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SUBSÍDIOS PARA O GERENCIAMENTO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

PESQUEIRA – PARGO EM BARREIRINHAS, MARANHÃO – ESTUDO DE


CASO

Zafira da Silva de Almeida1, Adriana do Nascimento Cavalcante2, Alexsandra


Câmara Paz3, Andreia de Lourdes Ribeiro Pinheiro4, Karla Bittencourt Nunes5
1
Departamento de Química e Biologia, Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, Cidade
Universitária Paulo VI, caixa postal 09, Tirirical, CEP: 65055-970, São Luis - Maranhao – Brasil,
e-mail: zafiraalmeida@hotmail.com
2
Analista Ambiental do IBAMA
3
Universidade Estadual do Maranhão-UEMA
4
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas-UEMA
5
Especialista em Educação Ambiental

RESUMO

Este estudo teve por objetivo caracterizar as os maiores índices de escolaridade


dimensões ecológica, econômica, social, pertencentes aos donos de embarcações. Os
tecnológica e manejo do Sistema de pescadores do sistema demonstraram um
Produção Pesqueira (SPP) - Pargo no extenso conhecimento acerca da espécie
município de Barreirinhas, Maranhão. Para alvo, assim como das alterações ambientais
tanto, utilizou-se a metodologia de Estudo que ocorrem nas áreas de pesca. Os
de Caso com aplicação de questionários e principais conflitos observados resultam da
entrevistas aos principais atores envolvidos deficiência na atuação de instituições
no sistema. Esse sistema pesqueiro utiliza representativas e de manejo, colônia e
embarcações de grande porte, com IBAMA, respectivamente. Além dos
autonomia de até 30 dias, espinhel vertical e conflitos diretos entre pescadores e
bicicleta pargueira para captura do recurso. lagosteiros por área de pesca. Para a
Foram identificados 12 atores sociais comercialização, o pescado é eviscerado,
(pescador, IBAMA, Colônia, Dono da choqueado e resfriado com destino ao
embarcação, capitania dos portos, mercado externo. Embora a captura de
Prefeitura, SEAP, SEMA, Governo, Lutjanus purpureus seja normalizada por
Empresa exportadora, mercados interno e uma legislação específica, em vigor a partir
externo), 7 processos (conflito, da década de 80, fortes indícios, como a
comercialização, relação de trabalho, redução do número de embarcações na
fiscalização, organização social, parcerias, captura do sistema e conflitos observados,
incentivos/subsídios) e 13 componentes que indicam a sobre exploração do recurso na
caracterizam o sistema. O nível de plataforma continental e talude maranhense.
escolaridade é baixo para pescadores, sendo

Palavras chaves: Gerenciamento, pargo, pesca.


Pesquisa em Foco, v.18, n.1, p. 23-46, 2010
ABSTRACT

ALLOWANCES TO MANAGEMENT OF FISHERY PRODUCTION SYSTEM - RED


SNAPPER IN BARREIRINHAS, MARANHÃO – STUDY CASE

The aim of this paper is to characterize level is low for fishermen and the highest
ecologic, economic, social and levels belong to vessel proprietors.
technological dimensions and management Fishermen from this system showed a large
of Fishery Production System – Red knowledge about aim-specie just as
Snapper in Barreirinhas county, Maranhão. environmental changes that occur in fishing
Study Case method was utilized, with form area. The main conflicts observed results
application and interview to mainly actors from deficiency of representative
involved in system. This fishery system institutions and management, colony and
utilizes large poise vessels with 30 days of IBAMA, respectively, beyond direct
autonomy, vertical longlines and snapper conflicts between fishermen and lobstermen
bicycle for resource capture. Were for fishing area. For commercialization,
identified 12 social actors (fisherman, fishes are gutted, shocked and cooled with
IBAMA, fishermen colony, vessel dedicated to foreign market. Although the
proprietor, port authority, city hall, SEAP, capture of Lutjanus purpureus is controlled
SEMA, Government, exporter company, for specific legislation since from eighties,
home and foreign market), 7 process high signs as reduction on number of
(conflict, commercialization, work vessels in system capture and observed
relationship, supervision, social conflicts indicate an overexploitation of
organization, partnership, resource on continental platform and
incentive/subsidies) and 13 components Maranhão’s slope.
which characterize the system. Schooling

