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SÉRIE GEOLOGIA E MINERAÇÃO

1
Hidrogeologia

Hidrogeologia do Estado de Goiás


do Estado de Goiás

2006
Serra Geral de Goiás e Morro do Moleque - Sistema Aqüífero Urucuia
Rio da Lapa, entrada da Gruta de Terra Ronca - Sistema Aqüífero Bambuí
Parque Estadual de Terra Ronca - São Domingos, Goiás São Domingos, Goiás.
Hidrogeologia do Estado de Goiás 
 Hidrogeologia do Estado de Goiás
Trabalho laureado com o Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2006
na categoria “Geologia e Minas”

Hidrogeologia do Estado de Goiás 


 Hidrogeologia do Estado de Goiás
HIDROGEOLOGIA DO
ESTADO DE GOIÁS

Goiânia
2006

Hidrogeologia do Estado de Goiás 


do Estado
Hidrogeologia do Estado de
de Goiás
Goiás ee Distrito Federal

GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS

Alcides Rodrigues Filho


Governador

SECRETARIA DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO


Ridoval Darci Chiareloto
Secretário

SUPERINTENDÊNCIA DE GEOLOGIA E MINERAÇÃO


Luiz Fernando Magalhães
Superintendente

GERÊNCIA DE GEOLOGIA

Antônio Passos Rodrigues


Gerente

 Hidrogeologia do Estado de Goiás


GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS
SECRETARIA DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO
SUPERINTENDÊNCIA DE GEOLOGIA E MINERAÇÃO

do Estado
Hidrogeologia do Estado de
de Goiás
Goiás ee Distrito Federal
Série Geologia e Mineração
Número 1

Autores

Leonardo de Almeida
Leonardo Resende
Antônio Passos Rodrigues
José Eloi Guimarães Campos

Goiânia – Goiás
2006

Hidrogeologia do Estado de Goiás 


EQUIPE TÉCNICA
Leonardo de Almeida – Geólogo (Coordenador)
Leonardo Resende – Geólogo
Antônio Passos Rodrigues – Geólogo
José Eloi Guimarães Campos – Geólogo (Consultor)

COLABORADORES
Maria Luiza Osório Moreira – Geóloga
Heitor Faria da Costa – Geólogo
Cláudio Rodrigues da Silva – Geólogo
Levindo Cardoso Medeiros – Tecnólogo em Geoprocessamento
Cristina Maria Pompeo de Camargo e Silva – Bibliotecária
Sílvio Divino Carolina – Químico
Rafael Lisita Júnior – Administrador
Benedito Lopes da Silva – Técnico em Mineração
Juarez Rodrigues dos Santos – Técnico em Mineração
Ivanilson Dantas da Fonseca – Técnico em Mineração
Jeovah Quintino da Silva – Técnico em Mineração
Sérgio Pereira da Silva – Técnico em Mineração
Wilson Roberto dos Santos – Técnico em Mineração
José Leonardo Neves de Souza – Técnico em Mineração
Francisco Fernandes Pereira – Técnico Químico
Sabrina de Morais Guimarães – Tecnóloga em Geoprocessamento

Fotos: Capa: 1 – Precipitação pluvial (chuva), Morrinhos (GO);


2 – Cachoeira no Rio Claro, Itaguaçu (GO);
3 – Ensaio de Permeabilidade in situ, método dos anéis concêntricos.

GOIÁS (Estado). Secretaria de Indústria e Comércio. Superintendência


de Geologia e Mineração.
Hidrogeologia do Estado de Goiás. Por Leonardo de Almeida,
Leonardo Resende, Antônio Passos Rodrigues, José Eloi Guimarães
Campos. Goiânia, 2006.

232 p.: il. (Série Geologia e Mineração, n. 1)

1. Hidrogeologia – Goiás. 2. Gestão dos Recursos Hídricos.


3. Águas Termais. 4. Ensaios de Permeabilidade in situ. I. ALMEIDA,
L. de (Coord.). II. RESENDE, L. III. RODRIGUES, A. P. IV.
CAMPOS, J. E. G. IV. Título.

CDU: 556.3 (817.3)

 Hidrogeologia do Estado de Goiás


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................... 17

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 19


1.1. ÁGUA .............................................................................................................................................................. 19
1.2. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ........................................................................................................................... 20

CAPÍTULO II – GEOLOGIA .................................................................................................................................. 25


2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ......................................................................................................................... 25
2.2. TERRENOS GRANITO-GREENSTONE (Arqueano) .................................................................................... 26
2.3. TERRENOS CRISTALINOS (Paleo/Neoproterozóico) ................................................................................. 27
2.4. COMPLEXOS MÁFICO-ULTRAMÁFICOS DIFERENCIADOS (Paleo/Neoproterozóico) ....................... 28
2.5. SEQÜÊNCIAS VULCANOSSEDIMENTARES (Paleo/Neoproterozóico) ................................................... 29
2.5.1. Seqüências Paleoproterozóicas ................................................................................................................ 29
2.5.2. Seqüências Mesoproterozóicas ................................................................................................................ 29
2.5.3. Seqüências Neoproterozóicas .................................................................................................................. 30
2.6. GRUPO ARAÍ (Paleo/Mesoproterozóico) ...................................................................................................... 30
2.7. GRUPO SERRA DA MESA/GRUPO SERRA DOURADA (Paleo/Mesoproterozóico) ............................... 31
2.8. GRUPO CANASTRA (Meso/Neoproterozóico) ............................................................................................. 32
2.9. GRUPO PARANOÁ (Meso/Neoproterozóico) ............................................................................................... 33
2.10. GRUPO ARAXÁ (Neoproterozóico) ............................................................................................................ 35
2.11. GRUPO BAMBUÍ (Neoproterozóico) .......................................................................................................... 35
2.12. GRUPO IBIÁ (Neoproterozóico) .................................................................................................................. 36
2.13. GRANITOS ................................................................................................................................................... 38
2.14. BACIA DO PARANÁ ................................................................................................................................... 38
2.15. BACIA SANFRANCISCANA ...................................................................................................................... 41
2.16. ROCHAS ALCALINAS ............................................................................................................................... 43
2.17. COBERTURAS CENOZÓICAS ................................................................................................................... 44

CAPÍTULO III – GEOMORFOLOGIA ................................................................................................................. 47


3.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 47
3.2. METODOLOGIA E BASES CONCEITUAIS ............................................................................................... 47
3.3. SISTEMAS DENUDACIONAIS .................................................................................................................... 48
3.3.1. Superfícies Regionais de Aplainamento – SRA ...................................................................................... 48
3.3.2. Zonas de Erosão Recuante – ZER ........................................................................................................... 53
3.3.3. Morros e Colinas – MC ........................................................................................................................... 55
3.3.4. Estruturas Dobradas – ED ........................................................................................................................ 55
3.3.5. Estruturas de Blocos Falhados – EF ........................................................................................................ 56
3.3.6. Sistemas Cársticos ................................................................................................................................... 56
3.4. SISTEMAS AGRADACIONAIS .................................................................................................................... 57
3.4.1. Sistemas Lacustres ................................................................................................................................... 58
3.4.2. Sistemas Fluviais ..................................................................................................................................... 58
3.5. CONCLUSÕES ............................................................................................................................................... 59

CAPÍTULO IV – CLIMA ......................................................................................................................................... 61


4.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 61
4.2. ELEMENTOS CLIMÁTICOS ........................................................................................................................ 61
4.2.1. Precipitação .............................................................................................................................................. 61
4.2.2. Temperaturas Máxima e Mínima do Ar .................................................................................................. 68
4.2.3. Evaporação de Água para a Atmosfera .................................................................................................... 74
4.2.4. Umidade Relativa do Ar .......................................................................................................................... 77
4.2.5. Insolação .................................................................................................................................................. 80
4.3. EXCEDENTE E/OU DÉFICIT HÍDRICO ..................................................................................................... 83
4.4. CONSIDERAÇÕES GERAIS ......................................................................................................................... 86

CAPÍTULO V – SOLOS ........................................................................................................................................... 87


5.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 87
5.2. LATOSSOLOS ................................................................................................................................................ 88
5.2.1. Latossolos Vermelhos 1 ........................................................................................................................... 89
5.2.2. Latossolos Vermelhos 2 ........................................................................................................................... 90
5.2.3. Latossolos Vermelho-Amarelos .............................................................................................................. 90
5.3. CAMBISSOLOS ............................................................................................................................................. 91
5.4. ASSOCIAÇÃO ARGISSOLOS/NITOSSOLOS ............................................................................................. 92
5.5. NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS ............................................................................................................. 94
5.6. PLINTOSSOLOS ............................................................................................................................................ 95

Hidrogeologia do Estado de Goiás 


5.7. NEOSSOLOS LITÓLICOS ............................................................................................................................. 96
5.8. ASSOCIAÇÃO GLEISSOLOS/NEOSSOLOS FLÚVICOS .......................................................................... 97

CAPÍTULO VI – ANÁLISE DE LINEAMENTOS ............................................................................................... 99


6.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 99
6.2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................................................... 102
6.3. AVALIAÇÃO DOS LINEAMENTOS ........................................................................................................... 103
6.3.1. Norte da Sintaxe dos Pirineus ................................................................................................................. 104
6.3.2. Sul da Sintaxe dos Pirineus ...................................................................................................................... 106
6.3.3. Região dos Arcos de Ilha do Oeste do Estado ......................................................................................... 107
6.3.4. Bacia do São Francisco ............................................................................................................................ 108
6.3.5. Bacia do Paraná ....................................................................................................................................... 110
6.3.6. Bacia do Araguaia .................................................................................................................................... 110
6.3.7. Avaliação Integrada ................................................................................................................................. 112
6.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................... 114

CAPÍTULO VII – USO E COBERTURA VEGETAL .......................................................................................... 115


7.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 115
7.2. CLASSES DE USO ......................................................................................................................................... 115
7.2.1. Agricultura ............................................................................................................................................... 115
7.2.2. Água ......................................................................................................................................................... 116
7.2.3. Área Urbana ............................................................................................................................................. 116
7.2.4. Cerrado e Floresta .................................................................................................................................... 117
7.2.5. Pastagem .................................................................................................................................................. 117
7.2.6. Solo Exposto (Exceto Agricultura) .......................................................................................................... 118
7.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................... 118

CAPÍTULO VIII – HIDROGRAFIA ...................................................................................................................... 121


8.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 121
8.2. REGIÃO HIDROGRÁFICA TOCANTINS/ARAGUAIA ............................................................................. 121
8.2.1. Rio Araguaia ............................................................................................................................................ 122
8.2.2. Rio Tocantins ........................................................................................................................................... 122
8.3. REGIÃO HIDROGRÁFICA DO SÃO FRANCISCO .................................................................................... 123
8.4. REGIÃO HIDROGRÁFICA DO PARANÁ ................................................................................................... 123
8.5. MASSAS D’ÁGUA ......................................................................................................................................... 124
8.5.1. Região Hidrográfica do Paraná ................................................................................................................ 124
8.5.2. Região Hidrográfica Tocantins/Araguaia ................................................................................................ 126
8.5.3. Região Hidrográfica do São Francisco .................................................................................................... 127
8.5.4. Lagoas Naturais ....................................................................................................................................... 127

CAPÍTULO IX – ENSAIOS DE PERMEABILIDADE ......................................................................................... 129


9.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 129
9.2. MÉTODO DOS ANÉIS CONCÊNTRICOS ................................................................................................... 130
9.3. MÉTODO OPEN END HOLE ........................................................................................................................ 131
9.4. AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS .............................................................................................................. 132
9.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................... 134

CAPÍTULO X – SISTEMAS AQÜÍFEROS ........................................................................................................... 137


10.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 137
10.2. CARACTERIZAÇÃO DOS AQÜÍFEROS .................................................................................................. 137
10.2.1. Sistemas Aqüíferos Freáticos ................................................................................................................ 138
10.2.1.1. Sistema Aqüífero Freático I – F1 ................................................................................................. 140
10.2.1.2. Sistema Aqüífero Freático II – F2 ................................................................................................ 141
10.2.1.3. Sistema Aqüífero Freático III – F3 .............................................................................................. 141
10.2.2. Sistemas Aqüíferos Profundos ............................................................................................................... 142
10.2.3. Caracterização dos Aqüíferos Profundos ............................................................................................... 146
10.2.3.1. Sistema Aqüífero Cristalino Oeste (SACW) ................................................................................ 146
10.2.3.2. Sistema Aqüífero Cristalino Noroeste (SACNW) ........................................................................ 146
10.2.3.3. Sistema Aqüífero Cristalino Nordeste (SACNE) ......................................................................... 147
10.2.3.4. Sistema Aqüífero Cristalino Sudeste (SACSE) ............................................................................ 147
10.2.3.5. Sistema Aqüífero Greenstone Belts (SAGB) ................................................................................ 148
10.2.3.6. Sistema Aqüífero Complexos Acamadados (SACA) .................................................................... 148
10.2.3.7. Sistema Aqüífero Araí (SAAR) ..................................................................................................... 149
10.2.3.8. Sistema Aqüífero Canastra (SAC) ............................................................................................... 150
10.2.3.9. Sistema Aqüífero Araxá (SAAX) .................................................................................................. 151
10.2.3.10. Sistema Aqüífero Serra da Mesa (SASM) .................................................................................. 152

10 Hidrogeologia do Estado de Goiás


10.2.3.11. Sistema Aqüífero Paranoá (SAP) .............................................................................................. 152
10.2.3.12. Sistema Aqüífero Bambuí (SAB) ................................................................................................ 155
10.2.3.13. Sistema Aqüífero Furnas (SAF) ................................................................................................. 157
10.2.3.14. Sistema Aqüífero Ponta Grossa (SACW) ................................................................................... 158
10.2.3.15. Sistema Aqüífero Aquidauna (SAAQ) ........................................................................................ 158
10.2.3.16. Sistema Aqüífero Guarani (SAG) .............................................................................................. 159
10.2.3.17. Sistema Aqüífero Serra Geral (SASG) ....................................................................................... 161
10.2.3.18. Sistema Aqüífero Bauru (SABAU) ............................................................................................. 161
10.2.3.19. Sistema Aqüífero Cachoeirinha (SACH) ................................................................................... 162
10.2.3.20. Sistema Aqüífero Urucuia (SAU) ............................................................................................... 163
10.2.3.21. Sistema Aqüífero Araguaia (SAAG) .......................................................................................... 164
10.2.3.22. Sistema Aqüífero Ouvidor-Catalão (SAOC) .............................................................................. 165
10.2.3.23. Aqüíferos Isolados ..................................................................................................................... 166
10.3. MAPA HIDROGEOLÓGICO ....................................................................................................................... 166
10.4. ESTIMATIVA DE RESERVAS ................................................................................................................... 167
10.4.1. Aqüíferos Intergranulares ...................................................................................................................... 168
10.4.2. Aqüíferos Fraturados, Cársticos e Físsuro-Cársticos ............................................................................. 168
10.4.3. Reservas Explotáveis ............................................................................................................................. 170
10.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................ 173

CAPÍTULO XI – CARACTERIZAÇÃO HIDROQUÍMICA ............................................................................... 175


11.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 175
11.2. METODOLOGIA ANALÍTICA .................................................................................................................. 175
11.3. RESULTADOS ............................................................................................................................................. 176
11.4. FÁCIES HIDROGEOQUÍMICAS ............................................................................................................... 178
11.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................ 185

CAPÍTULO XII – ÁGUAS TERMAIS E SULFUROSAS .................................................................................... 187


12.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 187
12.2. ÁGUAS TERMAIS ...................................................................................................................................... 187
12.2.1. Região de Caldas Novas/Rio Quente .................................................................................................... 189
12.2.2. Região de Lagoa Santa .......................................................................................................................... 191
12.2.3. Região de Cachoeira Dourada ............................................................................................................... 192
12.2.4. Região de Aragarças ............................................................................................................................. 193
12.2.5. Região de Minaçu ................................................................................................................................. 193
12.2.6. Região de Jataí ...................................................................................................................................... 195
12.2.7. Região da Chapada dos Veadeiros ........................................................................................................ 195
12.2.8. Região de Mara Rosa ............................................................................................................................ 197
12.3. HIDROQUÍMICA DAS ÁGUAS TERMAIS ............................................................................................... 197
12.4. ÁGUAS SULFUROSAS .............................................................................................................................. 198
12.4.1. Águas de São João ................................................................................................................................ 198
12.4.2. Montes Claros de Goiás ........................................................................................................................ 199
12.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................ 199

CAPÍTULO XIII – GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS ............................................ 203


13.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 203
13.2. PROPOSTAS DE PRÁTICAS PARA A GESTÃO ...................................................................................... 203
13.2.1. Construção Adequada dos Sistemas de Captação .................................................................................. 204
13.2.2. Recarga Artificial de Aqüíferos ............................................................................................................. 205
13.2.3. Recuperação de Áreas Degradadas ........................................................................................................ 208
13.2.4. Investimento em Saneamento Ambiental .............................................................................................. 208
13.2.5. Educação Ambiental .............................................................................................................................. 209
13.2.6. Construção de Barragens Subterrâneas .................................................................................................. 210
13.2.7. Mapeamento da Vulnerabilidade e Risco de Contaminação ................................................................. 210
13.2.8. Refinamento das Estimativas de Reservas Hídricas .............................................................................. 212
13.2.9. Implantação de Sistemas de Outorga e Cobrança .................................................................................. 212
13.2.10. Integração das Instituições Gestoras .................................................................................................... 213

CAPÍTULO XIV – CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 215

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................................... 219

Hidrogeologia do Estado de Goiás 11


LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Distribuição das águas no Planeta Terra ................................................................................................ 20


Figura 1.2 – Distribuição das águas doces no planeta ................................................................................................ 20
Figura 1.3 – Representação esquemática do ciclo hidrológico ................................................................................... 20
Figura 1.4 – Províncias Hidrogeológicas do Brasil .................................................................................................... 22
Figura 2.1 – Síntese da estratigrafia dos terrenos greenstone belts do estado de Goiás ............................................. 27
Figura 2.2 – Correlações estratigráficas entre os complexos acamadados da porção central de Goiás ..................... 29
Figura 2.3 – Correlações estratigráficas propostas por diversos autores para o Grupo Araí. As várias proposições
representam colunas-tipo construídas em diferentes regiões do norte do estado de Goiás ......................................... 31
Figura 2.4 – Estratigrafia do Grupo Canastra, conforme Freitas-Silva & Dardenne (1994) ...................................... 33
Figura 2.5 – Estratigrafia do Grupo Paranoá na área-tipo de Alto Paraíso de Goiás - São João D’Aliança .............. 34
Figura 2.6 – Estratigrafia do Grupo Bambuí, segundo Dardenne (1978a) ................................................................. 37
Figura 2.7 – Estratigrafia do Grupo Ibiá, conforme Pereira (1992) e Pereira et al. (1994) ........................................ 37
Figura 2.8 – Carta estratigráfica da Bacia do Paraná no estado de Goiás .................................................................. 39
Figura 2.9 – Carta estratigráfica da Bacia Sanfranciscana ......................................................................................... 43
Figura 3.1 – SRA-IVA, representada localmente pelo Vão do Rio Claro (em primeiro plano) em transição
abrupta para a SRA IA, representada pela Chapada dos Veadeiros (em segundo plano) ........................................... 49
Figura 3.2 – Aspecto geomorfológico regional, na região de São Domingos (GO), mostrando, em primeiro plano,
a ZER, que erode, com forte dissecação, a SRA-IIA (localmente, representada pela Serra Geral de Goiás, em
segundo plano) e forma a SRA-IVA, representada, localmente, pelo Vão do Paranã ................................................ 50
Figura 3.3 – Vista geral da SRA-IIIA, localmente representada na região de Goiânia ............................................. 51
Figura 3.4 – Vista panorâmica do Vão do Paranã (SRA-IVA). Foto tirada a partir da rampa de salto de vôo livre,
próximo ao Distrito de São Gabriel, localmente representando a SRA-IIA. Observa-se a ZER na transição entre as
duas superfícies ............................................................................................................................................................ 52
Figura 3.5 – Região de Monte Alegre de Goiás, Vista geral da SRA-IVA (em primeiro plano), com feições de
Morros e Colinas ao fundo .......................................................................................................................................... 55
Figura 3.6 – Vista geral de geoformas de Hogback, na região de Nova Roma ......................................................... 56
Figura 3.7 – Sistema Cárstico bem representado no Parque Estadual de Terra Ronca. Vista da entrada da Gruta
de Terra Ronca, São Domingos (GO) .......................................................................................................................... 57
Figura 3.8 – Sistema Cárstico representado por morros de calcário na região de Cabeceiras (GO) .......................... 57
Figura 3.9 – Planície Fluvial do Rio Araguaia na região de Luiz Alves, noroeste de Goiás. Geoforma
representativa de Planície Fluvial de Espiras de Meandro .......................................................................................... 58
Figura 4.1 - Precipitação pluvial – janeiro ................................................................................................................. 62
Figura 4.2 - Precipitação pluvial – fevereiro .............................................................................................................. 62
Figura 4.3 - Precipitação pluvial – março .................................................................................................................. 63
Figura 4.4 - Precipitação pluvial – abril ..................................................................................................................... 63
Figura 4.5 - Precipitação pluvial – maio .................................................................................................................... 63
Figura 4.6 - Precipitação pluvial – junho ................................................................................................................... 63
Figura 4.7 - Precipitação pluvial – julho .................................................................................................................... 63
Figura 4.8 - Precipitação pluvial – agosto .................................................................................................................. 63
Figura 4.9 - Precipitação pluvial – setembro ............................................................................................................. 64
Figura 4.10 - Precipitação pluvial – outubro .............................................................................................................. 64
Figura 4.11 - Precipitação pluvial – novembro .......................................................................................................... 64
Figura 4.12 - Precipitação pluvial – dezembro .......................................................................................................... 64
Figura 4.13 - Precipitação pluvial - período chuvoso (outubro a abril) ..................................................................... 64
Figura 4.14 - Precipitação pluvial - período seco (maio a setembro) ........................................................................ 64
Figura 4.15 - Precipitação pluvial - média anual ....................................................................................................... 65
Figura 4.16 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Jataí (Período 1986/2002) ........................ 65
Figura 4.17 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Jandaia (Período 1976/2002) .................... 65
Figura 4.18 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Cristalina (Período 1978/2001) ................ 66
Figura 4.19 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Planaltina de GO (Período 1976/2001)..... 66
Figura 4.20 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Estrela do Norte (Período 1976/2002)..... 66
Figura 4.21 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação São Miguel do Araguaia (Período
1975/2001) .................................................................................................................................................................. 67
Figura 4.22 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Nova Roma (Período 1975/2001) ............ 67
Figura 4.23 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação São Domingos (Período 1975/2001) ........ 67
Figura 4.24 - Temperatura máxima do ar – janeiro ................................................................................................... 68
Figura 4.25 - Temperatura máxima do ar – fevereiro ................................................................................................ 68
Figura 4.26 - Temperatura máxima do ar – março .................................................................................................... 69
Figura 4.27 - Temperatura máxima do ar – abril ....................................................................................................... 69
Figura 4.28 - Temperatura máxima do ar – maio ...................................................................................................... 69
Figura 4.29 - Temperatura máxima do ar – junho ..................................................................................................... 69
Figura 4.30 - Temperatura máxima do ar – julho ...................................................................................................... 69

12 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.31 - Temperatura máxima do ar – agosto .................................................................................................... 69
Figura 4.32 - Temperatura máxima do ar – setembro ................................................................................................ 70
Figura 4.33 - Temperatura máxima do ar – outubro .................................................................................................. 70
Figura 4.34 - Temperatura máxima do ar – novembro .............................................................................................. 70
Figura 4.35 - Temperatura máxima do ar – dezembro ............................................................................................... 70
Figura 4.36 - Temperatura máxima do ar – períodochuvoso (outubro a abril) ......................................................... 70
Figura 4.37 - Temperatura máxima do ar – períodoseco (maio a setembro) ............................................................. 70
Figura 4.38 - Temperatura máxima do ar – médiaanual ............................................................................................ 71
Figura 4.39 - Temperatura mínima do ar – janeiro .................................................................................................... 71
Figura 4.40 - Temperatura mínima do ar – fevereiro ................................................................................................. 71
Figura 4.41 - Temperatura mínima do ar – março ..................................................................................................... 71
Figura 4.42 - Temperatura mínima do ar – abril ........................................................................................................ 71
Figura 4.43 - Temperatura mínima do ar – maio ....................................................................................................... 72
Figura 4.44 - Temperatura mínima do ar – junho ...................................................................................................... 72
Figura 4.45 - Temperatura mínima do ar – julho ....................................................................................................... 72
Figura 4.46 - Temperatura mínima do ar – agosto ..................................................................................................... 72
Figura 4.47 - Temperatura mínima do ar – setembro ................................................................................................ 72
Figura 4.48 - Temperatura mínima do ar – outubro ................................................................................................... 72
Figura 4.49 - Temperatura mínima do ar – novembro ............................................................................................... 73
Figura 4.50 - Temperatura mínima do ar – dezembro ............................................................................................... 73
Figura 4.51 - Temperatura mínima do ar – médiaanual ............................................................................................ 73
Figura 4.52 - Temperatura mínima do ar – períodochuvoso (outubro a abril) .......................................................... 73
Figura 4.53 - Temperatura mínima do ar – períodoseco (maio a setembro) ............................................................. 73
Figura 4.54 - Evaporação – janeiro ............................................................................................................................ 74
Figura 4.55 - Evaporação – fevereiro ......................................................................................................................... 74
Figura 4.56 - Evaporação – março ............................................................................................................................. 74
Figura 4.57 - Evaporação – abril ................................................................................................................................ 75
Figura 4.58 - Evaporação – maio ............................................................................................................................... 75
Figura 4.59 - Evaporação – junho .............................................................................................................................. 75
Figura 4.60 - Evaporação – julho ............................................................................................................................... 75
Figura 4.61 - Evaporação – agosto ............................................................................................................................. 75
Figura 4.62 - Evaporação – setembro ........................................................................................................................ 76
Figura 4.63 - Evaporação – outubro ........................................................................................................................... 76
Figura 4.64 - Evaporação – novembro ....................................................................................................................... 76
Figura 4.65 - Evaporação – dezembro ....................................................................................................................... 76
Figura 4.66 - Evaporação – período chuvoso (outubro a abril) ................................................................................. 76
Figura 4.67 - Evaporação – período seco (maio a setembro) ..................................................................................... 76
Figura 4.68 - Evaporação – média anual .................................................................................................................... 77
Figura 4.69 - Umidade relativa do ar – janeiro .......................................................................................................... 77
Figura 4.70 - Umidade relativa do ar – fevereiro ....................................................................................................... 77
Figura 4.71 - Umidade relativa do ar – março ........................................................................................................... 78
Figura 4.72 - Umidade relativa do ar – abril .............................................................................................................. 78
Figura 4.73 - Umidade relativa do ar – maio ............................................................................................................. 78
Figura 4.74 - Umidade relativa do ar – junho ............................................................................................................ 78
Figura 4.75 - Umidade relativa do ar – julho ............................................................................................................. 78
Figura 4.76 - Umidade relativa do ar – agosto ........................................................................................................... 78
Figura 4.77 - Umidade relativa do ar – setembro ...................................................................................................... 79
Figura 4.78 - Umidade relativa do ar – outubro ......................................................................................................... 79
Figura 4.79 - Umidade relativa do ar – novembro ..................................................................................................... 79
Figura 4.80 - Umidade relativa do ar – dezembro ..................................................................................................... 79
Figura 4.81 - Umidade relativa do ar – período chuvoso (outubro a abril) ............................................................... 79
Figura 4.82 - Umidade relativa do ar – período seco (maio a setembro) ................................................................... 79
Figura 4.83 - Umidade relativa do ar – média anual .................................................................................................. 80
Figura 4.84 - Insolação – janeiro ............................................................................................................................... 81
Figura 4.85 - Insolação – fevereiro ............................................................................................................................ 81
Figura 4.86 - Insolação – março ................................................................................................................................. 81
Figura 4.87 - Insolação – abril ................................................................................................................................... 81
Figura 4.88 - Insolação – maio ................................................................................................................................... 81
Figura 4.89 - Insolação – junho ................................................................................................................................. 81
Figura 4.90 - Insolação – julho .................................................................................................................................. 82
Figura 4.91 - Insolação – agosto ................................................................................................................................ 82
Figura 4.92 - Insolação – setembro ............................................................................................................................ 82
Figura 4.93 - Insolação – outubro .............................................................................................................................. 82
Figura 4.94 - Insolação – novembro .......................................................................................................................... 82
Figura 4.95 - Insolação – dezembro ........................................................................................................................... 82

Hidrogeologia do Estado de Goiás 13


Figura 4.96 - Insolação – período chuvoso (out. a abril) ........................................................................................... 83
Figura 4.97 - Insolação – período seco (maio a set.) ................................................................................................. 83
Figura 4.98 - Insolação – total anual .......................................................................................................................... 83
Figura 4.99 - Excedente hídrico – janeiro .................................................................................................................. 84
Figura 4.100 - Excedente hídrico – fevereiro ............................................................................................................ 84
Figura 4.101 - Excedente hídrico – março ................................................................................................................. 84
Figura 4.102 - Excedente e déficit hídrico – abril ...................................................................................................... 84
Figura 4.103 - Déficit hídrico – maio ........................................................................................................................ 84
Figura 4.104 - Déficit hídrico – junho ....................................................................................................................... 84
Figura 4.105 - Déficit hídrico – julho ........................................................................................................................ 85
Figura 4.106 - Déficit hídrico – agosto ...................................................................................................................... 85
Figura 4.107 - Déficit hídrico – setembro .................................................................................................................. 85
Figura 4.108 - Déficit hídrico – outubro .................................................................................................................... 85
Figura 4.109 - Excedente hídrico – novembro ........................................................................................................... 85
Figura 4.110 - Excedente hídrico – dezembro ........................................................................................................... 85
Figura 5.1 – Latossolo Vermelho 1, exibindo horizonte A moderado, ABw1 de 30 cm de espessura e perfil de
230 cm. Desenvolvido sobre filitos do Grupo Canastra, na região de Planaltina, DF................................................. 91
Figura 5.2 – Porção superior de Latossolo Vermelho 2 com ampla homogeneidade vertical e com textura granular
constante em todo o perfil exposto .............................................................................................................................. 91
Figura 5.3 – Porção superior de Latossolo Vermelho-Amarelo desenvolvido em metarritmito arenoso do Grupo
Paranoá (Planaltina de Goiás). Perfil de 180 cm ......................................................................................................... 91
Figura 5.4 – Perfil de Cambissolo (80 cm) sobre xistos do Grupo Araxá, na região de Luziânia. Notar a ampla
pedregosidade, principalmente na seção superior do perfil ......................................................................................... 92
Figuras 5.5 a) Perfil de Argissolo Vermelho com Horizonte A proeminente e horizonte Bt com mais de 200% de
fração argilosa comparada ao horizonte superficial. Notar o bloco de rocha ultrabásica na porção inferior do
b perfil. Seção vertical exposta de 190 cm. b) Detalhe do mesmo perfil mostrando a estruturação granular grossa e o
contato entre os horizontes A e AB (Niquelândia) ...................................................................................................... 93
Figura 5.6 – Perfil de Nitossolo eutrófico desenvolvido sobre rochas metabásicas associadas aos terrenos granito-
greenstone. Forte estruturação granular grossa, distinção evidente entre horizontes e rochosidade na base da seção
são as feições mais diagnósticas. A análise granulométrica não indica relação textural entre os horizontes A e Bn
(Colinas do Sul) ........................................................................................................................................................... 94
Figura 5.7 – Perfil de Nitossolo (220 cm) com delimitação dos horizontes A, AB e Bn (região de Jataí) ................ 94
Figura 5.8 – Perfil de Neossolo Quartzarênico (250 cm) típico da região marginal do Grupo Urucuia, na divisa
entre os estados de Goiás e Bahia ................................................................................................................................ 95
Figura 5.9 – Horizonte petroplíntico parcialmente degradado sob horizonte superficial areno-argiloso .................. 96
Figura 5.10 – Neossolo Litólico associado a exposições rochosas com ampla pedregosidade e rochosidade típicas
desse tipo de cobertura jovem e pouco desenvolvida (Monte Alegre de GO) ............................................................ 97
Figura 5.11 – Seção de Neossolo Flúvico decapeado. Observar a falta de pedogênese nos clastos de quartzito e
apenas oxidação e transformação da matriz areno-argilosa ......................................................................................... 98
Figura 5.12 – Topo de seção de Gleissolo Húmico com horizonte superficial rico em matéria orgânica e
horizonte B glei na base (perfil de 45 cm). Próximo à base da escala já se inicia o nível de saturação,
evidenciando a deficiência de drenagem desta classe de solo (Distrito Federal) ........................................................ 98
Figura 6.1 - Elementos do aqüífero fraturado ............................................................................................................. 100
Figura 6.2 – Identificação dos elementos de relevo e lineamentos ............................................................................ 102
Figura 6.3 – Compartimentação tectônica utilizada para se proceder aos estudos da análise de lineamentos .......... 104
Figura 6.4 – Rosetas de lineamentos curtos, médios, longos e totais para o compartimento Norte da Sintaxe dos
Pirineus ........................................................................................................................................................................ 105
Figura 6.5 – Rosetas de lineamentos curtos, médios, longos e totais para o compartimento Sul da Sintaxe dos
Pirineus ........................................................................................................................................................................ 107
Figura 6.6 – Padrão de distribuição de rosetas de lineamentos verticais do compartimento Arcos de Ilha do Oeste
de Goiás ....................................................................................................................................................................... 109
Figura 6.7 – Padrão de distribuição de rosetas de lineamentos verticais do compartimento Bacia do São Francisco
...................................................................................................................................................................................... 109
Figura 6.8 – Distribuição estatística dos lineamentos estruturais no compartimento Bacia do Paraná ..................... 111
Figura 6.9 – Padrão de lineamentos do compartimento Bacia do Araguaia .............................................................. 111
Figura 6.10 – Rosetas totais dos lineamentos do estado de Goiás ............................................................................. 113
Figura 7.1 – Extensa área de lavoura de soja observada na região sudoeste de Goiás, município de Jataí ............... 116
Figura 7.2 – Cultura de girassol na região de Chapadão do Céu ............................................................................... 116
Figura 7.3 – Lago de Serra da Mesa, maior represa em volume d’água do Brasil. Barramento construído no curso
do Rio Tocantins, região norte de Goiás ...................................................................................................................... 116
Figura 7.4 – Vista panorâmica da cidade de Goiânia ................................................................................................ 117
Figura 7.5 – Lixão da cidade de Mineiros, construído sobre os arenitos do Sistema Aqüífero Guarani – SAG ....... 117
Figura 7.6 – Vista geral de área de cerrado antropizado e transformado em pastagem (em primeiro plano) e de
cerrado preservado em segundo plano, na região de Morrinhos ................................................................................. 118
Figura 7.7 – Vista panorâmica de cava de mineração de amianto em Minaçu – GO ................................................ 118

14 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 8.1 – Distribuição das Regiões Hidrográficas em Goiás e Distrito Federal ................................................... 121
Figura 8.2 – Localização dos principais represamentos em Goiás e Distrito Federal ............................................... 125
Figura 9.1 – Localização dos ensaios de Permeabilidade realizados no estado de Goiás e Distrito Federal ............ 129
Figura 9.2 – A: Representação esquemática do método dos anéis concêntricos para ensaios de infiltração. B:
Execução do ensaio em campo ................................................................................................................................... 130
Figura 9.3 – A: Representação esquemática do método open end hole para ensaios de infiltração. B: Execução do
ensaio em campo .......................................................................................................................................................... 131
Figura 10.1 – Distribuição dos Sistemas Aqüíferos Freáticos em Goiás ................................................................... 139
Figura 10.2 – Ampla exposição de areias inconsolidadas, compondo a zona não saturada de um exemplo típico
do Sistema Aqüífero Freático I .................................................................................................................................... 140
Figura 10.3 – Distribuição dos Domínios Aqüíferos Profundos em Goiás ................................................................ 143
Figura 10.4 – Exemplo de sistema aqüífero intergranular desenvolvido sobre arenitos eólicos da Formação Posse
(Grupo Urucuia) ........................................................................................................................................................... 144
Figura 10.5 – Xistos do Grupo Araxá mostrando amplos planos de fraturas verticalizados que resultam na
porosidade secundária planar e representam os reservatórios em rochas metamórficas e magmáticas ...................... 144
Figura 10.6 – Arenito calcífero do Grupo Aquidauana, mostrando denso padrão de fraturas e porosidade
intergranular primária e secundária por dissolução ..................................................................................................... 144
Figura 10.7 – Lente de calcário estratificado do Grupo Bambuí, com fenda de dissolução de cerca de 50 cm de
abertura, observada nos sistemas físsuro-cársticos ...................................................................................................... 144
Figura 11.1 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas oriundas dos sistemas
fraturados dos seguintes aqüíferos: SACW, SACNW, SACNE, e SACSE ................................................................ 180
Figura 11.2 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas oriundas dos sistemas
fraturados dos seguintes aqüíferos: SAOC, SAAR, SASM, SAGB e SACA ............................................................. 181
Figura 11.3 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas oriundas dos sistemas
fraturados e físsuro-cársticos dos sistemas aqüíferos Bambuí, Paranoá, Canastra e Araxá ........................................ 182
Figura 11.4 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas oriundas dos sistemas
aqüíferos relacionados à Bacia do Paraná .................................................................................................................... 183
Figura 11.5 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas obtidas de nascentes de
vazão espontânea ......................................................................................................................................................... 184
Figura 12.1 – Mapa de localização das águas termais e sulfurosas no estado de Goiás ............................................ 188
Figura 12.2 – Vista geral da região de Caldas Novas ................................................................................................. 190
Figura 12.3 – Modelo de fluxo regional para os aqüíferos termais da região da Serra de Caldas ............................. 190
Figura 12.4 – Modelo de fluxo proposto para o aqüífero termal da região de Lagoa Santa (GO) ............................. 192
Figura 12.5 – Vista geral da região da Serra Dourada, entre os municípios de Montividiu do Norte, Formoso e
Minaçu ......................................................................................................................................................................... 194
Figura 12.6 – Modelo de fluxo regional proposto para os aqüíferos termais vizinhos a Serra Dourada, na região
de Minaçu .................................................................................................................................................................... 194
Figura 12.7 – Modelo de fluxo proposto para a região de Jataí (GO) ........................................................................ 195
Figura 12.8 – Vista geral da Região da Chapada dos Veadeiros, entre os municípios de Colinas do Sul e
Cavalcante .................................................................................................................................................................... 196
Figura 12.9 – Surgência de água termal (37°C) na Fazenda Caldas, município de Cavalcante ................................. 196
Figura 13.1 – Representação esquemática da caixa de recarga padrão ...................................................................... 207

Hidrogeologia do Estado de Goiás 15


LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Características gerais das Superfícies Regionais de Aplainamento ....................................................... 54


Tabela 5.1 – Correspondência entre as denominações antiga e nova, dos tipos de coberturas de solos presentes no
estado de Goiás e Distrito Federal ............................................................................................................................... 88
Tabela 6.1 – Síntese das informações dos lineamentos em cada compartimento geotectônico ................................. 104
Tabela 9.1 – Classificação de magnitudes da condutividade hidráulica ..................................................................... 132
Tabela 9.2 – Distribuição estatística dos resultados dos ensaios de infiltração in situ nas diferentes classes de
solos em superfície e em profundidade......................................................................................................................... 135
Tabela 10.1 – Proposta de classificação dos aqüíferos subterrâneos do estado de Goiás .......................................... 138
Tabela 10.2 – Valores máximos e mínimos de K v em superfície e em profundidade dos vários grupos de solos .... 140
Tabela 10.3 – Síntese dos dados do cadastro geral de pontos d’água (poços tubulares profundos em Goiás) .......... 145
Tabela 10.4 – Vazão dos poços que interceptam o Sistema Aqüífero Bauru e o Sistema Aqüífero Serra Geral ....... 162
Tabela 10.5 – Parâmetros para o cálculo das reservas hídricas permanentes nos diversos sistemas aqüíferos do
estado de Goiás ............................................................................................................................................................ 169
Tabela 10.6 - Estimativa das reservas de águas subterrâneas do estado de Goiás ...................................................... 173
Tabela 12.1 - Resultados das análises químicas das águas termais do Estado de Goiás ............................................ 201

16 Hidrogeologia do Estado de Goiás


APRESENTAÇÃO

Ao admitirmos a água como um componente da natureza e parte constituinte do planeta terra, a


definimos como um elemento geológico, portanto, objeto de estudo, pesquisa e avaliação da geologia.
Assim, tendo como missão a promoção do conhecimento e desenvolvimento da geologia, dos
recursos minerais e da mineração no território goiano, a Superintendência de Geologia e Mineração da
Secretaria de Estado da Indústria e Comércio realizou, dentro do Programa de Geologia e Mineração do
Governo do Estado de Goiás, um inédito estudo das águas subterrâneas intitulado HIDROGEOLOGIA DO
ESTADO DE GOIÁS, neste momento disponibilizado como a primeira publicação da Série Geologia e
Mineração.
As águas subterrâneas representam um importante e estratégico recurso natural, apresentando-se,
muitas vezes, como a única fonte de água potável disponível para parcelas consideráveis da população
mundial.
No Brasil, apesar da aparente abundância, os recursos hídricos superficiais são muito mal
distribuídos. A Região Norte, de baixíssima densidade populacional e pouca demanda, abrange cerca de 70%
das águas superficiais, enquanto a Região Nordeste responde tão somente por cerca de 3%. Ademais, em
praticamente todas as regiões brasileiras, uma grande parte dos rios e mananciais encontra-se seriamente
ameaçada e até comprometida por algum tipo de degradação como a poluição e contaminação por efluentes
domésticos e industriais, metais pesados, lixo, hidrocarbonetos, entre outros.
Esta relação de disponibilidade dos recursos hídricos superficiais versus demanda hídrica faz com
que os recursos hídricos subterrâneos sejam cada vez mais procurados para complementar o abastecimento
superficial ou até mesmo substituí-lo por completo. Atualmente são muitas as cidades, vilas, atividades
industriais, agrícolas e pecuárias integralmente abastecidas por água subterrânea por intermédio de poços
tubulares profundos.
Contudo, esta realidade, também presente no território goiano, tem exigido um constante avanço do
conhecimento e avaliação do arcabouço hidrogeológico, visando a gestão sustentável dos recursos hídricos
subterrâneos, recurso renovável, porém finito.
Desta forma, o presente estudo apresenta, na escala 1:500.000, as águas subterrâneas em todo o
território goiano, descrevendo e evidenciando seu potencial em termos de características físicas de seus
reservatórios, vazões, qualidade da água, profundidade e vulnerabilidade, finalizando com propostas e
recomendações para uma gestão sustentável de uso, conservação e preservação.
O Estado de Goiás torna-se, assim, um dos poucos estados no país a disponibilizar um levantamento
completo de seus recursos hídricos subterrâneos, e ter um importante documento de subsídios às políticas e
gestores públicos, além dos diversos setores da sociedade como segmentos privados, comunidades científicas
e acadêmicas que atuam diretamente com o uso da água e com a gestão dos recursos hídricos.

Ridoval Darci Chiareloto Luiz Fernando Magalhães


Secretário de Estado de Indústria e Comércio Superintendente de Geologia e Mineração
Governo do Estado de Goiás Secretaria de Indústria e Comércio/GO

Hidrogeologia do Estado de Goiás 17


18 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO

1.1. A ÁGUA
A água é a substância mais abundante na superfície da Terra. Participa expressivamente dos
processos e fenômenos responsáveis pela evolução do planeta e da vida. Trata-se de um recurso
natural renovável, porém finito. Ocorre na atmosfera, na superfície e na subsuperfície do planeta,
nos três estados físicos: sólido, líquido e gasoso.
A água em condições favoráveis ao consumo humano é um recurso escasso e, de acordo
com a Organização das Nações Unidas – ONU (2002), cerca de um bilhão de pessoas apresentam
doenças relacionadas à água, com a conseqüente morte de três milhões de pessoas por ano, em sua
maioria crianças.
A superfície do planeta é constituída por 29,3% de terras emersas e 70,7% de água. A maior
parte da água existente encontra-se nos mares e oceanos (97,5%) enquanto que os 2,5% restantes
das reservas correspondem a água doce, porém, também não são totalmente aproveitáveis para o
consumo (Figuras 1.1 e 1.2).
A grande maioria da água doce existente no planeta, não está diretamente disponível para o
consumo por se encontrar concentrada e congelada nas calotas polares e nos topos de montanhas
(68,9%). Outra parte expressiva (29,9%) ocorre em reservatórios subterrâneos e apenas 0,3% de
toda a água doce do planeta está localizada em rios e lagos, sendo de fácil acesso à população, no
entanto, fortemente susceptíveis à contaminação por poluentes diversos. O restante da água doce
(0,9%) está distribuído entre pântanos, solos congelados, biomassa, vapor d’água, entre outros.
O Brasil é o país mais rico do mundo em recursos hídricos, onde cerca de 12% de toda a
água doce do planeta é associado ao seu domínio territorial. Contudo, esta abundância não se reflete
de forma homogênea por todo o território. A Região Norte, com 6% da população brasileira,
acumula aproximadamente 70% de toda água doce disponível para uso, no Brasil. Enquanto a
Região Nordeste, com 29% da população, possui apenas 3,2% da água doce disponível em território
brasileiro.
O consumo diário per capita também traduz a realidade da disponibilidade, no semi-árido do
nordeste brasileiro o volume de água utilizado por pessoa é inferior a 100 litros por dia, enquanto
nas áreas mais nobres da capital federal, por exemplo, o consumo diário ultrapassa 500
litros/habitante/dia (Rebouças, 1994; Distrito Federal, 2006).
A Região Centro-Oeste é a segunda mais rica em disponibilidade de recursos hídricos
(15,3%). O estado de Goiás é contemplado com cerca de 5% de toda a água doce disponível para
uso no Brasil, enquanto o Distrito Federal tem apenas 0,05%, o que o torna a Unidade da Federação
com o menor potencial hídrico de todo o país.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 19


Em Goiás, a principal atividade produtiva consumidora de água é a agricultura, perfazendo
84% de toda a água consumida, seguida por abastecimento humano (9%) e indústria (7%), (Goiás,
2006).
O homem demanda volumes cada vez maiores de água doce, seja para seu próprio consumo
ou para atividades agrícolas e industriais. Em conseqüência disso, a sobrexplotação e a
contaminação dos mananciais hídricos são duas importantes questões que se contrapõe a uma
gestão sustentável deste recurso.
Neste sentido as águas subterrâneas assumem um papel estratégico e relevante ao homem,
quanto à sua sobrevivência e sustentabilidade do planeta, que serão assegurados tão somente por
meio de uma gestão que tenha como suporte a responsabilidade do conhecimento, das dimensões
deste recurso, do seu aproveitamento e proteção. Para tanto, a hidrogeologia é um ator
reconhecidamente imprescindível e preponderante nesta gestão.

Figura 1.1 – Distribuição das águas no Planeta Terra. Figura 1.2 – Distribuição das águas doces no planeta.

1.2. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


O Ciclo Hidrológico é um importante mecanismo responsável pela constante recirculação de
toda a água existente no planeta (Figura 1.3).

Figura 1.3 – Representação esquemática do ciclo hidrológico.


Esta “máquina” é movida por duas forças: a energia solar e a gravidade. É pelo ciclo
hidrológico que a água dos lagos, rios e oceanos evapora, torna-se potável, e precipita novamente
nos continentes e mares. Parte da água que cai nos continentes (cerca de 40%) escoa pela superfície

20 Hidrogeologia do Estado de Goiás


alimentando rios, lagos e nascentes e uma parte considerável (até cerca de 50%) infiltra nos solos e
rochas.
As águas subterrâneas representam a fração de água que, após a precipitação, infiltra e ocupa
os espaços vazios existentes tanto nos solos quanto nas rochas. Desempenham papel fundamental na
manutenção da umidade do solo e na perenização de rios e nascentes. As águas subterrâneas
armazenam-se em espaços vazios nos materiais geológicos (solos e rochas), caracterizados por
espaços intergranulares ou por espaços abertos pelo fraturamento ou fissuramento das rochas e por
espaços gerados pela dissolução de minerais.
Os materiais geológicos que apresentam porosidade intercomunicável compõem os
aqüíferos. Os aqüíferos são reservatórios subterrâneos naturais onde a água se armazena e
encontra-se disponível para ser extraída. Podem ter extensões em área que variam de dezenas de m²
a milhares de km² e espessuras que variam de poucos metros a centenas de metros.
A caracterização do potencial de um aqüífero é determinada por fatores geológicos,
associados com clima, relevo e solo. A associação destes fatores caracteriza e define regiões com o
mesmo potencial de armazenamento, circulação e qualidade das águas. Estas regiões são
denominadas Províncias Hidrogeológicas.
No Brasil, existem 10 Províncias Hidrogeológicas (BRASIL, 1983a) denominadas: Escudo
Setentrional, Amazonas, Escudo Central, Parnaíba, São Francisco, Escudo Oriental, Paraná, Escudo
Meridional, Centro-Oeste e Costeira (Figura 1.4). Goiás é a Unidade da Federação que possui o
maior número de Províncias Hidrogeológicas em seu território, com porções das províncias: Escudo
Central, São Francisco, Escudo Oriental, Paraná e Centro-Oeste.
Dentro das Províncias Hidrogeológicas existem aqüíferos de características distintas e com
potenciais bastante diversificados. Em Goiás podemos exemplificar aqüíferos que são fundamentais
para suas regiões, como é o caso do aqüífero Bambuí, que apesar de não possuir águas de qualidade
desejável (águas salobras) torna-se um recurso estratégico devido à escassez de recursos hídricos
superficiais. Dentre os diversos aqüíferos presentes no estado, destacam-se os aqüíferos Urucuia,
Araxá, Paranoá e os aqüíferos da Bacia do Paraná: Serra Geral, Bauru, Aquidauna e Guarani, este
último tido como um dos maiores aqüíferos do mundo.
O uso dos recursos hídricos subterrâneos remonta a períodos pré-históricos, com registros da
existência de poços escavados em sítios arqueológicos. Os avanços tecnológicos têm permitido que
com o passar do tempo, a humanidade fosse capaz de desenvolver técnicas que proporcionassem
um aproveitamento qualitativo e quantitativo cada vez mais aprimorado. Atualmente todas as
nações do mundo utilizam água subterrânea para abastecimento de sua população e/ou em sua
cadeia produtiva.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 21


Figura 1.4 – Províncias Hidrogeológicas do Brasil (modificado de BRASIL, 1983).

A água subterrânea contribui com 51% do abastecimento humano no Brasil (BRASIL,


2003), apresentando ampla tendência de aumento de consumo nos centros urbanos brasileiros.
Ainda segundo o IBGE, em Goiás, cerca de 30% da população é abastecida com água subterrânea
(poços tubulares ou poços escavados), enquanto 70% da população é atendida por rede pública de
distribuição. Cabe ressaltar, contudo, que em várias cidades goianas, parte do abastecimento público
se dá por captação por poços tubulares profundos, como por exemplo, São Simão, Águas Lindas de
Goiás, Aparecida de Goiânia (onde a água subterrânea é o manancial mais importante) ou Luziânia,
Valparaíso de Goiás, Pedregal e Novo Gama (onde a água subterrânea é o manancial
complementar).
O conhecimento e a compreensão dos processos hidrogeológicos são fundamentais para
fornecer bases científicas que auxiliem no gerenciamento das águas subterrâneas, incluindo a
previsão de riscos de contaminação, caracterizando possíveis pontos de sobrexploração dos
aqüíferos e propondo medidas visando à eliminação ou mitigação dos impactos negativos em
desenvolvimento. Estes estudos auxiliam, ainda, no fornecimento de subsídios para zoneamentos
urbanos por intermédio de uma análise da vulnerabilidade dos aqüíferos, da disponibilidade dos
recursos hídricos e da integração entre águas superficiais e subterrâneas.
No estado de Goiás, observam-se estudos esparsos e extremamente localizados sobre a
caracterização qualitativa e quantitativa das águas subterrâneas. As áreas de maior concentração de

22 Hidrogeologia do Estado de Goiás


estudos localizam-se na Região Metropolitana de Goiânia (Campos et al., 2003; Rodrigues et al.,
2005), na região Sudoeste de Goiás (Scislewski & Araújo, 1998; Almeida, 2003), na região de
Caldas Novas (Campos & Costa, 1980; Drake Jr., 1980; Tröger et al., 1999; Haesbaert & Costa,
2000) e no Distrito Federal e entorno (Campos & Freitas-Silva, 1998; Lousada, 1999; Souza, 2001;
Joko, 2002; ZEE-RIDE, 2003).
Todos estes trabalhos trazem contribuições valiosas para a compreensão da dinâmica
hidrogeológica, contudo, apresentam visões distintas, localizadas e não padronizadas sobre os temas
referentes às águas subterrâneas no âmbito do território goiano.
Desta forma, pretendeu-se, com este trabalho realizar um levantamento e uma integração de
dados geológicos, pedológicos, geomorfológicos, hidrogeológicos, hídricos e climáticos associados
a uma síntese de trabalhos anteriores, disponibilizando informações hidrogeológicas de todo o
estado de forma homogênea e padronizada, objetivando a elaboração de um produto cartográfico
hidrogeológico, em escala 1:500.000 que possa ser aplicado ao contexto do gerenciamento dos
recursos hídricos atualmente em crescente explotação em todo o estado.
Os dados utilizados para a confecção deste trabalho consistem em informações atualizadas
do meio físico, com a integração de dados anteriores e a coleta de novos dados a partir de atividades
intensas e freqüentes de campo, essenciais para a compreensão da estrutura hidrogeológica da
região.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 23


24 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO II
SÍNTESE GEOLÓGICA

2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS


A natureza geológica constitui o principal componente da dinâmica dos processos
relacionados às águas subterrâneas na superfície terrestre. Nesse sentido destaca-se a litologia (tipos
de rochas e suas variações), estratigrafia (empilhamento das diversas unidades), tectônica e
estruturação (deformações por dobramentos e fraturamentos), sedimentologia (ambientes de
formação das rochas supracrustais) e geoquímica (composição química das diferentes rochas).
Portanto, a abordagem da geologia, no desenvolvimento de um trabalho sobre a hidrogeologia de
determinada região, é imprescindível e de relevante importância.
Em Goiás, o desenvolvimento do conhecimento geológico nos últimos 40 anos foi
significativo. Os trabalhos do Departamento Nacional da Produção Mineral – DNPM, em convênio
com o Serviço Geológico do Brasil – CPRM, o Instituto de Geociências da Universidade de Brasília
– IG/UnB e o Governo do estado de Goiás, foram responsáveis por um grande avanço científico.
Citam-se também trabalhos clássicos desenvolvidos no estado como Derby (1880), King (1956),
Hasui & Almeida (1970) e Barbosa et al. (1970). O conhecimento litológico, estratigráfico,
estrutural e geocronológico, atualizado das diversas unidades que compõem a geologia de Goiás,
está sintetizado nos trabalhos de Côrtes et al. (1987) e Lacerda Filho et al. (1999).
Goiás apresenta uma evolução e constituição geológica representadas por rochas muito
antigas até rochas consideradas mais jovens. Entre o conjunto de rochas presentes no estado
destacam-se as faixas de terrenos tipo Greenstone Belt (grupos Pilar de Goiás, Guarinos, Crixás e
Goiás), a evolução do rift Paleo-Mesoproterozóico (grupos Araí e Serra Dourada), diversos
ambientes responsáveis pela deposição de coberturas sedimentares (grupos Bambuí, Araxá e
Paranoá), inúmeras seqüências vulcano-sedimentares de diferentes idades e contextos geológicos
(arcos de ilha neoproterozóicos, seqüências da borda oeste dos complexos acamadados), a presença
de complexos máfico-ultramáficos diferenciados (Niquelândia, Barro Alto, Cana Brava e
Americano do Brasil), a evolução fanerozóica (sinéclise paleozóica – Bacia do Paraná), além de
diversas intrusões de corpos graníticos de diferentes ambientes geológicos e idades, o magmatismo
alcalino cretáceo e a sedimentação cenozóica vinculada aos maiores cursos fluviais e à evolução
geomorfológica regional.
Além dos grandes eventos regionais da geologia do Brasil, no território goiano ocorreram,
também, vários eventos particulares como glaciações (neoproterozóica e neopaleozóica), formação
de domos estruturais (Cristalina, Caldas Novas e Brasília), reativações neotectônicas e formação de
inúmeros depósitos minerais.
O presente capítulo obedecerá a seguinte estruturação:

Hidrogeologia do Estado de Goiás 25


- Apresentação do contexto geotectônico e cronoestratigrafia geral de cada conjunto
litológico, agrupado por contexto geotectônico;
- Descrição dos principais tipos de rochas que compõem cada grande unidade
litoestratigráfica ou contexto geotectônico; e
- Sempre que possível cada conjunto será sintetizado na forma de uma coluna
cronoestratigráfica ou tectonoestratigráfica.

