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Outra iconicidade
DARCILIA SIMÕES
UERJ
1. Enquadre teórico
artindo de Ba~htin ([Voloshinov], 2003 1), entendemos que são rele-
2. Preparando a prática
Rodrigues (in Meurer, Bonini e Mota-Roth, 2005: 153) selecionou trecho
bakhtiniano que achamos por bem transcrever:
pela experiência. Como nosso.foco atual é a aqu isição lexical como condição
de desenvolvimento da competência verbal, temos de chamar à cena palavras
de Bazerman (in: Hoffnagel & Dionisio, 2006: 87): "Quase todas as palavras e
frases que usamos já havíamos ouvido ou visto an tes". No entanto, essa aqui-
sição tácita não resolve sozinha o desenvolvimento da competência verbal.
Como sujeitos ativos (ou atores) os falantes precisam saber/poder recombi-
G~ne ro textual e ensino 125
3. Conteúdos a ensinar
Parece-nos des necessá rio discutir quais os conteúdos léxicos e gramati-
cais a ensinar. A princí pio, o falan t e precisa de tudo o que a língua lhe ofe rece,
para qu e se com uni que e m qualquer circunstância. Por isso, o convívio com
os textos é co ndição indispensável à aqu isição lexical e à incorporação de mo-
delos da estruturação linguística.
Segundo Marcuschi, os gé ne ros prestam grande se rviço ao ens ino da
língua. No entanto, alerta o estudi oso sobre o fato de serem os gêneros enti-
dades comun icativas, funcionais. Por isso, distingue m-se de acordo com suas
fun ções, propósitos, ações e co nteúdos. Logo, a ti picidade de um gênero deri-
va de suas características funcio na is e de s ua organi zação retórica. O au tor de
Análise da Conversação ainda informa que Carolin Myller (1984) sugere que
os gêneros são formas ve rbais de ação social estabilizadas e recorrentes em
texto s situados em comunidades de práticas em domín ios d iscursivos espe-
cíficos. Por isso, é-nos possível d istinguir, por exemplo, uma receita culinária
e um manual de ins trução. Cada um desses géneros traz, além do voca bulá-
rio a ltame nte especializad o, uma distribuição particular dos enunciados que
gera algo como uma image m genérica que a uxilia a ide ntifi cação automática
de d eterm inados géneros.
Gênero textual e en sino 127
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Obs erve-seq ue, alé m d as caracte r ísticas ver bais, o co mp o nente não ve r-
ba l é relevante, um$ vez que desenha o texto, do pon to de vis ta da distribui -
ção do conteúd o n a página.
Ainda no texto escrito, comparemos os traços do estilo, que se manifes-
tam, por vezes a despe ito do gênero, na seleção extravagan te do vocabulário
(o que só ocor re quando deste se tem domínio) .
Ilustrando:
Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios
Relatório
Ao Governo do Estado de Alagoas
Exmo. Sr. Governa do r:
Trago a V. Ex.~ um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de
Palmeira dos Índios em 1928.
Não fo ram muitos, que os nossos recursos são exíguos. Assim, minguados,
130 Darcilia Simões
COMEÇOS
O principal, o que sem demora iniciei, o de que dependiam todos os outros,
segundo creio, foi estabelecer alguma ordem na Administração.
Havia em Palmeira inúmeros prefeitos: os cobradores de impostos,
o Comandante do Destacamento, os soldados, outros que desejavam
administrar. Cada pedaço do Município tinha um administrador particular,
com Prefeitos Coronéis e Prefeitos inspetores de quarteirões. Os fiscais,
esses, resolviam questões de polícia e advogavam.
Para que semelhante anomalia desaparecesse lutei com tenaci dade e
encontrei obstáculos dentro da Prefeitura e fora dela - dentro, uma
resistência mole, suave, de algodão em rama; fora, um a campanha sorna,
oblíqua, carregada de bíl is. Pensava uns que tudo ia bem nas mãos de Nosso
Senhor; que administrava melhor do que todos nós; outros me davam três
meses para levar um tiro.
Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restaram poucos:
saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais
não se metem onde não são necessários, cumprem com suas obrigações e,
sobretudo, não se enganam na s contas. Devo muito a eles.
Não sei se a administração do Município é boa ou ruim. Talvez pudesse ser
pior.
( ...)
(extraído de http://blogln.ning.com / profiles/blogs /relato do-da-prefeitura
Referências bibliográficas
BAKHTJN, M. (2003). Estética da criação verbal. Trad.: P. Bezerra. São Paulo: Martins Fontes.
BAZERMAN, C. (2006). Gênero, agência e escrita. Org.: j . C. Hoffnagel, A. P. Dionisio. São Paulo: Cort~z
Editora.
KARWOSKI, A. M., GAYDECZKA, B. & BRITO, K. S. (2011). Géneros textuais: reflexões e ensino. São Paulo:
Parábola Editorial.
MARCUSCHI, L. A. (2008). Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola
Editorial.
RODRIGUES, R. H. (< OOS). Os gêneros 1o discurso na perspectiva d ialógica da linguagem: a abordagem de
Bakhtin, in: ~EURER. J. L, BONINI, A. & MOTA-ROTH, D..(orgs.). G6neros: teorias, métodos e debates.
São Paulo: Pa~ábola Editorial.
SCHNEUWLY, B. & DOLZ ]. (2004). Géneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras.
SIMÕES, D. (2009). /conicidade verbal. Teoria e prática. Edição on-line. Rio de Janeiro: Dialogarts.