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1. PRIMEIRAS REFLEXÕES
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Palestra apresentada na Semana Acadêmica de Direito no dia 31 de março de 2008 na Faminas/BH.
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Professor e Advogado tributarista, Vice-Presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais.
seu advogado. O Cartório ou Secretaria custa a agir, freqüentemente coloca obstáculos
absurdos, o Oficial de Justiça não cumpre o mandado, o juiz denota inveja ou antipatia,
a burocracia e o sistema judiciário a tudo emperram e até o próprio cliente costuma
atrapalhar. Quando aparece a figura do promotor, haja paciência. Enfim, para o médico
tudo conspira a favor, para o advogado tudo conspira contra.
Não há profissão que mais conviva com o mundo ao redor do que a do advogado
militante. É um pouco detetive, jornalista, psicólogo, filósofo, padre, humorista, é poeta,
é articulista. É ator de teatro e diretor de cinema. É político. É um pouco promotor e um
pouco delegado e é o juiz mais atormentado. Precisa entre opções diversas fazer
julgamento urgente da que mais oferecerá chances de vitória. O juiz, quase sempre, vive
em posição de muito mais conforto. Se a causa é complexa, sempre terá pelo menos
dois arrazoados contrários para escolher ou neles buscar inspiração para a sentença.
Outros profissionais fazem seu tempo e seus horários. É o médico quem escolhe a hora
da cirurgia e o seu local. O pobre do advogado vive angustiado pelos prazos fatais da lei
e pelos desígnios e humores, nem sempre favoráveis, do Sr. Juiz. O advogado sobe e
desce escadas, vai ao interior, viaja a Brasília, corre atrás dos protocolos, corre atrás do
despacho, sua e se espreme em ternos e gravatas que apertam, enfim é, também, um
atleta profissional, nem sempre bem remunerado.
Assim mesmo, a profissão é linda. Assim mesmo ou, quem sabe, por isso
mesmo!
Interessa, todavia, para este trabalho, alinhar algumas condições que, no geral,
precisam estar presentes, na média das situações, independente da especialidade, sem as
quais o advogado ou fica para trás na dura concorrência, ou vai fazer advocacia
inexpressiva. Apenas para dar realce às idéias ou sugestões, chamemos estas condições,
ou seu cumprimento, de mandamentos.
PRIMEIRO - Estudar
Advogado que não estuda está fadado a ser expulso pelo mercado, a ser
marginalizado na concorrência profissional. E, pior, não saberá o que fazer no dia-a-dia
dos casos concretos. Este mandamento, que sempre foi importante, mais se alteia
quando temos um mundo extremamente ágil, globalizado, sendo certo que, no Brasil, as
leis e até a Constituição, mudam com extrema facilidade. Estudar é, portanto, entre
outra coisa manter-se atualizado. Um médico ginecologista, continuemos com a
comparação, já que começamos com ela, poderá exercer sua profissão , se for sério e
habilidoso , ainda que não leia todos os dias. As realidades na medicina mudam em
velocidade menor do que no direito. Advogados experientes, todos os dias, são
surpreendidos por modificações profundas, especialmente na área do processo civil e
penal, que, de repente, alteram prazos, excluem ou incluem direitos, exigem novas
formalidades, etc. É importante não confundir estudar para resolver o caso concreto,
que, por certo, é essencial, com o caso de que estamos tratando, que é estudar todos os
dias, ler alguma coisa nova. Há bons textos na internet como também há os que são
péssimos. A internet ajuda o advogado, mas é, com freqüência, inimiga do bom
advogado. A leitura do profissional das ciências sociais exige reflexão, comparação,
análise crítica e isso ninguém consegue lendo na “telinha”. Computador é ótimo para
informação de andamentos de processo, pesquisa de legislação e jurisprudência, para o
resto não presta!
Estudar, ler algo novo, mesmo que não seja da especialidade abraçada, atualizar-
se, é algo fundamental. Mais fundamental ainda é estudar, e muito, durante o tempo de
faculdade. Aquele aluno que vai levando na “valsa”, na base da esperteza, inteligência,
boas amizades com o professor, uma “colinha” aqui outra ali, está perdido. É grave erro
imaginar que, obtido o diploma, é só ler uma lei ou outra, freqüentar o fórum, esperar o
caso concreto para dar uma “estudadazinha”, que tudo se resolve. Não se resolve. A
competição é brava. Advocacia é a prática, tudo bem, mas esta prática só será eficaz se
o causídico tiver conseguido boa base teórica na faculdade. Computador, trabalhos em
grupo, em minha opinião são, com algum exagero, inimigos do bom advogado. Estudar
é, assim, ler em livros. A tela do computador ajuda, mas não resolve. Se o amigo que
me lê ou escuta não vem estudando, faça um concurso para um cargo público e de
pequena expressão, busque um empregueto qualquer, advogado de verdade você não
será. Os clientes, hoje em dia estão muito bem informados, e são críticos. Se o
profissional não mostrar que sabe, se não lhe conquistar a confiança por esta evidência
de saber, perde o cliente, ou perde a causa ou sai da profissão, ou, o que é pior, vira um
pobre advogadozinho de porta de cadeia. Nada mais que isso.
Nada a ver com ser chato, imprudente. Ser insistente, como mandamento , é não
desistir fácil. É acreditar na vitória. Não deixar de requerer e usar a prova. Recorrer,
como regra, até o Supremo se for o caso. É visualizar a derrota , como hipótese, mas
não se amargurar se ela vier, Mas fazer TUDO, respeitada a ética e a legalidade, para
que o cliente vença a causa. É admitir a possibilidade do acordo, mas não ver nele a
única solução ou, principalmente, não o buscar por preguiça de prosseguir na demanda
ou interesse de antecipar honorários. Ser advogado é ser insistente, ter garra, gostar de
ganhar, combater. É ser um lutador competente.
3. REFLEXÃO FINAL
Quem escolhe a advocacia como profissão precisa ter consciência de sua
escolha, saber que pode ter muita satisfação profissional, ganhar muito dinheiro, crescer
como cidadão, interferir da forma mais positiva nas relações sociais. Isso exige
seriedade, ética e competência. Assim como o ser humano forma sua personalidade logo
nos primeiros anos de vida , o advogado só terá sucesso se levar sua faculdade a sério ,
estudando, pesquisando , aprendendo e apreendendo. Os rábulas, os advogados de porta
de cadeia, são aqueles que passam pela escola sem estudar e depois se iludem
imaginando que vão aprender na prática dos tribunais. Se quem me lê ou ouve está,
digamos, no quarto semestre e não vem estudando, pode saber que já está perdendo
pontos fundamentais nos embates da concorrência e nas chances de se transformar um
verdadeiro advogado.