As questões relacionadas à idade, composição química, ambiência tectônica, grau


metamórfico e particularidades geológicas não serão focalizadas, uma vez que, não apresentam
controle importante sobre os aspectos hidrogeológicos. Assim, pode-se afirmar que a idade das
rochas não controla o comportamento hidrogeológico do maciço rochoso, ou seja, quartzitos
correlacionados aos grupos Araí e Paranoá, por exemplo, apesar de apresentarem importante
diferença de idade têm o mesmo comportamento do ponto de vista de armazenamento e transmissão
de água através das descontinuidades planares.
As questões tectônicas de interesse serão tratadas em capítulo à parte, relativo à análise de
lineamentos e os potenciais hidrogeológicos de cada unidade serão tratados no capítulo de
hidrogeologia. É importante destacar que a maior parte do estado de Goiás encontra-se sobre rochas
cristalinas, refletindo diretamente no potencial hidrogeológico, onde grande parte dos aqüíferos
apresenta porosidade do tipo fissural, porém, existem no estado, aqüíferos porosos, cársticos e
físsuro-cársticos.

2.2. TERRENOS GRANITO-GREENSTONE (Arqueano)


Dentre os principais autores que contribuíram com o conhecimento dos Greenstone Belts
destacam-se os trabalhos de: Sabóia, 1979; Jost & Oliveira, 1991; Magalhães, 1991; Pulz, 1995;
Theodoro, 1995; Resende, 1995; Fortes et al., 1997; e Resende, 1997.
Correspondem a estreitas faixas de rochas metavulcanossedimentares distribuídas nas
regiões de Goiás Velho/Faina, Guarinos, Pilar de Goiás e Crixás. A seqüência de rochas
supracrustais inclui metavulcânicas ultramáficas (komatiíticas) com texturas spinifex, pillow lava e
disjunções colunares, metavulcânicas basálticas (anfibolitos e clorita xistos finos), metassedimentos
químicos (formações ferríferas bandadas – BIF’s, metacherts, mármores e calcissilicáticas) e
metassedimentos pelíticos (filitos e xistos finos).
As faixas de rochas metavulcanossedimentares são envolvidas por terrenos granitóides que
mostram relação de contato tipo intrusivo, incluindo a presença de xenólitos e evidências de
metamorfismo de contato.
Os domos e complexos apresentam composição que variam de tonalítica a granodiorítica
com variação de textura e granulação (fácies grossas a finas, isotrópicas ou com forte foliação).

26 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Estes terrenos granito-gnáissicos são representados pelos complexos da Anta, Caiamar, Hidrolina,
Uvá e pelo Bloco do Muquém (Jost & Danni, 1986).
As seqüências metavulcânicas e metassedimentares são associadas aos grupos Crixás, Pilar
de Goiás, Santa Rita, Fazenda Paraíso e Furna Rica. A estratigrafia e principais tipos litológicos são
sintetizados na Figura 2.1.

Figura 2.1 – Síntese da estratigrafia dos terrenos greenstone belts do estado de Goiás (compilado de Pimentel et al.,
2000).

Os terrenos granito-greenstone recortados por diques máficos e ultramáficos, em muitos


casos, são interpretados como condutos do vulcanismo registrado na sucessão vulcanossedimentar
e, em outros casos, são considerados como representantes de magmatismo mais recente (Tomazzoli,
1997).

2.3. TERRENOS CRISTALINOS (Paleo/Neoproterozóico)


No contexto dos terrenos cristalinos são integradas as extensas faixas de gnaisses e
granitóides arqueanos e proterozóicos que funcionam como embasamento regional de sucessões
mais jovens.
Em Goiás, estes terrenos estão assim distribuídos: no nordeste, onde representam o
embasamento da Formação Ticunzal e do Grupo Araí; no noroeste, onde se associam à seqüência
vulcanossedimentar de Mara Rosa e se distribui em direção ao sul integrando as faixas de
greenstone belts; no centro-sul, onde constituem o embasamento da Bacia do Paraná (e são

Hidrogeologia do Estado de Goiás 27


recobertos por basaltos mesozóicos); no sudoeste, onde ocorrem associados às seqüências
vulcanossedimentares; e na região de Anápolis/Goiânia, onde apresentam alto grau metamórfico e
compõem uma faixa de direção NW/SE. Neste conjunto ainda são considerados os grandes corpos
graníticos (tipo Serra da Mesa) distribuídos no norte do estado e, em menores proporções, em outras
áreas.
Em termos petrográficos, estes terrenos são representados por grande variação
composicional, mineralógica e textural, com granitos, granodioritos, dioritos, tonalitos, que podem
ser isotrópicos ou mais comumente apresentar foliação metamórfica ou milonítica, inclusive feições
migmatíticas, bandamento gnáissico e injeções de veios aplíticos1 ou de quartzo.

2.4. COMPLEXOS MÁFICO-ULTRAMÁFICOS DIFERENCIADOS (Paleo/Neoproterozóico)


Os complexos máfico-ultramáficos acamadados de Cana Brava, Niquelândia e Barro Alto
estão situados na porção centro-norte do estado e se distribuem em uma faixa de aproximadamente
330 km, em direção N10E, com inflexão equatorial na porção sul do Complexo de Barro Alto
(Winge, 1995; Del-Rey Silva et al., 1996).
Os três complexos têm estratigrafia própria com denominações locais das unidades e variações
petrográficas internas (Figura 2.2), entretanto há uma seqüência petrogenética comum (Berbert,
1970; Danni & Teixeira, 1981; Ferreira Filho et al., 1992a, 1992b, e 1999; Oliveira, 1993; Ferreira
Filho, 1995; Winge, 1995; Suita, 1996; Lima & Nilson, 1996; Lima, 1997).
O Complexo de Barro Alto é composto pela Seqüência Plutônica Serra da Malacacheta e pela
Seqüência Granulítica Serra de Santa Bárbara. O Complexo de Niquelândia é representado pelas
seqüências Serra dos Borges e Serra da Mantiqueira. O Complexo de Cana Brava é constituído
pelas zonas Máfica Inferior, Ultramáfica e Máfica Superior. Apenas no Complexo de Barro Alto
são descritas ocorrências de rochas supracrustais de natureza química (metachert e
metacalcissilicática).
A seqüência basal é representada por uma zona de rochas ultramáficas cumaláticas, com
metadunitos, metapiroxenitos e metaperidotitos, passando por rochas gabronoríticas, gabros,
melagabros e culminando com uma porção superior anortosítica. Importantes diferenças nas
seqüências, nas espessuras e no volume de cada tipo petrográfico ocorrem quando se compara
diretamente cada conjunto.
Os conjuntos encontram-se em fácies metamórfico granulito e a deformação a que foram
submetidos inclui zonas protomiloníticas, zonas ultramiloníticas, dobramentos apertados a
isoclinais além de uma generalizada deformação rúptil tardia responsável pelo desenvolvimento de
fraturamento e falhamento.

1
Veios de grãos finos compostos por quartzo, plagioclásio e K-feldspato.

28 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 2.2 – Correlações estratigráficas entre os complexos acamadados da porção central de Goiás (Dardenne, 2000;
Ferreira Filho, 1999).

2.5. SEQÜÊNCIAS VULCANOSSEDIMENTARES (Paleo/Neoproterozóico)


Correspondem a associações de rochas supracrustais sedimentares marinhas e vulcânicas de
composição variada, onde os termos sedimentares pelíticos predominam. São relacionadas a
ambientes de fundo oceânico ou de arcos de ilha e apresentam idade paleo a neoproterozóica.

2.5.1. Seqüências Paleoproterozóicas


Estes terrenos ocorrem de forma restrita, com destaque para a faixa distribuída na porção
norte do Greenstone Belt de Pilar de Goiás, onde ocorre um conjunto denominado de Seqüência
Campinorte, que inclui parte da antiga Seqüência Vulcanossedimentar de Santa Terezinha.
A Seqüência Campinorte (Kuyumjian et al., 2004) é composta por micaxistos, micaxistos
granadíferos, xisto carbonoso, quartzito micáceo e contribuição mais restrita de talco xisto,
metarriolito, metarriodacito, anfibolito e sedimentos químicos.
A ambiência tectônica determinada a partir de estudo geoquímico resulta em condições de
arcos de ilha, provavelmente evoluído durante o Ciclo Transamazônico.

2.5.2. Seqüências Mesoproterozóicas


As Seqüências Vulcanossedimentares de Palmeirópolis, Indaianópolis e Juscelândia são
típicas representantes deste conjunto de supracrustais de idade próxima a 1,2 Ga (Pimentel et al.,
2000), respectivamente situadas na porção oeste dos complexos acamadados de Cana Brava,
Niquelândia e Barro Alto.
De forma genérica estas seqüências são compostas por anfibolitos finos a grossos, com
intercalações de delgadas camadas de metachert e BIF’s, intercalações de depósitos vulcanogênicos

Hidrogeologia do Estado de Goiás 29


de sulfetos maciços, metassedimentos pelíticos e químicos, metavulcânicas ácidas além de
pequenos corpos graníticos intrusivos.

2.5.3. Seqüências Neoproterozóicas


As seqüências vulcanossedimentares brasilianas são mais amplamente distribuídas pelo
estado, incluindo a região de Iporá-Bom Jardim de Goiás, Campos Verdes-Mara Rosa e Pirenópolis
(Viana, 1995).
Apesar das diferenças individuais entre cada seqüência, o conjunto mostra-se similar do
ponto de vista estratigráfico, deformacional, petrográfico e metalogenético. Desta forma são
encontradas rochas metavulcânicas básicas (metabasaltos), metavulcânicas ácidas (metarriolitos e
metadacitos), metassedimentos terrígenos (pelíticos, arenosos e grauvaquianos) e metassedimentos
químicos (metacherts, gonditos, BIF’s e calcissilicáticas). A semelhança metalogenética entre estas
supracrustais é indicada pela constante presença de ocorrências auríferas. O quimismo das rochas
vulcânicas básicas e ácidas indica se tratar de ambientes de arco de ilha que evoluíram no
Neoproterozóico durante o processo de colisão entre os crátons Amazônico e Sanfranciscano.

2.6. GRUPO ARAÍ (Paleo/Mesoproterozóico)


As rochas que constituem este grupo são definidas por metassedimentos depositados em
ambientes continentais e plataformais com evolução a partir de rifts intracontinentais de direção
geral norte-sul que evoluíram na passagem do Paleo para o Mesoproterozóico, com reativação de
zonas de fraqueza no substrato granito-gnáissico, originando a chamada Bacia Araí (Dyer, 1978;
Araujo & Alves, 1979; Braun, 1980; Martins, 1999; dentre outros). O Grupo Araí ocorre na porção
norte da Zona Externa da Faixa Brasília, sobre o embasamento granito-gnáissico e a Formação
Ticunzal, sendo recoberto por metassedimentos dos grupos Paranoá e Bambuí. A presença de
filossilicatos nas paragêneses minerais define o grau de metamorfismo destas rochas variando de
anquimetamórfico2 a xisto-verde baixo.
Segundo Martins (1999), a seqüência sedimentar da região do Parque Nacional da Chapada
dos Veadeiros teria condições deposicionais condizentes com ambientes continentais e
plataformais/marinhos (Figura 2.3).
Observa-se a ocorrência localizada de depósitos flúvio-deltáicos, relacionados ao
assoreamento de lagos efêmeros pelo sistema fluvial entrelaçado. A seqüência continental possui
aproximadamente entre 100 e 150 metros de espessura. A seqüência marinha apresenta sedimentos
depositados em ambiente de plataforma aberta, e com a presença ocasional de tempestades.
Ocorrem lentes de carbonatos no topo da seção. Esta seqüência possui aproximadamente de 700 a
800 metros de espessura.

2
Grau metamórfico incipiente.

30 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 2.3 – Correlações estratigráficas propostas por diversos autores para o Grupo Araí. As várias proposições
representam colunas-tipo construídas em diferentes regiões do norte do estado de Goiás.

2.7. GRUPO SERRA DA MESA/GRUPO SERRA DOURADA (Paleo/Mesoproterozóico)


O Grupo Serra da Mesa foi definido por Marini et al., (1977) e Fuck & Marini (1981) na
porção norte da Faixa Brasília. Inicialmente foi correlacionado com o Grupo Araxá (da porção sul
da faixa), contudo, mais recentemente foi correlacionado ao Grupo Araí (Dardenne, 2000).
Esta sucessão é caracterizada por quartzitos, quartzitos micáceos, xistos e lentes de
mármore. Os quartzitos dominam na base da seqüência e as lentes de mármore são mais comuns em
direção ao topo da estratigrafia. Os xistos predominam e são representados por muscovita-biotita
xistos, com clorita, granada e plagioclásio. Próximo aos grandes corpos graníticos (tipo Serra da
Mesa) ocorrem estaurolita, cianita, anfibólio e outros minerais de maior grau metamórfico.
O Grupo Serra da Mesa no contexto do rift Araí representaria as fácies marinhas
transgressivas depositadas nas porções mais internas da Faixa Brasília. Neste contexto, os quartzitos
basais e intercalados nos xistos comporiam arenitos plataformais, enquanto os mármores do topo
seriam as fácies carbonáticas regressivas depositadas ao final da evolução da Bacia Araí. A
ausência das fácies continentais e transicionais é explicada pela própria paleogeografia, onde os
psefitos3 e maior parte dos psamitos4 imaturos ocorrem exclusivamente junto aos blocos
escalonados na fase pré e sin-rift (situados na porção externa da faixa).

3
Rochas que contém primordialmente partículas de tamanho equivalente a seixos e matacões.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 31


O Grupo Serra Dourada corresponde a um conjunto cronocorrelato aos metassedimentos do
Grupo Serra da Mesa, que ocorrem a norte do Greenstone Belt de Goiás. Nesta região ocorrem
sedimentos psamo-psefíticos que seriam correlacionáveis aos sedimentos continentais do Grupo
Araí seguido por sedimentos arenosos e pelíticos5.

2.8. GRUPO CANASTRA (Meso/Neoproterozóico)


Ocorre em grande parte da Faixa Brasília, aflorando desde o sudoeste de Minas Gerais, até
as imediações do Distrito Federal. As principais rochas observadas neste grupo são filitos e
quartzitos, contendo freqüentemente material carbonático metamorfizado no fácies xisto verde.
Estudos realizados por Freitas-Silva & Dardenne (1994) resultaram na divisão deste grupo,
na parte noroeste de Minas Gerais, em quatro formações, com características distintas: formações
Serra do Landim, Paracatu, Serra da Urucânia e Serra da Batalha (Figura 2.4).
Formação Serra do Landim: foi incluída no Grupo Canastra por Freitas-Silva & Dardenne
(1994). Suas rochas são principalmente representadas por calcifilitos de cor esverdeada a cinza
esverdeado.
Formação Paracatu: representada por espessas camadas de filitos carbonosos cinzas com
algumas intercalações de quartzitos brancos. Foi subdividida por Freitas-Silva & Dardenne (1994)
em dois membros: O basal, denominado de Membro Morro do Ouro, inicia com níveis
relativamente contínuos de quartzitos com espessuras variadas, passando para espessas camadas de
filitos carbonosos com delgados níveis de quartzitos. O superior, denominado de Membro Serra da
Anta, é composto por espessas camadas de filitos cinzas e cinza-esverdeados com raras
intercalações carbonosas e camadas de quartzitos.
Formação Serra da Urucânia: é constituída de intercalações regulares de quartzito e
filitos, compondo uma típica seqüência de ritmitos turbidíticos e de plataforma dominada por
tempestades.
Formação Serra da Batalha: composta, na sua maioria, por quartzitos com estruturas
indicativas de retrabalhamento por marés.
As formações Paracatu e Serra da Urucânia apresentam-se com espessamento de suas
camadas em direção ao topo, típicas de megaciclos regressivos (Dardenne, 2000). Nas bases, estas
mostram características de deposição em águas profundas, gradando para o topo em sedimentos de
plataforma rasa.

4
Rochas que contém primordialmente partículas de tamanho equivalente a areia.
5
Rochas que contém primordialmente partículas de tamanho equivalente a argila.

32 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 2.4 – Estratigrafia do Grupo Canastra, conforme Freitas-Silva & Dardenne (1994).

Em Goiás, os afloramentos de rochas deste grupo são abundantes, porém a grande maioria
apresenta-se intemperizada. Os tipos mais comuns são os filitos, podendo ser representados por
fengita filitos, clorita filitos, quartzo–fengita–clorita filitos e os filitos carbonosos, porém são
encontrados também metarritmitos, lentes de quartzitos e de mármores. Os tipos petrográficos mais
comuns apresentam níveis claros representados pelos carbonatos, quartzo e mica-branca e níveis
escuros representados por cloritas e fengitas. Quando carbonosos apresentam coloração preta e
aspecto sedoso. Os quartzitos podem ser encontrados como lentes das mais variadas formas e
dimensões: finos, grossos, micáceos ou puros e sempre muito silicificados e cisalhados. Já os
mármores são finos, escuros e sempre interdigitados com os filitos.

2.9. GRUPO PARANOÁ (Meso/Neoproterozóico)


Ocupa parte da porção centro-norte da Faixa Brasília na sua zona externa e é exposto desde
a região de Cristalina até a norte da cidade de Alto Paraíso de Goiás (Dardenne, 1981). Esta
seqüência psamo-pelito-carbonatada apresenta-se de variadas formas, dependendo da sua
localização, podendo variar no grau de metamorfismo, nos tipos petrográficos e nas suas relações
litoestratigráficas.
Este conjunto apresenta idade meso-neoproterozóica, tem origem deposicional em ambiente
marinho plataformal epicontinental, sendo suas feições petrográficas controladas por ciclos
transgressivos e regressivos.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 33


Faria (1995) propôs uma estratigrafia integrada deste grupo associando os vários arranjos de
suas litologias em locais diferentes. Como resultado, este grupo foi subdividido em 11 unidades,
denominadas por letras-código, incluindo as unidades SM (conglomerado São Miguel), R1
(metarritmito inferior), Q1 (quartzito fino), R2 (metarritmito), Q2 (quartzito conglomerático), S
(metassiltito), A (ardósia), R3 (metarritmito arenoso), Q3 (quartzito médio), R4 (metarritmito
argiloso), PPC (psamo-pelito-carbonatada), sendo as suas características principais apresentadas na
figura 2.5.

Figura 2.5 – Estratigrafia do Grupo Paranoá na área-tipo de Alto Paraíso de Goiás - São João D’Aliança. A – argila, S –
silte, AF – areia fina, AM – areia média, AG – areia grossa e C – cascalho, modificado de Faria (1995).

34 Hidrogeologia do Estado de Goiás


2.10. GRUPO ARAXÁ (Neoproterozóico)
A área de ocorrência destas rochas xistosas localiza-se ao sul da Sintaxe dos Pirineus,
ocupando principalmente o quadrante sudeste do estado.
Consiste geralmente de quartzitos micáceos e micaxistos, podendo localmente ser
encontrados paragnaisses (Dardenne, 2000) e lentes de mármores, margas e dolomitos. São
associados, em algumas áreas, aos micaxistos e meta-vulcânicas (anfibolitos, metandesitos e
metarriolitos), evidenciando o caráter de uma seqüência vulcanossedimentar. Este vulcanismo em
área restrita mostra evidente a aparência de crosta oceânica relacionada a aberturas descontínuas no
segmento sul da Faixa Brasília, durante o Neoproterozóico.
Nas diferentes regiões cartografadas esta unidade litoestratigráfica inicia-se por uma
seqüência de gnaisses orto e paraderivados, sobrepostos por uma seqüência imatura, com
características flyschoide6, de muscovita e/ou biotita xistos, geralmente feldspáticos e granatíferos
podendo conter cianita e/ou estaurolita, gnaisses, xistos carbonosos, calcixistos e mármores (Fuck
& Marini, 1981; Marini et al., 1984a e 1984b). Uma característica importante deste grupo é a
presença, ao longo de toda a unidade, de anfibolitos derivados de basaltos, gabros e
metaultrabásicas (contendo corpos de cromita, do tipo alpino, com cromitas podiformes), os quais
têm sido interpretados como restos de crosta oceânica e seus equivalentes intrusivos, gerados em
ambientes de cadeias meso-oceânicas (Berbert, 1970; Drake Jr., 1980; Danni & Teixeira, 1981;
Strieder, 1990; Brod et al., 1991 e 1992; Strieder & Nilson, 1992a e 1992b).
Em Goiás, as rochas deste Grupo apresentam foliações de baixo ângulo na maioria das áreas
de exposição.

2.11. GRUPO BAMBUÍ (Neoproterozóico)


O Grupo Bambuí apresenta um arranjo estratigráfico que pode ser reconhecido
regionalmente ao longo de toda a borda oeste do Cráton do São Francisco. Nesta região a coluna
estratigráfica deste grupo (figura 2.6) é composta, da base para o topo, pelas formações: Jequitaí,
Sete Lagoas, Serra de Santa Helena, Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias. Esta
sucessão sedimentar foi depositada sobre uma plataforma estável epicontinental, sendo possível
estabelecer uma evolução em três grandes megaciclos sedimentares transgressivos (Dardenne, 1979
e 1981): Megaciclo I: argilo carbonatado (Formação Sete Lagoas); Megaciclo II: argilo carbonatado
(formações Serra de Santa Helena e Lagoa do Jacaré) e Megaciclo III: argilo arenoso (formações
Serra da Saudade e Três Marias).
Formação Jequitaí: originalmente foi descrito por Derby (1880) no Vale do Rio São
Francisco no Norte de Minas Gerais, representando a expressão de uma glaciação, ocorrida no
Neoproterozóico por volta de 800 a 850 Ma atrás (Dardenne, 1978b; Couto et al., 1981). A litologia
característica desta unidade corresponde a um conglomerado (tilito) com matriz argilosa de cor

6
Sedimentos marinhos finos compostos por calcários e margas intercalados com conglomerados, arenitos e grauvacas.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 35


verde, onde flutuam seixos e matacões de quartzitos, calcários, dolomitos, chert, gnaisses, granitos,
micaxistos, filitos e rochas vulcânicas. A relação de contato, com a Formação Sete Lagoas, é
aparentemente concordante, contudo, um hiato na sedimentação e até mesmo uma fraca
discordância angular, existe entre ambas as unidades.
Formação Sete Lagoas: esta unidade é representada por uma seqüência margosa e pelítica
onde se intercalam lentes, de todas as dimensões, de calcários e dolomitos. Em vários locais esta
formação assenta-se diretamente sobre o embasamento granito-gnaíssico e embora apresente
notáveis variações de espessura, mostra uma relativa constância no seu empilhamento estratigráfico.
Formação Serra de Santa Helena: é constituída essencialmente por folhelhos e siltitos
com intercalações de arenitos finos e lentes de calcários ricos em matéria orgânica.
Formação Lagoa do Jacaré: composta por siltitos e margas onde são intercaladas lentes e
ou camadas de calcários pretos fétidos, ricos em matéria orgânica, com a presença freqüente de
níveis oolíticos7 e psolíticos8. Localmente observa-se nesta unidade a presença de pequenas lentes
de dolomitos estromatolíticos rosados.
Formação Serra da Saudade: é composta por siltitos, argilitos e folhelhos localmente
contendo lentes de calcários e pequenas ocorrências de fosforitos.
Formação Três Marias: ocorre recobrindo o Subgrupo Paraoepeba e é caracterizada por
sua ampla distribuição e notável homogeneidade litológica e geoquímica (Guimarães, 1993). É
composta predominantemente por arcóseos, arenitos arcoseanos, siltitos e intercalações
subordinadas de rochas conglomeráticas. Depositada em ambiente marinho dominado por
tempestade em plataforma estável do tipo rampa.
Apesar da subdivisão em seis formações, apenas algumas porções deste grupo foram
cartografadas no estado. A Formação Três Marias apresenta-se individualizada, sendo que as
demais formações, devido à ausência de mapeamento geológico de maior detalhe, apresentam-se
agrupadas no denominado Subgrupo Paraopeba Indiviso (Dardenne, 1978a). Na região de São
Domingos (NE do estado) seqüências carbonáticas foram individualizadas nas formações Sete
Lagoas e Lagoa do Jacaré.

2.12. GRUPO IBIÁ (Neoproterozóico)


Os principais trabalhos sobre o Grupo Ibiá são atribuídos a Pereira (1992) e Pereira et al.
(1994). Esta unidade é dividida nas formações Cubatão e Rio Verde (Figura 2.7), metassedimentos
de baixo grau metamórfico. Em termos de distribuição espacial, esta unidade ocorre em estreitas
faixas no extremo sudeste do estado.

7
Níveis enriquecidos em fragmentos acrescionários ovais compostos de carbonato ou sílica.
8
Níveis enriquecidos em fragmentos grossos, arredondados geralmente compostos por carbonato de cálcio.

36 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 2.6 – Estratigrafia do Grupo Bambuí, segundo Dardenne (1978a).

Figura 2.7 – Estratigrafia do Grupo Ibiá, conforme Pereira (1992) e Pereira et al. (1994).

Formação Cubatão: unidade basal que ocorre em discordância erosiva sobre os


metassedimentos do Grupo Canastra e é representada por diamictitos com clastos de quartzito,
carbonato, xisto, gnaisse e granito. A deposição deste conjunto é atribuída a ambiente glacio-
marinho associado a fluxos de turbidez alimentados por material proveniente de geleiras que
alcançaram a plataforma (Pereira, 1992).
Formação Rio Verde: é constituída por calcifilitos, com intercalações de arenitos imaturos
e filitos carbonosos subordinados. Este conjunto representa os fluxos de detritos mais distais
depositados sob lâmina d’água mais profunda.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 37


2.13. GRANITOS
Os granitos estão associados a toda a história geológica do estado de Goiás, com
representantes desde o Arqueano até o Paleozóico. A ambiência tectônica destes corpos intrusivos
também é a mais variada, com representantes associados a ambientes de arco de ilha e intraplaca,
além de composição tipo aluminoso, peraluminoso, calcialcalino, alcalino, associados a fusão de
sedimentos ou de material com origem mantélica.
No norte do estado ocorrem granitos intraplaca associados ao rifteamento paleo-
mesoproterozóico onde os exemplos mais emblemáticos são os granitos Serra da Mesa, Pedra
Branca e Mangabeira (Fuck & Marini, 1978; Botelho & Marini, 1984; Botelho, 1992; e Botelho &
Moura, 1998).
Granitóides de idade mesoproterozóica são observados como pequenos corpos intrusivos nas
seqüências vulcanossedimentares de arco de ilha paleo e mesoproterozóicas (tipo seqüências de
Campinorte e Palmeirópolis).
No Neoproterozóico ocorre uma ampla gama de granitos associados à orogênese brasiliana,
com aspectos petrográficos diferenciados em função do evento tectônico e são classificados como:
pré, sin e pós-tectônicos. Os corpos pré a sintectônicos apresentam-se foliados principalmente nas
bordas das intrusões e os pós-tectônicos são pouco foliados a isotrópicos.
Uma geração mais tardia ao Ciclo Brasiliano é referenciada como granitos do tipo Iporá ou
Piranhas, os quais apresentam-se isotrópicos e têm idade cambriana (540 Ma).

2.14. BACIA DO PARANÁ


A Bacia do Paraná é uma das grandes bacias paleozóicas desenvolvidas na Plataforma
Sulamericana. Possui formato elíptico com direção geral NNE-SSW e cobre uma área de cerca de
1.500.000 km2 no Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. O registro desta bacia inclui rochas
sedimentares e vulcânicas, ultrapassando 7000 metros de espessura no depocentro (Milani &
Thomaz Filho, 2000). A bacia representa uma sedimentação iniciada no Siluro-Ordoviciano que
prosseguiu até o Terciário, apresentando uma evolução policíclica envolvendo uma série de
discordâncias e concordâncias relacionadas a sua complexa evolução tectono-estratigráfica.
Seis superseqüências são reconhecidas na estratigrafia da bacia do Paraná: Rio Ivaí
(Ordoviciano-Siluriano), Paraná (Devoniano), Gondwana I (Permo-Carbonífero), Gondwana II
(Triássico), Gondwana III (Juro-Cretáceo) e Bauru (Cretáceo) (Milani et al., 1994). A carta
estratigráfica da bacia é apresentada na Figura 2.8.
Em Goiás, observam-se rochas características da porção norte e nordeste da bacia.
Observam-se rochas correlacionáveis aos litotipos pertencentes às superseqüências Rio Ivaí, Paraná
e Gondwana I e II (Lacerda Filho et al., 1999). A seguir serão apresentadas as unidades presentes
no estado:

38 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 2.8 – Carta estratigráfica da Bacia do Paraná no estado de Goiás (modificado de Lacerda Filho et al., 1999).

Formação Vila Maria (Ordovício/Siluriano): foi definida por Faria (1982) e detalhada por
Moreira & Borghi (1998). Corresponde à base da Bacia do Paraná e ocorre em restritas faixas sobre
o embasamento granito-gnáissico indiviso da Faixa de Dobramentos Brasília. É representada por
diamictitos (conglomerados matriz-suportados com matriz síltico-argilosa), arenitos e folhelhos. Os
clastos são representados por variada natureza petrográfica, com destaque para, rochas básicas,
Hidrogeologia do Estado de Goiás 39
granitos e gnaisses. Estes depósitos são associados a um evento glacial continental eopaleozóico o
que explica sua restrita espessura e reduzida expressão espacial, pois é apenas preservada em vales
glaciogênicos escavados sobre o embasamento.
Formação Furnas (Siluriano): na borda nordeste da Bacia do Paraná, esta unidade ocupa
grandes extensões, sendo constituída por conglomerados finos e médios, arenitos e arcósios de
granulometria média a grossa. O conteúdo de matriz é sempre reduzido e os diferentes tipos de
rocha apresentam coloração branca a rosada. Estes sedimentos foram depositados por sistemas
fluviais entrelaçados de alta energia, com distinção em depósitos de barras e de canais ativos.
Formação Ponta Grossa (Devoniano): é constituída por intercalações de arenitos
vermelhos, feldspáticos e argilosos e por folhelhos escuros (ricos em matéria orgânica). Níveis
conglomeráticos vermelhos são reconhecidos em toda a borda nordeste da Bacia do Paraná. Os
processos de denudação resultam em um relevo arrasado com solos espessos e arenosos. Esta
paisagem facilita a ocupação por pastagens plantadas e o uso para pecuária extensiva.
Grupo Aquidauana (Carbonífero/Permiano): é composto por conglomerados, diamictitos,
folhelhos vermelhos e principalmente arenitos. Os arenitos são mal selecionados, imaturos e
cimentados por calcita ou ricos em matriz argilosa. As estratificações do tipo plano-paralela e
ondulada são as estruturas sedimentares mais comuns. Localmente são encontradas concreções
calcíticas e canais de corte e preenchimento. O ambiente deposicional é interpretado como um
conjunto glaciogênico de condições pró-glaciais, como subambientes de lagos, rios e morainas, com
forte influência de águas de degelo e com a chegada intermitente de capas de gelo. A própria
natureza da sedimentação gera um conjunto de rochas sedimentares muito heterogêneas.
Formação Irati (Permiano): é constituída de calcários calcíticos e dolomíticos intercalados
por folhelhos pretos. Os calcários ocorrem em camadas que variam de 3 centímetros até mais de 2
metros de espessura. São finos, bege e raramente apresentam intraclastos e oncólitos. Os folhelhos
apresentam espessura de poucos milímetros até 80 centímetros, com piritas diagenéticas e
preservando fósseis de répteis e outros organismos vertebrados. Na região do Alto Araguaia são
expostos em restritas áreas, sendo encontrados em pedreiras nas proximidades de Amorinópolis.
Formação Botucatu (Jurássico): é constituída por um conjunto de arenitos de granulometria
fina a média com raras intercalações de níveis de folhelhos e siltitos argilosos, arenitos
conglomeráticos e conglomerados na seção basal. As estratificações cruzadas de grande porte são as
estruturas sedimentares mais comumente observadas. Lâminas bimodais e depósitos de avalanche
de grãos são facilmente identificados nas áreas de exposição. Os arenitos que dominam na
seqüência são puros, bem selecionados e com elevada maturidade textural e mineralógica (muito
raramente a fração argilosa supera 10% do arcabouço dos arenitos).

A idade deste conjunto de sedimentos é determinada em função do conteúdo fossilífero da


unidade sotoposta (Triássico) e datações radiométricas dos basaltos sobrepostos (Jurássico Inferior).
40 Hidrogeologia do Estado de Goiás
Desta forma, considera-se uma idade jurássica, com sedimentação desenvolvida entre 200 e 150
milhões de anos. Em função do ambiente de sedimentação continental e do alto índice de oxidação
(com a não preservação de restos orgânicos), os únicos fósseis presentes nos sedimentos Botucatu
são icnofósseis (pistas, traços e pegadas) em sedimentos lacustres (Leonardi, 1977 e 1980).
O ambiente de sedimentação é caracterizado por um sistema desértico clássico, com
sistemas eólicos, fluviais e lacustres. No paleodeserto Botucatu dominavam amplamente os
sistemas de dunas (principalmente as do tipo barcanas), enquanto os depósitos de interdunas
ocorriam de forma subordinada.
Formação Serra Geral (Juro-Cretáceo): é constituída por basaltos continentais com
composição química típica de basaltos de platô intra-cratônicos (Milani & Thomaz Filho, 2000). Os
derrames são do tipo tabulares com magmas bastante fluidos, localmente muito ricos em vesículas
no topo. As vesículas são preenchidas por uma série de minerais que formam amígdalas de sílica,
carbonatos, fluorita, além de minerais do grupo das zeólitas. Os derrames são maciços ou muito
fraturados, sendo comuns os mais delgados ricos em disjunções colunares.
Além das lavas afaníticas (basaltos), os diques e soleiras de diabásio e mais raramente de
gabros, também são atribuídos à Formação Serra Geral. Estes cortam todas as unidades pré-
jurássicas da Bacia do Paraná e ocorrem inclusive nas áreas de embasamento da bacia. Em parte
podem ser considerados como os sistemas alimentadores do vulcanismo.
O conjunto de dezenas de derrames individuais alcança uma espessura máxima de até 2.500
metros. Em Goiás, esta espessura raramente supera 200 metros. Em virtude de se tratar de borda de
Bacia, a maior parte da seção de basaltos já foi erodida, o que é extremamente facilitado por se
tratar de um conjunto litológico muito susceptível ao intemperismo químico.
Os basaltos foram datados por meios radiométricos (principalmente pelos métodos K-Ar e
Rb-Sr) apresentando idades entre 140 e 120 milhões de anos. Segundo Turner et al. (1997), o pico
do magmatismo na Formação Serra Geral está entre 137 e 126 milhões de anos.
Grupo Bauru (Neocretáceo): é caracterizado por conglomerados, arenitos, siltitos, argilitos,
destacando-se os sedimentos arenosos de clima árido. Em algumas áreas, ocorrem depósitos
conglomeráticos e lentes de calcários (Petri & Fúlfaro, 1983). Soares et al., (1980), redefiniram as
litofácies deste grupo, composto pelas formações Marília, Caiuá, Adamantina e Santo Anastácio.
Em Goiás, observam-se apenas rochas associadas às formações Marília e Adamantina.
A deposição destes sedimentos deu-se durante o Neocretáceo, com a cobertura sedimentar
suprabasáltica sendo de idade entre 88,5 e 65 Ma, levando-se em consideração correlações feitas
entre as deposições do Grupo Bauru e da Formação Caiuá.

2.15. BACIA SANFRANCISCANA


A Bacia Sanfranciscana corresponde à cobertura fanerozóica do Cráton São Francisco,
possui forma alongada distribuída desde Minas Gerais até o sul do Piauí. Apresenta evolução a
Hidrogeologia do Estado de Goiás 41
partir do Neopaleozóico e tem distribuição mais ampla nos estados de Minas Gerais e Bahia. No
estado de Goiás, apresenta exposições apenas no extremo nordeste, junto à Serra Geral de Goiás e
pequenos afloramentos sobre as rochas do Grupo Bambuí, distribuídos em paleodepressões.
A estratigrafia da bacia é apresentada de forma sintética na Figura 2.9 e inclui os grupos
Santa Fé, Areado, Mata da Corda e Urucuia e a Formação Chapadão. O Grupo Mata da Corda está
ausente no estado de Goiás e, portanto, não será detalhado.
Grupo Santa Fé (Permocarbonífero): é composto pelas formações Floresta e Tabuleiro. A
Formação Floresta é integrada pelos membros Brocotó, Lavado e Brejo do Arroz (Campos &
Dardenne, 1994). Este conjunto de origem glaciogênica representa os registros da glaciação
gondwânica neopaleozóica. Estes sedimentos são preservados em vales escavados no embasamento,
com exposições descontínuas por toda a extensão da bacia. Os sistemas deposicionais presentes são
relacionados à zona sub-glacial além de depósitos pró-glaciais com fácies fluvio-glacial, glacio-
lacustre e periglacial eólico (Campos & Dardenne, 1994).
Grupo Areado (Eocretáceo): é constituído pelas formações Abaeté, Quiricó e Três Barras
(Barbosa, 1965 e Barbosa et al., 1970). A Formação Abaeté foi depositada por sistemas de leques
aluviais (na porção sul da Sub-Bacia Abaeté) e por sistemas de rios entrelaçados (nas demais áreas
da bacia), compondo um conjunto de conglomerados matriz ou clasto-suportados, além de arenitos.
A Formação Quiricó registra uma sedimentação lacustre, localmente caracterizada por lagos
estratificados (na porção sul da Bacia Abaeté), com arenitos, siltitos, folhelhos e calcários
subordinados. A Formação Três Barras representa depósitos de ambientes fluviais, fluviodeltáicos e
eólicos, dominados por arenitos amarelos e rosados heterogêneos. Estes sedimentos ocorrem de
forma descontínua ao longo do sopé da Serra Geral de Goiás em paleodepressões.
Grupo Urucuia (Neocretáceo): é dividido nas formações Posse e Serra das Araras (Campos
& Dardenne, 1999). Esta unidade é amplamente dominada por arenitos de origem eólica, além de
arenitos, conglomerados e pelitos fluviais. Não há registros fósseis associados ao Grupo Urucuia, e
seu posicionamento cronoestratigráfico foi baseado na interdigitação deste conjunto com as rochas
piroclásticas e epiclásticas do Grupo Mata da Corda, as quais foram datadas por métodos
radiogênicos em 60 Ma (Campos, 1996; Hasui & Almeida, 1970).
Formação Chapadão (Cenozóico): representa as coberturas arenosas inconsolidadas
recentes, de caráter eluvio-coluvionar e aluvionar, em geral desestruturadas e com espessuras que
variam de alguns centímetros até mais de 50 metros. Em Goiás, esta unidade é representada pelas
amplas coberturas coluvionares arenosas que se distribuem ao longo do sopé da Serra Geral de
Goiás (Campos & Dardenne, 1997a).

42 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 2.9 – Carta estratigráfica da Bacia Sanfranciscana. Notar os amplos períodos erosivos que marcam a
discordância entre as principais sucessões, modificado de Campos e Dardenne (1997a).

2.16. ROCHAS ALCALINAS


Em Goiás, as rochas alcalinas ocorrem na forma de sedimentos epiclásticos, vulcânicas
piroclásticas e intrusões de natureza carbonatítica, alcalina e kimberlitóide (magmatismo de
composição ultrapotássica com feições similares a kimberlitos). As ocorrências mais importantes
são distribuídas no sudoeste do estado, desde Rio Verde a Iporá e na região de Catalão-Ouvidor
(Gaspar, 1977; Baecker, 1983; Danni et al., 1991).
Na região sudoeste há exemplos de rochas alcalinas potássicas com vulcânicas em Santo
Antônio da Barra, bem como câmaras magmáticas diferenciadas nas proximidades de Iporá,
indicando que a atual superfície de aplainamento expõe progressivamente, de sul para norte,
porções crustais mais profundas. Nesta região ocorrem dunitos, sienitos (ricos em feldspatóides),
gabros alcalinos, analcimitos e uma vasta gama de rochas potássicas.
Associado ao Grupo Bauru ocorrem rochas conglomeráticas de natureza epiclástica
formadas pela denudação de estruturas vulcânicas e erosão de rochas alcalinas.
Na região de Catalão ocorrem os complexos carbonatíticos de Catalão I e II. Em virtude do
grande número de mineralizações presentes o Complexo de Catalão I apresenta interesse particular.
É representado por um corpo semi-circular com cerca de 30 km2, intrudido em xistos e quartzitos do
Grupo Araxá. Os tipos petrográficos mais importantes são: magnetititos, dunitos, clinopiroxenitos,

Hidrogeologia do Estado de Goiás 43


foscoritos, glimeritos, brechas magmáticas, além de uma infinidade de rochas metassomatizadas,
com flogopita, calcita, dolomita, apatita, barita, nefelina, pirocloro e outros minerais secundários.

2.17. COBERTURAS CENOZÓICAS


Na denominação de Coberturas Cenozóicas são discriminados os aluviões/paleoterraços do
Rio Araguaia descritos como Formação Araguaia e a cobertura da Bacia do Paraná denominada de
Formação Cachoeirinha.
Formação Araguaia: a designação de Formação Araguaia foi proposta por Barbosa (1965)
como referência às coberturas Cenozóicas dominantemente arenosas presentes em todo o vale do
Rio Araguaia. Como é formada por materiais geológicos com características petrográficas distintas
das tradicionais unidades geológicas, suas exposições são observadas em voçorocas, cortes de
estradas e vales de drenagens ao longo de toda a extensão da bacia.
Esta unidade é associada à planície de inundação do Rio Araguaia e tributários de grande
porte. É caracterizada por depósitos resultantes do retrabalhamento fluvial recente de materiais
detríticos diversos.
De maneira geral são representadas por sedimentos inconsolidados com cascalhos, areias e
argilas/silte relacionados ao transporte e deposição pelo Rio Araguaia compondo os aluviões e
terraços. A sucessão é composta por lentes, pacotes lenticulares maciços internamente ou
preservando estratificações cruzadas e canais erosivos. Os cascalhos ocupam as porções basais e são
constituídos por seixos de quartzitos e de outras rochas do embasamento local. Apresentam
espessuras variáveis, alcançando mais de 40 metros.
Os cascalhos apresentam granulometria desde fina a grossa, com seixos, blocos e calhaus de
quartzitos maciços ou micáceos. Os clastos são arredondados e achatados (oblatos) com diâmetro
maior podendo alcançar 40 centímetros. Os cascalhos ocorrem nas faixas marginais ao leito atual do
rio e provavelmente no fundo de seu leito atual. Estruturas sedimentares como imbricamento de
seixos e acamamento paralelo são observadas.
Tanto os cascalhos grossos como aqueles mais finos são clasto-suportados, sendo que a
matriz infiltrada é representada por areias mal selecionadas e menor proporção de lamas.
As areias ocorrem como camadas entremeadas aos cascalhos e em geral em posição
intermediárias dentro do conjunto. Observam-se níveis de areias finas a grossas em geral, com
aspecto lavado e ricas em micas detríticas finas.
O material lamoso ocorre sempre em misturas de areias, silte e argila associadas à matéria
orgânica pouco decomposta representada por restos vegetais. As lamas apresentam acamamento
horizontal e ocupam as áreas marginais ao leito atual, uma vez que representam os depósitos de
planície de inundação, sedimentados nos períodos de enchentes quando as águas saem da calha
principal do rio.

44 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Formação Cachoeirinha: recobre amplas áreas da Bacia do Paraná e compõe um relevo
plano a suave ondulado, com baixa densidade de drenagem, em geral em cotas elevadas onde a
pedogênese supera a erosão e transporte no balanço geodinâmico.
É representada por materiais areno-argilosos não litificados formados a partir do relevo
gerado por movimentação neotectônica, pela própria evolução geomorfológica e por processos
pedogenéticos. Tem caráter coluvionar ou eluvionar e incluem sedimentos provenientes da
denudação de arenitos do Grupo Bauru e de basaltos da Formação Serra Geral.
A componente arenosa é predominante, principalmente quando a contribuição dos arenitos
do Grupo Bauru é mais significativa. Nas situações onde o intemperismo sobre os basaltos da
Formação Serra Geral é considerável, esta unidade se torna mais argilosa.
Segundo Pena & Figueiredo (1972) a Formação Cachoeirinha apresenta espessuras da
ordem de 20 a 30 metros, podendo alcançar até 70 metros.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 45


46 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO III
GEOMORFOLOGIA

3.1. INTRODUÇÃO
Um dos aspectos mais relevantes quando se avalia a aplicação da compartimentação
geomorfológica para estudos hidrogeológicos é o funcionamento hídrico de cada unidade de relevo.
Mais especificamente como cada unidade geomorfológica homogênea funciona com relação à
recarga e descarga dos aqüíferos sotopostos.
O presente texto busca subsidiar as questões de como os diversos compartimentos
geomorfológicos controlam as condições de circulação das águas subterrâneas e influenciam nas
condições de recarga e descarga dos aqüíferos. Os dados primários foram compilados de Latrubesse
(2005) e posteriormente adaptados para a elaboração deste trabalho.
Assim, as questões relativas ao padrão de relevo, densidade de drenagem, comprimento das
rampas, hipsometria, assimetria dos vales, tipos de coberturas de regolitos e demais aspectos
geomorfológicos foram organizados de forma a evidenciar o controle dos compartimentos de relevo
como condicionantes do potencial dos aqüíferos.
De forma geral a recarga é inversamente proporcional ao aumento do grau de dissecação e
diretamente proporcional a hipsometria. Como resultado pode-se afirmar que área de dissecação
muito fraca compõe as melhores zonas de recarga e áreas com dissecação muito forte compõem
regiões com baixa potencialidade de recarga.
As áreas mais elevadas também favorecem a recarga, uma vez que apresentam maior
gradiente e em geral maior carga hidráulica em aqüíferos regionais que favorecem as condições de
infiltração e transferência das águas de precipitação para zonas mais profundas dos aqüíferos.

3.2. METODOLOGIA E BASES CONCEITUAIS


Um Sistema Geomorfológico tem uma estrutura interna definível caracterizada por suas
variáveis de estado, tais como tipo de rocha, pendente regional e estruturas, e se relacionam e
modificam por processos considerados de variáveis de transformação, como erosão, transporte,
sedimentação, intemperismo, oscilação de nível freático, entre outras, (Latrubesse, 2005).
Para o estado de Goiás e Distrito Federal, Latrubesse (2005) aplicou uma classificação do
tipo genética, organizada em vários níveis, sendo observadas as categorias de Sistemas
Denudacionais e as de Sistemas Agradacionais, onde cada um destes sistemas pode envolver tanto
processos de agradação como de denudação, contudo o critério de classificação foi determinado
pela dominância das geoformas: erosivas (denudacionais) ou deposicionais (agradacionais). A
quase totalidade da área de estudo (97%) insere-se em Sistemas Denudacionais, enquanto uma
pequena parte em Sistemas Agradacionais (2%) ou são recobertos por massas d’água (1%).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 47


Várias etapas de campo foram realizadas e informações de diversos projetos de pesquisa
auxiliaram na realização do trabalho e permitiram a obtenção de dados geomorfológicos
complementares fundamentais para análise e associação com os recursos hídricos subterrâneos.

3.3. SISTEMAS DENUDACIONAIS


Os resultados do trabalho de cartografia com base nas premissas metodológicas apresentadas
são detalhados conforme a compartimentação proposta e com referências em relação ao
comportamento e controle dos sistemas aqüíferos.
Os Sistemas Denudacionais são aqueles onde predominam os processos erosivos.
Subdividem-se em Sistemas Denudacionais com fraco ou imperceptível controle estrutural e com
forte ou marcante controle estrutural, podendo, ainda ser divididos em Sistemas Denudacionais de
dissecação, onde predomina erosão linear, ou de aplainamento, com predomínio de erosão laminar
(Latrubesse, 2005).
Os Sistemas Denudacionais de Aplainamento têm caracterização genética de grandes
superfícies de aplainamento, particularmente nas regiões tropicais. As Superfícies de Aplainamento
que caracterizam a área de estudo receberam a denominação de Superfícies Regionais de
Aplainamento – SRAs.
Os Sistemas Denudacionais de Dissecação são associados às grandes áreas de relevo
movimentado, em escarpas de erosão, podendo estar relacionados a redes de drenagem que evoluem
por processos erosivos, dissecando as SRAs. Estas áreas de transição foram denominadas de Zonas
de Erosão Recuante – ZER. O processo erosivo sobre as SRAs pode também expor outras
geoformas, tais como: Morros e Colinas (MC), Estruturas Dobradas (ED), Estruturas de Blocos
Falhados (BF), entre outros.

3.3.1. Superfícies Regionais de Aplainamento – SRA


As Superfícies Regionais de Aplainamento são as unidades mais representativas da
geomorfologia do estado de Goiás e Distrito Federal. A aplicação da categoria SRA permite inferir
que se trata de uma unidade denudacional, gerada pelo arrasamento/aplainamento de uma superfície
de terreno dentro de determinado intervalo de cotas e que este aplainamento se deu de forma
relativamente independente dos controles geológicos regionais (litologias e estruturas).
Latrubesse (2005) reconheceu as seguintes superfícies de aplainamento, em distintas cotas:

SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO I – SRA I


Desenvolve-se acima das cotas de 1.250 até 1.600 metros com agrupamentos de morros
(inselbergs), que atingem até 1.600 metros de altura, e está representada na Chapada dos Veadeiros
(Figura 3.1) ocupando uma área de 3.018 km2.

48 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Esta superfície corresponde à Superfície de Aplainamento Pré-Gondwânica (pré-Cretáceo)
de King (1956). É formada principalmente por litologias pertencentes aos metassedimentos do
Grupo Araí.
Apesar das cotas elevadas a recarga neste compartimento é limitada pela predominância de
Neossolos Litólicos e Cambissolos como os tipos de coberturas predominantes. Nos locais onde
ocorrem Neossolos Quartzarênicos e sobre as restritas manchas de solos mais espessos (Latossolos
e Nitossolos) as condições de recarga são favorecidas. Os diferentes tipos de coberturas de solos são
responsáveis pelo comportamento contrastante das drenagens superficiais, que são intermitentes na
maior parte da área e, apresentam alta vazão e perenidade nas porções drenadas dos solos mais
espessos.

Figura 3.1 – SRA-IVA, representada localmente pelo Vão do Rio Claro (em primeiro plano) em transição abrupta para
a SRA IA, representada pela Chapada dos Veadeiros (em segundo plano).

SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO II – SRA II


Estende-se entre as cotas 900 e 1.250 metros e foi subdividida em duas sub-unidades: SRA-
IIA, desenvolvida com maior abrangência sobre rochas pré-cambrianas e SRA-IIB-RT sobre as
rochas sedimentares da Bacia do Paraná.
A SRA-IIA está bem representada nas formações proterozóicas menos resistentes compostas
por ardósias, calcários, dolomitos, entre outras, dos grupos Paranoá, Bambuí e Canastra,
estendendo-se desde Nova Roma até as proximidades de Caldas Novas, e em uma estreita faixa na
borda oeste do estado de Goiás (sobre rochas arenosas da Bacia do Paraná), bem como em pequenas
áreas localizadas sobre a Serra Geral de Goiás (arenitos do Grupo Urucuia), ocupando uma área
total de 43.414 km² (Figura 3.2).
Tanto a noroeste quanto a sul-sudoeste de Brasília, a SRA-IIA está fortemente erodida,
sendo representada cartograficamente como Zona de Erosão Recuante – ZER.
Por se tratarem de amplas superfícies com cotas altas a moderadas, com padrão de relevo
suave ondulado, baixa densidade de drenagens e com predominância de Latossolos como cobertura
pedológica, a recarga dos sistemas aqüíferos fraturados é muito eficiente, o que resulta em vazões
médias da ordem de 8m3/h nestes sistemas. Sobre esta superfície de relevo, há a possibilidade de

Hidrogeologia do Estado de Goiás 49


desenvolvimento de sistemas de fluxo regionais, uma vez que o gradiente de relevo com os
compartimentos adjacentes (ZER) é considerável.
A SRA-IIB-RT localiza-se principalmente na região sudoeste de Goiás na Bacia Sedimentar
do Paraná ocupando uma área de 23.074 km2 e se manifesta na forma de chapadões tabuliformes
gerados sobre rochas sedimentares principalmente mesozóicas com acamamento sub-horizontal.
Esta superfície erode mais de uma unidade litoestratigráfica, demonstrando o seu caráter erosivo.

Figura 3.2 – Aspecto geomorfológico regional, na região de São Domingos (GO), mostrando, em primeiro plano, a
ZER, que erode, com forte dissecação, a SRA-IIA (localmente, representada pela Serra Geral de Goiás, em segundo
plano) e forma a SRA-IVA, representada, localmente, pelo Vão do Paranã.

Os relevos estruturais dos estratos sub-horizontais ressaltam o caráter tabuliforme dos


residuais erosivos da SRA-IIB. O estilo estrutural é considerado um atributo da unidade, associado
a Relevos Tabuliformes – RT em Estratos Horizontais a Sub-Horizontais – EH.
Este compartimento é constituído de relevos planos, rampas longas, cotas altas a
intermediárias, solos espessos e arenosos, baixas declividades, baixa densidade de drenagens e de
forma geral baixa dissecação, compondo as melhores condições regionais de recarga de aqüíferos
de toda a área estudada. A geologia a qual está associada é outro fator que favorece a recarga
regional, uma vez que é representada por rochas arenosas da Formação Botucatu e do Grupo Bauru.

SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO III – SRA III


Encontra-se de forma geral entre as cotas de 550 e 850 metros. Esta unidade foi subdividida
em: SRA-IIIA - desenvolvida sobre rochas pré-cambrianas (Figura 3.3) e SRA-IIIB-RT em rochas
da Bacia da Paraná, principalmente rochas basálticas da Formação Serra Geral.
A SRA-IIIA ocorre em uma faixa de direção SW-NE na porção central do estado de Goiás,
entre Goiânia e Uruaçu, e borda NW da Bacia do Paraná (região de Piranhas) associadas aos
arenitos das formações Ponta Grossa e Furnas. Penetram como reentrâncias erosivas dentro da
SRA-II, produzindo escarpas que atingem centenas de metros de altura, ocupando uma área de
33.467 km2, entre as cotas de 550 a 850 metros.

50 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 3.3 – Vista geral da SRA-IIIA, localmente representada na região de Goiânia.

