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Escola Superior Agrária de Bragança

Cese em Agricultura Sustentada

CARACTERIZAÇÃO DO
SISTEMA DE AGRICULTURA NO
VALE DE VILA POUCA DE
AGUIAR

Trabalho executado na disciplina de Sistemas de Agricultura - Maio 1999


Elaborado Por: Daniela Sousa Curso: CESE em Agricultura Sustentada
1 - O VALE DE VILA POUCA DE AGUIAR 3
1.1 - Localização 3
1.2 - Clima 4
1.3 - Solos 6
1.4 - Caracterização da região natural 8
1.5 - Utilização do solo 8
1.6 - Caracterização da população 10
1.6.1 - O concelho 10
1.6.2 - O vale de Vila Pouca de Aguiar 12
1.7 - Caracterização da exploração agrícola 14
1.7.1 - O concelho 14
1.7.2 - O vale de Vila Pouca de Aguiar 17
1.8 - As principais culturas no vale de vila pouca 20

2 - AS ACTIVIDADES ECONÓMICAS DO VALE 22


2.1 - Produção vegetal 22
2.1.1 - As forragens 22
2.1.2 - As pastagens 23
2.1.3 - Os cereais 24
2.1.3.1 - O milho 25
2.1.3.2 - O trigo 26
2.1.3.2 - O centeio 26
2.1.4 - A batata 27
2.1.5 - Outras culturas 30
2.1.5.1 - A oliveira 30
2.1.5.2 - A fruticultura 31
2.1.5.3 - A viticultura 32
2.2 - A produção pecuária 33
2.2.1 - A produção de carne 33
2.2.1.1 - Os bovinos 33
2.2.1.2 - Os ovinos e caprinos 34
2.2.2 - O leite 36

3 - CONCLUSÕES 37

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS
1
INDICE DE QUADROS

1 - Temperatura média do ar- período de 1931/1960 4


2 - Precipitação em mm - período de 1931/1960 5
3 - Horas de insolação 5
4 - Ocupação do solo pelas explorações agrícolas do concelho 9
5 - Evolução da população residente no concelho 10
6 - Distribuição da população por grupos etários 10
7 - População do concelho segundo o nível de instrução 11
8 - Caracterização da população do vale de Vila Pouca de Aguiar 12
9 - População presente e nº de famílias nas aldeias do vale 13
10 - Resultados do inquérito á idade da população do vale(%) 14
11 - Inquérito ao nível de instrução no vale (%) 14
12 - Total das explorações do concelho (%) 15
13 - Repartição da SAU das explorações (%) 15
14 - Repartição das explorações por classe de área (%) 15
15 - Formas de exploração 15
16 - Inquérito á forma de exploração no vale de vila pouca (%) 17
17 - Inquérito á representatividade das alfaias nas explorações com tractor 18
18 - Inquérito ao nível de equipamento das explorações 18
19 - Rendimento das famílias 19
20 - Numero de parcelas e área média/exploração das principais culturas 20
21 - % da área utilizada nas diferentes culturas em relação à SAU 20
22 - Área média ocupada pelas culturas 21
23 - Utilização do solo no concelho de Vila Pouca de Aguiar 21
24 - Área ocupada por cereais no concelho 24
25 - Numero de explorações e áreas de cereal no vale 25
26 - Área ocupada pela cultura da batata no concelho 27
27 - Área ocupada pela cultura da batata no vale 27
28 - Evolução das áreas de olival (ha) no concelho 30
29 - numero de explorações e áreas de oliveira no vale 30
30 - A produção de azeite no concelho 30
31 - Nº de explorações e respectivas áreas para os frutos frescos no concelho 31
32 - Área ocupada pela cultura da amendoeira e numero de explorações no concelho 31
33 - Área de soutos e produção de castanha no concelho 31
34 - Área e numero de explorações no concelho de Vila Pouca de Aguiar 32
35 - Numero de explorações da cultura da vinha no vale 32
36 - Principais espécies pecuárias no concelho 33
37 - Evolução do efectivo bovino de carne no concelho 33
38 - Distribuição do bovino maronês no concelho 34
39 - O gado bovino no concelho de Vila Pouca de Aguiar 34
40 - Evolução do numero de vacas leiteira no concelho 34
41 - Numero de criadores por classe de animais 35
42 - Numero de vacas leiteiras no vale de Vila Pouca de Aguiar 35
43 - Numero de criadores por classes de vacas leiteiras para o vale 36

INDICE DE GRÁFICOS
1 - Distribuição da população activa do concelho por sector de actividade 11

2
1 - O VALE DE VILA POUCA DE AGUIAR

Reza uma lenda bem antiga que o actual Vale de Vila Pouca de Aguiar fora
outrora um lago atravessável de barco de Montenegrelo ao Castelo 1, e que, por obra humana, se
conseguiu escoar e transformar num bonito vale. Apesar dos seus fundos argiloso, cujo barro foi
durante muitos anos o ganha pão dos produtores de telha e dos oleiros existentes em algumas
aldeias, e da grande quantidade de seixos rolados existentes nos seus solos, não serem
suficientes para sustentarem a lenda, nela porém, existe uma grande verdade: foi o esforço
humano quem criou o que é hoje o Vale de Vila Pouca de Aguiar (Ferreira, 1995).
Uma paisagem única em trás-os-montes, com a superfície cortada e recortada em
parcelas de dimensões reduzidas, fruto de uma sociedade com um modo de ser, pensar e agir
muito próprio e de uma série de condicionalismos essencialmente geográficos e edafo-
climáticos. Nela se faz notar um sistema cultural, baseado numa policultura acentuada com o
cereal de Inverno (centeio) e o milho e a batata como culturas de Verão, misturando-se neles
lameiros, plantações arbóreas, a vinha em bordadura e algumas hortícolas (Moreira, 1984).
Outrora fortemente marcado por um isolamento geográfico, hoje em dia servido
por uma boa rede de estradas de acesso a Espanha (EN2) ou a Vila Real (EN2), pela fronteira de
Bragança (IP4) e ao Porto, também servido por esta rodovia.
Neste vale pratica-se fundamentalmente uma agricultura de subsistência, onde as
produções são basicamente para autoconsumo, sendo a venda efectuada somente quando há
excessos de produção ou quando os preços são aliciantes. Neste trabalho pretende-se
caracterizar os sistemas de agricultura praticados nesta região, tão profícua em produtos como
em qualidades humanas.

1.1 - Localização

O vale de Vila Pouca de Aguiar fica situado, na terra Fria Transmontana-Alto


Corgo, localizado entre as serras de Alvão e da Falperra, no sentido Norte-Sul, a uma altitude
correspondente à área do fundo do vale de 700/750 metros. Este vale, talhado em U, estende-se
desde Vila Pouca, a Norte, até Vila Chã, a sul, numa extensão de cerca 10 Km de comprimento
por 3 a 4 Km de largura.
O rio Corgo nasce no início deste Vale, em Vila Pouca de Aguiar e atravessa-o
em todo o seu comprimento, no sentido Norte-Sul, com contornos pouco sinuosos. Mais ao
menos paralela a este e dividindo o Vale ao meio, passa a Estrada Nacional Nº2. Ao longo do
vale encontram-se outros pequenos ribeiros a afluírem no rio Corgo e estradas transversais que
unem as diversas aldeias à estrada nacional (anexo I).

3
1 - Duas aldeias muitas antigas situadas no topo da serra da Falperra e do Alvão
As aldeias são pequenos povoamentos, do tipo Concentrado, bem
individualizadas. Na encosta Este da Serra do Alvão, e no sentido Sul-Norte, ficam situadas as
aldeias de Soutelinho do mesio, Outeiro, Souto, Telões, Pontido, Castelo, Soutelo e Fontes; na
encosta Oeste da Serra da Falperra, e no mesmo sentido, ficam as aldeias de Tourencinho,
Gralheira, Zimão, Parada de Aguiar, Freiria e Montenegrelo. Mais ao menos ao centro do vale, e
também no mesmo sentido, ficam as aldeias de Vila Chã, Carrica e Ferreirinho. Vila Pouca de
Aguiar e Vila Chã, no início e no fim do vale, respectivamente.
O vale de vila pouca de aguiar engloba 3 freguesias, sendo elas: Vila Pouca de Aguiar (22,7
Km2), Soutelo de Aguiar (29,36 Km2) e Telões (45,35 Km2).

