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CARACTERIZAÇÃO DO
SISTEMA DE AGRICULTURA NO
VALE DE VILA POUCA DE
AGUIAR
3 - CONCLUSÕES 37
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
1
INDICE DE QUADROS
INDICE DE GRÁFICOS
1 - Distribuição da população activa do concelho por sector de actividade 11
2
1 - O VALE DE VILA POUCA DE AGUIAR
Reza uma lenda bem antiga que o actual Vale de Vila Pouca de Aguiar fora
outrora um lago atravessável de barco de Montenegrelo ao Castelo 1, e que, por obra humana, se
conseguiu escoar e transformar num bonito vale. Apesar dos seus fundos argiloso, cujo barro foi
durante muitos anos o ganha pão dos produtores de telha e dos oleiros existentes em algumas
aldeias, e da grande quantidade de seixos rolados existentes nos seus solos, não serem
suficientes para sustentarem a lenda, nela porém, existe uma grande verdade: foi o esforço
humano quem criou o que é hoje o Vale de Vila Pouca de Aguiar (Ferreira, 1995).
Uma paisagem única em trás-os-montes, com a superfície cortada e recortada em
parcelas de dimensões reduzidas, fruto de uma sociedade com um modo de ser, pensar e agir
muito próprio e de uma série de condicionalismos essencialmente geográficos e edafo-
climáticos. Nela se faz notar um sistema cultural, baseado numa policultura acentuada com o
cereal de Inverno (centeio) e o milho e a batata como culturas de Verão, misturando-se neles
lameiros, plantações arbóreas, a vinha em bordadura e algumas hortícolas (Moreira, 1984).
Outrora fortemente marcado por um isolamento geográfico, hoje em dia servido
por uma boa rede de estradas de acesso a Espanha (EN2) ou a Vila Real (EN2), pela fronteira de
Bragança (IP4) e ao Porto, também servido por esta rodovia.
Neste vale pratica-se fundamentalmente uma agricultura de subsistência, onde as
produções são basicamente para autoconsumo, sendo a venda efectuada somente quando há
excessos de produção ou quando os preços são aliciantes. Neste trabalho pretende-se
caracterizar os sistemas de agricultura praticados nesta região, tão profícua em produtos como
em qualidades humanas.
1.1 - Localização
3
1 - Duas aldeias muitas antigas situadas no topo da serra da Falperra e do Alvão
As aldeias são pequenos povoamentos, do tipo Concentrado, bem
individualizadas. Na encosta Este da Serra do Alvão, e no sentido Sul-Norte, ficam situadas as
aldeias de Soutelinho do mesio, Outeiro, Souto, Telões, Pontido, Castelo, Soutelo e Fontes; na
encosta Oeste da Serra da Falperra, e no mesmo sentido, ficam as aldeias de Tourencinho,
Gralheira, Zimão, Parada de Aguiar, Freiria e Montenegrelo. Mais ao menos ao centro do vale, e
também no mesmo sentido, ficam as aldeias de Vila Chã, Carrica e Ferreirinho. Vila Pouca de
Aguiar e Vila Chã, no início e no fim do vale, respectivamente.
O vale de vila pouca de aguiar engloba 3 freguesias, sendo elas: Vila Pouca de Aguiar (22,7
Km2), Soutelo de Aguiar (29,36 Km2) e Telões (45,35 Km2).
1.2 - Clima
• Temperatura:
Pela observação do Quadro I constata-se que as temperaturas médias apresentam
uma grande amplitude; as máximas mostram um clima quente de verão (não sendo um factor
limitante, para o crescimento das culturas) as médias das mínimas também não são impeditivas
de um regular desenvolvimento das mesmas culturas.
Temperaturas
médias Mensais 6,0 7,0 9,9 11,8 14 18,2 20,4 20,2 18,0 12,8 9,7 6,4 12,9
Temperatura média
das máximas 9,4 11,0 14,4 16,8 19,1 24,2 27,2 26,9 23,9 18,6 13,6 9,9 17,9
Temperatura média
das mínimas 2,6 3,0 5,4 6,7 8,8 12,1 13,5 13,4 12,0 9,0 5,8 2,9 7,9
4
• Precipitação:
A queda pluviométrica, como se pode constatar no quadro II, é muito irregular,
verificando-se que Dezembro é por norma o mês mais chuvoso; a ocorrência de trovoadas,
granizo, ventos ciclónicos e a queda de neve é menos frequente.
