 2012; PITTMAN et al., 2004).

3.1.2 Variável de Interesse

A remuneração total, variável de interesse, é representada pelo logaritmo da


remuneração total recebida pelos membros da diretoria (COSTA, JOSÉ, TEIXEIRA E
GALDI, 2013). O valor apresentado como remuneração total no SInC é composto pelos
valores pagos aos executivos pertencentes ao conselho de administração, diretoria estatutária
e conselho fiscal.

3.1.3 Variáveis de Controle

A proxy utilizada para mensurar o tamanho é o logaritmo natural do ativo em que se


espera uma relação negativa com o custo da dívida pois quanto maior a empresa, maior a
possibilidade de arcar com os custos (CHEN, HUANG, LOBO E WANG, 2016; COSTA,
JOSÉ, TEIXEIRA E GALDI, 2013; MEROFA ET AL., 2014). Para calcular a tangibilidade
usou-se imobilizado sobre o ativo (CHUI, KWOK E ZHOU, 2016) em que a relação esperada
é negativa, uma vez que quanto maior imobilizado maior a garantia para honrar os
compromissos assumidos.
6

O endividamento foi mensurado pelo passivo oneroso sobre o ativo sendo esperada
uma relação positiva considerando que as empresas mais endividadas tendem a ter custos de
dívidas mais elevados (CHEN et al., 2016). No quadro 1 é apresentado um resumo da
composição das proxys utilizadas, assim como a relação esperada. Para o cálculo da
rentabilidade, usou-se os dados ofertados pela Thomson Reuters, a qual é calculada pelo lucro
líquido dividido pelo ativo médio total, sendo este a média do valor inicial e final em cada
ano.
Quadro 1 – Composição das variáveis de controle
Variáveis
Sigla Composição Sinal Autores Fonte
Independentes
Chen et al. (2016),
Logaritmo natural do
Tamanho LgAtivo - Costa et al. (2013),
ativo.
Merofa (2014).
Andy, Chuck,
Tangibilidade Tangib Imobilizadoit/Atit - Thomson
Gaoguang (2016)
Reuters
Chen, Huang, Lobo,
Endividamento Endiv Passivo onerosoit/Atit +
Wang (2016).
Lucro liquido após os
Rentabilidade Rentab -
impostosit / ativo médioit

4 Análise dos dados

Nos gráficos 1 e 2 são apresentados a média dos custos de dívida e da remuneração


dos executivos ano a ano, respectivamente. Assim, é possível verificar um alinhamento
inverso do custo da dívida com a remuneração paga aos executivos ao longo dos anos em
consonância com a literatura internacional (DURU; MANSI; REEB, 2005; KABIR; LI;
VELD-MERKOULOVA, 2013) e validando a hipótese da pesquisa. Pode-se verificar
principalmente entre 2012 a 2014 que houve um aumento da remuneração e um decréscimo
do custo da dívida no Brasil. No gráfico 1 houve uma redução de 1,88% no custo da dívida,
assim como o aumento de 2 milhões na média da remuneração. O gráfico 3 mostra um
crescimento no endividamento ao longo do período. Assim, constata-se que houve um
aumento na remuneração, no endividamento e uma redução no custo da dívida.

Gráfico 1
Custo de dívida
14
12 11,55 11,74
10 10,16 9,67
8,89
8
6
4
2
0
2010 2011 2012 2013 2014
Gráfico 2
7

Remuneração dos Executivos x Ano


14.000.000,00
12.000.000,00

Remuneração dos
10.000.000,00

Executivos
8.000.000,00
6.000.000,00
4.000.000,00
2.000.000,00
0,00
2010 2011 2012 2013 2014

Gráfico 3
Endividamento x Ano
37
36,56
36
35
34,61
Endividamento

34 34
33
32,5
32
31
30
29 29
28
2010 2011 2012 2013 2014
Na tabela 1 são apresentados os dados basilares da amostra contendo a média geral, o
desvio padrão e os valores mínimos e máximos. Pode-se verificar que a remuneração máxima
do período foi de 18 milhões e a mínima de 8 milhões, assim como um custo de dívida
mínimo de 9% e o endividamento médio de 34%. A média do custo da dívida se aproxima dos
valores obtidos por Chui et al. (2016) que foi de 14,06%, porém em um período anterior
coincidindo apenas 2 anos do período desta pesquisa.