A SRA-IIIA ocorre em uma faixa de direção SW-NE na porção central do estado de Goiás,
entre Goiânia e Uruaçu, e borda NW da Bacia do Paraná (região de Piranhas) associadas aos
arenitos das formações Ponta Grossa e Furnas. Penetram como reentrâncias erosivas dentro da
SRA-II, produzindo escarpas que atingem várias centenas de metros de altura e ocupando uma área
de 33.467 km2, entre as cotas de 550 a 850 metros.
Do ponto de vista de recarga e circulação de água subterrânea este compartimento apresenta-
se de duas formas: na região de ambiente de rift continental representada pelo Grupo Araí, ocorrem
sistemas de fluxos locais, pois o relevo mais dissecado resulta na dispersão do fluxo superficial e
subterrâneo e, neste caso, a recarga é pouco eficiente.
Na região sudoeste (sobre as rochas areníticas da Bacia do Paraná) as condições de recarga
são boas a muito boas, pois o relevo é menos dissecado, as rampas mais longas, os solos têm maior
condutividade hidráulica e o próprio substrato rochoso é mais favorável à infiltração. Assim, é
possível observar condições de fluxo hidrogeológico regional.
A SRA-IIIB-RT ocorre na região sudoeste de Goiás e desenvolve-se principalmente sobre
basaltos da Formação Serra Geral. Possui caimento no sentido leste e sul até o encontro com a
SRA-IVB e ocupa uma área de 28.303 km2, dentro de um intervalo de cotas de 550 a 750 metros.
Apresenta uma distribuição irregular e relaciona-se com as ZERs que as estão erodindo.
Por ocorrer sobre relevo suave ondulado e ser bordejado por outras SRAs, este
compartimento apresenta excelentes condições de recarga e circulação das águas de infiltração,
mesmo sendo, na maior parte, desenvolvida sobre basaltos da Formação Serra Geral e áreas com
contribuição de areias residuais do Grupo Bauru, o que amplia a condutividade hidráulica e a
porosidade efetiva, culminando em uma sensível melhora das condições de recarga.

SUPERFÍCIE REGIONAL DE APLAINAMENTO IV – SRA IV


A SRA-IV compreende a região topográfica mais baixa da área de estudo e se situa entre as
cotas de 250 e 550 metros, sendo constituída de três compartimentos posicionados nas regiões leste,
oeste e centro-sul do estado, denominados: SRA-IVA; SRA-IVB; SRA-IVC1 e SRA-IVC2.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 51


A SRA-IVA é uma área aplainada situada entre as cotas 400-500 metros, ocupando 36.279
km2 e ocorre no Vão do Paranã (Figura 3.4), sobre rochas anquimetamórficas do Grupo Bambuí,
pouco resistentes à erosão. Esta superfície ocorre ainda no eixo Porangatu – Crixás, sobre rochas do
Arco Magmático de Mara Rosa e porção norte do Greenstone Belt de Crixás.
No Vão do Paranã a SRA-IVA exibe extensa Cobertura Detrito-Laterítica, na forma de
crostas ferruginosas e sedimentos friáveis, silte-argilosos e silte-argilo-arenosos, freqüentemente
incluindo pequenos fragmentos de plintitas degradadas. Esta paisagem é interrompida por colinas
alongadas, que podem atingir cerca de 1.000 metros de altitude, embora a maior parte do relevo
oscile entre 700-800 metros ou menos. Estas colinas são sustentadas por calcários, dolomitos e
folhelhos pertencentes às unidades pelito-carbonatada-arcoseana, do Grupo Bambuí (formações
Sete Lagoas, Serra de Santa Helena e Três Marias).

Figura 3.4 – Vista panorâmica do Vão do Paranã (SRA-IVA). Foto tirada a partir da rampa de salto de vôo livre,
próximo ao Distrito de São Gabriel, localmente representando a SRA-IIA. Observa-se a ZER na transição entre as duas
superfícies.

Ao norte, a SRA-IVA se desenvolve relacionada ao escarpamento de grandes serras, como


Pedra Branca, Boqueirão e Chapada dos Veadeiros, com a presença de superfícies de pedimentação
que se articulam com o relevo plano da Superfície Regional de Aplainamento já evoluída. Lagoas e
formas cársticas ocorrem associadas a esta unidade.
As condições de recarga são desfavoráveis em virtude, principalmente, da predominância de
solos rasos a pouco profundos e da restrita condutividade hidráulica das coberturas presentes na
maior parte deste compartimento geomorfológico. O substrato pouco permeável também é um fator
negativo com relação à recarga. A natureza dos substratos rochosos pouco fraturados ou com
fraturamento pouco aberto é outro condicionante que resulta na limitação das condições de
circulação dos aqüíferos neste compartimento.
Por fim, o controle orográfico da distribuição das chuvas, que faz com que ocorram
anomalias negativas nesta área, também é desfavorável à recarga, pois estes terrenos localizam-se
em depressões ladeadas por amplas serras e outras formas de relevo tabuliformes elevados.
A SRA-IVB ocupa uma área de 16.508 km2 e localiza-se no centro-sul de Goiás, entre as
cotas 400 e 550 metros, cortando os basaltos da Formação Serra Geral e rochas do embasamento
cristalino. Caracteriza-se por apresentar um relevo pouco dissecado com a presença de lagos de
formas arredondadas (Sistemas Lacustres), e coberturas lateríticas bem conservadas, com até dois

52 Hidrogeologia do Estado de Goiás


metros de espessura. Este compartimento acompanha, em grande parte, o baixo curso dos rios Meia
Ponte e dos Bois. Aparentemente, trata-se de uma zona deprimida sob condicionantes
neotectônicas, bem evidenciado pela grande concentração de lagoas de origem não cárstica.
O controle tectônico resulta na conformação de uma região desfavorável à recarga, com
condições mais típicas de zonas de exutórios (zonas de descarga). Condições de recarga mais
eficientes podem ser desenvolvidas nas faixas onde existem terrenos menos dissecados, com
padrões de relevo suave ondulado e solos espessos.
A SRA-IVC está representada a noroeste de Goiás, associada a áreas de influência da bacia
hidrográfica do médio curso do Rio Araguaia. Possui área de 47.292 km2 e cotas entre 250 e 450
metros, relevo bem desenvolvido e é subdividido em dois subsistemas: o subsistema SRA-IVC1
possui uma morfologia mais acidentada e encontra-se numa posição mais proximal em relação às
superfícies que erode (SRA-II, MC, SRA-III). O subsistema SRA-IVC2 é mais distal, e apresenta
um menor índice de dissecação, associado com os lagos da planície fluvial do Rio Araguaia.
Localmente, identifica-se que o embasamento cristalino está sotoposto por uma cobertura
Detrito-Laterítica, composta por aluvião em trânsito da superfície de erosão que sofreu uma forte
laterização na forma de uma duricrosta1 ferruginosa. A degradação dos horizontes de petroplintita
pode facilitar a formação de lagos arredondados sobre este subsistema.
Apesar de ocorrer em relevo pouco dissecado e suave ondulado, as condições de recarga dos
aqüíferos deste compartimento são pouco eficientes. Este quadro decorre da presença constante dos
horizontes plínticos/petroplínticos que ocorrem em diferentes profundidades dos perfis de alteração.
Quando próximas à superfície, as duricrostas ampliam o escoamento superficial e quando em
profundidade, estes horizontes ampliam o fluxo interno. O resultado é o aumento do fluxo
superficial total (run off) em detrimento da recarga efetiva dos aqüíferos.
Nas áreas onde ocorre a maior densidade de lagos a recarga é mínima. Este compartimento
geomorfológico funciona como área de exutório que alimenta a rede de drenagem superficial. A
tabela 3.1 apresenta as características gerais das SRAs.

3.3.2. Zonas de Erosão Recuante – ZER


As Superfícies Regionais de Aplainamento encontram-se escalonadas em distintas cotas e
estão geralmente delimitadas por escarpas de erosão, denominadas de Zonas de Erosão Recuante
(ZERs), que ocupam, em toda a área do estado, 66.705 km2. Outras vezes, grandes engolfamentos
marcam a erosão das unidades antigas desde um nível de base inferior (local ou regional), podendo
estar associadas a redes de drenagem que evoluem por erosão recuante dissecando as superfícies de
aplainamento e gerando outras SRAs (Figura 3.2). Estas áreas, identificadas como ZERs,
freqüentemente passam para SRAs, que atuam como nível de base local. Por exemplo, no eixo de

1
Crosta dura da camada do horizonte superior do solo, desenvolvido em clima semi-árido.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 53


Mineiros/Jataí, a ZER que dá origem a SRA-IIIB-RT erode fortemente, e de forma recuante, a
SRA-IIB-RT, sendo denominada ZER-SRA-IIIB/IIB-RT.

Sub- Cotas Característica Unidades Localização mais


SRA
sistemas (m) Geral Associadas Representativa
Superfície mais antiga, mesozóica,
1250- desenvolvida sobre metassedimentos. Chapada dos Veadeiros.
4SRA-I
1600 Antigos níveis de laterita quase Folha: SD.23-V-C
totalmente desmantelados
Muito bem desenvolvida e em alguns
Setor central e centro-sul
setores bem preservada. Espalha-se
~900- de Goiás
SRA-II A sobre diversas unidades de
1250 Folhas: SD.23-Y-A,
embasamento e se apresenta com
SD.23-Y-C e SE.22-X-B
diversos graus de dissecação.
Relevos
Sudoeste de Goiás.
tabulares gerados
900- Desenvolvida nas rochas Folhas: SE.22-Z-B,
SRA-II B - RT sobre camadas
1000 sedimentares da Bacia do Paraná. SE.22-Y-A, SE.22–V-C e
de rochas
SE.22-V-D
horizontalizadas
Desenvolvida sobre diversas
unidades do embasamento cristalino.
Centro do estado.
550- Localmente mostra transição para a
SRA-III A Folhas: SD.22-Z-B e
850 SRA-IV-A. Menos desenvolvida que
SD.22-Z-C
a SRA-II-A e com relevo mais
irregular.
Relevos
tabuliformes Sudoeste de Goiás.
550- Formada principalmente sobre os
SRA-III B - RT associados a Folhas: SE.22-Y-B,
750 basaltos da Formação Serra Geral.
basaltos e rochas SE.22-Y-D e SE.22-Z-C
sedimentares
Sistemas
Desenvolvida sobre grande variedade
lacustres e Vão do Paranã e norte de
de rochas do embasamento com
500- cársticos quando Goiás. Folhas:
SRA-IV A geração de relevos muito aplanados.
400 desenvolvidos SD.23-Y-A, SD.23-V-A e
Níveis de lateritas, bem
sobre rochas do SE.22-X-B
desenvolvidos.
Bambuí.
Rochas do embasamento e basaltos Centro-sul de Goiás.
500- Sistemas
SRA-IV B da Formação Serra Geral, geração de Folhas SE.22-Z-A e
550 lacustres
relevos muito aplainados. SE.22-X-C
Oeste de Goiás
250- Rochas pré-cambrianas com níveis SD.22-Z-A, SD.22-Z-C,
SRA-IV C1 Morros e Colinas
400 de lateritas bem desenvolvidos SE.22-V-A, SD.22-Y-B e
SD.22-Y-D
Rochas do pré-cambriano com Oeste de Goiás.
250- geração de relevos muito aplainados. Sistemas Folhas: SD.22-Z-A,
SRA-IV C2
400 Níveis de lateritas bem lacustres SD.22-Z-C, SE.22-V-A,
desenvolvidos. SD.22-Y-B e SD.22-Y-D
Tabela 3.1 – Características gerais das Superfícies Regionais de Aplainamento.

O grau de desenvolvimento das ZERs varia em função das características da superfície que
está sendo erodida.
Quando a ZER está associada a grandes bacias de drenagem, pode se estender por amplas
áreas e com recuos significativos, por outro lado, pode estar limitada às frentes/escarpamentos de
chapadões, inclusive com presença de detritos de taludes. À medida que uma ZER evolui, uma
paisagem de morros e colinas pode se encontrar associada, iniciando um estágio evolutivo ainda
incipiente para a geração de uma SRA situada numa cota inferior.

54 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Por serem recobertas em grande parte por Cambissolos e Neossolos Litólicos e por
apresentarem um padrão de relevo ondulado a forte ondulado, este compartimento apresenta baixo
potencial de recarga. Na prática, a recarga dos sistemas aqüíferos fraturados presentes neste
compartimento se processa nas áreas de aplainamento regionais adjacentes mais elevadas.

3.3.3. Morros e Colinas – MC


À medida que a ZER avança e o recuo das vertentes evolui, colinas e morros podem ser
identificados de forma mais desconexa da frente das escarpas (ZER). O compartimento Morros e
Colinas (MC) se destaca sobre uma superfície de extensão regional situada em uma cota inferior
(Figura 3.5).

Figura 3.5 – Região de Monte Alegre de Goiás, Vista geral da SRA-IVA (em primeiro plano), com feições de Morros e
Colinas ao fundo.

As áreas constituídas por colinas e morros são remanescentes de litologias resistentes à


erosão que foram preservadas à medida que uma SRA evolui com tendência recuante e, muitas
vezes, com forte controle estrutural. Em Goiás podem ser identificados compartimentos de morros e
colinas típicos (serranias), como exemplificado no eixo Crixás – Goiás. Em outras situações,
associações menores de colinas e morros formam típicos inselbergs que se destacam sobre as
superfícies aplainadas circundantes.
A recarga pode ser considerada como de baixo potencial, pois o modelado típico deste
compartimento, com relevo forte ondulado a escarpado, favorece o escoamento superficial em
detrimento da infiltração. Os solos rasos (Neossolos Litólicos e Cambissolos) comumente presentes,
também são pouco eficientes na função de retenção de águas de precipitação.
Nos platôs intermontanos ocorrem condições locais mais favoráveis à recarga, em geral em
vales elevados, onde as declividades são menores, os solos mais espessos e a cobertura vegetal é
mais bem preservada.

3.3.4. Estruturas Dobradas – ED


A tectônica de dobramento afeta diversos grupos de rochas pré-cambrianas. As geoformas
mais características são as associações de morros e colinas formando hogbacks (estrutura inclinada

Hidrogeologia do Estado de Goiás 55


semelhante a uma cuesta, na qual o mergulho é superior a 30º) e cristas estruturais principalmente
nas regiões do Vão do Paranã (sobre as rochas do Grupo Paranoá), do Arco Magmático de Mara
Rosa (no norte do estado) e do Grupo Araxá (na região centro-sul). No caso do Vão do Paranã as
colinas na forma de hogbacks podem atingir cotas de 500 a 600 metros, acima da cota média da
SRA-IVA circundante.

Figura 3.6 – Vista geral de geoformas de Hogback, na região de Nova Roma.

Outras estruturas de destaque são os braquianticlinais (BQ) da Serra da Mesa, Serra


Dourada, Serra Branca e Serra do Encosto. Embora a feição dominante seja a de uma estrutura
braquianticlinal com rochas dobradas, os domos teriam sido gerados por intrusões plutônicas que
formam o núcleo destas estruturas. Assim, conjuntamente classificados como Corpos Intrusivos.
O padrão de relevo movimentado, aliado a solos pouco espessos, favorecem o run off e
desqualificam este compartimento como potencial de recarga.

3.3.5. Estruturas de Blocos Falhados – BF


A área do estado de Goiás é constituída em sua maior parte por rochas proterozóicas que
foram submetidas a intensos processos tectônicos rígidos gerando estruturas, como fraturas e falhas.
Este compartimento geomorfológico caracteriza-se pela presença de uma rede de drenagem
centrífuga (radial), bem representada pelo Domo de Cristalina.
Neste caso a recarga é muito eficiente, beneficiada pelo padrão de relevo plano e elevado
com cota superior a 1.200 metros, presença de solos profundos, aliada a altos índices
pluviométricos, e a infiltração é ainda potencializada pela presença de sistema de falhas/fraturas.

3.3.6. Sistemas Cársticos


Os Sistemas Cársticos, ainda que não tenham sido cartografados por Latrubesse (2005),
devido à escala do trabalho, encontram-se presentes no estado de Goiás e são extremamente
importantes para o enfoque deste trabalho. Encontram-se principalmente associados aos sistemas
ZER e SRA-IVA, em rochas do Grupo Bambuí, além do SRA-IIIA (Figura 3.7).

56 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 3.7 – Sistema Cárstico bem representado no Parque Estadual de Terra Ronca. Vista da entrada da Gruta de Terra
Ronca, São Domingos (GO).

Condições cársticas ou físsuro-cársticas locais podem, também, ser observadas em


associação com rochas dos grupos Canastra, Paranoá, Araxá e Serra da Mesa.
São bem representados na região dos municípios de São Domingos, Posse, Campos Belos,
Colinas do Sul, Corumbá de Goiás, Formosa, Luziânia, Minaçu, Nova Roma, Niquelândia, Padre
Bernardo, Sítio d'Abadia, Uruaçu, Cabeceiras (Figura 3.8) e em áreas restritas no Distrito Federal.

Figura 3.8 – Sistema Cárstico representado por morros de calcário na região de Cabeceiras (GO).

Neste compartimento geomorfológico, a recarga e circulação hídrica dos aqüíferos


apresentam um padrão característico, com alta velocidade de fluxo, grandes distâncias entre zonas
de recarga e descarga, alta vulnerabilidade à contaminação e forte sensibilidade às variações
sazonais do clima.

3.4. SISTEMAS AGRADACIONAIS


Os Sistemas Agradacionais são aqueles onde predomina o acúmulo de sedimentos.
Caracterizam-se como eólicos, glaciais, lacustres/palustres, fluviais, litorais e flúvio-gravitacionais.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 57


Em Goiás, os Sistemas Agradacionais foram subdivididos em lacustres/palustres e fluviais.
As principais geoformas identificadas são Planícies Fluviais – PF, Terraços (T) e Sistemas
Lacustres.

3.4.1. Sistemas Lacustres


Os sistemas lacustres possuem uma pequena distribuição areal, destacando-se na SRA-IVB
(Acreúna e Turvelândia) e na SRA-IVC2 (sul de Aruanã,), onde possuem níveis lateríticos bem
desenvolvidos. Os processos de degradação da laterita e o seu comportamento hidrológico
diferenciado do saprolito e da rocha fresca produzem fenômenos pseudo-cársticos por dissolução e
mobilização de detritos de granulometria fina. Em alguns locais também é possível relacionar os
sistemas de fraturas das rochas do embasamento cristalino com a evolução dos lagos. Os lagos
apresentam em geral, formas arredondadas e pequenas dimensões (algumas dezenas de metros),
podendo atingir até 150 metros. Nestas condições praticamente não existe recarga de aqüíferos.
Estas regiões representam, na prática, amplas áreas de exutórios.

3.4.2. Sistemas Fluviais


As principais categorias destes sistemas são Planície Fluvial num sentido amplo (PF)
incluindo unidades funcionais e/ou não funcionais e Faixa Aluvial atual (FA). No caso das Planícies
Fluviais funcionais destacam-se em Goiás as meandriformes (PFm) onde os meandros são
elementos geomorfológicos dominantes. Sistemas complexos e de grande porte podem ser sua
Planície Fluvial (PF) subdividida em diversas unidades. Em alguns setores do Rio Araguaia, por
exemplo, dominam as espiras de meandros (Figura 3.9) e paleomeandros (Planície Fluvial de
Espiras de Meandro – Pfem), enquanto outros setores caracterizam-se pela acresção de bancos de
areia (Planície Fluvial de Bancos Acrescidos - PFba).

Figura 3.9 – Planície Fluvial do Rio Araguaia na região de Luiz Alves, noroeste de Goiás. Geoforma representativa de
Planície Fluvial de Espiras de Meandro.

Quando existe dificuldade de escoamento de fluxo na faixa aluvial e há falta de formas


definidas, a unidade recebe o nome de Planície de Escoamento Impedido (PFei).
Da mesma forma do que foi observado nos Sistemas Lacustres, este compartimento
representa zonas de descarga dos aqüíferos e praticamente não apresenta potencial para recarga.
58 Hidrogeologia do Estado de Goiás
3.5. CONCLUSÕES
A sistematização dos aspectos geomorfológicos aplicados aos estudos hidrogeológicos é
fundamental para a definição das principais áreas de recarga, de exutórios e das condições gerais de
circulação dos aqüíferos regionais.
As macro-regiões com baixa densidade de drenagem (menor grau de dissecação) apresentam
as melhores condições de infiltração e recarga. Em terrenos com alto grau de dissecação em
condições de hipsometria elevada predominam fluxos locais e intermediários sobre os sistemas de
fluxo regionais. Geoformas classificadas como Sistemas Agradacionais representam áreas de
exutórios ou de recarga local.
As Superfícies Regionais de Aplainamento - SRAs compõem as principais áreas de recarga
regional. O potencial de infiltração é maximizado nas faixas de terrenos onde estas superfícies
apresentam grau de dissecação fraco a muito fraco. O potencial de recarga, em geral, diminui
sensivelmente nas SRAs onde as cotas são inferiores a 500 metros. Neste caso, as condições de
circulação dos aqüíferos também são prejudicadas pela freqüente presença de horizontes plínticos
e/ou petroplínticos nas coberturas regolíticas.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 59


60 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO IV
CLIMA

4.1. INTRODUÇÃO
Em estudos hidrogeológicos, a análise dos elementos climáticos é fundamental, uma vez
que, em associação com os diversos tipos de solos, rochas, relevo (geomorfologia) e vegetação, são
importantes para a infiltração, recarga dos aqüíferos e a conseqüente perenização dos cursos d’água,
de forma a manter o equilíbrio do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.
Elementos climáticos como a temperatura do ar, a precipitação pluvial, a insolação e a
evaporação, exercem grande influência na quantificação dos recursos hídricos disponíveis. Podem
ser definidos como grandezas que quantificam e qualificam o clima, ao longo dos anos. O Ciclo
Hidrológico (Figura 1.3) tem uma interrelação direta com os aspectos climáticos de uma
determinada região, pois condiciona características importantes para as águas subterrâneas com a
determinação de excedentes ou déficits hídricos.
O conhecimento destes elementos climáticos possibilita a definição de estratégias no
planejamento que minimizem os riscos oriundos das alterações nos eventos climáticos extremos,
contribuindo para o desenvolvimento da pesquisa e planejamento adequado de uma região, podendo
ser decisivo na melhoria da qualidade ambiental, uma vez que a interação entre homem e meio
ambiente passa a ser feita de modo racional.
A base de dados utilizada para a confecção do presente capítulo foi obtida do trabalho de
Silva et al. (2004), que teve como intuito exclusivo buscar subsídios para a elaboração da
Caracterização Hidrogeológica do estado de Goiás e Distrito Federal.
As informações dos elementos climáticos, com séries históricas de pelo menos 10 anos,
foram obtidas pela compilação e combinação de dados da Agência Nacional de Águas – ANA
(BRASIL, 2004), EMBRAPA e INMET (BRASIL, 1992 e 1996) e posteriormente espacializadas
utilizando o software SPRING. Para a inserção destes dados no Sistema de Informações
Geográficas do Estado de Goiás – SIG/Goiás, o Laboratório de Geoprocessamento da SGM/SIC
utilizou as tabelas com dados climáticos já consistidos por Silva et al. (2004). Os pontos foram
plotados utilizando o aplicativo ArcView.

4.2. ELEMENTOS CLIMÁTICOS


4.2.1. Precipitação
Precipitação é definida como o retorno do vapor d’água da atmosfera à superfície terrestre,
na forma de chuva, granizo, orvalho, neblina, neve ou geada.
Na área de estudo, a principal forma de precipitação é a pluvial (chuvas), medida por
instrumentos (pluviômetros e pluviógrafos) e expressa em milímetros. Uma precipitação pluvial de
01 mm corresponde a um volume de 01 litro de água numa superfície de 01 m2.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 61


Para uma melhor compreensão da evolução dos processos hidrológicos é necessária a
utilização de séries longas de dados e de alta densidade de pontos para possibilitar um melhor
entendimento sobre a distribuição espacial e temporal da precipitação pluvial de uma região.
Neste estudo foram utilizados dados de 114 estações pluviométricas (Tabela 1- Anexo 1), o
que propiciou caracterizar, para o estado de Goiás, um período chuvoso (outubro a abril) e outro
seco (maio a setembro), concorrendo para uma grande variação dos elementos climáticos. O índice
pluviométrico médio anual está em torno de 1.532 mm.
Considerando-se a média anual (Figura 4.15), a distribuição da chuva apresenta valores
entre 1.400 e 1.600 mm, destacando-se as regiões de Campinaçu, no norte, e Piracanjuba, no centro
sul, que apresentam valores médios anuais em torno de 2.000 mm.
No período chuvoso (Figura 4.13), ocorrem 95% do total de precipitação pluvial e
predominam valores médios entre 1.300 e 1.500 mm. As áreas com menores índices localizam-se
no nordeste e no sul de Goiás. De forma geral, Goiás, em média, apresenta no mês de janeiro o
maior índice pluviométrico (282,2 mm).
O período seco (Figura 4.14) é caracterizado por precipitações que, para a maior parte do
estado, não ultrapassam 100 mm. Contudo, quando se trabalha com médias de uma série histórica
de vários anos, o sudoeste goiano apresenta valores de precipitação pluviométrica que, na média
variam de 150 a 200 mm, neste período. De forma geral, Goiás, em média, apresenta no mês de
julho o menor índice pluviométrico (5,8 mm).
As figuras 4.1 a 4.12 mostram a precipitação pluvial média mensal, nas quais observa-se que
localidades situadas no nordeste do estado apresentam um menor índice pluviométrico, como é o
caso da região dos municípios de Campos Belos, Nova Roma e São Domingos. Por outro lado
destacam-se, positivamente, alguns municípios, com totais médios anuais de chuva bastante
elevados, como Arenópolis, Campinaçu, Pilar de Goiás e Piracanjuba.

Figura 4.1 - Precipitação pluvial – janeiro. Figura 4.2 - Precipitação pluvial – fevereiro.

62 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.3 - Precipitação pluvial – março. Figura 4.4 - Precipitação pluvial – abril.

Figura 4.5 - Precipitação pluvial – maio. Figura 4. 6 - Precipitação pluvial – junho.

Figura 4.7 - Precipitação pluvial – julho. Figura 4.8 - Precipitação pluvial – agosto.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 63


Figura 4.9 - Precipitação pluvial – setembro. Figura 4.10 - Precipitação pluvial – outubro.

Figura 4.11 - Precipitação pluvial – novembro. Figura 4.12 - Precipitação pluvial – dezembro.

Figura 4.13 - Precipitação pluvial - período chuvoso Figura 4.14 - Precipitação pluvial - período seco (maio
(outubro a abril). a setembro).

64 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.15 - Precipitação pluvial - média anual.

Os histogramas das estações pluviométricas representativas de cada região climática de


Goiás (Figuras 4.16 a 4.23) evidenciam que a distribuição das chuvas em todo o estado é bem
marcada pela presença de uma estação seca e uma estação chuvosa.

300
259,1

233,8
221,6
205,4
183,7
200

126,6
103,8
100 75,8
53,8

25,1
16,6
5,7
0
Jan Fev M ar Abr M ai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Meses

Figura 4.16 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Jataí (Período 1986/2002).

300 275,2

218,9
208,6 203

200 178,9

116,9
107

100

47,7
38,4
20,5
12,1
6,3

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 4.17 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Jandaia (Período 1976/2002).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 65


300 275,2

243,1
226,5 231,7
211,2

200

128,6

100,9

100

45,9
30,8
16
5,3 6,9

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 4.18 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Cristalina (Período 1978/2001).

285,3
300

242,6

217,8

185,9 183,8
200

132,8

98,8
100

47,4
28,8
7,1 6,3 12,4

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 4.19 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Planaltina de Goiás (Período 1976/2001).

400
345,7

312,8

300 265,8
245,7 244,7

200
145,7
112,5

100
50,5
19,4
3,6 3,5 7,3
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 4.20 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Estrela do Norte (Período 1976/2002).

66 Hidrogeologia do Estado de Goiás


286,7
300 275,7
263,9

229,1

200,1
200

138

93,3
100

39,8
31,5

3,9 7,9
1,4
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 4.21 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação São Miguel do Araguaia (Período 1975/2001).

300
257,2
245,9

211,1
195,6
200
155,3

114,4
89,9
100

31,9
12,4 9,0
1,0 4,6
0
Jan Fev M ar Abr M ai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
M eses

Figura 4.22 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação Nova Roma (Período 1975/2001).

300
236,0
204,3 199,2
200 164,2168,0

114,6
88,1
100

24,9
14,3
3,9 2,4 3,6
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 4.23 - Total mensal médio da precipitação (mm) para a Estação São Domingos (Período 1975/2001).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 67


4.2.2. Temperaturas Máxima e Mínima do Ar
A temperatura do ar desempenha um papel muito importante dentre os fatores que
condicionam o meio ambiente. A radiação solar é uma importante força motriz do Ciclo
Hidrológico. Parte desta radiação que incide sobre a Terra é refletida de volta para o espaço, o
restante desta energia atinge a superfície e é responsável, também, pelo aquecimento do ar. A
temperatura do ar pode ser definida em termos de movimento das moléculas de ar, que serão tanto
mais agitadas quanto mais elevada for a temperatura. Para medir a temperatura do ar são utilizados
termômetros sendo que, para esta caracterização, foram utilizadas 34 estações de coleta dos
elementos climáticos: temperatura máxima e mínima do ar (Tabela 2 – Anexo 1).
As figuras 4.24 a 4.38, mostram de forma espacializada o comportamento da média mensal
das temperaturas máximas do ar para todo o Estado de Goiás. Verifica-se que os meses de agosto e
setembro apresentam maiores índices térmicos, alcançando valores médios máximos em torno de
34°C, principalmente no noroeste do estado.
Por outro lado, as Figuras de 4.39 a 4.50 mostram que as médias mensais das temperaturas
mínimas do ar indicam que os meses de junho e julho são os mais frios, com valores em torno de
12°C, no sudeste e sudoeste goiano.
O comportamento da média anual (Figura 4.51), média do período chuvoso (Figura 4.52), e
média do período seco (Figura 4.53), na distribuição da temperatura máxima não indica alterações
significativas, apenas uma tendência de aumento em direção a noroeste, região mais quente do
estado. Já o comportamento da temperatura mínima do ar apresenta-se diferente no período seco
(Figura 4.53) onde se encontram valores abaixo dos 15°C, com destaque para a região de Jataí, no
sudoeste goiano. Quanto ao período chuvoso e a média anual os valores estão acima dos 16°C,
chegando aos 22°C na região noroeste do estado (Figura 4.52).

Figura 4.24 - Temperatura máxima do ar – janeiro. Figura 4.25 - Temperatura máxima do ar – fevereiro.

68 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.26. Temperatura máxima do ar – março. Figura 4.27 - Temperatura máxima do ar – abril.

Figura 4.28 - Temperatura máxima do ar – maio. Figura 4.29 - Temperatura máxima do ar – junho.

Figura 4.30 - Temperatura máxima do ar – julho. Figura 4.31 - Temperatura máxima do ar – agosto.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 69


Figura 4.32 - Temperatura máxima do ar – setembro. Figura 4.33 - Temperatura máxima do ar – outubro.

Figura 4.34 - Temperatura máxima do ar – novembro. Figura 4.35 - Temperatura máxima do ar – dezembro.

Figura 4.36 - Temperatura máxima do ar - período Figura 3.37 - Temperatura máxima do ar - período seco
chuvoso (outubro a abril). (maio a setembro).

70 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.38 - Temperatura máxima do ar - média anual.

Figura 4.39 - Temperatura mínima do ar – janeiro. Figura 4.40 - Temperatura mínima do ar – fevereiro.

Figura 4.41 - Temperatura mínima do ar – março. Figura 4.42 - Temperatura mínima do ar – abril.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 71


Figura 4.43 - Temperatura mínima do ar – maio. Figura 4.44 - Temperatura mínima do ar – junho.

Figura 4.45 - Temperatura mínima do ar – julho. Figura 4.46 - Temperatura mínima do ar – agosto.

Figura 4.47 - Temperatura mínima do ar – setembro. Figura 4.48 - Temperatura mínima do ar – outubro.

72 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.49 - Temperatura mínima do ar – novembro. Figura 4.50 - Temperatura mínima do ar – dezembro.

Figura 4.51 - Temperatura mínima do ar - média anual.

Figura 4.52 - Temperatura mínima do ar - período Figura 4.53 - Temperatura mínima do ar - período seco
chuvoso (outubro a abril). (maio a setembro).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 73


4.2.3. Evaporação de Água para a Atmosfera
Evaporação é a mudança de estado físico da água, passando de líquido a gasoso. No Ciclo
Hidrológico (figura 1.3), a evaporação é a transferência de água do solo, oceanos, lagos, rios e
outras superfícies hídricas para a atmosfera.
Por subtrair uma fração dos recursos hídricos disponíveis, a quantificação da água
transferida por evaporação para a atmosfera é de suma importância para se determinar o balanço
hídrico de uma área.
Normalmente mede-se a evaporação em tanque Classe “A”, sendo que, para esta
caracterização, foram utilizados 11 pontos de coleta de evaporação (Tabela 4 - Anexo 1).
O mês de setembro é o período em que os índices de evaporação são maiores, apresentando
valores em torno de 340 a 360 mm. Por outro lado, o mês de dezembro mostra os menores índices,
prevalecendo, na maior parte do estado, transferências de água para atmosfera em torno de 60 a 80
mm.
Evaporação, umidade relativa do ar e precipitação estão intimamente relacionados. Assim,
quanto maior a umidade menor é a evaporação e maior a possibilidade de ocorrer precipitação
pluvial. As Figuras 4.54 a 4.65 demonstram estas situações, onde os valores de evaporação tendem
a aumentar em direção ao nordeste goiano (Figuras 4.66 a 4.68) e os valores de umidade relativa do
ar tendem a diminuir (Figura 4.83). Isto ocorre mesmo considerando somente o período seco
(Figuras 4.65 e 4.81), ou o período chuvoso (Figuras 4.66 e 4.82), não havendo alterações
significativas quanto à distribuição dos elementos climáticos umidade relativa do ar e evaporação,
mas sim na quantificação, sendo que no período chuvoso os valores de umidade tendem a ser
maiores, enquanto que no período seco são os valores de evaporação que tendem a aumentar.

Figura 4.54 - Evaporação – janeiro. Figura 4.55 - Evaporação – fevereiro.

74 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.56 - Evaporação – março. Figura 4.57 - Evaporação – abril.

Figura 4.58 - Evaporação – maio. Figura 4.59 - Evaporação – junho.

Figura 4.60 - Evaporação – julho. Figura 4.61 - Evaporação – agosto.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 75


Figura 4.62 - Evaporação – setembro. Figura 4.63 - Evaporação – outubro.

Figura 4.64 - Evaporação – novembro. Figura 4.65 - Evaporação – dezembro.

Figura 4.66 - Evaporação - período chuvoso (outubro a Figura 4.67 - Evaporação - período seco (maio a
abril). setembro).

76 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.68 - Evaporação - média anual.

4.2.4. Umidade Relativa do Ar


A umidade relativa do ar expressa o conteúdo de vapor existente na atmosfera. É definida
como sendo a relação entre a quantidade de vapor d’água contido no ar, em um dado momento, e o
máximo que este ar poderia conter, à temperatura ambiente. O valor da umidade relativa pode
mudar pela adição ou remoção de umidade do ar ou pela mudança de temperatura.
Para esta caracterização foram utilizados 11 pontos de coletas de umidade relativa do ar
(Tabela 5 – Anexo 1). As figuras 4.69 a 4.83 mostram espacialmente a configuração da umidade
relativa do ar, sendo que o mês de dezembro é o período mais úmido, caracterizando-se com índices
entre 80 a 82% de umidade relativa do ar em cerca de 50% da área do estado. Por outro lado, o mês
mais seco é agosto, que apresenta valores médios em torno de 48 a 52% em quase toda área do
estado, com extremos que podem chegar, momentaneamente, a 13%.

Figura 4.69 - Umidade relativa do ar – janeiro. Figura 4.70 - Umidade relativa do ar – fevereiro.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 77


Figura 4.71 - Umidade relativa do ar – março. Figura 4.72 - Umidade relativa do ar – abril.

Figura 4.73 - Umidade relativa do ar – maio. Figura 4.74 - Umidade relativa do ar – junho.

Figura 4.75 - Umidade relativa do ar – julho. Figura 4.76 - Umidade relativa do ar – agosto.

78 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.77 - Umidade relativa do ar – setembro. Figura 4.78 - Umidade relativa do ar – outubro.

Figura 4.79 - Umidade relativa do ar – novembro. Figura 4.80 - Umidade relativa do ar – dezembro.

Figura 4.81 - Umidade relativa do ar - período chuvoso Figura 4.82 - Umidade relativa do ar - período seco
(outubro a abril). (maio a setembro).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 79


Figura 4.83 - Umidade relativa do ar - média anual.

4.2.5. Insolação
O elemento climático insolação, ou brilho solar, é definido como sendo o número de horas
durante o dia, nas quais os raios solares atingem diretamente a superfície da Terra, em um dado
local.
O instrumento que mede esta grandeza é o heliógrafo, sendo que, para esta caracterização,
foram utilizados 11 pontos de coleta de dados de insolação (Tabela 7 – Anexo 1).
Devido à existência de um alto nível de nebulosidade, no período chuvoso (outubro a abril),
a insolação apresenta-se com valores mais baixos. Entretanto, no período “seco” (maio a setembro),
quando a nebulosidade é quase nula, a insolação mostra-se com índices bem elevados, atingindo
cerca de 280 a 290 horas, no mês de julho.
As (figuras 4.84 a 4.98) mostram o comportamento da insolação em todo o ano no estado de
Goiás. A duração da insolação, numa média anual, apresenta valores entre 2.550 e 2.600 horas
(Figura 4.98).
Na região de Goiânia, ocorrem os maiores valores de insolação do estado, atingindo 2.600
horas. Numa faixa que vai do sudoeste ao nordeste do estado, encontram-se as áreas com mais
brilho solar, enquanto que, a oeste, estão os menores valores. Considerando-se os períodos chuvoso
e seco (Figuras 4.96 e 4.97), nota-se que no período chuvoso tem-se no sul (região de Catalão) uma
maior quantidade de insolação, enquanto no período seco este fato ocorre no norte e nordeste do
estado (região de São Domingos).

80 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.84 - Insolação – janeiro. Figura 4.85 - Insolação – fevereiro.

Figura 4.86 - Insolação – março. Figura 4.87 - Insolação – abril.

Figura 4.88 - Insolação – maio. Figura 4.89 - Insolação – junho.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 81


Figura 4.90 - Insolação – julho. Figura 4.91 - Insolação – agosto.

Figura 4.92 - Insolação – setembro. Figura 4.93 - Insolação – outubro.

Figura 4.94- Insolação – novembro. Figura 4.95 - Insolação – dezembro.

82 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.96 - Insolação - período chuvoso (out. a abril). Figura 4.97 - Insolação - período seco (maio a set.).

Figura 4.98 - Insolação - total anual.

4.3. EXCEDENTE E/OU DÉFICIT HÍDRICO


O balanço hídrico contabiliza a precipitação perante a evapotranspiração potencial,
considerando um valor determinado e a capacidade de armazenamento de água no solo, que é a
máxima quantidade de água utilizável pelas plantas, armazenada em sua zona radicular.
O cálculo do balanço hídrico consiste na determinação do excesso e deficiência de água
no solo, possibilitando definir diretrizes para um melhor aproveitamento dos recursos hídricos. Para
este trabalho foi utilizado o balanço hídrico baseado na fórmula de Thornthwaite & Matter (1955).
Nesta caracterização foram utilizados 33 pontos de coleta de dados dos elementos
climáticos para o cálculo do balanço hídrico (Tabela 6 - Anexo 1). Os valores negativos e entre
parênteses representam déficits hídricos. As figuras 4.99 a 4.110 mostram as variações dos
excedentes e/ou déficits hídricos em Goiás. Os meses de novembro a março apresentam excedente
hídrico. Analogamente, no período de maio a outubro, o déficit hídrico prevalece, sendo os meses
de agosto e setembro os mais críticos.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 83


Figura 4.99 - Excedente hídrico – janeiro. Figura 4.100 - Excedente hídrico – fevereiro.

Figura 4.101 - Excedente hídrico – março. Figura 4.102 - Excedente e déficit hídrico – abril.

.
Figura 4.103 - Déficit hídrico – maio. Figura 4.104 - Déficit hídrico – junho.

84 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 4.105 - Déficit hídrico – julho. Figura 4.106 - Déficit hídrico – agosto.

Figura 4.107 - Déficit hídrico – setembro. Figura 4.108 - Déficit hídrico – outubro.

Figura 4.109 - Excedente hídrico – novembro. Figura 4.110 - Excedente hídrico – dezembro.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 85


4.4. CONSIDERAÇÕES GERAIS
O Estado de Goiás caracteriza-se por possuir duas estações climáticas bem definidas: uma
estação com altos índices pluviométricos (outubro a abril), onde ocorrem 95% das precipitações
anuais e outra estação com baixos índices pluviométricos (maio a setembro), o que concorre para
uma grande variação dos elementos climáticos.
Para a precipitação pluviométrica percebe-se uma tendência de aumento do sul para o norte
e de leste para oeste do estado, sendo que a média anual é de 1.532 mm.
Os meses de agosto e setembro apresentam os maiores índices térmicos, alcançando valores
médios máximos em torno de 34°C, principalmente no noroeste do estado, enquanto que as médias
mensais das temperaturas mínimas do ar indicam que os meses de junho e julho são os mais frios,
com valores em torno de 12°C, no sudeste e sudoeste goiano.
Os maiores índices de evaporação são observados no mês de setembro, quando os valores
médios situam-se em torno de 340 a 360 mm, enquanto que, os menores índices são verificados no
mês de dezembro, quando prevalecem valores em torno de 60 a 80 mm.
O mês de dezembro é caracterizado como sendo o de maior umidade do ar, onde os índices
variam em torno de 80 a 82% para cerca de 50% da área do estado. O mês de menor umidade do ar
é agosto, que apresenta valores médios em torno de 48 a 52% em quase toda a área do estado.
O estado de Goiás apresenta, ainda, valores de insolação que, numa média anual, situam-se
em torno de 2.550 e 2.600 horas. As áreas com maior insolação situam-se em uma região que vai do
sudoeste ao nordeste do estado.
Os elementos climáticos interagem entre si. Os dados de evaporação nas regiões
consideradas de baixo índice pluvial são bem mais elevados que naquelas onde se observam altos
índices. Da mesma forma, os valores de umidade relativa do ar são menores nas regiões onde chove
menos e os valores mais elevados são observados onde a precipitação pluvial é maior. Nos locais
que apresentam valores altos de evaporação e baixos índices pluviais, haverá conseqüentemente, um
maior déficit hídrico, como comprovado principalmente em áreas situadas no nordeste do estado.
Os fatores climáticos influenciam fortemente a variação da altura do nível freático, onde os
meses com maiores déficits hídricos apresentam os mais baixos níveis piezométricos1. Por outro
lado, nos meses onde se observa um excedente hídrico elevado, ou seja, os meses de maior
concentração pluviométrica, correspondem ao período onde o nível piezométrico encontra-se mais
levado.

1
Nível correspondente à pressão atuante no aqüífero.
86 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO V
SOLOS

5.1. INTRODUÇÃO
Os solos são um importante elemento ambiental. Compõem o substrato que controla a maior
parte dos ecossistemas terrestres, influenciando na agricultura, geotecnia, hidrogeologia, cartografia
geológica, geologia ambiental, entre outros. Por apresentar relação direta com a geologia,
geomorfologia e vegetação, os solos são considerados como eficientes estratificadores da paisagem.
Na hidrogeologia, os solos representam a matriz por onde os processos de recarga dos
aqüíferos se iniciam. Os solos desempenham três funções vitais para os aqüíferos: função filtro,
função reguladora e função recarga, ou seja, o estudo do comportamento do funcionamento hídrico
dos solos é fundamental para o entendimento dos processos de circulação hídrica subterrânea.
Os solos representam a camada natural mais externa da superfície da Terra, a qual pode ser
eventualmente modificada ou mesmo construída pelo homem, contendo matéria orgânica viva e
servindo ou sendo capaz de servir à sustentação da cobertura vegetal. Em sua porção superior,
limita-se com o ar atmosférico ou águas rasas. Lateralmente, limita-se gradualmente com rocha
consolidada ou parcialmente desintegrada, água profunda ou gelo. O limite inferior é de difícil
definição e deve excluir o material que mostre pouco efeito das interações de clima, organismos,
material originário e relevo, através do tempo (Soil Taxonomy, 1985).
A camada que inclui os perfis dos solos e a porção superior da rocha alterada é denominada
de regolito, isso é, representa a soma do solo e saprolito.
Em 1880, o russo Dokuchaiev já relatava que o solo não era um simples amontoado de
materiais não consolidados, em diferentes estágios de alteração, mas resultava de uma complexa
interação de inúmeros fatores genéticos como clima, organismos e topografia, os quais, agindo
durante certo período de tempo sobre o material de origem, produziam o solo.
Curi (1993) define solo como um material mineral e/ou orgânico inconsolidado na superfície
da Terra que serve como meio natural para o crescimento e desenvolvimento de plantas terrestres.
Segundo a EMBRAPA (1999), os solos são formados por materiais minerais e orgânicos
ocorrendo sobre o manto superficial continental e possuindo como limite superior a atmosfera e
inferior o substrato rochoso ou material originalmente inconsolidado, sujeito e influenciado por
fatores genéticos e ambientais. Encontram-se dispostos em estratos paralelos, conhecidos como
horizontes, que diferem entre si e entre o material que os originou, em função de processos
modificadores das condições pré-existentes, ou seja, processos pedogenéticos. Esta definição é
utilizada como base para o desenvolvimento do presente estudo, bem como as definições de cada
tipo de solos, caracterizados pela EMBRAPA (1999).
Para o presente trabalho é proposto um Mapa de Agrupamento de Solos para a
caracterização dos aqüíferos freáticos da área de estudo (Estado de Goiás e Distrito Federal). A base
Hidrogeologia do Estado de Goiás 87
cartográfica utilizada para a confecção do mapa foi resultado de uma compilação dos trabalhos do
RADAM (BRASIL, 1981, 1982 e 1983b) e Kerr et al. (2001). A partir da integração destes
trabalhos foi gerada uma base cartográfica preliminar, que posteriormente recebeu modificações
com base em evidências (parâmetros exclusivamente macroscópicos) obtidas em trabalhos de
campo.
Procurou-se, também, correlacionar as antigas nomenclaturas de solos com o novo Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos da EMBRAPA (1999), classificando-os até o 2º nível
categórico (Tabela 5.1). Vale ressaltar que não se pretende com este trabalho apresentar um mapa
de solos da área de estudo, apenas buscou-se uma adequação e atualização das informações
disponíveis com o objetivo de subsidiar os trabalhos de confecção do Mapa Hidrogeológico do
Estado de Goiás e Distrito Federal.

Classificação Anterior EMBRAPA Correlação Proposta


* Classes de solos em Goiás e DF de * De acordo com EMBRAPA (1999)
acordo com RADAM 1980 e Kerr 2001
Latossolos Vermelhos Escuros Latossolos Vermelhos
Areias Quartzosas Neossolos Quartzarênicos
Podzólicos Vermelhos Escuros Argissolos ou Nitossolos
Podzólicos Vermelho Amarelo Argissolos ou Nitossolos
Cambissolos Cambissolos
Solos Hidromórficos e Glei Gleissolos
Solos Aluviais Neossolos Flúvicos
Latossolos Petroplínticos Plintossolos Pétricos
Latossolos Roxos Latossolos Vermelhos
Latossolos Vermelho Amarelos Latossolos Vermelho Amarelos
Petroplintossolos Plintossolos Pétricos
Litossolos Neossolos Litólicos
Terra Roxa Nitossolos ou Argissolos
Tabela 5.1 – Correspondência entre as denominações antiga e nova, dos tipos de coberturas de solos presentes no
estado de Goiás e Distrito Federal.

A partir desta classificação foram definidas, com base nas similaridades de condutividade
hidráulica e espessuras, nove classes e/ou agrupamentos de solos na área de estudo: Latossolo
Vermelho 1; Latossolo Vermelho 2; Latossolo Vermelho-Amarelo; Cambissolo; Associação de
Argissolo/Nitossolo; Neossolo Quartzarênico; Neossolo Litólico; Plintossolo; e Gleissolo.

5.2. LATOSSOLOS
Os Latossolos são solos minerais, não hidromórficos, que se
caracterizam por possuírem horizonte B latossólico imediatamente abaixo
de qualquer tipo de horizonte A, dentro de 200 cm da superfície do solo ou
dentro de 300 cm, caso o horizonte A apresente mais que 150 cm de
espessura (EMBRAPA 1999). Os Latossolos apresentam avançado grau intempérico, são
extremamente evoluídos, sendo praticamente destituídos de minerais primários ou secundários

88 Hidrogeologia do Estado de Goiás


menos resistentes ao intemperismo. São solos que variam de fortemente a bem drenados,
normalmente muito profundos, com espessura do solum1 raramente inferior a um metro, e em geral,
são fortemente ácidos, com baixa saturação por bases, distróficos2 ou álicos3. Apresentam seqüência
de horizontes do tipo A, Bw, C, com reduzido incremento de argila em profundidade.
Os Latossolos são característicos de regiões equatoriais e tropicais, podendo ocorrer também
em regiões subtropicais. Podem ser originados a partir de diversos tipos de rochas, sob condições de
clima e tipos de vegetação variados. São os solos mais representativos na área de estudo,
correspondendo a 46% da área total.
Neste trabalho foram individualizadas 03 classes de Latossolos, denominadas de Latossolos
Vermelhos 1, Latossolos Vermelhos 2 e Latossolos Vermelho-Amarelos. Esta individualização foi
proposta devido a possíveis diferenças no funcionamento hídrico, bem como o tipo de textura,
estruturação, presença de horizontes plínticos em profundidade e materiais parentais.
As condições topográficas em que ocorrem, aliadas à grande espessura, boa permeabilidade
e ausência de impedimentos à mecanização conferem-lhes excelente potencial para uso intensivo.
Portanto, estes solos, encontram-se, em geral, ocupados por monoculturas ou uso pecuário
(principalmente na região do vale do Rio Araguaia e no extremo sudoeste do Estado de Goiás e nas
regiões central e leste do Distrito Federal).

5.2.1. Latossolos Vermelhos 1


Os Latossolos Vermelhos 1 estão relacionados a diversos tipos litológicos e podem ser
observados em grande parte da área de estudo.
Estes solos apresentam grande espessura, coloração vermelha escura e textura variando de
argilosa a média/arenosa. Em função da variação textural e, conseqüentemente, dos diferentes
valores de condutividade hidráulica, estes solos foram subdivididos em duas subclasses: Latossolos
Vermelhos 1 – textura argilosa a muito argilosa e Latossolos Vermelhos 1 – textura média a
arenosa. Perfil representativo dessa classe foi descrito em corte da rodovia BR-020, próximo a
Planaltina, Distrito Federal (figura 5.1).
Os Latossolos Vermelhos 1 – textura argilosa a muito argilosa localizam-se, em geral, sobre
rochas proterozóicas (principalmente associadas ao Grupo Araxá) e coberturas terciárias (Formação
Cachoeirinha). Possuem condutividades hidráulicas menores que a subclasse de textura média a
arenosa.
Os Latossolos Vermelhos 1 – textura média a arenosa localizam-se, preferencialmente, sobre
rochas arenosas da Bacia do Paraná (grupos Bauru e Botucatu). O alto teor de areia e/ou estrutura

1
Parte superior, mais intemperizada do perfil do solo, compreendendo os horizontes A e B (Curi, 1993).
2
Solo que apresenta baixa saturação por bases (Curi, 1993).
3
Alta saturação por alumínio trocável (Curi, 1993).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 89


granular e grumosa4 contribui para uma maior porosidade efetiva e conseqüente maior
condutividade hidráulica, quando comparados com o grupo dos Latossolos Vermelhos 2. Em geral,
são distróficos, com moderada capacidade de troca catiônica, o que resulta em baixa fertilidade
natural. O uso intensivo observado para agricultura e pecuária está vinculado à facilidade de
mecanização e à retenção de água nos horizontes edáficos no período das chuvas.

5.2.2. Latossolos Vermelhos 2


Os Latossolos Vermelhos 2 são relacionados principalmente a rochas máficas e ultramáficas,
sendo bastante representativos na área de ocorrência dos basaltos da Formação Serra Geral, na
região de Rio Verde, Acreúna, e Cachoeira Dourada (sudoeste do Estado de Goiás). Estão
associados, também, ao Complexo Máfico-Ultramáfico de Barro Alto, ao Complexo Granulítico
Anápolis-Itauçu, entre outros (figura 5.2). Os Latossolos Vermelhos 1 e 2 recobrem 31% da
totalidade da área de estudo.
Anteriormente conhecidos como terra roxa, estes solos possuem reconhecida importância
para a atividade agrícola onde a monocultura, principalmente de soja e milho, é praticada nestes
solos de alta fertilidade.

5.2.3. Latossolos Vermelho-Amarelos


Segundo a EMBRAPA (1999), os Latossolos Vermelho-Amarelos são solos que apresentam
matiz 5YR ou mais vermelhos, e mais amarelos que 2,5YR na maior parte dos primeiros 100 cm do
horizonte B. Esta classe de solo é bastante similar ao latossolo vermelho, contudo o teor em
hematita é inferior, resultando em uma coloração mais clara no horizonte B. Nessa classe de solo a
maior parte do ferro ocorre na forma hidratada com óxidos hidratados e hidróxidos.
Dentre as feições diagnósticas podem ser citadas: ampla homogeneidade entre os horizontes,
fraca estruturação, grande espessura do perfil (> 5 metros), pequena variação na quantidade de
argila entre os horizontes, além de ocorrerem em relevo plano a suave ondulado. Os Latossolos
Vermelho-Amarelos estão presentes em amplas áreas contínuas na região do Vale do Rio Araguaia,
na porção nordeste de Goiás (associados ao Grupo Urucuia), na região de Pirenópolis e na região
leste do Distrito Federal. Recobrem cerca de 15% do total da área de estudo. A Figura 5.3 mostra
um perfil do Latossolo Vermelho-Amarelo observado na região de Planaltina de Goiás.

4
Textura composta de agregados arredondados e porosos (Curi, 1993).
90 Hidrogeologia do Estado de Goiás
Figura 5.1 – Latossolo Figura 5.2 –
Vermelho 1, exibindo Porção superior de
horizonte A moderado, Latossolo Vermelho
ABw1 de 30 cm de 2 com ampla
espessura e perfil de 230 homogeneidade
cm. Desenvolvido sobre vertical e com
filitos do Grupo textura granular
Canastra, na região de constante em todo o
Planaltina, DF. perfil exposto.
Desenvolvido sobre
basaltos da
Formação Serra
Geral, na região de
Jataí.
Perfil de 200 cm.

Figura 5.3 – Porção superior de


Latossolo Vermelho-Amarelo
desenvolvido em metarritmito
arenoso do Grupo Paranoá
(Planaltina de Goiás).
Perfil de 180 cm.

