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Centro Universitário de Brasília - Uniceub

Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais - FAJS

ELIZA PEREIRA DANTAS

ASILO POLÍTICO E REFÚGIO TERRITORIAL NO CAMPO DO


DIREITO BRASILEIRO
DIVERGÊNCIAS E POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO PERANTE
O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Brasília
2016
ELIZA PEREIRA DANTAS

ASILO POLÍTICO E REFÚGIO TERRITORIAL NO CAMPO DO


DIREITO BRASILEIRO
DIVERGÊNCIAS E POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO PERANTE
O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Projeto de pesquisa apresentado como requisito para


aprovação na disciplina Monografia I do curso de
bacharelado em Direito do Centro Universitário de
Brasília.
Orientador: Prof. Roberto Krauspenhar.

Brasília
2016
SUMÁRIO

1. TÍTULO E SUBTÍTULO...................................................................................................3
2. APRESENTAÇÃO.............................................................................................................4
3. JUSTIFICATIVA TEÓRICA............................................................................................6
4. PROBLEMATIZAÇÃO....................................................................................................14
5. OBJETIVOS.......................................................................................................................15
6. METODOLOGIA..............................................................................................................16
7. REFERÊNCIAS................................................................................................................17
3

ASILO POLÍTICO E REFÚGIO TERRITORIAL NO CAMPO DO


DIREITO BRASILEIRO.

DIVERGÊNCIAS E POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO PERANTE O


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
4

2. APRESENTAÇÃO

O trabalho em questão aborda sobre um ponto de vista prático os institutos de Asilo


Político e Refúgio Territorial ao longo da história e atuação da ACNUR – Alto Comissariado
das Nações Unidas de Refugiados. Com forte teor humanitário, os institutos do Asilo Político
e Refúgio Territorial visam à proteção da integridade da pessoa humana e sua vida e bem
desenvolvimento, respectivamente nessa ordem.

Abordaremos também a influência do CONARE e outros órgãos reguladores do


instituto do refúgio ao redor da América Latina – região conhecida por sua forte influência e
recepção de refugiados em todo o mundo.

O MERCOSUL também abarcou os institutos legislando de forma semelhante e


interativa entre os países que integram o bloco. Embora dificuldades sejam comuns e
recorrentes no território latino, os esforços para a aceitação de refugiados são cada vez maiores
e notáveis.

Refugiados de todos os tipos, deslocados internos e até mesmo apátridas solicitam


um maior engajamento perante a comunidade internacional com efeito de despertar
gradualmente um maior interesse em relação à proteção e a integração desse grupo de
indivíduos territorialmente vulneráveis.

António Manuel de Oliveira Guterres, que exerceu o cargo Alto Comissário das
Nações Unidas para os refugiados no período de junho de 2005 à dezembro de 2015, acredita
que a preservação do asilo pleiteia a capacidade de localizar as pessoas que necessitam de
proteção dentre fluxos migratórios complexos.

É necessário uma solução efetiva para um satisfatório desenrolar dos problemas


humanitários que nos vemos obrigados a enfrentar na nossa sociedade contemporânea, bem
5

como desavenças políticas. Contratempos esses que em sua maioria acarretam num movimento
populacional extenuante.

É com a intenção de analisar os conflitos políticos e os desastres naturais e encontrar


uma resolução plausível que decidi abordar o tema. Entender como se dão esses movimentos
migratórios na vida real e no campo jurídico e como melhor adaptar o indivíduo que desse
instituto usufrui.
6

3. JUSTIFICATIVA TEÓRICA

No Brasil, conforme dados de julho de 20111, há 4.418 refugiados. Destes, 3.991


foram reconhecidos pelas vias tradicionais de elegibilidade e 427 foram reconhecidos pelo
Programa de Reassentamento.

Para Renato Zerbini Ribeiro Leão2, o Programa de Reassentamento trata-se de


“uma das soluções duradouras para o problema dos refugiados, que não encontram condições
de se integrarem ao país de primeira acolhida e tampouco de retornarem ao país de origem”.
Uma solução viável para a acomodação de uma variedade de nacionalidades distintas em
território brasileiro.

Em relação à temática do Refúgio, temos a Lei 9.474/97, responsável por regular


as práticas adotadas no Estado brasileiro com relação aos refugiados, bem como estipula a
criação do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE).