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INTRODUÇÃO socioeconômica dos atores envolvidos no
sistema (ALMEIDA et al., 2006).
As regiões costeiras possuem grande
atrativo comercial, industrial e turístico. Por Para tanto, estabeleceu-se o Sistema
gualmente relevantes (ASMUS; de Produção Pesqueira - Pargo (SPP-Pargo),
KITZMANN, 2004). definido como um modo de combinação
complexo e coerente de dinâmicas social,
Para as comunidades que dependem tecnológico, econômico, ecológico e
da produção e comercialização de pescado manejo, tendo em vista a sustentabilidade
provenientes destas regiões como fonte do extrativismo pesqueiro.
fundamental de renda e alimentação, a
situação mostra-se mais preocupante. Essas Esse estudo de Caso é parte do
comunidades estão submetidas a situações programa de gerenciamento pesqueiro do
de pobreza, riscos sociais e ambientais que Instituto Milênio/ RECOS, no Maranhão,
tendem, em longo prazo, a comprometer o visa compor o perfil da pesca do pargo no
desempenho integral da cadeia produtiva município de Barreirinhas, conhecendo a
(SANTOS, 2005). dinâmica da tecnologia, ecologia, sócio-
economia e a percepção ambiental dos
Na região Nordeste, o pargo, pescadores sobre o universo desta pescaria,
Lutjanus purpureus Poey, 1875, representa de modo que a cultura pesqueira seja
um importante recurso para a pesca, onde a valorizada nos planos de desenvolvimento e
maior produção encontra-se no Ceará gerenciamento através da análise de todos
(379,1t), seguido pelo Maranhão (195,9t) e os componentes e suas inter-relações no
Piauí (150,2t) (ESTATPESCA, 2006). Sua sistema, a fim de colaborar com a
importância para esses estados é sustentabilidade deste sistema de produção.
determinada pelo seu grande valor
comercial no mercado nacional e
internacional (FURTADO JÚNIOR; MATERIAL E MÉTODOS
BRITO, 2002). No Maranhão, dentre os Caracterização da Área
municípios envolvidos com a pesca,
destaca-se Barreirinhas com uma produção A costa do Maranhão possui
de 107,9t ano (ESTATPESCA, 2006). extensão de 640 km, com uma plataforma
continental considerada larga (72-220 km),
Apesar de L. purpureus representar
de águas rasas (média de 100 m) sob a
um forte componente econômico, no
influência de uma grande descarga de
Maranhão ainda é uma espécie pouco
muitos rios. Essa costa é dividida em três
estudada. Não há registro sistematizado
áreas distintas: o Litoral Ocidental que se
quanto ao aspecto tecnológico,
estende desde a foz do rio Gurupi até a
caracterização da arte de pesca, formas de
margem oeste do Golfão Maranhense no
comercialização, biologia da espécie,
município de Alcântara, caracterizada por
dinâmica populacional ou situação
uma costa baixa de manguezais,
profundamente recordada, denominada de

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Reentrâncias Maranhenses; o Golfão, maranhense (Fig. 1). Esse município
situada no centro da costa onde se localiza a apresenta clima tropical megatérmico,
Ilha do Maranhão, entre a Baía de São muito quente, úmido e sub-úmido com
Marcos, a oeste, e a Baía de São José, a precipitações distribuídas em dois períodos
leste; e o Litoral Oriental, caracterizada por sazonais distintos ao longo do ano. As
ser uma região mais regular e coberta por temperaturas médias situam-se entre 26°C a
dunas de areia e é denominada Lençóis 27°C, com temperaturas máximas que
Maranhenses (PALMA, 1979). Nesse podem alcançar 38°C, enquanto a
contexto, situa-se o município de precipitação anual situa-se entre 1600 mm e
Barreirinhas, às margens do Rio Preguiças 1800 mm (STRIDE, 1992).
na microrregião da Baixada Oriental

Barreirinhas

Figura 1. Localização da área de estudo.

Estudo de caso Espírito Santo) e Região Sul (Paraná, Santa


Catarina e Rio Grande do Sul). Para tanto,
Esse trabalho faz parte do Projeto foi utilizado a metodologia padrão de
RECOS – Uso e apropriação dos Recursos estudo de caso, ferramenta de pesquisa
Costeiros (Institutos do Milênio considerada a forma mais detalhada de
CNPq/MCT) e está inserido no subprojeto investigação e caracterizada pela
Modelo Gerencial da Pesca-MGP, que tem capacidade de lidar com uma completa
como objetivo elaborar modelos de variedade de evidências – documentos,
gerenciamento dos recursos pesqueiros em artefatos, entrevistas e observações (YIN,
uma perspectiva interdisciplinar; e 2005).
aplicáveis às pescarias artesanais e As hipóteses que norteiam o estudo
industriais, nos estuários e na plataforma foram levantadas e esquematizadas em
continental em áreas representativas das mapas conceituais iniciais de atores e
regiões da costa brasileira: região Norte processos sociais, elementos que descrevem
(Pará e Maranhão); região Nordeste as relações estabelecidas entre os atores
(Pernambuco); Região Sudeste (São Paulo,

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(Fig. 2); e componentes (Fig. 3), os quais se pesca ≥7 anos com enfoque sobre a espécie
referem aos aspectos quantitativos e alvo: Lutjanus purpureus. Nas situações em
qualitativos que caracterizam o sistema que houve necessidade de confirmar a
pesqueiro em questão. A validação dessas consistência e validade de algumas
hipóteses foi feita a partir de três viagens de informações, recorreu-se à repetição de
sete dias à localidade de estudo, no período perguntas, criando-se dois tipos de
de janeiro de 2004 a setembro de 2006, com situações: sincrônicas, onde a mesma
levantamento bibliográfico constante, pergunta é feita a pessoas diferentes em
observação de campo, aplicação de tempos bastante próximos; e diacrônicas, a
questionários e entrevistas aos principais mesma pergunta repetida à mesma pessoa
atores do sistema: pescadores (n=17), numa mesma entrevista, o que determinou o
comerciantes (n=6), órgãos representativos caráter qualitativo, sendo interpretado
(n=2) que foram organizadas nos mapas minuciosamente o discurso do entrevistado.
conceituais finais. Desta forma, foi possível observar a
Para obtenção de informações sobre justaposição do modelo percebido
etnoconhecimento foram aplicados 11 (etnoconhecimento) com o modelo
questionários aos pescadores com tempo de operacional (conhecimento científico).

Figura 2. Mapa conceitual inicial de atores e processos sociais do SPP-Pargo em Barreirinhas, MA.