5.3. CAMBISSOLOS
Os Cambissolos apresentam seqüência de horizontes do tipo A ou
hístico5, Bi, C, com moderada diferenciação entre eles (EMBRAPA 1999).
Compreendem solos minerais, com horizonte A ou hístico de espessura
menor que 40 cm e horizonte B incipiente subjacente ao horizonte A de
qualquer tipo, excluído o chernozêmico (quando a argila do horizonte Bi
for de atividade alta). São solos pouco evoluídos, geralmente pedregosos e, devido à
heterogeneidade do material de origem, das formas de relevo e das condições climáticas, suas

5
Tipo de horizonte constituído por material orgânico (Curi, 1993).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 91


características são bastante variáveis, mas em geral caracterizam-se por serem bem drenados, pouco
profundos ou rasos, com teores de silte elevados, e constituídos por mais de 4% de minerais
primários e mais de 5% de fragmentos de rocha semi-intemperizada.
Devido a seu desenvolvimento ainda incipiente, as características destes solos estão em
consonância com o material de origem.
Na área de estudo, os Cambissolos são a segunda classe mais freqüente recobrindo 18% do
total, destacando-se as regiões norte e sudeste de Goiás e norte e oeste do Distrito Federal. Devido à
declividade e pedregosidade dos terrenos, estes solos são pouco utilizados para a agricultura
mecanizada, e em sua grande maioria representam áreas com vegetação preservada ou utilizadas
para pecuária extensiva e agricultura de subsistência.
Observa-se, nesta classe, um favorecimento ao escoamento superficial (run off) e aos
processos de evapotranspiração, o que se traduz em uma reduzida recarga efetiva destes solos. Em
muitos casos, não há zona saturada associada a este tipo de cobertura.

Figura 5.4 – Perfil de


Cambissolo (80 cm)
sobre xistos do Grupo
Araxá, na região de
Luziânia. Notar a ampla
pedregosidade,
principalmente na seção
superior do perfil.

5.4. ASSOCIAÇÃO ARGISSOLOS/NITOSSOLOS


Por apresentarem características semelhantes do ponto de vista
hidrogeológico, os Argissolos e os Nitossolos foram agrupados em uma
associação. Os Argissolos compreendem solos constituídos por material
mineral que têm como características diferenciais argila de atividade baixa
e horizonte B textural (Bt), imediatamente abaixo de qualquer tipo de
horizonte superficial, exceto o hístico (EMBRAPA, 1999). São solos de profundidade variável, com
horizontes bastante evidentes, comumente com rochosidade (Figura 5.5 “a” e “b”) e podem
apresentar drenagem desde muito a pouco eficiente e serem fraca a moderadamente ácidos.

92 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Os Nitossolos são solos minerais com horizonte B nítico de argila de atividade baixa,
imediatamente abaixo do horizonte A ou dentro dos primeiros 50 cm do horizonte B (EMBRAPA,
1999). Apresentam textura argilosa ou muito argilosa e estrutura em blocos, moderada ou forte,
com superfície dos agregados reluzente, devido a cerosidade6. São solos profundos, bem drenados,
com cores variando de vermelho a bruno, em geral ácidos e podendo apresentar horizonte A de
qualquer tipo (Figura 5.6).
Os Argissolos e Nitossolos estão bastante distribuídos na área de estudo, no entanto, é
possível presenciar uma concentração maior desses solos nas regiões central e oeste de Goiás entre
as cidades de São Luiz de Montes Belos, Piranhas e Doverlândia, bem como associados com os
complexos ultrabásicos de Niquelândia, Barro Alto e Minaçu, observam-se também ocorrências
deste solo na região sul-sudeste de Goiás. Em geral são solos associados a superfícies suaves
onduladas e correspondem a 15% da totalidade da área de estudo.

Figuras 5.5a e 5.5b


a) Perfil de Argissolo Vermelho
com Horizonte A proeminente e
horizonte Bt com mais de 200% de
fração argilosa comparada ao
horizonte superficial. Notar o
bloco de rocha ultrabásica na
porção inferior do perfil. Seção
vertical exposta de 190 cm.
b) Detalhe do mesmo perfil
mostrando a estruturação granular
b grossa e o contato entre os
horizontes A e AB (Niquelândia).

Algumas características marcantes diferenciam estes solos dos latossolos tais como: a maior
diferenciação entre os horizontes, maior quantidade de argila presente nos horizontes mais
profundos e a maior facilidade de desenvolvimento de estruturação média a grossa. A maior
atividade de raízes (figura 5.7) é em geral, vinculada a sua fertilidade natural que permite o
desenvolvimento de vegetação nativa de maior porte.

6
Revestimento de argilas na superfície dos agregados, grãos de minerais e poros do solo (Curi, 1993).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 93


Figura 5.6 – Perfil de
Nitossolo eutrófico7
desenvolvido sobre rochas
metabásicas associadas aos
terrenos granito-greenstone.
Forte estruturação granular
grossa, distinção evidente
entre horizontes e
rochosidade na base da
seção são as feições mais
diagnósticas. A análise
granulométrica não indica
relação textural entre os
horizontes A e Bn (Colinas
do Sul).

Figura 5.7 – Perfil de


Nitossolo (220 cm) com
delimitação dos horizontes A,
AB e Bn (região de Jataí).

5.5. NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS


Nesta classe estão compreendidos solos minerais, em geral
profundos, com seqüência de horizontes do tipo A-C, sem contato lítico
dentro de 50 cm de profundidade. Os Neossolos Quartzarênicos
apresentam textura arenosa, composição granulométrica nas classes
texturais areia ou areia franca (micácea) e em toda a extensão do perfil são

7
Possui concentração de nutrientes em nível ótimo para o crescimento de plantas ou animais (Curi, 1993).
94 Hidrogeologia do Estado de Goiás
constituídos essencialmente por quartzo (>95%), com ausência de minerais primários alteráveis
(EMBRAPA, 1999). São solos bastante susceptíveis à erosão, sobretudo quando sujeitos a fluxo de
água concentrado, que pode provocar a instalação de extensas voçorocas.
São solos muito permeáveis, excessivamente drenados e geralmente sem estrutura
desenvolvida. Apresentam também baixos valores de soma e saturação por bases, além de, na
maioria das vezes, ser elevada a saturação por alumínio. É comum observar-se um ligeiro aumento
de argila em profundidade, por vezes denotando caráter intermediário com latossolos.
Na área de estudo, os Neossolos Quartzarênicos ocorrem associados aos arenitos das
Formações Botucatu e Bauru e do Grupo Urucuia. Ocupam cerca de 3% da área total.
Em geral estes solos apresentam coloração creme esbranquiçada, textura arenosa em grãos
simples e são compostos dominantemente por quartzo. A presença de delgado horizonte A fraco a
moderado sempre é observado (Figura 5.8).

Figura 5.8 – Perfil de


Neossolo Quartzarênico
(250 cm) típico da região
marginal do Grupo Urucuia,
na divisa entre os estados de
Goiás e Bahia.

5.6. PLINTOSSOLOS
Os Plintossolos são solos minerais formados sob condições de
restrição à percolação de água, sujeitos ao efeito temporário de excesso de
umidade, mal drenados, caracterizados por apresentar expressiva
plintização com ou sem petroplintita8 ou horizonte litoplíntico.
Apresentam horizonte plíntico iniciando em 40 cm, ou dentro de 200 cm
quando imediatamente abaixo do horizonte A ou E, e horizonte B textural sobre ou coincidente com
o horizonte plíntico (EMBRAPA, 1999). São solos fortemente ácidos, no entanto, verifica-se a

8
Material laterítico rígido, proveniente do endurecimento da plintita (mosqueados vermelhos de uma mistura de argila
rica em ferro e alumínio) e sobre efeitos de ciclos repetidos de hidratação e desidratação (Curi, 1993).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 95


existência de solos com saturação por bases média a alta. Os Plintossolos são típicos de zonas
quentes e úmidas, com estação seca bem definida ou que apresentem um período longo de estiagem.
Ocorrem em superfícies planas a suaves onduladas associadas à oscilação de lençol freático.
No estado de Goiás estes solos estão mais concentrados nas regiões noroeste e nordeste, no
entanto, podem ser observados em diversas localidades, expostos em áreas restritas, em associação
estreita com gleissolos, enquanto no Distrito Federal, ocorrem primordialmente na região sudeste.
Os perfis de plintossolo, na área, apresentam o horizonte diagnóstico mais comumente representado
por “cascalho laterítico” (Figura 5.9). Estes solos recobrem 3% da totalidade da área estudada.

Figura 5.9 – Horizonte


petroplíntico parcialmente
degradado sob horizonte
superficial areno-argiloso
(Vianópolis).

5.7. NEOSSOLOS LITÓLICOS


Os Neossolos Litólicos são solos minerais pouco espessos com
pequena expressão de processos pedogenéticos e seqüência de horizontes
A-R e, portanto, apresentam evidente rochosidade e pedregosidade (Figura
5.10). O horizonte A ou O hístico possui menos de 40 cm de espessura, e
está em contato direto com a rocha sã ou intemperizada, horizonte C ou
material com 90% ou mais de sua massa constituída por fragmentos de rocha (EMBRAPA, 1999).
Na área de estudo, esta classe de solo é geralmente associada com cambissolos e exposições
rochosas em áreas de relevo forte ondulado a escarpado ou sobre relevo arrasado. Estão presentes
em 12% da área e são muito freqüentes na Chapada dos Veadeiros e nas imediações das cidades de
São Domingos, Cavalcante e Campos Belos, entre Caldas Novas e Ipameri e nas regiões de
Moiporá, Cocalzinho de Goiás e Crixás.

96 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 5.10 – Neossolo
Litólico associado a exposições
rochosas (lajedos de gnaisse)
com ampla pedregosidade e
rochosidade típicas desse tipo
de cobertura jovem e pouco
desenvolvida (Monte Alegre de
Goiás).

5.8. ASSOCIAÇÃO GLEISSOLOS/NEOSSOLOS FLÚVICOS


Os Neossolos Flúvicos e os Gleissolos foram agrupados em uma
associação devido a similaridades em localização e alta susceptibilidade à
contaminação.
Os Neossolos Flúvicos (solos aluviais) são formados
principalmente nas planícies aluviais e estão associados aos processos
sedimentares fluviais, não existindo relações pedogenéticas entre esses solos e o substrato rochoso
subjacente. São solos derivados de sedimentos aluviais com horizonte A sobre horizonte C
constituído de camadas estratificadas, com ausência de pedogênese ou com pedogênese muito
restrita (EMBRAPA, 1999). No caso da presença de cascalhos nos materiais aluviais não há
transformação dos clastos, mas apenas pedogênese incipiente na matriz (Figura 5.11).
Os gleissolos são solos com deficiência de drenagem, geralmente ricos em matéria orgânica,
e comumente presentes próximos a nascentes ou ao longo dos cursos das drenagens e por isso
ocorrem em forte associação com neossolos flúvicos. São solos constituídos por material mineral
com horizonte glei9 imediatamente abaixo do horizonte A ou horizonte hístico com menos de 40 cm
de espessura, ou horizonte glei começando dentro de 50 cm da superfície do solo (EMBRAPA,
1999). Além dos horizontes superficiais ricos em matéria orgânica, os horizontes glei são cinza
claro, bege ou esbranquiçados e em geral muito argilosos (Figura 5.12).
Na região de Luis Alves, no extremo noroeste goiano, os Gleissolos são dominantes. Estes
solos recobrem 3% da área de estudo.

9
Horizonte mineral caracterizado pela intensa redução de ferro e formado sob condições de excesso de água,
prevalecendo um regime de umidade redutor (Curi, 1993).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 97


Figura 5.11 – Seção de Neossolo
Flúvico decapeado. Observar a
falta de pedogênese nos clastos de
quartzito e apenas oxidação e
transformação da matriz areno-
argilosa.

Figura 5.12 – Topo de seção de


Gleissolo Húmico10 com horizonte
superficial rico em matéria
orgânica e horizonte B glei na base
(perfil de 45 cm). Próximo à base
da escala já se inicia o nível de
saturação, evidenciando a
deficiência de drenagem desta
classe de solo (Distrito Federal).

10
Rico em humus, produto da alteração de resíduos orgânicos por atividades biológicas e reações químicas (Curi,
1993).
98 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO VI
ANÁLISE DE LINEAMENTOS

6.1. INTRODUÇÃO
Em rochas metamórficas, magmáticas e sedimentares intensamente cimentadas a porosidade
e permeabilidade primárias são mínimas a nulas e, portanto, a condutividade hidráulica é muito
baixa. Por outro lado, os vários processos tectônicos superimpostos marcam a evolução geológica
destas rochas, gerando descontinuidades planares (fraturas, falhas, juntas, etc.). Estas proporcionam
a abertura de uma porosidade e permeabilidade secundárias, responsáveis pela ampliação da
condutividade hidráulica que resulta no armazenamento e circulação de água subterrânea em meios
denominados genericamente de cristalinos, caracterizados como aqüíferos fraturados (Manoel
Filho, 2000).
Um dos aspectos mais importantes da prospecção de água subterrânea é detectar fraturas
abertas e interconectadas, mais eficientes para o fluxo e armazenamento de água. As fraturas mais
propícias, por vezes, estão relacionadas à evolução tectônica regional e condicionadas à cronologia
dos eventos tectônicos e à condição crustal onde se deu sua deformação. O armazenamento e
transmissão de água explotável é resultado de processos geológicos, os quais podem ser observados
desde posições crustais rasas até a centenas de metros de profundidade (Jardim de Sá, 2000).
Nos terrenos cristalinos a percolação e acumulação de água são controladas por anisotropias1
do maciço rochoso, como fraturas, vesículas, aberturas de dissolução, zonas de alívio, contatos entre
litotipos distintos, comportamento mecânico contrastante, planos de foliação, zonas cataclásticas,
dentre outras. Por conseqüência, os aqüíferos fraturados não apresentam parâmetros hidrodinâmicos
constantes em três dimensões. A porosidade é função da abertura das fraturas, que não possuem
distribuição homogênea em todo o maciço rochoso ou mesmo ao longo de um plano individual de
anisotropia.
Quando as descontinuidades são desenvolvidas em rochas porosas, passam a corresponder a
uma porosidade adicional e estes sistemas são denominados de aqüíferos de dupla porosidade.
Em decorrência da ausência de exposições rochosas em grande parte do estado, em função
da ampla ocorrência de coberturas de solos que mascaram o substrato rochoso, a avaliação das
estruturas planares foi feita com auxílio de imagem de satélite do sensor Thematic Mapper. As
imagens na forma de cenas digitais foram utilizadas para a confecção de composições coloridas
integradas para toda a poligonal do estado.
Os critérios usualmente utilizados para a determinação dos lineamentos são representados pelos
seguintes parâmetros: alinhamento de cursos de drenagens retilíneas, quebras negativas ou positivas de
relevo, forma alongada e alinhamento de dolinas, contraste tonal nas imagens, mudanças bruscas na
densidade da vegetação e alinhamento de exposições rochosas.

1
Meios anisotrópicos não apresentam as mesmas propriedades físicas em todas as direções.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 99


Como é recorrente na Faixa Brasília e na porção cratônica inserida no estado de Goiás, o
sistema de fraturamento principal corresponde ao padrão de deformação típico da fase final da
estruturação de orógenos que apresenta duas direções preferenciais, aproximadamente ortogonais
entre si, ladeadas por um espectro de juntas superpostas a zonas de fraquezas previamente
formadas, em um padrão de simetria ortorrômbico.
A condutividade hidráulica e o coeficiente de armazenamento de um aqüífero fraturado
dependem dos seguintes parâmetros: Amplitude das fraturas (l); Abertura das fraturas (A); Forma e
rugosidade das paredes das fraturas (R); Freqüência ou espalhamento das fraturas (N); Orientação e
posição das fraturas (atitude); Permo-porosidade da matriz da rocha; Espaçamento entre as fraturas
(b) e Interconectividade das fraturas (Figura 6.1).

N
l
b

F
2
1
F

Matriz

Direção e
Mergulho R

Figura 6.1 - Elementos do aqüífero fraturado (compilado de Costa & Silva, 2000).

A distribuição da amplitude da fissura no sistema é que determina sua heterogeneidade e


anisotropia.
O fluxo em uma fratura obedece às leis de escoamento que são função do regime de
escoamento a que está submetida uma fratura. A rugosidade das paredes da fratura constitui um dos
principais fatores, pois exerce uma grande influência sobre o coeficiente de atrito (Ȝ).
A teoria da ruptura mostra que um corpo de prova submetido a compressão uniaxial tende a
gerar fraturas perpendiculares, paralelas e compondo um par com ângulo teórico de 45o com relação
ao eixo de incidência da tensão (Billings, 1972). Variações do modelo podem ocorrer e são
atribuídas ao atrito interno dos materiais, presença de anisotropias preexistentes e variações na
intensidade e direção da tensão.

100 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Esta é a teoria utilizada na interpretação dos traços de lineamentos presentes em todo o
estado de Goiás, com relação aos ciclos orogenéticos Transamazônico e Brasiliano e a reativação
Waldeniana ou processos neotectônicos.
As estruturas relacionadas ao Ciclo Transamazônico são de difícil distinção, pois não se
conhece muito bem a posição dos blocos crustais que foram amalgamados e os sucessivos processos
tectônicos posteriores causaram a obliteração das feições anteriormente geradas.
As feições formadas durante o Ciclo Brasiliano geram um típico padrão ortorrômbico
caracterizado por um sistema com eixo principal de compressão aproximadamente leste-oeste.
Neste caso as estruturas se formam durante toda a evolução do orógeno, segundo a teoria da
ruptura. As estruturas mais precoces tendem a ter atitude com mergulhos dos planos inferiores a 45o
os quais tendem a compor sistemas verticalizados nas fases finais da orogênese. Os lineamentos
Transbrasilianos compõem amplos planos de cisalhamento de direção geral N20-30E
Os processos neotectônicos são responsáveis pela reativação das estruturas preexistentes e
serão tanto mais desenvolvidos em função da relação do ângulo entre a extensão máxima e as
anisotropias existentes.
Neste trabalho são ressaltados, demarcados e mensurados as estruturas geomorfológicas e os
elementos de relevo lineares denominados de lineamentos.
Os elementos de relevo serão delimitados utilizando-se princípios de sensoriamento remoto
e cartografia digital e podem ser diferenciados em quatro grupos distintos, descritos a seguir:
1 – Crista de Serra ou quebras de relevo positivo: são feições de relevo marcadas pelo
alinhamento de crista de morros ou bordas de chapadas. Formam a principal feição de relevo que
podem indicar a separação de duas unidades geológicas distintas ou típicas estruturas silicosas em
zonas de cisalhamento.
2 – Lineações: são também quebras de relevo positivas, mas se caracterizam por um grande
número em serras, por suas dimensões reduzidas e por sua morfologia exclusivamente linear. Em
muitos casos estas estruturas marcam planos de foliação verticais, planos de acamamento ou mesmo
zonas fraturadas.
3 – Lineamentos: são quebras de relevo positivas, porém não possuem uma morfologia
unicamente linear, geralmente são as expressões geomorfológicas de dobras, fraturas e zonas de
empurrão. Neste trabalho serão consideradas apenas as estruturas estritamente lineares, uma vez que
controlam os sistemas aqüíferos amplamente distribuídos no estado.
4 – Fraturas: são feições marcadas por cursos d’água perenes, ou não, que possuem uma
morfologia linear. São expressões do fraturamento da unidade geológica presente na área analisada.
Os lineamentos curvos que em geral marcam planos de empurrão ou zonas de cisalhamento
de baixo ângulo não são incluídos no presente trabalho uma vez que representam estruturas de
selamento e não contribuem para a circulação da água subterrânea. Em Goiás este tipo de

Hidrogeologia do Estado de Goiás 101


lineamento, em geral, apresenta ampla recristalização e é mais comumente presente em zona de
contatos regionais entre grandes unidades litoestratigráficas.
A Figura 6.2 ilustra os elementos de relevo que podem ser observados em imagens de
satélite. Pode-se ver detalhe de uma imagem em disposição monocromática de uma área hipotética,
onde se observam elementos de relevo em uma dobra da unidade geológica.

Figura 6.2 – Identificação dos elementos de relevo e lineamentos.

6.2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi desenvolvida em quatro
etapas sucessivas:
1ª - tratamento primário da imagem com softwares de geoprocessamento;
2ª - retirada de feições lineares ressaltadas nas imagens de satélite;
3ª - verificação dos resultados obtidos com as imagens já pertencentes ao SIG de Goiás;
4ª - análise genética das estruturas além de sua avaliação estatística.
As imagens passaram por um tratamento digital preliminar. Este banco de dados inclui as
imagens do sensor Landsat 7 e do SRTM que servirão de base para a extração dos lineamentos
(Água e Terra, 2006). Os parâmetros básicos de georreferenciamento utilizados foram: Sistema de
Coordenadas Geográficas; Datum SAD 69 (South America 1969) e Projeção Albert Equal Área.

102 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Todos os processamentos foram realizados utilizando-se o software ENVI 3.2, e os
parâmetros utilizados foram aqueles que melhor se adaptaram às dimensões do estado e que já vêm
sendo utilizados em outras bases cartográficas produzidas pelo estado de Goiás. Os pontos de
controle foram retirados das imagens de satélite que compõem o SIG-Goiás.
Foram realizados dois processamentos para geração de cenas que propiciaram uma maior
facilidade de demarcação dos lineamentos.
O primeiro processamento é o aumento de resolução espacial, de uma composição RGB,
com a fusão da mesma com a banda de alta resolução e pancromática do satélite (Banda 8), através
do processamento de aumento de definição segundo o padrão IHS (Intensity Hue Saturation). Após
a obtenção dos arquivos de mais alta resolução foram aplicados filtros direcionais para realçar os
elementos lineares (variando de cena para cena) e após a aplicação destes filtros as imagens foram
exportadas para o sistema de arquivos ESRI padrão BIL. Estes processamentos foram realizados
utilizando-se o software ENVI 3.3.
As cenas obtidas por esses processamentos foram exportadas para o programa de
geoprocessamento ArcView 3.2, onde foram tratadas e delineadas as feições de lineamentos
observadas. A escala de visualização para a retirada das estruturas foi de 1:100.000, sendo adequada
para visualizar as estruturas com comprimento superior a 1.000 metros. Estas feições foram
digitalizadas em arquivos do tipo shape file (.shp) na forma de linhas com dois nós para cada
estrutura discriminada.
Para cada uma das regiões foram confeccionadas quatro rosetas de setor: lineamentos curtos,
médios, longos e total. Os lineamentos curtos são considerados < 1,5 km, os médios de 1,5 a 5 km e
os longos > 5 km.
Após a construção das rosetas foi desenvolvida uma avaliação relacionada aos aspectos
genéticos das estruturas, que levou em consideração aspectos da cinemática da deformação e o
posicionamento dos tensores. Os atributos da tectônica formadora e modificadora também foram
considerados para cada compartimento analisado.

6.3. AVALIAÇÃO DOS LINEAMENTOS


O padrão de fraturamento pode apresentar um marcante contraste de densidade de
lineamentos, uma vez que em regiões onde as coberturas de latossolos são amplas, os lineamentos
são mascarados, não significando que estão necessariamente ausentes. Em Goiás, os lineamentos
tendem a ser recobertos nas superfícies regionais de aplainamento (SRA) e tendem a ser mais
expostos nas regiões mais dissecadas (ZER, MC, etc.). Nas superfícies de aplainamento são
identificados os lineamentos longos, marcados por cursos fluviais alinhados, que podem superar 20
quilômetros de extensão.
De forma geral os lineamentos pequenos a muito pequenos representam planos de diminutas
fraturas, foliações e acamamento de alto ângulo; os médios representam planos de grandes fraturas
Hidrogeologia do Estado de Goiás 103
e falhas e os grandes lineamentos marcam zonas de cisalhamento, zonas cataclásticas e falhas
normais/reversas regionais.
Os resultados dos lineamentos foram divididos em seis setores de forma a otimizar sua
avaliação estatística, bem como tentar identificar diferenças genéticas. Assim os seguintes
compartimentos foram considerados: Norte da Sintaxe dos Pirineus, Sul da Sintaxe dos Pirineus,
Região dos Arcos de Ilha do Oeste de Goiás, Bacia do São Francisco, Bacia do Paraná e Bacia do
Araguaia (Figura 6.3).

Figura 6.3 – Compartimentação tectônica utilizada para se proceder aos estudos da análise de lineamentos.
Denominação dos compartimentos: 1 – Sul da Sintaxe dos Pirineus; 2 – Norte da Sintexe dos Pirineus; 3 – Arcos de Ilha
do Oeste de Goiás, 4 – Bacia do São Francisco; 5 – Bacia do Paraná e 6 – Bacia do Araguaia.

A Tabela 6.1 apresenta a síntese das informações em cada compartimento e traz a densidade
média dos lineamentos aparentes. Além dos compartimentos em separado, uma avaliação integrada
de todos os lineamentos também será apresentada.

Total de Km total Área Densidade Densidade


Compartimento
lineamentos por área km2 Km/Km2 N/Km2
Bacia do São Francisco 5.078 11.613 2.620 4,4 1,93
Bacia do Araguaia 8.406 18.567 3.533 5,2 2,37
Bacia do Paraná 15.650 34.090 7.844 4,3 1,99
Arcos de Ilha - W GO 3.713 7.752 1.336 5,8 2,77
Sul da Sintaxe 24.292 45.586 7.431 6,1 3,26
Norte da Sintaxe 25.320 49.965 6.646 7,5 3,80
Total 82.459 167.576 29.410 5,6 2,77
Tabela 6.1 – Síntese das informações dos lineamentos em cada compartimento geotectônico. A ampla variação da
densidade em km/km2 refere-se à densidade aparente de estruturas. N – é o número de indivíduos por
unidade de área (km2).
6.3.1. Norte da Sintaxe dos Pirineus
Neste segmento foram levantados 25.320 lineamentos com destaque para os lineamentos
médios (13.382, ou seja, 52% do total) (Figura 6.4).

104 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 6.4 – Rosetas de lineamentos curtos, médios, longos e totais para o compartimento Norte da Sintaxe dos
Pirineus. As cores implicam na interpretação genética das estruturas: verde, fratura de cisalhamento, vermelho, fratura
de extensão, azul escuro, par conjugado de cisalhamento, azul claro e amarelo, fratura híbrida com predominância da
componente cisalhante e rosa, fratura híbrida com predominância da componente extensiva.

Considerando a posição de N80-90W para o tensor principal compressivo (ı1), os


lineamentos longos apresentam uma típica distribuição ortorrômbica, com lineamentos EW, ± 10o,
representando o fraturamento de cisalhamento; lineamentos NS, ± 20 o, marcando as famílias dos
lineamentos de extensão; e o conjunto N40-60E/N40-60W que compõe o par conjugado de
cisalhamento. Os demais representam fraturas de gênese composta.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 105


Os lineamentos médios (entre 1,5 e 5 km) apresentam uma distribuição que mostra maior
concentração no quadrante NW, com destaque para os formados em condições extensionais ou
híbridas, com maior importância do componente extensivo. Aparentemente, o amplo
desenvolvimento precoce do par conjugado de cisalhamento causou sua ampliação ao longo da
evolução tectônica, com conseqüente tendência de ocorrerem na forma de lineamentos longos.
O conjunto de lineamentos curtos (< 1,5 km) foi representado no quadrante NW. Neste caso,
foram gerados planos de anisotropias por tração. Este conjunto de lineamentos está vinculado às
unidades psamo-pelíticas dos grupos Paranoá e Araí e, além de representarem planos de pequenas
fraturas, marcam o acamamento bastante evidente em imagens e fotografias aéreas. Do ponto de
vista de produtividade de água em aqüíferos fissurais os planos de fraturas têm maior importância
que os planos de acamamento sedimentar.
Do ponto de vista regional, os lineamentos longos (> 5 km), em geral NE, são
estatisticamente mais abundantes que os NW. Este fato é devido à inflexão nordeste que a Faixa
Brasília sofre a norte da Sintaxe do Pirineus.

6.3.2. Sul da Sintaxe dos Pirineus


Ao sul da Sintaxe do Pirineus, o comportamento dos planos de fraturas/falhas verticais
regionais segue a mesma tendência de distribuição estatística, entretanto, como a inflexão é para
sudeste, há tendência de desenvolvimento de maior densidade de lineamentos no quadrante NW
(Figura 6.5).
Os lineamentos longos representam três famílias que se destacam pela freqüência e
compõem anisotropias verticais EW (± 20o) de cisalhamento; fraturas NS (± 30o) de extensão e
N45E/N45W (± 15o) compondo o par conjugado de cisalhamento. Além das famílias descritas ainda
ocorrem, com menor freqüência, lineamentos considerados de gênese mista e representados por
fraturas híbridas.
A tendência NW permanece de forma mais evidente nos lineamentos médios e pequenos.
Nestes casos menos de 25% dos planos de lineamentos estão representados no quadrante NE.
A densidade deste compartimento é de 3,26 km/km2 de lineamentos que marcam fraturas,
falhas e zonas de cisalhamento. Há um evidente contraste de densidade de lineamentos que marca o
limite entre os terrenos granulíticos (do Complexo Anápolis-Itauçu) e xistosos (do Grupo Araxá).

106 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 6.5 – Rosetas de lineamentos curtos, médios, longos e totais para o compartimento Sul da Sintaxe dos Pirineus.
As cores implicam na interpretação genética das estruturas: verde, fratura de cisalhamento, vermelho, fratura de
extensão, azul escuro, par conjugado de cisalhamento, azul claro e amarelo, fratura híbrida com predominância da
componente cisalhante e rosa, fratura híbrida com predominância da componente extensiva.

6.3.3. Região dos Arcos de Ilha do Oeste do Estado


Este compartimento foi destacado em função da grande diferença do padrão observado a
norte (Bacia do Araguaia) e a sul (Bacia do Paraná). Observa-se uma maior densidade de planos de
falhas e fraturas verticais de direção NS comparado com as direções EW e intermediárias, ou seja,
uma predominância de estruturas extensivas sobre as cisalhantes.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 107


A avaliação estatística dos lineamentos regionais mostra um padrão distinto daquele
observado nas porções norte e sul da Faixa Brasília (Figura 6.6). Neste caso, a marcante diferença é
atribuída à atuação simultânea de esforços relativos a compressões de leste e de oeste, devidas à
amalgamação de terrenos dos arcos aos crátons Amazônico e São Franciscano.
No grupo dos lineamentos longos praticamente não há representantes de fraturas e falhas de
extensão. Os pares de cisalhamento conjugados e as fraturas de cisalhamento são bem evidentes. Os
demais são interpretados como estruturas híbridas com componente extensivo predominante em sua
gênese. A ausência de estruturas NS é interpretada como uma atividade simultânea de esforços
opostos que resulta na anulação do esforço e não desenvolvimento de estruturas extencionais.
Os lineamentos médios apresentam máximo para N10-20W (16% da população) e
distribuição simétrica das demais famílias. Neste caso as estruturas extensivas e híbridas com maior
contribuição trativa é evidente.
Os lineamentos curtos são numericamente pouco expressivos e representam de forma
evidente as estruturas de cisalhamento ou híbridas com maior componente cisalhante.

6.3.4. Bacia do São Francisco


Corresponde aos lineamentos observados no Grupo Bambuí. Este compartimento também
foi separado por apresentar um padrão distinto das demais regiões do estado, uma vez que inclui as
porções externas da Faixa Brasília e a Zona Cratônica.
O grupo dos grandes lineamentos mostra de forma bastante evidente estruturas formadas em
regime trativo, marcando fraturas extensivas com relação à compressão principal leste-oeste e
apresentam direção N10-20W e N10E (Figura 6.7). O par conjugado de cisalhamento é bastante
evidente e é representado por estruturas de direção N50-50W e N50-70E. Estruturas de
cisalhamento não são observadas.
O conjunto de lineamentos médios é representado de forma predominante por estruturas de
extensão com direção N10-20 W e pequena concentração de estruturas do par de cisalhamento
(N40-50W e N40E). Novamente não há representantes das estruturas de cisalhamento.
Os lineamentos curtos mostram distribuição estatística similar ao dos médios, contudo
apresentam cerca de 25% de estruturas interpretadas como originadas por fraturas de cisalhamento.
As demais famílias de extensão e o par conjugado estão presentes quase exclusivamente no
quadrante noroeste.
A distinção dos lineamentos neste compartimento é atribuída à posição cratônica que limita
o desenvolvimento de estruturas de cisalhamento paralelas ao esforço principal e favorece o
desenvolvimento de estruturas extensionais ou vinculadas ao par conjugado.

108 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 6.6 – Padrão de distribuição de rosetas de Figura 6.7 – Padrão de distribuição de rosetas de
lineamentos verticais do compartimento Arcos de Ilha lineamentos verticais do compartimento Bacia do São
do Oeste de Goiás. Os lineamentos longos apresentam Francisco. Os lineamentos longos apresentam ampla
ausência de estruturas extensivas e os lineamentos curtos predominância de estruturas extensivas (norte-sul) e os
apresentam ausência de estruturas NE do par conjugado lineamentos médios e curtos apresentam ausência de
de cisalhamento. As direções dos lineamentos totais estruturas NE do par conjugado de cisalhamento. O
seguem o padrão geral da Faixa de Dobramentos padrão dos lineamentos totais indica que esta região,
Brasília. mais externa à faixa de dobramentos, sofreu de forma
mais intensa os efeitos trativos da tectônica brasiliana e
dos eventos neotectônicos posteriores.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 109


6.3.5. Bacia do Paraná
Este compartimento apresenta a menor densidade aparente de lineamentos com apenas 1,99
km/km2 e um total de 15.650 lineamentos. A baixa densidade aparente é função da ampla ocorrência
de coberturas de solos espessos e arenosos que mascaram parte das estruturas e também pela idade
relativa mais jovem, quando comparado ao conjunto proterozóico que domina o estado.
A estruturação mostra o típico padrão ortorrômbico (Figura 6.8), com ı1 aproximadamente
EW, certamente impresso nas rochas do embasamento e propagado às rochas fanerozóicas.
O estudo da estratigrafia da bacia indica que os lineamentos verticais atualmente
observados, principalmente como grandes rios alinhados, funcionaram com falhas normais ou
reversas ao longo da história deposicional da bacia.
Esta evolução representa a reativação de estruturas do embasamento e é responsável pela
terminação abrupta, restrição de espessuras e eliminação de unidades, principalmente na borda da
bacia. Este quadro controla a distribuição, transmissividade e até mesmo a presença de certas fácies
hidrogeológicas em determinado local. Como exemplo pode-se citar a estrutura vinculada ao Rio
Doce (entre Jataí e Rio Verde), a qual é interpretada como uma falha que atuou com rejeito normal
em tempos pré-mesozóicos e que foi posteriormente recoberta pelos derrames de basalto da
Formação Serra Geral, de forma que atualmente represente o provável limite leste do Sistema
Aqüífero Guarani no estado de Goiás.
Os lineamentos longos e médios apresentam o mesmo padrão geral evidenciando
lineamentos N20W a N20E (extensivos), N40E a N60E e N50W a NN70W (par conjugado de
cisalhamento) e em torno de EW (fraturas cisalhantes). Os lineamentos curtos evidenciam o par
conjugado de cisalhamento, estruturas híbridas com predominância de componente extensivo
(N30W) e as estruturas extensivas.

6.3.6. Bacia do Araguaia


Os lineamentos que ocorrem recortando os sedimentos cenozóicos da bacia do rio Araguaia
e algumas áreas de exposição do embasamento são os mais indicados para revelar os sistemas de
reativação neotectônica. Uma vez que os sedimentos são cenozóicos, pouco ou não litificados, a
presença de estruturas planares verticais é devida à reativação do embasamento e não a uma
tectônica rúptil recente. Este compartimento apresenta a menor densidade com relação aos demais,
com apenas 1,93 lineamentos por quilômetro quadrado. As rosetas mostram maior concentração de
lineamentos no quadrante noroeste (Figura 6.9).
Os lineamentos longos indicam ampla predominância de reativação de estruturas N10-20W
provenientes de estruturas extensivas, além do par conjugado de cisalhamento.
Os lineamentos médios são os mais expressivos em termo de freqüência e corroboram o que
é mostrado pelos grandes lineamentos, entretanto com maior evidência para as direções N40-60W.

110 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Os lineamentos curtos concordam com os médios tanto nas direções quanto nas freqüências,
com evidente predominância de lineamentos no quadrante noroeste.

Figura 6.8 – Distribuição estatística dos lineamentos Figura 6.9 – Padrão de lineamentos do compartimento
estruturais no compartimento Bacia do Paraná. Os Bacia do Araguaia. A distribuição estatística indica
lineamentos longos e médios com direção NW marcam maior reativação tectônica das anisotropias noroeste.
o curso dos principais rios tributário do Rio Paraná, no Esse fato é devido ao arranjo dos tensores pós-
sudoeste do estado de Goiás. cretáceos no interior da placa sul americana.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 111


6.3.7. Avaliação Integrada
A ampla tendência de desenvolvimento de estruturas NW, em todos os compartimentos, é
interpretada como função de descontinuidades planares herdadas do embasamento, em geral,
recoberto por metassedimentos. Outro fator é atribuído à separação sul atlântica, que resulta em
máxima extensão na direção S70-90E, o que dificulta a reativação neotectônica das estruturas NE.
Os sistemas de lineamentos observados no estado apresentam uma ampla distribuição nas
direções das fraturas e falhas. Predominam amplamente as direções N15E, N15W e N50-65W
(Figura 6.10). Em geral, as duas primeiras direções correspondem a fraturas de extensão, enquanto a
terceira corresponde a fraturas de cisalhamento, que têm como par conjugado os sistemas com
direção média N40-65E. Estas quatro direções de lineamentos correspondem aos sistemas de
fraturas mais expressivos no estado, condicionando, em sua maior parte, os grandes traços do
padrão de drenagem regional.
As famílias com direção N50-75W correspondem a fraturas de cisalhamento e apresentam
desenvolvimento bastante variável, com traços em superfície desde decimétricos até maioires que
30 km. Os principais exemplos de fraturas desta família correspondem aos lineamentos definidos
pelos rios Aporé, Verde, Verdinho e Claro, situados no sudoeste do estado.
As famílias de fraturas N50-75W formam um sistema conjugado com as fraturas N40-65E,
estas últimas correspondem a um dos grupos de fraturas menos expressivos na região, compondo
menos de 15% do total. Em geral, esta família tende a desenvolver fraturas dos grupos médios e
grandes cujo exemplo mais expressivo é o alinhamento regional do Rio Tocantins a norte da
inflexão dos Pirineus.
As famílias de fraturas com direções N15W são estatisticamente bastante expressivas no
estado de Goiás. Contudo, apresentam extensões grandes, e por isso aparecem em maior freqüência
nos grupos dos lineamentos médios e grandes. Os sistemas subverticais e com mergulhos para os
quadrantes de leste apresentam-se freqüentemente preenchidos por quartzo, evidenciando sua
natureza extensional. As famílias de fraturas com direções em torno de N75-85W e N75-85E
correspondem a cisalhamentos, dextrais e sinistrais, que podem ter sido geradas ainda durante as
fases de deformações dúcteis.
O conjunto das diferentes famílias de fraturas aqui caracterizadas foi utilizado como
indicador cinemático. Durante o Brasiliano, foram gerados os pares de fraturas de cisalhamento e as
famílias de fraturas de extensão N15E, N10-20W. Estes sistemas definem um campo de stress onde
o tensor máximo ( 1) orientava-se segundo N75-90W.
Após o término do Evento de Deformação Brasiliano (Neoproterózoico), a região foi palco
de sucessivas reativações, desde o Paleozóico até o Recente, as quais estão refletidas no modelado
do relevo e na compartimentação tectônica. A caracterização das deformações pós-proterozóicas é

112 Hidrogeologia do Estado de Goiás


ainda bastante incipiente, mas a avaliação dos lineamentos indicou que as principais direções
reativadas foram NS, N10-30W e N40-60W (Figura 6.10).

Figura 6.10 – Rosetas totais dos lineamentos do estado de Goiás. A distribuição mostra que as estruturas trativas norte-
sul e as cisalhantes noroeste (do par conjugado de cisalhamento) são as mais evidentes em toda a região. Os tensores
compressivos aproximadamente leste-oeste que persistem desde o fim do cretáceo não favorece à reativação das
estruturas equatoriais.

Dentre os registros de eventos de deformação pós-proterozóica, observados na região,


podem ser citados:

Hidrogeologia do Estado de Goiás 113


- presença de testemunhos sedimentares do Eocretáceo (Formação Abaeté na região
a norte do DF e no Domo de Caldas Novas) que representam a preservação de um
evento de reativação pré-cretácea, sendo encontrados em calhas formadas após a
sedimentação destas unidades e antes do processo erosivo quaternário;
- presença de crostas lateríticas terciárias e quaternárias falhadas, incluindo
estruturas de sliken sides e estruturas em lápis;
- presença de vales de drenagens assimétricos com cambissolos e neossolos litólicos
em umas das margens e latossolos na outra margem;
- presença de amplas áreas com acumulação de água, elevada densidade de lagoas e
baixa densidade relativa de lineamentos como é o caso do baixo vale do Rio dos
Bois nos domínios da Bacia do Paraná.

6.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS


O principal condicionante que impõe diferenças entre um e outro aqüífero está ligado
diretamente a controles litológicos, os quais, por sua vez, refletem diretamente o comportamento
dos diferentes tipos de rochas quando submetidas a processos deformacionais.
As unidades mais competentes como gnaisses, quartzitos, metassiltitos e carbonatos
respondem de forma eminentemente rúptil à deformação, gerando uma porosidade secundária
(fraturas e falhas) mais efetiva. Por outro lado, as litologias incompetentes, como as ardósias,
metargilitos, filitos e xistos, em função de sua maior plasticidade, tendem a manter fechados os
planos de fraturamento e falhamentos o que resulta em uma porosidade secundária efetiva mais
baixa, embora também possam responder de maneira rúptil à deformação frágil tardia.
Quanto aos diferentes sistemas de fraturamento, os melhores aqüíferos fissurais são aqueles
associados às famílias de fraturas e falhas de alto ângulo que, originalmente, foram geradas como
sistemas extensionais, sendo o principal sistema, representado pela direção N15E, seguido pelos
sistemas de cisalhamento que são mais facilmente reativados pelos esforços tectônicos pós-
Paleógenos.
Considerando apenas os sistemas de deformação rúpteis, os melhores aqüíferos são aqueles
que ocorrem nas intercessões de diferentes sistemas, principalmente entre os sistemas das famílias
NS e N40-65E/N40-60W.
Os sistemas de fraturas de baixo ângulo, com qualquer atitude são importantes na
interconexão dos sistemas de alto ângulo causando uma otimização dos aqüíferos de domínio
fraturado ou de dupla porosidade.

114 Hidrogeologia do Estado de Goiás


CAPÍTULO VII
USO E COBERTURA VEGETAL

7.1. INTRODUÇÃO
A quantidade e a qualidade das águas subterrâneas estão diretamente associadas aos
processos de recarga. O tipo de uso e ocupação sob a qual uma determinada região encontra-se
submetida e a densidade e tipo da cobertura vegetal remanescente são os principais condicionantes
que podem incrementar ou até mesmo anular os processos naturais de recarga.
Em Goiás, o uso e ocupação irregular ou inadequada do solo vêm provocando alterações em
suas características naturais, causando sérios problemas ambientais como a deterioração da
qualidade ambiental e a grande diminuição das áreas de recarga natural dos aqüíferos.
Para a elaboração do presente trabalho utilizou-se como ferramenta auxiliar o mapa de
“Definição de Áreas Prioritárias para Conservação do Estado de Goiás” confeccionado pelo
Consórcio Imagem – WWF Brasil, em 2004, aliado a atividades de conferência de campo e
classificação automática utilizando o software ArcView.
A metodologia utilizada para a realização do mapa (WWF Brasil, 2004) consistiu de
interpretação das classes de cobertura vegetal e uso do solo, aplicando diferentes métodos de
classificação: manual, não supervisionada e supervisionada. Foi realizado um cruzamento visual das
interpretações do uso diretamente sobre as imagens analógicas do satélite LANDSAT ETM+, na
composição colorida RGB - 543, correspondentes aos anos de 2001-2002.
A área mínima de representação foi de 25 ha, sendo contempladas as classes: Mata de
Galeria e Ciliar; Mata Seca ou Cerradão; Cerrado Sensu Strictu; Campo Limpo; Campo Sujo,
Campo Rupestre; Cultura em Pivô Central, Cultura Anual, Cultura Permanente, Pastagem,
Reflorestamento, Água, Área Urbana, Núcleo Rural, Áreas Queimadas, Mineração, Solo Exposto
(exceto Agricultura) e Área de Tensão Ecológica.
Para analisar a influência do uso e ocupação do solo nas águas subterrâneas, foi realizada
uma nova classificação das tipologias acima, reagrupando temas que possuem influências similares
no comportamento hídrico das águas meteóricas e na recarga dos aqüíferos. Foram definidas as
seguintes classes: Agricultura; Água; Área Urbana; Cerrado; Floresta; Pastagem; e Solo Exposto.

7.2. CLASSES DE USO


7.2.1. Agricultura
Nesta classe foram agrupados diferentes tipos de lavouras, culturas anuais e perenes, e pivôs
centrais e representa 18,1% da área total do estado. Concentra-se na região sudoeste, formando uma
faixa contínua desde Itumbiara a Mineiros, passando por Rio Verde e Jataí, e nas imediações de
Chapadão do Céu, com uma grande concentração de monoculturas, principalmente soja, milho,
algodão, sorgo, girassol e cana-de-açúcar (Figuras 7.1 e 7.2). Observam-se ainda, concentrações

Hidrogeologia do Estado de Goiás 115


desta classe no eixo da Rodovia BR-153 até as imediações de Uruaçu e faixas descontínuas, na
região leste de Goiás, ocupando os chapadões, em uma região entre Formosa e Catalão.

Figura 7.1 – Extensa área de lavoura de soja observada na região sudoeste de Goiás, município de Jataí.

Figura 7.2 – Cultura de girassol na região de Chapadão do Céu.

7.2.2. Água
Esta classe representa 0,6% da área total do estado, sendo incluídos os lagos naturais,
represas formadas por barramentos artificiais e rios de margem dupla, mapeáveis na escala do
trabalho. Estas massas d’água influenciam no nível do lençol freático e na prática representam
condições de recarga local e limitada, uma vez que definem os principais exutórios dos aqüíferos
profundos. As maiores massas d’água artificiais encontram-se ao longo do curso dos rios Paranaíba,
Corumbá e Tocantins (Figura 7.3).

Figura 7.3 – Lago de Serra da Mesa, maior represa em volume d’água do Brasil. Barramento construído no curso do
Rio Tocantins, região norte de Goiás (Fonte: Google Earth).

7.2.3. Área Urbana


Agrupam-se, nesta classe, os perímetros urbanos de todas as localidades de Goiás e Distrito
Federal. Concentra-se, principalmente, na região sul e sudoeste de Goiás, no Distrito Federal e

116 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Entorno, além de Anápolis e a Região Metropolitana de Goiânia (figura 7.4), representando 0,7% da
área total do estado.
Esta classe de uso do solo influencia diretamente na recarga dos aqüíferos, devido à intensa
impermeabilização que ocorre em todos os grandes aglomerados urbanos. Ainda nestas áreas,
observa-se um grande potencial de contaminação dos aqüíferos por diversas fontes de lançamento
de poluentes (figura 7.5).

Figura 7.4 – Vista panorâmica da cidade de Goiânia.

Figura 7.5 – Lixão da cidade de Mineiros, construído sobre os arenitos do Sistema Aqüífero Guarani - SAG.

7.2.4. Cerrado e Floresta


Nesta classe agrupam-se todas as diferentes fitofisionomias do cerrado, incluindo campos
limpos, campos sujos, cerradão, cerrado sensu strictu, campo cerrado, matas de galeria, além de
florestas e todas as áreas não antropizadas ou que apresentem elevado grau de preservação.
Esta classe representa 37,6 % da área total do estado e sua individualização é extremamente
importante, do ponto de vista do comportamento hídrico, pois apresenta, em geral, elevadas taxas de
infiltração acarretando zonas de alto potencial de recarga, quando associadas a outros parâmetros
físicos como relevos pouco movimentados e solos profundos permeáveis.
Em geral, observam-se remanescentes fragmentados desta classe distribuídos por quase todo
o estado de Goiás (figura 7.6). Contudo, destacam-se áreas contínuas associadas às Unidades de
Conservação, e grandes faixas de vegetação preservada nas regiões norte e nordeste do estado.

7.2.5. Pastagem
Esta classe representa áreas com plantio de gramíneas visando a formação de pastagens. Em
geral, estas áreas possuem taxas regulares de infiltração das águas meteóricas. Contudo, o
comportamento hídrico encontra-se, por vezes, prejudicado pela compactação do solo ou ainda
pelos elevados estágios de degradação da pastagem.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 117


Esta classe representa 45% da área total de Goiás, sendo observada em praticamente todo o
estado (figura 7.6), com maior freqüência na região sudoeste e na bacia hidrográfica do alto e médio
curso do Rio Araguaia.

Figura 7.6 – Vista geral de área de cerrado antropizado e transformado em pastagem (em primeiro plano) e de cerrado
preservado em segundo plano, na região de Morrinhos.

7.2.6. Solo Exposto (Exceto Agricultura)


Esta classe representa apenas 0,01 % da área total do estado. Correspondem as áreas de solo
exposto na escala mapeável pela metodologia utilizada no referido mapa (área mínima de 25 ha).
Contudo, há uma grande quantidade de ocorrências em menor escala, por todo o estado.
Estas áreas são representadas por atividades de mineração (Figura 7.7) ou outras áreas
degradadas pela atividade antrópica (áreas de empréstimo para a construção de estradas e barragens,
bota-fora em adjacência de áreas urbanas, etc). A remoção da vegetação e, muitas vezes, do solo
implica numa drástica redução da capacidade de infiltração das águas meteóricas nestas áreas, o que
acentua uma deficiência no potencial de recarga desta classe.

Figura 7.7 – Vista panorâmica de cava de mineração de amianto em Minaçu - GO.

7.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS


As classes definidas e descritas são aplicáveis na escala regional do presente trabalho,
entretanto do ponto de vista da gestão e do planejamento é importante que mapas de uso e cobertura

118 Hidrogeologia do Estado de Goiás


vegetal sejam confeccionados para áreas específicas em escalas maiores que 1:50.000, contendo um
número maior de categorias de usos distintos. A recarga apresentará comportamento diferente em
cada uma das classes e em alguns casos, poderá inclusive variar em uma mesma classe em função
do tipo de manejo aplicado a determinado uso.
As condições mais adequadas de recarga são observadas nas áreas com cobertura de
vegetação preservada, aliado a condições de solos permeáveis, com relevo plano a suave ondulado.
Observa-se, por exemplo, que a região nordeste do estado, onde estão situadas as maiores faixas de
cobertura vegetal natural, não corresponde às áreas de melhores condições de recarga, uma vez que,
existe predomínio de cambissolos e neossolos litólicos em extensas faixas com padrão de relevo
ondulado. Assim, mesmo com menores extensões de vegetação preservada, áreas com solos
espessos e arenosos, freqüentemente observados na região sudeste de Goiás, apresentam melhores
condições gerais de infiltração e recarga dos aqüíferos.
A atividade de pecuária que ocupa grandes faixas de terras do estado de Goiás representa um
tipo de uso que em longo prazo, gradativamente minimiza a recarga. Esse fator é atribuído à
progressiva compactação das camadas superficiais dos solos pelo pisoteio do gado. Em áreas de
solos arenosos (como é o caso de grande parte das áreas de ocorrência do Grupo Bauru e da
Formação Botucatu) esse efeito é minimizado, pois as areias têm melhor grau de compacidade.
A classe de uso denominada agricultura, também apresenta distinto grau de modificação das
condições de recarga. Em geral as áreas de grandes plantações em sistema de monoculturas ocupam
áreas planas, de latossolos (originalmente ocupadas por cerrados) em sistemas de plantio de
sequeiro. O principal condicionante da recarga é o sistema de manejo adotado. No caso onde são
utilizados sistemas de proteção contra os processos erosivos, como a instalação de curvas de nível,
plantio direto, terraceamento e manutenção de reservas legais, as condições de infiltração e recarga
são mantidas ainda de forma favorável. A diminuição da recarga é restrita e é vinculada ao aumento
da evapotranspiração da nova cobertura vegetal.
As classes Solo Exposto e Área Urbana são as que apresentam as condições menos
favoráveis à recarga dos aqüíferos. Nestes sistemas de uso as modificações das condições naturais
são as mais severas, de forma que a impermeabilização, compactação, remoção das camadas
superficiais dos solos e supressão da vegetação ocorrem em amplas áreas. No caso da classe Área
Urbana ainda há o fato de que além de minimizar a recarga, há o aumento do risco efetivo de
contaminação das águas subterrâneas, a partir da emissão de diversas classes de poluentes. Nas
áreas expostas também há o incremento do risco efetivo de desenvolvimento de processos erosivos
que na prática, representa a própria perda da zona não saturada dos aqüíferos.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 119


120 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO VIII
HIDROGRAFIA

8.1. INTRODUÇÃO
Os recursos hídricos superficiais têm estreita relação de interdependência com as águas
subterrâneas. Rios, córregos e outras drenagens ora alimentam os aqüíferos (influentes), ora são
alimentados pelas águas subterrâneas (efluentes). A manutenção da qualidade e da quantidade das
águas superficiais é extremamente importante não apenas para a manutenção dos ecossistemas
dependentes, mas também para a garantia de alimentação dos aqüíferos profundos.
O estado de Goiás e o Distrito Federal possuem características peculiares em relação à
hidrografia. Nesta área nascem drenagens alimentadoras de três importantes Regiões Hidrográficas1
(RH) do país (Araguaia/Tocantins; São Francisco e Paraná), tendo como divisores os planaltos do
Distrito Federal e entorno e os altos topográficos que atravessam as cidades de Águas Lindas,
Pirenópolis, Itauçu, Americano do Brasil, Paraúna, Portelândia até as imediações do Parque
Nacional das Emas (figura 8.1).

50 0 50 100 Km

Legenda
Região H idrográfica
Tocantins/Araguaia Rio

Paraná Limites entre Unidades


da Federação
São Francisco

Figura 8.1 – Distribuição das Regiões Hidrográficas em Goiás e Distrito Federal (CNRH, 2003).

8.2. REGIÃO HIDROGRÁFICA TOCANTINS/ARAGUAIA


A RH Tocantins/Araguaia é representada pelos cursos d’água que vertem no sentido sul-
norte, destacando-se como tributários principais os rios Araguaia e Tocantins, os quais têm
confluência em outras Unidades da Federação.

1
Regiões Hidrográficas correspondem a áreas drenadas por uma ou mais bacias hidrográficas.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 121


Ocupa uma área de 197.323,744 km2, representando 56,89% do somatório do território de
Goiás e Distrito Federal. Neste trabalho, subdividiu-se esta RH em dois compartimentos: o do Rio
Araguaia, formado pelos afluentes que drenam a porção oeste e deságuam na margem direita do Rio
Araguaia e o do Tocantins, formado pelos cursos que correm no sentido norte-sul e leste-oeste,
representados pelos afluentes dos rios Maranhão e Tocantinzinho (figura 8.1).

8.2.1. Rio Araguaia


O compartimento formado pelo Rio Araguaia possui características diversas, com altitudes
que variam de 850 metros, nas nascentes, caindo para cerca de 250 metros no extremo noroeste do
estado. Nesta área predomina uma calha com trechos suaves, recortados por ilhas e leitos
anastomosados e com formação de bancos de areias e ilhas.
Na região das nascentes ocorrem algumas cachoeiras e corredeiras. A densidade de
drenagem e o porte dos rios afluentes são reduzidos. Observam-se grandes áreas pantanosas
(veredas), o que confere uma elevada capacidade de regularização dos deflúvios2.
Na margem goiana, os seus principais afluentes, de montante para jusante, são os rios:
Babilônia, do Salto, Diamantino, do Peixe, Caiapó, Claro, Vermelho e Crixás-Açu.
A intensa atividade antrópica suprimiu grande parte das matas ciliares com subseqüente
instalação de processos erosivos, em decorrência da atividade agropastoril, tendo como
conseqüência o assoreamento de reservatórios e de cursos d’água, aumentando a quantidade de
bancos de areias, ocasionando com maior freqüência enchentes e alterações ecológicas, que afetam
a flora e fauna. Observa-se nas nascentes do Rio Araguaia o desenvolvimento de grandes voçorocas
em escarpas de recuo, amplificadas pelo intenso uso do solo e agravadas pela fragilidade do solo de
textura arenosa formado sobre rochas areníticas da Bacia Sedimentar do Paraná.