Pluviosidade média
Mensal 176,1 149,2 168,2 108,6 99,1 58,6 22,1 26,4 61,4 113,4 161,3 235,2 1380
Fonte: SMN, o clima de Portugal, fasc. XIII, Lisboa 1965 - Estação meteorológica de Pedras Salgadas.
• Insolação:
As horas de insolação estão representadas no quadro III.
Horas de Sol 112,6 145,9 180,6 229,5 259,5 312,7 361,7 224,2 237,5 183,6 140,6 112,6 2601
% Insolação 38 49 49 58 58 69 78 1,0 63 53 47 39 58
Fonte: SMN, O clima de Portugal, fasc. XIII, Lisboa 1965, Estação meteorológica de Pedras Salgadas.
• Geadas:
As geadas e os nevoeiros são muito frequentes durante os meses de Inverno,
sendo o seu início em fins de Outubro, e o fim em meados de Abril e em situações de
acumulação de ar frio as geadas tardias podem ocorrer em princípios de Maio. A data média da
1ª ocorrência é a primeira geada de Outubro que é de extrema importância porque delimita o
período vegetativo das culturas., e a última geada ocorre no primeiro decénio de Maio.
Segundo dados constantes no PDAR (1992) o nº de dias de geadas por ano, em termos médios
são de 80.
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• Outros dados climatéricos:
Fonte: Baseado no Estudo de Fomento Pecuário para a sub-região norte interior, 1978 e PDAR, 1992.
O Clima de índice hídrico compreendido entre 20-100 , como é o caso da zona de influência da
estação meteorológica de Pedras Salgadas, pode apresentar características que revelam aptidão
para as culturas das regiões temperadas, como é o caso dos cereais de Inverno, plantas tuberosas
(raízes e caules), vinha e certos pomares de pevide (E.F.P., 1978).
No anexo II apresenta-se o perfil do balanço hídrico da estação meteorológica de Pedras
salgadas, que permite visualizar de uma forma mais clara, aspectos de variabilidade climatérica.
1.3 - Solos
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Devido à proximidade do rio a toalha freática está próxima da superfície durante parte do ano,
apresentando alguns destes solos drenagem deficiente (Portela, 1989).
Segundo dados obtidos por Figueiredo (1988), os solos do Vale de Vila Pouca de Aguiar, podem
de uma forma geral, englobar-se no seguinte perfil:
1 - (0-20 cm): Pardo muito escuro; Franco-arenoso, com bastante saibro, algum
1 cascalho e raras pedras de granito; agregação anisoforme, fina, média e
20 grosseira moderada e fraca e granulosa fina e média, fraca a moderada; friável;
2 compacidade média; pouco a moderadamente porosa com poros muito finos e
35 finos; bastantes raízes finas, húmido.
3
2 - (20-35 cm): Transição de 1 para 3.
50
3 - (35-50 cm): Pardo amarelado escuro, arenoso-franco com muito saibro,
4 bastante cascalho e rara pedra; agregação anisoforme sub-angulosa, fina, média
e grosseira, moderada e granulosa muito fina e fina, fraca; muito friável;
80 compacidade pequena; moderado a bastante poroso; algumas raízes finas;
5 húmido.
95
4 - (50-80 cm): Pardo amarelado claro, com algumas manchas distintas médias e grandes pardo
forte; franco-arenoso com algum saibro, raro cascalho e rara pedra; agregação anisoforme sub-
angulosa média e grosseira moderada; moderadamente poroso com poros muito finos e finos;
muito friável, raras raízes finas; muito húmido.
5 - (80-95 cm): Mistura de material grosseiro, saibro e algum cascalho, de origem granítica sub-
angulosa e por vezes boleado de quartzo e feldspato com material mais fino que se supõe ter
vindo da camada anterior por lavagem, ou terá, em parte, sido resultado da alteração in situ da
rocha mãe.
Segundo o mesmo autor, a densidade aparente (Dap) situa-se entre valores de 0,95 e 1,49,
encontrando-se a densidade média nos 1,18. Os solos são normalmente ácidos (pH em H2O
<5,9).
Nas camadas superiores dos perfis encontram-se bons teores de matéria orgânica (3,78 a
6,16%), no entanto nas camadas inferiores (entre 30 e 80 cm de profundidade) encontram-se
também teores me matéria orgânica inferiores (0,11 a 1,34%).
Os níveis de P2O5 e H2O são geralmente muito baixos, baixos e médios (6 a 82 mg/Kg de terra
fina) e só raramente, nas camadas superiores dos perfis, aparecem níveis altos destes nutrientes.