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Figura 3. Mapa conceitual inicial dos componentes do SPP-pargo em Barreirinhas, MA.

dispostos entre 15 a 20 anzóis, e tem ao


RESULTADOS E DISCUSSÃO
final da linha principal uma chumbada,
Caracterização da pesca estrutura de ferro utilizada para fixar a linha
A arte de pesca utilizada para a no fundo e dá maior sustentação ao espinhel
captura do pargo nesta região é o espinhel impedindo que o mesmo seja arrastado
vertical ou de fundo tracionado pela pelas correntes (SILVA, et al. 2004). A
bicicleta pargueira (Fig. 4A). bicicleta pargueira é operada manualmente
por pescadores a bordo das embarcações e,
A linha pargueira é constituída por um lançados ao mar pelo mecanismo de uma
longo fio de nylon nº 60 a 80, comprimento roldana (Fig. 4B).
entre 19m e 33m. Ao longo do fio estão

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Fig. (A)

Fig. (B)

Figura 4. (A) Anzol usado na linha pargueira para captura do pargo; (B) Bicicleta Pargueira - arte
de pesca usada para capturar o Lutjanus purpureus

Em 1988, existia uma frota de 40 motorizadas que equivalem 580 unidades


pargueiros de 10-15 m de comprimento, (8,2%), destas 18 atuam na pesca do pargo.
operando desde as Baías de São José a São
Marcos, dos quais oito eram à vela do tipo As embarcações utilizadas nesse
“bastardo” (com aproximadamente 12m). sistema são de fibra de vidro ou de
Por esse período a frota era classificada madeiras, com aproximadamente 12m de
como artesanal, pois não dispunham de comprimento, e motor com capacidades
tecnologia (STRIDE, 1992). Atualmente, a entre 60, 75, 90 e 114 HP (SANTOS, N.,
frota motorizada corresponde a 25,4% das 2005) e urna isotérmica com capacidade
embarcações cadastradas do estado, para até 6 t (fig. 5) Apresentam
destacando Barreirinhas como tendo o equipamentos como GPS, ecossonda,
segundo maior número de embarcações navegador e um sistema de comunicação de

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longo alcance VHS e SSB, proporcionando algumas embarcações de fibra de vidro,
uma autonomia de 20 a 30 dias de viagem denominadas MAR, também atuam no
em alto mar. Essa tecnologia coloca as sistema pargueiro. A tripulação varia entre 4
embarcações pargueiras na condição de a 8 pescadores por viagem, dos quais
semi-industriais (STRIDE, 1992). Segundo identifica-se, necessariamente, um mestre,
Santos, N. (2005), no município da Raposa um cozinheiro, um geleiro, um motorista.

Figura 5. Embarcações de madeira do SPP-pargo no desembarque no porto de Barreirinhas.

Os pesqueiros utilizados nesse 65m. Os locais de desembarque são: o Porto


sistema estão situados na plataforma da Vovó (São Luís), Porto Grande (próximo
continental, os chamados barrancos, e têm ao Porto do Itaqui), São José de Ribamar e
profundidade variando entre 30 a 300m, Raposa (Porto do Braga) e no Porto de
contudo há maior preferência por Barreirinhas (Fig. 6).
pesqueiros com profundidade média de

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Figura 6. Localização geográfica das áreas de pesca utilizados no SPP-pargo.

Biologia do Recurso Alvo Lutjanidae, que possui grande aceitação


comercial, é o pargo-verdadeiro (Lutjanus
A família Lutjanidae pertence à purpureus), conhecido vulgarmente, em
ordem Perciforme, considerada a maior e varias regiões do país e do mundo, como
mais diversificada de todas as ordens de pargo colorado, red snapper ou caribean
peixes. A denominação “pargo” assumiu a red snapper (SALLES, 1997) (Fig. 7).
condição de categoria, compreendendo
cinco espécies do gênero Lutjanus
exploradas no litoral brasileiro: L.
purpureus (pargo verdadeiro); L. analis
(cioba); L. chrysurus (guaiúba); L. jocu
(dentão) e L. synagris (ariacó) (RESENDE
et al. 2003). Uma das espécies da família

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Figura 7. Espécimes de pargo – Lutjanus purpureus capturados em Barreirinhas-MA.