Tabela 1

Desvio
Variáveis Média Mínimo Máximo
Padrão
Custo da Dívida 0.103 0.128 - 0.0989 1.692
Tangibilidade 0.296 0.223 - 0.3980 0.904
Endividamento 0.343 0.232 0.0061 2.927
Tamanho 21.710 1.829 15.7600 27.400
Rentabilidade 0.011 0.211 - 4.0040 0.259
Remuneração Total 15.540 1.214 8.4400 18.280

Na tabela 2 é exposto a correlação entre as variáveis as quais não possuem uma


correlação elevada. Porém, há uma relação considerável entre o tamanho e a remuneração.

Tabela 2

Custo da Remuneração
Tangibilidade Endividamento Rentabilidade Tamanho
Dívida Total
Custo da dívida 1
8

Remuneração -0.2630 1
Total
Tangibilidade 0.0069 0.0727 1
Endividamento -0.2420 0.0479 0.0577 1
Rentabilidade 0.0056 0.0443 -0.0303 -0.1430 1
Tamanho -0.2480 0.5420 -0.0292 0.0527 -0.0956 1

Na tabela 3 é exibido a regressão por modelo pooled. Apesar do R² ser apenas de 13%,
verifica-se que a hipótese foi validada, pois há uma relação negativa do custo da dívida com a
remuneração dos executivos, a qual apresentou nível de significância inferior ao p-valor de
0,05. Assim, pode-se concluir que o resultado esta em consonância com a teoria da agência
em que a remuneração atua como meio de alinhar interesses dos proprietários e acionistas e
com a literatura internacional (DURU; MANSI; REEB, 2005; KABIR; LI; VELD-
MERKOULOVA, 2013), fazendo com que os gestores atuem de modo a acarretar na redução
dos riscos, permitindo que o fluxo de caixa não seja enrijecido pelos compromissos assumidos
e evitando que a empresa alce riscos de inadimplência.
Infere-se que os credores não tomam a remuneração dos executivos como
possibilidade de expropriação, apesar da elevada concentração acionária que norteia o Brasil.
A relação negativa do endividamento foi de encontro a Chen et. Al (2016), Collin-Dufresn,
Goldstein, e Martin (2001), Krishnan, Ritchken, e Thomson (2005) possivelmente em
decorrência do endividamento não ser demasiado elevado. O tamanho apresentou uma relação
positiva com o custo da dívida confrontando Chen et al (2016), Costa et al (2013)
provavelmente devido as maiores empresas auferirem maiores empréstimos.

Tabela 3
Regressão Linear
F(5.136) = 6.220 R² 13.8%
Custo da Dívida Coeficiente Desvio Padrão t P>|t| Intervalo de Confiança 95%
Remuneração -0.0183 0.0070 -2.590 0.011* -0.0323 -0.0043
Endividamento -0.1530 0.0476 -3.210 0.002* -0.2470 -0.0587
Rentabilidade -0.0401 0.0598 -0.670 0.504 -0.1580 0.0782
Tamanho -0.0102 0.0037 -2.690 0.008* -0.0177 -0.0026
Tangibilidade 0.0158 0.0512 0.310 0.758 -0.0854 0.1170
Constante 0.6560 0.1300 5.050 0.000 0.3990 0.9130
* Nível de significância a 5% do p-valor

5 Considerações Finais

A presente pesquisa teve como objetivo analisar a associação do custo da dívida com a
remuneração dos executivos nas empresas listadas na BM&FBovespa no período de 2010 a
2014. Para tal, a amostra foi composta por 137 empresas no referido período formando um
painel desbalanceado com 582 observações. Para testar a relação utilizou-se o modelo de
regressão pooled. Os resultados demonstraram que há uma relação negativa entre o custo da
dívida e a remuneração dos executivos, possivelmente em decorrência de que ao auferirem
maiores rendas, os administradores optem por investimentos menos arriscados mantendo o
fluxo de caixa flexível. Isso também é constado ao analisar o endividamento médio das
empresas durante os anos, os quais não são demasiado elevados.
Igualmente averiguou-se que o endividamento tem uma atuação negativa para com o
custo da dívida. Já o tamanho apresentou uma relação positiva sugerindo que as maiores
empresas tendam a ter maiores custos, possivelmente em decorrência da captação de crédito
que pode ser maior.
9

Esta pesquisa apresenta algumas limitações, dentre as mais relevantes são as poucas
variáveis que contemplam o modelo contendo um baixo R², a não inserção segregada dos
componentes da remuneração como renda variável, pagamento em ações e opções, pensão e
outros benefícios monetários. Há também que considerar que as informações prestadas pelas
empresas apresentaram algumas variações de um exercício para o outro no que se refere a
remuneração total. Ademais, sugere-se como pesquisa futura a análise detalhada dos
componentes da remuneração, bem como a ampliação do período de estudo e a inserção de
mais variáveis que possam interferir no modelo.

Referências bibliográficas

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