Quanto à aptidão cultural (anexo IV- carta de aptidão de uso do solo), pode-se de uma forma
geral, caracterizar como solos com aptidão moderada a marginal para a agricultura (culturas
anuais e culturas arbóreas e arbustivas), em menor quantidade aparecem ainda solos sem aptidão
para a agricultura e com aptidão para pastagem melhorada marginal.
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1.4 - Caracterização da Região Natural
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Quadro 4: Ocupação do solo pelas explorações agrícolas do concelho
9
1.6 - Caracterização da população
1.6.1 - O concelho:
O concelho de Vila Pouca de Aguiar possui uma área de 433 Km2, estando a ela
agregadas 16 freguesias com uma área média de 27 Km2. A densidade populacional das 16
freguesias varia entre 6 e os 140 habitantes/ Km2, sendo Vila Pouca de Aguiar a mais populosa.
Do Ponto de vista Histórico, a evolução da população residente no concelho pode-se resumir no
seguinte quadro:
Pode-se constatar que de 1960 a 1970 houve um decréscimo da população que se deve em
grande parte à emigração para a Europa Central. Contribuiu também para o fluxo de população
a saída para o litoral com particular destaque para as regiões da grande Lisboa e do Porto,
principalmente devido à diminuição de rendimento proveniente das actividades agrícolas da
região. A variação do ano 1981 para 1991 foi de -15,11% de habitantes no concelho.
A variação da população em função da faixa etária pode-se também resumir no seguinte quadro:
< 14 >15<64 >64 < 14 >15<64 >64 < 14 >15<64 >64 < 14 >15<64 >64
9.649 14.192 1.305 8.485 11.310 1.625 6.232 11.708 2.181 3.946 10.566 2.569
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Como se pode observar o número de pessoas com idade superior a 65 anos é bastante elevado e
com tendência crescente, quando comparado com a restante população, podendo-se concluir que
se trata de uma população bastante envelhecida. A classe etária 25-65 anos é a que representa o
maior numero de pessoas mas também é a classe que abrange a maior faixa etária. De salientar
que houve um certo alargamento do escalão da população idosa, isto em parte devido à
diminuição dos outros dois grupos etários ao longo de 3 décadas.
A estrutura da população quanto ao nível de instrução, pode ser resumida através do seguinte
quadro:
A
Analfabetos Nível atingido
frequentar
> 10 anos o ensino Básico Secundário Médio/superior
O nível de instrução é fraco, com elevada taxa de analfabetismo, chegando a rondar no concelho
os 16,4% (Censos 1991) e atingindo sobretudo a população adulta e idosa.
Como causa directa de uma estrutura etária desequilibrada e de um índice de dependência muito
elevado, a taxa de actividade do concelho de Vila Pouca de Aguiar era, em 1981, muito baixa,
pois apenas 28% dos habitantes desenvolvia uma actividade profissional.
A distribuição da população por sectores de actividade, revela o carácter eminentemente rural
do concelho (gráfico I). Em 1981, quase metade dos activos trabalhavam na agricultura e menos
de 9% na indústria transformadora. A indústria extractiva estava bem representada com mais de
7% dos activos, bem como a construção com mais de 15,5%.
11
Como se pode observar a estrutura sócio-profissional revela o seu carácter eminentemente rural:
cerca de metade da população activa dedica-se à agricultura. São ainda importantes, em termos
da ocupação da força de trabalho, os sectores da construção e da administração local. A
industrialização é débil: menos de 10% dos activos, quase tantos como os ocupados na
exploração mineira.
População presente
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O povoamento do vale dispersa-se ao longo da EN2, a principal via de comunicação, e é
acompanhado por uma outra característica: a estrutura relativamente concentrada, em
aglomerados de pequena dimensão, típica desta região do país. Do quadro que se segue pode-se
constatar esta afirmação pela observação do numero de aldeias que rodeiam o vale e o numero
de habitantes que nelas reside:
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Quadro 9 : Resultados do inquérito à idade da população do vale (%)
< 18 18 - 34 35 - 44 45 - 54 55 - 65 > 65
O nível de instrução como se pode constatar é bastante baixo. Os níveis de instrução não
superiores à primária representam 63,2% do total da população. A actual crise e as dificuldades
de emprego associadas a esta taxa de instrução conduziram a um forte fluxo migratório sobretudo
na classe etária (18-34 anos), para os países do norte da Europa.