Segundo a ONU, no que tange também a Lei 9.474/97, refugiados são todas aquelas
pessoas que “devido à grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigada a deixar
seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país”3. Conceito esse disposto não só
na lei em comento quanto na Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados
de 19514 e no Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados.5

1
ONU: Relatório Tendências Globais do ACNUR, divulgado em 20/06/2011. IN:
http://www.unhcr.org/4dfdbf40b.html
2
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. CONARE: Balanço de seus 14 anos de existência. IN: RAMOS, André de
Carvalho; RODRIGUES, Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR –
Perspectivas de futuro, São Paulo: CL-A Cultural, 2011. p. 69.
3
BRASIL. Lei 9.474/97, Artigo I, Inciso III. IN: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9474.htm>.
4
Adotada em 28 de julho de 1951 pela Conferência das Nações Unidas de Plenipotenciários. Entrando em
vigor em 22 de abril de 1954. Assinada pelo Brasil em 15 de julho de 1952. Oficializada no ordenamento
jurídico pátrio pelo Decreto n° 50.215/61.
5
Promulgado no Brasil através do Decreto n° 70.946/72.
7

Renato Zerbini Ribeiro Leão6 destaca:

Em prol da proteção dos direitos humanos dos refugiados, a cooperação internacional


constituirá uma fonte de restrições à discricionariedade estatal na temática. Inclusive,
o princípio da boa fé seria suficiente para sustentar esta tese no tocante à
responsabilidade estatal na esfera do direito internacional público.

Há que se destacar também que o ato de concessão de asilo ou refúgio não deve
implicar em nenhum possível ressentimento entre os países envolvidos.

A Lei 9.474/97 em seu artigo 14 estabelece a composição do CONARE, bem como


seu modelo de trabalho tripartido. Ilustrados por uma sociedade civil organizada, o Estado
brasileiro e, por fim, pela ACNUR. Afinal “o tripartitismo tem como razão de ser a afirmação
da dignidade humana em toda e qualquer circunstância. Isso porque finalmente, quando se trata
do ser humano,a sorte de cada um de nós está inexoravelmente vinculada a sorte dos demais”.7

O artigo 1° da Lei 9.474/97 assim determina os pressupostos necessários para o


reconhecimento de determinado indivíduo como refugiado:

Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:

I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião,


nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de
nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país;II - não tendo
nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa
ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso
anterior;III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado
a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.

Nesse ponto podemos auferir que o refúgio é um instituto de proteção à vida.


Ultrapassando limites impostos pelo asilo político. Apesar de semelhantes, “refúgio” e “asilo”

6
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. CONARE: Balanço de seus 14 anos de existência. IN: RAMOS, André de
Carvalho; RODRIGUES, Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR –
Perspectivas de futuro, São Paulo: CL-A Cultural, 2011. p. 71.
7
Ibidem, p.74.
8

agregam características ímpares. Como o aspecto discricionário do asilo, sendo sua concessão
ou não ato soberano do Estado solicitado – geralmente conhecido doutrinariamente como “asilo
diplomático”. Já o refúgio possui um teor de proteção à vida, decorrente de compromissos
internacionais. O refúgio é visto como um direito reconhecido do cidadão em questão.

Posteriormente, com a Declaração de Cartagena de 1984, temos o reconhecimento


da “complementaridade existente entre os três ramos da proteção internacional da pessoa
humana, à luz de uma visão integral e convergente do direito humanitário, dos direitos humanos
e do direito dos refugiados”.8

É notável a preocupação com a proteção da pessoa humana que o Estado brasileiro


possui, conforme elencado em seu artigo quarto da Constituição Federal de 1988 há a “II.
prevalência dos direitos humanos; III. Autodeterminação dos povos; IX cooperação entre os
povos para o progresso da humanidade; e X. concessão de asilo político”. Também temos
algumas proteções interessantes ao assunto tratado resguardadas pelo artigo quinto como:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade”.

