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DIREITO À VIDA

Objetivos
Debater sobre eutanásia e sobre as mudanças de preceitos éticos ao longo da história

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Reportagem da Veja:

• A terrível escolha

Introdução
As discussões sobre o direito à própria morte estão na ordem do dia, motivadas por histórias recentemente premiadas com o
Oscar – Menina de Ouro, melhor filme de 2004, e o espanhol Mar Adentro, melhor filme estrangeiro. Longe dos estúdios, as
famílias se dividem e travam batalhas legais quanto à sobrevivência de pacientes que há décadas se encontram em estado
vegetativo. A reportagem “A Terrível Escolha” traz mais elementos para a polêmica, abordando o drama de pais que decidem
pela morte de bebês que nasceram doentes demais para a vida. Todos esses casos remetem à existência como uma dádiva divina,
segundo as concepções judaico-cristãs. Mas é possível pensar a questão em outro referencial? O indivíduo pode optar pela
própria morte? Os pais têm o direito de tomar essa decisão em nome dos filhos? Use o texto de VEJA como base para discutir
com os estudantes essas questões, cada vez mais controversas e atuais.

Atividades
Ressalte que, paradoxalmente, a atualidade da discussão da eutanásia está em boa medida associada às sucessivas vitórias que a
medicina vem obtendo na luta contra a morte. Crianças, adultos e idosos que em outras décadas morreriam com rapidez são
hoje mantidos com vida por longos períodos, embora à custa de muito sofrimento. Além disso, os exames pré-natais detectam
com grande precisão males genéticos incontornáveis, doenças incuráveis que vão causar grande dor e angústia ao bebê após o
parto. O texto de VEJA menciona a situação de famílias colocadas diante de realidades desse gênero. E em outros tempos o que
elas podiam fazer? Pergunte até que ponto os avanços da medicina constituem, por si sós, um quadro que exige modificações nas
premissas éticas tradicionais e também nos desdobramentos jurídicos. Afinal, uma consciência maior sobre a vida talvez
implique condições diferentes para tomar decisões.

O direito à vida é um dos princípios básicos da tradição cristã ocidental. E nas civilizações não-cristãs? Conte que, na Roma
antiga, certos pensadores se sentiam eticamente justificados quando decidiam pôr fim à própria vida. Por exemplo, o filósofo
Sêneca (4a.C. – 65d.C.) suicidou-se devido a perseguições de seu ex-pupilo, o imperador Nero. E durante a Guerra do Vietnã um
monge budista queimou-se em praça pública, em protesto contra a repressão do regime sul-vietnamita. Ou seja, a ética tem
fronteiras estabelecidas historicamente. Será que nossos tempos globalizados vão recuperar essas atitudes perante a vida e a
morte, estimuladas por novas demandas sociais que não se acomodam facilmente no quadro ético estabelecido?

Explique que a sociedade moderna conhece a construção da figura do indivíduo, dos direitos individuais – que contêm, por
exemplo, o direito à livre expressão e à opinião. Isso significa, ao menos em tese, um controle mais importante do próprio
destino. Muitos pensadores assinalam esse fato como o mais importante da modernidade. Isso porque, diferentemente das
sociedades tradicionais, os interesses dos indivíduos têm o mesmo status que os das coletividades. Hoje, visões dominantes
coletivas, tais como as de origem religiosa, estão incorporadas nas relações sociais, mas sem o poder de coerção que
apresentavam antes. Será que a afirmação da vontade individual terá êxito em contrariar esses padrões? As mudanças éticas,
que parecem inevitáveis, irão até onde? Chegaremos até o direito ao suicídio, mesmo que não haja razões médicas como a
eutanásia? Os indivíduos vão poder dispor de suas vidas até o fim? Informe que, no passado, a memória dos suicidas ficava
manchada para sempre. Hoje, figuras como Kurt Cobain, vocalista do grupo de rock Nirvana, conservam multidões de fãs. Isso
pode ser visto como um sintoma da aceitação dessa prática?

A reportagem contém uma especificidade na discussão da eutanásia. Os textos enfocam bebês gravemente doentes, sem
perspectiva, que morrem de forma induzida. Logo, eles não são sujeitos de sua morte, como um doente adulto que decide se
matar. A mesma questão se coloca para doentes adultos que perdem a consciência e permanecem em coma, por exemplo.
Pergunte se existe alguma diferença notável entre esses aspectos.

Lembre que as crianças, em especial as recém-nascidas, dependem completamente dos pais. Essa constatação seria suficiente
para dar a eles o direito de decidir sobre a eutanásia infantil? Sem dúvida, há um imenso perigo em transformar em direito
individual algo que diz respeito ao outro. As brechas para que se façam valer interesses e valores que não dizem respeito ao
outro podem deslizar para ações que mesmo uma ética renovada não suportaria. Sem rigor nesse campo, estariam em risco as
pessoas deficientes (que podem viver apesar das limitações, desfrutando uma existência intensa, desde que a sociedade se
organize para isso). Proponha que os adolescentes debatam esses pontos. Destaque que até mesmo casos mais escandalosos,
como a “eliminação” sistemática de bebês-meninas, que ainda ocorre na China e em outros países, encaixam-se nessa concepção
que dá poder a um indivíduo sobre a vida de outro.

Chame a atenção para o quadro sobre a lei penal brasileira em relação ao suicídio. Sugira que a moçada investigue eventuais
limitações na legislação civil no tocante aos direitos dos suicidas. A situação dos herdeiros de quem tirou a própria vida merece
atenção especial.

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