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8. Anos 60: da arte em fungao do coletivo a arte de galeria 313 8. Anos 60: da arte em fungao do coletivo 4 arte de galeria Qs objetivos visados em comecos dos anos 50 pelos clubes de Gravura — deselitizagao da arte mediante seu acesso, através da obra multiplicada, a um mimero maior de apreciadores, a importéncia da denancia contida na imagem, na defesa da Paz, na exaltagiio do trabalhador em seu cotidiano — pareceriam timidos & geragdo seguinte de jovens artistas de teatro de inicios da década de 60. Com efeito, na época tumul- iuada do momento politico que se segue a posse de Janio Quadros, em 1961, até 1964, um fendmeno novo parece se tornar mais nitido: a consideracao do “popular” para o meio intelectual e artistico, 0s meios de comunicagdo de massa contribvindo vigo- rosamente para chamar a atengHo para a necessidade de conscientizagdo e arreg mentaclo de um nimero maior de pessoas. Conseqiientemente, 0 dado “partici- packo", tanto da parte de artistas como de intelectuais, é considerado prioritério, tentando-se, através dela, um trabalho comum, tendo de um lado a massa d lag&o brasileira e, de outro, o meio intelectual e artistico. Sem qualquer divida, 0 teatro gozou, no decorrer de toda essa década, de absoluto destaque, como expressio, vitalidade e capacidade der 0, amol- dando-se aos novos desafios que, para os artistas “comprometidos”, eram funda- mentais, scguindo-se-he, bem de perto, as expressdes do cinema novo e da musica popular, acompanhando a pulsagdo intensa do Pats. Brasilia desempenhou papel fundamental para esse despertar dos intelectuais e artistas em diregao ao “popular”, nao apenas pela confluéncia obrigatéria de todos os brasis com seu pluralismo cultural na nova capital, como pela conseqtiente assungao do peso dos elementos regionais, no urbanos, que compdem a nossa cultura de massa, O proprio Ferreira Gullar, recém-saido da experiéncia neoconereta no Rio de Janeiro, de que participara como principal tedrico, confessa seu reencontro com o popular — homem do Nordeste que é — a partir de 1961, quendo 0 convidam a dirigir 2 Fundago Cultural de Bra: af entrei numa nova dimensao da j realidade. Ai tentei fazer arte popular ¢ arte de vanguarda, porque acreditava que Brasilia era a sintese desses dois polos da vida cultural brasileira.” Mas a coisa era mais compiexa: “O artesanato arcaico nordestino com a imaginag2o do urbanismo & a arquitetura audaciosa, o Brasil mais moderno ¢ o mais antigo juntos. Pensei que a arte do Brasil tinha que ser 4 arte de vanguarda e a arte popular. Arte de vanguarda foi possfvel fazer, mas arte popular, nao.” Surgiu também a idéia da criactio de Museu de Arte Popular em Brasilia, a ser jocalizado perto do aeroporto velho. O projeto, de autoria de Oscar Niemeyer, (1) “Entrevista con Ferreira Gullar ex Rio de Janeiro. Artes Visuales, México, mar./maio 1979. Trad daa. A idéia de Guliar fora a criagio de ateligs coletivos, para os trabalhadores nordestinos, a firm de que pudessetn reencontrar um espaco de Jazer-cultura, desenvolvendo sue tradigo artesanal: “1 adares safam de casa as seis da manhé, vol , @ estavam cansados © no quetiam saber de nada.” Idem, ibidem. 315

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