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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE BIOLOGIA ROBERTO ALCÂNTARA GOMES

Projetinho IV
Zonação em substrato duro (Costão do Rio Barra Pequena)

Disciplina: Diversidade Animal I


Professor: Profª. Drª Sonia Barbosa dos Santos

Rio de Janeiro – RJ
2018
Introdução

O trabalho de campo no costão do Rio Barra Pequena, em Ilha Grande, foi


realizado em dois momentos no dia 23 de junho de 2018, pela manhã e à tarde, devido a
alterações da maré que dificultaram o estudo no local. Na ocasião, o dia estava
parcialmente nublado a claro, com temperatura amena e mar relativamente calmo. Pela
manhã, a maré estava ainda baixando e, por isso, foi necessário retornar ao local à tarde
para realização da aula prática.
Para acessar o local foi necessário atravessar o rio Barra Pequena, que encontra
o mar neste trecho, a fim de se aproximar da área pedregosa do costão. Existe uma
vegetação bem próxima ao mar e é possível observar as zonações existentes e a
biodiversidade local.

1) Zonação

O costão rochoso são regiões de transição entre o ambiente terrestre e marinho


que serve de substrato para fixação e locomoção de diversas espécies de seres vivos.
Esta ocupação se dá em regiões bastante visíveis, formando uma distribuição de faixas
ou zonas, chamada zonação. É possível observar na foto abaixo, um exemplo desta
observação encontrada na região estudada. Esta divisão é definida pelos níveis de maré
e pela distribuição de organismos.

Zonação encontrada em pedra local.


A) Reconheça a zonação, caracterizando tamanho e comunidade de cada zona.
Fotografe.

Esquema da região do costão rochoso: zonação e espécies estudadas.

A zona supra litoral é a região superior do costão rochoso, que fica permanente
exposta ao ar e à radiação solar, onde chegam apenas os borrifos d’água. Foram
encontrados liquens e a espécie Ligia exótica na região em grande número.
Na zona meso litoral encontrou-se a maior biodiversidade. Esta região é sujeita
às variações das marés. Diversas das espécies acima apresentadas foram observadas na
ocasião, porém outras, como a Hyallela sp. e a Onchindium sp.foram observadas
somente em laboratório, devido às condições climáticas.
A região infra litoral é a região permanentemente submersa e com fatores
ambientais são mais estáveis. Esta região não foi explorada nesta aula, pois necessitaria
de recursos de mergulho.
Rocha na zona supra litoral com liquens.

Rocha na zona meso litoral com colônia de Brachidontes solisianus.


B) Identifique os diversos estresses físicos aos quais os animais estão submetidos, em
cada zona.
Na região supra litoral, os fatores abióticos, como radiação solar e temperatura
são de grande importância para a distribuição dos organismos. Somente borrifos d’água
alcançam a região.
A região meso litoral fica submersa durante a maré alta e exposta durante a maré
baixa, ocasionando grande instabilidade em suas condições ambientais, pois está sujeita
às flutuações das marés. Nas poças que se formam após a baixa da maré podem estar
sujeitas a variações de salinidade e temperatura.
A região infra litoral fica permanentemente submersa e, por isso, é mais estável
que as demais.

C) Identifique as diversas adaptações e estratégias utilizadas para a sobrevivência dos


animais em cada zona.
Na faixa supra litoral, devido à alta incidência solar, os organismos aqui
presentes são mais adaptados à perda de água e à variação de temperatura. Os
organismos desta região devem lidar também com a grande exposição à predação de
animais terrestres e de aves.
Na faixa meso litoral, os organismos sésseis estão adaptados a variações diárias
e suas mudanças físicas, devido à alta e baixa das marés. Portanto, estão sujeitos a
períodos reduzidos de alimentação e liberação de larvas, eventos dependentes da maré
alta. Por vezes, quando a maré baixa, podem ficar restritos em poças de marés,
sujeitando-se a variações de salinidade e temperatura. Estes organismos apresentam
diferentes características adaptativas que lhes permitem sobreviver às pressões seletivas
do local: conchas ou exosqueletos resistentes, mecanismos de fixação às rochas, hábito
de viver em locais abrigados das ondas e do Sol (fendas), mecanismos de
armazenamento de água durante a maré baixa e outros.
Na faixa infra litoral, que é a zona de maior diversidade quer animal quer
vegetal, começam a ter mais importância as relações bióticas (predação, herbivoria,
competição) na determinação da distribuição dos organismos, uma vez que os fatores
ambientais são mais
estáveis.
2) Riqueza, abundância e diversidade
Durante o trabalho de campo, foram tiradas fotos de três quadrats de 10 cm de
lado, em cada zona, a fim de reconhecer e contar os animais encontrados de cada tipo.

