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Janer Cristaldo
A palavra bordel, para quem não sabe, nasce em Paris. Na época em que as
"maisons closes" ficavam às margens do Sena, quando alguém ia em busca de
mulheres, dizia eufemisticamente: "j'vais au bord'elle". Sena, em francês, é palavra
feminina, la Seine. Portanto, quando alguém dizia "au bord'elle", queria dizer "au
bord de la Seine". Daí, bordel. Não é de espantar que a capital que deu ao mundo
esta palavra queira homenagear, nos dias 20 e 25 de março próximos, no 18º Salão
do Livro de Paris, a prostituta maior das letras contemporâneas.
O Brasil será o país homenageado do Salão e terá como convidado de honra
e representante de nossas Letras, Jorge Amado, o mais vendido escritor nacional,
que começou sua carreira como estafeta do nazismo, continuou como agente do
stalinismo e hoje é roteirista oficioso de Roberto Marinho. Amado ainda receberá,
na ocasião, o título de Dr. Honoris Causa por uma universidade parisiense. Nada
de espantar: os parisienses, de longa tradição colaboracionista e stalinista, não
perderiam esta oportunidade de homenagear, neste século que finda, o colega que
desde a juventude militou nas mesmas hostes.
“Como ele o povo está preso e perseguido, ultrajado e ferido. Mas como ele
o povo se levantará, uma, duas, mil vezes, e um dia as cadeias serão quebradas, a
liberdade sairá mais forte de entre as grades. ‘Todas as noites têm uma aurora’,
disse o Poeta do povo, amiga, em todas as noites, por mais sombrias, brilha uma
estrela anunciadora da aurora, guiando os homens até o amanhecer. Assim
também, negra, essa noite do Brasil tem sua estrela iluminando os homens, Luís
Carlos Prestes. Um dia o veremos na manhã de liberdade e quando chegar o
momento de construir no dia livre e belo, veremos que ele era a estrela que é o sol:
luz na noite, esperança; calor no dia, certeza”.
“Vós sabeis, amigos, o ódio que eles têm − os homens de dinheiro, os donos
da vida, os opressores dos povos, os exploradores do trabalho humano − a Stalin.
Esse nome os faz tremer, esse nome os inquieta, enche de fantasmas suas noites,
impede-lhes o sono e transforma seus sonhos em pesadelos. Sobre esse nome as
mais vis calúnias, as infâmias maiores, as mais sórdidas mentiras. ‘O Tzar
Vermelho’, leio na manchete de um jornal. E sorrio porque penso que, no Kremlin,
ele trabalha incansavelmente para seu povo soviético e para todos nós, paras toda a
humanidade, pela felicidade de todos os povos. Mestre, guia e pai, o maior
cientista do mundo de hoje, o maior estadista, o maior general, aquilo que de
melhor a humanidade produziu. Sim, eles caluniam, insultam e rangem os dentes.
Mas até Stalin se eleva o amor de milhões, de dezenas e centenas de milhões de
seres humanos. Não há muito ele completou 70 anos. Foi uma festa mundial, seu
nome foi saudado na China e no Líbano, na Rumânia e no Equador, em Nicarágua
e na África do Sul. Para o rumo do leste se voltaram nesse dia de dezembro os
olhos e as esperanças de centenas de milhões de homens. E os operários brasileiros
escreveram sobre a montanha o seu nome luminoso”.
SP, fevereiro 98