Sobre o dispositivo de reassentamento temos que:

Esta solução é empregada a partir do momento em que no país onde se concedeu o


refúgio por primeira vez não se encontram mais presentes as condições necessárias
para a proteção e/ou integração dos refugiados e/ou refugiadas.Quando estes e/ou
estas estiverem em um terceiro país ou segundo país estrangeiro com vistas à proteção
internacional, não sendo nem o seu país natal e tampouco o primeiropaís estrangeiro
que lhes concedeu refúgio, serão considerados refugiados e/ou refugiadas
reassentados.9

8
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. CONARE: Balanço de seus 14 anos de existência. IN: RAMOS, André de
Carvalho; RODRIGUES, Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR –
Perspectivas de futuro, São Paulo: CL-A Cultural, 2011. p. 79.
9
Ibidem, p.81.
9

Segundo a ACNUR, o Brasil desponta como um país de reassentamento. Adotando


a ação de “reassentamento solidário para refugiados latino-americanos” que consiste em uma
cooperação entre Estados da região para quando algum deles receberem um fluxo muito grande
de refugiados originados por conflitos e tragédias humanitárias ocorridas na América Latina.

Reconhecida internacionalmente por seu trato com refugiados, bem como seu
desenvolvimento na questão dos asilados e seus direitos, a América Latina vem ganhando
destaque cada vez mais.

Conforme Fabiano L. de Menezes10:

O primeiro instrumento regional que aborda a questão do asilo na América Latina foi
o Tratado sobre Direito Penal Internacional e Comparado (1889). Em seguida, outras
declarações e tratados que abordam esse tema foram: a Declaração Americana dos
Direitos e Deveres do Homem (1948); e a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (1969). Estes dois últimos instrumentos reconhecem que toda pessoa tem
direito, em caso de perseguição não resultante de crimes comuns, de buscar e receber
asilo em um território estrangeiro.

Ainda temos algumas outras declarações que abordam a proteção aos refugiados
como tema principal, como por exemplo: Declaração de Cartagena sobre refugiados de 1984;
Declaração de São José sobre refugiados e pessoas deslocadas de 1994; Declaração e plano de
ação do México de 2004; e Declaração de Brasília de 2010. Embora com todas essas
declarações recentes, o principal documento utilizado para tais questões continua sendo a
Declaração de Cartagena, a qual segundo Cuellar11 “representou a abertura da América Latina
para o mundo contemporâneo do direito dos refugiados”.

Devido aos conflitos civis que se abateram na América Central nas décadas de 1970
e 1980, a Declaração de Cartagena expandiu o conceito de refugiados para abarcar aqueles que

10
MENEZES, Fabiano L de. O panorama da proteção dos refugiados na América Latina. IN: RAMOS, André
de Carvalho; RODRIGUES, Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR
– Perspectivas de futuro, São Paulo: CL-A Cultural, 2011. p. 93 e 94.
11
Apud CUELLAR, Roberto (1991, p.484).
10

se viam obrigados a se deslocarem de seu país de origem, mas não eram enquadrados na
definição anterior de refugiados. Por fim, a conceituação dada pela Declaração de Cartagena
engloba não só o conceito clássico como também

as pessoas que tenham fugido dos seus países porque a sua vida, segurança ou
liberdade tenham sido ameaçadas pela violência generalizada, a agressão estrangeira,
os conflitos internos, a violação maciça dos direitos humanos ou outras circunstâncias
que tenham perturbado gravemente a ordem pública. 12

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR)
o número de refugiados tendo como origem a América Latina já ultrapassou os 187 mil. 13 Um
dado que nos leva a perceber que não apenas a América Latina recebe muitos refugiados e
asilados, como também origina tais indivíduos enquadrados na devida situação.

O Brasil foi o primeiro Estado da região da América Latina a normatizar a questão


do reassentamento de refugiados através de caráter voluntário e seu possível planejamento.14
Seu objetivo final seria o de proporcionar uma melhor possibilidade de reintegração de forma
menos danosa ao envolvido.

Em análise relatorial, a ACNUR vem notando que a maioria dos refugiados que vai
para os países vizinhos, permanece em sua região de origem.15 Por fim é possível notar que
“movimentos de refugiados são na maior parte assuntos regionais”.16 De tal modo, a Declaração
de Cartagena pode ser observada sobre o prisma de um esforço regional que busca alternativas
para a proteção dos refugiados.

