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Superior Tribunal de Justiça

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 21.859 - DF (2015/0147355-3)


RELATORA : MINISTRA REGINA HELENA COSTA
IMPETRANTE : TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND
ADVOGADA : AMANDA CASTRO DOS SANTOS CORRÊA E
OUTRO(S)
IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
INTERES. : UNIÃO

RELATÓRIO

A EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA REGINA


HELENA COSTA (Relatora):
TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND impetrou mandado de
segurança contra ato praticado pelo Sr. Ministro de Estado da Educação,
consubstanciado na Portaria n. 139, de 25 de fevereiro de 2015, que demitiu
o Impetrante do cargo de Professor da Universidade de Brasília, em
observância ao art. 132, incisos IV, X e XIII, da Lei n. 8.112/90, por violação
do art. 117, IX, da Lei n. 8.112/90, bem como do art. 10, caput, e incisos I, VIII
e XII, e art. 11, caput, e inciso I, ambos da Lei n. 8.429/92, em razão dos
fatos apurados no Processo Administrativo Disciplinar - PAD n.
00190.042641/2009-98.
Narra o Impetrante que tal PAD "foi instaurado para a apuração
dos fatos relacionados às supostas irregularidades constatadas no âmbito
do Projeto Seguro-Desemprego, do Ministério do Trabalho e Emprego —
MTE, conforme descrito no item 3.3 do Relatório de Demandas Especiais n.
00190.014992/2008-28-D, da Controladoria-Geral da União" (fl. 4e).
Alega a existência de nulidade em razão da falta de
imparcialidade do Presidente da Comissão processante, e de outro membro,
os quais teriam participado da apuração de outras condutas em outros
processos administrativos disciplinares.
Destaca que o Presidente e um dos membros da comissão
processante também participaram de comissões referentes a outros dois
processos administrativos disciplinares, – respectivamente, o PAD n.
00190.036034/2009-99 e o PAD n. 00190.022377/2009-76 – o que os
tornariam impedidos de atuar no processo que culminou com a sua
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demissão.
Assevera que o teor desses PAD's é o mesmo do presente
processo, no qual o Impetrante "é acusado de uma série de irregularidades
simplesmente por ser o Reitor da Universidade de Brasília e representante
da Fundação Universidade de Brasília à época e ter assinado, nessa
condição, contratos com Fundação de Apoio, em situações temporais e
contingenciais semelhantes, para em ambos os casos a FEPAD (Fundação
de Estudos e Pesquisas em Administração) executar parte do
projeto/contrato" (fl. 8e).
Defende que "o Presidente da Comissão e o Membro indicado
não preenchiam os requisitos objetivos de imparcialidade e impessoalidade
para integrar o Colegiado Processante, uma vez que se manifestaram
formalmente em outras oportunidades de forma desfavorável ao Impetrante,
maculando o juízo isento que deveria nortear a conduta de cada um dos
membros que compõem uma Comissão de Processo Administrativo
Disciplinar. [...]"(fl. 9e).
Sublinha que "esse Egrégio Superior Tribunal de Justiça
considera que o servidor que já tenha exarado juízo preliminar acerca de
possível responsabilidade de um acusado encontra-se impedido de atuar em
futuros processos disciplinares e de elaborar relatório final. Os arestos
colacionados abaixo indicam a absoluta vedação de membro integrante da
Sindicância de participar de futuras investigações em desfavor do mesmo
acusado. (fl. 10e).
Acrescenta que outro dado que demonstra a parcialidade da
Comissão Processante é o fato de que os Reitores que sucederam o
Impetrante na Reitoria da Universidade de Brasília "não foram acusados das
mesmas irregularidades que lhe são imputadas. Mesmo o contrato
celebrado com a FEPAD tendo o seu prazo de validade prorrogado por mais
12 (doze) meses, não pelo Acusado Timothy Martin Mulholland, mas por seu
sucessor na Reitoria, o Professor Roberto Armando Ramos de Aguiar,
conforme registrado no próprio termo de indiciamento (doc. 04 — fls.
327/328), não considerou a Comissão Processante ou a CONJUR/MEC que
houvesse responsabilidade do referido Reitor por eventuais irregularidades
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constatadas na execução do contrato" (fl. 17e).
Aduz, ainda, que "inexistem provas de qualquer irregularidade
praticada pelo impetrante a dar ensejo à pena de demissão, porquanto a
Comissão não demonstrou, de forma minimamente indiciária, que houve a
prática de qualquer ato por parte do Impetrante, além da mera
subcontratação da FEPAD para executar o objeto do convênio com o MTE
(realizado com parecer favorável da Procuradoria Jurídica da Universidade,
diga-se de passagem, a quem caberia apontar os óbices legais a tal
contratação, caso existissem). (...) Ora, na qualidade de Presidente da FUB
e Reitor da Universidade de Brasília, não cabia ao Impetrante, primeiro,
cuidar da captação de projetos para a Universidade, ficando tal mister a
cargo de cada departamento. Segundo, não lhe cabia cuidar da tramitação
dos projetos, convênios, contratos e instrumentos congêneres que seriam
firmados pela Instituição. Para tanto, havia desde antes da sua gestão o
setor específico da Universidade ao qual incumbia gerir essas questões,
além da Procuradoria Jurídica a zelar pela legalidade dos contratos. Havia,
ainda, um auditor no Gabinete do Reitor responsável por verificar toda a
regularidade da instrução documental do processo antes da assinatura do
Reitor. Terceiro, assim como não é atribuição do Reitor escolher
determinada fundação de apoio para contratação, o Professor Timothy Martin
Mulholland, em nenhum momento, participou, sugeriu ou exerceu qualquer
ingerência para que a FEPAD executasse o objeto do processo em questão.
Tais questões estão devidamente esclarecidas em vários documentos
constantes dos autos, não existindo qualquer prova que possa atrair a
responsabilidade do Impetrante por tais questões. Por oportuno, confiram-se
trechos de depoimentos prestados perante a Comissão Processante, que
afastam por completo qualquer indício de participação do Impetrante nesse
sentido (doc. 04):" (fls. 20/21e).
Salienta que "não havia por parte do Impetrante o
conhecimento de qualquer irregularidade na gestão da FEPAD que pudesse
não recomendar a sua contratação, sendo que o conhecimento de
dificuldades financeiras não impediriam a contratação da fundação, caso ela
estivesse regularmente credenciada e fosse capaz de apresentar toda a
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documentação necessária para a contratação e para a execução do projeto
a contento (fl. 26e). (...) 70. Resta patente, portanto, que não há como se
atribuir qualquer tipo de responsabilidade ao Impetrante no tocante à
cobrança da taxa administrativa quanto aos recursos envolvidos, uma vez
que ele não assinou qualquer contrato ou documento formal que contivesse
previsão autorizando o pagamento da referida taxa, não sugeriu ou deu sua
anuência verbal a tal prática, e tampouco tinha conhecimento de sua
cobrança, até porque não era sua atribuição executar as despesas dos
convênios e fiscalizar a sua regularidade. Examinando as provas constantes
do processo, não há em nenhum documento prova minimamente indiciária
que permita extrair tal conclusão (fl. 27/28e). (...) 73. Com efeito, o Reitor da
Universidade de Brasília e Presidente da Fundação Universidade de Brasília
não tinha — e nem poderia ter — a atribuição de executor do projeto, não
tomando conhecimento dos atos que eram praticados no âmbito desse e de
outros projetos da Universidade, tendentes à execução de despesas (fl. 28e)
(...) 77. Por outro lado, não é possível estabelecer qualquer relação de
causalidade entre a conduta do Professor Timothy Martin Mulholland e o
suposto prejuízo sofrido pelos cofres públicos no tocante ã execução e
aplicação dos recursos oriundos do convênio celebrado com o MTE. 78. De
fato, deve-se destacar que o Impetrante foi indicado como responsável por
uma série de supostas irregularidades que teriam sido identificadas quanto à
execução do referido convênio. Ocorre, entretanto, que não houve indicação
específica de quais teriam sido as despesas irregulares que teriam algum
tipo de relação com o Reitor Timothy Martin Mulholland. (fls. 29/30e) (...) 119.
Revelam-se, portanto, absolutamente improcedentes as imputações feitas
ao Professor Timothy, no sentido de afirmar que ele foi o responsável por
afastar a EDU de sua real atribuição (atuar no mercado de livros) para
captação de negócios com órgãos públicos" (fl. 41e).
Pondera que "a Comissão não teve o cuidado de demonstrar
especificamente quais teriam sido as condutas que o Impetrante praticou
que teriam caracterizado cada um dos tipos de ilícitos funcionais que lhe
foram atribuídos, deixando de fazer a devida correlação entre os fatos e a
norma supostamente violada, bem como as provas que existiriam desses
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atos ou omissões. Preferiu a Comissão sustentar um fantasioso
favorecimento do Professor Timothy Martin Mulholland com a celebração do
contrato indigitado no presente processo" (fl. 41e).
Alega que a pena de demissão não teria se mostrado legítima
diante dos princípios da proporcionalidade, razoabilidade e individualização
da pena, porquanto "a Autoridade Julgadora não levou em consideração os
antecedentes funcionais do Impetrante para a fixação da pena, não fazendo
qualquer avaliação sobre os serviços prestados por ele ao longo de mais de
38 (trinta e oito) anos de dedicação exclusiva à Universidade de Brasília,
desconsiderando por completo as diversas funções que ele desempenhou
no período, sempre de forma diligente e zelosa, bem como os elogios e
homenagens que recebeu, dos seus alunos, bem como dos seus pares" (fl.
53e).
Requer a concessão de liminar a fim de determinar, inaudita
altera parte, à Autoridade impetrada que promova a reintegração do
Impetrante ao cargo do qual foi demitido, até o trânsito em julgado da decisão
de mérito.
Postula, no mérito, a concessão da ordem para: i) reconhecer
a nulidade do PAD que resultou na aplicação da pena de demissão, em
razão da falta de imparcialidade dos membros da Comissão Processante,
devendo ser decretada, por esse motivo, a ilegalidade do ato demissório; ii)
caso ultrapassada a questão antecedente, seja reconhecida a ilegalidade da
pena disciplinar aplicada, em razão de não existirem provas de
irregularidades praticadas por ele que pudessem legitimá-la; iii)
alternativamente, ainda que se considere a existência de faltas disciplinares
imputáveis ao Impetrante, que seja considerada desproporcional a pena de
demissão aplicada, decretando-se sua ilegalidade; iv) a determinação para
que seja reintegrado ao cargo público que ocupava, com o pagamento de
todas as vantagens remuneratórias que deixou de receber a partir da
impetração.
A inicial veio acompanhada dos documentos de fls. 76/98e,
seguida de posterior juntada dos documentos de fls. 145/2240e, tendo em
vista que o arquivo excedia o limite para envio pelo peticionamento eletrônico.
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Deferido o pedido de gratuidade de justiça à fl. 2.422e, a liminar
foi indeferida às fls. 2.430/2.431e.
O Impetrante interpôs agravo regimental contra o indeferimento
da liminar, repisando os argumentos contidos na inicial (fls. 4.828/4850e).
Em informações, a autoridade coatora sustenta, em síntese, a
impossibilidade de revisar o contexto fático probatório que amparou o PAD; a
ausência de direito líquido e certo; a observância do devido processo legal
administrativo e da garantia da ampla defesa e do contraditório; bem como
observância da proporcionalidade, da razoabilidade e da individualização da
pena de demissão aplicada ao Impetrante.
O Ministério Público Federal opinou pela denegação da ordem
(fls. 4.858/4.872e).
É o relatório.