1.2 - Clima

O vale de Vila Pouca de Aguiar, possui um clima considerado de “extremo”


devido aos invernos longos e frios, onde durante 5 meses as temperaturas médias mensais não
ultrapassamos 10ºC, e se fazem sentir geadas em 9 meses do ano; sendo de bastante importância
as geadas ocorridas em Abril e Maio, assim como as de Setembro e Outubro. Um outro facto
que dá origem a grandes prejuízos na agricultura da região é a frequência de nevoeiros ao longo
das margens do rio Corgo, durante grande parte do ano, e que por vezes impõe limitações à
prática de muitas culturas.
Os dados climatéricos podem ser obtidos através da estação meteorológica de Pedras Salgadas
(localização geográfica: latitude N- 41º,33’; longitude W- 7º, 36’; altitude- 608 metros), em
virtude de ser esta a que se encontra mais próximo do vale que se pretende caracterizar (dista 6
km de Vila Pouca de Aguiar).

• Temperatura:
Pela observação do Quadro I constata-se que as temperaturas médias apresentam
uma grande amplitude; as máximas mostram um clima quente de verão (não sendo um factor
limitante, para o crescimento das culturas) as médias das mínimas também não são impeditivas
de um regular desenvolvimento das mesmas culturas.

Quadro 1: Temperatura média do ar - Período de 1931/1960


Meses J F M A M J J A S O N D Ano
Temp.

Temperaturas
médias Mensais 6,0 7,0 9,9 11,8 14 18,2 20,4 20,2 18,0 12,8 9,7 6,4 12,9

Temperatura média
das máximas 9,4 11,0 14,4 16,8 19,1 24,2 27,2 26,9 23,9 18,6 13,6 9,9 17,9

Temperatura média
das mínimas 2,6 3,0 5,4 6,7 8,8 12,1 13,5 13,4 12,0 9,0 5,8 2,9 7,9

Fonte: Estação meteorológica de Pedras Salgadas

4
• Precipitação:
A queda pluviométrica, como se pode constatar no quadro II, é muito irregular,
verificando-se que Dezembro é por norma o mês mais chuvoso; a ocorrência de trovoadas,
granizo, ventos ciclónicos e a queda de neve é menos frequente.

Quadro 2: Precipitação em mm - período de 1931-1960


Meses J F M A M J J A S O N D Total
pluv.

Pluviosidade média
Mensal 176,1 149,2 168,2 108,6 99,1 58,6 22,1 26,4 61,4 113,4 161,3 235,2 1380

Fonte: SMN, o clima de Portugal, fasc. XIII, Lisboa 1965 - Estação meteorológica de Pedras Salgadas.

• Insolação:
As horas de insolação estão representadas no quadro III.

Quadro 3: Horas de insolação


Meses J F M A M J J A S O N D Ano
Temp.

Horas de Sol 112,6 145,9 180,6 229,5 259,5 312,7 361,7 224,2 237,5 183,6 140,6 112,6 2601

% Insolação 38 49 49 58 58 69 78 1,0 63 53 47 39 58

Fonte: SMN, O clima de Portugal, fasc. XIII, Lisboa 1965, Estação meteorológica de Pedras Salgadas.

• Geadas:
As geadas e os nevoeiros são muito frequentes durante os meses de Inverno,
sendo o seu início em fins de Outubro, e o fim em meados de Abril e em situações de
acumulação de ar frio as geadas tardias podem ocorrer em princípios de Maio. A data média da
1ª ocorrência é a primeira geada de Outubro que é de extrema importância porque delimita o
período vegetativo das culturas., e a última geada ocorre no primeiro decénio de Maio.
Segundo dados constantes no PDAR (1992) o nº de dias de geadas por ano, em termos médios
são de 80.

5
• Outros dados climatéricos:

Nebulosidade média anual (décimos) 5,5


Data média da 1ª geada (decénio) 2 de Out.
Data média da última geada (decénio) 1 de Mai.
Evapotranspiração Potencial (mm) 717
Evapotranspiração Real (mm) 507
Regime térmico do solo Me- mésico
Deficiência de água (mm) 208
Excesso de água (mm) 566
Índice de Aridez (mm) 29
Índice de Humidade (mm) 79
Índice Hídrico (mm) 71
Regime hídrico do solo Ud - údico
Concentração (eficácia térmica de verão) 46
Classificação climática B3 B’2 s a’

Fonte: Baseado no Estudo de Fomento Pecuário para a sub-região norte interior, 1978 e PDAR, 1992.

O Clima de índice hídrico compreendido entre 20-100 , como é o caso da zona de influência da
estação meteorológica de Pedras Salgadas, pode apresentar características que revelam aptidão
para as culturas das regiões temperadas, como é o caso dos cereais de Inverno, plantas tuberosas
(raízes e caules), vinha e certos pomares de pevide (E.F.P., 1978).
No anexo II apresenta-se o perfil do balanço hídrico da estação meteorológica de Pedras
salgadas, que permite visualizar de uma forma mais clara, aspectos de variabilidade climatérica.

1.3 - Solos

Agrológicamente, esta zona é relativamente heterogénea, correndo bons solos de


aluvião nos vales e solos litossólicos delgados nas encostas.
São fundamentalmente do tipo Cambissolos úmbricos (ver anexo III- carta de solos) e
fluvissolos de origem aluvial ou coluvial (fernandes, 1990). Nas partes mais elevadas do vale e
mais afastadas do rio podem observar-se terraços fluviais. Os sedimentos que formam estes
terraços são constituídos por materiais muito grosseiros, provenientes, sobretudo, de granitos.
Nas partes mais baixas e mais próximas do curso de água podem observa-se aluviões modernos
de textura média.

6
Devido à proximidade do rio a toalha freática está próxima da superfície durante parte do ano,
apresentando alguns destes solos drenagem deficiente (Portela, 1989).
Segundo dados obtidos por Figueiredo (1988), os solos do Vale de Vila Pouca de Aguiar, podem
de uma forma geral, englobar-se no seguinte perfil:

1 - (0-20 cm): Pardo muito escuro; Franco-arenoso, com bastante saibro, algum
1 cascalho e raras pedras de granito; agregação anisoforme, fina, média e
20 grosseira moderada e fraca e granulosa fina e média, fraca a moderada; friável;
2 compacidade média; pouco a moderadamente porosa com poros muito finos e
35 finos; bastantes raízes finas, húmido.
3
2 - (20-35 cm): Transição de 1 para 3.
50
3 - (35-50 cm): Pardo amarelado escuro, arenoso-franco com muito saibro,
4 bastante cascalho e rara pedra; agregação anisoforme sub-angulosa, fina, média
e grosseira, moderada e granulosa muito fina e fina, fraca; muito friável;
80 compacidade pequena; moderado a bastante poroso; algumas raízes finas;
5 húmido.
95

4 - (50-80 cm): Pardo amarelado claro, com algumas manchas distintas médias e grandes pardo
forte; franco-arenoso com algum saibro, raro cascalho e rara pedra; agregação anisoforme sub-
angulosa média e grosseira moderada; moderadamente poroso com poros muito finos e finos;
muito friável, raras raízes finas; muito húmido.
5 - (80-95 cm): Mistura de material grosseiro, saibro e algum cascalho, de origem granítica sub-
angulosa e por vezes boleado de quartzo e feldspato com material mais fino que se supõe ter
vindo da camada anterior por lavagem, ou terá, em parte, sido resultado da alteração in situ da
rocha mãe.

Segundo o mesmo autor, a densidade aparente (Dap) situa-se entre valores de 0,95 e 1,49,
encontrando-se a densidade média nos 1,18. Os solos são normalmente ácidos (pH em H2O
<5,9).
Nas camadas superiores dos perfis encontram-se bons teores de matéria orgânica (3,78 a
6,16%), no entanto nas camadas inferiores (entre 30 e 80 cm de profundidade) encontram-se
também teores me matéria orgânica inferiores (0,11 a 1,34%).
Os níveis de P2O5 e H2O são geralmente muito baixos, baixos e médios (6 a 82 mg/Kg de terra
fina) e só raramente, nas camadas superiores dos perfis, aparecem níveis altos destes nutrientes.
Quanto à aptidão cultural (anexo IV- carta de aptidão de uso do solo), pode-se de uma forma
geral, caracterizar como solos com aptidão moderada a marginal para a agricultura (culturas
anuais e culturas arbóreas e arbustivas), em menor quantidade aparecem ainda solos sem aptidão
para a agricultura e com aptidão para pastagem melhorada marginal.