12
ONU, AG. Declaração de Cartagena. Parte III, terceira conclusão.
13
MENEZES, Fabiano L de. O panorama da proteção dos refugiados na América Latina. IN: RAMOS, André
de Carvalho; RODRIGUES, Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR
– Perspectivas de futuro, São Paulo: CL-A Cultural, 2011. p. 95.
14
Lei 9.474/97, artigos 45 e 46.
15
ONU, AG. ACNUR, 2011, p. 11.
16
Apud GIBNEY, 2007, p. 57.
11

No campo do MERCOSUL, em novembro de 2003, durante a XIV Reunião de


Ministro do Interior, em Montevidéu, foi criado o Foro Especializado Migratório do
MERCOSUL e Estados Associados17 com o objetivo de estudar os impactos das migrações
regionais e extrarregionais no tocante ao desenvolvimento dos países do bloco, discussão sobre
propostas e recomendações sobre harmonização de legislação e políticas em matéria migratória.

Algumas legislações no MERCOSUL chamam atenção por suas diferenciações e


privilégios, como a lei argentina para refugiados. Que destinou uma maior atenção para as
mulheres e crianças e, no caso de grandes grupos de refugiados, resolveu abordar o assunto não
de forma individual, mas sim como um grupo em si.

Conforme explicita Fabiano L. Menezes18:

O MERCOSUL pode ser considerado como um local seguro para desenvolver a


integração como proteção dos refugiados, com uma legislação sobre essa temática que
pode ser considerada entre uma das melhores do mundo, destacando-se atualmente a
lei uruguaia e argentina. Do ponto de vista da harmonização jurídica, existem mais
similaridades e inovações do que diferenças e restrições, o que pode facilitar a
implementação desse processo.

Porém, “a Venezuela, como um futuro Estado-Membro do MERCOSUL, apresenta


dificuldades e desafios na proteção dos refugiados”.19 Sendo necessário um maior cuidado para
a conservação da harmonia do bloco para manter sua característica de proteção e não de origem
de refugiados.

O interesse do ACNUR em se instalar no Brasil se deu pela instabilidade política


vivida pela América Latina, que estava envolta em regimes políticos ditatoriais, de violência

17
MENEZES, Fabiano L de. O panorama da proteção dos refugiados na América Latina. IN: RAMOS, André
de Carvalho; RODRIGUES, Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR
– Perspectivas de futuro, São Paulo: CL-A Cultural, 2011. p. 100.
18
Ibidem, p. 108.
19
MENEZES, Fabiano L de, loc. cit.
12

generalizada e de maciça violação dos Direitos Humanos.20 O objetivo principal da instalação


da ACNUR no Brasil foi proporcionar um reassentamento seguro aos refugiados que aqui
buscassem proteção. Deve-se lembrar, porém que mesmo durante tal período conturbado, o
Brasil foi o primeiro país a regulamenta a proteção aos refugiados na América do Sul.

Embora inicialmente só fossem aceitos refugiados de origem européia, com o


advento da Constituição Federal de 1988 e seu teor humanitário em seus artigos quarto e quinto,
tal empecilho foi superado. Sendo que anteriormente, em 1982, o governo brasileiro
reconheceu a ACNUR como órgão da ONU.

Conforme Marcelo Haydu21, “As mudanças contidas na Carta Constitucional no


que respeita aos Direitos Humanos eram um forte indício de que o governo brasileiro estaria
mais aberto para tratar com mais sensibilidade das questões concernentes aos refugiados”.

Em 29 de julho de 1991, o Ministério da Justiça, junto com o Ministério das


Relações Exteriores e o Ministério do Trabalho e Previdência Social, edita a Portaria
Interministerial nº 394, que “põe fim” à ressalva aos artigos 15 e 17 relativos ao direito de
trabalho dos refugiados.22 Esta mesma portaria estabelece procedimento específico para a
concessão de refúgio envolvendo tanto o ACNUR, que se responsabiliza pelo processo de
eleição dos casos individuais, quanto o governo brasileiro, que fica responsável pela decisão
final.23

Como marco final da ampliação de reconhecimento e aceitação do Brasil em relação


ao instituto dos asilados e refugiados, temos a elaboração de um projeto lei sobre o Estatuto

20
Apud BARBOSA & HORA, 2007, p. 38.
21
HAYDU, Marcelo. A integração de refugiados no Brasil. IN: RAMOS, André de Carvalho; RODRIGUES,
Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR – Perspectivas de futuro, São
Paulo: CL-A Cultural, 2011. p. 135.
22
Apud ALMEIDA, 2001, p. 127.
23
Apud JUBILUT, 2007, p. 173.
13

Jurídico do Refugiado. Sendo posteriormente aprovado na Câmara dos Deputados e Senado,


subsequentemente sancionada e promulgada em 22 de julho de 1997 como Lei n° 9.474.