É uma espécie demersal típica de da corrente Sul Equatorial, o que determina


fundos arenosos e rochosos, com intensa sua temperatura média de 23° C e a
migração vertical ao longo da coluna salinidade variando entre 36º/UPS e
d’água, em função de fatores abióticos, 37o/UPS (FONTELES-FILHO et al. 2000).
como temperatura e oxigênio dissolvido e O pargo possui um ciclo de vida
fatores bióticos, como alimentação e longo, apresentado longevidade de até 76
reprodução (HOLANDA; FONTELES- anos. É uma espécie ovulípara, com
FILHO, 2002). reprodução e desenvolvimento embrionário
externo (FONTELES FILHO et al. 2000).
Nas regiões Norte e Nordeste, o
Estima-se que 50% das fêmeas do pargo no
pargo ocupa um amplo espaço territorial,
Norte do Brasil completam a primeira
distribuindo-se sobre a plataforma, talude
maturidade gonadal ao atingirem o
continental e bancos oceânicos. Segundo
comprimento total de 43,2cm ou 43,7cm e
Salles (1997), a população do pargo na
que estes possuem desova contínua,
plataforma continental é constituída por
reproduzindo-se ao longo do ano, com picos
dois estoques, com territórios relativamente
de desova no segundo e quarto trimestres
segregados, mas provavelmente sem
(SOUZA et al. 2003).
isolamento reprodutivo. Por encontrar seu
O pargo é uma espécie carnívora,
habitat nesses dois biótopos, tem uma
ocupando o quarto nível trófico da cadeia
contribuição importante como produtor de
alimentar, constituindo-se em predador de
biomassa. Por esse motivo foi um recurso
segunda ordem. Sua alimentação consiste
muito representativo desde o início das
em crustáceos, moluscos, poliquetos dentre
pescarias em 1962 (HOLANDA;
outros, porém os peixes compõem
FONTELES-FILHO, 2002).
preferencialmente sua dieta (SALLES,
A área de distribuição do pargo, que
1997). Os pargos adultos possuem uma
compreende a plataforma continental dos
dieta homogênea, composta de peixes,
estados do Ceará, Piauí e Maranhão, é
crustáceos, moluscos pelágicos e tunicados,
influenciada pelo deságüe das bacias
enquanto que os juvenis, devido ao fato de
hidrográficas do Nordeste e pelo ramo norte
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estarem próximos a substratos, comem nos meses de maio/agosto (FONTELES-
foraminíferos, espongiários, briozoários FILHO et al. 2000).
incrustados e anelídeos (FURTADO-
OGAWA; MENEZES, 1972). Etnoconhecimento
Segundo Holanda e Fonteles-Filho Dos pescadores entrevistados, 80%
(2002), o processo migratório do pargo tem afirmam que pesca incidental é frequente
relação com a integração do estoque jovem nas pescarias de pargo sendo comum a
ao adulto, por dispersão vertical. Essa captura espécies como: cangulo (Balistes
dispersão ocorre entre os bancos oceânicos vetula), sirigado (Mycteraperca bonaci),
e a plataforma continental. Os bancos garoupa (Ephinephelus morio), guaiúba
oceânicos são áreas de reprodução, onde (Lutjanus chrysurus), tubarão lixa
após a desova, as larvas produzidas são (Ginglymostoma cirratum) jaguara
recrutadas para áreas de criação, localizadas (Galeocerdo cuvier), cação rabo-seco
nas zonas costeiras do Golfão Amazônico, (Rhizoprionodon porosus), carapitanga
através da Corrente Sul Equatorial e outras (Lutjanus apodus), dourado (Coryphaena
correntes que se deslocam mais próximas e hippurus), raia bicuda (Dasyatis Guttata),
paralelas à linha de costa. Os indivíduos, ao cação de escama (Caranx hippo), mero
atingirem a fase juvenil seriam recrutados (Epinephelus itajara), dentre outros.
para o estoque adulto na plataforma Segundo Holanda e Fonteles-Filho (2002),
continental onde se encontram as áreas de na fauna acompanhante nas pescarias de
alimentação (FONTELES-FILHO et al. pargo identifica-se pelo menos 44 espécies.
2000). Vale ressaltar que toda essa fauna
acompanhante tem grande valor de
Há evidências de dois circuitos mercado, não ocorrendo descarte.
migratórios o que seria uma estratégia
reprodutiva da espécie (SOUZA et al. Quanto à alimentação, os pescadores
2003). Essa migração acabaria por gerar demonstraram ter um extenso conhecimento
estoques. No primeiro circuito, o pargo, ao semelhante às informações da literatura
atingir a maturidade gonadal migraria para científica. Observou-se uma grande
os bancos oceânicos, para desovar e em variedade de itens alimentares citados para
seguida retornaria à zona de alimentação na a espécie, dos quais os peixes representam o
plataforma continental norte e nordeste, o item mais citado (Fig. 8). Essa variedade
que aconteceria nos meses de março a abril alimentar foi observada por Ivo e Hanson
e outubro (SOUZA et al. 2003). No segundo (1982) que relacionam a alta diversidade
circuito os estoques migrariam para os dos trópicos.
bancos oceânicos no nordeste. Além desse
deslocamento, o pargo também realiza
deslocamento de caráter estacional,
habitando regiões mais profundas nos meses
de setembro/ abril e subindo à superfície

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16% 10%
10% folhas
minhocas
moluscos
peixes
26% crustáceos
38%

Figura 8. Frequência de citação dos itens alimentares que compõem a alimentação do pargo
segundo conhecimento dos pescadores.

A descrição do habitat do pargo feita desova no segundo e quarto trimestre


pelos pescadores é diferenciada de acordo durante o período de estudo.
com a região e a posição na coluna d’água
em que os peixes são capturados. Assim, na Os pescadores estabelecem uma
distribuição horizontal os pescadores citam relação de parentesco entre o pargo e as
as regiões como barrancos, pedregulhos e seguintes espécies: ariacó (Lutjanus
cascalhos. Segundo Stride (1992), esta synagris), carapitanga (Lutjanus apodus),
informação é referência aos fundos duros de cioba (Lutjanus analis), guaiúba (Lutjanus
laje presentes a partir do limite da chrysurus) e mariquita (Etelis oculatus).
plataforma continental. Holanda e Fonteles- Segundo a identificação taxonômica de
Filho (2002) descrevem estas regiões como Menezes e Figueiredo (1985), esses peixes
os bancos oceânicos. Quando querem se pertencem à família Lutjanidae e a ordem
referir à distribuição vertical do pargo dos Peciformes, sendo, ainda, agrupados em
utilizam, por exemplo, a expressão “peixe uma mesma categoria de pesca (RESENDE
de fundo” em referência a sua condição de et al. 2003), o que explica a semelhança
espécie demersal e que mantém estreita entre esses peixes apontada pelos
relação com o substrato (HOLANDA; pescadores.
FONTELES-FILHO, 2002). Quanto às sugestões de manejo para
Em relação à reprodução, 90% dos a pescaria do pargo, 80% dos pescadores
pescadores citam que o pargo realiza desova destacam a não captura de peixes pequenos
em diferentes períodos do ano, não sendo e a paralisação da pesca no período de
confirmada um período exato, enquanto que desova. Tais sugestões indicam um
10% destes responderam que são reconhecimento pelos pescadores das regras
encontrados pargos ovados no inverno, o que determinam quando e como um recurso
que corresponde ao período chuvoso, entre pode ser explorado, medidas que
os meses de dezembro e junho. Souza et al. contribuem para a conservação do recurso.
(2003) afirmam que o pargo é um peixe
com desova total e contínua com picos de