7
1.4 - Caracterização da Região Natural

O vale de Vila pouca de Aguiar fica situado na Zona Agrária Alvão-Padrela, ou


seja de um lado sofre influências da serra do Marão e do outro lado, influência da serra da
Padrela. De forma a simplificar a interacção que possa existir entre estas duas regiões descreve-
se separadamente, segundo Agroconsultores e COBA (1991), as duas regiões naturais:

• Alvão-Marão: Região sub-atlântica ocidental, reunindo o maciço granítico do Alvão (e


respectiva plataforma planáltica a 950/ 1250m) e a serrania xisto-grauváquica do Marão, que
culmina nos 1300/ 1400m de altitude, distinguindo-se ainda, como elementos paisagísticos
notáveis, as veigas de Vila Pouca de Aguiar e Campeã; reparte-se pela Terra Fria de Planalto e
pela Terra Fria de Montanha (M1).
Domínio dos carvalhos (Q. pyrenaica) e matos de Erica (urzes), Calluna (torgas), Ulex (tojos) e
Chamaespartium (carqueijas); agricultura na base do centeio, prados naturais nos vales
(bovinicultura), caprinos e ovinos nas pastagens de montanha e regadios nas veigas e fundos de
vale.

• Padrela: Região sub-atlântica que enquadra o maciço montanhoso e a extensa plataforma


planáltica de Padrela (800/ 900m de altitude), distinguindo-se uma parte setentrional granítica
de formas aplanadas e suaves, uma parte central xistenta de ondulado expressivo (entalhamento
dos rios Tinhela e Curros) e uma parte meridional granítica de formas suaves em alternância
com formas eriçadas e penhascosas; reparte-se pela Terra Fria de Planalto (F1, F2, F3).
Vegetação climácica do domínio dos carvalhos (Q. pyrenaica) e matos (Erica, Ulex,
Chamaespartium), agricultura do centeio e batata, intensificação cultural nos vales, pecuária
bovina e caprina, produção de castanha e pinhal bravo.

1.5 - Utilização do solo

Quanto á utilização da terra, predomina a pecuária bovina nos lameiros húmidos


e também de caprinos e ovinos nas pastagens de altitude. A agricultura faz-se com base no
cereal de inverno, em geral centeio, alternando com pousio/ pastagem. Grande intensificação
cultural das veigas e orlas ribeirinhas, com base no cereal ou prado/ forragem de inverno e
milho, batata ou hortícolas no verão, frequentemente em regadio. Ocorrência de soutos num ou
noutro local e pinhal bravo a incidir nas encostas íngremes no maciço montanhoso (PDAR,
1992), (anexo V). De acordo com dados constantes no PDAR (1992) a ocupação do solo no
concelho de Vila Pouca de Aguiar é feita conforme com o quadro da página seguinte.

8
Quadro 4: Ocupação do solo pelas explorações agrícolas do concelho

Total de Explorações (há)


Nº Área
freguesias territorial /ha Área Área Área Área
total agrícola florestal Incultos social

16 43.268 36.446 8.869 22.446 5.055 77


Fonte: PDAR, 1992.

9
1.6 - Caracterização da população

1.6.1 - O concelho:

O concelho de Vila Pouca de Aguiar possui uma área de 433 Km2, estando a ela
agregadas 16 freguesias com uma área média de 27 Km2. A densidade populacional das 16
freguesias varia entre 6 e os 140 habitantes/ Km2, sendo Vila Pouca de Aguiar a mais populosa.
Do Ponto de vista Histórico, a evolução da população residente no concelho pode-se resumir no
seguinte quadro:

Quadro 4: Evolução da população residente no concelho

1940 1950 1960 1970 1981 1991

20.552 23.412 25.394 21.420 20.121 17.085

Fonte: Plano director municipal, 1992.

Pode-se constatar que de 1960 a 1970 houve um decréscimo da população que se deve em
grande parte à emigração para a Europa Central. Contribuiu também para o fluxo de população
a saída para o litoral com particular destaque para as regiões da grande Lisboa e do Porto,
principalmente devido à diminuição de rendimento proveniente das actividades agrícolas da
região. A variação do ano 1981 para 1991 foi de -15,11% de habitantes no concelho.
A variação da população em função da faixa etária pode-se também resumir no seguinte quadro:

Quadro 5: Distribuição da população por grupos etários

1960 1970 1981 1991

< 14 >15<64 >64 < 14 >15<64 >64 < 14 >15<64 >64 < 14 >15<64 >64

9.649 14.192 1.305 8.485 11.310 1.625 6.232 11.708 2.181 3.946 10.566 2.569

Fonte: XI Recenseamento Geral da População e XII Recenseamento Geral da População

10
Como se pode observar o número de pessoas com idade superior a 65 anos é bastante elevado e
com tendência crescente, quando comparado com a restante população, podendo-se concluir que
se trata de uma população bastante envelhecida. A classe etária 25-65 anos é a que representa o
maior numero de pessoas mas também é a classe que abrange a maior faixa etária. De salientar
que houve um certo alargamento do escalão da população idosa, isto em parte devido à
diminuição dos outros dois grupos etários ao longo de 3 décadas.
A estrutura da população quanto ao nível de instrução, pode ser resumida através do seguinte
quadro:

Quadro 6: População do concelho segundo o nível de instrução

A
Analfabetos Nível atingido
frequentar
> 10 anos o ensino Básico Secundário Médio/superior

2 800 3 247 13 304 2 129 517


Fonte: Censos 1991

O nível de instrução é fraco, com elevada taxa de analfabetismo, chegando a rondar no concelho
os 16,4% (Censos 1991) e atingindo sobretudo a população adulta e idosa.

Como causa directa de uma estrutura etária desequilibrada e de um índice de dependência muito
elevado, a taxa de actividade do concelho de Vila Pouca de Aguiar era, em 1981, muito baixa,
pois apenas 28% dos habitantes desenvolvia uma actividade profissional.
A distribuição da população por sectores de actividade, revela o carácter eminentemente rural
do concelho (gráfico I). Em 1981, quase metade dos activos trabalhavam na agricultura e menos
de 9% na indústria transformadora. A indústria extractiva estava bem representada com mais de
7% dos activos, bem como a construção com mais de 15,5%.

Gráfico I : Distribuição da população activa do concelho por sectores de actividade

11
Como se pode observar a estrutura sócio-profissional revela o seu carácter eminentemente rural:
cerca de metade da população activa dedica-se à agricultura. São ainda importantes, em termos
da ocupação da força de trabalho, os sectores da construção e da administração local. A
industrialização é débil: menos de 10% dos activos, quase tantos como os ocupados na
exploração mineira.

1.6.2 - O vale de Vila Pouca de Aguiar

O agricultor do vale de Vila Pouca de Aguiar enquadra-se bem na tipologia


genérica do agricultor de Trás-os-montes. Este encontrava-se isolado do mundo exterior devido
às barreiras naturais que se erguem entre ele, obrigando-o desta forma a viver em comunidades
fechadas, com poucos contactos, para além do circulo restrito das pessoas da aldeia ou das
aldeias mais próximas.
A agricultura era praticada sob o ponto de vista da auto-suficiência, apoiada em explorações do
tipo familiar e estabelecendo pequenas trocas com o exterior. O espirito de comunidade, ainda
se faz sentir com formas ancestrais como o “touro do povo”, a “eira e o forno do povo”, o baldio
da aldeia em regime de “vezeira”, bens comunitários e entre ajuda nas tarefas agrícolas.
Hoje em dia esta tipologia dissipa-se, facto que se deve, ao aumento das vias de comunicação
que acabaram por estreitar os laços entre as aldeias e as cidades, permitindo a entrada do
chamado “progresso”. No entanto o agricultor ainda vê a terra como uma fonte de poder e
prestígio. De uma forma geral a terra ainda é explorada no sentido de produzir para a família e
poucos a utilizam de uma forma intensiva.
O vale de vila pouca de aguiar é constituído por 3 freguesias, sendo elas: Soutelo de Aguiar,
Telões e Vila Pouca de Aguiar. Actualmente, e segundo os Censos de 1991, o vale de Vila Pouca
de Aguiar apresenta a seguinte população:

Quadro 7: Caracterização da população do vale de Vila Pouca de Aguiar

População presente

Vla. Pouca Soutelo Telões

3.169 1.268 1.772


Fonte: Censos 1991

12
O povoamento do vale dispersa-se ao longo da EN2, a principal via de comunicação, e é
acompanhado por uma outra característica: a estrutura relativamente concentrada, em
aglomerados de pequena dimensão, típica desta região do país. Do quadro que se segue pode-se
constatar esta afirmação pela observação do numero de aldeias que rodeiam o vale e o numero
de habitantes que nelas reside:

Quadro 8: População presente e nº de famílias nas aldeias do vale

13
Quadro 9 : Resultados do inquérito à idade da população do vale (%)

< 18 18 - 34 35 - 44 45 - 54 55 - 65 > 65

10,2 18 7,1 30 16,7 18

Fonte: Baseado em Ferreira (1995)

Quadro 10 : Inquérito ao nível de instrução no vale (%)

Nenhum Primário Preparat. 7º ao 9º 10º ao 12º Médio Superior

18,2 45 18,9 6,5 5,2 4,1 2,1

Fonte: Baseado em Ferreira (1995)

O nível de instrução como se pode constatar é bastante baixo. Os níveis de instrução não
superiores à primária representam 63,2% do total da população. A actual crise e as dificuldades
de emprego associadas a esta taxa de instrução conduziram a um forte fluxo migratório sobretudo
na classe etária (18-34 anos), para os países do norte da Europa.

1.8 - Caracterização da exploração agrícola

1.8.1 - O Concelho

Segundo dados do Estudo de Fomento Pecuário de Trás-os-montes (1978), a


região de Vila Pouca de Aguiar caracteriza-se por um xadrez de culturas constituído por: Vinha,
Oliveira, Arvores de fruto, Culturas hortícolas, Trigo, Centeio, Milho e Prados permanentes de
regadio.
De acordo com dados constantes no RGA (1989), o concelho de Vila Pouca de Aguiar possui
2.491 explorações sabendo que a área total ocupada por elas é de 14.561 hectares, abrangendo
34% da superfície territorial. A área total média por exploração é de 5,85 hectares, e a superfície
agrícola útil é de 9.461, havendo um SAU médio por exploração de 3,9. O numero médio de
blocos por exploração é de 8,3 e a área média de SAU por bloco é de 0,47.
Os quadros que se seguem permitem caracterizar de uma forma simples as explorações do
concelho de Vila Pouca de Aguiar.

14
Quadro 9 : Total das explorações no Concelho (%)

Matas e florestas
SAU SANU Outras
s/ cult. sobcoberto

66,21 25,54 2,68 5,56

Fonte: RGA (1989)

Quadro 10 : Repartição da SAU das explorações (%)

Culturas Prados e Pastagens


Terras aráveis Horta familiar
permanentes Permanentes

52,7 1,2 10,7 35,7


Fonte: RGA (1989)

Quadro 10 : Repartição das explorações por classe de área (%)

0 - 1 Ha 1 - 5 Ha 5 - 20 Ha 20 - 50 Ha > 50 Ha

10,5 65,1 23,2 1,1% 0,1


Fonte: RGA (1989)

A maior parte das explorações agrícolas possui uma área < a 5 hectares (cerca de
75,6% do total das explorações). As explorações encontram-se bastante fragmentadas de
pequenas parcelas, na maioria dos casos muito afastadas, de formas irregulares e com fracos
acessos. Este factor é um dos grandes responsáveis pela baixa rentabilidade das explorações.
Pode-se concluir que a pulverização da propriedade é uma das maiores condicionantes para o
desenvolvimento da agricultura no concelho.
As formas predominantes de exploração encontram-se descritas no quadro abaixo:

Quadro 5: Formas de exploração

Exploração simples

Total de explorações C. própria Arrendamento Outras Exploração mista

Nº Área Nº Área Nº Área Nº Área Nº Área

3.543 36.446 1.837 30.863 54 81 88 367 1.564 5.137

Fonte: INE - recenseamento agrícola, 1979.

15
Através da análise dos dados deste quadro constata-se que a forma de exploração
predominante é por conta própria, correspondendo a 51,8% das explorações do concelho. Este
valor hoje em dia será maior em virtude do aumento de estímulos financeiros dados aos jovens
agricultores por conta própria.
Segundo o PDAR (1992), verifica-se que predominam as explorações do tipo familiar (95%).
Neste tipo de exploração toda a actividade agrícola é feita pelo agregado familiar, no entanto,
em alguns casos recorre-se a um assalariado, não sendo o trabalho deste superior ao executado
pela família, aliás, tendência que é confirmada também no vale de Vila Pouca.

16
1.8.2 - O vale de Vila Pouca de Aguiar

As explorações agrícolas do vale de Vila Pouca são fundamentalmente do tipo


familiar, sabendo que 57,8% do total da população do vale tem como ocupação principal a
agricultura, e somente 38,9% têm outra actividade profissional, os restantes 3,3% não têm
qualquer tipo de ocupação (Ferreira, 1995). O empresário é quase sempre o chefe de família,
muitas vezes numerosa. Os restantes membros da família também dão o seu contributo quer a
tempo inteiro quer parcial à exploração.

A forma como o empresário explora a terra pode ser representada através do seguinte quadro:

Quadro 5: Inquérito á forma de exploração no vale de Vila Pouca (%):

Conta própria Arrendamento Parceria Empréstimo

Superfície total SAU Superfície total SAU Superfície total SAU Superfície total SAU

83 80,1 8,1 10,1 7,3 7,2 1,6 2,8

Fonte: Baseado em Ferreira, 1995.

A exploração da terra, como já foi referido faz-se fundamentalmente com mão-de-obra familiar,
sabendo que 34,3% da mão-de-obra familiar se dedica à exploração a tempo inteiro e os restantes
65,7% dedicam-se à exploração a tempo parcial (Ferreira, 1995). No entanto, quando necessário
recorre-se à mão-de-obra assalariada temporária, esta mão-de-obra é contratada para qualquer
tipo de trabalho, sempre que o empresário sinta falta dela, mas é fundamentalmente em épocas de
ponta, como: roçar o mato, tirar estrumes das “cortes do animais”, arrumar os fenos, plantações e
arranque de batatas, sachas e ensilagens, etc... . Segundo Ferreira (1995) são pagas 23,8 jornas
por ano por exploração, das quais 23,1 são pagas a homens e apenas 0,7 a mulheres. Algumas
explorações do vale, possuem no entanto, mão-de-obra permanente, sabendo que 10% têm um
empregado permanente e 5% têm 2 assalariados permanentes.
Uma modalidade antiga, fortemente enraizada, é a troca de trabalho com os vizinhos, este tipo de
trabalho por vezes torna-se bastante importante, sobretudo em períodos de sementeira e colheita
como é o caso das batatas e fenação.
Em suma, as empresas do vale possuem um carácter tipicamente familiar (92,5% dos trabalhos
são efectuados pelo agregado e 7,5% com recurso à mão-de-obra exterior).