Através da Lei n° 9.474 é responsável pela criação do Comitê Nacional para


Refugiados (CONARE), órgão colegiado com a finalidade de analisar e julgar pedidos de
refúgio.

Além do reassentamento, também temos como solução viável a repatriação


voluntária, sendo esta mais desejada não só pelos refugiados, mais também pelos países que os
acolhem. Através dela, o refugiado é enviado de volta para seu país de origem. Contudo, isso
só deve ocorrer sob a anuência do refugiado, fazendo-se respeitar o caráter voluntário do
repatriamento.24

Marcelo Haydu25 ressalta também:

A repatriação voluntária é incentivada pelos países de acolhimento, que têm por


objetivo transferir a responsabilidade pelos refugiados aos seus países de origem.
Porém, em varias situações, estes não dispõem de condições suficientes para
reintegrar seus nacionais, tendo que contar com ajuda internacional. Além do mais, o
processo de reintegração pode se revelar difícil para os refugiados, pois, se o Estado
encontrar-se numa situação socioeconômica desfavorável, a comunidade local pode
não ser receptiva a essas pessoas que regressam.

Temos também a integração local, que se dá quando o refugiado é reconhecido e


acolhido pelo país de ingresso. Tal solução pode acarretar em alguns contratempos no tocante
à adaptação desse refugiado em novo Estado com uma cultura totalmente divergente da sua de
origem.

24
HAYDU, Marcelo. A integração de refugiados no Brasil. IN: RAMOS, André de Carvalho; RODRIGUES,
Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR – Perspectivas de futuro,
São Paulo: CL-A Cultural, 2011. p. 137.
25
Ibidem, p. 138.
14

Algumas condições podem ser seguidas para que os países acolham refugiados em
seus territórios de maneira funcional e satisfatória, como:

O Estado de acolhimento deve aceitar plenamente e apoiar ativamente os esforços


com vistas a facilitar a integração local dos refugiados; uma segunda condição seria a
aceitação da comunidade local, desses refugiados, como forma de evitar possíveis
animosidades; um terceiro ponto de fundamental importância se da em torno da
questão econômica, ou seja, a integração local tem que ser economicamente viável;
os programas de integração local, sobretudo em sua fase inicial, devem ter a garantia
de financiamento externo suficiente que lhe proporcione êxito; para ser duradoura a
integração local deve ser voluntária; e, por fim, os refugiados devem ser plenamente
integrados na nova sociedade, tendo, inclusive, a possibilidade de adquirir a
nacionalidade do país.26

Desde meados dos anos 2000, o governo brasileiro tem dado atenção não apenas à
proteção de refugiados por meio da determinação do status de refugiado, mas, também, à
integração de refugiados, passando a estabelecer políticas públicas voltadas a essas pessoas.27

O assunto em voga tem chamado a atenção não só de países e órgãos internacionais,


mas também de universidades e instituições de ensino que vêm demonstrando interesse no
campo dos refugiados e asilados como temática para pesquisas de extensão e difusão de ensino.
Abrindo assim um leque extensivo para maior apreciação e discussão do tema, bem como
soluções para problemas enfrentados pelos refugiados cotidianamente.

26
HAYDU, Marcelo. A integração de refugiados no Brasil. IN: RAMOS, André de Carvalho; RODRIGUES,
Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR – Perspectivas de futuro, São
Paulo: CL-A Cultural, 2011. p. 139.
27
Ibidem, p. 140.
15

4. PROBLEMATIZAÇÃO

1) Qual a definição adota pela ONU para refugiados?


Conforme explicitado na lei 9.474/97, bem como na Convenção de 1951, no
Protocolo de 1967 e na Declaração de Cartagena de 1984, refugiado é aquele que fugiu de seu
próprio país para escapar de perseguição, ou por temor a ser perseguida,por motivo de sua raça,
religião, nacionalidade, por formar parte de um gruposocial particular, ou por suas opiniões
políticas. Bem como a grave e generalizada violação de direitos humanos que o obrigou a deixar
seu país de origem, buscando assim refúgio em outro país.

2) Em que aspecto o programa de reassentamento é o mais indicado para aplicação


perante refugiados?
O reassentamento é indicado para aqueles que não se integram ao país de primeira
acolhida, porém não podem retornar a seu país de origem. É feito então uma análise para que o
indivíduo possa ser encaminhado a um país em que se adaptará de forma mais adequada.