1.8.1 - O Concelho
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Quadro 9 : Total das explorações no Concelho (%)
Matas e florestas
SAU SANU Outras
s/ cult. sobcoberto
0 - 1 Ha 1 - 5 Ha 5 - 20 Ha 20 - 50 Ha > 50 Ha
A maior parte das explorações agrícolas possui uma área < a 5 hectares (cerca de
75,6% do total das explorações). As explorações encontram-se bastante fragmentadas de
pequenas parcelas, na maioria dos casos muito afastadas, de formas irregulares e com fracos
acessos. Este factor é um dos grandes responsáveis pela baixa rentabilidade das explorações.
Pode-se concluir que a pulverização da propriedade é uma das maiores condicionantes para o
desenvolvimento da agricultura no concelho.
As formas predominantes de exploração encontram-se descritas no quadro abaixo:
Exploração simples
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Através da análise dos dados deste quadro constata-se que a forma de exploração
predominante é por conta própria, correspondendo a 51,8% das explorações do concelho. Este
valor hoje em dia será maior em virtude do aumento de estímulos financeiros dados aos jovens
agricultores por conta própria.
Segundo o PDAR (1992), verifica-se que predominam as explorações do tipo familiar (95%).
Neste tipo de exploração toda a actividade agrícola é feita pelo agregado familiar, no entanto,
em alguns casos recorre-se a um assalariado, não sendo o trabalho deste superior ao executado
pela família, aliás, tendência que é confirmada também no vale de Vila Pouca.
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1.8.2 - O vale de Vila Pouca de Aguiar
A forma como o empresário explora a terra pode ser representada através do seguinte quadro:
Superfície total SAU Superfície total SAU Superfície total SAU Superfície total SAU
A exploração da terra, como já foi referido faz-se fundamentalmente com mão-de-obra familiar,
sabendo que 34,3% da mão-de-obra familiar se dedica à exploração a tempo inteiro e os restantes
65,7% dedicam-se à exploração a tempo parcial (Ferreira, 1995). No entanto, quando necessário
recorre-se à mão-de-obra assalariada temporária, esta mão-de-obra é contratada para qualquer
tipo de trabalho, sempre que o empresário sinta falta dela, mas é fundamentalmente em épocas de
ponta, como: roçar o mato, tirar estrumes das “cortes do animais”, arrumar os fenos, plantações e
arranque de batatas, sachas e ensilagens, etc... . Segundo Ferreira (1995) são pagas 23,8 jornas
por ano por exploração, das quais 23,1 são pagas a homens e apenas 0,7 a mulheres. Algumas
explorações do vale, possuem no entanto, mão-de-obra permanente, sabendo que 10% têm um
empregado permanente e 5% têm 2 assalariados permanentes.
Uma modalidade antiga, fortemente enraizada, é a troca de trabalho com os vizinhos, este tipo de
trabalho por vezes torna-se bastante importante, sobretudo em períodos de sementeira e colheita
como é o caso das batatas e fenação.
Em suma, as empresas do vale possuem um carácter tipicamente familiar (92,5% dos trabalhos
são efectuados pelo agregado e 7,5% com recurso à mão-de-obra exterior).
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O trabalho feito por animais sofreu uma redução acentuada nos últimos 10 anos.
Todavia a pequena dimensão das parcelas continua a exigir o esforço animal em muitos
trabalhos. O tractor e as alfaias a ele associados são cada vez mais usados. Com o tractor estão
normalmente associados: o reboque, a charrua, o escarificador, a grade de discos, o sulcador e a
fresa. Com a tracção animal, está o arado de pau, arado de ferro, o carro de bois. Nas culturas
forrageiras, que têm uma importância bastante relevante na economia do vale, faz-se uso da
segadeira e enfardadeira. Para a cultura da batata e da vinha são utilizados os pulverizadores e/ou
atomizadores. Dentro das pequenas alfaias inclui-se a sachola, o ancinho, a gadanha, a foice e
outros. O centeio é colhido com ceifeira debulhadora e as culturas de regadio excepto quando a
rega se faz por gravidade, necessitam de motores de rega.