8.2.2. Rio Tocantins


O compartimento representado pelo Rio Tocantins é formado pela junção dos rios Maranhão
e Tocantinzinho e seus afluentes têm cursos drenando preferencialmente nos sentidos nordeste e
noroeste. Além destes dois cursos d’água, os principais rios deste compartimento, de montante para
juzante, são: das Almas, dos Patos, Verde, Traíras, Preto e Paranã, com foz no estado do Tocantins.
Suas nascentes apresentam altitudes entre 900 a 1600 metros, relevo serrano e altitudes
médias entre 200 e 500 metros na porção norte do estado. Apresenta boa densidade de drenagem e
seus afluentes são, em geral, de porte considerável e desprovidos de áreas alagadiças expressivas.
A região sul, onde se localizam as nascentes, é a mais desenvolvida e mais populosa,
enquanto que a região norte-nordeste tem pequena densidade demográfica e baixos índices de
desenvolvimento. As atividades antrópicas proporcionaram impactos degradantes em grandes áreas,
com a supressão de vegetação de encostas, matas ciliares, instalação de processos erosivos,

2
Vazão de corpos hídricos.
122 Hidrogeologia do Estado de Goiás
lançamento de lixos urbanos em locais inadequados e despejos de esgotos domésticos e efluentes
industriais sem tratamento prévio.
Contudo, observam-se, ainda, grandes áreas preservadas neste compartimento, sobretudo nas
regiões norte e nordeste de Goiás, com a presença de Unidades de Conservação (Parques Nacional e
Estadual, Áreas de Proteção Ambiental – APA’s e Reservas Particulares do Patrimônio Natural –
RPPN’s) além de outras áreas com vegetação ainda preservada, haja vista a baixa aptidão para
atividades agropastoris mecanizadas.

8.3. REGIÃO HIDROGRÁFICA DO SÃO FRANCISCO


A RH do São Francisco situa-se na porção leste do estado, tendo pouca representatividade
na área em estudo. Ocupa, em Goiás e Distrito Federal, 4.470,155 km2, o que perfaz um montante
de 1,29% da área total (figura 8.1).
Na área de estudo, esta região hidrográfica é representada pelas nascentes dos rios Preto,
Bezerra e Urucuia. Apesar da pequena representatividade espacial e baixa densidade demográfica,
observa-se uma intensa ocupação agrícola, com agricultura mecanizada, principalmente na
produção de grãos de soja e milho e, ainda, particularmente, no Distrito Federal, granjas de suínos e
aves. Este intenso uso ocasiona a supressão de vegetação nativa (cerrado e mata de galeria),
instalação de processos erosivos e assoreamento, e potencial contaminação por insumos e
defensivos agrícolas, além dos dejetos das granjas.
Localmente, existem remanescentes de vegetação natural (cerrado), localizados em área de
treinamento militar, entre os rios Bezerra e Preto.

8.4. REGIÃO HIDROGRÁFICA DO PARANÁ


A RH do Paraná localiza-se na porção centro-sul do estado, ocupando 145.073,753 km2, o
que perfaz 41,82%, do somatório da área do estado de Goiás e do Distrito Federal (figura 8.1).
Esta RH é representada, na área de estudo, pelos afluentes goianos da margem direita do Rio
Paranaíba. De montante para jusante, destacam-se os seguintes rios: Verdão, São Marcos,
Veríssimo, Corumbá, Piracanjuba, Meia Ponte, dos Bois, Claro, Verde, Corrente e Aporé.
Nela, localiza-se, também, uma grande concentração de pequenas massas d’água (represas)
formadas a partir da construção de barramentos na área das nascentes, com objetivo de reservação e
regularização dos cursos d’água para utilização na dessendentação de animais, irrigação e
abastecimento público.
Nesta RH encontra-se instalada a maioria dos parques industriais e atividades de agricultura
intensiva, sendo também a mais densamente povoada. O abastecimento público e privado de água é
realizado principalmente por derivação de mananciais superficiais, sendo que a maioria das cidades
não é servida por um sistema de rede de esgotamento sanitário e estações de tratamento de esgoto.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 123


Encontra-se fortemente impactada pela ação antrópica, com atividades de desmatamento,
contaminação por poluentes industriais e domésticos, intensa atividade agrícola, instalação de
processos erosivos, ocupação desordenada das áreas urbanas, o que propiciou a devastação de
grande parte do cerrado pré-existente.
A intensa atividade agropecuária, representada por pastagens plantadas, lavouras de soja,
milho, algodão, girassol e cana-de-açúcar, provoca contaminação dos mananciais pelo lançamento
de grandes quantidades de insumos e defensivos agrícolas.
Os fragmentos de vegetação natural correspondem a poucos remanescentes em estado
primário (Parques Nacional e Estadual, APA’s, Florestas Nacionais, RPPN’s), porém, em sua
maioria, são representados por vegetação secundária com composição florística alterada em função
de interferências antrópicas.
Localmente, já se observa que a prática de agricultura intensiva e irrigada por pivô central,
promove conflitos pelo uso d’água, em várias bacias hidrográficas de Goiás e Distrito Federal.

8.5. MASSAS D’ÁGUA


Em toda a região, assumem grande importância as massas d’água formadas pelo
represamento dos médios e baixos cursos, localizados em todas as regiões hidrográficas, bem como
as lagoas naturais (figura 8.2). Estas massas d’água representam cerca de 1,6% da superfície da área
de estudo. Para efeito deste trabalho, consideram-se massas d’água os corpos hídricos represados
natural ou artificialmente.
Os maiores lagos são formados por barramentos artificiais para geração de energia elétrica
ou captação de água para abastecimento público.

8.5.1. Região Hidrográfica do Paraná


No Rio Paranaíba, e afluentes do lado goiano, formaram-se as seguintes massas d’água:
- Lago Azul – formado pela represa de Emborcação, bordeja, no lado goiano, os municípios
de Catalão, Três Ranchos, Ouvidor e Davinópolis. O lago possui área de 444 km2 e
profundidade podendo alcançar até 180 metros, tem como função primordial a geração de
energia elétrica e subordinadamente o uso turístico.
- Lago das Brisas – formado pela represa de Itumbiara, bordeja, no lado goiano, os
municípios de Itumbiara, Buriti Alegre, Água Limpa, Marzagão, Caldas Novas,
Corumbaíba, Nova Aurora, Cumari e Anhangüera. Possui em torno de 778 km2, chegando a
atingir 150 metros de profundidade e 50 quilômetros de largura. Tem como função
primordial a geração de energia elétrica e subordinadamente o uso turístico.

124 Hidrogeologia do Estado de Goiás


13 14
N
12

15
16

11
10
9
17
6
8

7
5

2 1
3
4
50 0 50 100 150 200 Km

Legenda
Região Hidrográfica do Paraná Região Hidrográfica Tocantins/Araguaia
1 - Lago Azul 12 - Lago de Serra da Mesa
2 - Lago das Brisas 13 - Lago de Cana Brava
3 - Lago de Cachoeira Dourada 14 - Lago de São Domingos
4 - Lago de São Simão 15 - Represamento de Mosquito
5 - Lago de Corumbá II 16 - Represamento de Mambaí
6 - Lago de Corumbá IV
7 - Lago do Rochedo Região Hidrográfica do São Francisco
8 - Lago do João Leite
9 - Lago Paranoá 17 - Lago do Rio Preto
10 - Lago do Descoberto
11 - Lago Santa Maria

Figura 8.2 – Localização dos principais represamentos em Goiás e Distrito Federal. (Fonte: SIG-GOIÁS 2005).

- Lago de Cachoeira Dourada - formado por barramento homônimo, possui 65 km2,


bordejando, no lado goiano, os municípios de Cachoeira Dourada e Itumbiara. Tem como
função primordial a geração de energia elétrica.
- Lago de São Simão – formado pela represa de São Simão, o lago ocupa uma área de 772
km2, bordejando, no lado goiano, os municípios de São Simão, Paranaiguara, Quirinópolis,

Hidrogeologia do Estado de Goiás 125


Gouvelândia, Inaciolândia e Almerindonópolis. Tem como função primordial a geração de
energia elétrica e subordinadamente o uso turístico.
- Lago de Corumbá II – formado pela represa da UHE - Corumbá II, banha os municípios de
Caldas Novas, Ipameri e Corumbaíba e possui área de 65 km2. Tem como função primordial
a geração de energia elétrica e, de forma secundária, o uso turístico.
- Lago de Corumbá IV – formado pelo represamento do Rio Corumbá, banha os municípios
de Luziânia, Santo Antônio do Descoberto, Alexânia, Abadiânia e Silvânia, tendo previsto
um uso múltiplo dos recursos hídricos (geração de energia elétrica e abastecimento da região
do entorno do Distrito Federal).
- Lago do Rochedo – formado pelo represamento do Rio Meia Ponte (PCH - Rochedo),
ocupa área de aproximadamente 6,8 Km2 e encontra-se integralmente no município de
Piracanjuba. Tem como função primordial a geração de energia elétrica.
- Lago do João Leite – encontra-se em fase de construção com o barramento do Ribeirão
João Leite, a montante da Região Metropolitana de Goiânia, bordejando os municípios de
Goiânia, Goianápolis, Nerópolis e Terezópolis de Goiás. Terá com função primordial o
abastecimento público d’água, e quando plenamente cheio, contará com uma área de 14,66
km2 e uma extensão longitudinal de 18 km.
- Lago Paranoá – formado a partir do barramento do Rio Paranoá. Encontra-se integralmente
dentro do Distrito Federal e seu espelho d’água tem área de 37,50 km2, tendo como funções
principais a geração de energia elétrica, o embelezamento, criação de microclima e
alternativas de lazer, recreação e uso turístico.
- Lago do Descoberto – formado a partir do represamento do rio homônimo, encontra-se nos
limites entre o Distrito Federal e o município de Águas Lindas (Goiás). Possui área de 17
km² e tem como função primordial o abastecimento público.
- Lago Santa Maria – formado a partir do barramento do ribeirão homônimo, localiza-se
dentro dos limites do Parque Nacional de Brasília, no Distrito Federal. Possui uma área de
6,1 km² e tem como função exclusiva o abastecimento público.

8.5.2. Região Hidrográfica Tocantins/Araguaia


Nesta RH localizam-se as seguintes massas d’água:
- Lago de Serra da Mesa – formado pelo represamento do Rio Tocantins, é o quinto maior
lago do Brasil em área alagada, 1.758 Km2, e o primeiro em volume d’água, 54 bilhões de
m3. Bordeja os municípios de Colinas do Sul, Niquelândia, Barro Alto, Santa Rita do Novo
Destino, Uruaçu, Campinorte, Campinaçu e Minaçu. Tem como função principal a geração
de energia elétrica e, subordinadamente, o uso turístico.
- Lago de Cana Brava – formado pelo represamento do Rio Tocantins, a jusante da UHE de
Serra da Mesa, banha os municípios de Minaçu, Cavalcante e Colinas do Sul. Possui área de
126 Hidrogeologia do Estado de Goiás
139 km2 e tem como função primordial a geração de energia elétrica e, secundariamente, o
uso turístico.
- Represamento de São Domingos – formado pelo barramento do Rio São Domingos,
imediatamente a jusante da cidade homônima e encontra-se integralmente inserido no
município de São Domingos. Possui área de 2,25 km2 e tem como função primordial a
geração de energia elétrica e, de forma subordinada, o uso turístico e para lazer.
- Represamento de Mosquito – formado pelo barramento do Rio Mosquito, encontra-se
integralmente inserido no município de Campos Belos. Possui área de 0,57 km2 e tem como
função primordial a geração de energia elétrica.
- Represamento de Mambaí – formado pelo barramento do Rio Corrente, encontra-se
integralmente inserido no município de Sitio d’Abadia. Tem como função exclusiva a
geração de energia elétrica.

8.5.3. Região Hidrográfica do São Francisco


Na RH do Rio São Francisco, localiza-se a seguinte barragem:
- Lago do Rio Preto – formado a partir do barramento de rio homônimo, bordeja os limites
com o Distrito Federal, Minas Gerais e, no lado goiano, os municípios de Cristalina e
Formosa. Tem como função primordial a geração de energia elétrica e de forma incipiente o
uso turístico.

8.5.4. Lagoas Naturais


Em toda a área de estudo observam-se lagoas naturais. A formação destas lagoas pode estar
associada a antigas dolinas ou processos de pseudo-dolinamento, meandros abandonados, ou
processos de fraturamento.
Dentre estas, destacam-se, na RH do Araguaia/Tocantins, as lagoas associadas à planície
aluvionar do Rio Araguaia, tais como: lagoas da Babilônia; Caranha; dos Pássaros; da Barra; dos
Tigres; Grande de Cima; Vargem das Éguas; Preta; Jacaré; Curumãs; dos Portugueses; Jacarezinho;
Ferradura; Gonzaga; Comprida e Redonda, enquanto na Bacia do Rio Tocantins destacam-se as
lagoas do Jacuba e Formosa.
Na RH do São Francisco destacam-se as lagoas Feia; do Veado; Moirões; Grande e Caboclo.
Na RH do Paraná destacam-se, as lagoas Bonita, do Jaburu, do Curral, dos Patos, do Porco
Só, da Onça, da Estrada, do Mato, do Viotti, bem como as lagoas termais de Pirapitinga, na região
de Caldas Novas e a Lagoa Santa na cidade homônima.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 127


128 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO IX
ENSAIOS DE PERMEABILIDADE

9.1. INTRODUÇÃO
Os ensaios de infiltração ou de permeabilidade in situ são utilizados para estimar as
condutividades hidráulicas verticais (K v) do meio testado. Estes ensaios medem a relação entre a
quantidade de água infiltrada e o tempo necessário para sua percolação e visam definir a
condutividade hidráulica não saturada dos meios porosos rasos. Os ensaios de permeabilidade são
definidos com base no diferencial de pressão exercido no meio e medem a quantidade de água
efetivamente infiltrada do poço para o meio, em determinado tempo (ABGE, 1996).
Para a caracterização do comportamento hídrico nos solos de Goiás, foram realizados 336
ensaios distribuídos em todo estado (Figura 9.1).

Figura 9.1 - Localização dos ensaios de Permeabilidade realizados no estado de Goiás e Distrito Federal.

A definição dos locais para realização dos ensaios foi feita visando abranger o maior
número de classes de solos, unidades geomorfológicas e geológicas, em áreas com os mais diversos
tipos de uso e ocupação.
Em cada ensaio foram realizados cinco testes, sendo um superficial (< 10 cm) e quatro em
diferentes profundidades (50, 100, 150 e 200 cm). Esta metodologia objetivou avaliar a
variabilidade da condutividade hidráulica em profundidade e permitiu obter mais de 1000 valores
em todo estado de Goiás. Os testes superficiais foram realizados pelo método dos anéis concêntricos
e os testes em profundidade, foram feitos de acordo com a técnica conhecida como open end hole.
Estes métodos direcionam a água predominantemente na direção vertical, pois objetivam estimar os

Hidrogeologia do Estado de Goiás 129


potenciais de recarga onde o processo é dominantemente baseado na movimentação vertical das
plumas de umidade no período chuvoso.
Os resultados alcançados foram fundamentais para a classificação dos Sistemas Aqüíferos
Rasos ou Freáticos e determinação do potencial de recarga, além de serem importantes para
caracterizar a vulnerabilidade que cada tipo de solo apresenta, quanto à contaminação das águas
subterrâneas rasas.

9.2. MÉTODO DOS ANÉIS CONCÊNTRICOS


O método dos anéis concêntricos consiste na utilização de dois anéis de aço, com diâmetros
diferentes, em forma de cilindros, cravados na superfície do solo (Figura 9.2). Este arranjo resulta
na delimitação de dois compartimentos que serão preenchidos com água: o compartimento externo e
o compartimento interno. A água infiltrada no solo a partir do compartimento externo apresenta
uma tendência natural de fluir vertical e lateralmente. A saturação do solo nas porções
imediatamente abaixo do compartimento externo permite que a água infiltrada a partir do
compartimento interno infiltre predominantemente segundo o sentido vertical.

Mi

H Mf

Hi

Hf
I

A B
Figura 9.2 – A: Representação esquemática do método dos anéis concêntricos para ensaios de infiltração. H - distância
da superfície ao topo do cilindro, I - seção cravada no solo, Mi - distância do topo do cilindro ao nível
d’água inicial, Hi - distância do nível d’água inicial à superfície do terreno, Mf - distância do topo do
cilindro ao nível d’água final, Hf - distância do nível d’água final à superfície do terreno. B: Execução do
ensaio em campo.

Para uma boa realização do ensaio, recomenda-se o nivelamento horizontal prévio dos anéis
e a verificação da ausência de vazamentos entre os dois compartimentos.
Com o auxílio de uma trena realizam-se medidas das alturas das colunas d’água do
compartimento interno, no período inicial (To) e final (Tf) tomando-se os respectivos intervalos de
tempo decorridos entre uma e outra medida. Para evitar que ocorra infiltração com componente
lateral, a partir do compartimento interno, é necessário vistoriar constantemente o nível da água no
compartimento externo, que deve sempre apresentar um nível d’água mais elevado que o do
compartimento interno.

130 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Para a obtenção dos valores de condutividades hidráulicas verticais (K v) do meio testado os
resultados analíticos foram aplicados na seguinte equação:

K v = U . I / t . ln h0 / ht, onde:

K v - Condutividade hidráulica vertical do meio (m/s); U - Fator de conversão mm/min para m/s (1/60.000);
I - Profundidade do anel no solo (mm); t (tf-to) – Tempo final - Tempo inicial da medição (min); h0 -
Nível da água após a saturação externa to (mm ou cm); ht - Nível da água ao tempo tf (mm ou cm).

9.3. MÉTODO OPEN END HOLE


O método denominado open end hole, utilizado para obter os valores das condutividades
hidráulicas em profundidade, consiste em um conjunto de ensaios utilizando-se quatro furos
verticais no solo, em profundidades de 50, 100, 150 e 200 cm, com diâmetro de 100 mm, perfurados
com trado (manual ou mecânico), revestidos com tubos de PVC (Figura 9.3) e cravados na base,
para posteriormente serem preenchidos com água até uma altura inicial qualquer (ho). A água
infiltrará exclusivamente pela extremidade inferior do poço (infiltração somente vertical) e, como
no teste dos anéis concêntricos, medem-se as alturas das colunas d’água inicial e final e o intervalo
de tempo decorrido para o rebaixamento. A estimativa das condutividades hidráulicas verticais (K v)
é realizada aplicando-se os valores obtidos em campo na seguinte equação:

K v = R/4 t . 2,303 . log h1/h2, onde:

K v - condutividade hidráulica vertical do meio (m/s); R - raio interno do tubo (metro); t - tempo de
infiltração (segundo); h1 - nível da água no início da medição (cm ou mm); h2 - nível da água após o
intervalo de tempo t (cm ou mm).

Mi

Mf

H Hi

Hf

Nível d’água inicial


Nível d’água final

A B
Figura 9.3 – A: Representação esquemática do método open end hole para ensaios de infiltração. H - distância da parte
superior ao fundo do tubo, Mi - distância do topo do tubo ao nível d’água inicial, Hi - distância do nível
d’água inicial ao fundo do tubo, Mf - distância do topo do tubo ao nível d’água final, Hf - distância do
nível d’água final ao fundo do tubo. B: Execução do ensaio em campo (notar os tubos de PVC cravados
nos poços previamente perfurados a trado).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 131


9.4. AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS
Os valores de condutividade hidráulica vertical, na zona não saturada dos aqüíferos, são
fundamentais para a avaliação das condições de infiltração que controlam a recarga dos aqüíferos,
bem como sua eficiência. Estes resultados também são importantes para estudos de contaminação
dos aqüíferos, pesquisas preliminares em projetos de irrigação, além da análise de perda de solos,
geotecnia e hidrologia.
Em última análise os valores de K v da zona vadosa traduzem o funcionamento hídrico das
coberturas e implicam na classificação dos aqüíferos freáticos, os quais são desenvolvidos na
porosidade das coberturas dos solos. Importância adicional atribuída a estes aqüíferos é associada à
função filtro (desempenhada pela zona não saturada) e à função reguladora (desempenhada pela
porção superior da zona saturada – descarga de base).
Os valores de condutividade hidráulica podem ser classificados em função de intervalos de
valores como apresentado na Tabela 9.1.

Valores de K v (ordem de
Magnitude Exemplo de materiais
grandeza em m/s)
Cascalho clasto-suportado/Fratura com
> 10-3 Muito Alta
abertura maior que 05 mm.
Arenito grosso, puro e bem
10-3 a 10-5 Alta
selecionado.
Arenito fino a médio, com pequena
10-6 Moderada
quantidade de matriz/Solo arenoso.
Solo argiloso/Siltito pouco
10-7 a 10-8 Baixa
fraturado/Grauvaca/Arenito cimentado.
Siltito argiloso/Solo argiloso sem
< 10-8 Muito Baixa
estruturação/Folhelho.
Tabela 9.1 – Classificação de magnitudes da condutividade hidráulica.

De acordo com a classificação apresentada o valor de K v com ordem de grandeza de 10-6


m/s pode ser considerado como limite entre valores altos e valores baixos.
A análise dos resultados dos ensaios de infiltração será feita de forma estatística com relação
ao conjunto total de dados (nas diferentes profundidades estudadas) e posteriormente com relação à
variabilidade com a profundidade.
Os dados de ensaios de infiltração in situ apresentados no presente trabalho são considerados
de alta relevância, pois foram realizados com ampla distribuição em todas as coberturas de solos do
estado, em diferentes condições de relevo e em diferentes condições de usos. Desta forma o grande
número de dados (mais de 300 ensaios, com mais de 1000 valores individuais, considerando os
resultados de superfície e profundidade) permitiu uma avaliação estatística deste importante
parâmetro hidrogeológico.

132 Hidrogeologia do Estado de Goiás


A partir de uma avaliação de dados já existentes, foram definidos e propostos agrupamentos
de solos que incluem: Latossolo Vermelho, Latossolo Vermelho-Amarelo, Cambissolo, Plintossolo,
Neossolo Litólico, Neossolo Quartzarênico, Argissolo, Nitossolo e Gleissolo.
Nos Latossolos Vermelhos avaliados (91 ensaios), os valores de K v na superfície variaram
da ordem de grandeza de 10-4 a 10-7 m/s, com a seguinte distribuição: 10-4 m/s (1,5%); 10-5 m/s
(40%); 10-6 m/s (47%) e 10-7 m/s (11,5%). Em profundidades de 50 a 200 cm os resultados
variaram da ordem de grandeza de 10-5 a 10-8 m/s, com a seguinte distribuição estatística: 10-5 m/s
(3%); 10-6 m/s (44%); 10-7 m/s (38%) e 10-8 m/s (15%). Os Latossolos estudados são derivados de
uma enorme diversidade de materiais parentais. Existe uma tendência de diminuição da
condutividade com o aumento da profundidade e em praticamente todos os casos, foi possível
desenvolver o ensaio completo, isto é, até 200 cm de profundidade. Portanto, os Latossolos
apresentam condutividade hidráulica moderada a alta em 47% dos horizontes e baixa em 53%.
Os Latossolos Vermelho-Amarelos (39 ensaios) apresentam valores e distribuição estatística
muito similar à encontrada para os Latossolos Vermelhos, com a seguinte classificação em
superfície: 10-4 m/s (3,3%); 10-5 m/s (40%); 10-6 m/s (46,7%) e 10-7 m/s (10%); e em profundidade:
10-5 m/s (2%); 10-6 m/s (43%); 10-7 m/s (37%); 10-8 m/s (16%) e 10-9 m/s (1%).
Apesar da aparente similaridade de valores, há uma diferença entre as duas classes de
Latossolos avaliadas. Enquanto nos Latossolos Vermelhos são raras as situações onde não é
possível desenvolver o ensaio até 200 cm, na classe dos Latossolos Vermelho-Amarelos este fato é
recorrente, em função da presença comum de horizontes petroplínticos a profundidades maiores que
120 cm. A tendência de diminuição da condutividade hidráulica com o aumento da profundidade é
mais marcante nos Latossolos Vermelho-Amarelos que nos Latossolos Vermelhos, indicando a
limitação da drenagem interna de alguns destes perfis.
Outro grupo de coberturas estudado foi representado por uma associação de solos jovens e
rasos composta por Cambissolo, Plintossolo e Neossolo Litólico. Este conjunto soma 98 ensaios,
onde raramente é possível desenvolver o ensaio a profundidades maiores que 50 cm. Os resultados
indicam que em superfície os valores de K v variam de 10-4 a 10-8, com a seguinte distribuição: 10-4
m/s (2,5%); 10-5 m/s (38%); 10-6 m/s (48%), 10-7 m/s (9%) e 10-8 m/s (2,5%). Em profundidade
(menor que 100 cm) os valores variam da seguinte forma: 10-5 m/s (8%); 10-6 m/s (16%); 10-7 m/s
(60%) e 10-8 m/s (16%).
Em superfície 88,5% dos resultados são maiores ou iguais a 10-6 m/s e, em profundidade,
76% dos valores são menores que 10-6 m/s. Este fato é devido à freqüente pedregosidade observada
no horizonte superficial destes solos, aumentando a condutividade hidráulica. A recarga neste
conjunto de solos é dificultada e a infiltração inicial é em grande parte perdida por interfluxo entre
os horizontes A e Bi ou A e C.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 133


Uma classe de Neossolo que apresenta funcionamento hídrico distinto, tanto dos demais
Neossolos, quanto dos Latossolos, foi tratada separadamente como um único grupo. Trata-se dos
Neossolos Quartzarênicos que apresentam a seguinte variação de condutividade hidráulica (39
ensaios): 10-4 m/s (15%); 10-5 m/s (54,5%); 10-6 m/s (23%) e 10-7 m/s (7,5%), em superfície e 10-5
m/s (14,8%); 10-6 m/s (68,2%) e 10-7 m/s (8%), em profundidades de 50 a 200cm. Nesta classe de
solos há uma notável manutenção de valores elevados (>10-6 m/s) por toda a extensão do perfil,
sendo que os raros valores < 10-6 m/s correspondem a situações com maior quantidade de argilas
pedogenéticas ou infiltradas. Esta classe de solo apresenta o maior potencial para recarga dos
aqüíferos, quando comparadas às demais classes de solos estudadas.
Os solos que apresentam em seus processos pedogenéticos a translocação de argilas dos
horizontes superficiais para os mais profundos foram tratados em um conjunto separado,
representado por uma associação de Argissolo + Nitossolo, ou seja, solos com horizontes
diagnósticos B textural (Bt) ou B nítico (Bn). Neste caso a distribuição estatística dos resultados de
K v (51 ensaios) foi a seguinte: 10-4 m/s (2,9%); 10-5 m/s (26,4%); 10-6 m/s (58,8%) e 10-7 m/s
(11,9%), em superfície e 10-5 m/s (0,8%); 10-6 m/s (40,3%); 10-7 m/s (36,8%); 10-8 m/s (21,3%) e
10-9 m/s (0,8%), em profundidade. O processo de acumulação das argilas em horizontes mais
profundos fica claro quando se analisa de forma global os resultados maiores e menores que 10-6
m/s, onde 88,1% dos valores em superfície são maiores que 10-6 m/s e apenas 41,1% dos valores em
profundidade superior a 50 cm são maiores que 10-6 m/s.
Os solos com deficiência de drenagem e horizonte B glei (Bg) também foram tratados em
um único conjunto. Os 23 ensaios in situ realizados em solos desta classe alcançaram os seguintes
resultados: 10-5 m/s (20%); 10-6 m/s (50%) e 10-7 m/s (30%), em superfície e 10-6 m/s (26%); 10-7
m/s (39%); 10-8 m/s (30%) e 10-9 m/s (5%), em profundidade. Esta é a classe de solo onde há o
maior percentual de valores de K v menores ou iguais a 10-7 m/s (74% dos resultados), o que sem
dúvida, mostra que os gleissolos têm as piores condições de drenagem do perfil (e por isso são
permanentemente ou sazonalmente encharcados).
Os dados referentes aos ensaios de permeabilidade in situ, superficiais e em profundidade,
estão disponibilizados no Anexo 02.

9.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A análise dos resultados, apresentada de forma sinóptica na Tabela 9.2, permite destacar
alguns aspectos gerais:
- Mais de 85% de todos os resultados em superfície (com exceção dos gleissolos) são maiores que
10-6 m/s. Este fato é decorrente da atividade biológica (raízes e organismos) que provoca
bioturbação intensa nos primeiros centímetros dos solos;

134 Hidrogeologia do Estado de Goiás


- Apenas os Cambissolos, Neossolos e Plintossolos apresentam valores menores que 10-7 m/s para o
K v em superfície. Este fato é devido à exposição de saprolitos diretamente na superfície do terreno.
Quando desenvolvido sobre rochas argilosas, alguns destes solos muito jovens e pouco
desenvolvidos podem ser considerados virtualmente impermeáveis desde a superfície do terreno.
- A partir de 50 cm de profundidade não há resultados maiores que 10-5 m/s e mesmo os valores
maiores que 10-6 m/s representam menos de 10%.

Freqüência de ocorrência de valores de condutividade hidráulica em m/s


Classes ou Em superfície Em profundidade
associações de solos 10-4 10-5 10-6 10-7 10-8 10-5 10-6 10-7 10-8 10-9

Neossolo
15% 54,5% 23% 7,5 - 7% 68,2% 17% - -
Quartzarênico
Latossolo Vermelho 1,5% 40% 47% 11,5% - 3% 44% 38% 15% -
Latossolo
3,3% 40% 46,7% 10% - 2% 44% 37% 16% 1%
Vermelho-Amarelo
Argissolo +
2,9% 26,4% 58,8% 11,9% - 0,8% 40,3% 36,8 21,3% 0,8%
Nitossolo
Cambissolo +
Plintossolo + 2,5% 38% 48% 9% 2,5% 8% 16% 60% 16% -
Neossolo Litólico
Gleissolo - 20% 50% 30% - - 26% 39% 30% 5%

Tabela 9.2 – Distribuição estatística dos resultados dos ensaios de infiltração in situ nas diferentes classes de solos em
superfície e em profundidade. (-) valores não encontrados nos ensaios.

Do ponto de vista de diferentes aqüíferos propõe-se a seguinte classificação das coberturas


estudadas:
Grupo 1 - relacionado aos Neossolos Quartzarênicos, com comportamento homogêneo de
elevados valores de K v independente da profundidade considerada;
Grupo 2 - representado pelos Latossolos, com ampla similaridade de valores absolutos,
distribuição estatística e distribuição vertical dos resultados de K v;
Grupo 3 - constituído pela associação de Argissolos e Nitossolos, neste caso, o fator
relevante é o contraste entre os valores na superfície e a significativa diminuição a maiores
profundidades;
Grupo 4 - representado pela associação de solos jovens, como os Cambissolos, Plintossolos
e Neossolos Litólicos, que têm valores de K v menores que 10-6 m/s em mais da metade dos casos
tanto na superfície quanto em profundidade;
Grupo 5 - associado aos Gleissolos, por conter as coberturas com menores valores absolutos
de K v desde a superfície até profundidades maiores.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 135


136 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO X
SISTEMAS AQÜÍFEROS

10.1. INTRODUÇÃO
Hidrogeologia é a ciência que estuda todos os aspectos relacionados à água subterrânea,
incluindo a caracterização das unidades hidrogeológicas, distribuição, composição química natural,
contaminação, definição de parâmetros hidrodinâmicos, controle geológico da disponibilidade, tipos
e padrões de fluxo, potencial dos aqüíferos, cartografia, locação e construção de poços, além dos
demais aspectos relacionados aos controles da presença de água em subsuperfície.
No Brasil existem dez províncias hidrogeológicas (DNPM/CPRM, 1981 e Ment, 2000), que
abrangem diferentes tipos litológicos (Figura 1.4). Goiás é a unidade da federação que apresenta o
maior número de províncias: Escudo Central, São Francisco, Escudo Oriental, Paraná, Centro-Oeste
e Parnaíba. Com tamanha diversidade e heterogeneidade, a caracterização hidrogeológica regional é
um desafio complexo.
Goiás possui regiões com elevado potencial hidrogeológico e outras com potencial
extremamente reduzido. Destaca-se a região sudoeste do estado, que possui em seu subsolo rochas
porosas e fraturadas com altíssimo potencial hídrico. Já as regiões nordeste e noroeste do estado
apresentam os menores índices de disponibilidade de água subterrânea.
A integração de dados geológicos, climáticos, geomorfológicos e pedológicos possibilitou
definir dois grupos de reservatórios individualizados e denominados de Grupo dos Aqüíferos
Rasos ou Freáticos e Grupo dos Aqüíferos Profundos. Os grupos classificam-se em Domínios,
em função do tipo de porosidade predominante, sendo denominados de: Intergranular, Fraturado,
Dupla Porosidade, Físsuro-Cárstico e Cárstico. Dentro dos diferentes Domínios, foram
classificados 25 (vinte e cinco) Sistemas Aqüíferos, sendo 03 (três) freáticos e 22 (vinte e dois)
profundos. Destes, 03 (três) foram subdivididos em Subsistemas, em virtude da disponibilidade de
informações sobre as variações litológicas e estruturais dos conjuntos litoestratigráficos associados.
Para otimizar a visualização cartográfica, são propostos símbolos representados por letras para cada
um dos Sistemas/Subsistemas definidos para o estado (Tabela 10.1).
O Grupo dos Aqüíferos Rasos ou Freáticos é constituído exclusivamente por coberturas
regolíticas (solo + saprolito), enquanto o Grupo dos Aqüíferos Profundos inclui as unidades
litológicas, que ocorrem com espessuras de dezenas a centenas de metros, podendo apresentar-se
livres ou sob confinamento.

10.2. CARACTERIZAÇÃO DOS AQÜÍFEROS


A descrição de cada Sistema Aqüífero é acompanhada de um mapa ilustrativo com sua
distribuição no estado de Goiás.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 137


GRUPO DOMÍNIO SISTEMA AQÜÍFERO SÍMBOLO Litologia/Solo Predominante
Freático I F1 Neossolos Quartzarênicos
Freático Intergranular Freático II F2 Latossolos
Freático III F3 Argissolos e Nitossolos
Bauru SABAU Arenitos friáveis
Cachoeirinha SACH Areia inconsolidada
Intergranular
Urucuia SAU Arenitos friáveis
Araguaia SAAG Areia e Cascalho
Cristalino Oeste SACW Granitos e Gnaisses
Cristalino Noroeste SACNW Granitos e Gnaisses
Cristalino Nordeste SACNE Granitos e Gnaisses
Cristalino Sudeste SACSE Granulitos
Greenstone Belts SAGB Metavulcânicas e Metassedimentares
Complexos Acamadados SACA Metaultramáficas e Ultramáficas
Arai SAAR Quartzitos
Canastra SACf Filitos
Fraturado Araxá SAAX Xistos
Serra da Mesa SASM Xistos
Profundo Paranoá SAPr1q1 Metarritmitos, Quartzitos
Paranoá SAPsa Metassiltitos, Ardósias
Paranoá SAPa Ardósias
Paranoá SAPr3q3 Metarritmitos, Quartzitos
Paranoá SAPr4 Metarritimitos argilosos
Bambuí SABf Siltitos, Folhelhos, Arcóseos
Serra Geral SASG Basaltos
Furnas SAF Arenitos arcoseanos
Dupla Ponta Grossa SAPG Arenitos
Porosidade Aquidauana SAAQ Arenitos argilosos
Guarani SAG Arenitos
Ouvidor-Catalão SAOC Carbonatitos
Físsuro- Bambuí SABfc Lentes de Calcário
Cárstico Paranoá SAPppc Lentes de Mármore
Canastra SACfc Lentes de Mármore
Cárstico Bambuí SABc Calcários, Dolomitos
Tabela 10.1 – Proposta de classificação dos aqüíferos subterrâneos do estado de Goiás.

10.2.1. Sistemas Aqüíferos Freáticos


Três Sistemas Aqüíferos Freáticos foram definidos e denominados de Sistema Aqüífero
Freático I, Sistema Aqüífero Freático II e Sistema Aqüífero Freático III (Figura 10.1). Esta
definição baseou-se no agrupamento de diferentes tipos de coberturas de regolitos e solos de acordo,
principalmente, com a textura, estrutura, capacidade de armazenamento e condutividade hidráulica
vertical (K v) de cada grupo.
As condutividades hidráulicas foram obtidas a partir da realização de 336 ensaios de
infiltração in situ distribuídos em todo o estado de Goiás, conforme descrito no Capítulo IX.
Dos cinco agrupamentos de solos considerados na avaliação dos resultados da condutividade
hidráulica vertical, três são considerados Sistemas Aqüíferos Freáticos, pois contém comumente
zonas saturadas e não saturadas e permitem a circulação de água a partir de um modelo clássico de
sistemas neumanianos, ou seja, de fluxo laminar em aqüíferos livres. Estas três associações de solos

138 Hidrogeologia do Estado de Goiás


são diretamente relacionadas aos Neossolos Quartzarênicos (Grupo 1), Latossolos (Grupo 2) e
Argissolos/Nitossolos (Grupo 3).

Figura 10.1 – Distribuição dos Sistemas Aqüíferos Freáticos em Goiás.

Os Cambissolos e Neossolos Litólicos (Grupo 4) não são considerados aqüíferos freáticos,


pois não apresentam zona saturada perene rasa nem fluxo na porosidade intergranular e portanto,
não desempenham as funções filtro e reguladora destes sistemas. Os Gleissolos (Grupo 5), por suas
características de forte deficiência de drenagem e por permanecerem saturados até a superfície na
maior parte do tempo, são considerados como zonas exutórias ou locais de descarga dos aqüíferos
freáticos e eventualmente profundos.
A Tabela 10.2 apresenta os valores das condutividades hidráulicas dos cinco grupos. A
avaliação dos valores extremos não é adequada, pois tende a uma homogeneização dos diversos
tipos de solos. A observação de toda a população a partir da distribuição dos grupos de valores
permite alcançar resultados mais realistas.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 139


Valores de condutividade hidráulica vertical em m/s
Agrupamento
Em Superfície Em Profundidade
de Solos
Máximo Mínimo Máximo Mínimo
-4 -7 -5
Grupo 1 1,1 x 10 1,0 x 10 4,7 x 10 1,7 x 10-7
Grupo 2 1,0 x 10-4 5,0 x 10-7 5,7 x 10-4 5,0 x 10-9
-4 -7 -5
Grupo 3 2,0 x 10 1,0 x 10 9,4 x 10 4,1 x 10-9
Grupo 4 5,9 x 10-5 4,7 x 10-8 3,2 x 10-4 1,6 x 10-8
Grupo 5 8,6 x 10-5 4,5 x 10-7 1,1 x 10-5 8,7 x 10-9
Tabela 10.2 – Valores máximos e mínimos de K v em superfície e em profundidade dos vários grupos de solos.

10.2.1.1. Sistema Aqüífero Freático I - F1


Este sistema aqüífero raso é representado pelos Neossolos
Quartzarênicos desenvolvidos a partir de arenitos da Bacia do
Paraná, de colúvio de arenitos da Bacia Sanfranciscana, de quartzitos
do Grupo Araxá e de aluviões cenozóicos (Figura 10.2). Apresentam
espessuras variáveis (de 2 metros a até 40 metros).

Figura 10.2 – Ampla exposição de areias inconsolidadas, compondo a zona não saturada de um exemplo típico do
Sistema Aqüífero Freático I (município de Simolândia, próximo à BR-020).

Os valores de condutividade hidráulica de sua zona não saturada variam, na superfície, de


1,0 x 10-7 m/s a 1,0 x 10-4 m/s (média de 3,3 x 10-5 m/s) e, em profundidade, de 5,0 x 10-9 m/s a 5,7
x 10-4 m/s (média de 4,0 x 10-6 m/s). Considerando as variações de espessuras saturadas variando de
1 a 40 metros, a transmissividade média deste sistema pode variar entre 4,0 x 10-6 m2/s e 1,6 x 10-4
m2/s. A porosidade total é estimada em 15% e a porosidade efetiva não deve ser inferior a 12%,
uma vez que esta classe de cobertura não apresenta estruturação, mas apenas textura arenosa em
grãos simples.
Estes solos apresentam alta colapsividade e erodibilidade, sendo importante um controle
preventivo a erosão como forma de preservação contínua deste sistema aqüífero freático. Este
controle deve ser particularmente forte em áreas rurais de produção agrícola e nas áreas periféricas
140 Hidrogeologia do Estado de Goiás
das cidades onde são dispostas as águas pluviais acumuladas nas porções urbanas
impermeabilizadas.
O Sistema F1 compõe aqüíferos do tipo intergranulares, contínuos, livres, de grande
extensão lateral e alta importância hidrogeológica, principalmente quanto aos aspectos de recarga
dos reservatórios mais profundos e de regularização das vazões da rede de drenagem superficial.

10.2.1.2. Sistema Aqüífero Freático II – F2


Este sistema aqüífero raso inclui todas as classes de Latossolos
e portanto é o sistema de maior expressão areal no estado. Encontra-se
fortemente vinculado às Superfícies de Regionais de Aplainamento -
SRA, com padrão de relevo suave ondulado a plano.
Esta classe de solo apresenta uma feição marcante relacionada à
presença de estruturas do tipo granular ou grumosa que faz com que todos os latossolos
independente de sua textura (muito argilosa, argilosa, franca, siltosa, etc) resultem em materiais
com funcionamento hídrico similar, de forma geral, de alta condutividade hidráulica e elevada
porosidade efetiva (não inferior a 8%).
Os valores da condutividade hidráulica variam, na superfície, na ordem de grandeza de 10-7
a 10-4 m/s, e em profundidade, de 10-9 a 10-4 m/s, sendo os valores médios de 3,3 x 10-5 m/s em
superfície, e 4,0 x 10-6 m/s em profundidade. A porosidade total pode ser superior a 20% e a
porosidade efetiva é estimada entre 7 a 9% em função da variação textural.
As espessuras totais dos regolitos associados ao Sistema F2 são geralmente menores que as
do Sistema F1, sendo 20 metros considerado como um valor de referência.
Compõem aqüíferos intergranulares, contínuos, livres de grande distribuição lateral, com
importância hidrogeológica principalmente relacionada às funções filtro e reguladora.

10.2.1.3. Sistema Aqüífero Freático III – F3


Este sistema inclui os solos com horizonte diagnóstico B
textural e B nítico, classificados como Argissolos e Nitossolos. De
forma geral apresentam espessuras médias inferiores a 15 metros. Os
valores de condutividade hidráulica vertical, na superfície, variam entre
1,0 x 10-7 e 2,0 x 10-4 m/s e, em profundidade, variam entre 4,1 x 10-9 e
9,4 x 10-5 m/s, com valores médios de 1,4 x 10-5 m/s na superfície e 2,5 x 10-6 m/s em profundidade.
Devido à diminuição da condutividade hidráulica em profundidade, há uma tendência de
desenvolvimento de fluxo interno, que dificulta a recarga dos sistemas fraturados situados a maiores
profundidades.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 141


A espessura saturada deste sistema intergranular é de, em média, 10 metros, com uma
espessura total de 20 metros. Considerando que a condutividade hidráulica da zona saturada seja
igual à média da zona vadosa, a transmissividade é da ordem de 2,5 x 10-5 m2/s.
O comportamento da porosidade é considerado similar ao dos latossolos, sendo que neste
caso, a porosidade efetiva pode sofrer uma diminuição nos horizontes que recebem a argila
translocada a partir dos horizontes mais rasos e o valor médio é de 6%.
Este sistema aqüífero, em geral, sobrepõe sistemas fraturados representados por rochas
básicas e ultrabásicas e mais raramente carbonatos. Está distribuído sobre relevo ondulado até forte
ondulado ou sobre rebordos de chapadas. Quando os solos apresentam-se ricos em fragmentos
rochosos (rochosidade e/ou pedregosidade), a condutividade hidráulica pode ser incrementada,
melhorando as características gerais deste sistema aqüífero raso.
O Sistema F3 constitui aqüíferos intergranulares, livres, descontínuos e com distribuição
lateral ampla. Apresenta pequena importância hidrogeológica relativa à função reservatório, sendo
aproveitado, principalmente, para abastecimento de pequenas propriedades rurais. Do ponto de vista
das funções recarga, filtro e reguladora, apresenta elevada importância hidrogeológica, uma vez que
os horizontes mais ricos em argila funcionam como depuradores de cargas contaminantes e
retardam o fluxo, ampliando a possibilidade de regular as descargas de base e interfluxo.

10.2.2. Sistemas Aqüíferos Profundos


Este grupo inclui aqüíferos de diferentes domínios (Figura 10.3) correspondentes aos
diferentes tipos de porosidade predominante que podem variar de intergranular (Figura 10.4),
fissural (Figura 10.5), dupla porosidade (Figura 10.6), físsuro-cárstica (Figura 10.7) ou cárstica .
Os sistemas com porosidade intergranular envolvem os arenitos, com espaços primários e
secundários entre os grãos constituintes, que em geral compõem excelentes aqüíferos cujo potencial
é função da espessura saturada e das taxas de precipitação pluvial.
Os sistemas com porosidade fissural são constituídos por rochas magmáticas e metamórficas
em diferentes graus, onde os processos tectônicos rúpteis foram responsáveis pela abertura de um
retículo de fraturas, fissuras ou diáclases que compõem o espaço eventualmente preenchido pela
água. Nestes casos, os processos neotectônicos são de fundamental importância para a manutenção
da abertura da porosidade secundária planar. O potencial destes sistemas é vinculado à abertura,
densidade e interconexão das fraturas.
Os sistemas de dupla porosidade são compostos por rochas sedimentares litificadas onde
ainda persiste porosidade intergranular primária residual ou secundária com elevada ocorrência de
fraturas. O potencial destes sistemas será tanto maior quanto maior for a ocorrência da porosidade
primária ampliada pela porosidade secundária planar. Em geral, a razão porosidade
primária/secundária planar diminui com o aumento do soterramento e litificação.

142 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 10.3 – Distribuição dos Domínios Aqüíferos Profundos em Goiás.

Os sistemas de porosidade físsuro-cárstica são representados por situações onde rochas


carbonáticas (calcários, dolomitos, margas e mármores) ocorrem na forma de lentes, com restrita
continuidade lateral, interdigitadas com litologias pouco permeáveis (siltitos argilosos, folhelhos,
filitos ou xistos).
Os sistemas de porosidade cárstica são caracterizados nas condições onde as rochas
carbonáticas ocorrem com ampla continuidade lateral e vertical, de forma que o processo de
dissolução cárstica1 tenha desenvolvimento amplo, com abertura de espaços maiores que 1 metro.
Nestes sistemas comumente ocorrem drenagens subterrâneas de fluxo turbulento, similares aos
cursos de drenagens superficiais.
Em todo o estado, foram individualizados 22 sistemas aqüíferos profundos, diferenciados
com base em parâmetros dimensionais, potenciais, tipos de porosidade e qualidade da água. São
aqüíferos porosos, fraturados, de dupla porosidade, físsuro-cársticos e cársticos (tabela 10.1).

1
Processo de dissolução característico da ação da água sobre rochas carbonáticas, com formação de grandes espaços
vazios (grutas, cavernas, etc).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 143


Figura 10.4 – Exemplo de sistema aqüífero intergranular
desenvolvido sobre arenitos eólicos da Formação Posse (Grupo
Urucuia). O amplo selecionamento e ausência de cimentos e matriz
resultam em um excelente reservatório com porosidade intergrãos
elevada (Município de São Domingos).

Figura 10.5 – Xistos do Grupo Araxá mostrando


amplos planos de fraturas verticalizados que
resultam na porosidade secundária planar e
representam os reservatórios em rochas
metamórficas e magmáticas (Município de
Alexânia).

Figura 10.6 – Arenito calcífero do Grupo Aquidauana, mostrando


denso padrão de fraturas e porosidade intergranular primária e
secundária por dissolução. Este tipo petrográfico exemplifica um
aqüífero de dupla porosidade, comumente desenvolvido nas
litologias psamíticas paleozóicas da Bacia do Paraná (Município
de Amorinópolis).
Figura 10.7 – Lente de calcário estratificado do
Grupo Bambuí, com fenda de dissolução de cerca
de 50 cm de abertura, observada nos sistemas
físsuro-cársticos. Em um conjunto de carbonatos
mais espessos e contínuos a dissolução supera a
escala dos metros e o sistema se enquadra no tipo
cárstico clássico (Município de Posse).

De forma geral, a descrição e a caracterização dos diferentes sistemas aqüíferos são


heterogêneas, uma vez que, a disponibilidade de informações é distinta para cada região e para cada
conjunto de aqüíferos.
Para uma melhor caracterização dos sistemas aqüíferos profundos, foram cadastrados 3.986
poços tubulares profundos, além de nascentes termais e sulfurosas. Dentro do universo do cadastro
geral, foram tratados os dados de poços que disponibilizam informações sobre vazão, entrada de
água, profundidade, nível estático (NE), nível dinâmico (ND), vazão específica, bem como ensaios
144 Hidrogeologia do Estado de Goiás
completos de bombeamento. Estas informações foram particularmente importantes para a
determinação de parâmetros dimensionais fundamentais, incluindo a condutividade hidráulica (K) e
a transmissividade (T) dos aqüíferos profundos. A Tabela 10.3 traz a síntese dos resultados do
cadastro de poços.

Nº de poços Vazão Vazão Vazão


Sistema Aqüífero cadastrados Média Máxima Modal
(m3) (m3) (m3)
Aquidauna 13 2,05 5 1,8
Araguaia 44 6,42 24 4
Arai 9 9,17 19,31 5
Araxá 978 6,91 99 2
Bambuí 392 8 52,00 8
Bauru 296 10,69 172,8 10
Cachoeirinha 18 9,47 60 5
Canastra 343 9,36 132 3
Ouvidor/Catalão 2 15 15 15
Complexos
28 5,70 11,8 3
Acamadados
Cristalino NE 47 7,59 19,8 3
Cristalino NW 297 8,91 79,2 6
Cristalino W 67 6,07 35 3
Cristalino SE 613 6,28 132 2
Furnas 8 6,6 15 5
Greenstone Belts 19 4,3 12 2,2
Guarani 5 10 200 -
Paranoá 331 12,44 113,1 10
Ponta Grossa 14 3,29 15,23 4
Serra da Mesa 138 11,2 82 5
Serra Geral 317 13,48 250 8
Urucuia 7 20,38 32 -
Total 3.986
Tabela 10.3 – Síntese dos dados do cadastro geral de pontos d’água (poços tubulares profundos no estado de Goiás).

Para o cálculo de K e T foram utilizados o programa Aquifer Test for Windows, tendo sido
aplicadas as ferramentas de Newman, Theis e Moench, respectivamente para sistemas aqüíferos
intergranulares livres, intergranulares confinados e fraturados.
Importante salientar que alguns dos poços foram inseridos em certo sistema aqüífero em
função da análise do perfil construtivo, de forma que em alguns casos o poço pode estar situado em
planta em um determinado aqüífero e ter sido inserido no grupo de um aqüífero sotoposto. Esta
feição é atribuída ao fato da perfuração ter interceptado o aqüífero situado abaixo, ou por o poço ter
sido revestido na seção superior, de forma que as características hidráulicas sejam representativas
do sistema inferior. O cadastro aqui apresentado não considera a possibilidade de sistemas aqüíferos
mistos, com contribuição de mais de um sistema.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 145


Eventualmente a caracterização dos aqüíferos também utilizou dados de outros cadastros
específicos de certos aqüíferos ou de certas regiões, como por exemplo, os dados de Campos &
Freitas-Silva 1998 para os sistemas aqüíferos presentes no Distrito Federal.

10.2.3. Caracterização dos Aqüíferos Profundos


A seguir são apresentadas as descrições dos 22 Sistemas Aqüíferos Profundos distribuídos
pelos diferentes compartimentos geotectônicos do estado de Goiás.

10.2.3.1. Sistema Aqüífero Cristalino Oeste (SACW)


O Sistema Aqüífero Cristalino Oeste (SACW) é representado por
reservatórios com porosidade secundária planar, onde a água é retida e
circula pelas fraturas interconectadas. Corresponde ao conjunto de rochas
cristalinas, granitos e gnaisses associados ao Arco Magmático do Oeste de
Goiás, Suíte Plutônica de Iporá, além da Formação Piranhas.
São aqüíferos profundos com espessura saturada que pode alcançar mais de 150 metros. As
vazões apresentam a seguinte distribuição estatística: mínima de zero, máxima de 35 m3/h, média de
6 m3/h e moda de 3 m3/h (para um conjunto de 67 poços). Como não existem dados de ensaios de
bombeamento disponíveis não se pode calcular os parâmetros hidrodinâmicos.
Os processos tectônicos brasilianos e fanerozóicos foram intensos nesta região, o que resulta
em uma faixa de embasamento da Bacia do Paraná com alta densidade de fraturas abertas,
aumentando o potencial deste sistema aqüífero. Seu conhecimento pode ser ampliado caso haja a
confirmação da tendência atual de intensificação da abertura de novos poços tubulares profundos,
principalmente para o abastecimento doméstico e de propriedades rurais e complemento do
abastecimento de pequenas cidades.

10.2.3.2. Sistema Aqüífero Cristalino Noroeste (SACNW)


O Sistema Aqüífero Cristalino Noroeste (SACNW) representa um
conjunto de reservatórios associados a rochas cristalinas, exclusivamente com
porosidade secundária fissural. Correspondem à associação de gnaisses e
granitos arqueanos e proterozóicos situados na porção noroeste do estado. A
separação com o SACW dá-se pelo lineamento regional Moiporá-Novo
Brasil. Estão inclusos neste sistema os granulitos de Uruaçu e os complexos gnáissicos associados
aos Greenstone Belts.
Por se tratar de uma região com elevada taxa de precipitação pluvial (apesar de irregular) e
por conter amplas áreas recobertas por latossolos (em cerca de 60% da área) estima-se um elevado
potencial em termos de produtividade das zonas fraturadas.

146 Hidrogeologia do Estado de Goiás


As vazões variam de zero a 79 m3/h com média de cerca de 9 m3/h e moda de 6 m3/h
(população de 297 poços). A vazão específica média é de 0,094 m3/h/m.
A condutividade hidráulica média é de 8,5 x 10-7 m/s e a transmissividade média é de 1,2 x
10-4 m2/s. A relativa discrepância entre os valores de K e T é devida a presença de poços mais
profundos que 180 metros ainda com entradas d’água significativa, ou seja, a espessura saturada
média é considerada como da ordem de 150 metros.

