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DL 46 - 08 Resíduos PDF
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É pois evidente a premência da criação de condições inovadores ao nível do planeamento, da gestão e do registo
legais para a correcta gestão dos RCD que privilegiem de dados de RCD, que permitem, em articulação com os
a prevenção da produção e da perigosidade, o recurso regimes jurídicos das obras públicas e das obras particu-
à triagem na origem, à reciclagem e a outras formas de lares, condicionar os actos administrativos associados ao
valorização. início e conclusão das obras à prova de uma adequada
Neste enquadramento, é incontornável a necessidade de gestão destes resíduos.
criar um regime jurídico próprio, que estabeleça as nor- Com efeito, a obrigatoriedade do cumprimento do re-
mas técnicas relativas às operações de gestão de resíduos gime da gestão de resíduos de construção e demolição
de RCD, em concretização do disposto no artigo 20.º do resultante do presente diploma está também consagrada
Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro, garantindo no Código dos Contratos Públicos e no Regime Jurídico
a aplicação ao fluxo de RCD das políticas de redução, da Urbanização e da Edificação (RJUE).
reutilização e reciclagem de resíduos preconizadas no Entende-se que o sector público deve assumir um papel
Programa do XVII Governo Constitucional. de destaque na dinamização e no incentivo à adopção de
Tendo em conta a importância da adopção de uma práticas de gestão ambientalmente sustentáveis e na pros-
abordagem que garanta a sustentabilidade ambiental da secução da estratégia governativa de promoção de compras
actividade da construção numa lógica de ciclo de vida, são públicas ecológicas.
definidas metodologias e práticas a adoptar nas fases de É neste sentido que o Código dos Contratos Públicos
projecto e execução da obra que privilegiem a aplicação
exige, para as obras públicas, a elaboração de um plano
dos princípios da prevenção e da redução e da hierarquia
das operações de gestão de resíduos. de prevenção e gestão de resíduos de construção e demo-
Assume particular importância, na perspectiva da pro- lição, cujo cumprimento, demonstrado através da vistoria,
moção do mercado de reciclados de RCD, o estabeleci- é condição da recepção da obra.
mento de critérios de qualidade que induzam a confiança No que se refere às obras particulares, dispõe o RJUE
dos potenciais consumidores permitindo-lhes ultrapassar que o cumprimento do regime legal da gestão de RCD
barreiras psicológicas, técnicas e de informação à incor- constitui condição a observar na execução das obras de
poração de resíduos reciclados em novos produtos. Neste urbanização ou nas obras de edificação.
contexto, o presente decreto-lei prevê a aprovação de es- O presente decreto-lei não perde de vista a necessidade
pecificações técnicas relativas à utilização de RCD em ponderosa de simplificar os procedimentos de licencia-
diferentes tipos de materiais de construção. mento. Com efeito, nem sempre se traduzindo em mais va-
Também a possibilidade de reutilização de solos e ro- lia ambiental, o procedimento de licenciamento tem consti-
chas não contendo substâncias perigosas, derivados da tuído um forte obstáculo a uma gestão de RCD consentânea
actividade da construção, noutras obras, para além da de com o princípio da hierarquia das operações de gestão de
origem, bem como na recuperação ambiental e paisagística resíduos consagrado no Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5
de pedreiras, na cobertura de aterros destinados a resíduos de Setembro.
ou ainda em local licenciado pelas câmaras municipais, se Assim, dispensa-se de licenciamento as operações de
configura como uma importante via para potenciar a pre- gestão realizadas na própria obra e a utilização de solos e
venção e simultaneamente preservar os recursos naturais rochas que não contenham substâncias perigosas resultan-
utilizados para fins idênticos. tes da actividade de construção, na recuperação ambiental
Todavia, quer a reutilização de materiais quer o enca- e paisagística de pedreiras ou na cobertura de aterros des-
minhamento de RCD para reciclagem ou outras formas de tinados a resíduos.