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MANDADO DE SEGURANÇA Nº 21.859 - DF (2015/0147355-3)
RELATORA : MINISTRA REGINA HELENA COSTA
IMPETRANTE : TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND
ADVOGADA : AMANDA CASTRO DOS SANTOS CORRÊA E
OUTRO(S)
IMPETRADO : MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
INTERES. : UNIÃO

VOTO

A EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA REGINA


HELENA COSTA (Relatora):
Trata-se de mandado de segurança impetrado por TIMOTHY
MARTIN MULHOLLAND contra ato praticado pelo Sr. Ministro de Estado da
Educação, consubstanciado na Portaria n. 139, de 25 de fevereiro de 2015,
que o demitiu do cargo de Professor da Universidade de Brasília, por ter
usado o cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da
dignidade da função pública, bem como pela prática de atos de improbidade
que causaram prejuízo ao erário e atentaram contra os princípios da
Administração Pública, tudo apurado no Processo Administrativo Disciplinar
n. 00190.042641/2009-98, decorrente do Relatório de Demandas Especiais
n. 00190.014992/2008-28-D, da Controladoria Geral da União.
Compreendeu a autoridade julgadora que o Impetrante, na
condição de Presidente da Fundação Universidade de Brasília - FUB, foi
responsável pela contratação da Fundação de Estudos e Pesquisas em
Administração e Desenvolvimento - FEPAD (Fundação de apoio da FUB),
transferindo-lhe a execução da primeira parte do projeto de Avaliação do
Programa Seguro-Desemprego, mesmo sabendo da difícil situação
financeira da FEPAD, que sequer possuía condição técnica e operacional
para executar o projeto assumido. Assim, concluiu ter o Impetrante agido: 1)
sem a necessária verificação da qualificação técnica/operacional e
econômico-financeira da FEPAD, pré-requisito estabelecido pelo Ministério
do Trabalho e Emprego para execução do Projeto; 2) sem demonstrar a
necessidade de tal transferência, já que a própria FUB poderia executar os
serviços técnicos especializados, como de fato ocorreu na prática,
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funcionando a FEPAD como mero interveniente financeiro; 3) sem que
houvesse pesquisa de preço ou chamamento público de instituições
eventualmente interessadas e capazes de executar o contrato ou mesmo
documento hábil que atestasse a impossibilidade de realizar tais pesquisas;
e 4) sem exposição dos motivos de escolha da FEPAD, em potencial
prejuízo a outras instituições qualificadas e interessadas em executar o
contrato.
Pretende o Impetrante a concessão da ordem para anular a
portaria demissória, sob os seguintes fundamentos: i) falta de imparcialidade
do presidente da comissão processante, Dr. Darcy de Souza Branco Neto, e
de outro membro que teriam participado da apuração de outras condutas em
outros processos administrativos disciplinares; ii) inexistência de provas de
qualquer irregularidade praticada pelo Impetrante a dar ensejo à pena de
demissão, porquanto a Comissão não demonstrou, de forma minimamente
indiciária, que houve a prática de qualquer ato por parte do Impetrante, além
da mera subcontratação da FEPAD para executar o objeto do convênio com
o Ministério do Trabalho e Emprego (realizado com parecer favorável da
Procuradoria Jurídica da Universidade); iii) a Comissão não demonstrou
especificamente quais teriam sido as condutas praticadas pelo Impetrante
suficientes para caracterizar cada um dos tipos de ilícitos funcionais que lhe
foram atribuídos, deixando de fazer a devida correlação entre os fatos e a
norma supostamente violada; iv) a Autoridade julgadora não levou em
consideração os antecedentes funcionais do Impetrante para a fixação da
pena de demissão, não fazendo nenhuma avaliação sobre os serviços
prestados por ele ao longo de mais de 38 (trinta e oito) anos de dedicação
exclusiva à Universidade de Brasília, violando os princípios da
proporcionalidade, razoabilidade e individualização da pena.
Não tendo sido arguidas preliminares e presentes os
pressupostos processuais e de conhecimento da ação, passo ao exame do
mérito do presente mandamus.

I - IMPARCIALIDADE DOS MEMBROS DA COMISSÃO PROCESSANTE

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Defende o Impetrante que o Presidente da Comissão e outro
membro "não preenchiam os requisitos objetivos de imparcialidade e
impessoalidade para integrar o Colegiado Processante, uma vez que se
manifestaram formalmente em outras oportunidades de forma desfavorável
ao Impetrante, maculando o juízo isento que deveria nortear a conduta de
cada um dos membros que compõem uma Comissão de Processo
Administrativo Disciplinar. [...]"(fl. 9e).
Não assiste razão ao Impetrante quanto ao ponto.
Extrai-se dos autos que a participação dos membros da
Comissão Disciplinar em outros processos administrativos disciplinares
restringiu-se à apuração de irregularidades diversas, ainda que envolvendo o
Impetrante, não havendo, no caso em apreço, juízo prévio quanto aos fatos
tratados no PAD n. 00190.042641/2009-98, objeto desta impetração (fls.
2.320/2.321e).
Constata-se que o Presidente da Comissão, Dr. Fernando
César Pereira, também foi Presidente de outra Comissão Disciplinar
(Processo n. 00190.036034/2009-99), no qual se apuraram supostas
irregularidades cometidas pelo Impetrante na execução do contrato n.
02/2007, firmado entre a Fundação de Apoio a Pesquisa do Distrito Federal -
FAPDF e a FUB/UNB (fl. 1745e). Já o membro da Comissão, Dr. Darcy de
Souza Branco Neto, por sua vez, foi subscritor de anterior relatório
conclusivo de outro Processo Administrativo Disciplinar
(00190.022377/2009-76), que investigou irregularidades praticadas pelo
Impetrante na gestão da Editora UnB (fls. 2.320/2.321e).
No PAD n. 00190.042641/2009-98, que ensejou a impetração
do presente mandado de segurança, investigou-se a contratação da
Fundação de Estudos e Pesquisas em Administração - FEPAD pela
FUB/UNB, para execução do Projeto Seguro Desemprego, que havia sido
transferido, por convênio, do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE para a
FUB/UNB.
Com efeito, não há, nos autos, nenhuma comprovação de que
os membros da Comissão do PAD n. 00190.042641/2009-98 já haviam
emitido juízo de valor em relação aos fatos nele apurados ou de qualquer
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outra causa de impedimento ou de suspeição, devendo ser afastada a
alegação de imparcialidade da tríade processante.
A invocada jurisprudência desta Corte, segundo a qual “não se
verifica imparcialidade da comissão se o servidor integrante de Comissão
Disciplinar também participou da Sindicância, ali emitindo juízo de valor pela
instauração do Processo Administrativo Disciplinar”, não se aplica ao caso,
porquanto, na espécie, a ausência de imparcialidade alegada pelo Impetrante
não se funda na participação de membros da Comissão Disciplinar em
sindicância que deu ensejo ao próprio PAD, mas sim na participação dos
aludidos membros em PADs, que, embora tenham o mesmo acusado,
buscam apurar responsabilidade do Impetrante por fatos distintos.
Sobre o tema, esta Corte orienta-se no sentido de que a
participação do membro da comissão em mais de um processo
administrativo disciplinar, envolvendo o mesmo investigado, não configura
ausência de imparcialidade quando tratar-se de apuração de fatos distintos:

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.


SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. DEMISSÃO. PARCIALIDADE DA
COMISSÃO PROCESSANTE. INEXISTÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO. USO DE PROVA EMPRESTADA DA
ESFERA CRIMINAL. POSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO A
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS POR AUSÊNCIA DE
CONDENAÇÃO NA ESFERA PENAL. INOCORRÊNCIA.
INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS CÍVEL, PENAL E
ADMINISTRATIVA. PROPORCIONALIDADE DA PENA
APLICADA. SEGURANÇA DENEGADA.
1. Consta dos documentos acostados que o impetrante foi
submetido a processo administrativo disciplinar, que resultou
na demissão, mediante Portaria Ministerial n. 589, de
1º/4/2014, tendo como fundamento a prática das infrações
disciplinares previstas nos arts. 117, inciso IX (valer-se do
cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em
detrimento da dignidade da função pública), e 132, incisos IV
(improbidade administrativa), XI (corrupção) e XIII
(transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117), da Lei n.
8.112/90, de forma a sujeitá-lo à penalidade de demissão, por
força do disposto no art. 132, caput, e incisos IV, XI e XIII, da
referida Lei.
2. O impetrante sustenta que houve parcialidade e ofensa ao
princípio da impessoalidade, pois o PAD que resultou na sua
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demissão teve a participação de servidores que atuaram em
PAD anterior. Ficou demonstrado que não se tratou de
processos administrativos que envolveram os mesmos fatos,
mas da apuração de condutas distintas, embora supostamente
praticadas pelo mesmo processado. O presente tema é
recorrente neste Colendo Tribunal Superior, entendendo-se
que, nos casos não constantes dos artigos 18 a 21 da Lei n.
9.784/99 (que trata das hipóteses de suspeição ou
impedimento), deve o impetrante apresentar dados objetivos
que revelem a quebra da isenção por parte da comissão
processante; até porque não se pode olvidar que a atuação da
Administração Pública está amparada pela presunção juris
tantum de legalidade, legitimidade e veracidade.
(...)
6. Segurança denegada.
(MS 21.002/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 24/06/2015, DJe 01/07/2015, destaque
meu)

ADMINISTRATIVO. PROCESSO DISCIPLINAR. Participação


de membro de comissão disciplinar na apuração de fatos que
resultaram na pena de suspensão do servidor. Ausência de
impedimento daquele membro para integrar nova comissão
disciplinar em processo que resultou na demissão do servidor
em razão de outros fatos. Ordem denegada.
(MS 18.887/DF, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 04/02/2013, DJe 07/03/2013).

