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O Disléxico e a Inclusão Escolar

Autora: Tânia Maria de Campos Freitas

Refletir sobre a questão se o disléxico deve ser inserido em uma escola dita comum e regular
(caracterizada pela diferença), ou em uma especial, remete-nos ao fato de que a história de um
indivíduo sempre nos chega antes dele próprio. Sendo assim, ficamos subordinados a ela e
desenvolvemos um modelo com o qual passamos a nos relacionar. Por vezes essa história é
pragmática, determina o rumo, gera impotência, segrega o indivíduo a tal ponto que o limita e o
aprisiona dentro do seu próprio contexto.

Não seria essa a visão da escola regular, que julgando as diferenças e as deficiências do aluno
como impedimento para acompanhar seu esquema pré-moldado de aprendizagem, estaria
privilegiando um único caminho para todos? Não estaria a Instituição Escola apresentando um
modelo padrão de aluno, modelo esse elitista e, portanto, por si só alienante e auto-destrutivo,
não somente para o disléxico, mas para qualquer aluno?

Não é raro encontrarmos na prática acadêmica a substituição do aluno pela sua história, com
todo o caráter esteriotipado que ela encerra, perpetuando assim os fracassos na esfera e
responsabilidade do aluno. Assim sendo, se o disléxico não aprende do mesmo jeito e na
mesma velocidade dos demais colegas de sala de aula, deve ir para uma escola especial, pois é
ele o problemático e o fracassado. Nem é raro o disléxico ser rotulado de deficiente mental,
burro, incompetente, desleixado ou irresponsável pela equipe de professores, quando não pelos
próprios familiares e por modelo pelos seus próprios amigos.

A tendência de se colocar o problema como sendo do indivíduo, impede os educadores de


buscarem informações e recursos que os capacitassem efetivamente a lidar com seus alunos, já
que tomariam para si o desafio de criar metodologias eficientes, que acolhessem cada aluno,
respeitando e entendendo sua individualidade. Além do mais, sabemos que até as limitações
genéticas da inteligência podem ser compensadas pelos desafios do meio ambiente, que a
inteligência se alimenta de desafios; assim, uma classe heterogênea em escola regular pode e
deve favorecer esse meio estimulador para que, não apenas o disléxico, mas qualquer aluno,
possam desenvolver seu processo sócio-cultural.

Entendemos que colocar disléxicos em salas de educação especial significa negar-lhes o acesso
a toda uma gama de informações, ao desenvolvimento de sua potencialidade através da riqueza
de alimentos que a escola comum pode lhe oferecer, além da possibilidade de sociabilização
que ele desfrutaria, devido à diversidade presente.

Costumamos dizer que aquilo que é bom para o aluno disléxico é melhor ainda para o comum,
ou seja, todos os indivíduos podem fracassar, "emburrecer" ou regredir caso não sejam expostos
à excitação dos desafios, a uma programação adequada às faixas etárias e acadêmicas e,
principalmente, a avaliações criteriosas que lhes permitam incorporar, desenvolver e expressar
seu potencial e conhecimento. Uma escola "emburrecedora" é aquela que vê a história e não
seu aluno, é aquela que não individualiza, que não rastreia formas diferentes para pessoas
diferentes, é aquela que não dá prazer, que não acredita no potencial e na capacidade gerativa
do ser humano!

Rubem Alves diz que "escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a
arte do vôo, pássaros engaiolados são pássaros sob controle; escolas que são asas, amam os
pássaros em vôo, elas existem para dar aos pássaros coragem para voar; o vôo não pode ser
ensinado, só pode ser encorajado!"

A perspectiva de inclusão dos disléxicos em escolas regulares é um direito de cidadão, já que


elas existem com a função de promover educação para todos, indiscriminadamente. Além disso,
todos, alunos comuns ou alunos com dificuldades, professores e a comunidade em geral seriam
beneficiados, pois a qualidade das escolas aumentaria na medida que se exigisse da mesma,
uma postura coerente e segura em sua prática pedagógica e, a história do aluno seria entendida
como meio de conhecimento do mesmo e sobretudo como ponto de partida para encontrar-se
meios eficientes para os pontos de chegada.

Tânia Maria de Campos Freitas


Psicopedagoga Clínica - Professora especialista em distúrbios de leitura, escrita e dislexia -
Diretora do CPM (Centro Psicopedagógico Maranhão) - Diretora de Eventos Científicos da ABD
(Associação Brasileira de Dislexia)

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