Quadrat 1

Quadrat 2
Quadrat 3

Na tabela abaixo, constam as espécies constantes nas fotos e sua contagem por
espécie e quadrat correspondente.

Espécie Quadrat 1 Quadrat 2 Quadrat 3


Chthamalus stellatus 152 0 0
Brachidontes solisianus 0 415 263
Colisella subrugosa 0 0 1
A) Com as amostras trazidas do costão, reconstrua em uma folha de cartolina, EVA
ou pardo, a zonação observada, dispondo os animais e as algas na ordem e
associações em que aparecem no costão.
B) Que adaptações cada espécie possui que permite que viva bem adaptada ao meio
ambiente? Complete o roteiro fornecido. Justifique as diferenças encontradas em
relação à biologia da fauna versus condições do ambiente. Para o infra litoral, os alunos
deverão observar as amostras trazidas pelo professor, se possível. Os resultados dessa
região serão apenas qualitativos.

Supra litoral

 Ligia exótica - Pode crescer até 4 cm de comprimento, com os machos sendo


bem maiores que as fêmeas. A cor geral é cinza escuro, às vezes com manchas
marrons, e os apêndices são marrom-claros. A cabeça tem um par de antenas
longas que excedem o comprimento do corpo, e dois olhos salientes e
desimpedidos. O corpo é achatado dorsalmente e possui sete segmentos
torácicos, cada um com um par de pernas e seis segmentos abdominais. Os
primeiros cinco têm guelras planas e membranosas e o sexto tem dois longos
urópodes bifurcados. A fertilização é interna. Tem um sistema de transporte
passivo de água através de capilares abertos em suas pernas. É um organismo
bem adaptado a altas temperaturas.

Meso litoral

 Chthamalus stellatus - É uma craca séssil que se liga a rochas e outros materiais
firmes na zona intertidal usando sua base membranosa, adaptado às constantes
batidas das ondas. É um alimentador de suspensão que permanece em sua
concha fixa e usa seus apêndices em forma de penas e batidas ritmadas - pernas
realmente modificadas - para extrair plâncton e detritos em sua casca para
consumo. Dependendo das condições ambientais e da quantidade de alimento
disponível, pode atingir até 14 mm de diâmetro. É hermafrodita e capaz de se
autofertilizar quando isolado, mas os indivíduos geralmente assumem um papel
masculino ou feminino para se acasalarem.

 Littorina ziczac - É um pequeno caracol com uma forma aproximadamente


cônica com espirais pronunciadas e ranhuras verticais claras. A abertura é
pequena com um bordo proeminente. A cor base é branca, com faixas em zigue-
zague castanho-escuro ou púrpura. As primeiras voltas, que compõem o ponto
das conchas adultas, são marrom-avermelhadas sem listras. O interior da concha
é escuro, castanho-arroxeado, e o opérculo é castanho-escuro. Seu corpo é um
marrom escuro, pequeno, arredondado, com dois pequenos tentáculos. Procura
comumente as fendas das rochas para se fixar e assim se proteger das ondas e
predadores.

 Littorina flava - Esta espécie é dióica com fecundação interna e produção de


cápsulas pelágicas com ovos envoltos em massas gelatinosas. Em decorrência da
sua ampla distribuição no litoral brasileiro e ocorrência em locais intensamente
afetados por atividades antrópicas, Este organismo pode ser utilizada como
organismo indicador de degradação ambiental.

 Onchindium sp - São lesmas marinhas intertidais, ovais em contorno, com um


nódulo dorsalmente arqueado, portador de verrugas e papilas. Existem glândulas
que aparentemente secretam fluidos nocivos nas laterais do corpo e tentáculos
que trazem os olhos em suas pontas. Esconde-se em fendas durante as águas
altas e emergindo na maré baixa para pastar sobre rochas cobertas de algas.

 Collisella ruginosa - Possui concha cônica de desenho espiral e simétrico, de


forma compacta e resistente. Seu pé é uma sola chata e rastejante com glândulas
produtoras de muco. Ocorre em ambientes expostos e também abrigados.

 Ostraea sp - São moluscos que se desenvolvem em águas marinhas dentro de


conchas de formatos irregulares e desiguais entre si. Estas conchas são muito
calcificadas e se mantêm fechadas graças a um músculo adutor. Seu corpo é
mole e é constituído de boca, estômago, coração, intestino, rins, gônadas,
guelras, músculo adutor, ânus e manto.

 Brachidontes solisianus - É um molusco bivalve, atribui-se caracteristicamente


a costões rochosos a profundidades de < 3 m. Esta espécie é composta por
organismos sedentários e filtrantes, capazes de resistir ao sol quente durante toda
a maré baixa e anexar-se às regiões basais das algas ou rochas.
 Hyallela sp - Costumam medir de 3 - 8 mm de comprimento. Seu corpo
segmentado, curvado ventralmente e sua disposição de patas lembram camarões.