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA INDIVIDUAL. SERVIDOR PÚBLICO
FEDERAL. TÉCNICO ADMINISTRATIVO DO IBAMA.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PENA DE
DEMISSÃO. ART. 117, IX E XII E 132, IX E XIII, DA LEI
8.112/1990. "OPERAÇÃO EUTERPE". ALEGADA QUEBRA
DA IMPARCIALIDADE. INOCORRÊNCIA. ALEGADA
SUSPEIÇÃO/IMPEDIMENTO DO PRESIDENTE DA NOVA
COMISSÃO PROCESSANTE. INOCORRÊNCIA.
AUSÊNCIA DE EMISSÃO DE JUÍZO DE VALOR OU
PREJULGAMENTO ACERCA DAS INFRAÇÕES
DISCIPLINARES. MERA EMISSÃO DE PARECER
ACERCA DA NULIDADE DO PAD PRIMITIVO EM RAZÃO
DA INOBSERVÂNCIA DE GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS. PROVA EMPRESTADA.
INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. ADMISSIBILIDADE.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO PENAL. REFORMATIO IN
PEJUS. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE JULGAMENTO
ANTERIOR. PAD PRIMITIVO ANULADO ANTES DE SEU
JULGAMENTO. POSSIBILIDADE DE POSTERIOR
AGRAVAMENTO DA PENALIDADE. PRECEDENTE.
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SEGURANÇA DENEGADA.
1. Pretende o impetrante, ex-Técnico Administrativo do
IBAMA, a concessão da segurança para anular a Portaria 102,
de 07 de abril de 2010, da Ministro de Estado da do Meio
Ambiente, que lhe impôs pena de demissão do cargo
público anteriormente ocupado, pelo enquadramento nas
infrações disciplinares previstas nos arts. 117, IX e XII e
132, IX, da Lei 8.112/1990, sob o pretexto de que o processo
disciplinar seria nulo diante da intervenção indevida e parcial
do então Ministro de Estado do Meio Ambiente, que além de, à
época em que cumpria mandato de Deputado Estadual,
denunciou as irregularidades, bem como por ter exarado
inúmeros pronunciamentos antevendo a condenação dos
servidores; suspeição/impedimento do Presidente do novo
PAD, tendo em vista que, na qualidade de Procurador
Federal, proferiu parecer prévio acerca da nulidade do PAD
primitivo, a violar o disposto no art. 18 da Lei 9.784/1999;
ilicitude das provas emprestadas (intercepções telefônicas),
diante da incompetência do Juízo Criminal e a violação do
princípio da reformatio in pejus, diante do agravamento da sua
situação, passando de uma pena de suspensão à pena de
demissão.
(...)
6. O reconhecimento da quebra da imparcialidade por
membro da Comissão Disciplinar pressupõe a
comprovação, por meio de provas robustas, da emissão de
juízo de valor prévio ou o prejulgamento acerca das
irregularidades.
(...)
15. Segurança denegada.
(MS 15.321/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/09/2016, DJe 19/12/2016,
destaque meu)

PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO.
EX-AUDITOR-FISCAL. PROCESSO DISCIPLINAR. ATO DE
CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. NULIDADE.
INEXISTÊNCIA. PARCIALIDADE. COMISSÃO
PROCESSANTE. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO.
SEGURANÇA DENEGADA.
1. O mandado de segurança dirige-se contra ato do Ministro de
Estado da Fazenda que aplicou ao impetrante, ex-Auditor
Fiscal da Receita Federal, a penalidade de cassação de
aposentadoria do cargo que ocupava, sob o argumento de que
teria realizado ato de constituição e de gerência de empresas
destinadas a ocultar os intervenientes em operação de
comércio exterior, bem como praticado sonegação de tributos
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e acréscimo patrimonial a descoberto.
2. Não prospera a alegação de ausência de imparcialidade no
curso do processo administrativo disciplinar, pois ao realizar
diligências preliminares, o servidor apontado apenas verificou,
no ano de 2005, a existência de plausibilidade mínima em
denúncia anônima apresentada contra o ora impetrante,
sugerindo a abertura de sindicância, para melhor apuração dos
fatos. Já em 2008, um outro servidor, em investigações
realizadas com amparo em inquérito da Policia Federal,
concluiu pela necessidade de abertura do Processo
Administrativo Disciplinar ora atacado.
3. Não se verifica irregularidade na posterior nomeação
daquele primeiro servidor como membro da comissão
disciplinar, pois ele não chegou sequer a participar de
sindicância anterior à abertura do PAD, não tendo havido por
parte dele, antes da instauração do processo administrativo,
qualquer manifestação ou juízo de valor sobre a conduta do
impetrante.
4. Ademais, os fatos objeto das apurações preliminares
realizadas pelo membro da comissão, não são exatamente
iguais aos fatos apurados no processo disciplinar ora
questionado, razão pela qual não se cogita de parcialidade no
caso em comento.
5. Não se logrou demonstrar quaisquer das situações de
impedimento previstas no § 2º do art. 149 da Lei 8.112/90 ou
nos arts. 18 e 20 da Lei 9.784/99, o que reforça a neutralidade
na condução do processo administrativo disciplinar.
6. Segurança denegada.
(MS 20.629/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 24/09/2014, DJe 03/11/2015, destaque
meu)

Assim, não há impedimento constitucional ou legal para que


um mesmo juiz atue em processos diferentes em relação a um mesmo
acusado, porque em cada processo o julgador aprecia os fatos particulares
da causa e a prova produzida nos autos. Da mesma forma também ocorre
nos processos administrativos (cf. RMS 32977/DF, Rel. Min. Roberto
Barroso, DJe de 1º.08.2014).
Pondera, ainda, o Impetrante, que seu sucessor na Reitoria, o
Professor Roberto Armando de Aguiar, não foi acusado das mesmas
irregularidades, mesmo tendo prorrogado o contrato por mais 12 meses e
feito pagamentos à FEPAD em valores muito superiores aos realizados na
sua gestão, o que reforçaria a parcialidade dos membros da comissão do

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PAD.
A alegação, todavia, não procede, porquanto a comissão não
vislumbrou elementos que indicassem a participação dos sucessores do
Impetrante nas irregularidade atinentes ao processo de contratação da
FEPAD pela FUB (processo n. 23106.017035/2007/51). No caso, verifica-se
que todo o processo de contratação ocorreu durante a gestão do Impetrante
(fl. 2.322e).
Ademais, o Processo Administrativo Disciplinar n.
00190.042641/2009-98, que deu origem ao presente mandado de segurança,
foi instaurado em razão das irregularidades apuradas no Relatório de
Demandas Especiais n. 00190.014992/2008-28-D, da Controladoria Geral da
União, que se limitou a analisar eventuais irregularidades no processo de
contratação da FEPAD (processo n. 23106.017035/2007/51) e nos
pagamentos repassados a FEPAD até abril de 2008 (fl. 2.566e).
Dessarte, o fato de não ter sido indiciado o sucessor do
Impetrante na Reitoria não é suficiente para indicar a ausência de
imparcialidade e isenção dos membros da Comissão do PAD, restando
incólume a observância da norma prevista no art. 150 da Lei n. 8.112/90,
cuja violação deve ser demonstrada mediante a apresentação de "dados
objetivos que revelem a quebra da isenção por parte da comissão
processante; até porque não se pode olvidar que a atuação da Administração
Pública está amparada pela presunção juris tantum de legalidade,
legitimidade e veracidade" (MS 21.002/DF, 1ª S., Rel. Min. OG Fernandes,
DJe 01.07.2015).

II - DA ALEGADA AUSÊNCIA DE CORRELAÇÃO ENTRE OS FATOS


INVESTIGADOS E A NORMA VIOLADA

Defende o Impetrante que a Comissão não demonstrou


especificamente quais teriam sido as condutas, por ele praticadas,
suficientes para caracterizar cada um dos tipos de ilícitos funcionais que lhe
foram imputados, deixando de fazer a devida correlação entre os fatos e a
norma supostamente violada.
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Uma vez mais não assiste razão ao Impetrante.
Da análise do Relatório Final do PAD, mais especificamente do
trecho contido nas fls. 2.231/2.232e, constata-se que a Comissão
Processante indicou, de forma clara, que o Impetrante "transgrediu o art.
117, inciso IX da Lei 8.112/90, quando valeu-se do cargo a que esteve
investido, para lograr proveito pessoal ou de outrem em detrimento da
dignidade da função pública, quando, usando das prerrogativas deste cargo
de Presidente da FUB, beneficiou a Fundação de Estudos e Pesquisas
em Administração - FEPAD, agindo ou omitindo-se, juntamente com os
outros servidores envolvidos na contratação desta, visando auxiliá-la no
enfrentamento de suas graves dificuldades financeiras" (fl. 2.232e).
Verificou, ainda, que o Impetrante "também praticou ato de
improbidade administrativa, quando, de forma intencional e desonesta,
promoveu o desvirtuamento do Serviço Público Federal, em seus
fundamentos básicos, afrontando os princípios norteadores do Estado
Democrático de Direito, quando violou os princípios de legalidade,
honestidade, imparcialidade e lealdade às instituições, notadamente à
FUB/UNB [...]" (fl. 2.232e, destaque meu).
Extraem-se trechos do PAD nos quais foi feita a devida
correlação entre os fatos investigados e a norma violada pelo Impetrante,
ensejadores de aplicação da pena de demissão:

141. Em se considerando a ocorrência das irregularidades


atribuídas ao servidor TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND,
professor 3o grau, matrícula SIAPE n° 0402864, o mesmo foi
indiciado, tendo em vista que teria, em tese, infringido o
disposto nos artigos: 116, inciso I, II, III e IX; e 117, inciso IX;
ficando sujeito às penalidades dos artigos 129 "caput", e 132,
"caput", todos da Lei 8.112/90, nos seguintes termos:

142. Transgrediu o art. 116, inciso I, II. III e IX. da Lei 8.112/90:
quando não observou dever funcional, não exerceu com zelo e
dedicação as atribuições do cargo de Reitor/Presidente da
FUB/UNB; não foi leal à instituição Fundação Universidade de
Brasília - FUB/UNB, pouco se importando se sua atitude
comprometesse a imagem da instituição e, por consequência
os servidores honestos da instituição, desprezando os valores
éticos a que esta imbuído a todo servidor público, violando
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normas legais e regulamentares, quando se envolveu nas
irregularidades descritas acima, in verbis:

Art. 116. São deveres do servidor:


I - exercer com zelo e dedicação as atribuições
do cargo;
II - ser leal às instituições a que servir;
III - observar as normas legais e regulamentares;
------------------------------------------
IX - manter conduta compatível com a
moralidade administrativa;

143. Transgrediu o art. 117, inciso IX da Lei 8.112/90,


quando valeu-se do cargo a que esteve investido, para
lograr proveito pessoal ou de outrem em detrimento da
dignidade da função pública, quando usando das
prerrogativas deste cargo de Presidente da FUB
beneficiou a Fundação de Estudos e Pesquisas em
Administração - FEPAD, agindo ou omitindo-se,
juntamente com os outros servidores envolvidos na
contratação desta, visando auxiliá-la no enfrentamento de
suas graves dificuldades financeiras:

Art. 117. Ao servidor é proibido:


------------------------------------------
IX - valer-se do cargo para lograr proveito
pessoal ou de outrem, em detrimento da
dignidade da função pública;

144. Dessa forma, em tese, também praticou ato de


improbidade administrativa quando, de forma intencional
e desonesta, promoveu o desvirtuamento do Serviço
Público Federal, em seus fundamentos básicos,
afrontando os princípios norteadores do Estado
Democrático de Direito, quando violou os princípios de
legalidade, honestidade, imparcialidade e lealdade às
instituições, notadamente à FUB/UNB, ato este repudiado
pelo ordenamento jurídico pátrio e considerado indigno de
um servidor público federal, que tem o dever em pautar-se
na mais ilibada conduta moral.

145. Por inobservância a dever funcional mencionado nesse


tópico, está passível de lhe ser aplicado as penalidades de
ADVERTÊNCIA ou SUSPENSÃO prevista no "caput" do artigo
129 da Lei 8.112/90, in verbis:

Art. 129. A advertência será aplicada por escrito,


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nos casos de violação de proibição constante do
art. 117, incisos I a VIII e XIX, e de inobservância
de dever funcional previsto em lei,
regulamentação ou norma interna, que não
justifique imposição de penalidade mais grave.
(Redação dada pela Lei n° 9.527, de 10.12.97)
(GRIFAMOS)

146. Por violação dos dispositivos proibitivos constantes neste


tópico, está passível de lhe ser aplicado a penalidade de
DEMISSÃO prevista no "caput" do artigo 132 da Lei 8.112/90,
por estar em perfeita subsunção aos incisos IV e XIII, do
mesmo dispositivo legal, in verbis:

Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes


casos:
------------------------------------------
IV - improbidade administrativa;
------------------------------------------
XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art.
117. (fls. 2231/2.232e, destaques meus)

III - AUSÊNCIA DE PROVA DA RESPONSABILIDADE DO IMPETRANTE


PELAS IRREGULARIDADES PRATICADAS

Defende o Impetrante, que a Comissão Processante não


demonstrou, no PAD n. 00190.042641/2009-98, de forma minimamente
indiciária, ter havido a prática de qualquer ato seu, além da mera
subcontratação da FEPAD para executar o objeto do convênio com o
Ministério do Trabalho e Emprego, que teria sido realizado com parecer
favorável da Procuradoria Jurídica da Universidade.
A alegação, igualmente, não merece prosperar.
Inicialmente, para melhor situar a controvérsia, transcrevo
trecho do Parecer n. 832/2014/CONJUR-MEC/CGU/AGU, no qual é feita uma
breve análise sobre as Fundações de Apoio, ligadas às Instituições Federais
de Ensino Superior - IFES:

32. As Fundações de Apoio nasceram com a principal


finalidade de facilitar a flexibilização das tarefas de ensino,
pesquisa e extensão das Instituições Federais de Ensino
Superior - (IFES), no que toca àquelas que fazem parte da
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 17 de 37
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administração pública, constituídas sob a forma de autarquias
ou fundações públicas. A aludida flexibilidade foi alcançada
com a edição da Lei 8.954/94, que estabeleceu os parâmetros
de relacionamento entre as entidades de apoio e as IFES.
33. As fundações de apoio, entidades regidas pelo direito
privado, têm por objetivo proporcionar agilidade e autonomia às
atividades universitárias como um todo, captando e gerindo
recursos em prol do ensino, da pesquisa e da extensão
universitárias.
34. Ressalte-se que essas fundações devem atender à
crescente necessidade de controle e transparência dos
recursos públicos, fator tão relevante que acompanha o
desenvolvimento do Estado Democrático de Direito. Diante
disso, ou seja, diante da importância do controle financeiro das
instituições de apoio, o Direito passou a normatizar cada vez
mais o controle das contas públicas.
35. A Carta de 1988, no caput do art. 37, antes de qualquer
outra lei, tratou de impor ao administrador as diretrizes para a
gestão financeira do orçamento público, tendo em vista os
princípios norteadores da Administração Pública, quais sejam:
o da moralidade, publicidade, eficiencia, legalidade e
impessoalidade.
36. A Lei 8958/94 e o Decreto 7.423/2010 determinam quais
serão os serviços prestados pela Fundação de Apoio.
(...)
37. A autonomia promovida por intermédio de fundações
privadas de apoio - em parte propiciada pelo caráter genérico e
impreciso dos artigos da Lei nº 8.958/1994, em parte por
deliberado desvirtuamento na sua aplicação (ver Decisão nº
655/2002 - TCU - Plenário no site desta Corte) - significou
também um perigoso distanciamento das IFES do ambiente de
controle propiciado pela contabilidade pública e pelo trânsito
dos recursos públicos por dentro do Siafi.
38. A rigor, o que se viu foi, de um lado, a transposição de um
conjunto de atividades e serviços, geradores de receitas
próprias, para dentro das fundações de apoio e, de outro, um
crescimento vertiginoso de contratos das IFES com estas
entidades - com dispensas de licitação sob o manto do fluido
conceito de desenvolvimento institucional - destinados, em
grande medida, a produzir 'excedentes' a serem geridos no
âmbito da contabilidade privada fundacional e em contas
bancárias de titularidade das fundações, mas sob a gerência
informal de reitores, chefes de departamento e coordenadores
de projetos, tema que trato no próximo subitem.
39. Assim, infelizmente, várias distorções profundas podem
afetar a contratação de uma fundação. Em precioso trabalho
sobre este espinhoso tema, Fernando Moutinho Ramalho
Bittencourt mostra as diversas espécies de irregularidades
envolvendo as fundações de apoio. A espécie que guarda
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 18 de 37
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maior correlação com o caso em tela é a Fundação como
"laranja".
40. Neste modelo, independentemente do título pelo qual a
fundação é contratada, o serviço prestado pela fundação
limita-se a contratar um terceiro para execução de algum
serviço, obra ou fornecimento de interesse da universidade.
Ou seja, é um terceiro que executa a prestação à
universidade, mas esse terceiro não é contratado diretamente
pela universidade por regular processo licitatório, mas pela
fundação.
41. Os pagamentos são feitos pela universidade à fundação,
ao amparo de contrato celebrado entre as duas (celebrado
com dispensa de licitação, ressalte-se), e a fundação limita-se
a receber esses pagamentos e repassá-los ao contratado final
(cobrando ou não algum valor para isso). Trata-se de mera
fraude à obrigatoriedade de licitação, além de subcontratação
não permitida pela lei. (2.389/2.390e)

No caso em tela, extrai-se do Relatório Final do PAD (fls.


2.189/2.352e), que restou comprovado que o Impetrante, na condição de
Reitor da Universidade de Brasília, foi responsável pela contratação irregular
da Fundação de Estudos e Pesquisas em Administração e Desenvolvimento
- FEPAD (Fundação de apoio da FUB) para execução da primeira parte do
Projeto de Avaliação do Programa Seguro-Desemprego e dos Serviços de
Intermediação de Mão de Obra e Serviços de Qualificação Social e
Profissional, projeto que havia sido transferido à Universidade de Brasília
mediante convênio com o Ministério do Trabalho e Emprego.
Constatou-se que o referido contrato entre a FUB e a FEPAD,
proveniente do Processo de Contratação FUB n. 23106.01735/2007-51,
assinado com irregular dispensa de licitação, deixou de observar diversos
procedimentos (necessidade da contratação, capacidade de execução por
parte da FEPAD, ausência de pesquisa de preço), contrariando os princípios
da isonomia, da supremacia e indisponibilidade do interesse público, e da
economicidade, além de causar prejuízo ao erário, tendo o Impetrante se
valido do cargo para, em detrimento da dignidade da função pública, permitir
que a FEPAD obtivesse proveito indevido.
A Comissão Processante, no Relatório Final do PAD, assim
concluiu, em relação às condutas do Impetrante:

Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 19 de 37


Superior Tribunal de Justiça

131. Na qualidade de Presidente da Fundação Universidade de


Brasília - FUB, o Sr. TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND
contratou a FEPAD, repassando-a a execução serviços
relacionados com o projeto de Avaliação do
Seguro-Desemprego e dos Serviços de Intermediação de
Mão De obra e Serviços de Qualificação Social e
Profissional, mesmo ciente da impossibilidade dessa
transferência, tendo em vista os pré-requisitos
estabelecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (fls.
74) à FUB/UNB, instituição escolhida pelo MTE como
executora do projeto em razão de suas exclusivas qualidades:
ter comprovada experiência de produção técnica e acadêmica
em Avaliação de Programas do Governo Federal: Ter
conhecimento da realidade do mercado de trabalho brasileiro e
das políticas públicas para o setor, comprovando produção
científica e corpo docente com competência reconhecida
sobre o tema: e ter estrutura para desenvolver a avaliação,
considerando sua dimensão e características, ou ter
comprovada capacidade de articulação e mobilização para
realização da avaliação em âmbito nacional.