A grande parte (60%) das explorações do vale têm tractor próprio e as restantes alugam ou usam
emprestado. Todas as explorações que possuem tractor, têm também outras alfaias a ele
associadas, como se pode constatar no quadro abaixo:
Quadro 10: Inquérito à representatividade das alfaias nas explorações com tractor:
Alfaias %
Reboque 100
Charrua 100
Escarificador 100
Sulcador 45
Grade de discos 35
Fresa 20
Fonte: Ferreira (1995)
Equipamento % de explorações
Grade de bicos 95
Motor de rega 85
Atomizador 80
Pulverizador 70
Arado de pau 65
Fonte: Ferreira (1995)
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Segundo Ferreira (1995), o rendimento familiar das explorações do vale é
fundamentalmente obtido à custa da produção animal, em 85% das explorações; em 10% das
explorações é a produção de batata e em 5% das explorações são as forragens. As famílias do
vale de Vila Pouca vão buscar os seus rendimentos às actividades constantes no quadro abaixo:
Produtos
Actividades Remessas do Juros Abono de
obtidos da Reformas
não agrícolas estrangeiro bancários familia
exploração
Principal fonte de
45% 30% 15% 5% 5% 0%
rendimento
Segunda fonte de
rendimento 45% 30% 12,5% 0% 12,5% 0%
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1.9 - As principais culturas no vale de vila pouca
Quadro 12 : % da área utilizada nas diferentes culturas em relação à superfície agrícola útil
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Segundo Ferreira (1995), as forragens no vale de Vila Pouca de Aguiar representam 45% da
superfície agrícola útil, os prados 22%, o milho 15%, a batata 6% e o centeio 3%.
Sabendo que a área média por elas ocupada pode ser representada através do seguinte gráfico:
Deste gráfico pode-se concluir que as forragens e os prados estão em parcelas de maiores
dimensões (0,9 há a 0,7 há ), quando comparadas com as parcelas usadas para o milho (0,4 há),
batata (0,2 há) e centeio (0,2 há). Como termo de comparação, para a área do concelho, mostra-se
o quadro abaixo :
Quadro 14 : Utilização do solo no concelho de Vila Pouca de Aguiar
Área (Ha) UF
Prados permanentes de 1.368.000
regadio (lameiros) 285
--------------
Total 23.151.000
Fonte: E.F.P. para trás-os montes, 1978.
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2 - AS ACTIVIDADES ECONÓMICAS DO VALE
2.1.1 - As Forragens:
São utilizadas fundamentalmente como fonte de alimento do gado bovino, nas
alturas em que o gado não pode sair para pastar, compensando a falta de pastos que ocorre
pelo inverno.
A ferrã (vulgarmente chamada nesta zona), é semeada em Outubro, no início das primeiras
chuvas que coincide normalmente com o corte do milho (cultura bem estrumada e com
carácter melhorador). Os trabalhos culturais inerentes a esta cultura compreendem uma
pequena lavoura e uma gradagem. É prática corrente nesta região fazer sementeira, sem que
para isso se proceda a trabalhos aratórios vulgares, à qual tradicionalmente se chama “atupir
erva”, que consiste numa sacha superficial após terem sido lançadas as sementes; esta
operação faz-se em dias de fraca intensidade pluviométrica.
As cultivares normalmente utilizadas para a produção da forragem são (questionário
efectuado a alguns agricultores da região): Azevém permanente, trevo ladino, erva molar, e
trevo violeta (para terrenos ácidos com disponibilidade de água), entre outras....
As estrumações, resumem-se aos dejectos dos animais em pastoreio e as adubações
usualmente não se fazem, no entanto alguns agricultores, depois do primeiro corte, aplicam a
lanço, Foskamónio ou o Nitrolusal como adubação de cobertura, mas sempre em baixas
dosagens por hectare. De salientar que as forragens são sempre colocadas em terrenos mais
férteis e mais irrigados de características aluvionares.
As forragens sofrem cortes sucessivos (mais ou menos 3 cortes, em função da condução) e
por volta do mês de Maio deixam de ser cortadas, retiram-se-lhes os gados (no caso de ter
sido pastoreada), para que do campo se possam colher os fenos, que ocorre vulgarmente no
mês de Julho.
As regas são fundamentais para que se possam colher boas forragens e posteriormente fenos
de boa qualidade, com este sentido, as áreas destinadas a forragens ou são regadas por
aspersão ou, mais usualmente, por gravidade, estando o seu cultivo condicionado a este
factor: a existência de água.
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2.1.2 - As Pastagens:
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Agrosto-Arrhenatheretum bulbosi:
- Alopecus brachystachyus (L.) Hamfe
- Dactylis glomerata L. ssp. glomerata
- Anthemis nobilis L.
- Centaurea nigra L. ssp. rivularis (Brot.) P. Cout.