valorização obrigam necessariamente à criação de condi- Foram ouvidas a Associação Nacional de Municípios
ções em obra no sentido da adequada triagem de materiais Portugueses, e a título facultativo, a QUERCUS e a Fede-
e de resíduos, por fluxos e fileiras. Neste sentido, prevê-se ração Portuguesa da Indústria da Construção e das Obras
a obrigatoriedade de aplicação em obra de uma metodolo- Públicas (FEPICOP).
gia de triagem ou, em alternativa, o encaminhamento para Foi promovida a audição dos órgãos de governo próprio
operador de gestão licenciado para realizar essa operação
das Regiões Autónomas.
sendo ainda definidos requisitos técnicos para as instala-
ções de triagem e fragmentação. Assim:
Condicionando a deposição de RCD em aterro a uma Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 198.º da Cons-
triagem prévia, o presente decreto-lei pretende contribuir tituição, o Governo decreta o seguinte:
para um incremento da reciclagem ou de outras formas de
valorização de RCD e, concomitantemente, para a minimi- CAPÍTULO I
zação dos quantitativos depositados em aterro.
Destaca-se ainda a introdução, no presente decreto-lei, Disposições gerais
de uma taxa de gestão de resíduos específica para iner-
tes de RCD, de valor inferior ao previsto no Decreto-Lei Artigo 1.º
n.º 178/2006, de 5 de Setembro, para os restantes inertes. Objecto
Procura-se, desta forma, ajustar o referido instrumento
tributário às especificidades do mercado potencial para O presente decreto-lei estabelece o regime das operações
reutilização dos inertes de RCD, fortemente condicionada de gestão de resíduos resultantes de obras ou demolições
pela concorrência dos agregados resultantes da actividade de edifícios ou de derrocadas, abreviadamente designados
extractiva. resíduos de construção e demolição ou RCD, compreen-
O presente decreto-lei estabelece uma cadeia de respon- dendo a sua prevenção e reutilização e as suas operações
sabilidade que vincula quer os donos de obra e os emprei- de recolha, transporte, armazenagem, triagem, tratamento,
teiros quer as câmaras municipais. São criados mecanismos valorização e eliminação.
Diário da República, 1.ª série — N.º 51 — 12 de Março de 2008 1569
1 — Nas empreitadas e concessões de obras públicas, Nas obras sujeitas a licenciamento ou comunicação
o projecto de execução é acompanhado de um plano de prévia nos termos do regime jurídico de urbanização e
prevenção e gestão de RCD, que assegura o cumprimento edificação, o produtor de RCD está, designadamente,
dos princípios gerais de gestão de RCD e das demais nor- obrigado a:
mas aplicáveis constantes do presente decreto-lei e do a) Promover a reutilização de materiais e a incorporação
Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro. de reciclados de RCD na obra;
2 — Do plano de prevenção e gestão de RCD consta b) Assegurar a existência na obra de um sistema de
obrigatoriamente: acondicionamento adequado que permita a gestão selectiva
a) A caracterização sumária da obra a efectuar, com dos RCD;
descrição dos métodos construtivos a utilizar tendo em c) Assegurar a aplicação em obra de uma metodologia
vista os princípios referidos no artigo 2.º e as metodolo- de triagem de RCD ou, quando tal não seja possível, o seu
gias e práticas referidas no artigo 5.º do presente decreto- encaminhamento para operador de gestão licenciado;
-lei; d) Assegurar que os RCD são mantidos em obra o mí-
b) A metodologia para a incorporação de reciclados nimo tempo possível, sendo que, no caso de resíduos peri-
de RCD; gosos, esse período não pode ser superior a três meses;
e) Cumprir as demais normas técnicas respectivamente
c) A metodologia de prevenção de RCD, com identi-
aplicáveis;
ficação e estimativa dos materiais a reutilizar na própria
f) Efectuar e manter, conjuntamente com o livro de
obra ou noutros destinos;
obra, o registo de dados de RCD, de acordo com o modelo
d) A referência aos métodos de acondicionamento e constante do anexo II ao presente decreto-lei, do qual faz
triagem de RCD na obra ou em local afecto à mesma, de- parte integrante.