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Em relação ao estoque do recurso na No decorrer da pesquisa foi possível
região, 90% acham que diminuiu analisar dados da biologia de L. purpureus,
assustadoramente, e atribuem tal fato à comportamento, evolução da pesca e,
pesca predatória da lagosta que utiliza rede sobretudo as inter-relações do componente
caçoeira. Estudos científicos relatam que a humano nessa intrincada teia de processos.
partir de 1979 a pescaria de pargo declinou, Pôde-se observar a pescaria em plena
e em 1982 já mostrava indícios de produtividade, com toda a frota pargueira
sobrepesca com diminuição do do Maranhão em atividade e dois anos
comprimento total médio e participação nas depois se constatou um quadro diferenciado
capturas da porção não desovante dos com uma situação de declínio do SPP-
estoques explorados pela pesca (IVO; Pargo. Segundo os pescadores, no período
HANSON, 1982; XIMENIS; FONTELES- do ano, que corresponde de junho a
FILHO, 1988). No município de novembro, sempre há uma queda na
Barreirinhas, a diminuição da produtividade produção, só melhorando de dezembro em
das pescarias de pargo tem motivado a diante, entretanto, nos anos estudados a
diminuição dos insumos empregados e situação apresentava-se drástica, com mais
deslocando-os para outras pescarias que de 80% da frota parada.
exigem um menor custo operacional, como
é o caso da pesca de garoupa, camarão e Acredita-se que o declínio do
tubarão. Contudo, no caso da pesca de sistema esteja relacionado à sobrexplotação
camarão com redes de arrasto os prejuízos dos estoques de pargo. Talvez tal declínio
ambientais podem ser ainda maiores. se dê em função da falta de conhecimento
em relação aos impactos que a exploração
Quanto às perspectivas para a pesca exagerada poderia trazer para o sistema.
de pargo na região, 50% dos pescadores Atualmente, o tamanho e a quantidade do
entrevistados afirmam que se o nível de produto capturado não suprem o
exploração continuar em breve o recurso se investimento dos armadores na pesca do
esgotará, enquanto 25% acreditam que recurso, fazendo com que estes se voltem
ainda possa melhorar. Os demais (25%) para outros pescados.
relacionam perspectivas das pesca com a
quebra da dependência com o 2° Sabe-se que o gerenciamento e
atravessador. Para 75% dos comerciantes, a manejo adequados, que garantam a
melhoria das condições de vida está sustentabilidade do recurso com boa
relacionada ao aumento de oferta de produtividade é um grande desafio, mas
subsídios pelo governo com viabilização de para se obter êxito na administração dos
linhas de crédito, os demais (25%) acham recursos pesqueiro é necessário se
que deveriam ser criadas cooperativas, com considerar a visão participativa com forte
tabelamento do preço do produto pescado. integração cultural da comunidade na
formulação de políticas de manejo que
realmente garantam a sustentabilidade dos
recursos naturais.

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Organização social e aspectos sócio- Os pescadores têm em média 40,7
econômicos anos. Dos entrevistados, 41,1% são
analfabetos (Fig.9), sendo os maiores
Um número de 2.425 pescadores é índices de escolaridade pertencentes aos
cadastrado na colônia de pescadores do donos de embarcações
município de Barreirinhas, sendo que dos
entrevistados 57,14% são cadastrados. O início da atividade pesqueira
Apesar do grande número de pescadores ocorre entre 10 e 15 anos, com média de
cadastrados, a inadimplência é muito grande 20,3 anos de experiência na pesca. A média
com baixa arrecadação, o que impossibilita de filhos por família de pescador é de 4,2
filhos, e para 41,6% a atividade pesqueira é
a melhoria da qualidade dos serviços tida como principal atividade econômica. A
prestados causando grande renda média obtida por pescaria foi de R$
descontentamento para aqueles que pagam, 400, 00, sendo que cada pescaria dura em
que por sua vez fragmenta e inviabiliza a média 15 dias.
mobilização social da classe.

6% 6%
6%
40%

24%
18%18%
Analfabeto Fundamental incompleto
Fundamental completo Médio incompleto
Médio completo Superior incompleto

Figura 9. Escolaridade dos pescadores do SPP-Pargo no município de Barreirinhas.

outros estados, principalmente do Ceará.