17
O trabalho feito por animais sofreu uma redução acentuada nos últimos 10 anos.
Todavia a pequena dimensão das parcelas continua a exigir o esforço animal em muitos
trabalhos. O tractor e as alfaias a ele associados são cada vez mais usados. Com o tractor estão
normalmente associados: o reboque, a charrua, o escarificador, a grade de discos, o sulcador e a
fresa. Com a tracção animal, está o arado de pau, arado de ferro, o carro de bois. Nas culturas
forrageiras, que têm uma importância bastante relevante na economia do vale, faz-se uso da
segadeira e enfardadeira. Para a cultura da batata e da vinha são utilizados os pulverizadores e/ou
atomizadores. Dentro das pequenas alfaias inclui-se a sachola, o ancinho, a gadanha, a foice e
outros. O centeio é colhido com ceifeira debulhadora e as culturas de regadio excepto quando a
rega se faz por gravidade, necessitam de motores de rega.
A grande parte (60%) das explorações do vale têm tractor próprio e as restantes alugam ou usam
emprestado. Todas as explorações que possuem tractor, têm também outras alfaias a ele
associadas, como se pode constatar no quadro abaixo:

Quadro 10: Inquérito à representatividade das alfaias nas explorações com tractor:

Alfaias %
Reboque 100
Charrua 100
Escarificador 100
Sulcador 45
Grade de discos 35
Fresa 20
Fonte: Ferreira (1995)

As explorações do vale, quanto ao restante equipamento próprio podem-se resumir no quadro nº

Quadro 10: Inquérito ao nível de equipamento das explorações:

Equipamento % de explorações
Grade de bicos 95
Motor de rega 85
Atomizador 80
Pulverizador 70
Arado de pau 65
Fonte: Ferreira (1995)

18
Segundo Ferreira (1995), o rendimento familiar das explorações do vale é
fundamentalmente obtido à custa da produção animal, em 85% das explorações; em 10% das
explorações é a produção de batata e em 5% das explorações são as forragens. As famílias do
vale de Vila Pouca vão buscar os seus rendimentos às actividades constantes no quadro abaixo:

Quadro 4: Rendimentos das famílias:

Produtos
Actividades Remessas do Juros Abono de
obtidos da Reformas
não agrícolas estrangeiro bancários familia
exploração

Principal fonte de
45% 30% 15% 5% 5% 0%
rendimento

Segunda fonte de
rendimento 45% 30% 12,5% 0% 12,5% 0%

Fonte: baseado em Ferreira, 1995.


Segundo dados retirados do PDAR (1992), o índice de rendimento do concelho é de 1,1, e este é
dos mais baixos da zona de influência do PDAR- Alto Tâmega e Alvão-Padrela.
De acordo com o inquérito, elaborado em 1995, 45% dos agricultores eram sócios de
cooperativas.
Do mesmo inquérito, constatou-se que só 10% dos empresários agrícolas tinham formação
agrária, 5% tinham o curso de jovens agricultores e 5% cursos técnicos agrários. Os restante 90%
não possuíam qualquer formação agrícola.
Em relação aos projectos de melhoria, 10% das explorações implantaram projectos do tipo 797
para reconversão de bovinos em ovinos ou de bovinos de leite em bovinos de carne, os restantes
90% não apresentaram nenhum projecto. Hoje em dias algumas áreas agrícolas estão a ser
convertidas em áreas florestais ao abrigo de projectos do tipo 2080.

19
1.9 - As principais culturas no vale de vila pouca

A área agrícola do vale é utilizada fundamentalmente para o cultivo de forragens,


no entanto são também representativas as culturas como a batata, milho e os prados, como se
pode constatar no quadro abaixo:

Quadro 11 : Numero de parcelas e área média/ exploração das principais culturas

A área de vinha aqui considerada encontra-se apenas a rodear, totalmente ou parcialmente, as


parcelas cultiváveis (o mesmo se pode dizer sobre a área de fruteiras). Entre as principais
culturas, em especial a batata e o milho, é comum fazer-se culturas intercalares. As culturas
intercalares são: ferrã ( centeio cortado verde para dar aos animais), o nabal, o azevém ( vulgo
“erva joeira”) e a consociação aveia e ervilhaca (encontrada somente nas grandes explorações do
vale).

Quadro 12 : % da área utilizada nas diferentes culturas em relação à superfície agrícola útil

20
Segundo Ferreira (1995), as forragens no vale de Vila Pouca de Aguiar representam 45% da
superfície agrícola útil, os prados 22%, o milho 15%, a batata 6% e o centeio 3%.
Sabendo que a área média por elas ocupada pode ser representada através do seguinte gráfico:

Quadro 13 : Área média ocupada pelas culturas

Deste gráfico pode-se concluir que as forragens e os prados estão em parcelas de maiores
dimensões (0,9 há a 0,7 há ), quando comparadas com as parcelas usadas para o milho (0,4 há),
batata (0,2 há) e centeio (0,2 há). Como termo de comparação, para a área do concelho, mostra-se
o quadro abaixo :
Quadro 14 : Utilização do solo no concelho de Vila Pouca de Aguiar

Área (Ha) UF
Prados permanentes de 1.368.000
regadio (lameiros) 285

Prados permanentes de 573 1.719.000


sequeiro (lameiros)
Área total de regadio de cultura
agrícola e cultura agrícola 4.610 18.440.000
condicionada
Área total de sequeiro de cultura
agrícola e cultura agrícola 1.624 1.624.000
condicionada
Baldios, incultos e áreas 18.016 -------------
florestadas

--------------
Total 23.151.000
Fonte: E.F.P. para trás-os montes, 1978.

21
2 - AS ACTIVIDADES ECONÓMICAS DO VALE

2.1 - Produção vegetal

De acordo com o inquérito efectuado ao vale de vila pouca por Ferreira


(1995), as cultivares que caracterizam o sistema de agricultura nesta região são por ordem de
dominância: Forragens (como complemento da produção de bovinos e mais raramente de
ovinos e caprinos), Pastagens, Milho, Batata e Centeio.

2.1.1 - As Forragens:
São utilizadas fundamentalmente como fonte de alimento do gado bovino, nas
alturas em que o gado não pode sair para pastar, compensando a falta de pastos que ocorre
pelo inverno.
A ferrã (vulgarmente chamada nesta zona), é semeada em Outubro, no início das primeiras
chuvas que coincide normalmente com o corte do milho (cultura bem estrumada e com
carácter melhorador). Os trabalhos culturais inerentes a esta cultura compreendem uma
pequena lavoura e uma gradagem. É prática corrente nesta região fazer sementeira, sem que
para isso se proceda a trabalhos aratórios vulgares, à qual tradicionalmente se chama “atupir
erva”, que consiste numa sacha superficial após terem sido lançadas as sementes; esta
operação faz-se em dias de fraca intensidade pluviométrica.
As cultivares normalmente utilizadas para a produção da forragem são (questionário
efectuado a alguns agricultores da região): Azevém permanente, trevo ladino, erva molar, e
trevo violeta (para terrenos ácidos com disponibilidade de água), entre outras....
As estrumações, resumem-se aos dejectos dos animais em pastoreio e as adubações
usualmente não se fazem, no entanto alguns agricultores, depois do primeiro corte, aplicam a
lanço, Foskamónio ou o Nitrolusal como adubação de cobertura, mas sempre em baixas
dosagens por hectare. De salientar que as forragens são sempre colocadas em terrenos mais
férteis e mais irrigados de características aluvionares.
As forragens sofrem cortes sucessivos (mais ou menos 3 cortes, em função da condução) e
por volta do mês de Maio deixam de ser cortadas, retiram-se-lhes os gados (no caso de ter
sido pastoreada), para que do campo se possam colher os fenos, que ocorre vulgarmente no
mês de Julho.
As regas são fundamentais para que se possam colher boas forragens e posteriormente fenos
de boa qualidade, com este sentido, as áreas destinadas a forragens ou são regadas por
aspersão ou, mais usualmente, por gravidade, estando o seu cultivo condicionado a este
factor: a existência de água.

22
2.1.2 - As Pastagens:

2.1.2.1 - As Pastagens Permanentes ou Naturais:


Encontram-se fundamentalmente em zonas mais pobres do tipo sequeiro o que corresponde a
locais mais declivosos com regadio imperfeito. No vale de Vila Pouca, este tipo de pastagens
têm pouca representatividade, já o mesmo não se pode dizer das encostas que o ladeiam. Este
tipo de pastagens destinam-se fundamentalmente ao aproveitamento directo pelo gado bovino
autóctone, principalmente no Inverno.
Segundo, Pires (1994) citando Teles, a vegetação deste tipo de lameiros pode ser incluída nas
seguintes associações:
Classe Molinio-Arrhenatheretea
Ordem Arrhenatheretalia
Aliança Cynosurion cristati
Associações Anthemido-Cynosuretum
Bromo-Cynosuretum
Aliança Arrhenatherion Elatioris
Associação Agrosto-Arrenatheretum bulbosi
Ordem Molinietalia
Aliança Juncion Acutiflori
Associações Peucedano-Juncetum Acutiflori
Hyperico-Juncetum Acutiflori

As associações de vegetação dominantes na Região de Vila Pouca de Aguiar são:


Anthemido-Cynosuretum, Agrosto-Arrhenatheretum Bulbosi e Peucedano-Juncetum
Acutiflori.
As espécies características e diferenciais das associações de vegetação são:
Anthemido-Cynosuretum:
- Anthemis nobilis L.
- Holcus mollis L.
- Galium broterianum Bss. E Reut
- Orchis sesquipedalis Willd.
- Centaurea nigra L. ssp rivularis (Brot.) P. Cout.
- Gladiolus illyricus Koch.
- Anthoxanthum amarum Brot.