- Holcus mollis L.
Peucedano-Juncetum Acutiflori:
- Potentilha erecta (L.) Hamfe
- Peucedanum lancifolium Hoffgg. E Link.
- Paradísea lusitanica (P. cout.) Samp
- Carex panicea L.
- Carex camposii Bss. E Reut.
2.1.3 - Os cereais:
Na região de Trás-os-Montes os cereais ocupam uma área de 110.900 hectares distribuídos
por 72.043 explorações (PDAR, 1992). A cultura do centeio no concelho assume primordial
importância (45,5%). Esta região constitui assim a maior produtora deste cereal no
continente.
1989
1979 Milho Trigo Centeio Total
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Nesta região prevê-se uma quebra acentuada de rendimento dos produtos cerealíferos,
motivada por um lado, da maior parte dos solos onde são cultivados os cereais, terem fraca
aptidão para estas culturas e também pela retirada de incentivos por parte do governo
Português devido á entrada de Portugal na CE.
2.1.3.1 - O Milho:
É uma cultura que pode ser semeada em sequeiro ou em regadio, destinando-se para este
efeito os terrenos mais férteis, frescos e fundos, com abundância de água para o milho de
regadio e os solos mais esqueléticos do tipo leptossolos, para o milho de sequeiro. No entanto
as operações culturais que antecedem à sua sementeira são exactamente as mesmas, e
compreendem a incorporação de estrume, correcção calcária (em solos ácidos) e adição de
um adubo composto. Posteriormente procede-se a uma lavoura seguida de gradagem que visa
o enterramento de estrume e do material orgânico proveniente da cultura anterior, que
normalmente é uma forragem.
A sementeira do milho de sequeiro é vulgarmente feita a lanço (com a finalidade de ficar
mais denso), já a do milho de regadio é feita à linha, com o auxilio de um semeador mecânico
ou manualmente ao rego. A sementeira dos milhos ocorre durante os meses de Junho e Julho.
Por altura da fase de “joelheiro”, procede-se a uma sacha com amontoa, visando também o
enterramento das ervas daninhas (a aplicação de herbicida está restrita às grandes explorações
e somente às que produzem milho de regadio).
As primeiras regas no milho de regadio fazem-se somente quando este demonstra, através do
enrolar das folhas, que está com carência de água e estas vão-se sucedendo, quer por aspersão
quer por gravidade, consoante a disponibilidade de água que cada agricultor possui.
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O milho de sequeiro é destinado para o corte em verde, sendo cortado cedo, nunca chegando
a amadurecer o grão (as variedades utilizadas para este fim são do tipo regionais).
O milho de regadio é desbandeirado, destinando-se a influrescência à alimentação animal, no
entanto é quando o grão se encontra completamente maduro que se efectua o derradeiro corte.
É prática ainda corrente, nesta região, acelerar a maturação do grão através da exposição
deste, pela desfolhada parcial da espiga, ao sol.
O grão pode ser aproveitado para farinhas e farelos, ou para dar assim mesmo aos animais da
exploração. Neste tipo de aproveitamento o restante da planta é seco e fornecido neste estado
aos animais. É também usual, em efectivos pecuários leiteiros o recurso á silagem, ou seja à
transformação total da planta em silagem, tornando-se esta, devido ao seu alto valor nutritivo,
um recurso nos períodos de maior rigor ou em fases em que o efectivo necessita de um
complemento alimentar.
2.1.3.2 - O Trigo:
Em virtude da sua representatividade ser quase nula no vale de Vila Pouca de Aguiar (ver
quadro nº ), a sua abordagem foge ao âmbito deste trabalho.
2.1.3.3 - O Centeio:
É o cereal mais rústico, dos cereais de Inverno,estando limitado o seu cultivo no vale, aos
terrenos pobres do tipo Leptossolos e ácidos. Este cereal devido á sua rusticidade não
necessita de grandes operações culturais, sendo suficiente uma lavoura seguida de gradagem
com posterior sementeira. A incorporação de fertilizantes normalmente não existe, estando a
fertilização a cargo da cultura anterior, que pode ser o milho, o mesmo acontece com a
eliminação de ervas daninhas, através da aplicação de herbicidas que raramente é feita.
O centeio é destinado á alimentação animal, podendo ser pastoreado em verde, cortado em
verde e ainda cortado quando completo o seu estado de maturação.