Para os pescadores, a presença de
Conflitos Sociais e Relação de lagosteiros é apontada como principal
Trabalho conflito, devido à utilização da rede
Os principais conflitos observados caçoeira, apetrecho muito predatório, que
no SPP-pargo resultam da deficiência na prejudica o habitat e a produtividade do
atuação de instituições representativas, recurso, além de gerar grandes prejuízos
como é o caso da colônia dos pescadores, econômicos quando os anzóis ficam presos
governo do estado, onde 90% dos às redes dos lagosteiros.
pescadores o consideram “ausente” no
Por outro lado, segundo relatos dos
município. O IBAMA é deficiente na
pescadores de Barreirinhas, a pesca no
fiscalização no período de reprodução e no
litoral paraense, área de grande atuação da
controle das embarcações lagosteiras dos
pesca de pargo, é regida por um sistema de
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controle e limitação de espaço no mar e proprietário da embarcação, já que estes não
locais de pesca, onde não é permitida a têm como transportar a produção até os
atuação de frotas provenientes de outros atravessadores. Nessa relação é comum o
estados, o que acarreta frequentemente em pagamento de vales antecipados de cada
situações conflituosas entre os pescadores viagem aos pescadores. Segundo Isaac-
paraenses e maranhenses. Em contrapartida, Nahum (2006) essa relação de dependência
não foi observado conflitos ou qualquer dos pescadores para com os atravessadores,
incomodo quando pescadores de outros que financiam as viagens de pesca em troca
estados atuam no litoral maranhense, onde de fidelidade na venda dos produtos, e a
predomina o livre acesso aos locais de falta de meios de transporte próprios para
pesca. A Prefeitura também é considerada comercializarem diretamente os produtos da
pouco atuante pelos pescadores. pesca e tornarem mais eficiente o fluxo da
comercialização, podem ser considerados
A existência de conflitos dentro de como os principais entraves à acumulação
um sistema de produção pode ser de capital. A quebra dessa dependência
compreendida como uma expressão da poderia encurtar a cadeia produtiva e
exaustão dos recursos naturais. A resolução aumentar o lucro dos pescadores
de conflitos e a celebração de acordos (GARCEZ; SANCHEZ-BOTERO, 2005).
dentro de um sistema é na conjuntura de
governos democraticamente validados, um Outro fator que tem favorecido a
dos meios pelos quais o modelo poderá se dependência do atravessador é a preferência
viabilizar, sem necessariamente lidar de local por outros peixes, como serra
forma adequada com as questões e os (Scomberomorus brasiliensis) e pescada-
interesses em jogo. Estudar conflitos é uma amarela (Cynoscion acoupa), dificultando a
forma de dar visibilidade no debate sobre transação comercial do pargo no mercado
acesso aos recursos naturais e aos distintos interno e favorecendo a entrada de empresas
atores sociais (EL-DEIR, 1999). de outras regiões para atuar na
comercialização para o mercado externo
A relação de trabalho dos pescadores desse pescado. Isso representa uma
com os donos dos meios de produção é a desvantagem para o Estado e
divisão de partes. Nessa relação depois de principalmente para o município de
descontado os custos operacionais, o patrão Barreirinhas, que arrecada com a
fica com 50% da renda obtida na pesca, exploração do recurso, pois estabelece a
sendo os outros 50% divididos entre os total dependência entre o pescador e o
pescadores: Mestre, geleiro, cozinheiro, comerciante que tem mais acesso ao
choqueador/eviscerador, motorista e mercado externo.
pescador, a cada tonelada pescada é
destinado uma renda de R$ 0, 90, R$0, 18,
R$0, 12, R$0,15 e R$0, 60,
Teia produtiva
respectivamente. Em geral, a produção por
trabalho de cada pescador é vendida para o Uma complexa cadeia de
intermediações do pescado tem sido
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observada em diversas comunidades do Ao ser pescado, o peixe é eviscerado
litoral maranhense que têm a pesca como na embarcação, aplicado choque térmico e
principal atividade econômica (ARAÚJO, armazenado em urnas térmicas. A produção
2005; SILVA, 2005; TORRES, 2005; é transportada pelos donos das embarcações
FIALHO, 2002). A comercialização é o elo em caminhões frigoríficos com destino à
mais importante para viabilização da empresa compradora, sendo nesse caso o
atividade pesqueira. Santana (1998) a atravessador. Este agente financiador
descreve como uma etapa que necessita ser fornece a isca (sardinha) para a captura, que
realizada de imediato, devido à custa em média R$ 4,00/kg, determina o
especificidade inerente a uma atividade preço para os donos das embarcações e
geradora de produtos altamente perecíveis e compra a maior parte da produção para
com grande oscilação de preços, falta de distribuir no mercado nacional e
controle da oferta em resposta a uma internacional. São exigidos para a
variação no comportamento da demanda, exportação somente os pescados que
falta de infra-estrutura de armazenamento, apresentem peso acima de 500 g, que são
dificuldades de escoamento da produção, vendidos inteiros ou filé a R$ 8,00/Kg. O
dentre outros. O pescado é um produto peixe que não atende a estas exigências é
perecível, e para manter sua qualidade é comercializado no mercado interno (feiras
necessária uma infra-estrutura adequada no locais). Ao final da cadeia observa-se uma
armazenamento como a utilização de gelo, disparidade entre o preço de primeira
urnas isotérmicas e transportes adequados, comercialização, atribuído pelo pescador, e
além de mão-de-obra qualificada. Dessa o preço de mercado, atribuído ao
forma, essa estrutura favorece uma extensa consumidor, de 900% (Tab. 1).
cadeia de intermediações que por fim
encarecem os preços no mercado.

Tabela 1. Média de preços entre diferentes intermediários de produção e comercialização do SPP-


pargo no município de Barreirinhas

Intermediários Preço (R$) Beneficiamento empregado

Preço de 1ª comercialização 0,80 -

Preço para o atravessador 2,75 Descamação, evisceração, choque e conservação


em gelo;

Preço para o consumidor 8,00 Corte, resfriamento e congelamento.