10.2.3.3. Sistema Aqüífero Cristalino Nordeste (SACNE)


O Sistema Aqüífero Cristalino Nordeste (SACNE) corresponde ao
embasamento arqueano/proterozóico situado na região nordeste do estado e à
Formação Ticunzal. É separado do SACNW por rochas associadas ao Grupo
Serra da Mesa.
Trata-se de uma das regiões com menor disponibilidade hídrica
subterrânea do estado de Goiás, por se tratar de um conjunto de rochas pouco fraturadas (com
amplas exposições de lajedos maciços) associadas a uma área arrasada com coberturas de solos da
classe dos Neossolos e Cambissolos.
Além das feições intrínsecas já desfavoráveis à acumulação de água, as taxas médias de
precipitação pluvial são baixas e as irregularidades das chuvas (temporal e espacial) são bastante
amplas.
Os parâmetros dimensionais caracterizados com uma população de dez ensaios de
bombeamento são: espessura total 160 metros, espessura saturada 110 metros, condutividade
hidráulica média de 1,6 x 10-6 m/s e transmissividade de 1,8 x 10-4 m2/s.
Os dados de produtividade são sintetizados de um cadastro de 47 poços: vazão média de 7,5
m3/h, moda de 3 m3/h e máxima de 20 m3/h, com presença de poços secos ou de vazões muito
reduzidas. A capacidade específica média é de 0,664 m3/h/m.
Apesar do restrito número de poços cadastrados, de forma qualitativa pode-se afirmar que
tratam-se de aqüíferos anisotrópicos, livres, de baixo potencial e restrita extensão lateral.

10.2.3.4. Sistema Aqüífero Cristalino Sudeste (SACSE)


O Sistema Aqüífero Cristalino Sudeste (SACSE) engloba rochas
associadas ao Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu, granitóides, granitos e
gnaisses situados a sul da Sintaxe dos Pirineus até o extremo sudeste do
estado.
Em termos de parâmetros hidrodinâmicos a condutividade hidráulica (K) média é de 8,8 x
10-7 m/s e a transmissividade média é de 1,3 x 10-4 m2/s. A vazão mínima é zero, a média é de 6
m3/h, a vazão máxima é de 132 m3/h, com moda de 2 m3/h e a vazão específica média é de 0,183
m3/h/m. A comparação de dados de vazões indica um contraste entre as vazões de poços entre

Hidrogeologia do Estado de Goiás 147


terrenos granulíticos e granito-gnáissicos, com variação média de cerca de 100% (as vazões médias
dos granulitos é de 3 m3/h e as vazões dos granitos e gnaisses fica em torno de 7,3 m3/h).
Este fato é atribuído ao controle da tectônica de alívio a qual cada conjunto foi submetido.
Os terrenos granulíticos estiveram sob alta pressão de confinamento e foram posicionados de forma
rápida em porção crustal rasa. Esta rápida ascensão impediu o surgimento de fraturas de alívio,
fundamentais para a interconexão de fraturas verticais e subverticais. Nestes terrenos observam-se,
nas exposições e em pedreiras, grandes fraturas abertas, porém de baixa densidade. Os terrenos
granito-gnáissicos, via de regra, são expostos em fácies xisto verde o que indica uma permanência
em posição crustal mais rasa por um maior intervalo de tempo. Este quadro permite maior
desenvolvimento de tectônica de alívio com maior abertura e densidade das descontinuidades
secundárias e, portanto, maior produtividade média dos poços.

10.2.3.5. Sistema Aqüífero Greenstone Belts (SAGB)


O Sistema Aqüífero Greenstone Belts (SAGB) compreende todas as
supracrustais dos terrenos arqueanos, associadas aos Greenstone Belts de
Faina, Goiás, Crixás, Guarinos e Pilar de Goiás.
Este sistema aqüífero é um dos menos conhecidos em Goiás, em
virtude de sua restrita utilização. Apenas 19 poços foram cadastrados neste conjunto de aqüíferos
heterogêneos e anisotrópicos. Os dados existentes indicam tratar-se de um sistema com potencial
restrito, por ser desenvolvido sobre rochas pelíticas e plásticas. As vazões médias são de 4,3 m3/h,
com máxima de 12 m3/h e moda de 2,2 m3/h.
Apenas dois ensaios de bombeamento foram obtidos sendo os valores de condutividade
hidráulica da ordem de 10-7 m/s e a transmissividade da ordem 10-5 m2/s.
Estima-se uma ampla heterogeneidade nas condições dos aqüíferos presentes neste sistema:
- aqüíferos desenvolvidos em metachert devem apresentar produtividade muito acima das
médias do sistema como um todo (devido ao comportamento rúptil destas rochas);
- aqüíferos desenvolvidos em rochas metacalcissilicáticas podem apresentar incremento na
produtividade dos poços contudo, poderão ter problemas de qualidade de água;
- aqüíferos desenvolvidos em rochas ultrabásicas deverão apresentar um elevado número de
poços secos (em virtude da grande plasticidade das rochas ricas em talco) e;
- aqüíferos presentes em áreas escarpadas recobertas por Neossolos Litólicos deverão ter
problemas de recarga culminando em condições desfavoráveis para a acumulação de água
nas zonas fraturadas.

10.2.3.6. Sistema Aqüífero Complexos Acamadados (SACA)


O Sistema Aqüífero Complexos Acamadados (SACA) corresponde
ao conjunto litológico associado aos Complexos Máficos-Ultramáficos de

148 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Cana Brava, Niquelândia, Barro Alto e aos maciços ultramáficos Tipo Americano do Brasil.
A exemplo do Sistema Aqüífero Greenstone Belts, este sistema aqüífero é pouco conhecido,
contudo, em função das elevadas taxas de precipitação pluvial e da presença comum de solos com
espessuras moderadas estima-se um potencial razoável para este grupo de aqüíferos fraturados.
O SACA é representado por aqüíferos anisotrópicos, heterogêneos, livres ou confinados do
tipo fraturado clássico, com fluxo laminar a turbulento confinado aos planos das juntas individuais
ou a zonas fraturadas.
Dados de 28 poços cadastrados neste sistema resultam na seguinte distribuição estatística:
vazão média 5,7 m3/h, vazão máxima 11,8 m3/h e moda da vazão 3 m3/h. O único ensaio de
bombeamento existente neste sistema aqüífero resultou em valores de condutividade hidráulica de 5
x 10-7 m/s, transmissividade de 7,6 x 10-5 m2/h e capacidade específica de 0,082 m3/h/m.
Em termos de qualidade das águas, não se espera maiores problemas uma vez que se tratam
de rochas pouco solúveis e pouco reativas, contudo, eventualmente, pode se esperar alterações nos
teores de enxofre.

10.2.3.7. Sistema Aqüífero Araí (SAAR)


O Sistema Aqüífero Araí (SAAR) corresponde aos litotipos
associados ao Grupo Araí, situado na porção nordeste do estado de Goiás.
O SAAR é composto por rochas psefíticas, psamíticas e pelíticas.
Nas áreas com predominância de psefitos e psamitos observa-se o maior
fraturamento das rochas, que regula tanto as áreas de recarga do aqüífero
como as suas nascentes. Os parâmetros físicos deste conjunto de rochas, como condutividade e
transmissividade, são altos, enquanto o armazenamento é mais baixo, devido ao controle
geomorfológico/pedológico nas áreas de recarga (planaltos movimentados).
O conjunto de rochas pelíticas apresenta parâmetros de condutividade, transmissividade e
armazenamento muito baixos, resultante do padrão de baixa densidade de fraturas abertas, que
tendem a se fechar com o aumento da profundidade.
Existe um reduzido número de poços cadastrados neste sistema aqüífero (nove),
provavelmente associado à baixa densidade ocupacional nas áreas de relevo alto e movimentado.
Em termos de potencial quantitativo estima-se, por analogia com sistemas similares (e.x.
Subsistema R3/Q3 do Sistema Paranoá), que o conjunto psefítico e psamítico tenha excelente
produtividade e vazões específicas moderadas, enquanto o pelítico deve apresentar condições
desfavoráveis, com vazões médias baixas associadas à elevada incidência de poços tubulares secos
ou de baixa produtividade.
Dados de vazão obtidos de uma população de nove poços indicam valores médios de vazão
de 9 m3/h, com máximo de 19 m3/h e mínimo de 5 m3/h. Os valores de mínimos de vazão

Hidrogeologia do Estado de Goiás 149


relativamente próximos da média são um indicativo do potencial moderado a alto deste sistema (ao
contrário dos sistemas fraturados mais comuns, onde as mínimas são próximas de zero).

10.2.3.8. Sistema Aqüífero Canastra (SAC)


O Sistema Aqüífero Canastra (SAC) engloba as rochas das
Formações Paracatu, Serra do Landim e Chapada dos Pilões, além dos
grupos Canastra Indiviso e Ibiá.
Este sistema foi subdividido em dois subsistemas com características
muito distintas entre si, caracterizados em função da presença de rochas carbonáticas e
denominados de Subsistema Fraturado (SACf) e Subsistema Físsuro-Cárstico (SACfc).
Subsistema Fraturado (SACf) – compõe a maior parte da área de ocorrência do Grupo Canastra no
estado de Goiás, sendo litologicamente representado pelos filitos das formações Serra do Landim e
Paracatu. A média das vazões é de 7,5 m3/h, com alta incidência de poços com baixas vazões.
Além dos sistemas de fraturamento, a atitude da foliação principal é um importante fator
controlador da variação do funcionamento hídrico deste subsistema. Como a foliação apresenta, em
geral, alto ângulo (>60o), há um favorecimento à infiltração de águas pluviométricas, melhorando as
características do aqüífero como armazenador e transmissor de água, pois na região dos saprolitos
há um considerável aumento da porosidade dos filitos (que passa de 1 a 2% para até 25%). Com
isso as áreas de recarga são ampliadas para toda a porção coberta por regolitos. Em situações onde
há latossolos como parte das coberturas, as condições dos aqüíferos fraturados sotopostos são
otimizadas.
O relevo acidentado que ocorre em grande parte das áreas de ocorrência deste subsistema é
um fator negativo do ponto de vista hidrogeológico, uma vez que as declividades moderadas a
elevadas, associadas a solos pouco profundos e pouco permeáveis resultam em um aumento do
escoamento superficial em detrimento da infiltração, reduzindo a circulação do aqüífero.
É representado por aqüíferos fraturados, descontínuos, livres com condutividade hidráulica
baixa. As melhores condições hídricas são condicionadas a zonas de intersecção de fraturas/falhas,
com regiões de foliação de alto ângulo. Importância hidrogeológica relativa baixa.
Subsistema Físsuro-Cárstico (SACfc) – representa áreas mais restritas dentro das faixas de
exposição do Grupo Canastra, sendo caracterizado geologicamente pelas lentes de mármores e
calcifilitos (Formação Serra do Landim) e quartzitos (Formação Serra da Batalha), que são
interdigitados lateral e verticalmente aos filitos.
Apresenta média de vazões maior que 30 m3/h. Este valor torna-se muito elevado em função
de alguns poços de vazões anômalas (>100 m3/h) observados na região de São Sebastião (Distrito
Federal), os quais inclusive viabilizam o abastecimento urbano, daquela localidade, exclusivamente
por água subterrânea.

150 Hidrogeologia do Estado de Goiás


O modelo hidrogeológico aplicado a este subsistema é denominado de físsuro-cárstico, uma
vez que as rochas carbonáticas ocorrem na forma de lentes de dimensões limitadas interdigitadas e
intercaladas a rochas de menor permo-porosidade.
A delimitação cartográfica deste subsistema é dificultada pelas reduzidas dimensões das
lentes de mármores e quartzitos, assim no mapa hidrogeológico em escala 1:500.000 foram apenas
representadas as áreas com comprovada ocorrência em superfície ou em profundidade deste
subsistema.
São aqüíferos muito restritos lateralmente, livres ou confinados, descontínuos, heterogêneos
e anisotrópicos, com restrito grau de carstificação.

10.2.3.9. Sistema Aqüífero Araxá (SAAX)


O Sistema Aqüífero Araxá (SAAX) compreende o conjunto
litológico do Grupo Araxá, associado às Seqüências Vulcano-Sedimentares
situadas ao sul da Sintaxe dos Pirineus, juntamente com as supracrustais dos
arcos de ilha situadas no sudeste do estado e ao Grupo Cuiabá. Esta
associação de unidades e tipos petrográficos é justificada em função da
similaridade reológico2-estrutural que estes materiais apresentam, e por se tratar
predominantemente de micaxistos, com menor contribuição de quartzitos, anfibolitos e rochas
ultramáficas.
Em função da pequena porosidade observada nos tipos litológicos metapelíticos, que
predominam e do baixo ângulo de mergulho da foliação, este sistema possui baixa vocação
hidrogeológica, com média de vazões de 3,5 m3/h e elevada ocorrência de poços secos ou de vazão
muito baixa. Se consideradas as vazões anômalas em pontos isolados a média eleva-se para 6,5
m3/h, entretanto este valor médio é condicionado pela presença de poços de vazões superiores a 80
m3/h associados a lentes de mármores que ocorrem de forma restrita na área de distribuição do
Grupo Araxá ou um sistema de fraturas abertas e, portanto, mais produtivas. O valor da moda das
vazões é de 2 m3/h (a estatística de vazões apresentadas é vinculada a uma população de mais de
900 poços).
Outras condições favoráveis deste sistema estão relacionadas aos quartzitos e quartzo xistos,
os quais resultam em aqüíferos com maior transmissividade e coeficiente de armazenamento, onde
as médias de vazão superam 10 m3/h, como é o caso da Serra da Areia em Aparecida de Goiânia
(onde um poço registra vazão de 99 m³/h) e alguns poços na região de Pirenópolis. Apesar da
marcante diferença, a escala de trabalho (1:500.000), não possibilitou a diferenciação cartográfica
destes conjuntos.

2
Reologia é a ciência que estuda a deformação e a fluidez dos materiais.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 151


Os valores médios dos parâmetros hidrodinâmicos correspondentes a uma população de 50
poços é de 1,9 x 10-6 m/s para a condutividade hidráulica; de 2,8 x 10-4 m2/s para a transmissividade
e de 0,587 m3/h/m para a capacidade específica (valor que inclui alguns poços de vazões anômalas).
Este sistema é composto por aqüíferos descontínuos, livres, anisotrópicos, com
condutividade hidráulica muito baixa.

10.2.3.10. Sistema Aqüífero Serra da Mesa (SASM)


O Sistema Aqüífero Serra da Mesa (SASM) compreende o
conjunto de rochas associadas ao Grupo Serra da Mesa, Seqüências
Vulcanossedimentares ao norte da Sintaxe dos Pirineus, supracrustais dos
arcos de ilhas do noroeste do estado e ao Grupo Baixo Araguaia
(Formação Xambioá).
Apesar das diferenças de idades, este sistema tem grande similaridade em termos de
parâmetros dimensionais e hidrodinâmicos quando comparado ao Sistema Aqüífero Araxá. A
estatística das vazões é assim distribuída: vazão mínima zero, vazão média 11 m3/h, vazão máxima
82 m3/h e moda das vazões 5 m3/h (para um conjunto de 138 poços). Dos poços com dados de
vazão apenas oito apresentam ensaio de bombeamento de 24 horas, o que resultou nos seguintes
valores médios: condutividade hidráulica 2,0 x 10-6 m/s; transmissividade de 3,0 x 10-4 m2/s e vazão
específica de 3,674 m3/h/m. Este valor elevado maior que 3 m3/h/m para um sistema fraturado
desenvolvido em rochas xistosas é devido à presença de um poço de vazão anômala com valor de
capacidade específica de 26,1 m3/h/m. Quando se desconsidera o valor extremo, a média da
capacidade específica passa a 0,457 m3/h/m.
O ângulo de mergulho da foliação dos xistos e demais rochas metamórficas que compõem
este sistema aqüífero representa um controle efetivo do potencial em termos de produtividade dos
poços. Há uma relação direta entre ângulo de mergulho da foliação e vazão, pois no manto de
intemperismo a porosidade é ampliada, o que facilita a percolação descendente das águas de
recarga.

10.2.3.11. Sistema Aqüífero Paranoá (SAP)


O Sistema Aqüífero Paranoá (SAP) corresponde aos litotipos do
Grupo Paranoá. Como o estágio de conhecimento do Grupo Paranoá é
avançado e as informações inerentes ao SAP são mais conhecidas devido a
diversos estudos realizados no Distrito Federal e entorno, bem como na
região da Chapada dos Veadeiros, optou-se por subdividir o sistema aqüífero em 6 subsistemas.
A subdivisão segue os critérios propostos por Campos & Freitas-Silva (1998), que utilizam
os códigos propostos para a divisão estratigráfica do Grupo Paranoá e sua relação com as
propriedades hidrogeológicas homogêneas. Os aqüíferos são denominados: Subsistema R1/Q1

152 Hidrogeologia do Estado de Goiás


(Metarritmito/Quartzito), Subsistema S/A (Metassiltito/Ardósia), Subsistema A (Ardósia),
Subsistema R3/Q3 (Metarritmito/Quartzito), Subsistema R4 (Metarritmito argiloso) e Subsistema
PPC (Psamo-Pelito-Carbonatado).
Subsistema R1/Q1 (SAPr1q1) – inclui o conjunto litológico basal do Grupo Paranoá, com o
metarritmito basal e a primeira espessa camada de quartzito, localmente ainda com restritas
ocorrências do Conglomerado São Miguel. Em função da grande quantidade de fácies arenosas
estima-se que se trate de sistemas aqüíferos favoráveis do ponto de vista de produtividade e
qualidade de água. Poços eventualmente perfurados sobre os conglomerados poderão apresentar
problemas de alta concentração de Ca2+ e Mg2+ em função da grande concentração de carbonatos na
matriz e como pseudocimento.
Subsistema S/A (SAPsa) – composto pelas litologias pertencentes à Unidade Metassiltito e parte de
seu recobrimento pelas ardósias da Unidade A. Esta associação litológica é necessária, pois nas
áreas dos domos estruturais, é comum iniciar a perfuração em ardósias e prosseguir interceptando
rochas atribuídas o topo da unidade de metassiltitos, de forma que o resultado final (vazão e feições
hidrodinâmicas) seja controlado pelas rochas psamo-carbonáticas da Unidade S.
Em virtude da presença de camadas arenosas no topo da unidade S, este subsistema aqüífero
apresenta excelente característica como reservatório de água, apresentando média de vazões da
ordem de 12,5 m3/h. Nos casos mais raros, onde há ocorrência de lentes de mármores em
profundidade, as vazões podem superar 30 m3/h, como observado no núcleo do Domo de Brasília.
Os poços apresentam em geral profundidades inferiores a 150 metros, sendo que, para
profundidades muito superiores, não há um incremento significativo das vazões. Com o aumento da
profundidade, também aumenta a fração pelítica, uma vez que o aqüífero passa a ser representado
por uma monótona seqüência de metassiltitos maciços com pequena capacidade de armazenamento
e transmissividade. Este Subsistema é representado por aqüíferos livres ou confinados (pela camada
de ardósias sobreposta), descontínuo, anisotrópico fissural, com elevada condutividade hidráulica
das zonas fraturadas.
Subsistema A (SAPa) – correspondente à área de ocorrência da Unidade Ardósia, excetuando-se as
porções incluídas no subsistema anteriormente descrito. Este subsistema apresenta densidade de
fraturas bastante elevada, contudo o caráter pelítico e o comportamento dúctil resultam no
fechamento destas estruturas em profundidade. Por isso representa o subsistema do SAP com as
menores vazões médias, da ordem de 4,0 m3/h, além da ocorrência comum de poços secos ou de
baixa vazão.
Localmente as disponibilidades hídricas podem ser incrementadas em função da presença de
lentes de quartzitos (de dimensões restritas e muito raras) e de veios de quartzo de segregação
metamórfica (os quais são mais comuns), podendo alcançar vários metros de espessura e representar
a interligação de sistema de fraturas.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 153


É representado por aqüíferos descontínuos, com restrita extensão lateral, livres, com
condutividade hidráulica pequena e alta anisotropia e heterogeneidade.
Subsistema R3/Q3 (SAPr3q3) – este subsistema aqüífero inclui as unidades litoestratigráficas Q2, R3
e Q3 do Grupo Paranoá. A inclusão de três unidades litológicas em um único subsistema aqüífero é
justificável, uma vez que os tipos rochosos dominantemente quartzíticos, apresentam características
hidrogeológicas muito semelhantes, o que é refletido nos parâmetros hidrodinâmicos, distribuição
estatística de médias de vazões, vazões específicas e condições construtivas dos poços.
Em função do comportamento rúptil dos quartzitos, há uma grande distribuição, abertura e
interconexão das descontinuidades por todo o maciço rochoso, que favorece a manutenção da
abertura das fraturas em maiores profundidades. Desta forma os poços que interceptam litologias
destas unidades, apresentam um grande número de entradas de água, com fraturas dispersas por
toda a seção perfurada.
Este subsistema apresenta importância hidrogeológica relativa local muito alta, com vazões
médias em torno de 12 m3/h, associada a uma incidência muito baixa de poços secos, e grande
ocorrência de poços com vazões maiores que 20 m3/h.
Resultados de 27 ensaios de bombeamento mostram a seguinte distribuição estatística para
os parâmetros hidrodinâmicos: condutividade hidráulica média de 3 x 10-7 m/s; transmissividade
média de 3 x 10-4 m2/s e coeficiente de armazenamento médio de 0,3.
A importância hidrogeológica deste subsistema aqüífero é representada pela elevada vazão
de fontes que representam seus exutórios.
Subsistema R4 (SAPr4) – caracterizado litologicamente pelos metarritmitos argilosos do Grupo
Paranoá, sendo composto por rochas com cerca de 60% de fração argilosa e 40% de material
quartzítico fino. Em função da grande quantidade de material argiloso este subsistema apresenta
média de vazões de 6,0 m3/h.
As feições de intemperismo diferencial, representadas por níveis argilosos alterados em
profundidades abaixo de níveis de metarritmitos não alterados são comuns neste subsistema,
trazendo problemas construtivos. Localmente esta feição é tão intensa que dificulta a continuidade
de perfuração, sendo em alguns casos necessário a relocação do poço, ou em outros casos, o total
revestimento da seção perfurada em rocha.
Este subsistema é caracterizado por aqüíferos restritos lateralmente, descontínuos, livres e
com condutividade hidráulica baixa.
Subsistema PPC (SAPppc) – localiza-se ao norte do Distrito Federal, em associação litológica com
a unidade areno-argilosa-carbonática do Grupo Paranoá. É um subsistema muito heterogêneo em
virtude da presença de lentes de calcários e camadas e lentes de quartzitos, associado a rochas
argilosas. Poços que interceptam as lentes carbonáticas ou camadas expressivas de quartzitos

154 Hidrogeologia do Estado de Goiás


podem apresentar vazões muito acima das médias do SAP, contudo aqueles construídos sobre
metassiltitos argilosos, apresentam reduzida capacidade de armazenar e transmitir água.
Apesar da grande diferença entre os litotipos que definem este subsistema, a possibilidade de
separação em dois subsistemas distintos não é viável do ponto de vista cartográfico, uma vez que, a
maior parte das lentes carbonáticas são subaflorantes ou não aflorantes, sob a cobertura dos
sistemas freáticos ou em meio às rochas argilosas.
O desenvolvimento de carstificação nos litotipos carbonáticos é um fator diagnóstico deste
subsistema, e pode apresentar diferentes estágios, desde praticamente ausente, (nas lentes menores e
isoladas) até bastante elevado (nas lentes maiores).
A média das vazões situa-se em torno de 9,0 m3/h, com grande desvio padrão, sendo
inclusive comuns os poços secos ou com vazões muito baixas. São aqüíferos livres, descontínuos,
com alta variabilidade lateral, condutividade hidráulica baixa a elevada e localmente com elevado
grau de carstificação. Apresenta importância hidrogeológica local variável, sendo a presença de
carbonatos e quartzitos os responsáveis pela maior disponibilidade de água armazenada. De forma
geral, as regiões com maior incidência de carbonatos se comportam como clássicos aqüíferos
físsuro-cársticos.

10.2.3.12. Sistema Aqüífero Bambuí (SAB)


O Sistema Aqüífero Bambuí (SAB) corresponde ao conjunto de
rochas do Grupo Bambuí e subdivide-se nos subsistemas Fraturado,
Físsuro-Cárstico e Cárstico. Estes conjuntos foram cartografados em mapa
por contatos aproximados.
O Sistema Aqüífero Bambuí, de forma geral (sem discriminar os subsistemas) apresenta a
seguinte distribuição estatística de produção dos poços (para uma população de 392 pontos d’água):
vazão média de 8 m3/h, vazão máxima de 52 m3/h e vazão mínima de 0,25 m3/h.
Subsistema Fraturado (SABf) – engloba as rochas das formações Três Marias e Serra da
Saudade, onde os poços mesmo com profundidades maiores que 150 metros apenas interceptam
rochas terrígenas (arcóseos, siltitos e folhelhos) e ocorre nas porções mais a oeste do SAB,
compondo uma faixa que segue desde o Distrito Federal, margeando a Serra Geral do Paranã. É
constituído por siltitos, siltitos argilosos e bancos e camadas de arcóseos, compondo aqüíferos de
meios fissurados, controlados pela densidade de fraturamento. A média das vazões obtidas na
região do Distrito Federal é de cerca de 6,5 m3/h.
Apesar da predominância de materiais pelíticos, a elevada atividade hídrica relativa dos
tipos litológicos que compõem este sistema é atribuída ao comportamento rúptil dos metassiltitos
mais maciços e da presença dos bancos arcoseanos.
O relevo marcado por chapadas rebaixadas e localmente por um padrão suavemente
ondulado favorece a infiltração, otimizando o condicionamento dos reservatórios subterrâneos.
Hidrogeologia do Estado de Goiás 155
Este sistema é representado por aqüíferos livres, descontínuos lateralmente, anisotrópicos e
com condutividade hidráulica média a baixa. Apresenta importância hidrogeológica local relativa
mediana e é ampliada em função da extensa área de distribuição deste sistema e do tipo e
características de ocupação da área (principalmente propriedades rurais).
Subsistema Físsuro-Cárstico (SABfc) – corresponde às formações Serra de Santa Helena e
Lagoa do Jacaré e ao Subgrupo Paraopeba Indiviso e se distribui por todo o vale do rio Paranã e
segue até o extremo norte do estado. É classificado como Físsuro-Cárstico por seus poços
atravessarem rochas pelíticas e, freqüentemente, lentes e camadas de rochas carbonáticas.
É representado por um conjunto de rochas pelíticas interdigitadas com lentes de rochas
carbonáticas. Neste caso, o volume de rochas carbonáticas é restrito e o aqüífero não apresenta
feições típicas de sistemas fraturados ou de sistemas cársticos clássicos. As condições de circulação
da água são intermediárias com relação aos subsistemas fraturado e cárstico.
Não são desenvolvidas cavernas amplas o que é retratado pelos valores dimensionais de
condutividade hidráulica média de 2,0 x 10-6 m/s, transmissividade média de 3,0 x 10-4 m2/s,
capacidade específica média de 1,579 m3/h/m, capacidade específica máxima de 8,627 m3/h/m e
capacidade específica mínima de 0,006 m3/h/m.
Apesar de interceptar rochas carbonáticas este subsistema não apresenta problema de
qualidade das águas relativa à elevada dureza. A carstificação limitada não proporciona um
aumento significativo de cálcio e magnésio nas águas subterrâneas.
Subsistema Cárstico (SABc) –é representado pela Formação Sete Lagoas, nas áreas com
exposições contínuas de rochas carbonáticas, onde os poços atravessam a maior seção de rochas
calcáreas e dolomíticas. Localiza-se no nordeste do estado onde há a maior faixa de exposições de
rochas carbonáticas, incluindo uma paisagem cárstica típica, com inúmeras cavernas, dolinas,
sumidouros, surgências, drenagem superficial intermitente e vegetação caducifólia (matas secas).
É caracterizado em áreas de ampla ocorrência de rochas carbonáticas em afloramentos e em
subsuperfície. De forma geral, para caracterizar a inserção de um determinado poço neste
subsistema é necessário avaliar os dados do perfil construtivo, ou algumas características químicas
das águas (em geral de alta dureza, TDS elevado e pH muito alto).
Os principais parâmetros dimensionais deste subsistema são: condutividade hidráulica média
de 2,8 x 10-5 m/s; transmissividade média de 1,8 x 10-4 m2/s, vazão específica média de 7,53
m3/h/m; vazão específica mínima de 0,013 m3/h/m e vazão específica máxima de 70,75 m3/h/m.
Notar que estes valores são sensivelmente maiores que os atribuídos ao Subsistema Físsuro-Cárstico
e que valores de vazão específica maiores que 40 m3/h/m são apenas possíveis em sistemas
cársticos clássicos.

156 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Problemas técnicos são descritos durante a construção de poços tubulares neste subsistema.
Os mais comuns são a interceptação de cavernas vadosas com perda da lama de perfuração, queda
de ferramentas, aprisionamento da coluna de hastes, dentre outros.

10.2.3.13. Sistema Aqüífero Furnas (SAF)


O Sistema Aqüífero Furnas (SAF) compreende as rochas arenosas e
conglomeráticas da Formação Furnas e tem como limite inferior a Formação
Vila Maria ou rochas do embasamento.
Por se tratar de arenitos e conglomerados depositados por sistemas
fluviais entrelaçados, de alta energia, apresentam ampla porosidade primária
em grande parte preservada. Também por se posicionar na seção basal da Bacia do Paraná o
conjunto foi submetido a recorrentes processos tracionais que resultaram na geração de falhas e
fraturas em diversas direções. Portanto, a porosidade intergranular residual associada à porosidade
secundária planar resultam em um típico sistema aqüífero de dupla porosidade.
O cadastro de pontos d’água realizado dispõe de informações sobre apenas oito poços neste
sistema aqüífero, o que dificulta a descrição dos parâmetros hidrodinâmicos. Contudo as
informações geológicas, pedológicas e climáticas permitem concluir que o SAF tem amplo
potencial e deve resultar em uma fácies hidroestratigráfica de alta produtividade.
Este sistema é composto por um aqüífero livre, intergranular, com ampla continuidade
lateral, alta condutividade hidráulica e transmissividade e com elevada vocação hidrogeológica
regional e um aqüífero confinado, com dupla porosidade, continuidade lateral grande,
condutividade hidráulica controlada pela densidade de fraturas e porosidade intergranular residual e
coeficiente de armazenamento muito baixo (da ordem de 10-5).
No estado de Goiás deve-se apenas considerar este sistema aqüífero, como economicamente
viáveis, nas faixas marginais da Bacia, onde a espessura das camadas confinantes não seja superior
a algumas centenas de metros. Para o interior da Bacia esta espessura é maior que 1.000 metros o
que torna a explotação praticamente inviável.
De forma qualitativa o SAF pode ser comparado ao Sistema Aqüífero Serra Grande
associado ao Grupo Serra Grande da Bacia do Parnaíba, uma vez que, estas unidades são
representadas pelos mesmos sistemas deposicionais e ocorrem em posição estratigráfica similar.
Na região de Aragarças existem nascentes de águas termais provavelmente associadas ao
Sistema Aqüífero Furnas, indicando que o hidrotermalismo pode ser uma importante característica a
ser explorada. Na região sudoeste de Mato Grosso, o SAF tem comportamento confinado e é uma
província de águas quentes onde se encontram poços jorrantes com vazões de até 150 m3/h e
temperaturas acima de 51ºC (Casarin, 2003).

Hidrogeologia do Estado de Goiás 157


10.2.3.14. Sistema Aqüífero Ponta Grossa (SAPG)
O Sistema Aqüífero Ponta Grossa (SAPG) corresponde às rochas da
Formação Ponta Grossa.
Por ocorrer na seção basal da Bacia do Paraná e conter arenitos e
conglomerados intercalados com grauvacas, folhelhos e siltitos argilosos, o
SAPG é considerado como de dupla porosidade. A grande quantidade de
folhelhos desfavorece a circulação de água, limitando a produtividade.
Para um restrito número de dados (14 poços) a vazão média é de 3,3 m3/h, com máxima de
15,2 e mínima de 0,38 m3/h (a moda da vazão é de 4 m3/h). Dos poços cadastrados, apenas 5
apresentam ensaio de bombeamento de 24 horas que permitiram a determinação dos seguintes
parâmetros hidrodinâmicos médios: condutividade hidráulica de 2,1 x 10-7 m/s; transmissividade de
3,7 x 10-5 m2/s e vazão específica de 0,035 m3/h/m.
A exemplo do descrito para o Sistema Aqüífero Furnas, o SAPG deve apresentar uma
porção livre e outra confinada pelas camadas superiores da estratigrafia da Bacia do Paraná.
Em sua maior área de distribuição, as funções filtro e reguladora devem ser mais efetivas e
mais importantes que a função armazenadora.

10.2.3.15. Sistema Aqüífero Aquidauana (SAAQ)


O Sistema Aqüífero Aquidauana (SAAQ) compreende os conjuntos
de rochas associados ao Grupo Aquidauana e às formações Irati e
Corumbataí.
O SAAQ é anisotrópico, heterogêneo e apresenta grande variação
lateral. Nas áreas de exposição dos arenitos, grauvacas e diamictitos do Grupo Aquidauana este
sistema é livre. Nas regiões onde ocorre em profundidade representa um aqüífero confinado, onde
as rochas das formações Corumbataí e Irati são as principais camadas confinantes (regionalmente
estas unidades são consideradas aqüitardes ou mesmo aqüífugos).
Análise dos dados sobre os poços perfurados demonstra grande variação dos parâmetros
hidrodinâmicos do SAAQ. A estatística dos dados analisados demonstra amplitude de vazão entre
zero e 300 m3/h, sendo que 80% dos poços perfurados possuem vazão abaixo de 5 m3/h.
Apesar da seqüência sedimentar ser dominada por fácies areníticas, o aqüífero apresenta
baixa potencialidade de armazenamento e fornecimento de água. Tal característica está relacionada
à ocorrência de espessos pacotes de arenitos cimentados, fácies argilosas intercaladas aos pacotes
areníticos e a presença de matriz argilosa nos arenitos não cimentados. A ampla diversidade na
sucessão vertical da fácies interfere na porosidade do aqüífero, contribuindo para que o SAAQ
tenha comportamento de dupla porosidade.
Nas áreas de ocorrência de arenito cimentado, o aqüífero comporta-se como fraturado, onde
a reserva e o fornecimento de água subterrânea estão relacionados aos planos de falha e fratura,
158 Hidrogeologia do Estado de Goiás
sendo baixo o potencial hidrogeológico. Estas áreas correspondem às superfícies rebaixadas,
erodidas pelas drenagens da bacia hidrográfica do rio Caiapó. Análise de dados de 10 poços
perfurados demonstra que 3 poços não apresentam vazão e 7 possuem vazão abaixo de 5,0 m3/h.
Ao contrário, as áreas de melhor vocação hidrogeológica estão relacionadas as fácies
arenosas intemperizadas, que se encontram no topo da unidade em faixas estreitas de interflúvios
que limitam as áreas de afloramento. Nestas faixas, a feição suave do relevo contribui para o
desenvolvimento de espesso manto de alteração, podendo chegar até 30 m de profundidade. Poços
perfurados na borda da bacia do rio Caiapó, nos municípios de Jataí e Montividiu, apresentam
vazões que variam de 10 a 30 m3/h

10.2.3.16. Sistema Aqüífero Guarani (SAG)


O Sistema Aqüífero Guarani (SAG) compõe um grande reservatório
transfronteiriço que perpassa quatro países da América do Sul: Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai. Abrange uma área total de 1,2 milhões de
km², sendo que cerca de 840 mil km² encontram-se no Brasil (Rosa Filho,
2005).
O SAG, no Brasil, é observado nos estados de Mato Grosso do Sul (25,4%), Rio Grande do
Sul (18,8%), São Paulo (18,6%), Paraná (15,6%), Goiás (6,5%), Minas Gerais (6,1%), Santa
Catarina (5,9%) e Mato Grosso (3,1%). Em Goiás, a área de abrangência deste aqüífero corresponde
a 55 mil km², distribuídos em 45 municípios, dentre os quais destacam-se Rio Verde, Jataí,
Mineiros, Itumbiara e Santa Helena.
O SAG, no estado de Goiás, é representado pelos arenitos eólicos da Formação Botucatu.
Este sistema é regionalmente configurado por aqüíferos livres ou confinados, sendo que a camada
confinante é representada pelos basaltos da Formação Serra Geral. Processos tectônicos que
afetaram rochas da Formação Botucatu conferiram ao SAG um típico sistema aqüífero de dupla
porosidade. Em toda a extensão do SAG (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) estima-se que o
SAG possua uma reserva permanente de 40.000 km³ distribuída em uma área de 1,2 milhões de km²
A distribuição da porção confinada do SAG no estado de Goiás ainda não é bem conhecida,
sendo necessários estudos geofísicos para uma delimitação mais precisa. Os dados existentes são
relativos a áreas específicas, onde poços atravessam toda a seção de basaltos confinantes e parte dos
arenitos da Formação Botucatu.
Não há dados disponíveis sobre poços perfurados nas áreas de afloramento, região onde o
arenito comporta-se como aqüífero livre. Nas regiões onde o aqüífero é confinado, existem poços
tubulares profundos perfurados nas cidades de Jataí, Mineiros, Chapadão do Céu, Cachoeira
Dourada e Lagoa Santa.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 159


Os parâmetros dimensionais do SAG não puderam ser determinados a partir de poços
localizados no estado, uma vez que não foi possível obter dados de ensaio de bombeamento e os
poços conhecidos são jorrantes e parcialmente penetrantes.
Segundo Rocha et al. (1979) e Rosa Filho et al. (2003) a porosidade do SAG varia de 10 a
22%, com média de 17% e variação em função da quantidade de matriz infiltrada nos arenitos. A
porosidade eficaz fica em torno de 12 a 18%. Este valor elevado é resposta do ambiente de
sedimentação eólico da maior parte dos arenitos, condicionando o elevado grau de selecionamento e
maturidade. A condutividade hidráulica regional varia entre 2,3 x 10-6 m/s e 5,3 x 10-5 m/s, sendo
que estes valores foram obtidos na vasta área de ocorrência do aqüífero. A transmissividade varia na
ordem de grandeza de 10-4 e 10-3 m2/s, considerando uma espessura média no estado de 200 metros.
A capacidade específica é da ordem de 10 a 15 m3/h/m, e o coeficiente de armazenamento varia de
10-3 até 10-6 em função da condição de confinamento.
No município de Jataí, um poço perfurado pela prefeitura municipal e outro pela Petrobras,
locados na área do Thermas Clube de Jataí interceptam 160 m do arenito Botucatu, e explotam água
quente do SAAQ. Os poços perfurados no perímetro urbano drenam apenas a porção superior do
pacote arenítico e apresentam vazões variando entre 10 e 30 m3/h, consideradas baixas, quando
comparadas às vazões superiores a 200 m3/h dos poços de Lagoa Santa e Cachoeira Dourada. A
inexistência de artesianismo e o reduzido potencial de fornecimento de água dos poços, que
explotam água do SAG no perímetro urbano de Jataí, demonstram a baixa carga de pressão e de
elevação da água subterrânea, em função do baixo gradiente topográfico entre a superfície
potenciométrica do aqüífero, nas áreas de recarga, e aquelas sob o perímetro urbano de Jataí.
Dados de superfície e de perfis dos poços perfurados entre Jataí e Rio Verde mostram uma
descontinuidade lateral do SAG, na direção leste – oeste. Em Jataí, as cotas de topo e de base do
pacote arenítico estão respectivamente a 720 e 550 metros, indicando espessura de 170 metros. Em
Rio Verde, perfis de dois poços que interceptaram os arenitos indicam cota de topo a 230 metros.
Os referidos poços de propriedade das empresas Rinco e Comigo, atravessam 400 m de basalto e
interceptam delgada camada de arenito Botucatu, com 10 m de espessura, a 520 m de profundidade.
Análise dos dados indica gradiente topográfico de 490 metros, entre as cotas de superfície do
aqüífero, para uma extensão horizontal de 70 quilômetros entre Jataí (W) e Rio Verde (E). Estes
dados indicam que há escalonamento por falhas no condicionamento regional do SAG no estado de
Goiás. A sua distribuição, nas áreas confinadas, carece de confirmação.
O termalismo das águas do aqüífero é aproveitado em balneários nos municípios de Lagoa
Santa e Cachoeira Dourada. Poços perfurados em Cachoeira Dourada explotam água quente e
salgada interceptando o aqüífero a 420 m de profundidade. Em Lagoa Santa, dois poços perfurados
apresentam artesianismo e hidrotermalismo com vazões de 200 e 180 m3/h. Na mesma cidade existe
surgência de água quente que alimenta a lagoa que deu nome à cidade. Em São João do Aporé

160 Hidrogeologia do Estado de Goiás


(MS), a 5 km de distância de Lagoa Santa, três poços construídos neste aqüífero apresentam
artesianismo e hidrotermalismo com vazões superiores a 500 m3/h.

10.2.3.17. Sistema Aqüífero Serra Geral (SASG)


O Sistema Aqüífero Serra Geral (SASG) corresponde ao conjunto
litológico representado pela Formação Serra Geral, diques e soleiras
associados aos derrames cretáceos, Suíte Vulcânica de Santo Antônio da
Barra e Formação Verdinho. Em Goiás, a vazão média dos poços é de 13,5
m3/h e a moda é de 8 m3/h (para 317 poços).
Nos basaltos da Formação Serra Geral, a circulação e reserva de água subterrânea estão
condicionadas aos planos de falhas e fraturas da rocha. O aqüífero é fraturado e anisotrópico,
apresentando grande variabilidade dos parâmetros hidrodinâmicos e dimensionais. O potencial
relativamente elevado deste sistema aqüífero é condicionado aos dois tipos de fraturas presentes,
relacionadas ao fraturamento térmico gerado nas fases finais de cristalização dos derrames toleíticos
e ao fraturamento tectônico/neotectônico formado pela extensão crustal que culminou com a
separação do Atlântico Sul.
Oliveira (2005) analisou dados de 54 poços perfurados nos municípios de Rio Verde, Jataí,
Aparecida do Rio Doce, Santa Helena, Santo Antônio da Barra, Cachoeira Alta, Cachoeira
Dourada, Itumbiara, Bom Jesus, Portelândia e Itajá. A vazão dos poços varia desde zero até valores
da ordem de 40 m3/h com média de 10,5 m3/h. A distribuição da freqüência demonstra que 27,8%
dos poços possuem vazões abaixo de 5,5 m3/h, 27,8 % entre 5,6 e 10 m3/h, 41,6% entre 10,1 e 25
m3/h e apenas 2,7% dos poços apresentaram vazões superiores à 25 m3/h.
Dados de 9 ensaios de bombeamento resultaram em valores médios de 1,4 x 10-7 m/s para a
condutividade hidráulica, 2,0 x 10-4 m2/s para a transmissividade e capacidade específica média de
1,31 m3/h/m.
A experiência na exploração do SASG mostra que a locação de poços deve ser
preferencialmente feita com base na existência de estruturas fraturadas com análise de lineamentos
ou com auxílio de ferramentas geofísicas.

10.2.3.18. Sistema Aqüífero Bauru (SABAU)


O Sistema Aqüífero Bauru (SABAU) corresponde aos reservatórios
vinculados às rochas do Grupo Bauru (Formações Adamantina e Marília),
em geral representadas por arenitos não litificados.
Em toda a sua extensão, os sedimentos do Grupo Bauru comportam-
se como aqüíferos livres, porosos, homogêneos e isotrópicos. O potencial hidrogeológico é
determinado pela capacidade de recarga e reserva do aqüífero que estão diretamente relacionados à
espessura do material inconsolidado e ao grau de intemperismo dos arenitos. Nas áreas de

Hidrogeologia do Estado de Goiás 161


ocorrência dos arenitos cimentados ou compactados o potencial hidrogeológico é baixo. A
obliteração dos poros confere à rocha características de aqüitarde, uma vez que o grau de
fraturamento é limitado e a circulação da água ocorre apenas nos planos de falha e fratura. Nas
áreas de ocorrência de material friável, a porosidade da rocha confere maior potencial para
fornecimento de água. Em Goiás, os valores de vazão média dos poços cadastrados é de 10,5 m3/h,
com vazão máxima de 172 m3/h e moda de 10 m3/h (para um conjunto de 296 poços).
Dados de Oliveira (2005) mostram que poços construídos no SABAU apresentam vazões
que variam de zero a 35 m3/h, média de 8,82 m3/h e moda de 5 m3/h. A distribuição da freqüência
de vazões demonstra que 35,7% dos poços possuem vazões inferiores a 5 m3/h, 33,9% entre 5,1 e
10 m3/h, 30,4% entre 10,1 e 20 m3/h e apenas 3,5% possuem vazões acima de 20,1 m3/h Análise
estatística das informações dos poços demonstra menor potencial hidrogeológico do aqüífero nas
regiões de Rio Verde e Santo Antônio da Barra e relativa melhora das condições hidrogeológicas
nas regiões de Montividiu e Aparecida do Rio Doce (Tabela 10.4).
No estado de Goiás a maior parte dos poços construídos em áreas de exposição do Grupo
Bauru, também intercepta os basaltos da Formação Serra Geral. Nestes casos, seções de filtros
podem ser posicionadas tanto nos arenitos como nos basaltos alterados.
O potencial hidrogeológico e a produtividade de água, portanto, está relacionada à
contribuição dos dois aqüíferos. Análise de informações de vazão em poços situados neste contexto
(tabela 9.9), demonstra um pequeno aumento de produção nos municípios de Rio Verde e
Montividiu e ligeira redução no município de Aparecida do Rio Doce.

Vazão (Q) m3/h


Região
mínimo máximo média mediana
Rio Verde 2,5 24 8,2 6,8
Montividiu 7 22 15,5 17,6
Aparecida do Rio Doce 4 12 8,8 10,5
Tabela 10.4 – Vazão dos poços que interceptam o Sistema Aqüífero Bauru e o Sistema Aqüífero Serra Geral (Oliveira,
2005).

Apesar de apresentar comportamento diferenciado do ponto de vista de produtividade dos


poços, o SABAU exerce grande importância hidrogeológica, com relação às funções filtro e
reguladora. Regionalmente, suas áreas de ocorrência concentram as melhores condições de recarga
e a maior densidade de nascentes, sendo também a principal fonte de água responsável pela
regularização de vazões dos rios Verdão, dos Bois, Doce, Claro, Aporé e médio-baixo-curso dos
rios Corrente e Verde (principais rios da região sudoeste do estado).

10.2.3.19. Sistema Aqüífero Cachoeirinha (SACH)


O Sistema Aqüífero Cachoeirinha (SACH) é constituído por arenitos
argilosos friáveis associados à Formação Cachoeirinha. Trata-se de um
conjunto de aqüíferos livres ou semiconfinados, homogêneos e relativamente

162 Hidrogeologia do Estado de Goiás


isotrópicos, com ampla continuidade lateral e com grande importância das funções filtro e
reguladora.
As espessuras totais mais comuns são de até 30 metros embora em alguns casos possam
superar os 50 metros. A espessura saturada média é considerada de 20 metros.
Os dados do cadastro de pontos d’água indicam uma vazão média de 9,5 m3/h com máxima
de 60 m3/h (18 poços). Estes dados são considerados muito elevados e não compatíveis com as
características físicas do sistema aqüífero. Supõe-se que, para os casos onde não há disponibilidade
de acesso a perfis geológicos ou construtivos, na prática a captação principal se dá a partir dos
basaltos do SASG ou arenitos puros do SAG. O valor modal de 05 m3/h obtido do cadastro deve
representar um valor mais próximo da média esperada para este sistema aqüífero.
Dados de apenas um ensaio de bombeamento supostamente realizado em poço situado neste
sistema resultou nos seguintes dados: condutividade hidráulica de 1,0 x 10-6 m/s e transmissividade
de 1,5 x 10-4 m2/s. Este resultado comprova que o poço não explota água exclusivamente do
Sistema Cachoeirinha, pois foi realizado com dados de uma espessura saturada de 150 metros, que é
mais que o dobro da máxima espessura total descrita para a formação homônima.
Trata-se de um sistema aqüífero de difícil explotação e desenvolvimento complexo dos
poços uma vez que o material friável e argiloso que o compõe causa turbidez na água e a própria
perfuração é dificultada (com constantes desmoronamentos). Assim poucos poços tubulares
profundos explotam exclusivamente águas neste contexto e o mais comum é o revestimento
completo da seção perfurada nos arenitos, com colocação de filtros e captação direta de fraturas dos
basaltos da Formação Serra Geral, ou de arenitos puros do Grupo Bauru imediatamente sotopostos.

10.2.3.20. Sistema Aqüífero Urucuia (SAU)


O Sistema Aqüífero Urucuia (SAU) corresponde ao conjunto de
rochas associadas aos grupos Urucuia e Areado compostos por arenitos
eólicos e fluviais, pertencentes à Bacia Sanfranciscana, cobertura
fanerozóica do Cráton São Francisco.
A área de ocorrência do SAU distribui-se principalmente a oeste do
estado da Bahia, estendendo-se desde o extremo sul do Piauí até o noroeste de Minas Gerais. Em
Goiás ocorre apenas uma estreita faixa na porção nordeste. Mesmo tendo uma restrita presença no
estado, este sistema tem importância fundamental para a regularização das vazões de importantes
drenagens naquela região, como os rios São Domingos, Galheiros e Corrente.
Trabalhos específicos sobre o SAU e sua relação com drenagens superficiais foram
desenvolvidos no oeste da Bahia por Schuster et al. (2002); Ramos & Silva (2002); Silva et al.
(2002); Aquino et al. (2002); Santana et al. (2002); Amorim Junior (2003); SRH-BA (2003) e
Gaspar & Campos (2005).
A recarga deste sistema aqüífero ocorre por infiltração da água das chuvas na área do
Hidrogeologia do Estado de Goiás 163
chapadão do oeste baiano, que corresponde aos relevos mais planos e elevados, associados a
espessos latossolos de textura média e arenosa, de fundamental importância na recarga do aqüífero.
O SAU mostra-se como um manancial subterrâneo poroso e isotrópico. Embora o Grupo
Urucuia seja uma unidade homogênea e com pouca variedade de litotipos, pequenas e restritas
variações faciológicas nesta unidade conferem ao sistema importantes mudanças hidrodinâmicas
que permitem a compartimentação em subtipos de aqüíferos (Gaspar & Campos, 2005).
A superfície potenciométrica na parte oeste, limite físico do chapadão, alimenta nascentes na
base e contribui para a perenização dos rios da região cárstica de Goiás.
Os dados de parâmetros dimensionais deste sistema aqüífero são: capacidade específica dos
poços variando de 20 a 48 m3/h/m, transmissividade com variação de 10-4 a 10-6 m2/s,
condutividade hidráulica da ordem de 10-5 a 10-7 m/s, porosidade efetiva de cerca de 14 a 20% e
coeficiente de armazenamento de 15 a 10-2 (aqüífero livre) e de 10-4 (aqüífero confinado).
As vazões específicas médias alcançam 20 m3/h/m e vazões maiores que 500 m3/h são
reportadas na região de Luiz Eduardo Magalhães (estado da Bahia). As profundidades dos níveis
d’água ao longo da divisa entre os estados de Goiás e Bahia são maiores que 100 metros podendo
alcançar 200 metros. A grande espessura da zona não saturada é o maior limitante para a explotação
do SAU em sua faixa de ocorrência em território goiano.

10.2.3.21. Sistema Aqüífero Araguaia (SAAG)


O Sistema Aqüífero Araguaia (SAAG) compreende os sedimentos
associados à Formação Araguaia, bem como os demais materiais de origem
cenozóica na região do vale do Rio Araguaia. Trata-se de aqüíferos livres ou
semi-confinados, homogêneos a pouco heterogêneos, isotrópicos, com ampla
extensão lateral e com vocação hidrogeológica regional restrita a moderada.
Em Goiás, o vale tectônico com centenas de metros de espessura de sedimentos terciários e
elevado potencial não está presente, sendo o SAAG representado apenas pelos sedimentos fluviais
cenozóicos caracterizados por arenitos e cascalhos com forte contribuição argilosa. A grande
concentração de material pelítico na matriz destes sedimentos é devida às condições deposicionais
em planície de inundação de rios anastomosados.
Este sistema aqüífero é pouco utilizado pela população que reside nas proximidades do Rio
Araguaia, pois além da dificuldade de sua explotação, há relativa abundância de águas superficiais.
A modalidade de poços escavados (cisternas) é a forma mais comum de aproveitamento deste
sistema no estado de Goiás.
A recarga se dá diretamente pela infiltração das águas de chuva ou pela água dos rios, após
filtragem através dos bancos areno-silto-argilosos dos diques marginais ou das porções mais rasas
dos aluviões. A descarga se processa por nascentes difusas que deságuam diretamente no Rio
Araguaia ou em seus tributários.
164 Hidrogeologia do Estado de Goiás
A média da vazão para uma população de 44 poços é de 6,5 m3/h, com máxima de 24 e
mínima em torno de 0,3 m3/h. O valor modal é de 4 m3/h, o que indica a limitação da produtividade
deste sistema aqüífero. Neste sistema aqüífero, foi cadastrado um reduzido número de poços
tubulares, sendo que, destes, nenhum possuía ensaio de bombeamento.
Como são representados por materiais não litificados, muito ricos em argila e silte, a
condutividade hidráulica deverá ser baixa a muito baixa (média em torno de 10-7 m/s,
principalmente a maiores profundidades). A transmissividade deverá variar, sendo os valores mais
reduzidos esperados nas áreas de ocorrência dos aluviões distais pouco profundos (cuja espessura
não deverá ser superior a 15 metros) e o maiores valores condicionados aos paleocanais onde se
espera dezenas de metros de espessura total de sedimentos recentes.
Em função da baixa condutividade hidráulica e da reduzida espessura da zona vadosa este
sistema é considerado como de alta vulnerabilidade à contaminação. Como são áreas que são
periodicamente inundáveis, ainda há o risco potencial de descontinuidade de uso das captações nas
épocas de enchentes.

10.2.3.22. Sistema Aqüífero Ouvidor-Catalão (SAOC)


O Sistema Aqüífero Ouvidor-Catalão (SAOC) está associado ao conjunto litológico dos
Complexos Alcalinos de Catalão I e II, localizado nos municípios de Ouvidor e Catalão, na região
sudeste de Goiás. Apesar deste sistema apresentar dimensões reduzidas, sua discriminação dos
demais sistemas aqüíferos foi possível devido a características específicas reconhecidas, como a
importância da água subterrânea para as minerações presentes na região e a relativa importância
hidrogeológica.
As informações apresentadas a respeito do SAOC são originadas de trabalho específico
realizado na área de lavra de nióbio da Mineração Catalão de Goiás Ltda. (Campos, 2003).
Em função das características pedológicas e geológicas observadas na região dos complexos
carbonatíticos, os aqüíferos profundos são definidos como de natureza físsuro-cárstica (Bottura,
2000 e Campos, 2003). O principal parâmetro utilizado para a classificação do sistema aqüífero foi
o tipo de porosidade (físsuro-cárstica) associada às rochas em profundidade. Além do tipo de
porosidade, outras feições como potencial hidrogeológico, vulnerabilidade, espessura e parâmetros
dimensionais, também são características distintivas, sendo qualitativamente importantes para a
classificação deste sistema.
O SAOC é caracterizado pela extrema heterogeneidade e anisotropia, com feições de
carstificação vinculada às principais zonas de fraturamento e falhamento, sendo que em sua maior
área de ocorrência estima-se um comportamento de aqüífero fraturado clássico.
Representa zonas aqüíferas vinculadas à porosidade secundária em carbonatitos frescos ou
pouco alterados. Este sistema aqüífero tem porosidade vinculada à tectônica rúptil a qual o

Hidrogeologia do Estado de Goiás 165


complexo carbonatítico foi submetido (de idade pós-cretácea) e à dissolução pela percolação de
águas meteóricas ao longo das zonas de brechas e de fraturas.
Como não há um número considerável de poços com dados de ensaios de bombeamento
completos e confiáveis, os parâmetros dimensionais foram estimados com base em ensaios do tipo
Slug (de recuperação do nível d’água) em piezômetros, realizados por Campos (2003).
A vazão média dos poços em operação é de cerca de 35 m3/h (dados da Mineração Catalão).
A profundidade econômica do aqüífero não pode ser determinada com base nos dados disponíveis,
entretanto, em função da textura brechoidal das várias fácies do carbonatito e do elevado potencial
de alteração de vários dos minerais presentes (calcita, dolomita, zeólitas, olivina, piroxênios), esta é
estimada em pelo menos 250 metros. A condutividade hidráulica média do maciço varia da ordem
de 10-4 a 10-6 m/s, entretanto estima-se que a condutividade das zonas fraturadas/carstificadas possa
alcançar valores de 10-2 m/s, ao longo dos planos principais de dissolução. A porosidade total foi
estimada com base na analogia com sistemas similares, sendo considerada da ordem de 15%. É
importante salientar que não se trata de um sistema cárstico clássico, do tipo desenvolvido em
maciços carbonáticos contínuos e espessos.
Informações específicas nas áreas de lavra (Complexo de Catalão I) mostram que há forte
reciclagem de água subterrânea, em função da elevada demanda nos processos metalúrgicos e pela
infiltração a partir da base das barragens de rejeito situadas na região.