132. Na qualidade de Presidente da Fundação Universidade de


Brasília - FUB, o Sr. TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND
contratou a FEPAD para a execução dos referidos
serviços técnicos sem, no entanto, existir no Processo de
contratação FUB-FEPAD n° 23106-017035/2007-51 a
demonstração da necessidade da contratação de pessoa
jurídica externa à FUB para a execução da primeira parte
do citado projeto de avaliação do programa
Seguro-Desemprego. Consta deste PAD depoimentos que
atestam que referidos serviços técnicos especializados
poderiam ser tranqüilamente executados pela própria
FUB, por intermédio do Centro de Pesquisas de Opinião
Pública da UNB - DATAUNB, o qual detém reconhecida
competência na área de pesquisas. Além disso, restou
apurado que toda a parte técnica do projeto foi
desenvolvida e executada, de fato, pelo próprio
DATAUNB, a quem coube, inclusive, contratar os
produtos e gerenciar os serviços relacionados ao referido
projeto. A FEPAD, conforme consta de depoimentos
constantes dos autos, atuou como mero interveniente
financeiro, apenas realizando pagamentos pelos diversos
serviços prestados.

133. Na qualidade de Presidente da Fundação Universidade de


Brasília - FUB, o Sr. TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND
contratou a FEPAD para a execução dos referidos serviços
técnicos sem, no entanto, observar a inexistência, no
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 20 de 37
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Processo de contratação FUB-FEPAD n°
23106-017035/2007-51, de avaliação prévia e criteriosa dos
respectivos custos do projeto. O Sr. TIMOTHY MARTIN
MULHOLLAND não observou que o Termo de Referência
elaborado pelo Centro de Pesquisas de Opinião Pública da
Universidade de Brasília - DATAUnB para contratar a
execução dos serviços relacionados com o projeto de
Avaliação do Seguro-Desemprego, assinado em 21.12.2007,
mencionava apenas a listagem de produtos esperados, sem
discriminar quaisquer outros elementos necessários e
imprescindíveis para formulação de propostas. Não há
informação sobre a quantidade de profissionais a serem
envolvidos, ou a qualificação profissional dessas pessoas; não
há dados sobre a formatação, o conteúdo ou a metodologia a
ser aplicada a cada um dos produtos esperados; não há
registros sobre os números envolvendo as pesquisas a serem
realizadas, tais como: universo, população, amostra,
cronograma, locais de entrevista, técnicas a serem
empregadas. A descrição adotada no mencionado Termo de
Referência é absolutamente genérica e incapaz de subsidiar
adequadamente a avaliação de custos.

134. Na qualidade de Presidente da Fundação Universidade de


Brasília - FUB, o Sr. TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND
contratou a FEPAD para a execução dos referidos
serviços técnicos sem que o Processo de contratação n°
23106.017035/2007-51 estivesse devidamente instruído
com outros documentos hábeis que apontassem, além
das razões para a contratação e os custos detalhados do
projeto, os motivos de escolha da FEPAD, incluindo a
comprovação de sua capacidade técnica/operacional e
econômico-financeira para a execução dos citados
serviços de Avaliação do Programa Seguro-Desemprego e
dos Serviços de Intermediação de Mão De obra e Serviços de
Qualificação Social e Profissional. Consta às fls. 149 do
Processo n° 23106.017035/2007-51, declaração firmada pelo
Sr. ALEXANDRE LIMA, denominada "RAZÃO DA ESCOLHA
DA CONTRATADA E JUSTIFICATIVA DE PREÇO" de que "o
preço constante de sua proposta de prestação de serviço
técnico, justificam-se plenamente, tanto por aproximarem dos
custos praticados, quanto por se apresentarem inferiores aos
habituais de mercado." No entanto, não constam dos autos
do Processo n° 23106.017035/2007-51 a realização de
pesquisas de instituições eventualmente interessadas em
executar a primeira parte do referido projeto de avaliação
do Programa Seguro-Desemprego ou mesmo de
documentação que atestasse a impossibilidade de se
realizar tais pesquisas, o que demonstra, a princípio, que a
FUB não buscou o melhor "candidato" para a contratação,
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 21 de 37
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em obediência aos princípios da isonomia, da supremacia
e indisponibilidade do interesse público, e da
economicidade. Mesmo diante de todo o exposto, o Sr.
TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND firmou a dita contratação
da FEPAD, enquanto Presidente da Fundação Universidade de
Brasília - FUB.
135. Destaque-se que, de acordo com depoimentos prestados
neste PAD, a FEPAD não possuía infraestrutura para a
execução do objeto contratado, e ocorreram problemas de
pagamento por parte da FEPAD durante a execução do objeto
contratado.
136. De acordo com depoimentos prestados a esta
Comissão, a contratação da FEDAP pela FUB, por
intermédio de seu Presidente. Sr. TIMOTHY MARTIN
MULHOLLAND, ocorreu com o conhecimento deste então
reitor de que a FEPAD passava por graves problemas
financeiros à época, e que, mesmo assim, a contratação
ocorreu, como forma de auxiliar aquela Fundação de
Apoio em sua recuperação econômico/financeira.

137. Na qualidade de Presidente da Fundação Universidade de


Brasília - FUB, o Sr. TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND
anuiu/não adotou providências para impedir o
recebimento pela FEPAD de 18% sobre o valor contratado
a título de taxa administrativa sem contraprestação
compatível de serviços para a avaliação do
Seguro-Desemprego. (...)

138. Na qualidade de Presidente da Fundação Universidade de


Brasília - FUB, o Sr. TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND
anuiu/não adotou providência de forma a impedir a utilização
dos recursos do projeto Seguro-Desemprego, no total de R$
231.400,00, para pagamento de servidores da FUB,
procedimento vedado pela LDO 2007 (Lei 11.439/2006) (fls.
2.225/2.229e).

Tais conclusões foram alcançadas com base em consistente


conjunto probatório colhido no PAD, a saber:

a) O Termo de Referência elaborado pelo Centro de Pesquisas


de Opinião Pública da Universidade de Brasília - DATAUnB,
assinado por Antônio Carlos Ferreira de Souza Leal
(Assistente de Direção do DATAUnB) com data de
21.12.2007, para fundamentar a contratação de executor para
as ações do projeto Avaliação do Seguro-Desemprego,
demanda do Ministério do Trabalho e Emprego (constante do
Anexo V deste PAD n° 00190.042641/2009-98);
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 22 de 37
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b) A Proposta da FEPAD, emitida em 21.12.2007, que
acompanhou o Oficio n° 359, da mesma data, da FEPAD para
Alexandre Lima (constante do Anexo V deste PAD n°
00190.042641/2009-98);
c) A Nota de crédito 2007NC003488, de 21.12.2007, no valor
de R$ 2.499.941,00 (constante do Anexo V deste PAD n°
00190.042641/2009-98);
d) A Nota de Programação Financeira 2007PF004689, de
24.12.2007, no valor de R$ 2.499.941,00 (constante do Anexo
V deste PAD n° 00190.042641/2009-98);
e) A Nota de Programação Financeira - 2007PF000772, de
26.12.2007, no valor de R$ 2.499.941,00 (constante do Anexo
V deste PAD n° 00190.042641/2009-98);
f) O contrato da FUB com a FEPAD para realizar ações do
projeto Seguro-Desemprego, assinado em 27.12.2007, oriundo
do processo FUB 23106-017035/2007-51 (constante do Anexo
V deste PAD n° 00190.042641/2009-98).
j) A Planilha intitulada "Posição dos Projetos em Andamento"
atualizada em 12.06.2008, apresentada pela FEPAD,
apresentando os valores dos projetos e suas respectivas
taxas administrativas;
k) Anexo II, item 3.3.2.2 deste PAD n° 00190.042641/2009-98 -
Demonstração dos pagamentos a servidores públicos
realizados pela FEPAD com recursos do projeto MTE - Seguro
Desemprego até 30.04.2008, totalizando R$ 231.400,00;
I) Relatório de Demandas Especiais 00190.014992/2008-28-D,
item 3.3, e respectivos papéis de trabalho, e Processo n°
23106.017035/2007-51 - Anexos I a VI deste PAD n°
00190.042641/2009-98;
m) Depoimentos de testemunhas (fls. 102/104, 145/148,
150/152, 178/183, 187/188, 196/197, 198/201, 231/236,
237/239), provas emprestadas (fls. 258/260, 261/263, 264/266,
267/269, 270/272) e demais documentos constantes deste
PAD n° 00190.042641/2009-98. (fls. 2.230e/2.231e).