vendo, caso a triagem não esteja prevista, ser apresentada
fundamentação da sua impossibilidade; Artigo 12.º
e) A estimativa dos RCD a produzir, da fracção a reciclar
ou a sujeitar a outras formas de valorização, bem como Transporte
da quantidade a eliminar, com identificação do respectivo 1 — Ao transporte de RCD aplica-se o disposto na Por-
código da lista europeia de resíduos. taria n.º 335/97, de 16 de Maio, com excepção dos n.os 5,
6 e 7 relativos à utilização da guia de acompanhamento
3 — Incumbe ao empreiteiro ou ao concessionário exe- de resíduos.
cutar o plano de prevenção e gestão de RCD, assegurando 2 — O transporte de RCD é acompanhado de uma guia
designadamente: cujo o modelo é definido por portaria do membro do Go-
verno responsável pela área do ambiente.
a) A promoção da reutilização de materiais e a incor-
poração de reciclados de RCD na obra;
b) A existência na obra de um sistema de acondicio- SECÇÃO II
namento adequado que permita a gestão selectiva dos Licenciamento
RCD;
c) A aplicação em obra de uma metodologia de tria- Artigo 13.º
gem de RCD ou, nos casos em que tal não seja possí-
Licenciamento de operações de gestão de RCD
vel, o seu encaminhamento para operador de gestão
licenciado; 1 — Sem prejuízo do disposto no n.º 3 do presente ar-
d) A manutenção em obra dos RCD pelo mínimo tempo tigo, as operações de armazenagem, triagem, tratamento,
possível que, no caso de resíduos perigosos, não pode ser valorização e eliminação de RCD estão sujeitas ao re-
superior a três meses. gime de licenciamento constante dos artigos 23.º a 44.º do
Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro.
4 — O plano de prevenção e gestão de RCD pode ser 2 — A deposição de RCD em aterro está sujeita a li-
alterado pelo dono da obra na fase de execução, sob pro- cenciamento nos termos do Decreto-Lei n.º 152/2002, de
posta do produtor de RCD, ou, no caso de empreitadas de 23 de Maio.
concepção-construção, pelo adjudicatário com a autoriza- 3 — Estão dispensadas de licenciamento:
ção do dono da obra, desde que a alteração seja devida- a) As operações de armazenagem de RCD na obra du-
mente fundamentada. rante o prazo de execução da mesma;
5 — O plano de prevenção e gestão de RCD deve b) As operações de triagem e fragmentação de RCD
estar disponível no local da obra, para efeitos de fis- quando efectuadas na obra;
calização pelas entidades competentes, e ser do co- c) As operações de reciclagem que impliquem a reincor-
nhecimento de todos os intervenientes na execução poração de RCD no processo produtivo de origem;
da obra. d) A realização de ensaios para avaliação prospectiva
6 — A Agência Portuguesa do Ambiente disponibiliza da possibilidade de incorporação de RCD em processo
no seu sítio na Internet um modelo de plano de prevenção produtivo;
e gestão de RCD. e) A utilização de RCD em obra;
Diário da República, 1.ª série — N.º 51 — 12 de Março de 2008 1571
de limpeza e de derramamentos e, quando apropriado, do- para destino adequado de águas pluviais, águas de
tado de decantadores e separadores de óleos e gorduras. limpeza e de derramamentos e, quando apropriado,
5 — Zona de armazenagem, impermeabilizada, dotado de decantadores e separadores de óleos e gor-
equipada com sistema de recolha e encaminhamento duras.
ANEXO II
Em obra Outra
Materiais reutilizados — tipologia
Tipo de utilização (Ton ou l) Tipo de utilização (Ton ou l)
Incorporação em obra
RCD — código LER (*) Operador de gestão (**) (ton ou l)
Tipo de utilização (Ton ou l)
Total (ton ou l)
(*) De acordo com a Portaria n.º 209/2004, de 3 de Março (lista europeia de resíduos).
(**) Anexar cópia dos certificados de recepção emitidos pelos operadores de gestão devidamente legalizados.
1.º semestre