23
Agrosto-Arrhenatheretum bulbosi:
- Alopecus brachystachyus (L.) Hamfe
- Dactylis glomerata L. ssp. glomerata
- Anthemis nobilis L.
- Centaurea nigra L. ssp. rivularis (Brot.) P. Cout.
- Holcus mollis L.

Peucedano-Juncetum Acutiflori:
- Potentilha erecta (L.) Hamfe
- Peucedanum lancifolium Hoffgg. E Link.
- Paradísea lusitanica (P. cout.) Samp
- Carex panicea L.
- Carex camposii Bss. E Reut.

2.1.2.2 - Os Lameiros de Feno:


São os mais expressivos no Vale de Vila Pouca e os que contribuem mais para a alimentação
do efectivo bovino. São prados de regadio ou regadio imperfeito aproveitados em regime
misto de corte e pastoreio ao longo do ano. São representativos de declives pouco acentuados
e a sua forma de condução é igual à descrita no ponto 2.1.1.

2.1.3 - Os cereais:
Na região de Trás-os-Montes os cereais ocupam uma área de 110.900 hectares distribuídos
por 72.043 explorações (PDAR, 1992). A cultura do centeio no concelho assume primordial
importância (45,5%). Esta região constitui assim a maior produtora deste cereal no
continente.

Quadro 5: Área ocupada por cereais no concelho

1989
1979 Milho Trigo Centeio Total

2.916 1.137 14 1.389 2.540


Fonte: PDAR, 1992.

24
Nesta região prevê-se uma quebra acentuada de rendimento dos produtos cerealíferos,
motivada por um lado, da maior parte dos solos onde são cultivados os cereais, terem fraca
aptidão para estas culturas e também pela retirada de incentivos por parte do governo
Português devido á entrada de Portugal na CE.

Quadro 5: Numero de explorações e áreas de cereal no vale de Vila Pouca de Aguiar

Áreas (hectare) Área /


Nº Área total
exploração
explorações Milho Trigo Centeio (ha)

Vl. Pouca 152 85 0,5 58 143,5 0,9

Telões 261 93 0 195 288 1,1

Soutelo 186 199 0 112 311 1,7

Total 599 377 0,5 365 742,5 1,2


Fonte: PDAR,1992.

2.1.3.1 - O Milho:
É uma cultura que pode ser semeada em sequeiro ou em regadio, destinando-se para este
efeito os terrenos mais férteis, frescos e fundos, com abundância de água para o milho de
regadio e os solos mais esqueléticos do tipo leptossolos, para o milho de sequeiro. No entanto
as operações culturais que antecedem à sua sementeira são exactamente as mesmas, e
compreendem a incorporação de estrume, correcção calcária (em solos ácidos) e adição de
um adubo composto. Posteriormente procede-se a uma lavoura seguida de gradagem que visa
o enterramento de estrume e do material orgânico proveniente da cultura anterior, que
normalmente é uma forragem.
A sementeira do milho de sequeiro é vulgarmente feita a lanço (com a finalidade de ficar
mais denso), já a do milho de regadio é feita à linha, com o auxilio de um semeador mecânico
ou manualmente ao rego. A sementeira dos milhos ocorre durante os meses de Junho e Julho.
Por altura da fase de “joelheiro”, procede-se a uma sacha com amontoa, visando também o
enterramento das ervas daninhas (a aplicação de herbicida está restrita às grandes explorações
e somente às que produzem milho de regadio).
As primeiras regas no milho de regadio fazem-se somente quando este demonstra, através do
enrolar das folhas, que está com carência de água e estas vão-se sucedendo, quer por aspersão
quer por gravidade, consoante a disponibilidade de água que cada agricultor possui.

25
O milho de sequeiro é destinado para o corte em verde, sendo cortado cedo, nunca chegando
a amadurecer o grão (as variedades utilizadas para este fim são do tipo regionais).
O milho de regadio é desbandeirado, destinando-se a influrescência à alimentação animal, no
entanto é quando o grão se encontra completamente maduro que se efectua o derradeiro corte.
É prática ainda corrente, nesta região, acelerar a maturação do grão através da exposição
deste, pela desfolhada parcial da espiga, ao sol.
O grão pode ser aproveitado para farinhas e farelos, ou para dar assim mesmo aos animais da
exploração. Neste tipo de aproveitamento o restante da planta é seco e fornecido neste estado
aos animais. É também usual, em efectivos pecuários leiteiros o recurso á silagem, ou seja à
transformação total da planta em silagem, tornando-se esta, devido ao seu alto valor nutritivo,
um recurso nos períodos de maior rigor ou em fases em que o efectivo necessita de um
complemento alimentar.

2.1.3.2 - O Trigo:
Em virtude da sua representatividade ser quase nula no vale de Vila Pouca de Aguiar (ver
quadro nº ), a sua abordagem foge ao âmbito deste trabalho.

2.1.3.3 - O Centeio:
É o cereal mais rústico, dos cereais de Inverno,estando limitado o seu cultivo no vale, aos
terrenos pobres do tipo Leptossolos e ácidos. Este cereal devido á sua rusticidade não
necessita de grandes operações culturais, sendo suficiente uma lavoura seguida de gradagem
com posterior sementeira. A incorporação de fertilizantes normalmente não existe, estando a
fertilização a cargo da cultura anterior, que pode ser o milho, o mesmo acontece com a
eliminação de ervas daninhas, através da aplicação de herbicidas que raramente é feita.
O centeio é destinado á alimentação animal, podendo ser pastoreado em verde, cortado em
verde e ainda cortado quando completo o seu estado de maturação.

26
2.1.4 - A Batata:
É o tubérculo plantado por excelência no vale de Vila Pouca, principalmente nas suas áreas
mais férteis. A área disponibilizada para esta cultura pode-se resumir nos quadros abaixo:

Quadro 5: Área ocupada pela cultura da batata no concelho

Cultura principal Cultura secundaria


Total
Nº explorações Área (Há) Nº explorações Área (Há)

1.859 1.034 61 11 1.045

Fonte: RGA, 1989.

Quadro 5: Área ocupada pela cultura da batata no vale de Vila Pouca

Freguesia Nº Explorações Área (há) Área/ exploração

Vila Pouca de Aguiar 119 55,74 0,5

Telões 233 123,81 0,5

Soutelo 169 117,77 0,7


Fonte: RGA, 1989.

A batata na região para além de constituir base da alimentação também é, dependendo dos
anos, fonte de rendimento dos agricultores.
O cultivo deste tubérculo, inicia-se em Abril-Maio com a preparação do terreno, que deve ser
bastante cuidada, procedendo-se a uma lavoura profunda a que se seguem lavouras
superficiais e gradagens em número suficiente, para criar um solo fofo e bem arejado. A
lavoura incorpora normalmente no solo o resto da cultura anterior e o estrume (mais ou
menos 30 Ton/hectare), previamente distribuído por todo o terreno. A preparação do solo é
completada com uma gradagem e uma escarificação.
Os tubérculos na altura da plantação deverão estar convenientemente abrolhados, de forma a
se obter uma emergência mais rápida. Este aspecto tem grandes vantagens pois pode permitir
plantar mais tarde, para fugir aos prejuízos causados pelas geadas tardias, sem que devido a
isso se atrasem as colheitas.
A plantação é feita quando as condições climatéricas e de solo sejam convenientes, ou seja, o
solo se encontre húmido e com arejamento satisfatório e a temperatura do solo e ar permitam
que os brolhos formados nos tubérculos continuem a desenvolver-se regularmente.