 Isognomon Bicolor - Vivem aderidos em frestas de costões rochosos, até 6 m.


Espécie exótica, originária do Caribe, foi introduzida no Brasil por plataformas
ou água de lastro e tornou-se invasora, podendo causar perda de diversidade
nativa em costões rochosos no litoral do Brasil, pois cria grande competitividade
por substrato com as espécies nativas.

 Colônia phragmatopoma sp – É caracterizado por possuir, junto ao penacho


branquial, uma coroa opercular escura, cujas páleas medianas formam um cone,
escondendo as páleas internas.

 Perna Perna - Este mexilhão é um molusco marinho, comestível, que atinge 5,5
cm de comprimento, bivalve, com duas conchas alongadas, de coloração escura
e nuances azuladas metálicas. Fixa-se a rochas ou qualquer estrutura dura, sólida
é imersa. São organismos filtradores e sua preferência é por algas microscópicas.
O ciclo sexual do mexilhões pode, através do aspecto e coloração, ser observado
e diferenciado em 3 estágios: animais imaturos, animais em maturação e animais
maturos.

 Stramonita haemastoma - O molusco gastrópode Stramonita haemastoma


ocorre em habitat de recifes rochosos, no mesolitoral inferior, em águas com
temperatura quente, sendo utilizada para consumo por algumas comunidades
litorâneas e como isca pela pesca amadora.

 Tetraclita stalacifera - Conhecidas como cracas, esses animais possuem duas


grandes adaptações corporais: ausência de segmentação, formando um corpo
uniforme e alterações na posição das patas, onde as mesmas localizam-se na
região superior e servem exclusivamente para captura de alimento. São animais
sésseis que se fixam em costões rochosos na região do meso litoral inferior.
 Caranguejo da pedra - São animais móveis, que vivem próximo a costões
rochosos no mesolitoral inferior. Comumente escondem-se entre as pedras para
se protegerem de predadores.

C) Associações encontradas entre animais e vegetais: Reconheça as diversas


associações ecológicas presentes, especialmente nos tufos de algas, bancos de
mexilhões e ostras.

Diversos animais podem utilizar os tufos de algas e bancos de mexilhões e ostras


como forma de abrigo, proteção contra predadores e alimentação.

2) Quantificação da fauna (com base nas fotografias obtidas)

A) Para cada zona (supra litoral, meso litoral superior, meso litoral médio), calcule a
riqueza (número de espécies diferentes). Calcule também a abundância de cada espécie
(número de indivíduos/área).

No supra litoral foi avistada apenas uma espécie, a Ligia exotica. No meso litoral
superior foram catalogadas três espécies: a Chthamalus stellatus, a Littorina ziczac e a
Littorina flava. No meso litoral médio foram encontradas seis espécies: Onchindium SP,
Collisella ruginosa, Ostraea SP, Brachidontes solisianus, Hyallela SP e Isognomon
Bicolor. Nas fotos utilizadas dos quadrats foram contabilizadas as espécies Chthamalus
stellatus, do meso litoral superior, e Brachidontes solisianus e Collisella ruginosa, do
meso litoral médio. Nos três quadrats estudados foram encontrados 152 exemplares de
Chthamalus stellatus, 678 exemplares de Brachidontes solisianus e apenas um exemplar
de Collisella ruginosa, o que nos retorna os valores de 1,52 indivíduos/cm², 6,78
indivíduos/cm² e 0,01 indivíduo/cm².

B) Construa um gráfico riqueza-zona do costão que demonstre a variação ao longo das


zonas do costão. Qual a zona com maior riqueza de espécies? Qual a zona com menor
riqueza de espécies?

Dentre as zonas analisadas, a zona com a maior riqueza de espécie é a meso


litoral, que possui períodos submersos com a alta da maré, e a de menor riqueza, a supra
litoral, devido a fatores como: fortes ondas, vento e forte incidência solar, que
dificultam a sobrevivência de muitas espécies. Ao levar em consideração a zona infra
litoral, esta é a de maior riqueza entre todas, porém esta zona não foi contemplada do
trabalho de campo.

4
Supra litoral
3 Meso litoral

0
Supra Litoral Meso superior Meso médio Médio inferior

C) Construa um gráfico que demonstre a variação da abundância de cada espécie ao


longo do costão.

O quantitativo observado das espécies nos quadrats foi pouco significante para a
espécie Collisella ruginosa.

450

400

350

300

250 Chthamalus stellatus

200 Brachidontes solisianus

150 Collisella ruginosa

100

50

0
Quadrat 1 Quadrat 2 Quadrat 3

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