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Legislação e Políticas Públicas maioria na área do Parque Estadual Parcel
Manuel Luís, uma Área de Proteção
A pesca de pargo teve início nos Ambiental criada em 1991 pelo decreto nº
anos 60 na costa do Maranhão, Piauí e 902, sob responsabilidade do governo do
Ceará, além dos bancos oceânicos do Ceará, estado. A fiscalização pelo IBAMA,
Caiçaras e Atol das Rocas (FONTELLES- segundos os pescadores do SPP-Pargo, não
FILHO, 1969). Em 1961 iniciou ocorre por ser considerado inferior quanto
oficialmente no Brasil a exploração ao número de barcos em relação aos demais
comercial dos estoques da família dos sistemas.
Lutjanidae, explorada até o declínio de suas
capturas no início dos anos 80 (IVO; A principal política pública destinada
HANSON, 1982; XIMENES; aos pescadores do estado é o Programa
FONTELLES-FILHO, 1988). Desde então, Nacional de Fortalecimento da Agricultura
a produção anual de Lutjanus purpureus Familiar – PRONAF. Trata-se de uma
vem caindo consideravelmente, política pública do Governo federal voltada
constituindo uma ameaça que compromete aos agricultores familiares, pescadores
o princípio de sustentabilidade (DIAS artesanais e aqüicultores bem como suas
NETO, 2002). Para minimizar tais impactos organizações, criado com o objetivo inicial
foram criadas medidas legais para a de promover o desenvolvimento sustentável
regulamentação da captura do pargo desde o do meio rural, por intermédio de ações
início da década de 80 (Tab. 2). destinadas a implementar o aumento da
capacidade produtiva, a geração de
De forma geral, o manejo da empregos e a elevação da renda, visando a
atividade pesqueira no Brasil segue o melhoria da qualidade de vida e o exercício
modelo descentralizado, no qual as da cidadania dos agricultores familiares.
instituições governamentais são Criada através do decreto nº 3.991, de 30 de
responsáveis pela implementação de toda e outubro de 2001, a atividade extrativista dos
qualquer medida de ordenamento. Para o pescadores só foi incluída no programa em
SPP-Pargo, esse quadro é bem perceptível a 1997 (COSTA, 2007).
partir dos conflitos existentes entre os
órgãos de manejo e os atores do sistema. Para o estado, entre 2004 e 2006,
foram elaborados 5.264 projetos do
No estado, a regulamentação e PRONAF pesca pela Secretaria de
fiscalização das embarcações e habilitações Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento
de pesca são feitas pela Capitania dos Rural (SEAGRO) que beneficiaram 4.065
Portos, enquanto que a fiscalização dos pescadores em todo o estado que equivaleu
aparelhos de pesca, referente ao tamanho da a um montante de R$ 4.970.000,00
malha e do anzol é feita pela Secretária financiados pelos Bancos do Brasil, BASA e
Estadual do Meio Ambiente (SEMA), já Banco do Nordeste.
que as pescarias de pargo ocorrem em sua

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Tabela 2. Histórico da Legislação Pesqueira destinada à captura do pargo.

Portarias Data Restrição

Portaria nº 28 27/10/1981 Suspende a emissão de Permissão Prévia de Construção para embarcações destinadas à captura de pargo.

Portaria nº10 09/04/1984 Limita em 40 centímetros o tamanho para a captura do Pargo

Portaria nº 172 26/12/2002 Permitir, na área compreendida entre o limite norte do estado do Amapá até a divisa dos Estados de Alagoas e Sergipe (Foz do Rio São
Francisco), a captura de pargo (Lutjanus purpureus).

Instrução Normativa Data Restrição

IN nº 13 13/02/2004 Permiti a comercialização internacional de indivíduos de pargo (Lutjanus purpureus) com CT ≤ 41 cm, desde que oriundos de capturas
efetuadas de acordo com o estabelecido na Portaria IBAMA nº 172, de 26 de dezembro de 2002.

IN nº 04 11/03/2004 Limita a frota pesqueira que opera na captura de pargo (Lutjanus purpureus), na área compreendida entre o limite Norte do Amapá até a divisa
dos Estados de Alagoas e Sergipe (Foz do Rio São Francisco).

IN nº 27 28/04/2004 Proíbe a captura, desembarque, transporte e comercialização do pargo (Lutjanus purpureus) cujo comprimento total seja inferior a 41cm.

IN nº 07 15/07/2004 Estabelece os métodos e petrechos de pesca permitidos para a captura do pargo (Lutjanus purpureus), o tamanho mínimo de captura e o período
de defeso para a pesca da espécie, na área compreendida entre o limite Norte do Amapá até a divisa dos Estados de Alagoas e Sergipe (Foz do
Rio São Francisco).

IN nº 01 28/02/2005 Estabelece critérios e procedimentos para a renovação ou concessão da permissão de pesca e a efetivação do registro de embarcação pesqueira
que opera na captura do pargo (Lutjanus purpureus), na área compreendida entre o limite Norte do Amapá até a divisa dos Estados de Alagoas
e Sergipe (Foz do Rio São Francisco).

IN nº 06 12/04/2005 Estabelece o tamanho mínimo de captura do pargo (Lutjanus purpureus), na área compreendida entre o limite Norte do Amapá até a divisa dos
Estados de Alagoas e Sergipe (Foz do Rio São Francisco), por um período de sessenta dias.