27
Plantam-se primeiramente os terrenos mais altos e delgados, aqueles que a cultura mais se
poderá ressentir dos calores de verão ficando para o fim os mais fundos, os quais sendo mais
húmidos e “geadeiros” só mais tarde oferecem condições favoráveis à cultura.
A plantação pode ser do tipo manual ou à máquina (plantador semi-automático). Segundo
Ferreira (1995) os métodos de plantação utilizados no vale têm as seguintes percentagens:
- 34,5%: Plantação manual;
- 24,1%: Fazem a abertura dos regos com tracção animal e plantação manual;
- 19%: Praticam ainda o rapão (plantação sem lavoura);
- 13,8%: Abertura dos regos com tracção mecânica e plantação manual;
- 5,2%: Abertura dos regos e cobertura dos tubérculos com tracção mecânica;
- 1,7%: Abertura dos regos e cobertura dos tubérculos com tracção animal.

Na plantação a abertura dos sulcos é efectuada, normalmente com o tractor utilizando o


sulcador (escarificador munido de aivequilhos, apenas com 4 dentes, com a distância entre
eles de mais ou menos 60 cm); existem ainda alguns agricultores que fazem a abertura dos
sulcos com animais, utilizando para isso o arado de pau. Após a abertura dos regos é
distribuído manualmente o adubo ( o mais usual na região é o 7:14:14, e a mistura de adubos
simples, como : Nitrolusal 20,5%, Superfosfato 18% e Cloreto de Potássio; a maioria dos
agricultores utiliza o composto dado que não é necessário efectuar a mistura dos adubos), ao
longo destes, ou seja o adubo é localizado no rego, próximo dos tubérculos plantados.
Empiricamente, há agricultores que utilizam como regra de fertilização quimica a aplicação
por cada 1 Kg de batata 1 Kg de adubo. A análise de terras é pouco frequente para avaliar o
índice de fertilidade do solo.
Para a plantação manual os compassos usados são o 60 x 30 cm e para a plantação mecânica
são de 60 x 25 cm, sendo esta última ainda uma prática pouco disseminada no vale.
As variedades utilizadas são por ordem decrescente de importância: Kennebec, Désirée e
Spunta.
Quinze dias após a plantação faz-se uma gradagem com o fim de esmiuçar a terra e desfazer a
crosta que se forma à superfície e que iria dificultar o desenvolvimento da planta. Após a
gradagem aplica-se o herbicida e cerca de 1 mês mais tarde faz-se uma amontoa. Os
agricultores que não utilizam herbicida são os que têm bastante disponibilidade de mão-de-
obra, nomeadamente familiar. Estes fazem 1 mês após a plantação (planta com mais ou
menos 10 cm de altura) a primeira sacha e 20 dias depois desta uma 2ª sacha com amontoa.
Dos tratamentos fitossanitários, o controlo do escaravelho da batateira e ao míldio são os
mais frequentes e praticamente efectuados por todos os agricultores.

28
Segundo o inquérito efectuado por Ferreira (1995) à percentagem de agricultores que fazia
tratamentos fitossanitários na cultura da batateira, obtiveram-se os seguintes resultados:
- 86,2% das explorações fazem tratamento ao míldio e ao escaravelho;
- 8,6% não fazem qualquer tipo de tratamento;
- 3,5% das explorações fazem tratamento exclusivo ao míldio;
- 1,7% das explorações fazem tratamento exclusivo ao escaravelho.
O número de vezes que faziam o tratamento variava entre 0 e 4.

A cultura da batateira na região é normalmente regada e para isso os agricultores fazem-no no


mês de Julho, normalmente regas com intervalo de 1 semana e na maioria dos casos é feita
por alagamento que embora fáceis de executar não permitem dotações de rega homogéneas,
uma vez que o início do sulco recebe muito mais água do que o final do mesmo,
particularmente em sulcos extensos, no entanto alguns agricultores do vale já executam regas
por aspersão. Segundo o inquérito efectuado por Ferreira, quanto á utilização e
disponibilidade de água temos:

Numero de regas efectuadas na cultura da Batateira :


0 regas: 24,6% ;
1 rega: 12,3%;
2 regas: 26,3%;
3 regas: 21,2%;
4 regas: 7%;
> 4 regas: 8,8%.

Método de rega:
Por alagamento: 48,8%;
Por aspersão: 20,9%;
Por chuveiro: 20,9%;
Por sulcos: 9,3%.

Origem da água de rega:


Regadio colectivo: 37,2%;
Nascente próprio: 30,2%;
Rio: 25,5%;
Poços: 9,3%.
55,8% das parcelas regadas tinham disponibilidade ilimitada de água.
29
2.1.5 - Outras Culturas:

2.1.5.1 - A Oliveira:
O concelho de Vila Pouca de Aguiar apresenta uma área de olival pouco significativa:

Quadro 5: Evolução das áreas de olival (ha) no concelho

1979 1989

28 59

Fonte: PDAR, 1992.

Verifica-se por análise do quadro que o aumento de área de olival, para esta situação contribui
fortemente o programa de restruturação do olival no âmbito do PEDAP.

Quadro 5: Numero de explorações e áreas de oliveira no Vale de Vila Pouca de Aguiar

Freguesias Nº Explorações Área (ha) Área/ Exploração


Vl. Pouca 0 0 0

4 1 0,3
Telões
0 0 0
Soutelo
Fonte: PDAR, 1992.

O concelho de Vila Pouca de Aguiar abrangida pelo PDAR labora somente 3,.8% da
totalidade da produção de azeite, possuindo para tal somente 3 lagares, como se pode
constatar no quadro abaixo:

Quadro 5: A produção de azeite no concelho

Nº lagares Azeitona laborada (Ton) Produção azeite (litros) Bagaço azeitona (Ton)

3 236 27.420 77,88


Fonte: PDAR, 1992.

30
2.1.5.2 - A fruticultura:
Nesta zona, a maioria da área com fruteiras significa essencialmente paisagem, tradição, em
que as pessoas cultivam nos quintais, quase sempre para consumo da casa, sendo pouco
comercializada, já que esta área apresenta outras alternativas bem mais válidas, logo a esta
singularidade de árvores não se pode chamar de pomares.

Quadro 5: Nº de explorações e respectivas áreas para os frutos frescos no concelho:

Macieira Pereira Pessegueiro Cerejeira

Exp. Área (ha) Exp. Área (ha) Exp. Área (ha) Exp. Área (ha)

70 25 37 7 10 6 6 6
Fonte: RGA, 1989

Das quatro variedades de frutos, é a maçã que se encontra mais disseminada, aparecendo por
isso em maior quantidade. Vila Pouca é um concelho com poucas propensões para a
fruticultura.
No que diz respeito aos frutos secos a amendoeira e o castanheiro são os que encontram
maior representatividade no concelho. Quanto á área ocupada pela cultura da amendoeira,
pode se resumir a sua expressividade através do seguinte quadro:

Quadro 5: Área ocupada pela cultura da amendoeira e nº de explorações no concelho:

Nº explorações Área (ha)

2 1
Fonte: RGA, 1989

Quanto à castanha, em 1990, a campanha em Trás-os-Montes teve um aumento significativo


nos quantitativos produzidos, no entanto tem havido alguns problemas fitossanitários,
essencialmente devido a pragas como a tinta e o cancro do castanheiro. Nesta zona
predominam as espécies Longal e Judia.

Quadro 5: Área de soutos e produção de castanha no concelho:

1979 1989 Produção (Ton.)

408 405 (619 explorações) 3.256


Fonte: RGA, 1989

31
2.1.5.3 - A viticultura:
A área e o numero de explorações pode se resumir no seguinte quadro:

Quadro 5: Área e nº de explorações no concelho de Vila Pouca de Aguiar:

VQPRD Outros vinhos

Exp. Área (ha) Exp. Área (ha)

- - 823 488
Fonte: PDAR, 1992

A viticultura no concelho de Vila Pouca de Aguiar tem pouca representatividade, sendo


fundamentalmente encontrada na bordadura dos terrenos, sobre a forma de latada. O Vinho é
do tipo verde e ainda se encontra o chamado “morangueiro”.

Quadro 5: Numero de explorações da cultura da vinha no Vale de Vila Pouca de Aguiar

Freguesias Nº Explorações Área (ha) Área/ Exploração


Vl. Pouca 62 21,69 0,3

34 12,41 0,4
Telões
10 6,5 0,7
Soutelo
Fonte: PDAR, 1992.