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2.1.4 - A Batata:
É o tubérculo plantado por excelência no vale de Vila Pouca, principalmente nas suas áreas
mais férteis. A área disponibilizada para esta cultura pode-se resumir nos quadros abaixo:
A batata na região para além de constituir base da alimentação também é, dependendo dos
anos, fonte de rendimento dos agricultores.
O cultivo deste tubérculo, inicia-se em Abril-Maio com a preparação do terreno, que deve ser
bastante cuidada, procedendo-se a uma lavoura profunda a que se seguem lavouras
superficiais e gradagens em número suficiente, para criar um solo fofo e bem arejado. A
lavoura incorpora normalmente no solo o resto da cultura anterior e o estrume (mais ou
menos 30 Ton/hectare), previamente distribuído por todo o terreno. A preparação do solo é
completada com uma gradagem e uma escarificação.
Os tubérculos na altura da plantação deverão estar convenientemente abrolhados, de forma a
se obter uma emergência mais rápida. Este aspecto tem grandes vantagens pois pode permitir
plantar mais tarde, para fugir aos prejuízos causados pelas geadas tardias, sem que devido a
isso se atrasem as colheitas.
A plantação é feita quando as condições climatéricas e de solo sejam convenientes, ou seja, o
solo se encontre húmido e com arejamento satisfatório e a temperatura do solo e ar permitam
que os brolhos formados nos tubérculos continuem a desenvolver-se regularmente.
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Plantam-se primeiramente os terrenos mais altos e delgados, aqueles que a cultura mais se
poderá ressentir dos calores de verão ficando para o fim os mais fundos, os quais sendo mais
húmidos e “geadeiros” só mais tarde oferecem condições favoráveis à cultura.
A plantação pode ser do tipo manual ou à máquina (plantador semi-automático). Segundo
Ferreira (1995) os métodos de plantação utilizados no vale têm as seguintes percentagens:
- 34,5%: Plantação manual;
- 24,1%: Fazem a abertura dos regos com tracção animal e plantação manual;
- 19%: Praticam ainda o rapão (plantação sem lavoura);
- 13,8%: Abertura dos regos com tracção mecânica e plantação manual;
- 5,2%: Abertura dos regos e cobertura dos tubérculos com tracção mecânica;
- 1,7%: Abertura dos regos e cobertura dos tubérculos com tracção animal.
28
Segundo o inquérito efectuado por Ferreira (1995) à percentagem de agricultores que fazia
tratamentos fitossanitários na cultura da batateira, obtiveram-se os seguintes resultados:
- 86,2% das explorações fazem tratamento ao míldio e ao escaravelho;
- 8,6% não fazem qualquer tipo de tratamento;
- 3,5% das explorações fazem tratamento exclusivo ao míldio;
- 1,7% das explorações fazem tratamento exclusivo ao escaravelho.
O número de vezes que faziam o tratamento variava entre 0 e 4.
Método de rega:
Por alagamento: 48,8%;
Por aspersão: 20,9%;
Por chuveiro: 20,9%;
Por sulcos: 9,3%.
2.1.5.1 - A Oliveira:
O concelho de Vila Pouca de Aguiar apresenta uma área de olival pouco significativa:
1979 1989
28 59
Verifica-se por análise do quadro que o aumento de área de olival, para esta situação contribui
fortemente o programa de restruturação do olival no âmbito do PEDAP.
4 1 0,3
Telões
0 0 0
Soutelo
Fonte: PDAR, 1992.
O concelho de Vila Pouca de Aguiar abrangida pelo PDAR labora somente 3,.8% da
totalidade da produção de azeite, possuindo para tal somente 3 lagares, como se pode
constatar no quadro abaixo:
Nº lagares Azeitona laborada (Ton) Produção azeite (litros) Bagaço azeitona (Ton)
30
2.1.5.2 - A fruticultura:
Nesta zona, a maioria da área com fruteiras significa essencialmente paisagem, tradição, em
que as pessoas cultivam nos quintais, quase sempre para consumo da casa, sendo pouco
comercializada, já que esta área apresenta outras alternativas bem mais válidas, logo a esta
singularidade de árvores não se pode chamar de pomares.
Exp. Área (ha) Exp. Área (ha) Exp. Área (ha) Exp. Área (ha)
70 25 37 7 10 6 6 6
Fonte: RGA, 1989
Das quatro variedades de frutos, é a maçã que se encontra mais disseminada, aparecendo por
isso em maior quantidade. Vila Pouca é um concelho com poucas propensões para a
fruticultura.