10.2.3.23. Aqüíferos Isolados


Os aqüíferos Água Bonita e Santa Fé situam-se nos municípios de São Miguel do Araguaia
e Posse, respectivamente. Estes aqüíferos não são considerados sistemas, sendo, portanto, definidos
como aqüíferos isolados. São respectivamente associados ao siluro-devoniano da Bacia do Parnaíba
e ao Permo-carbonífero da Bacia Sanfranciscana com arenitos, grauvacas, siltitos e folhelhos.
Não há dados disponíveis de poços nestes aqüíferos isolados e em função das feições
petrográficas e da área de distribuição, estima-se um potencial quantitativo pouco representativo.
Em função das feições petrográficas e posição estratigráfica estes aqüíferos são classificados
como fraturados ou como de dupla porosidade. São também considerados aqüíferos com
distribuição lateral limitada, heterogêneos, anisotrópicos e livres a confinados.

10.3. MAPA HIDROGEOLÓGICO


O Mapa Hidrogeológico do Estado de Goiás e Distrito Federal foi confeccionado de acordo
com a metodologia proposta por Campos & Freitas-Silva (1998), de forma a apresentar os aqüíferos
freáticos e profundos na mesma planta cartográfica. Assim, utiliza-se um sistema de hachuras e
cores para discriminar os dois grupos de aqüíferos. Os Sistemas Aqüíferos Freáticos são
discriminados por hachuras com diferentes padrões e os Sistemas Aqüíferos Profundos são
representados por diferentes cores.

166 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Como existem 22 sistemas aqüíferos profundos, a diferenciação efetiva apenas pela variação
tonal das cores é limitada. Desta forma, optou-se por separar os sistemas, além das diferentes cores,
também por letras código (abreviatura do nome de cada sistema), como: Sistema Aqüífero Guarani
– SAG ou Sistema Aqüífero Araxá – SAAX.
As informações geológicas foram compiladas com base no Mapa Geológico do Estado de
Goiás e Distrito Federal, em escala 1:500.000, e posteriormente reagrupadas.
A base pedológica foi obtida a partir da integração e atualização de mapas de solos, e
trabalhos como de Kerr et al. (2001) e pelas bases do projeto RADAMBRASIL, compilados e
disponibilizados em Goiás (2004). Estas bases foram readequadas à nomenclatura dos solos
atualizada segundo EMBRAPA (1999), e agrupados em função dos resultados dos ensaios de
infiltração in situ e do funcionamento hídrico geral das diferentes classes pedológicas. Este produto
foi utilizado para a confecção do mapa de Sistemas Aqüíferos Freáticos.
O mapa de solos em escala 1:500.000 também é de fundamental importância para a
avaliação qualitativa da vulnerabilidade e risco de contaminação das águas subterrâneas do estado.
Além de conter informações sobre geologia, domínios e sistemas aqüíferos, o mapa
hidrogeológico apresenta dados dos pontos d’água (poços), informações genéricas sobre o clima,
uso e cobertura vegetal, além de elementos indicativos da tectônica rúptil (lineamentos e roseta
integrada de fraturas e lineamentos).

10.4. ESTIMATIVA DE RESERVAS


Para a estimativa das disponibilidades de água subterrânea no estado de Goiás foram
consideradas as reservas renováveis, permanentes e explotáveis.
As reservas renováveis, também chamadas de reservas reguladoras, compõem os volumes
que anualmente circulam pelo aqüífero, compondo um volume de rápida circulação, de águas
jovens e em geral vinculadas a fluxo hidrogeológico local. A unidade da reserva renovável é uma
dimensão de volume ou vazão (ex. m³/h ou l/s) por ano.
As reservas permanentes ou seculares compõem o volume de água de lenta circulação que
ocupa a porosidade efetiva abaixo do nível da superfície piezométrica (freática) média. Estas
reservas são compostas por águas mais antigas, associadas a sistemas de fluxo intermediário a
regional e em geral mais mineralizadas.
As reservas explotáveis compõe o volume que pode ser retirado do aqüífero em termos
sustentáveis, sem causar danos irreversíveis aos reservatórios subterrâneos. Estas reservas também
são denominadas de ecológicas e quando os sistemas são bombeados em taxas muito superiores à
reserva explotável ocorrem problemas de rebaixamento demasiado dos níveis d’água, ativação ou
reativação de dolinas, desenvolvimento de sismos induzidos e colapso no abastecimento.
As estimativas foram feitas de forma distinta para os aqüíferos dos Domínios Intergranular,
Fraturado, Fissuro-Cárstico e Cárstico.
Hidrogeologia do Estado de Goiás 167
10.4.1. Aqüíferos Intergranulares
Reservas Renováveis
Para esta determinação utiliza-se a metodologia do balanço hídrico e considera-se que de 5 a
12% da precipitação pluvial anual média seja equivalente à recarga efetiva dos meios
intergranulares. Este percentual médio é coerente com os diversos ambientes encontrados no estado
de Goiás, incluindo áreas de aplainamento regional, de relevo movimentado, associadas a diferentes
tipos de solos.
Reservas Permanentes
O cálculo da estimativa da reserva permanente é realizado de acordo com as seguintes
equações:
- Sistemas livres:
RPi = A x b x Șe, onde:
RPi = reserva permanente de aqüíferos intergranulares livres; A = área do sistema/subsistema aqüífero
considerado; b = espessura saturada e Șe = porosidade eficaz (efetiva).
- Sistemas confinados:
RPc = Ac x h x S, onde:
RPc = reserva permanente de aqüíferos intergranulares confinados; Ac = área de confinamento do
sistema/subsistema aqüífero considerado; h = carga hidráulica média acima da base da camada confinante e
S = coeficiente de armazenamento.

10.4.2. Aqüíferos Fraturados, Cársticos e Físsuro-Cársticos


Reservas Renováveis
A estimativa das reservas renováveis é baseada no balanço hídrico e considerado que 5% da
precipitação seja a renovação dos sistemas fraturados em profundidades de até 200 metros. O
estudo de Souza (2001) foi considerado como base para este tipo de estimativa.

Reservas Permanentes
Para se estimar a reserva permanente dos meios fraturados foi aplicada a equação proposta
por Campos & Freitas-Silva (1998):
RPf = A x b x IFi, onde,
RPf = reserva permanente do domínio fraturado; A = área do sistema/subsistema; b = espessura saturada e
Ifi = índice de fraturamento interconectado.

A Tabela 10.5 traz as principais variáveis para a estimativa das várias modalidades de
reservas hídricas subterrâneas do estado de Goiás. O cálculo das áreas individuais de cada sistema
foi obtida diretamente do programa ArcView 3.2. Os valores de porosidade eficaz e índice de
fraturamento interconectado foram definidos a partir da comparação direta com sistemas similares,

168 Hidrogeologia do Estado de Goiás


onde estudos específicos para a determinação destes parâmetros foram realizados (ex. Fetter, 1994;
Driscol, 1999; Manoel Filho, 1996).

Șe Área
b
SISTEMA ou Aflorante Observações
(em m)
IFi (em m2)
Como a concentração de argila é baixa a micro
Freático I 30 12% 12.268.596.816 porosidade é reduzida e a porosidade efetiva
tende a ser muito alta.
A micro porosidade grande principalmente nos
Freático II 15 8% 156.770.968.781 latossolos de textura argilosa tende a
minimizar a porosidade efetiva.
Redução da porosidade efetiva em função dos
Freático III 10 6% 59.471.564.597
horizontes enriquecidos em argila.
Porosidade efetiva elevada em virtude da
Bauru 40 10% 29.776.261.795
natureza friável dos arenitos.
Limitação da porosidade efetiva em razão da
Cachoeirinha 20 8% 7.092.186.732 grande quantidade de argila acumulada nos
processos pedogenéticos.
Porosidade efetiva elevada em virtude da
Urucuia 30 18% 1.366.852.311 natureza friável dos arenitos e da restrita
concentração de argila.
Limitação da porosidade efetiva em função da
Araguaia 30 9% 19.014.442.365
presença comum de horizontes plínticos.
Cristalino Oeste 120 1,5% 10.218.172.689
Cristalino Noroeste 110 1,5% 37.549.018.453
Cristalino Nordeste 100 1,3% 6.748.204.848 IFi diminui progressivamente com o aumento
Cristalino Sudeste 150 1,5% 31.278.907.124 da profundidade (aumento da pressão de
Greenstone Belts 100 1% 1.885.820.748 confinamento).
Complexos
100 1% 4.030.571.977
Acamadados
Araí 150 3% 6.972.265.289 IFi ampliado sensivelmente em função da
ampla presença de rochas psamíticas de
Paranoá 100 2,5% 24.582.364.194
comportamento frágil.
Canastra 100 1,3% 22.035.593.094
Valores de IFi reduzido pela natureza dúctil
Araxá 100 1,2% 34.522.892.635
das rochas componentes.
Serra da Mesa 100 1,2% 19.468.675.790
Sensível ampliação do IFi em função da
Bambuí 120 4,5% 28.470.662.153
dissolução cárstica em carbonatos e margas.
Sensível ampliação IFi em função da soma de
Serra Geral 300 3,5% 25.645.676.423
fraturas térmicas e fraturas tectônicas.
Porosidade efetiva elevada em função da
Furnas 100 10% 4.868.785.194
ausência de cimentos e matriz.
Ponta Grossa 200 6% 4.830.994.150 Porosidade efetiva limitada pela recorrência de
Aquidauana 200 6% 14.772.804.507 fácies pelíticas intercaladas aos arenitos.
Porosidade efetiva ampliada pela dupla
Guarani 200 15% 9.351.308.751
porosidade e ausência de matriz e cimentos.
Ouvidor-Catalão 120 4,5% 41.602.584 IFi ampliado pela dissolução cárstica.
Tabela 10.5 – Parâmetros para o cálculo das reservas hídricas permanentes nos diversos sistemas aqüíferos do estado
de Goiás. Șe - Porosidade efetiva ou eficaz; IFi - índice de fraturamento interconectado e b – espessura saturada média.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 169


10.4.3. Reservas Explotáveis
A reserva explotável é estimada a partir da soma da reserva renovável, mais um percentual
da reserva permanente. O percentual varia em função do tipo de meio hidrogeológico e sua
definição deve levar em consideração as condições gerais de circulação e recarga e pode variar
entre zero e 20% do volume referente à reserva permanente. No presente estudo optou-se por
utilizar valores reduzidos (média de 5%) para os sistemas fraturados, pois a circulação e recarga
destes sistemas apresentam menor eficiência quando comparada aos sistemas freáticos e
intergranulares. Para estes casos foi utilizado um valor médio de 10% da reserva permanente.
Apenas para o Sistema Aqüífero Urucuia foi utilizado o valor de 20%, uma vez que se trata de um
aqüífero de características de recarga excepcionais que comportam tal retirada das reservas
permanentes sem prejuízos a sua função reservatório.
A taxa de precipitação média para Goiás é de 1.500 mm. Em áreas específicas como, por
exemplo, a região nordeste do estado a precipitação média anual é de 1.200 mm.
O percentual de infiltração da precipitação é definido para cada sistema aqüífero
intergranular em função dos tipos de relevo e solos predominantes no compartimento
hidrogeológico. Para os sistemas fraturados será considerado entre 4 e 5% para todos os casos e
para os sistemas freáticos ou intergranulares profundos deverá variar entre 8 e 12%.
Como é de praxe nos estudos de cálculo de reservas hídricas subterrâneas e com objetivo de
se estimar valores dentro da sustentabilidade, os parâmetros utilizados nas equações são, de forma
geral, subestimados. Com a explotação continuada dos aqüíferos e com agregação de
conhecimentos os valores podem ser futuramente aprimorados.
Os resultados das estimativas das reservas são apresentados a seguir de forma sinóptica para
cada um dos sistemas aqüíferos considerados.

Sistema Aqüífero Freático I


Rr = 12.268.596.816 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 2,2083473 x 109 m3/ano
Rp = 12.268.596.816 m2 x 30 m x 0,12 = 4,4166946 x 1010 m3
Re = 2,2083473 x 109 m3/ano + 0,1 x 4,4166946 x 1010 m3 = 6,62 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Freático II
Rr = 156.770.968.781 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 2,8218773 x 1010 m3/ano
Rp = 156.770.968.781 m2 x 15 m x 0,08 = 1,8812515 x 1011 m3
Re = 2,8218773 x 1010 m3/ano + 0,1 x 1,8812515 x 1011 m3 = 4,70 x 1010 m3/ano
Sistema Aqüífero Freático III
Rr = 59.471.564.597 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 1,0704882 x 1010 m3/ano
Rp = 59.471.564.597 m2 x 10 m x 0,06 = 3,5682938 x 1010 m3
Re = 1,0704882 x 1010 m3/ano + 0,1 x 3,5682938 x 1010 m3 = 1,42 x 1010 m3/ano

170 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Sistema Aqüífero Bauru
Rr = 29.776.261.795 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 5,359727 x 109 m3/ano
Rp = 29.776.261.795 m2 x 40 m x 0,1 = 1,1910504 x 1011 m3
Re = 5,359727 x 109 m3/ano + 0,1 x 1,1910504 x 1011 m3 = 1,72 x 1010 m3/ano
Sistema Aqüífero Cachoeirinha
Rr = 7.092.186.732 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 1,2765936 x 109 m3/ano
Rp = 7.092.186.732 m2 x 20 m x 0,08 = 1,4184373 x 1011 m3
Re = 1,2765936 x 109 m3/ano + 0,1 x 1,4184373 x 1011 m3 = 1,54 x 1010 m3/ano
Sistema Aqüífero Urucuia
Rr = 1.366.852.311 m2 x 0,12 x 1,3 m/ano = 2,4603341 x 108 m3/ano
Rp = 1.366.852.311 m2 x 30 m x 0,18 = 7,3810024 x 109 m3
Re = 2,4603341 x 108 m3/ano + 0,2 x 7,3810024 x 109 m3 = 1,72 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Araguaia
Rr = 19.014.442.365 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 3,4225996 x 109 m3/ano
Rp = 19.014.442.365 m2 x 30 m x 0,09 = 5,1338993 x 1010 m3
Re = 3,4225996 x 109 m3/ano + 0,05 x 5,1338993 x 1010 m3 = 5,98 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Furnas
Rr = 4.868.785.194 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 8,7638132 x 108 m3/ano
Rp = 4.868.785.194 m2 x 100 m x 0,1 = 4,8687851 x 1010 m3
Re = 8,7638132 x 108 m3/ano + 0,1 x 4,8687851 x 1010 m3 = 5,74 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Ponta Grossa
Rr = 4.830.994.150 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 8,6957894 x 108 m3/ano
Rp = 4.830.994.150 m2 x 200 m x 0,06 = 5,7971929 x 1010 m3
Re = 8,6957894 x 108 m3/ano + 0,05 x 5,7971929 x 1010 m3 = 3,76 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Aquidauana
Rr = 14.772.804.507 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 2,6591047 x 109 m3/ano
Rp = 14.772.804.507 m2 x 200 m x 0,06 = 1,7727365 x 1011 m3
Re = 2,6591047 x 109 m3/ano + 0,05 x 1,7727365 x 1011 m3 = 1,15 x 1010 m3/ano
Sistema Aqüífero Serra Geral
Rr = 25.645.676.423 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 4,6162217 x 109 m3/ano
Rp = 25.645.676.423 m2 x 300 m x 0,035 = 2,692796 x 1011 m3
Re = 4,6162217 x 109 m3/ano + 0,1 x 2,692796 x 1011 m3 = 3,15 x 1010 m3/ano
Sistema Aqüífero Guarani
Rrl = 9.351.308.751 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 1,6832356 x 109 m3/ano
Rpl = 9.351.308.751 m2 x 200 m x 0,15 = 2,8053926 x 1011 m3
Rel = 1,6832356 x 109 m3/ano + 0,1 x 2,8053926 x 1011 m3 = 2,97 x 1010 m3/ano
Considerando uma área de confinamento igual ao dobro da área de exposição,
Rrc = 18.702.617.000 m2 x 0,01 x 1,5 m/ano = 2,8053926 x 108 m3/ano
Rpc = Ac x h x S = 18.702.617.000 m2 x 100 m x 10-5 = 1,8702617 x 108 m3
Rec = 0,05 x 2,8053926 x 108 m3 /ano = 1,42 x 107 m3/ano
Sistema Aqüífero Cristalino Oeste
Rr = 10.218.172.689 m2 x 0,08 x 1,5 m/ano = 1,2261806 x 109 m3/ano
Rp = 10.218.172.689 m2 x 120 m x 0,015 = 1,839271 x 1010 m3
Re = 1,2261806 x 109 m3/ano + 0,05 x 1,839271 x 1010 m3 = 2,14 x 109 m3/ano

Hidrogeologia do Estado de Goiás 171


Sistema Aqüífero Cristalino Noroeste
Rr = 37.549.018.453 m2 x 0,1 x 0,14 m/ano = 5,2568625 x 108 m3/ano
Rp = 37.549.018.453 m2 x 110 m x 0,015 = 6,195588 x 1010 m3
Re = 5,2568625 x 108 m3/ano + 0,05 x 6,195588 x 1010 m3 = 3,62 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Cristalino Nordeste
Rr = 6.748.204.848 m2 x 0,10 x 1,2 m/ano = 9,7174149 x 108 m3/ano
Rp = 6.748.204.848 m2 x 100 m x 0,013 = 8,7726662 x 109 m3
Re = 9,7174149 x 108 m3/ano + 0,05 x 8,7726662 x 109 m3 = 1,41 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Cristalino Sudeste
Rr = 31.278.907.124 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 5,6302033 x 109 m3/ano
Rp = 31.278.907.124 m2 x 150 m x 0,015 = 7,0377541 x 1010 m3
Re = 5,6302033 x 109 m3/ano + 0,05 x 7,0377541 x 1010 m3 = 9,14 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Greenstone Belts
Rr = 1.885.820.748 m2 x 0,08 x 1,5 m/ano = 2,2629848 x 108 m3/ano
Rp = 1.885.820.748 m2 x 100 m x 0,01 = 1,8858207 x 109 m3
Re = 2,2629848 x 108 m3/ano + 0,04 x 1,8858207 x 109 m3 = 3,01 x 108 m3/ano
Sistema Aqüífero Complexos Acamadados
Rr = 4.030.571.977 m2 x 0,10 x 1,5 m/ano = 6,0458579 x 108 m3/ano
Rp = 4.030.571.977 m2 x 100 m x 0,01 = 4,0305719 x 109 m3
Re = 6,0458579 x 108 m3/ano + 0,05 x 4,0305719 x 109 m3 = 8,06 x 108 m3/ano
Sistema Aqüífero Araí
Rr = 6.972.265.289 m2 x 0,09 x 1,5 m/ano = 9,412558 x 108 m3/ano
Rp = 6.972.265.289 m2 x 150 m x 0,03 = 3,1375193 x 1010 m3
Re = 9,412558 x 108 m3/ano + 0,07 3,1375193 x 1010 m3 = 3,13 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Paranoá
Rr = 24.582.364.194 m2 x 0,10 x 1,5 m/ano = 3,6873546 x 109 m3/ano
Rp = 24.582.364.194 m2 x 100 m x 0,025 = 6,145591 x 1010 m3
Re = 3,6873546 x 109 m3/ano + 0,05 x 6,145591 x 1010 m3 = 6,76 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Canastra
Rr = 22.035.593.094 m2 x 0,08 x 1,5 m/ano = 2,6442712 x 109 m3/ano
Rp = 22.035.593.094 m2 x 100 m x 0,013 = 2,8646271 x 1010 m3
Re = 2,6442712 x 109 m3/ano + 0,04 x 2,8646271 x 1010 m3 = 3,79 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Araxá
Rr = 34.522.892.635 m2 x 0,09 x 1,5 m/ano = 4,6605904 x 109 m3/ano
Rp = 34.522.892.635 m2 x 100 m x 0,012 = 4,142747 x 1010 m3
Re = 4,6605904 x 109 m3/ano + 0,05% 4,142747 x 1010 m3 = 6,73 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Serra da Mesa
Rr = 19.468.675.790 m2 x 0,09 x 1,5 m/ano = 2,6282711 x 109 m3/ano
Rp = 19.468.675.790 m2 x 100 m x 0,012 = 2,336241 x 1010 m3
Re = 2,6282711 x 109 m3/ano + 0,05 x 2,336241 x 1010 m3 = 3,79 x 109 m3/ano
Sistema Aqüífero Bambuí
Rr = 28.470.662.153 m2 x 0,10 x 1,5 m/ano = 4,2705993 x 109 m3/ano
Rp = 28.470.662.153 m2 x 120 m x 0,045 = 1,5374157 x 1011 m3
Re = 4,2705993 x 109 m3/ano + 0,05 x 1,5374157 x 1011 m3 = 7,68 x 109 m3/ano

172 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Sistema Aqüífero Ouvidor-Catalão
Rr = 41.602.584 m2 x 0,12 x 1,5 m/ano = 7,4884651 x 106 m3/ano
Rp = 41.602.584 m2 x 120 m x 0,045 = 2,2465395 x 108 m3
Re = 7,4884651 x 106 m3/ano + 0,1 x 2,2465395 x 108 m3 = 2,99 x 107 m3/ano

A Tabela 10.6 traz a síntese dos resultados das reservas hídricas subterrâneas para o estado.

Reservas
Grupo de
Aqüífero Renováveis Permanentes Explotáveis
(km3/ano) (km3) (km3/ano)
Freático 41,13 milhões 267 milhões 67,92 milhões

Profundo 49,34 milhões 1,65 bilhões 172,14 milhões

Totais 90,47 milhões 1,917 bilhões 240 milhões


Tabela 10.6 - Estimativa das reservas de águas subterrâneas do estado de Goiás.

10.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A água subterrânea tem grande importância no desenvolvimento do estado de Goiás, sendo
utilizada em abastecimento humano (complementar ou exclusivo), uso industrial, irrigação,
pecuária e lazer (principalmente em clubes esportivos).
No estado de Goiás foram discriminados 25 sistemas aqüíferos, sendo três freáticos ou rasos
e vinte e dois profundos. Os sistemas profundos podem ser classificados em domínios, de acordo
com o tipo de porosidade: Intergranular, Fraturado, Dupla Porosidade, Físsuro-Cárstico e Cárstico.
Alguns sistemas apresentam um alto nível de conhecimento e outros são pouco explorados
e, portanto, pouco conhecidos.
Os Sistemas Aqüíferos Araxá, Paranoá e Cristalino Sudeste são os mais intensivamente
explotados, uma vez que sobre estes aqüíferos está situada a maior densidade populacional do
estado de Goiás e Distrito Federal.
Por outro lado, os Sistemas Aqüíferos Guarani, Serra Geral e Bauru apresentam um elevado
potencial hidrogeológico e suas características dimensionais carecem de maior detalhe, sendo
imprescindível trabalhos de caracterização qualitativa e quantitativa de suas reservas.
Os Sistemas Aqüíferos Freáticos têm importância fundamental na perenização e
regularização das vazões dos cursos de drenagens superficiais. As elevadas vazões dos rios
tributários da Bacia Hidrográfica do Paranaíba são, sem dúvida, devidas à ampla presença dos
Sistemas Freáticos I e II, naquela região.
De forma global a reserva explotável é de 240 milhões de km3 anuais, o que representa a
reserva renovável mais um percentual médio de 8% das reservas permanentes de todos os sistemas
aqüíferos. A comparação dos meios intergranulares com os aqüíferos fraturados mostra que a
porosidade intergrãos além de ser maior é mais eficaz na transmissão de água e, portanto, as
reservas explotáveis destes meios são muito superiores ao dos sistemas fissurais.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 173


174 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO XI
CARACTERIZAÇÃO HIDROQUÍMICA

11.1. INTRODUÇÃO
Os aspectos químicos das águas subterrâneas foram analisados utilizando-se uma população
de 121 amostras de águas de poços tubulares e nascentes, distribuídos por todo o estado de Goiás e
Distrito Federal. Todas as amostras provenientes de poços foram coletadas o mais próximo da saída
do poço, após um período de bombeamento que variou de 5 a 15 minutos. Evitou-se amostrar águas
em torneira após o reservatório e naqueles em que as condições não permitiam a tomada da amostra
nas proximidades da saída do poço (poços sem torneiras antes do reservatório ou poços não
equipados com bombas submersíveis). Nas nascentes as amostras foram tomadas o mais próximo
do olho d’água.
Um fato relevante é que em alguns casos os perfis geológico e construtivo não são
disponíveis para os poços amostrados. Mesmo com a possibilidade de misturas de águas de
diferentes reservatórios (ex. águas freáticas com águas de aqüíferos profundos ou águas de
diferentes camadas em aqüíferos estratificados), os resultados são importantes para a caracterização
geral das fácies hidrogeoquímicas e da química natural das águas.
Foram determinados os seguintes parâmetros: pH, condutividade elétrica, total de sólidos
dissolvidos (TDS), temperatura, bicarbonato, cloreto, nitrato, nitrito, sulfato, fósforo total, sódio,
potássio, estrôncio, lantânio, ítrio, titânio, cálcio, vanádio, magnésio, ferro, silício, níquel, zircônio,
cobre, alumínio, cromo, bário, cobalto, zinco, chumbo, cádmio e molibdênio.

11.2. METODOLOGIA ANALÍTICA


Para cada ponto, tanto surgência quanto poço tubular profundo, a metodologia utilizada na
amostragem consistiu de coleta de água em dois recipientes plásticos. Ainda em campo, os
parâmetros de condutividade elétrica, temperatura, pH e sólidos totais dissolvidos foram medidos
utilizando-se um aparelho portátil (Hanna).
Os outros parâmetros seguiram sempre a metodologia Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater, para determinação de ânions.
Um dos recipientes foi utilizado para analisar, exclusivamente metais, N amoniacal, nitrito e
nitrato. Para esta amostra, foi necessário efetuar a acidificação da mesma para preservar suas
características químicas. A acidificação consistiu da adição de 2,0 ml de H2SO4. A outra amostra foi
coletada para análise de HCO3 e SO4, sem adição de ácidos.
Todas as amostras foram preservadas em recipientes hermeticamente fechados, refrigeradas
e analisadas em um prazo inferior a 24 horas da coleta.
Em laboratório, foram utilizados diferentes métodos de análise das águas:

Hidrogeologia do Estado de Goiás 175


- Destilação/titulação e espectrofotometria para a análise de: N, Cl, HCO3, SO4,
nitrito e nitrato;
- As análises de PO4 e sílica foram efetuadas por espectrofotometria UV-VIS
(ultravioleta visível);
- Emissão de Chama foi usada para o sódio e o potássio;
- Espectrofotometria de Absorção Atômica para Cu, Cr, Ba, Ni, Co, Zn, Cd, Mo, V,
Fe, Mn, Al, Ca e Mg;
Para aumento de sensibilidade e melhor leitura no equipamento de Absorção Atômica, as
amostras foram concentradas cinco vezes.

11.3. RESULTADOS
Dentre os parâmetros analisados, foram enumerados os mais importantes usualmente
utilizados para a caracterização da qualidade das águas. Os resultados das análises são apresentados
em anexo.
pH – apresenta um espectro de variação desde 4,38 até próximo de 11,09. O principal controle está
associado ao tipo de rocha reservatório. Água oriunda de rochas cristalinas, como granitos e
gnaisses apresentam pH fracamente ácido, enquanto para as águas de reservatórios, com ampla
predominância de quartzitos, o pH é em geral mais ácido (inferior a 5,5). No outro extremo estão as
águas provenientes de aqüíferos com contribuição de carbonatos (calcários, dolomitos, margas e
mármores) e sulfatos, onde o pH pode alcançar valores maiores que 8,0.
Cálcio e Magnésio – em geral, as águas subterrâneas, em Goiás, apresentam baixos teores de Ca2+
e Mg2+. Este quadro é modificado em casos onde as águas mantêm contato com rochas carbonáticas
como mármores, calcários ou arenitos com cimentos (por exemplo o Sistema Aqüífero Aquidauana
– SAAQ). Em rochas do Sistema Aqüífero Bambuí - SAB foi observada uma amostra com teor de
Ca+2 de 235 mg/L. Nos demais reservatórios profundos, como as rochas são pobres em minerais
calcíferos e magnesianos estes componentes aparecem com valores inferiores a 30 mg/L.
Sódio e Potássio – estes elementos ocorrem, em geral em baixos teores na ampla maioria dos tipos
de reservatórios, apresentando valores inferiores a 5,0 mg/L. Contudo, duas situações divergem
desta tendência, em reservatórios que contenham rochas ricas em feldspatos e situações extremas
com contribuição de minerais associados a evaporitos. Rochas típicas de embasamento (como
granitos e gnaisses) e psamitos ricos em feldspatos (como arenitos felspáticos das formações Furnas
e Aquidauana, ou metarcóseos do Grupo Araí) podem apresentar teores de sódio variando de 10
mg/L até 80 mg/L. Nos casos em que o reservatório indica a presença de evaporitos, os valores de
sódio podem superar 2.000 mg/L. Os teores de potássio seguem o padrão geral do sódio, entretanto
os valores são inferiores (máximo de 18,8 mg/L e moda inferior a 1,0 mg/L).
Ferro total – em geral, este metal ocorre em restritos teores nas águas subterrâneas do estado, com
valores geralmente inferiores a 0,5 mg/L. Apenas localmente, em casos onde o pH é baixo, a
176 Hidrogeologia do Estado de Goiás
disponibilização do ferro pode ser alta. O ferro é oriundo de cimentos de óxidos de ferro, películas
de óxidos em zonas de fraturas ou a partir da alteração de minerais ferro-magnesianos. Os valores
mais elevados (10 a 19 mg/L) foram observados em poços construídos nos sistemas aqüíferos Ponta
Grossa, Guarani e Paranoá (Subsistema R3Q3).
Alumínio – os teores são geralmente muito baixos, sendo que apenas um poço no Sistema Aqüífero
Bauru alcançou 0,85 mg/L enquanto na ampla maioria das amostras o valor é inferior a 0,1 mg/L
(equivalente ao limite de detecção do método analítico usado). Apesar da grande quantidade
presente em argilominerais, o alumínio é mais imóvel nas condições geoquímicas dos aqüíferos,
geralmente ficando na estrutura das argilas. Os valores mais elevados, raramente observados, são
atribuídos a condições locais de pH muito baixo.
Fósforo total – em virtude da pequena presença de P2O5 nas rochas reservatório, apresentam
valores baixos, inferiores ao limite de detecção do método usado (que é de 0,1 mg/L). Em um único
poço na região de Catalão observou-se uma amostra com teor de fósforo de 1,25 mg/L o que é
atribuído à presença de grande quantidade de apatita nas rochas do complexo carbonatítico de
Catalão/Ouvidor.
Cloreto – em geral, observam-se valores muito baixos (inferiores a 0,1 mg/L). Algumas amostras
apresentam teores da ordem de dezenas de mg/L e apenas as três amostras coletadas na região de
Cachoeira Dourada (Sistema Aqüífero Guarani – SAG) os valores superam 700 mg/L (devido à
possível ocorrência de evaporitos).
Total de Sólidos Dissolvidos – em geral, os valores são baixos, sendo a maior parte das amostras
inferior a 150 mg/L e apenas nos poços da região de Cachoeira Dourada os valores são superiores a
3.999 mg/L (limite máximo de detecção do aparelho).
Sulfato – os valores são inferiores ao limite de detecção (de 5,0 mg/L) em toda a população
estudada com exceção de 8 amostras relativas aos aqüíferos termais de Cachoeira Dourada, Jataí,
Aragarças e 3 amostras obtidas na região de Goiás, Montes Claros de Goiás e Doverlândia.
Silício – como se tratam de reservatórios desenvolvidos em rochas silicáticas, os resultados indicam
valores significativos na ampla maioria das amostras. Os valores são sempre inferiores a 20 mg/L,
sendo que os valores entre 10 e 20 mg/L são obtidos em reservatórios caracterizados por rochas
ricas em quartzo, como granitóides, arenitos e quartzitos.
Metais - os metais pesados incluindo o cobre, cromo, níquel, cobalto, cádmio e molibdênio ocorrem
em teores inferiores aos limites de detecção.
Nitrato – ocorrem em valores próximo de zero na ampla maioria dos poços. Apenas três poços
apresentaram valores superiores a 10 mg/L (um no Sistema Aqüífero Bauru em Cachoeira Alta, e
dois no Sistema Aqüífero Araí em Alto Paraíso de Goiás e em Colinas do Sul). Nestes casos, é
possível afirmar que se trata de contaminação oriunda de sistemas de saneamento in situ (fossas e
sumidouros) situados nas adjacências dos poços.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 177


Bicarbonato – os teores podem ser distribuídos em três conjuntos: 0 a 100, relacionadas a rochas
silicosas; 101 a 200, relacionadas a rochas com pequena concentração de carbonatos; e > 200,
relacionados a rochas carbonáticas.

Os parâmetros analisados anteriormente são importantes para medir o teor total de


mineralização das águas subterrâneas, mostrando que as águas do estado de Goiás são pouco
salinas, com aspecto (visual) bastante satisfatório e raramente apresentando problemas de sabor
(com exceção dos aqüíferos ricos em rochas carbonáticas).
A química natural da água subterrânea é um reflexo direto do tipo de rochas reservatório,
sendo os raros casos de problemas de turdidez elevada, relacionados à má construção dos poços.

11.4. FÁCIES HIDROGEOQUÍMICAS


A classificação hidrogeoquímica das águas subterrâneas do estado de Goiás foi realizada
com auxílio do Diagrama de Piper (Piper, 1944), que requer análises de um conjunto de cátions
(Na+/K+, Mg+ e Ca+) e ânions (SO4-, CO3-, Cl-). Os resultados analíticos destes íons apresentados
em mg/L devem ser transformados para miliequivalente por litro e são então plotados no diagrama.
Antes da plotagem nos diagramas, os resultados analíticos passaram por um tratamento para
a verificação da validade dos dados químicos obtidos. Assim foi aplicado o procedimento do
balanço iônico e foram consideradas, para a classificação, aquelas em que o somatório dos ânions
era aproximadamente igual ao somatório dos cátions.
Para facilitar a visualização dos pontos plotados os resultados analíticos foram divididos em
cinco grupos de águas que potencialmente representam comportamento químico homogêneo:
- Rochas cristalinas (SACNE, SACNW, SACW e SACSE),
- Sistemas Aqüíferos Bambuí (SAB), Paranoá (SAP), Araxá (SAAX) e Canastra (SAC),
- Demais Sistemas Aqüíferos fraturados (incluindo SAOC, SAAR, SASM, SAGB e SACA),
- Sistemas Aqüíferos da Bacia do Paraná,
- Amostras oriundas das nascentes;
Os respectivos diagramas de Piper são apresentados nas figuras 11.1 a 11.5.
O digrama apresentado na Figura 11.1 mostra que as águas oriundas dos meios cristalinos
com ampla dominância de granitóides e gnaisses são classificadas como do tipo mistas, isto é, sem
um tipo iônico predominante. Apenas as amostras SE (2) e NW (3) são classificadas como do tipo
bicarbonatas cálcicas e a amostra W (3) é definida como do tipo bicarbonatada potássica.
Um fator marcante é o agrupamento da composição das águas no extremo do campo do
bicarbonato, o que é função da ausência de cloreto e da baixa concentração de sulfatos. Estas rochas
não contêm minerais ricos em enxofre ou sulfetos que pudessem ser oxidados e também não contém
sais que poderiam disponibilizar cloreto. Por se tratarem de áreas localizadas no interior do
continente não há possibilidade de contribuição de cloreto a partir de aerossóis marinhos.

178 Hidrogeologia do Estado de Goiás


O segundo grupo de amostras apresenta maior diversidade composicional, uma vez que o
próprio conjunto de aqüíferos apresenta maior número de tipos rochosos com composição
mineralógica mais diversa (Figura 11.2). As amostras Catalão (1), Araí (1), Serra da Mesa (3) e
Greenstone (3) são classificadas como bicarbonatadas cálcicas. As amostras Comp. Acam. (1), (2) e
(3) são classificadas como do tipo bicarbonatadas magnesianas. As amostras Santa Fé e Serra da
Mesa (2) plotam no campo das águas bicarbonatadas sódidas/potássicas. Apenas a amostra Araí (1)
representa uma água cloretada sódica. As demais amostras Araí (2), (3), (4), Comp. Acam. (4),
Greenstone (1) e Catalão (3) representam águas mistas sem tipo químico dominante.
O terceiro grupo que envolve amostras dos sistemas aqüíferos Bambuí, Paranoá, Araxá e
Canastra (Figura 10.3) são classificadas da seguinte forma: todas as amostras do Sistema Bambuí,
as amostras Paranoá R3/Q3 (1), Paranoá R3/Q3 (9), Paranoá PPC (9), Araxá (1), (2), (3), (4), (5),
Canastra FC (1), (2) e (3) são classificadas como bicarbonatadas cálcicas. As amostras Paranoá
R3/Q3 (6), (7), Paranoá A (1) e Canastra F (3) são classificadas como bicarbonatadas
sódicas/potássicas. A amostra Paranoá A (2) plota no campo de águas bicarbonatadas magnesianas.
As demais são enquadradas como águas mistas.
No caso das amostras de águas bicarbonatadas cálcicas e magnesianas há forte correlação
com a presença de carbonatos nas rochas reservatório o que é confirmado com as amostras de águas
do Sistema Bambuí, do Subsistema PPC (do Sistema Paranoá) e do Subsistema FC (do Sistema
Canastra).
Nas amostras de águas obtidas em poços situados na Bacia do Paraná (Figura 11.4) ocorrem
águas sulfatadas sódicas representadas pelas amostras Guarani (3) e Ponta Grossa (2). As amostras
Guarani (4), Aquidauana (2), Cachoeirinha (3) e Bauru (1) e (3) são classificadas como
bicarbonatadas cálcicas. A amostra Cachoeirinha (1) representa uma água cloretada magnesiana. A
amostra Furnas (3) é do tipo bicarbonatada magnesiana. A amostra Ponta Grossa (3) é classificada
como cloretada sódica. Todas as demais são águas mistas.
A maior diversidade composicional das águas da Bacia do Paraná é coerente com a variação
litológica observada naquela região do estado. Além dos tipos petrográficos variados incluindo
quartzo arenitos, arenitos feldspáticos, arcóseos, grauvacas líticas, grauvacas feldspáticas,
carbonatos, folhelhos, basaltos e outras, há também diferentes tipos de cimentos como óxidos,
calcita, sulfato e outros.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 179


Hidrogeologia do Estado de Goiás Caracterização Hidroquímica

180
Hidrogeologia do Estado de Goiás
Figura 11.1 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas oriundas dos sistemas fraturados dos seguintes aqüíferos: SACW, SACNW, SACNE, e
SACSE.
169
Hidrogeologia do Estado de Goiás Caracterização Hidroquímica

Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 11.2 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas oriundas dos sistemas fraturados dos seguintes aqüíferos: SAOC, SAAR, SASM, SAGB e
SACA.
170

181
Hidrogeologia do Estado de Goiás Caracterização Hidroquímica

182
Hidrogeologia do Estado de Goiás
Figura 11.3 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas oriundas dos sistemas fraturados e físsuro-cársticos dos sistemas aqüíferos Bambuí,
Paranoá, Canastra e Araxá.

171
Hidrogeologia do Estado de Goiás Caracterização Hidroquímica

Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 11.4 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas oriundas dos sistemas aqüíferos relacionados à Bacia do Paraná.

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Hidrogeologia do Estado de Goiás Caracterização Hidroquímica

184
Hidrogeologia do Estado de Goiás
Figura 11.5 – Diagrama de Piper contendo as análises de amostras de águas subterrâneas obtidas de nascentes de vazão espontânea.

173
Hidrogeologia do Estado de Goiás Caracterização Hidroquímica

As águas das nascentes (figura 11.5) são classificadas da seguinte forma: amostras M.Claros e
Goiás são sulfatadas sódicas; a amostra Aragarças (1) é sulfatada cálcica; a amostra Minaçu (3) é
bicarbonatada magnesiana; a amostra Minaçu (1) é bicarbonatada sódica. As amostras Cavalcante
(1), Lagoa Santa, Mara Rosa, Caldas Novas (1) e (2) são bicarbonatadas cálcicas. As demais são
águas mistas.

11.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A classificação química natural das águas subterrâneas do estado é predominantemente do
tipo bicarbonatada cálcica, com certa contribuição de águas bicarbonatadas magnesianas e sódicas.
As águas sulfatadas e cloretadas são restritas, sendo controladas pela presença de rochas específicas
como evaporitos e rochas ricas em sulfetos.
As composições químicas observadas são coerentes com os tipos de reservatórios
predominantes nas áreas em estudo. Os granitóides, calcários, mármores, além de cimentos
carbonáticos são responsáveis pela predominância de águas bicarbonatadas de cálcio e magnésio
observadas dentre toda a população de amostras.
A presença de substâncias como o nitrato e o nitrito em alguns poços com teores
consideráveis é interpretada como contaminação, provavelmente devido à má construção dos poços,
que permite a infiltração de águas servidas lançadas em áreas adjacentes. Como não existem
minerais ricos em nitrogênio a presença destas substâncias só pode ser explicada como originada a
partir de fontes de contaminação.
A contaminação das águas é explicada pela pequena distância entre os poços em relação aos
principais focos de contaminação, representados por fossas. Além da presença de alta densidade de
sistemas de saneamento in loco, a proteção de alguns poços é precária ou até ausente. Para uma
melhor caracterização desse aspecto recomenda-se que sejam realizados testes da presença de
coliformes.
As águas subterrâneas do estado são pouco mineralizadas. Situações isoladas de maior
mineralização são atribuídas à presença de rochas específicas mais reativas e solúveis como é o
caso dos carbonatos (calcários, margas, dolomitos e mármores) e alguns cimentos, além da possível
presença de evaporitos em rochas localizadas da Formação Botucatu.
As águas termais que apresentam contato com os tipos de rochas anteriormente descritas
tendem a apresentar máxima quantidade de sais dissolvidos, como observado na região de
Cachoeira Dourada, uma vez que a maior temperatura amplia a solubilidade dos minerais.
Águas vinculadas ao embasamento que incluem os sistemas aqüíferos SACW, SACNE,
SACSW e SACNW tendem a ser mais ricas em sódio e potássio, embora na classificação geral a
maior parte das amostras seja classificada como águas mistas.

174
Hidrogeologia do Estado de Goiás 185
Hidrogeologia do Estado de Goiás Caracterização Hidroquímica

Em função dos baixos teores de metais e da baixa mineralização geral, as águas subterrâneas
são consideradas de excelente qualidade do ponto de vista químico.
Apenas na região nordeste do estado, onde os sistemas cársticos e físsuro-cársticos do Grupo
Bambuí predominam e onde a precipitação pluvial é mais baixa (em torno de 1.200 mm anuais) há
problemas de qualidade de água em função da elevada concentração de cálcio e magnésio. Nesta
região, é comum a ocorrência de águas duras com limitações para o uso potável.

175
186 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO XII
ÁGUAS TERMAIS E SULFUROSAS

12.1. INTRODUÇÃO
As águas termais representam um recurso natural de grande expressão e distribuição no
estado de Goiás. Por suas propriedades terapêuticas, ou para simples uso em lazer e diversão, estas
águas quentes atraem turistas de diversos pontos do Brasil e do mundo.
Em 1722, Bartolomeu Bueno da Silva, o filho do Anhangüera, relatou a presença de águas
quentes nos arredores do que então passou a ser conhecido como Caldas de Santa Cruz (IBGE,
1958), hoje constituindo as cidades de Caldas Novas e Rio Quente.
A região da Serra de Caldas compreende os mananciais de água quente que formam o Rio
Quente e a Lagoa de Pirapitinga, que são alimentados pelos aqüíferos termais locais (Sistema
Aqüífero Araxá – SAAX e Sistema Aqüífero Paranoá – SAP). Trata-se do maior volume de águas
termais aflorantes no Brasil e também do maior e mais conhecido complexo de águas quentes do
país.
Contudo, em Goiás existem outras importantes fontes termais distribuídas por todo o estado,
como é o caso do município de Lagoa Santa, com um grande aporte de turistas, que freqüentam as
águas termais da lagoa homônima e dos clubes que captam as águas a partir de poços tubulares
profundos.
Clubes recreativos foram também construídos em Cachoeira Dourada, com o
aproveitamento de águas termais profundas que têm, ainda, características particulares de alta
concentração de sais.
Outras fontes naturais de águas termais, ou poços tubulares profundos que explotam estas
águas, são conhecidas nos municípios de Minaçu, Formoso, Mara Rosa, Cavalcante, Colinas do Sul,
Niquelândia, Jataí e Aragarças. Outras fontes, historicamente reconhecidas, encontram-se
atualmente submersas pelas águas da represa de Serra da Mesa.
Menos freqüentes, porém com alguma representatividade no estado, as águas sulfurosas são
observadas em surgências naturais de reduzido volume em Montes Claros de Goiás e no distrito de
Águas de São João, município de Goiás.
A figura 12.1 mostra a distribuição das águas termais e sulfurosas no Estado de Goiás.

12.2. ÁGUAS TERMAIS


O Código de Águas Minerais (Decreto-Lei Nº 7.841/1945) em seu Capítulo VIII, Art. 36,
especifica:
Art. 36 – As fontes de água mineral serão classificadas, além do critério químico, pelo seguinte:
... 2º) Quanto á temperatura
I – Fontes frias, quando sua temperatura for inferior a 25°C;

Hidrogeologia do Estado de Goiás 187


II – Fontes hipotermais, quando sua temperatura estiver compreendida entre 25 e 33°C;
III – Fontes mesotermais, quando sua temperatura estiver compreendida entre 33 e 36°C;
IV – Fontes isotermais, quando sua temperatura estiver compreendida entre 36 e 38°C;
V – Fontes hipertermais, quando sua temperatura for superior a 38°C.

Figura 12.1 - Mapa de localização das águas termais e sulfurosas no estado de Goiás.

188 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Apesar da legislação vigente considerar as águas com temperatura superior a 25°C como
termais, optou-se pela caracterização e coleta de amostras apenas de fontes naturais ou de poços
tubulares que possuem temperaturas superiores a 29º C.
O aquecimento das águas subterrâneas se dá por vários fenômenos dentre os quais destacam-
se, em freqüência e volume, os processos de aquecimento associados à dinâmica magmática
(principalmente vulcanismo) e os processos de aquecimento ocasionados pelo acréscimo do
gradiente geotérmico natural da Terra.
Os últimos eventos magmáticos no Brasil e, em particular na área de estudo, ocorreram por
volta de 60 a 100 milhões de anos, no Cretáceo, ou seja, a atividade vulcânica existente no estado
de Goiás encontra-se extinta há dezenas de milhões de anos.
Portanto, as águas termais localizadas no estado apresentam processos de aquecimento
diretamente relacionados ao gradiente geotérmico natural da Terra, ou seja, ao gradual aquecimento
natural da crosta da Terra com o aumento da profundidade onde, para as regiões em estudo, a
temperatura eleva-se cerca de 1°C a cada 33 metros de profundidade (Campos et al., 2005).
Por este processo, é fácil compreender que nos aqüíferos porosos com profundidades
superiores a mil metros, por exemplo, as águas, que na superfície estivessem a temperaturas de
cerca de 25°C, poderiam alcançar temperaturas de até 55°C, em profundidade.
Contudo, para os aqüíferos fraturados, em geral, a própria pressão do maciço rochoso
promove um selamento das fraturas a profundidades que algumas vezes não ultrapassam os 200
metros. Portanto, para que o gradiente geotérmico natural de fato venha a aquecer as águas de
infiltração, é necessário que exista um conjunto de fatores favoráveis, em condições especiais, que
permita que estas fraturas permaneçam abertas a profundidades muito grandes.
Em Goiás, as fontes de águas quentes conhecidas são consideradas como exclusivamente
associadas aos processos de aquecimento pelo aumento do gradiente geotérmico da crosta terrestre,
fato este corroborado pela assinatura geoquímica das águas. Estes aqüíferos termais localizam-se
tanto em sistemas aqüíferos intergranulares da Bacia do Paraná, quanto em aqüíferos fraturados
pertencentes a diversos sistemas regionais.

12.2.1. Região de Caldas Novas/Rio Quente


O Aqüífero Termal de Caldas Novas/Rio Quente inclui as fontes naturais de águas quentes e
os poços tubulares profundos inseridos nos municípios de Caldas Novas e Rio Quente (figura 12.2).
Os aqüíferos termais desta região representam o maior complexo de águas quentes do Brasil
e um dos maiores do mundo, particularmente por se tratar de aquecimento das águas pelo
progressivo aumento do gradiente geotérmico natural da Terra.
Uma complexa rede de fraturas que atingem grandes profundidades alimenta o ciclo
contínuo de aquecimento das águas que infiltram nas áreas de recarga. Dentre estas, destaca-se a
Serra de Caldas como uma importante área de recarga, tanto por estar localizada em topografias
Hidrogeologia do Estado de Goiás 189
mais elevadas quanto por possuir uma espessa cobertura de latossolos com a função de absorção
primária das águas das chuvas, gradualmente transferidas para os aqüíferos profundos (figura 12.3).

Figura 12.2 – Vista geral da região de Caldas Novas, observar o destaque da Serra de Caldas em relação ao relevo
arrasado nos arredores. Base extraída de Google Earth (2005), em combinação com informações do
SIG-Goiás.

W E

1.000 m Rio Quente Caldas Novas

700 m

400 m

? ?
100 m ? ?
0 km 8 km 16 km
Legenda
Aqüíferos Fluxo das águas
Sistema Aqüífero Freático II Falhas, movimento relativo Águas meteóricas (chuvas)
Sistema Aqüífero Paranoá - SAPr3q3
Fraturas, fissuras e juntas Águas frias
Sistema Aqüífero Araxá - SAAx
? Contato inferido Águas quentes
Sistema Aqüífero Cristalino Sudeste - SACSE

Figura 12.3 – Modelo de fluxo regional para os aqüíferos termais da região da Serra de Caldas.

O contínuo aporte de água fria descendente empurra as águas quentes que convergem para a
superfície devido a diferenças de pressão e densidade. Assim, as águas termais dão origem às
nascentes do Rio Quente, à lagoa de Pirapitinga e ainda alimentam, localmente, os Sistemas
Aqüíferos Araxá e Paranoá.
Dados de poços tubulares profundos revelam que as águas do Sistema Aqüífero Paranoá -
SAP, localizado a profundidades maiores, são mais quentes que as do Sistema Aqüífero Araxá -

190 Hidrogeologia do Estado de Goiás


SAAX, podendo indicar que, neste último, ocorrem misturas com águas frias dos Sistemas
Aqüíferos Freáticos sobrejacentes (Tabela 12.1). As águas do SAAX possuem temperaturas
variando entre 37°C e 42°C, enquanto as águas do SAP variam entre 50°C e 59°C.
Na região, existem cerca de 140 poços tubulares profundos que explotam as águas termais
nos dois municípios. Devido à superexplotação em regime permanente das águas, particularmente
acelerada na década de 1980, observou-se o rebaixamento do nível piezométrico dos aqüíferos
termais. Com o intuito de mitigar este problema e evitar danos mais significativos aos aqüíferos
termais, o Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, na Portaria 54/97, determinou a
proibição da perfuração de novos poços tubulares profundos e, ainda, aumentou o controle e
fiscalização do uso destas águas com medidas reguladoras, tais como a instalação de hidrômetros na
saída de cada um dos poços já existentes e a medição mensal dos níveis piezométricos.
Estas medidas culminaram no controle relativo e redução do rebaixamento dos aqüíferos
termais e possibilitou a percepção dos usuários da necessidade de um uso racional e sustentável
deste importante recurso natural.

12.2.2. Região de Lagoa Santa


Nesta região estão situadas as estâncias hidrotermais do município homônimo no estado de
Goiás e do município de São João do Aporé, em Mato Grosso do Sul. O aproveitamento
hidrotermal na região se dá por fontes naturais e pela instalação de poços tubulares profundos.
A lagoa que dá nome ao município localiza-se próxima à margem esquerda do Rio Aporé,
nas dependências do Hotel Thermas Lagoa Santa. É formada por diversas surgências termais, com
temperatura entre 31°C e 32°C, que se mesclam às águas frias do Sistema Aqüífero Freático local.
No município de Lagoa Santa existem três poços tubulares profundos que explotam águas
termais, sendo dois em um clube local (Clube Balneário Kin Gin) e um no Thermas Lagoa Santa.
Todos estes poços apresentam artesianismo1 e termalismo, com vazões variando entre 200 e 300
m3/h e temperatura entre 29º e 32º C.
Em São João do Aporé, Mato Grosso do Sul, a 5 km de distância de Lagoa Santa, três poços
perfurados no local, também apresentam artesianismo e termalismo e vazões variando entre 450 e
1.000 m3/h e temperatura em torno de 30o C.
O aquecimento das águas na região está, muito provavelmente, associado aos processos de
aumento do gradiente geotérmico natural, com progressivo aumento de temperatura das águas dos
sistemas aqüíferos mais profundos (possivelmente o Sistema Aqüífero Guarani - SAG). As fontes
naturais da lagoa estão associadas a cruzamentos de fraturas e/ou falhas geológicas que permitem a
ascensão das águas termais.

1
fenômeno de elevação das águas subterrâneas por diferença de pressão, onde a água pode jorrar até a superfície,
exclusivamente, pela ação da pressão confinante, sem bombeamento

Hidrogeologia do Estado de Goiás 191


De acordo com os perfis construtivos dos poços tubulares profundos, é possível afirmar que
dois sistemas aqüíferos estão associados ao processo hidrotermal: o Sistema Aqüífero Serra Geral -
SASG e o Sistema Aqüífero Guarani – SAG (Figura 12.4). Um dos poços perfurados na região
interceptou, a 150 metros de profundidade, camadas de arenito intercaladas com basaltos,
possivelmente referente às rochas do SAG e do SASG.
Para uma melhor caracterização dos potenciais hidrotermais na região, estudos
radioquímicos e geofísicos estão em fase de planejamento e sua execução, em parceria com o
DNPM, deverá ser iniciada em fase posterior.

Rio Aporé
(Divisa GO/MS)
S N
São João
do Aporé (MS) Lagoa Santa (GO)
400 m

200 m

0m

-200 m

-400 m

0 km 5 km 10 km

Legenda
Aqüíferos Fluxo das águas
Sistema Aqüífero Bauru Falhas Águas meteóricas (chuvas)
Águas frias
Sistema Aqüífero Serra Geral
Fraturas, fissuras e juntas Águas quentes
Sistema Aqüífero Guarani
Fluxo regional

Figura 12.4 – Modelo de fluxo proposto para o aqüífero termal da região de Lagoa Santa (GO).