Vale destacar, ainda, importantes trechos do Relatório Final, no


qual a Comissão processante analisa e afasta os argumentos da defesa:

210. No tocante ao item 151, diversamente do que alega o


Indiciado (Defesa do indiciado - item 195, iv, deste Relatório), a
FEPAD, também por estar passando por dificuldades
financeiras, não possuía todas as condições necessárias para
que a contratação fosse efetuada. Em que pese a FEPAD
tenha apresentado Registro de Credenciamento junto ao
Ministério da Educação e Ministério da Ciência e Tecnologia
(fls. 137) e certidões de regularidade fiscal (fls. 139/142), não
constam dos autos, entre outros documentos citados,
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documentos que atestem sua capacidade para cumprir com o
contrato (qualificação econômico-financeira). Diversamente da
alegação da defesa de que o fato de ser do conhecimento do
Indiciado que a referida fundação de apoio passava por
dificuldades financeiras não permite extrair qualquer conclusão
quanto ao cometimento de falta funcional na efetivação de sua
contratação para a execução do projeto em comento (Defesa
do indiciado - item 195, iv, deste Relatório), a presente
Comissão vigorosamente discorda. O conhecimento pelo
Indiciado da crise financeira vivenciada pela FEPAD à época,
conjuntamente com a ausência de chamamento público de
instituições eventualmente interessadas e capazes de
executar o contrato, com a declaração do então presidente da
FEPAD de que naquele período a FUB, buscando ajudar a
solucionar o problema de uma de suas Fundações de Apoio,
destinou à FEPAD execução do projeto de avaliação do
programa seguro-desemprego, e, ainda, com a efetiva
cobrança da FEPAD de percentagem à título de encargos
administrativos; essas premissas constituem relevante
elemento de convicção, uma vez que demonstram que o
Indiciado Sr. TIMOTHY MARTIN MULHOLLAND, com a
participação dos demais Indiciados, destinou
indevidamente a execução do referido contrato à FEPAD,
com o objetivo de auxiliá-la no enfrentamento de suas
dificuldades financeiras, cometendo grave desvio
funcional. Entende esta Comissão que está regularmente
demonstrado nos autos que o Indiciado Sr. TIMOTHY
MARTIN MULHOLLAND atuou com má-fé ao valer-se do
cargo para, em detrimento da dignidade da função
pública, permitir que a FEPAD obtivesse proveito
indevido, em sentido oposto à alegações de defesa contentes
do item 195, vi, deste Relatório.
(...)
212. Ora, se o Indiciado intencionalmente destinou a
execução do referido projeto à FEPAD como forma de
auxiliá-la financeiramente, conforme restou provado pelos
depoimentos citados acima, é decorrência lógica o
conhecimento do Indiciado TIMOTHY MARTIN
MULHOLLAND que aquela fundação de apoio manteria
em sua posse certo percentual a título de encargos
administrativos, no entanto, este anuiu/não adotou
qualquer providência para impedir o recebimento pela
FEPAD de 18% sobre o valor contratado a título de taxa
administrativa sem contraprestação compatível de
serviços para a avaliação do Programa
Seguro-Desemprego.
(...)
216.Quanto às alegações de defesa do Indiciado no sentido de
que era uma prática regular da FUB a submissão dos
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processos envolvendo convênios e contratos aos órgãos
oficiais de orientação jurídica (AGU/PGF/PF/FUB), a fim de
que examinassem e emitissem seus regulares pareceres
sobre todos os aspectos jurídicos e legais (Defesa do indiciado
- documento anexo 4, e item 195, iv, deste Relatório), deve-se
registrar que o não apontamento das falhas identificadas
no curso deste PAD pelo órgão de orientação jurídica da
FUB quando da análise do Processo n°
23106.017035/2007-51 e previamente à assinatura do
contrato pelo Indiciado não afasta a responsabilidade
deste em verificar a boa e regular instrução do Processo
n° 23106.017035/2007-51, até porque, conforme se
destacou no item 203 deste Relatório, a Procuradoria
Jurídica ressalvou em seu parecer de fls. 161/165 que a
análise do processo n° 23106.017035/2007-51 não
abrangeria o exame do mérito do ato administrativo no
que diz respeito a contratação da FEPAD para a execução
do objeto. bem como a elaboração e aprovação do projeto
básico, justificativa da dispensa de licitação, a escolha do
fornecedor, e, principalmente a justificativa de preço (pois,
esta PJU não tem como se pronunciar se os preços estão
dentro ou fora dos praticados pelo mercado), bem como,
à obrigatória observância dos princípios da boa gestão e
da persecução constante do interesse público é da
competência exclusiva da autoridade administrativa, não
cabendo a este órgão jurídico sopesá-lo. Assim, cabia ao
Indiciado, em última análise, avaliar a pertinência da
contratação e verificar a correta instrução do Processo n°
23106.017035/2007-51 antes de assinar o contrato. Por seu
turno, conforme explanado no item 180 deste Relatório, será
recomendado ao MEC, ao final deste Relatório, que avalie a
pertinência em instaurar procedimento correcional para apurar
a conduta dos servidores do Setor de Contratos e Convênios -
SCO/DAF/FUB que participaram do Processo FUB-FEPAD n°
23106.017035/2007-51 - fis. 159/160 e 166, em vista das
irregularidades citadas neste Relatório Final. Quanto à atuação
da Procuradoria Jurídica - PGF/AGU, como dito, entende esta
Comissão que eventual apuração de responsabilidade do
então Procurador-Geral da FUB/UNB, Sr. JOSÉ WEBER
HOLANlSV ALVES, que avaliou juridicamente o Processo
FUB-FEPAD n° 23106.017035/2007-51 emitiu o Despacho
Interno de fls. 161/165, deve ser avaliada pela
Procuradoria-Geral Federal - PGU/AGU, por razões de
competência, por força do artigo 11, § 2o, inciso Lei n°
10.480/2002. (fls. 2.236/2.341e)

Na mesma linha, concluiu o Parecer n.


832/2014/CONJUR-MEC/CGU/AGU, acolhido pela Autoridade Coatora:
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 25 de 37
Superior Tribunal de Justiça

"105. Entretanto, como houve conjugação de desígnios entre o


SR. TIMOTHY MARTIN E O SR. ALEXANDRE LIMA, ou seja,
como eles agiram de forma concertada desde a contratação
inicial, conforme exurge do lastro probatório do processo em
tela e da conclusão da CPAD, a conduta do Sr. Timothy não
se enquadra apenas no inciso IV do art. 132 da lei 8112/90
mas também no inciso X (lesão aos cofres públicos e
dilapidação do patrimônio nacional).
106. Segundo entendimento da CPAD (vide Relatório da
CPAD, fl. 1030), no Processo de contratação FUB-FEPAD nº
23106.017035/2007-51, a Fundação Universidade de Brasília -
FUB/UNB deixou de praticar atos necessários durante o
processo de contratação direta por dispensa de licitação da
Fundação de Estudos e Pesquisas em Administração e
Desenvolvimento - FEPAD. Assim, como houve dispensa de
licitação indevida, a conduta do Sr. Timothy enquadra-se
também no inc. VIII do art. 10 da lei 8.429/92." (fls. 2.405e)

Diante de tal quadro, restou provado, no âmbito do PAD n.


00190.042641/2009-98, que o Impetrante assinou contrato com a FEPAD,
mesmo ciente das diversas irregularidades, tendo infringido, assim, o
disposto no art. 117, IX, da Lei n. 8.112/90 e arts. 10, caput, e incisos I, VIII e
XII, e 11, caput, e inciso I, da Lei n. 8.429/92, ficando sujeito às penalidades
do art. 132, IV, X e XIII, da Lei n. 8.112/90.
Partindo dessa premissa, verifico que esta Corte abraça a
orientação segundo a qual o mandado de segurança não constitui a via
adequada para o exame da suficiência do conjunto fático-probatório
constante do Processo Administrativo Disciplinar - PAD, a fim de verificar se
o Impetrante praticou ou não os atos que foram a ele imputados e que
serviram de base para a imposição de penalidade administrativa. O controle
jurisdicional do PAD restringe-se ao exame da regularidade do procedimento
e à legalidade do ato, à luz dos princípios do contraditório, da ampla defesa e
do devido processo legal, sendo-lhe defeso qualquer incursão no mérito
administrativo, a impedir a análise e valoração das provas constantes no
processo disciplinar (1ª S., MS 16.121/DF, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, DJe 06.04.2016).
Nesse sentido, ainda, os seguintes julgados:

Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 26 de 37


Superior Tribunal de Justiça

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA INDIVIDUAL. SERVIDOR PÚBLICO
FEDERAL. PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PENA DE
DEMISSÃO. USO INDEVIDO DE SISTEMA DE
INFORMÁTICA PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES
SIGILOSAS E PESSOAIS SOBRE OUTROS SERVIDORES
A FIM DE EMBASAR DENÚNCIA APÓCRIFA. BIS IN
IDEM. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE DUPLA PUNIÇÃO
EM RAZÃO DA MESMA INFRAÇÃO DISCIPLINAR.
COMPETÊNCIA DO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
PARA APLICAR PENA DE DEMISSÃO A
INTEGRANTES DA CARREIRA DE PROCURADOR DA
FAZENDA NACIONAL. PRECEDENTE DA 1ª SEÇÃO DO
STJ (MS 15.917/DF, REL. MIN. CASTRO MEIRA, JULG.
EM 23/5/2012). PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
DISCIPLINAR. INOCORRÊNCIA.
IMPEDIMENTO/SUSPEIÇÃO DO PRESIDENTE DA
COMISSÃO PROCESSANTE. AUSÊNCIA DE PROVAS
DO PRÉVIO JUÍZO DE VALOR ACERCA DA INFRAÇÃO
DISCIPLINAR. APROVEITAMENTO DE PROVAS
PRODUZIDAS EM PROCEDIMENTO ANTERIOR.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE PROVA
DA AUTORIA E DA PRATICA DE ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA.
COMPETÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA
JULGAR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
PRECEDENTES DO STF E DO STJ.
PROPORCIONALIDADE DA PENA DEMISSÓRIA.
SEGURANÇA DENEGADA.
(...)
7. É firme o entendimento no âmbito do Supremo Tribunal
Federal e desse Superior Tribunal de Justiça no sentido de
que o mandado de segurança não é a via adequada para o
exame da suficiência do conjunto fático-probatório constante
do Processo Administrativo Disciplinar - PAD, a fim de
verificar se o impetrante praticou ou não os atos que foram a
ele imputados e que serviram de base para a imposição de
penalidade administrativa, porquanto exige prova
pré-constituída e inequívoca do direito líquido e certo invocado.
Outrossim, o controle jurisdicional do PAD restringe-se ao
exame da regularidade do procedimento e a legalidade do
ato, à luz dos princípios do contraditório, da ampla defesa e
do devido processo legal, sendo-lhe defesa qualquer incursão
no mérito administrativo, a impedir a análise e valoração das
provas constantes no processo disciplinar. Precedentes.
(...)
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 27 de 37
Superior Tribunal de Justiça
12. Segurança denegada. Liminar revogada.
(MS 15.828/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/03/2016, DJe 12/04/2016,
destaques meus).

MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO


ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. POLICIAL RODOVIÁRIO
FEDERAL CONDENADO POR TER LIBERADO UM
VEÍCULO COM IRREGULARIDADES SEM OBSERVAR AS
NORMAS LEGAIS E REGULAMENTARES QUE
DEMANDAVAM A RETENÇÃO DO CRLV E A
CONCESSÃO DE PRAZO PARA A REGULARIZAÇÃO.
PENA APLICADA: SUSPENSÃO DE 10 DIAS.
POSSIBILIDADE DE ANÁLISE APROFUNDADA DE
PROVA DOCUMENTAL, DESDE QUE PRÉ-CONSTITUÍDA,
EM MANDADO DE SEGURANÇA. IMPOSSIBILIDADE DE
INSTRUÇÃO OU DILAÇÃO PROBATÓRIA. NÃO SE
EVIDENCIA DESPROPORCIONAL OU DESPIDA DE
RAZOABILIDADE A PUNIÇÃO APLICADA. INEXISTÊNCIA
DE NULIDADES NO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO.
AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO ASSEGURADOS.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO NÃO DEMONSTRADO.
PARECER MINISTERIAL PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM.
ORDEM DENEGADA.
1. O Mandado de Segurança é juridicamente hábil para
ensejar a apreciação da juridicidade de quaisquer atos
administrativos, sob os seus múltiplos aspectos, inclusive e
sobretudo a sua adequação jurídica (razoabilidade) e o seu
ajustamento às peculiaridades do caso concreto
(proporcionalidade), máxime quando se trata da aplicação de
sanções pela Administração, isso porque o consagrado
conceito de legalidade (adequação formal à lei) não esgota a
juridicidade do ato administrativo, sendo esta o valor que está a
merecer a máxima atenção do Julgador.
2. Em virtude do seu perfil de remédio constitucional de
eficácia prontíssima contra ilegalidades e abusos, o Mandado
de Segurança não comporta instrução ou dilação probatória,
por isso a demonstração objetiva e segura do ato vulnerador
ou ameaçador de direito subjetivo há de vir prévia e
documentalmente apensada ao pedido inicial, sem o que a
postulação não poderá ser atendida na via expressa do writ of
mandamus.
3. In casu, o impetrante alega que, ao contrário do que
concluiu a comissão processante, não houve liberação do
CRLV do veículo abordado, sendo certo que agiu de forma
estritamente legal e cumpriu com todas as exigências legais
na abordagem do veículo. O acolhimento dessa alegação do
impetrante e a consequente alteração da conclusão a que se
chegou nos autos do processo administrativo disciplinar,
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 28 de 37
Superior Tribunal de Justiça
demandaria instrução probatória o que, no entanto, não é
cabível em sede de mandado de Segurança.
4. Além disso, o material probatório colhido no decorrer do
Processo Administrativo Disciplinar (em especial, o
depoimento do próprio impetrante que informa que deixou de
recolher o CRLV) autoriza - do ponto de vista estritamente
formal - a aplicação da sanção de 10 dias de suspensão, uma
vez que decorreu de atividade administrativa disciplinar que
aparenta regularidade procedimental, não se evidenciando
desproporcional ou despida de razoabilidade a punição
aplicada, sem embargo de sua ulterior avaliação em sede
processual de largas possibilidades instrutórias.
5. Ordem denegada.
(MS 17.856/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe 16/11/2015,
destaque meu).

MANDADO DE SEGURANÇA - DIREITO PROCESSUAL


CIVIL - LITISPENDÊNCIA - NÃO CONFIGURAÇÃO -
DIREITO ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PÚBLICO -
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - DEMISSÃO
- CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO DEMONSTRADO -
ANULAÇÃO DE SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO
PENAL - REFLEXOS NO PROCESSO ADMINISTRATIVO -
PENALIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA - DESNECESSIDADE DE AÇÃO
JUDICIAL.
1. Não cabe ao Poder Judiciário o exame do mérito
administrativo motivador do ato administrativo, restringindo seu
exame à aferição da regularidade do procedimento e da
legalidade da pena aplicada.
(...)
8. Segurança denegada.
(MS 16.133/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 25/09/2013, DJe 02/10/2013, destaque
meu)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.
PORTARIA N. 58, DE 30/8/2010 DO MINISTRO DE ESTADO
CHEFE DO GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL
DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. DEMISSÃO DOS
QUADROS DA AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA
- ABIN. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE
VIGILÂNCIA. GESTOR DO REFERIDO CONTRATO.
CONSULTOR DA EMPRESA CONTRATADA. ATUAÇÃO
REMUNERADA. LICITAÇÃO. FRAUDE. PRÁTICA DAS
INFRAÇÕES DO ARTIGO 117, IX E XII, DA LEI N. 8.112/90.
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 29 de 37
Superior Tribunal de Justiça
PREVISÃO LEGAL. ARTIGO 132, IV, XI E XIII, DA LEI N.
8.112/90. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. ATO DEMISSIONÁRIO PRATICADO NO
PERÍODO ELEITORAL. ARTIGO 29 DA LEI N. 8.214/91.
INAPLICABILIDADE. APLICAÇÃO DE PENA
DESPROPORCIONAL E EXCESSIVA NÃO VERIFICADA.
QUESTÕES REFERENTES AO MÉRITO
ADMINISTRATIVO. ANÁLISE VEDADA EM SEDE
MANDAMENTAL. OFENSA AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA
DEFESA NÃO OBSERVADA. REINTEGRAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE.
(...)
6. A discussão sobre o alcance e a consistência das provas
que serviram de base à conclusão adotada pela comissão
processante revela-se inadequada à via estreita do mandado
de segurança - que exige prova pré-constituída e inequívoca
do direito líquido e certo invocado -, sendo certo, outrossim,
que o controle jurisdicional dos processos administrativos
restringe-se à regularidade do procedimento, à luz dos
princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido
processo legal, sem análise do mérito administrativo,
postulados observados pela comissão processante.
7. Mandado de segurança denegado.
(MS 15.690/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/10/2011, DJe 06/12/2011,
destaque meu).

ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM


MANDADO DE SEGURANÇA. MAGISTRADO.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PENA DE
REMOÇÃO COMPULSÓRIA. NULIDADE DO
JULGAMENTO. INEXISTÊNCIA. PRINCÍPIOS DA AMPLA
DEFESA, DO CONTRADITÓRIO E DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL OBSERVADOS. CONDENAÇÃO
ANTERIOR NAS PENAS DE ADVERTÊNCIA E CENSURA.
DECISÃO A QUO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA.
AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
1. No que diz respeito ao controle jurisdicional do processo
administrativo disciplinar, a jurisprudência do STJ é firme no
sentido de que compete ao Poder Judiciário apreciar a
regularidade do procedimento, à luz dos princípios do
contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal,
sem, contudo, adentrar no mérito administrativo.
2. É inviável a apreciação da alegação do impetrante de que o
ato decisório não encontra respaldo nas provas constantes do
processo administrativo disciplinar, porquanto o seu exame
requisita, necessariamente, a revisão do material fático
apurado no procedimento administrativo, com a consequente
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 30 de 37
Superior Tribunal de Justiça
incursão no mérito do julgamento administrativo, estranhos ao
âmbito de cabimento do mandamus e à competência do Poder
Judiciário. Precedentes do STJ e do STF.
(...)
6. Recurso Ordinário não provido.
(RMS 38.446/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 25/06/2013, DJe 06/03/2014,
destaque meu).

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO


DISCIPLINAR. AUTORIDADE COATORA. APLICAÇÃO DE
SANÇÃO DIVERSA DA SUGERIDA PELA COMISSÃO
PROCESSANTE. POSSIBILIDADE. UTILIZAÇÃO DE
PROVA EMPRESTADA. CONTROLE JURISDICIONAL.
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE NA
APLICAÇÃO DA PENA DE DEMISSÃO. AUSÊNCIA DE
DISCRICIONARIEDADE PARA O ADMINISTRADOR.
(...)
4. No controle jurisdicional do processo administrativo, a
atuação do Poder Judiciário limita-se ao campo da
regularidade do procedimento, bem como à legalidade do ato,
não sendo possível qualquer incursão no mérito administrativo
a fim de aferir o grau de conveniência e oportunidade. Assim,
mostra-se inviável a análise das provas constantes no
processo disciplinar.
5. Acerca da proporcionalidade e razoabilidade na aplicação da
pena de demissão, é firme o entendimento desta Corte
Superior de Justiça de que, caracterizada conduta para a qual
a lei estabelece, peremptoriamente, a aplicação de
determinada penalidade, não há para o administrador
discricionariedade a autorizar a aplicação de pena diversa.
6. Processo administrativo no qual as provas produzidas
convergiram no sentido da prática dos ilícitos disciplinares
previstos no art. 43, XLVIII, da Lei n. 4.878/1965
prevalecer-se, abusivamente, da condição de funcionário
policial e no art. 117, IX da Lei n. 8.112/1990 valer-se do
cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em
detrimento da dignidade da função pública não restando à
autoridade coatora outra opção, senão a de aplicar a sanção
de demissão ao servidor, conforme previsto nas leis em
comento.
7. Ordem denegada.
(MS 14.667/DF, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 10/12/2014, DJe 17/12/2014, destaque
meu).

MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO.


SERVIDORA PÚBLICA FEDERAL. PENALIDADE DE
DEMISSÃO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 31 de 37
Superior Tribunal de Justiça
ESTATAL. NÃO-OCORRÊNCIA. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. OBSERVÂNCIA DO
PRAZO DE 140 DIAS PARA CONCLUSÃO.
INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL.
PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO.
VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. PROVA EMPRESTADA.
POSSIBILIDADE. INVERSÃO NA ORDEM DOS ATOS
PROCEDIMENTAIS. NULIDADE. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DO PROCESSO DISCIPLINAR.
MANDADO DE SEGURANÇA. VIA INADEQUADA.
NULIDADES DO PROCESSO DISCIPLINAR AFASTADAS.
NÃO-CABIMENTO DE DIREITOS RETROATIVOS.
(...)
9. O mandado de segurança não é a via adequada para se
reexaminar o conteúdo fático-probatório constante do
processo administrativo disciplinar para se verificar se a
impetrante praticou ou não os atos que foram a ela imputados
e que serviram de base para sua demissão.
(...)
11. Segurança denegada.
(MS 13.161/DF, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/02/2011, DJe
30/08/2011, destaque meu).