3) Quais foram os maiores diferenciais no campo da proteção aos refugiados


proporcionados pela América Latina?
Um dos maiores destaques foi o reassentamento na modalidade voluntária. Bem
como implementações específicas nas leis de cada Estado membro do MERCOSUL, como por
exemplo, o tratamento diferenciado às mulheres e crianças previsto na legislação argentina, ou
o tratamento especial a crianças e adolescentes desacompanhados com trâmite prioritário da lei
uruguaia.

4) Quais as maiores dificuldades enfrentadas por refugiados ao decidirem deixar


seu país de origem em tal condição?
No que tange dificuldades gerais, é notório a dificuldade de adaptação cultural em
um novo país com tradições e costumes diferentes dos do refugiado, bem como a aceitação
deste pela sociedade do país de destinação. No Brasil, ainda enfrentamos problemas estruturais
e financeiros, também há que se admitir a falta de uma qualidade de vida minimamente digna
– com necessidades básicas garantidas – para a grande porção de refugiados que aqui chegam,
como ausência de empregos e saúde de qualidade.
16

5. OBJETIVOS

Os objetivos intrínsecos nessa pesquisa é a de entender de forma satisfatória as


divergências entre Asilo Político e Refúgio Territorial, bem como sua aplicações no campo
prático e seus desenvolvimentos ao longo dos anos em diferentes Estados sobre diferentes
circunstâncias históricas.
17

6. METODOLOGIA

A metodologia abordada nesse trabalho é dogmática-instrumental. Lançando mão


da doutrina, jurisprudência e legislação. Abordou-se uma análise nas Leis vigentes, Declarações
e Convenções acerca da temática discorrida, bem como das obras bibliográficas disponíveis.
Utilizei também de relatórios pertinentes ao assunto publicados pela ONU e seu gabinete
comissariado que trata diretamente do assunto abordado neste trabalho – ACNUR.

A obra central a ser utilizada nesse trabalho foi “60 anos de ACNUR – Perspectivas
de futuro” – um compilado de textos sobre asilo e refúgio após 60 anos da criação do Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, publicado em 2011. Foi feita uma leitura de
alguns capítulos mais marcantes e introdutórios ao assunto.

Buscando sempre um parecer imparcial sobre os movimentos migratórios ocorridos


atualmente – muitas vezes causados por situações de calamidade natural ou conflitos políticos
e sociais. Com a análise de dados fornecidos pela ONU em relação aos refugiados e aos países
que os recebem, bem como as causas que desencadeiam esse movimento.
18

7. REFERÊNCIAS

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2014.

ANNONI, Danielle (organizadora). Os novos conceitos do Direito Internacional. ed. América


Jurídica. 2012.

BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos, Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Campus, 1992.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política.


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Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>

BRASIL. Lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980. Define a situação jurídica do estrangeiro no


Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigração. Brasília, DF. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6815.htm>

BRASIL. Lei n° 9.474, de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a implementação do


Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. Brasília, DF. Disponível
em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9474.htm>

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra:


Almedina. 2008.

CARVALHO, Júlio Marino de. Asilo Político e Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Forense,
2000.

FERNANDES, Carlos A. Do asilo diplomático. Coimbra: Coimbra, 1922.


19

GODINHO, José Magalhães. O Asilo Político e o Direito de Extradição. Lisboa: Ordem dos
Advogados de Lisboa, 1973.

MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. 15. ed. Rio de
Janeiro: Renovar. 2004.

ONU. (1954), Convenção Americana de Direitos Humanos. San José, Costa Rica.

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ONU. (1954), Convenção sobre Asilo Territorial. Caracas.

ONU. (1951), Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados. Genebra.

ONU, AG. RAMOS, André de Carvalho; RODRIGUES, Gilberto e ALMEIDA, Guilherme de


Assis (organizadores). 60 anos de ACNUR – Perspectivas de futuro. São Paulo, 2011.

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REALE, Miguel. Nova Fase do Direito Moderno. 2ª. ed. São Paulo: Saraiva. 1998.

REZEK, Francisco. Direito Internacional Público - Curso Elementar. 15. ed. São Paulo:
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VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

WACHOWICZ, Marcos. O Direito de Asilo como Expressão dos Direito Humanos. Revista da
Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná.

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