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f
IN nº 16 20/06/2005 Prorrogar a incidência da Instrução Normativa nº 6, de 12 de abril de 2005, publicada no Diário Oficial da União de 13 de abril de 2005, Secção
1, página 108, por um período de sessenta dias, a contar de 14 de junho de 2005

IN nº 28 09/09/2005 Estabelece o tamanho mínimo de captura do pargo (Lutjanus purpureus), na área compreendida entre o limite Norte do Amapá até a divisa dos
Estados de Alagoas e Sergipe (Foz do Rio São Francisco).
IN n º 19 19/10/2005 Divulgar a "Relação dos Processos Deferidos" para fins de concessão de Permissão de Pesca para a captura de pargo (Lutjanus purpureus)
através dos métodos de espinhel ou armadilha, no litoral Norte/Nordeste, conforme os anexos desta Instrução Normativa.
IN nº 80 28/12/2005 Permiti, até 30 de junho de 2006, a captura de pargo (Lutjanus purpureus), de comprimento total igual ou superior a trinta e seis centímetros, na
área compreendida entre o limite norte do Estado do Amapá até a divisa dos Estados de Alagoas e Sergipe (Foz do Rio São Francisco).

IN nº 01 09/01/2006 Prorroga até 10 de fevereiro de 2006, o prazo para a complementação da documentação de que trata o art. 2º da Instrução Normativa SEAP nº
19, de 19 de outubro de 2005, referente à concessão de permissão de pesca para a captura de pargo (Lutjanus purpureus).

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f
Mapa conceitual final relação a cargo do atravessador, nesse
caso, empresas de beneficiamento. Esse
No mapa conceitual inicial do fato pode está relacionado à preferência
SPP-Pargo foram identificados 8 atores e do mercado consumidor local por outras
6 processos sociais. Após a validação, foi categorias de pescado, o que exigiria ao
observada a existência de mais quatro dono da embarcação, além dos insumos e
atores no sistema em gestão: o Governo, suprimento iniciais, o transporte do
SEAP, SEMA, e Empresa; e 7 processos, pescado ao mercado externo. O processo
a citar: a presença de “parcerias” entre “conflito” foi observado com mais
instituições de manejo (SEMA) e a freqüência, norteando os processos entre
Capitania do Portos. os pescadores, e entre estes e órgãos
A dinâmica dos processos mostra representativos. A nova configuração da
que o dono das embarcações não tem dinâmica entre atores e processos foi
autonomia para vender o pescado descrita no mapa conceitual final (Fig.
diretamente ao consumidor, ficando essa 10).

Figura 10. Mapa conceitual final de atores e processos do SPP- Pargo no município de
Barreirinhas - MA.

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Propostas para gestão do SPP- Pargo decisões que promovam a sustentabilidade
do recurso;
No município de Barreirinhas, não
 Realizar estudos sobre a
se observou programa de incentivos à
biologia da espécie no litoral maranhense
pesca, ou qualquer preocupação frente à
a fim de propor medidas que melhor
exploração dos recursos pesqueiros pelas
atendam as necessidades da espécie na
entidades governamentais competentes.
costa;
Para que este fato não seja considerado
 Realizar programas de
como entrave para a efetiva gestão dos
educação ambiental visando
recursos pesqueiros, compreende-se a
sensibilização dos atores na manutenção
necessidade de estabelecer medidas de
do recurso no ambiente;
gerenciamento do setor no município.
 Investir em infra-estrutura
Pois, como a exploração se baseia na
adequada nos portos de desembarque
disponibilidade do estoque e na sua
visando melhorias dos sistemas de
capacidade de recuperação, qualquer
produção, beneficiamento e
sobreexplotação pode comprometer toda a
comercialização do pescado dentro do
atividade econômica e os atores nela
estado;
envolvidos neste processo.
 Estimular a implantação de
Atualmente, o grande problema cooperativas de pesca, associações e
enfrentado pelos atores do SPP-Pargo, é viabilizar a garantia dos direitos
que as decisões nem sempre são tomadas trabalhistas pelo pescador;
pelos mesmos, ocorrendo freqüentes  Tornar eficaz as operações
arranjos institucionais que combinam em de crédito para pescadores artesanais, o
diferentes níveis de decisões, muitas vezes PRONAF Pesca;
conflituosos entre esses atores e não  Desenvolver pesquisas
atendendo às suas necessidades reais. Por sociais, ambientais e sobre a situação da
esse motivo, entende-se que é importante pesca artesanal do pargo, para criar um
considerar nesse processo, a efetiva banco de dados com informações
participação de todos os atores, estruturadas e estudos científicos sobre
principalmente dos pescadores, nas impactos da atividade que possam
decisões sobre a gestão do SPP-Pargo. comprometer os estoques;
 Implantar um sistema de
Dessa forma sugerimos algumas
ordenamento da pesca do pargo, visando
propostas para implementação de medidas
obter informações sobre controle de
gestoras:
desembarque, amostragem biológica, e
 Estabelecimento de um administração da pesca.
modelo de co-gestão baseado no
conhecimento local sobre a biologia e AGRADECIMENTOS
ecologia do recurso;
Agradecemos a todos os
 Instituir o desenvolvimento
pescadores do município de Barreirinhas
do setor com amplo envolvimento das pelo acesso às informações contidas neste
comunidades, órgãos governamentais e trabalho e ao Instituto RECOS/Milênio
não-governamentais nas tomadas de

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