12.2.3. Região de Cachoeira Dourada


Compreende os municípios de Cachoeira Dourada, no lado goiano, e Cachoeira Dourada de
Minas, no estado de Minas Gerais. Em Cachoeira Dourada os poços tubulares profundos
apresentam artesianismo e termalismo e vazões variando entre 250 e 400 m3/h e temperatura em
torno de 36º C.
O aproveitamento das águas termais é feito por três clubes de lazer na cidade goiana. Uma
característica importante destas águas é sua alta concentração de sais, da qual se alega proporcionar
efeitos medicinais. Apesar da pujante riqueza natural, o local ainda carece de infra-estrutura e
apresenta uma baixa freqüência de turistas.

192 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Dados construtivos dos poços tubulares profundos permitem caracterizar as águas como
sendo oriundas do Sistema Aqüífero Guarani - SAG, interceptado a uma profundidade entre 320 e
420 metros.
Amostras de cubos de sais (halita) foram retiradas de testemunhos de sondagem, durante a
perfuração dos poços, o que corrobora com a hipótese de que a salinidade das águas seja atribuída a
um possível depósito salino de lagoas do tipo sabkhas presentes no grande deserto que deu origem à
Formação Botucatu. É importante destacar que na literatura, ainda não foram descritos depósitos do
tipo sabkhas associados à Formação Botucatu, porém fortes indícios levam a sugerir que esta é uma
hipótese provável. Outra hipótese para a origem da salinidade das águas é uma possível
contaminação por águas de aqüíferos adjacentes.

12.2.4. Região de Aragarças


A região de Aragarças inclui as fontes termais localizadas nos municípios de Aragarças
(GO) e Barra do Garças (MT). É composta por aqüíferos termais associados ao gradiente
geotérmico, sendo observadas surgências naturais e poços tubulares profundos que aproveitam as
águas termais em profundidades que podem atingir 130 metros.
Em Barra do Garças este potencial termal é bem explorado e dotado de infra-estrutura
adequada para receber, anualmente, um grande aporte de turistas. Em Aragarças, são necessários
investimentos em infra-estrutura que possam adequar o potencial hidrotermal a um aporte maior de
turistas. As temperaturas das surgências localizadas na Fazenda Monjolinho, em Aragarças, variam
entre 39,4ºC e 40,4ºC, enquanto no poço tubular profundo são registradas temperaturas de 38ºC.

12.2.5. Região de Minaçu


Nesta região foram agrupadas fontes de águas termais que tem forte relação com falhas e
fraturas profundas associadas aos processos de intrusão dos corpos graníticos locais. Localizam-se
nos municípios de Minaçu, Formoso e Cavalcante (Figura 12.5).
Observam-se apenas surgências naturais, com a inexistência de aproveitamento por poços
tubulares profundos. Sugere-se que as águas termais locais sejam oriundas de um sistema de falhas
e fraturas profundas associadas às zonas de fraqueza que condicionam as intrusões de diversos
corpos graníticos de grande porte (figura 12.6).
Estas intrusões proporcionaram um intenso fraturamento das rochas encaixantes, em geral
associadas a xistos e quartzitos do Grupo Serra da Mesa, o que facilita a circulação das águas
meteóricas por grandes profundidades ocasionando seu aquecimento, pelo gradiente geotérmico
natural da crosta.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 193


Figura 12.5 – Vista geral da região da Serra Dourada, entre os municípios de Montividiu do Norte, Formoso e Minaçu.
Observar as surgências de água termal alinhadas com uma grande fratura que atravessa a Serra Dourada.
Base extraída de Google Earth (2005) em combinação com informações do SIG-Goiás.

Parte destas fontes de águas termais são aproveitadas para o turismo nas cidades de
Formoso, com temperatura de cerca de 33°C, e Minaçu, com temperatura de 30°C.
As outras fontes termais também se localizam no município de Minaçu e apresentam
temperaturas que variam de 35°C (fonte Taboquinha) a 40°C (fonte Fazenda Água Quente). Porém,
apesar das elevadas temperaturas, estas fontes localizam-se em áreas de difícil acesso, com clima
dominantemente quente (em praticamente todo o ano) e restrita infra-estrutura, o que dificulta a
instalação de empreendimentos turísticos.

E W

800 m

600 m

400 m

200 m

0m

- 200 m ? ? ? ? ?
0 km 10 km 20 km
Legenda
Aqüíferos Fluxo das águas
Sistema Aqüífero Serra da Mesa - SASM Falhas, movimento relativo Águas meteóricas (chuvas)
Sistema Aqüífero Cristalino Sudeste - SACSE Águas frias
Fraturas, fissuras e juntas
? Substrato inferido Águas quentes

Figura 12.6 – Modelo de fluxo regional proposto para os aqüíferos termais vizinhos a Serra Dourada, na região de
Minaçu.

194 Hidrogeologia do Estado de Goiás


12.2.6. Região de Jataí
As águas quentes da região de Jataí são explotadas exclusivamente por um poço tubular
profundo nas proximidades do Lago Bonsucesso, às margens da rodovia BR-158, na saída para
Caiapônia.
O potencial hidrotermal da região já havia sido indicado por perfurações da Petrobrás, na
década de 80, onde poços com mais de 2.000 metros de profundidade interceptam rochas
sedimentares da Bacia do Paraná, que compõem aqüíferos termais de grande volume. As águas
captadas por este poço apresentam-se contaminadas por material graxoso e sulfuroso provavelmente
oriundo de carbonatos e folhelhos da Formação Irati (Sistema Aqüífero Aquidauana). Portanto,
poços que visem a explotação das águas termais devem ser revestidos nas seções em que
interceptam estas rochas.
No Clube Jataí Thermas, foi construído um poço tubular profundo com cerca de 700 metros
de profundidade e vazão de aproximadamente 300 m³/h, que atingiu águas termais do Sistema
Aqüífero Aquidauana – SAAQ, com temperatura em torno de 40°C (Figura 12.7).
As elevadas profundidades e a pressão confinante do SAAQ, ocasionaram o aquecimento
das águas pelo progressivo aumento do gradiente geotérmico.

Legenda
Aqüíferos Fluxo das águas
Sistema Aqüífero Serra Geral - SASG Falha, movimento relativo Águas meteóricas (chuvas)

Fraturas, fissuras e juntas Águas frias


Sistema Aqüífero Guarani - SAG
Águas quentes
Sistema Aqüífero Aquidauana - SAAQ Poço tubular profundo
Fluxo regional

Figura 12.7 – Modelo de fluxo proposto para a região de Jataí (GO). Perfil geológico baseado em dados do poço JA-1-
GO da Petrobrás, perfurado a cerca de 100 m do poço termal (Clube Jataí Thermas).

12.2.7. Região da Chapada dos Veadeiros


Esta região é composta pelas surgências de águas termais em estreita associação com as
rochas do Grupo Araí. São águas associadas a surgências naturais, sem a presença de

Hidrogeologia do Estado de Goiás 195


aproveitamento por poços tubulares profundos. Localizam-se nos municípios de Colinas do Sul,
Niquelândia e Cavalcante (Figura 12.8).
O aproveitamento de parte destas nascentes por empreendimentos turísticos ocorre no
município de Colinas do Sul, nas imediações da Vila de São Jorge, onde as águas atingem
temperaturas variando entre 32º C e 33º C.
A surgência destas águas está associada a um sistema de falhas/fraturas próximas a zonas de
contato entre rochas dos Grupos Paranoá e Araí.
As surgências naturais localizadas na Fazenda Caldas (Figura 12.9), no município de
Cavalcante, e em Niquelândia possuem temperaturas de 37º e 30ºC respectivamente, e são
associadas, também, a falhas/fraturas geológicas em rochas do Grupo Araí.

Figura 12.8 – Vista geral da Região da Chapada dos Veadeiros, entre os municípios de Colinas do Sul e Cavalcante.
Observam-se as surgências termais naturais Fazenda Caldas a nordeste, Morro Vermelho e Éden a sul.
Base extraída de Google Earth (2005) em combinação com informações do SIG-Goiás.

Figura 12.9 – Surgência de água termal (37°C) na Fazenda Caldas, município de Cavalcante.

196 Hidrogeologia do Estado de Goiás


12.2.8. Região de Mara Rosa
As águas quentes da região de Mara Rosa correspondem a uma surgência natural de pequena
vazão e temperatura de 30ºC. A gênese destas águas está associada a um sistema de falhas/fraturas
em rochas do Sistema Aqüífero Serra da Mesa, em contato com gnaisses associados ao Sistema
Aqüífero Cristalino Noroeste.

12.3. HIDROQUÍMICA DAS ÁGUAS TERMAIS


Foram analisadas amostras de todos os pontos de águas termais no estado de Goiás, seja de
poços tubulares profundos, seja de surgências naturais. As análises seguiram os mesmos
procedimentos descritos no capítulo 10 e mostraram que o comportamento hidroquímico das águas
quentes, em sua grande maioria, apresenta identidade hidroquímica semelhante às águas meteóricas
(Tabela 12.1).
Com exceção da região de Cachoeira Dourada, as águas quentes do estado são
desmineralizadas e corroboram com a hipótese de serem águas jovens, com circulação local, e
oriundas das águas de chuva que percolaram grandes profundidades e ascenderam à superfície com
temperaturas elevadas.
Na região de Caldas Novas, observa-se que os dois sistemas aqüíferos (SAP e SAAX) tem
características hidroquímicas distintas. O SAP mostra um maior isolamento em relação às águas
freáticas e temperaturas mais elevadas. As águas do SAAX, quando comparadas ao SAP, são mais
enriquecidas em cálcio, magnésio, bicarbonato e apresentam pH mais básico, devido à maior
concentração de minerais carbonáticos na matriz das rochas do Grupo Araxá e pela presença de
lentes de mármores impuros situados na passagem dos micaxistos para as rochas de natureza
psamo-pelítica do Grupo Paranoá.
Na região de Lagoa Santa, há uma diferença hidroquímica entre as águas termais dos dois
clubes. Os dados hidroquímicos tanto das fontes quanto do poço do Thermas Lagoa Santa
apresentaram valores muito semelhantes e se distinguem dos dados referentes ao poço do Clube Kin
Gin, onde se observa um enriquecimento em cálcio, bicarbonato e uma conseqüente elevação do pH
(8,0).
Na região de Cachoeira Dourada ocorrem as maiores concentrações de salinidade de todas
as águas quentes analisadas no estado. A condutividade elétrica destas águas foi superior ao limite
de detecção do condutivímetro portátil utilizado (3.999 ȝS). Apresentam elevados teores de
bicarbonato, sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloretos e sulfatos.
Sugere-se que a mais provável hipótese para as altas concentrações de sais seja uma
contribuição de níveis salinos em rochas da Formação Botucatu, numa possível associação com
sabkhas.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 197


Na região de Jataí, as águas termais do poço tubular profundo mostram valores elevados em
bicarbonato, sódio e cloretos, devido à composição mineralógica das rochas do Grupo Aquidauana
(composto por arenitos calcíferos impuros e imaturos, além de grauvacas e diamictitos).
Para as demais fontes termais, os dados hidroquímicos indicam pouca variação entre as
surgências e uma baixa concentração de minerais. Este fato é atribuído à ausência de magmatismo
no controle do hidrotermalismo e da natureza pouco reativa das rochas que compõem os aqüíferos
(na maioria quartzitos, metarritmitos e granitóides).

12.4. ÁGUAS SULFUROSAS


O Código de Águas Minerais (Decreto-Lei Nº 7.841/1945), em seu Capítulo VII
(Classificação Química das Águas), Art. 35, especifica:

... Art. 35 – As águas minerais serão classificadas, quanto à composição química, em: ...
VI – Sulfurosas, as que contiverem, por litro, no mínimo, 0,001 g de anionte S; ...

Ainda de acordo com o referido Código, em seu Capítulo VIII (Classificação das Fontes de
Água Mineral), Art. 36, especifica:

... Art. 36 – As fontes de água mineral serão classificadas, além do critério químico, pelo
seguinte:
1º) Quanto aos gases ...
III – Fontes Sulfurosas, as que possuírem na emergência desprendimento definido de gás
sulfídrico...

No estado de Goiás as fontes de águas sulfurosas conhecidas possuem baixa vazão e estão
associadas a aqüíferos fraturados.

12.4.1. Águas de São João


Localizada no distrito de Águas de São João, município de Goiás, esta surgência natural de
água sulfurosa, atrai visitantes que buscam tratamento para diversas enfermidades. Encontra-se
dentro de uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE Águas de São João), unidade de
conservação ambiental estadual. Apresenta pH fortemente alcalino (9,6) e teores muito elevados de
bicarbonato, sódio e sulfato.
A gênese desta pequena nascente é considerada como vinculada às rochas arqueanas que
ocorrem na região que contêm camadas e lentes de ricas em sulfetos maciços (com amplo
predomínio de pirita – sulfeto de ferro). O contato das águas meteóricas ácidas e ricas em oxigênio
com este tipo de material causa sua oxidação e conseqüente transformação dos sulfetos em sulfatos,
que são incorporados às águas subterrâneas e posteriormente trazidos à superfície através do fluxo
em direção ao exutório.

198 Hidrogeologia do Estado de Goiás


12.4.2. Montes Claros de Goiás
Surgência natural, de baixa vazão, localizada no município de Montes Claros de Goiás. Não
ocorre exploração turística ou medicinal deste recurso natural.
A análise química mostrou valores de pH extremamente básicos (11,09) e, quando
comparada às demais águas analisadas, apresenta valores elevados de potássio e sulfatos.
A gênese desta nascente é considerada como de forma similar à anterior, contudo não se
conhece em superfície a ocorrência de camadas ou lentes expressivas de sulfetos nesta região.

12.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


O estado de Goiás apresenta amplos recursos relacionados às águas termais que, de certa
forma, já são aproveitados economicamente para o turismo e lazer.
As ocorrências situadas na porção sudeste e sudoeste do estado são as mais promissoras,
pois nestas regiões a temperatura média no período de inverno (meses de maio a julho) é reduzida o
que favorece a exploração do potencial. As ocorrências situadas a norte apresentam potencial
reduzido, em função da maior temperatura média do ar e da ausência de infra-estrutura adequada.
O aquecimento das águas é atribuído ao aumento da temperatura com o progressivo aumento
da profundidade, no fenômeno denominado de grau geotérmico. Aquecimento vinculado a
magmatismo é totalmente descartado para as ocorrências conhecidas em Goiás.
Estudos de detalhe sobre estas ocorrências devem ser realizados para uma definição mais
precisa dos aspectos genéticos e do potencial econômico.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 199


200 Hidrogeologia do Estado de Goiás
Hidrogeologia do Estado de Goiás 201
202 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO XIII
GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS

13.1. INTRODUÇÃO
A gestão dos recursos hídricos subterrâneos corresponde a ações, iniciativas ou programas
que resultem na otimização do uso, ampliação da oferta ou solução de problemas relativos ao
abastecimento com uso integral ou parcial a partir de águas provenientes de aqüíferos.
As práticas de gestão objetivam o aumento da oferta da água e a solução de problemas,
como é o caso da recarga artificial dos aqüíferos, construção de barragens subterrâneas, implantação
de um maior número de poços tubulares, descontaminação de aqüíferos, dentre outras. Entretanto,
ações que visem a diminuição do consumo e a antecipação de problemas devem ser priorizadas.
A gestão deve ser integrada, envolvendo os recursos hídricos superficiais e subterrâneos e os
diversos órgãos que cuidam da gestão ambiental e territorial. Assim, o gerenciamento deve associar
os órgãos vinculados diretamente à questão hídrica, como as empresas de abastecimento e
saneamento (estadual e municipais), instituições de extensão rural, serviço geológico, órgãos e
secretarias ambientais, bem como usuários, comitês de bacias e a sociedade civil organizada.
A integração das diversas instituições pode ser alcançada a partir da centralização da
disponibilização das informações geradas em um único banco de dados, acessível ao público a
partir de uma página de internet integrada e de fácil manuseio e atualização.
Os principais problemas relacionados à exploração e desenvolvimento de sistemas de
abastecimento que utilizam águas subterrâneas no estado de Goiás são: poluição dos aqüíferos;
impermeabilização de áreas de recarga regional; desmatamento; compactação da superfície do
terreno; construção inadequada dos sistemas de captação; subdimensionamento e má conservação
das redes adutoras e dos sistemas de reservação; falta de controle dos volumes bombeados e falta de
conhecimento sobre os sistemas aqüíferos e seu potencial.

13.2. PROPOSTAS DE PRÁTICAS PARA A GESTÃO


Do ponto de vista da determinação dos critérios para o gerenciamento dos recursos hídricos
em todo o estado, não se deve enumerar apenas questões operacionais e de solução de pequenos
problemas isolados, mas levantar os pontos estruturais que possam solucionar as amplas questões,
vinculadas ao desenvolvimento de sistemas de captação e abastecimento por águas subterrâneas.
Desta forma, consideram-se metas prioritárias: a construção adequada dos sistemas de
captação, investimentos em saneamento, recuperação de áreas degradadas, práticas de recarga
artificial e educação ambiental. Outras ações como a construção de barragens subterrâneas, o
mapeamento da vulnerabilidade e risco de contaminação, o refinamento das estimativas de reservas
hídricas e a integração das instituições gestoras são consideradas como ações complementares.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 203


13.2.1. Construção Adequada dos Sistemas de Captação
A falta de critérios técnicos na construção de poços tubulares profundos e poços rasos é um
dos principais problemas do desenvolvimento de sistemas de captação de águas subterrâneas. Este
fato resulta na ampliação do risco de contaminação e em interrupções constantes do abastecimento.
As principais falhas construtivas observadas são: má locação dos poços; instalação de pré-
filtro até a superfície; posicionamento de filtros acima do nível dinâmico; falta de isolamento das
porções rasas dos poços (para evitar a entrada de águas freáticas); não instalação de tampa de
proteção sanitária; não implantação de um perímetro de proteção do poço; falta de revestimento e
falta de tamponamento adequado dos poços escavados (cisternas). A definição do perímetro de
proteção dos poços no Domínio Fraturado requer estudos detalhados para a caracterização das
fraturas que contribuem para a recarga. Os ensaios de bombeamento de 24 horas são, também,
indispensáveis para a otimização do potencial dos poços.
A locação e a construção de novos poços deverão ser realizadas dentro de diretrizes técnicas
levando-se em consideração critérios hidrogeológicos para a locação e observação dos quesitos de
gestão e desenvolvimento da região, obedecendo a uma distância mínima entre poços, evitando
desta forma interferência entre os cones de depressão. Outro aspecto a ser considerado é a distância
mínima de possíveis focos de poluição das águas subterrâneas (como fossas, postos de combustível,
aterros, criadouros de animais, entre outros).
Os novos poços devem ter seu pré-filtro dimensionado com base na granulometria da
formação geológica que representa o reservatório. Desta forma, pode-se evitar que o pré-filtro
permita aporte de sedimentos para o interior do poço, o que provoca danos em bombas, diminuição
das vazões e degradação da obra.
Propõe-se, também, a delimitação de zonas de proteção nas adjacências de cada poço, de
forma que quando se aproxime do poço, se aumente o grau de restrição aos usos do terreno. As
áreas de proteção podem ser denominadas de Faixa I, II e III.
Para definição da Faixa I deve-se adotar um círculo com raio de 25 metros a partir da boca
do poço. Esta área é definida como de proteção sanitária e deve ser isolada para evitar o acesso de
animais e pessoas não autorizadas. Em geral se utiliza um alambrado ou cerca com tela de aço.
A definição da Faixa II deve ser baseada no conhecimento da velocidade de fluxo vertical e
lateral do aqüífero, de forma que os contaminantes de origem biológica possam ser depurados pelo
solo antes de alcançarem os poços. A velocidade linear de fluxo pode ser determinada por ensaios
de infiltração. Em geral, cinqüenta dias é o tempo necessário para a depuração dos agentes
bacteriológicos presentes no meio geológico.
A Faixa III abrange áreas mais amplas e sua definição passa necessariamente pela
consideração do tipo de aqüífero (se livre ou confinado, se fraturado, intergranular ou cárstico, se

204 Hidrogeologia do Estado de Goiás


recoberto por ampla zona não saturada, etc.). Sua delimitação pode ser auxiliada pelo mapa de
vulnerabilidade à contaminação da águas subterrâneas profundas.
Estas faixas de proteção de manancial subterrâneo são criadas para restringir e até mesmo
proibir atividades econômicas nas áreas de captação, uma vez que tais atividades podem causar
danos ambientais irreparáveis ao aqüífero.
As mesmas preocupações devem ser consideradas com relação aos poços escavados
(cisternas) que explotam águas freáticas, uma vez que a maior parte do abastecimento por água
subterrânea é feita a partir deste tipo de captação. Neste sentido, as cisternas devem ser instaladas à
maior distância possível das fossas e de outras fontes potenciais de contaminação.
Outra iniciativa importante é a construção de lages de proteção na boca do poço e das
cisternas, de forma que a superfície da água mantenha o menor contato possível com a atmosfera.
Sempre que possível, o sistema de retirada de água deve ser feito com bomba elétrica submersível,
evitando-se o uso de balde e sarilho que corresponde a um grande vetor de contaminação das águas,
por contato, entre os usuários e os recipientes.
Na medida do possível os sistemas devem ser o mais automatizado possível. A automação é
fundamental para a manutenção e continuidade do abastecimento e pode ser alcançado com a
instalação de relés elétricos no cabo da bomba e na bóia do reservatório, de forma que a bomba seja
acionada sempre que o nível d’água do reservatório seja reduzido a um volume crítico.

13.2.2. Recarga Artificial de Aqüíferos


O desenvolvimento econômico do estado pode acarretar uma maior impermeabilização do
solo decorrente da pavimentação de ruas, edificações e construção de calçadas em áreas urbanas,
bem como o aumento do desmatamento e compactação decorrentes da atividade agropecuária.
Pode, ainda, reduzir a infiltração e, conseqüentemente, a recarga dos aqüíferos, promovendo um
escoamento superficial de maior volume e velocidade, acarretando inundações, processos erosivos e
assoreamento das drenagens superficiais.
A potencialidade de um aqüífero está diretamente associada ao volume de água de recarga.
Visando compensar a redução do volume de infiltração de água no solo, ocasionada pela tanto pela
impermeabilização quanto pela explotação sem controle, recomenda-se a implementação de
técnicas de aproveitamento de águas pluviais, como a instalação de sistemas de coleta de água nos
telhados das residências e das edificações públicas (que devem ser direcionadas a caixas de
infiltração) ou a implementação de terraços, curvas de nível agrícolas e baciões em áreas rurais. O
maior problema atribuído ao abastecimento por águas subterrâneas é o fato da maior parte das
regiões a serem abastecidas estarem localizadas sobre as principais áreas de recarga dos aqüíferos.
A recarga natural dos aqüíferos dá-se a partir da infiltração da água da chuva, através de sua
zona não saturada, até alcançar sua zona de transição e ocupar a porção saturada do domínio
rochoso. A expansão urbana, necessariamente, levará a pavimentação e impermeabilização de
Hidrogeologia do Estado de Goiás 205
grandes áreas (ruas, passeios, coberturas de residências, etc), o que causará uma drástica redução da
infiltração natural e aumentará o fluxo superficial total (run off), resultando na diminuição da
recarga natural dos aqüíferos.
Para minimizar este impacto antrópico sobre o sistema natural, é recomendável o
desenvolvimento da prática de recarga artificial dos aqüíferos. Esta prática consiste em qualquer
processo que induza a infiltração ou injeção de água nos aqüíferos, podendo ser por meio de caixas
ou barragens de infiltração, espalhamento de água sobre o solo, sulcos paralelos às curvas de nível,
poços de injeção, etc (Fetter, 1994).
As práticas de recarga artificial são muito utilizadas em várias regiões do mundo com
objetivos variados: Fresno, Califórnia (Salo et al., 1986), visando minimizar contaminação de
aqüíferos; Filadélfia, Paraguai (Godoy et al., 1994), com o intuito de aumentar o volume de água
para irrigação; Orange County, Califórnia (Matthews, 1991), recarregar aqüíferos com água de rio;
Condomínio Alto da Boa Vista, Distrito Federal (Cadamuro, 2002 e Cadamuro et al., 2002),
regularização de aqüíferos fraturados utilizados para abastecimento humano e Clube de Engenharia
de Goiás, Goiânia (Costa & Queiroz, 2006), visando a recuperação e perenização de nascentes.
Para Goiás, são recomendadas metodologias distintas para áreas urbanas e rurais. Nas
cidades propõe-se o sistema de caixas de recarga, preenchidas com material permeável (materiais
com elevada condutividade hidráulica) para induzir a infiltração. Estas deverão ser alimentadas por
águas de chuva coletadas das coberturas de residências durante os meses com maior índice
pluviométrico, no sentido de aproveitar o excedente hídrico das precipitações, principalmente entre
os meses de novembro a março.
O modelo de sistema de recarga artificial proposto para as áreas urbanas é similar ao
desenvolvido e testado por Cadamuro (2002), Cadamuro et al. (2002) e Cadamuro & Campos
(2005). Sua aplicação é tecnicamente viável em áreas onde os níveis d’água sejam profundos (maior
que 7 metros), sobre terrenos planos a pouco ondulados, onde os solos sejam espessos e a
condutividade hidráulica da zona não saturada seja superior a 10-6 m/s.
O sistema deve ser composto por uma calha que capte as águas de chuva sobre os telhados e
por tubo de PVC que a direcione para as caixas de infiltração. Estas devem ser construídas
preferencialmente com máxima distância do sistema de fossa-sumidouro, mantendo uma distância
mínima de três metros das edificações (casas e muros) para evitar riscos geotécnicos às fundações.
Devem ter um padrão cilíndrico com 1 metro de diâmetro e 2,5 metros de profundidade,
preenchidas por cascalho de seixos arredondados (figura 13.1).

206 Hidrogeologia do Estado de Goiás


Figura 13.1 – Representação esquemática da caixa de recarga padrão. A seção vertical ilustra um perfil generalizado,
desenvolvido sobre metarritmitos arenosos. As espessuras são arbitrárias e as setas são representações
qualitativas da variação da condutividade hidráulica vertical (Kv) ao longo do perfil. Setas maiores
indicam valores maiores e as setas menores, valores menores (compilado de Cadamuro et al., 2002).

Um furo de 04 polegadas poderá ser instalado no fundo das caixas para otimizar a infiltração
vertical. Esta estrutura pode ser perfurada com uso de trado manual e também deverá ser preenchida
com o mesmo material da caixa.
Esta proposta, se bem orientada e implantada, gera vários efeitos positivos ao meio
ambiente, entre os quais destacam-se: diminuição do volume de escoamento de águas pluviais e
aumento da disponibilidade de água subterrânea, com a conseqüente perenização de nascentes.
Durante os intervalos entre os eventos de precipitação pluviométrica, a água coletada nas
caixas poderá infiltrar através dos aqüíferos porosos rasos e induzir a recarga das águas mais
profundas dos sistemas fraturados.
Para as áreas rurais a implementação de curvas de nível e terraços em áreas de pastagens e
baciões nas adjacências de vias de acesso não pavimentadas é suficiente para minimizar os efeitos
do uso intensivo das bacias. A construção de pequenos açudes em série ao longo de drenagens
muito degradadas (em geral com ampla eliminação da mata ciliar) pode retornar a perenização de
pequenos cursos de água em cabeceiras de bacias.
Hidrogeologia do Estado de Goiás 207
13.2.3. Recuperação de Áreas Degradadas
Regiões degradadas principalmente por processos erosivos lineares (ravinas, sulcos e
voçorocas) representam, na prática, a perda de parte do aqüífero. A perda é mais acentuada na
porção não saturada do aqüífero, responsável pela proteção natural dos mananciais subterrâneos.
Assim é importante que as grandes áreas impactadas no estado sejam mapeadas e inseridas
em um amplo programa de recuperação, de forma a reverter os processos erosivos e a recuperar ou
recompor estas regiões. Este tipo de situação é muito comum ao longo das principais estradas que
foram recentemente pavimentadas.
A efetiva recuperação destas áreas marginais às estradas passa pelas seguintes etapas:
recomposição topográfica (com a suavização de taludes de caixas de empréstimos e de morrotes
residuais), importação de solos superficiais mais férteis, fertilização artificial da camada de solo
raso, implantação de estrato gramíneo e em alguns casos implantação de vegetação arbórea. Esta
prática deverá ser desenvolvida em períodos prévios ao início das chuvas de forma a se minimizar
eventuais gastos com irrigação (em geral necessária na fase inicial da revegetação).
No caso de novas obras de ampliação e pavimentação de rodovias, as exigências da
recuperação das áreas degradadas devem ser feitas já nas fases iniciais dos estudos de viabilidade,
de forma que a recuperação seja simultânea ao fim das obras e que não sejam desenvolvidos
passivos ambientais significativos.
Em Goiás, é comum a perda de produtividade de pastagens plantadas. A degradação de áreas
utilizadas em pecuária dá-se de várias formas, notadamente por compactação por pisoteio e
desenvolvimento de erosões, seguidos por perda da densidade de biomassa vegetal disponível e
deficiência no crescimento das forrageiras. As instituições ligadas à gestão agropecuária do estado
devem enfocar a prática de recuperação de pastagens como uma iniciativa útil para a ampliar a
produtividade pecuária favorecendo a gestão dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos.
Dentre as principais ações para se recuperar pastos degradados destacam-se: calagem
periódica do solo com uso de rochagem (pó de rocha), gradeamento raso do terreno no período
prévio ao início das chuvas, implantação de terraços e de curvas de nível e manutenção de espécies
arbóreas de baixa densidade para ampliar o sombreamento.

13.2.4. Investimento em Saneamento Ambiental


Entende-se por saneamento ambiental todas as ações que visem a manutenção e a
integridade dos meios físico e biótico sob a ótica da sustentabilidade e não apenas as redes de
saneamento consideradas básicas como coleta e tratamento de esgotos e as redes pluviais.
Como as ações que resultam na poluição das águas subterrâneas são decorrentes das práticas
de uso e ocupação da superfície da bacia, é de fundamental importância que sejam realizados
investimentos com o objetivo de minimizar tais impactos. Dentre os principais aspectos do

208 Hidrogeologia do Estado de Goiás


saneamento ambiental, que resultam na otimização da gestão e manutenção da qualidade das águas
subterrâneas, estão a coleta e tratamento dos efluentes, a implantação de redes pluviais e a coleta e
destinação adequada dos resíduos sólidos domésticos e industriais.
A coleta dos efluentes domésticos por rede de esgoto deverá minimizar a prática do
saneamento in situ a partir de fossas/sumidouros ou fossas negras, o que acarreta a poluição das
águas freáticas e aumenta o risco de contaminação das águas subterrâneas mais profundas.
Os investimentos na implantação das redes de coleta de esgotos deverão ser priorizados para
os casos em que os sistemas aqüíferos sejam naturalmente mais vulneráveis, em cidades mais
populosas onde o abastecimento seja parcial ou totalmente realizado a partir de água subterrânea.
A gestão dos resíduos sólidos inclui desde aspectos locacionais até a adequada operação dos
aterros onde os resíduos são acumulados. O tratamento do chorume, a implantação de poços de
monitoramento e a amostragem periódica das águas estão entre os aspectos mais relevantes.
As redes de águas pluviais são construídas para disciplinar o excedente hídrico superficial
nos períodos chuvosos. Quando bem dimensionadas, as galerias minimizam problemas erosivos e
de assoreamento de drenagens.

13.2.5. Educação Ambiental


A educação ambiental é uma poderosa ferramenta para o gerenciamento dos recursos
hídricos, tanto do ponto de vista de manutenção da qualidade dos mananciais, quanto da gestão das
demandas. As informações necessárias para a efetivação desta prática são simples e devem ser
repassadas à população de forma continuada sob vários segmentos, tanto na educação formal quanto
em programas específicos externos ao sistema escolar formal.
Do ponto de vista da educação não formal, as estações de rádio, principalmente as locais e
comunitárias têm um papel muito importante nesse setor. Preferencialmente, devem ser veiculadas
informações diretas e curtas com dizeres do tipo: “desligar a torneira enquanto escova os dentes ou
ao fazer a barba”, “não varrer as calçadas com a pressão da água da mangueira, mas utilizar
vassoura”, “preserve as nascentes” “não jogar lixo na rua”, etc.
Do ponto de vista da educação formal, os programas contendo as matérias e conteúdos no
ensino fundamental e médio devem inserir aspectos referentes ao conhecimento básico sobre as
águas subterrâneas, ciclo hidrológico, tipos de aqüíferos, condições de circulação das águas no
interior dos maciços rochosos, modos de recarga dos aqüíferos, formas de captação das águas
subterrâneas, noções de proteção dos aqüíferos e poços e bases para a gestão dos sistemas aqüíferos
e das captações de águas a partir de poços.
O treinamento e reciclagem continuada dos gestores e demais técnicos que trabalham com as
questões de recursos hídricos no âmbito do estado é outra iniciativa que deverá ampliar os
resultados na questão da educação ambiental aplicada à gestão dos aqüíferos. A troca de
experiências e a renovação do conhecimento técnico na forma de cursos de curta duração e
Hidrogeologia do Estado de Goiás 209
participação em workshops e palestras têm sido práticas que otimizam os resultados dos programas
institucionais visando à gestão dos recursos hídricos.
Por fim, deve-se confeccionar impressos contendo informações relativas ao conhecimento
aplicado à otimização do consumo das águas e sua preservação. Esse tipo de produto é de fácil
leitura e tem baixo custo de produção, podendo ser direcionado a estudantes e demais usuários.

13.2.6. Construção de Barragens Subterrâneas


As barragens subterrâneas consistem no represamento do fluxo subterrâneo no âmbito do
aluvião de rios intermitentes. Os volumes reservados, que são definidos em função das dimensões
do aluvião, permitem o desenvolvimento de irrigação de pequenas áreas e viabilizam a água
necessária para a dessedentação do gado nas áreas de atividade pecuária, em períodos de estiagem.
Este tipo de prática é viável em áreas do nordeste goiano onde a ampla maioria dos rios é
intermitente e apresenta volume de aluvião arenoso e cascalhento que possibilita a implantação
deste tipo de barragem.
Para a construção da barragem deve-se estudar a viabilidade em termos de volume de
aluvião, do regime hidrológico do rio, do gradiente fluvial, além dos aspectos econômicos.
Posteriormente deve-se definir o eixo ou eixos a serem barrados. Preferencialmente os eixos devem
ter a menor largura e maior espessura de forma que a menor área de barramento seja responsável
pela acumulação do maior volume de água. É importante que a largura considerada inclua toda a
planície de inundação do rio e não apenas o canal ativo. Na fase seguinte, deve-se abrir uma
trincheira em toda a seção transversal do rio, de forma que todo o aluvião seja retirado até o
embasamento (a limpeza do topo do embasamento é fundamental para evitar futuros vazamentos e
comprometimento da obra).
O preenchimento da trincheira para compor o septo impermeável pode ser feito com
diversos tipos de materiais como madeira, concreto, tijolo, solo argiloso compactado, com destaque
para as lonas plásticas que têm sido amplamente utilizadas para este fim. Após a complementação
do septo impermeável com sua estabilização final, deve-se utilizar materiais grossos (blocos e
calhaus), em geral que retirados da trincheira, para proceder o enrocamento do eixo da barragem.
Esta prática visa diminuir o risco de erosão nos períodos de fluxos superficiais torrenciais.
O aproveitamento da água é feito a partir da construção de poços escavados (cisternas) em
pontos estratégicos do corpo da barragem.

13.2.7. Mapeamento da Vulnerabilidade e Risco de Contaminação


A vulnerabilidade à contaminação das águas subterrâneas é a representação da exposição
natural à contaminação que leva em consideração os aspectos intrínsecos do meio aqüífero. O risco
de contaminação deve considerar além da vulnerabilidade o tipo de usos e ocupações da superfície.
O tipo de uso da bacia representa o tipo e a densidade da carga de contaminantes, o que pode ser

210 Hidrogeologia do Estado de Goiás


detalhado em uma carta de uso atual com ênfase nas atividades potencialmente poluidoras. A
vulnerabilidade à contaminação é função dos aspectos do meio físico, os quais incluem parâmetros
hidrogeológicos, geológicos, geomorfológicos e pedológicos. Vários autores propõem metodologias
para avaliação destes parâmetros, podendo-se citar os métodos: Hazard Ranking System de
Caldwell et al. (1981 in Aller et al., 1987), DRASTIC de Aller et al. (1987), Nitrate Vulnerability
Map de Palmer (1988 in Cavalcante, 1998) e GOD de Foster et al. (1987).
O método DRASTIC é utilizado para bacias com amplo conhecimento dos aspectos físicos,
incluindo os seguintes parâmetros: D = depth – profundidade média do nível freático, tem interesse
imediato no potencial de atenuação da zona vadosa e tempo de percolação do eventual
contaminante; R = recharge –trata do tipo de área de recarga, o que incrementa o potencial de
contaminação em função do aumento de velocidade de fluxo; A = aquifer – tipo de aqüífero,
relacionado ao maior ou menor grau de circulação, quanto maior a condutividade hidráulica maior o
risco potencial de contaminação; S = soil – tipo e características do solo, influi diretamente na
capacidade de retenção de contaminantes (principalmente elementos pesados); T = topography –
principalmente relacionado aos intervalos de declividades da superfície, sendo o risco a
contaminação inversamente proporcional à declividade da superfície; I = impact – impacto de
contaminantes e C = conductivity – condutividade hidráulica, atua no grau de renovabilidade das
águas na zona saturada, influindo na diluição da contaminação.
O método GOD é usado em regiões com maior grau de incerteza dos parâmetros do meio
físico e inclui: G = groundwater occurence – relacionado aos aspectos ligados ao tipo de aquífero
na zona saturada; O = overall of lithology– aspectos gerais da zona não saturada e D = depth –
profundidade média do nível freático ou superfície potenciométrica.
Como no estado de Goiás o grau de conhecimento dos vários aspectos do meio físico variam
de região para região e de parâmetro para parâmetro, a confecção do mapa de vulnerabilidade à
contaminação dos aqüíferos deverá ser feita aplicando o método DRASTIC modificado ou método
GOD. Os mapas finais em geral trazem a vulnerabilidade e risco classificados em intervalos de
criticidade que incluem índices Muito Alto, Alto, Moderado, Mediano, Baixo e Desprezível.
A caracterização das cargas poluentes é importante para a integração das cartas de risco, e é
realizada a partir do mapa de cargas de contaminantes, que inclui as variáveis de contaminantes
pontuais (representando problema potencial muito local) e os contaminantes que afetam áreas mais
amplas. Os contaminantes potenciais que devem ser considerados para os estudos em todo o estado
são: postos de combustíveis, cemitérios, poços tubulares profundos, oficinas, estações de tratamento
de esgotos, garagens de veículos pesados, lixões e aterros sanitários controlados, agricultura
intensiva, principais rodovias e ocupação urbana.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 211


13.2.8. Refinamento das Estimativas de Reservas Hídricas
Outro aspecto da gestão dos recursos hídricos subterrâneos é a definição do balanço
disponibilidade versus consumo. Este balanço determina a própria sustentabilidade do sistema, uma
vez que o bombeamento em regime permanente de uma vazão muito superior à capacidade de
recarga do aqüífero resultará no colapso do sistema de abastecimento.
Em função dos objetivos do presente trabalho, as estimativas das reservas hídricas foram
realizadas apenas de forma geral e orientativa. Assim, novos cálculos devem ser feitos para ampliar
a precisão dos resultados.
Dentre as modificações que devem ser feitas destacam-se: utilizar diferentes valores de
índice de fraturamento interconectado (Ifi) para as diferentes profundidades dos sistemas fraturados.
Por exemplo, para quarzitos do Sistema Aqüífero Paranoá, utilizar Ifi de 3% até a 50 metros, Ifi
igual a 2% entre 50 a 100 metros e Ifi de 1% para profundidades maiores que 100 metros; definir os
valores de porosidade efetiva (Șe) a partir de dados de ensaios granulométricos dos constituintes
dos sistemas aqüíferos intergranulares, de forma a se ter um valor médio mais confiável; realizar
estudos de balanço hídrico mais detalhados, considerando as descargas médias dos exutórios,
visando ampliar a confiança dos valores percentuais que efetivamente representam as entradas em
sistemas aqüíferos freáticos; proceder o monitoramento das variações dos níveis d’água em
piezômetros instalados em áreas onde não há explotação das águas subterrâneas, de forma a se
determinar a variação anual média dos níveis máximos e mínimos.

13.2.9. Implantação de Sistemas de Outorga e Cobrança


A instituição dos instrumentos de outorga e cobrança está prevista na Política Nacional de
Recursos Hídricos (Lei Nº 9.433/97). Estes instrumentos são considerados efetivos na gestão da
demanda do consumo e no controle do poder público sobre os mananciais.
A outorga corresponde à obtenção do direito de uso dos recursos hídricos pelos diversos
usuários e é concedida por órgãos específicos do poder público, objetivando disciplinar os usos e
dirimir problemas ligados aos conflitos de usuários, priorizando os usos dos recursos em função de
sua relevância.
A cobrança prevê que os recursos hídricos representem insumos da produção e assim devam
ser vistos como bens de valor econômico e, portanto, seu consumo deve ser cobrado. Apesar de
representar uma iniciativa pouco popular do ponto de vista político, o poder público estadual deve
implementar as condições para a efetiva cobrança dos volumes derivados em cada manancial.
Dois aspectos são considerados muito positivos em sistemas que apresentam os instrumentos
de outorga e cobrança em operação: proporciona o conhecimento dos volumes derivados e o
desenvolvimento de métodos e técnicas para minimizar as demandas.

212 Hidrogeologia do Estado de Goiás


No caso de haver cobrança, independente do valor unitário atribuído por metro cúbico, é
necessário que um sistema de medição de volumes seja implantado. No caso dos aqüíferos é muito
importante que se conheça as vazões dos poços, e também o montante bombeado a cada ciclo
hídrico, de forma que se possa entender a evolução dos níveis estático e dinâmico e se está ou não
havendo sobrexplotação dos sistemas.
A cobrança também resulta no investimento em tecnologias para se diminuir as demandas.
Um caso clássico de amplo consumo de água é a irrigação que consome globalmente cerca de 70%
de recursos hídricos. Os sistemas de irrigação tradicionais funcionam no sentido de simular as
chuvas naturais, com a implantação de aspersores, pivôs centrais, canhões e outros, o que resulta em
consumo demasiado de água. Nas regiões onde se paga pela água de irrigação foram desenvolvidas
novas técnicas de irrigação que necessitam de menor volume de água para a mesma produtividade.
Em outros casos as culturas de grãos foram substituídas por outros produtos agrícolas com maior
valor agregado (como frutas, por exemplo) de forma a maximizar os retornos dos investimentos.
Para o caso específico de cobrança pelo consumo de água subterrânea será necessária a
instalação de hidrômetros nas saídas dos poços. Sugere-se a edição de uma legislação que torne a
prática da instalação de hidrômetros uma norma obrigatória.

13.2.10. Integração das Instituições Gestoras


No estado, é fundamental que as diretrizes de gerenciamento das águas subterrâneas sejam
desenvolvidas em conjunto pelos diversos órgãos que participam direta ou indiretamente das
questões correlatas. Sugere-se a criação de um Grupo Técnico (GT) com a participação de
instituições públicas, usuários e organizações civis associadas aos temas comuns, tais como:
recursos hídricos, planejamento, meio ambiente, saneamento básico, usuários, entre outros.
Desta forma, os esforços deverão ser descentralizados, levando-se em consideração as
aptidões e as capacidades técnicas de cada uma das instituições envolvidas no sistema estadual de
gerenciamento dos recursos hídricos. Assim, faz-se imprescindível a formulação de metas, com
prazos estabelecidos e, conseqüentemente, a geração e a atualização constante de dados e a
divulgação pública desta informação.
Para Goiás, torna-se fundamental a elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos,
instrumento de alta relevância previsto na Lei 9.433/97, que se constitui de um amplo processo de
planejamento estratégico com a finalidade de definir diretrizes, metas e políticas públicas voltadas
para a melhoria qualitativa e quantitativa da disponibilidade dos recursos hídricos. Para tanto, este
Plano deve conter aspectos específicos sobre o gerenciamento das águas subterrâneas.

Hidrogeologia do Estado de Goiás 213


214 Hidrogeologia do Estado de Goiás
CAPÍTULO XIV
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Hidrogeologia do Estado de Goiás, trabalho ora apresentado e disponibilizado, representa


um grande avanço no conhecimento e entendimento das águas subterrâneas de Goiás. Trata-se de
um estudo inédito que, ao descrever e avaliar, na escala de 1:500.000, a natureza, as características,
o potencial e a vulnerabilidade dos recursos hídricos subterrâneos do estado, torna-se um importante
instrumento e referência para gestão destes recursos.
No Ciclo Hidrológico, as águas subterrâneas representam a fração de água que, após a
precipitação, infiltra e ocupa os espaços vazios existentes tanto nos solos quanto nas rochas.
Desempenham papel fundamental na manutenção da umidade do solo e na perenização de rios e
nascentes. Estas águas armazenam-se em espaços intergranulares ou descontinuidades planares
(fraturas e falhas) nas rochas e espaços gerados pela dissolução de minerais. Os compartimentos
geológicos que apresentam porosidade intercomunicável compõem os aqüíferos, reservatórios
subterrâneos naturais onde a água se armazena e encontra-se disponível para ser extraída.
Em Goiás, a demanda por água tem sido bem suprida pelos recursos hídricos superficiais,
contudo, observam-se princípios de conflitos pelo seu uso, particularmente nas regiões com altas
concentrações de pivôs centrais. Regiões com alta concentração populacional também apresentam
limitações quanto às atuais e futuras disponibilizações de água. Assim, as águas subterrâneas
tornam-se, certamente, uma opção complementar de uso. No entanto, no estado, estas são
distribuídas com forte heterogeneidade, sendo possível observar regiões com altíssimo potencial
hidrogeológico (sudoeste goiano) e regiões com sistemas aqüíferos com potenciais reduzidos
(norte/nordeste).
As características e particularidades das águas subterrâneas exigiram a obtenção, geração e
integração de dados geológicos, geomorfológicos, climáticos, pedológicos, entre outros, de todo o
território goiano. A partir desta integração, foram caracterizados 25 Sistemas Aqüíferos, sendo 03
correspondentes a Sistemas Aqüíferos Freáticos ou Rasos e 22 a Sistemas Aqüíferos Profundos.
Os Sistemas Aqüíferos Freáticos desenvolvem-se em solos (latossolos, neossolos
quartzarênicos, nitossolos e argissolos) e possuem fundamental importância na perenização e
regularização das vazões dos cursos hídricos superficiais além de funcionarem como filtros e
reguladores dos sistemas aqüíferos profundos e, ainda, como reservatório.
Os Sistemas Aqüíferos Profundos desenvolvem-se em rochas e podem ser caracterizados por
domínios distintos, de acordo com o tipo de porosidade onde ocorre a percolação e o
armazenamento de água. A maior parte do estado de Goiás encontra-se sobre o domínio fraturado
(65%), com predomínio de porosidade secundária (fraturas, fissuras e outras descontinuidades
planares). Contudo, observam-se, ainda, os domínios cársticos e físsuro-cársticos (14%)
intergranulares (12%) e dupla porosidade (9%).
Com a definição dos sistemas aqüíferos foi possível caracterizar sete macro-regiões
hidrogeológicas no estado de Goiás: Sudoeste, Sudeste, Oeste, Central, Nordeste, Norte e Araguaia.
Hidrogeologia do Estado de Goiás 215
- Aplicação de esforços para se conhecer, com maior exatidão, os volumes explotados e
monitorar a evolução dos níveis estáticos dos diversos sistemas aqüíferos. Recomenda-se
que os órgãos gestores estaduais introduzam a prática da concessão de outorgas acopladas à
cobrança pelo volume utilizado, pois a viabilidade da cobrança passa pela necessidade de
medição, o que resulta em um dado extremamente importante para o gerenciamento dos
recursos hídricos subterrâneos.
- Desenvolvimento de projetos e estudos específicos nos sistemas aqüíferos sob ameaça e
comprometimento de sua sustentabilidade. Como exemplo destaca-se a proposta do estudo
de viabilidade da recarga artificial para o aqüífero termal da região de Caldas Novas/Rio
Quente.
- Desenvolvimento de estudos visando o conhecimento das condições de circulação, recarga e
descarga nas regiões de Lagoa Santa e Cachoeira Dourada, esforços que devem ser
aplicados antes que o turismo e a explotação das águas termais resultem em um quadro
similar ao observado na região de Caldas Novas/Rio Quente.
- Desenvolvimento de um projeto específico para o estudo dos sistemas aqüíferos Guarani e
Serra Geral no estado de Goiás, pois, apesar da grande importância destes sistemas, pouco
conhecimento é disponibilizado.
- Desenvolvimento de estudos de disponibilidade hídrica subterrânea direcionados à região
nordeste do estado, a fim de minimizar e atender as demandas e falta d’água que afetam
diretamente a população da região.
- Desenvolvimento de estudos de disponibilidade hídrica subterrânea visando atender ao
consumo humano, a produção agrícola e pecuária, indústria e turismo.
- Apoio e incentivo às práticas de construção de pequenos açudes, implantação de curvas de
nível e terraços agrícolas, contenção da fluxo de energia das águas pluviais e limitação do
desmatamento, visando o aumento da disponibilidade de águas superficiais e a restrição do
desenvolvimento de processos erosivos e funcionando, também, para ampliar a infiltração e
favorecer a recarga natural dos aqüíferos.
- Reconhecimento, fortalecimento e integração dos órgãos estaduais que trabalham com
recursos hídricos, para ampliar e otimizar a gestão destes recursos em todo o estado de
Goiás.

216 Hidrogeologia do Estado de Goiás


qualidade da água pode ser localmente comprometida pela elevada concentração de minerais (águas
ricas principalmente em cálcio e magnésio).
A Região Norte apresenta sistemas fraturados associados a rochas cristalinas e
metassedimentares. O potencial hidrogeológico pode ser reduzido em função da ampla
predominância de solos rasos (neossolos litólicos e cambissolos) que limitam a recarga e restringem
a oferta de água superficial, ocasionando drenagens, em sua maioria, intermitentes e com baixas
vazões específicas. Nesta região destaca-se o Sistema Aqüífero Araí, em função do comportamento
reológico de seu conjunto de rochas, com condições favoráveis de manutenção de fraturas abertas
até a grandes profundidades, podendo alcançar alta produtividade de água subterrânea (com vazões
médias de 9 m³/h, podendo atingir 20 m³/h). Destacam-se, ainda, os sistemas aqüíferos Serra da
Mesa e Cristalino Noroeste (com vazões médias de 9 m³/h). Esta região apresenta um elevado
potencial de águas termais com 10 fontes naturais que podem atingir temperaturas de até 40°C.
A Região do Araguaia apresenta sedimentos rasos argilosos e comumente associados a
gleissolos, neossolos flúvicos e plintossolos, que limitam seu potencial. As condições de infiltração
e recarga são desfavoráveis e a presença de gleissolos transforma grande parte da área em zonas de
descarga, prejudicando, assim, a explotação dos aqüíferos locais. Destaca-se o Sistema Aqüífero
Araguaia com vazões médias de 6 m³/h.
Os sistemas aqüíferos de Goiás apresentam uma hidroquímica caracterizada por
predominância de águas bicarbonatadas cálcicas, com presença subordinada de águas
bicarbonatadas magnesianas e sódicas.
Destaca-se o alto potencial de Goiás para a ocorrência de águas termais. A região de Caldas
Novas e Rio Quente apresenta-se como o maior complexo de águas termais do país. Contudo,
outras importantes fontes termais estão presentes nos municípios de Lagoa Santa, Cachoeira
Dourada, Jataí, Aragarças, Niquelândia, Colinas do Sul, Cavalcante, Formoso, Minaçu e Mara
Rosa. Observam-se, ainda, fontes incipientes de águas sulfurosas no município de Monte Alegre de
Goiás e no Distrito de Águas de São João, no município de Goiás.
Do ponto de vista da determinação dos critérios para o gerenciamento dos recursos hídricos
em todo o estado, não se deve enumerar apenas questões operacionais e de solução de pequenos
problemas isolados, mas levantar os pontos estruturais que possam solucionar amplas questões.
Desta forma, consideram-se metas prioritárias: a permanente geração do conhecimento
hidrogeológico, a construção adequada dos sistemas de captação, investimentos em saneamento,
recuperação de áreas degradadas, práticas de recarga artificial e educação ambiental. Outras ações
como a construção de barragens subterrâneas, o mapeamento da vulnerabilidade e risco de
contaminação, o refinamento das estimativas de reservas hídricas e a integração das instituições
gestoras, são consideradas também importantes.

Para otimizar a oferta hídrica subterrânea do estado de Goiás, sugere-se:

Hidrogeologia do Estado de Goiás 217


- Aplicação de esforços para se conhecer, com maior exatidão, os volumes explotados e
monitorar a evolução dos níveis estáticos dos diversos sistemas aqüíferos. Recomenda-se
que os órgãos gestores estaduais introduzam a prática da concessão de outorgas acopladas à
cobrança pelo volume utilizado, pois a viabilidade da cobrança passa pela necessidade de
medição, o que resulta em um dado extremamente importante para o gerenciamento dos
recursos hídricos subterrâneos.
- Desenvolvimento de projetos e estudos específicos nos sistemas aqüíferos sob ameaça e
comprometimento de sua sustentabilidade. Como exemplo destaca-se a proposta do estudo
de viabilidade da recarga artificial para o aqüífero termal da região de Caldas Novas/Rio
Quente.
- Desenvolvimento de estudos visando o conhecimento das condições de circulação, recarga e
descarga nas regiões de Lagoa Santa e Cachoeira Dourada, esforços que devem ser
aplicados antes que o turismo e a explotação das águas termais resultem em um quadro
similar ao observado na região de Caldas Novas/Rio Quente.
- Desenvolvimento de um projeto específico para o estudo dos sistemas aqüíferos Guarani e
Serra Geral no estado de Goiás, pois, apesar da grande importância destes sistemas, pouco
conhecimento é disponibilizado.
- Desenvolvimento de estudos de disponibilidade hídrica subterrânea direcionados à região
nordeste do estado, a fim de minimizar e atender as demandas e falta d’água que afetam
diretamente a população da região.
- Desenvolvimento de estudos de disponibilidade hídrica subterrânea visando atender ao
consumo humano, a produção agrícola e pecuária, indústria e turismo.
- Apoio e incentivo às práticas de construção de pequenos açudes, implantação de curvas de
nível e terraços agrícolas, contenção da fluxo de energia das águas pluviais e limitação do
desmatamento, visando o aumento da disponibilidade de águas superficiais e a restrição do
desenvolvimento de processos erosivos e funcionando, também, para ampliar a infiltração e
favorecer a recarga natural dos aqüíferos.
- Reconhecimento, fortalecimento e integração dos órgãos estaduais que trabalham com
recursos hídricos, para ampliar e otimizar a gestão destes recursos em todo o estado de
Goiás.

218 Hidrogeologia do Estado de Goiás


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232 Hidrogeologia do Estado de Goiás
Serra Geral de Goiás e Morro do Moleque - Sistema Aqüífero Urucuia
Rio da Lapa, entrada da Gruta de Terra Ronca - Sistema Aqüífero Bambuí
Parque Estadual de Terra Ronca - São Domingos, Goiás São Domingos, Goiás.
SÉRIE GEOLOGIA E MINERAÇÃO

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Hidrogeologia

Hidrogeologia do Estado de Goiás


do Estado de Goiás

2006

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