No que diz respeito aos frutos secos a amendoeira e o castanheiro são os que encontram
maior representatividade no concelho. Quanto á área ocupada pela cultura da amendoeira,
pode se resumir a sua expressividade através do seguinte quadro:
2 1
Fonte: RGA, 1989
31
2.1.5.3 - A viticultura:
A área e o numero de explorações pode se resumir no seguinte quadro:
- - 823 488
Fonte: PDAR, 1992
34 12,41 0,4
Telões
10 6,5 0,7
Soutelo
Fonte: PDAR, 1992.
32
2.2 - A produção pecuária:
Segundo Ferreira (1995), no Vale de Vila Pouca encontra-se a raça frisia e maronesa. A
primeira representa 80,7% e a segunda 19,3% do efectivo total. A raça frisia é utilizada para a
produção de leite (70,6% do efectivo turino) ou para produção de carne (29,4% do gado
turino). Este tipo de animais não é usado para trabalho. A raça maronesa é usada
principalmente na tracção animal (64,1% do efectivo maronês) e também para a produção de
carne (35,9% do efectivo maronês). Estes animais não são usados na produção de leite.
Quanto aos ovinos, segundo o mesmo autor, a sua produção destina-se a fornecer lã e carne,
os caprinos somente a produção de carne.
2.2.1.1 - Os bovinos:
Nos últimos 5 anos assistiu-se a um aumento do efectivo leiteiro de mais de 50% em prejuízo
das raças autóctones que tiveram um decréscimo na ordem dos 20%. No concelho de Vila
Pouca de Aguiar, o efectivo bovino da raça frisia mais que duplicou, enquanto que o efectivo
da raça maronesa baixou 30% (PDAR, 1992). Esta alteração está relacionada com a estratégia
das ajudas comunitárias que incentivaram as empresas no sentido de incrementar a produção
leiteira. A distribuição do bovino maronês é apresentada no anexo VI.
1989 1989
5.464 3.945
33
Quadro 5: Distribuição do bovino maronês do concelho:
602 1.558
Fonte: Associação de criadores Maronês, 1991
2.2.2 - O leite:
O concelho de Vila Pouca de Aguiar teve um forte incremento do sector leiteiro nos últimos
anos, quer devido à criação de salas de ordenha colectivas, quer devido à existência de um bom
sistema de recolha de leite, assim comparando temos:
1978/79 1991
251 2.902
Fonte: PDAR, 1992
34
Este aumento também se deveu aos fortes incentivos, que nos últimos anos se fizeram a sentir,
assim houve um forte investimento por parte dos agricultores em detrimento de outras
actividades como a batata, milho grão e outros cereais.
Classe de animais
Pode-se concluir, e com base no quadro, que a maior parte dos produtores de leite possuem
entre 1 e 3 vacas leiteiras, o que define bastante o tipo de exploração, em que assenta a
produção de leite no concelho.
Este animais são alimentados à base de erva proveniente dos lameiros e de algumas forragens.
E o leite destina-se fundamentalmente às cooperativas.
O numero de vacas leiteiras no vale de Vila Pouca de Aguiar é distribuído pelas suas seguintes
freguesias:
Freguesias Nº de vacas
442
Telões
901
Soutelo
Total 1.550
As freguesias do vale de Vila Pouca de Aguiar contribuem em 53,4% para o total do efectivo
do concelho.
No quadro da página seguinte pode-se observar o tipo de estrutura da exploração pecuária que
está vigente no vale de Vila Pouca:
35
Quadro 5: Nº de criadores por classes de vacas leiteiras para o vale de Vila Pouca
Vl. Pouca 44 6 5 2 2
107 21 8 3 3
Telões
85 35 19 9 10
Soutelo
236 62 32 14 15
Total
Fonte: PDAR, 1992.
36
3 - CONCLUSÕES
Este trabalho tem como objectivo final, caracterizar uma região quanto ao sistema de
agricultura nela vigente e enquadrá-lo dentro da nomenclatura de caracterização dos sistemas
de agricultura. Assim sendo o vale de Vila Pouca de Aguiar, e segundo o Sr. Professor Doutor
Nuno Moreira (num seminário da ESAB), está enquadrado no sistema Batata-Centeio-
Pecuária.
A representação esquemática do sistema encontra-se em anexo.
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BIBLIOGRAFIA
UTAD,PDRITM- Carta de solos, carta do uso actual daterra e carta de aptidão da terra
do Nordeste de Portugal- Agrocunsultores e Coba, 1988