32
2.2 - A produção pecuária:

Segundo Ferreira (1995), no Vale de Vila Pouca encontra-se a raça frisia e maronesa. A
primeira representa 80,7% e a segunda 19,3% do efectivo total. A raça frisia é utilizada para a
produção de leite (70,6% do efectivo turino) ou para produção de carne (29,4% do gado
turino). Este tipo de animais não é usado para trabalho. A raça maronesa é usada
principalmente na tracção animal (64,1% do efectivo maronês) e também para a produção de
carne (35,9% do efectivo maronês). Estes animais não são usados na produção de leite.
Quanto aos ovinos, segundo o mesmo autor, a sua produção destina-se a fornecer lã e carne,
os caprinos somente a produção de carne.

Quadro 5: Principais espécies pecuárias no concelho:

Bovinos Ovinos Caprinos

Total Vacas leiteiras Total Fêmeas reprodutoras Total Fêmeas reprodutoras

6.905 1.441 4.055 3.257 4.962 3.944


Fonte: RGA, 1989

2.2.1 - A produção de carne:

2.2.1.1 - Os bovinos:
Nos últimos 5 anos assistiu-se a um aumento do efectivo leiteiro de mais de 50% em prejuízo
das raças autóctones que tiveram um decréscimo na ordem dos 20%. No concelho de Vila
Pouca de Aguiar, o efectivo bovino da raça frisia mais que duplicou, enquanto que o efectivo
da raça maronesa baixou 30% (PDAR, 1992). Esta alteração está relacionada com a estratégia
das ajudas comunitárias que incentivaram as empresas no sentido de incrementar a produção
leiteira. A distribuição do bovino maronês é apresentada no anexo VI.

Quadro 5: Evolução do efectivo bovino de carne no concelho:

1989 1989

5.464 3.945

Fonte: RGA, 1989.

33
Quadro 5: Distribuição do bovino maronês do concelho:

Nº criadores Total animais

602 1.558
Fonte: Associação de criadores Maronês, 1991

As raças de bovinos encontram-se actualmente muito diversificadas, quer, como foi


anteriormente referido pela introdução da raça frisia, quer pelos cruzamentos efectuados com
raças selectas, nomeadamente o charolês (PDAR, 1992).

Quadro 5: O gado bovino no concelho de Vila Pouca de Aguiar

Tipo 3.200 U.F. 2.600 U.F. 2.300 U.F.


Cabeças normais- vaca leiteira de 550 Kg e 3200
Kg de leite 7.234 ------- -------
Bovino mirandês- 600 Kg e 1000 litros de leite
------- 8.930 -------
Bovino barrosão ou maronês - 450 Kg e 1000
litros de leite ------- ------- 10.050
Fonte: Baseado em Estudo de Fomento Pecuário, 1978.

2.2.1.2 - Os ovinos e caprinos:


Os efectivos regionais de pequenos ruminantes, conheceram um período de grande expansão,
entre 1979 e 1989, devido sobretudo á atribuição de prémios e indemnizações aos criadores
através da CE. No entanto em 1991 começava-se a denotar um certo desinteresse pelo sector.
O efectivo ovino existente na zona do PDAR é composto maioritariamente pelas raças churra-
badana e galega bragançana.
Quanto aos caprinos, a raça mais representativa é a serrana.

2.2.2 - O leite:
O concelho de Vila Pouca de Aguiar teve um forte incremento do sector leiteiro nos últimos
anos, quer devido à criação de salas de ordenha colectivas, quer devido à existência de um bom
sistema de recolha de leite, assim comparando temos:

Quadro 5: Evolução do nº de vacas leiteiras no concelho:

1978/79 1991

251 2.902
Fonte: PDAR, 1992

34
Este aumento também se deveu aos fortes incentivos, que nos últimos anos se fizeram a sentir,
assim houve um forte investimento por parte dos agricultores em detrimento de outras
actividades como a batata, milho grão e outros cereais.

Quadro 5: Nº de criadores por classe de animais:

Classe de animais

1-3 4-6 7-10 11-15 16 ou + Total

661 128 59 20 24 892


Fonte: ADS, 1991

Pode-se concluir, e com base no quadro, que a maior parte dos produtores de leite possuem
entre 1 e 3 vacas leiteiras, o que define bastante o tipo de exploração, em que assenta a
produção de leite no concelho.
Este animais são alimentados à base de erva proveniente dos lameiros e de algumas forragens.
E o leite destina-se fundamentalmente às cooperativas.
O numero de vacas leiteiras no vale de Vila Pouca de Aguiar é distribuído pelas suas seguintes
freguesias:

Quadro 5: Nº de vacas leiteiras no vale de Vila Pouca de Aguiar:

Freguesias Nº de vacas

Vl. Pouca 207

442
Telões
901
Soutelo

Total 1.550

Total concelho 2.902


Fonte: PDAR, 1992

As freguesias do vale de Vila Pouca de Aguiar contribuem em 53,4% para o total do efectivo
do concelho.
No quadro da página seguinte pode-se observar o tipo de estrutura da exploração pecuária que
está vigente no vale de Vila Pouca:

35
Quadro 5: Nº de criadores por classes de vacas leiteiras para o vale de Vila Pouca

Freguesias 1-3 4-6 7-10 11-15 11-15

Vl. Pouca 44 6 5 2 2

107 21 8 3 3
Telões
85 35 19 9 10
Soutelo
236 62 32 14 15
Total
Fonte: PDAR, 1992.

36
3 - CONCLUSÕES

Este trabalho tem como objectivo final, caracterizar uma região quanto ao sistema de
agricultura nela vigente e enquadrá-lo dentro da nomenclatura de caracterização dos sistemas
de agricultura. Assim sendo o vale de Vila Pouca de Aguiar, e segundo o Sr. Professor Doutor
Nuno Moreira (num seminário da ESAB), está enquadrado no sistema Batata-Centeio-
Pecuária.
A representação esquemática do sistema encontra-se em anexo.

37
BIBLIOGRAFIA

Estação meteorológica das Pedras Salgadas - Dados climatológicos 1931/1960

Ferreira, F. - Técnicas culturais tradicionais na cultura da batata no vale de vila pouca


de aguiar-efeitos na produtividade da cultura e do meio ambiente, trabalho de fim de
curso, ESAB 1995.

Figueiredo - Contributo para a caracterização física e hídrica de unidades de solo de


Trás-os-Montes, UTAD, Vila Real, 1988

INE - Instituto Nacional de Estatística, sensos 1991 (resultados provisórios e pré-


definitivos)

INE - Recenseamento agrícola, continente, distrito de Vila Real, 1979.

ITPT - Guide Pratique du Plant Pomme de Terre. Institut Technique de la Pomme de


Terre, França 1982.

PDAR, do Alto Tãmega e Alvão-Padrela - 2º documento de trabalho, junho 1992


Pires, J.M. et al - Lameiros de Trás-os-Montes- perspectivas de futuro para estas
pastagens de montanha, série estudos, edição do Instituto Superior Politécnico de
Bragança, 1994.

Plano Director Municipal de Vila Pouca de Aguiar (ante-projecto) TomoI, Volume 2, -


Análise demográfica, Norvia consultores de engenharia, lda, 1992

RGA - Recenceamento geral Agrícola, 1989

SMN - O clima de Portugal, Fasc. XIII, Lisboa 1965

UTAD,PDRITM- Carta de solos, carta do uso actual daterra e carta de aptidão da terra
do Nordeste de Portugal- Agrocunsultores e Coba, 1988

Varios - Estudo de Fomento Pecuário para a Sub-região Norte Interior (Trás-os-Montes),


Despacho de 12/5/1972, Ministério de Agricultura e Pescas, Secretaria de Estado do
Fomento Agrário, Edição de 1978.
ANEXOS
I - Carta de localização do vale de Vila Pouca de Aguiar
II - Perfil do balanço hídrico
III - Carta de solos
IV - Carta de aptidão dos solos
V - Carta de utilização actual do solo
VI - Efectivo maronês de fêmeas adultas
VII - Efectivo maronês de animais jovens
VIII - Outros mapas de interesse
IV - Representação esquemática do sistema Batata-Centeio-
Pecuário do vale de Vila Pouca de Aguiar

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