Dessa forma, tendo a Autoridade julgadora concluído pela


responsabilização do Impetrante – porquanto comprovada a desnecessária
contratação da FEPAD, sem pesquisa de preço, sem justificativa do valor do
contrato, sem que a contratada tivesse condição de executar o projeto
assumido, em verdadeiro desvio de finalidade, além de causar prejuízo ao
erário – e não havendo prova pré-constituída em sentido oposto, revela-se
inadequada a via eleita, por demandar dilação probatória.

IV - PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE, DA RAZOABILIDADE E DA


INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA

Argumenta, ainda, o Impetrante que a Autoridade julgadora não


levou em consideração os seus antecedentes funcionais para a fixação da
pena de demissão, não fazendo nenhuma avaliação sobre os serviços
prestados ao longo de mais de 38 (trinta e oito) anos de dedicação exclusiva

Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 32 de 37


Superior Tribunal de Justiça
à Universidade de Brasília, violando os princípios da proporcionalidade,
razoabilidade e individualização da pena.
Melhor sorte não socorre o Impetrante nesse ponto.
Compreendida sua conduta nas disposições dos arts. 117, IX,
e 132, IV, X e XIII, da Lei n. 8.112/90, combinado com os arts. 10, caput, e
incisos I, VIII e XII, e 11, caput, e inciso I, da Lei n. 8.429/92 – valer-se do
cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade
da função pública, lesão aos cofres públicos e prática de ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da Administração Pública e
causa prejuízo ao erário –, não existe para o administrador
discricionariedade para a aplicação de pena diversa de demissão.
Nesse sentido:

MANDADO DE SEGURANÇA. EX-SERVIDOR.


PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. POLICIAL
RODOVIÁRIO FEDERAL. DEMISSÃO. ART. 132, IV E XIII,
DA LEI 8.112/90. ARGUMENTAÇÃO DO IMPETRANTE: A
PENALIDADE FOI-LHE APLICADA LEVANDO EM
CONSIDERAÇÃO SOMENTE A PROVA TESTEMUNHAL,
OS DEPOIMENTOS SÃO CONTRADITÓRIOS E VICIADOS,
HOUVE CERCEAMENTO DE DEFESA E NÃO FORAM
RESPEITADOS OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE, NA APLICAÇÃO DA PENA.
AUSÊNCIA DO INTEIRO TEOR DO PAD. DILAÇÃO
PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
IMPOSIÇÃO DA SANÇÃO MÁXIMA.
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE DA
PENALIDADE, EM DECORRÊNCIA DA FALTA
FUNCIONAL COMETIDA. ORDEM DENEGADA.
(...)
V. Sobre o exame da razoabilidade e da proporcionalidade da
pena de demissão, "este Superior Tribunal de Justiça,
especialmente por sua Primeira Seção, possui o entendimento
de que a análise em concreto do malferimento desses
princípios enseja indevido controle judicial sobre o mérito
administrativo: cabe ao Poder Judiciário apenas apreciar a
regularidade do procedimento, à luz dos princípios do
contraditório e da ampla defesa" (STJ, AgRg no RMS
47.711/BA, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 18/08/2015).
Ainda que assim não fosse, mesmo que se pudesse avançar
sobre o exame da proporcionalidade e razoabilidade da sanção
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 33 de 37
Superior Tribunal de Justiça
aplicada, observa-se que a medida, no caso, mostra-se
adequada, exigível e proporcional. Com efeito, demonstrada a
prática de infração aos arts. 117, IX, e 132, IV e XIII, da Lei
8.112/90, entre outros, o ato de demissão é vinculado. Nesse
sentido: "A Administração Pública, quando se depara com
situações em que a conduta do investigado se amolda nas
hipóteses de demissão ou cassação de aposentadoria, não
dispõe de discricionariedade para aplicar pena menos gravosa
por tratar-se de ato vinculado. Nesse sentido, confira-se: [...] o
administrador não tem qualquer margem de discricionariedade
na aplicação da pena, tratando-se de ato plenamente
vinculado. Configurada a infração do art. 117, XI, da Lei
8.112/90, deverá ser aplicada a pena de demissão, nos termos
do art.132, XIII, da Lei 8.112/90, sob pena de responsabilização
criminal e administrativa do superior hierárquico desidioso (MS
15.437/DF, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA
SEÇÃO, DJe 26/11/2010)" (STJ, MS 15.517/DF, Rel. Ministro
BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de
18/02/2011).
VI. Mandado de Segurança denegado.
(MS 21.197/RJ, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/12/2015, DJe 10/02/2016).

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. SERVIDOR


PÚBLICO FEDERAL. DEMISSÃO. USO DE BEM PÚBLICO
PARA FINS PARTICULARES. VEDAÇÃO. DEMISSÃO.
ATO VINCULADO. ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER
INEXISTENTES. IMPOSSIBILIDADE, NA ESTREITA VIA
MANDAMENTAL, DE SE REVISAR A
PROPORCIONALIDADE DA SANÇÃO APLICADA.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO NÃO EVIDENCIADO.
SEGURANÇA DENEGADA.
1. - O impetrante ocupou o cargo de Oficial de Inteligência do
Quadro de Pessoal da Agência Brasileira de Inteligência -
ABIN, do qual foi demitido com fundamento no artigo 132, XIII,
da Lei n. 8.112/1990.
2. - Restou documentalmente provado nos autos que, fora do
horário regular de expediente (madrugada de um sábado) e
sem que estivesse a serviço, o impetrante, apresentando
sinais de embriaguez, conduzia veículo oficial confiado à sua
guarda, quando se envolveu em acidente de trânsito.
3. - Tais fatos caracterizaram, segundo a Administração,
violação da proibição contida no art. 117, XVI, atraindo, por
isso, a consequente aplicação da demissão, com fundamento
no art. 132, XIII, ambos os dispositivos da Lei n. 8.112/1990,
sem que coubesse, a esse respeito, juízo discricionário da
autoridade competente quanto à conveniência ou oportunidade
de aplicação da sanção de demissão.
4. - A penalidade questionada, portanto, para além de possuir
Documento: 58241301 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 34 de 37
Superior Tribunal de Justiça
amparo legal, guarda consonância com o subjacente contexto
fático.
5. - Não se coaduna com a estreita via mandamental o intento
de rediscutir a proporcionalidade da sanção aplicada, segundo
critérios do art. 128 da Lei nº 8.112/90.
(...)
6. - Segurança denegada.
(MS 20.276/DF, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 22/10/2014, DJe 03/11/2015).

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.
PORTARIA N. 58, DE 30/8/2010 DO MINISTRO DE ESTADO
CHEFE DO GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL
DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. DEMISSÃO DOS
QUADROS DA AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA
- ABIN. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE
VIGILÂNCIA. GESTOR DO REFERIDO CONTRATO.
CONSULTOR DA EMPRESA CONTRATADA. ATUAÇÃO
REMUNERADA. LICITAÇÃO. FRAUDE. PRÁTICA DAS
INFRAÇÕES DO ARTIGO 117, IX E XII, DA LEI N. 8.112/90.
PREVISÃO LEGAL. ARTIGO 132, IV, XI E XIII, DA LEI N.
8.112/90. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. ATO DEMISSIONÁRIO PRATICADO NO
PERÍODO ELEITORAL. ARTIGO 29 DA LEI N. 8.214/91.
INAPLICABILIDADE. APLICAÇÃO DE PENA
DESPROPORCIONAL E EXCESSIVA NÃO VERIFICADA.
QUESTÕES REFERENTES AO MÉRITO
ADMINISTRATIVO. ANÁLISE VEDADA EM SEDE
MANDAMENTAL. OFENSA AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA
DEFESA NÃO OBSERVADA. REINTEGRAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE.
(...)
2. Examinando o apontado ato coator, verifica-se que a pena
de demissão foi aplicada por ter o impetrante infringido as
proibições preconizadas no artigo 117, IX e XII, da Lei n.
8.112/90, que veda, respectivamente, os servidores públicos
civis da União de "valer-se do cargo para lograr proveito
pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função
pública" e "receber propina, comissão, presente ou vantagem
de qualquer espécie, em razão de suas atribuições", por atuar
como consultor de empresa contratada pela Abin, por meio de
processo licitatório, sendo o gestor do referido contrato e
recebendo remuneração pela prestação do serviço de
consultoria, bem como fraudar licitação, mediante
direcionamento do edital.
3. A simples consumação do tipo do artigo 117, IX e XII, da Lei
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Superior Tribunal de Justiça
n. 8.112/90, já seria suficiente para a aplicação da pena de
demissão, nos termos do artigo 132, IV, XI e XIII, do mesmo
estatuto legal. Ademais, a prática das infrações contidas no
artigo 117, IX e XII, do Regime Jurídico Único dos Servidores
Públicos Civis da União pressupõe a anterior e imediata
violação aos deveres funcionais previstos no artigo 116, I, II e
III, da Lei n. 8.112/90. Com efeito, quando o agente público
atua como consultor de empresa contratada pelo órgão que
serve, sendo o gestor do referido contrato e recebendo da
empresa contratada remuneração pelos serviços prestados de
consultoria e não comunica tal fato aos seus superiores, e,
ainda, frauda licitação, infringe as infrações descritas no artigo
117, IX e XII, da Lei n. 8.112/90, pois deixa de exercer com
zelo e dedicação as atribuições do cargo (artigo 116, I, da Lei
n. 8.112/90), age com deslealdade à instituição a que serve
(artigo 116, II, da Lei 8.112/90) e deixa de observar as normas
legais e regulamentares (artigo 116, III, da Lei 8.112/90)
pertinentes, proibitivas desse tipo de atuação.
4. O administrador não tem qualquer margem de
discricionariedade na aplicação da pena, tratando-se de ato
plenamente vinculado. Configurada a infração do artigo 117, IX
e XII, da Lei n. 8.112/90, deverá ser aplicada a pena de
demissão, nos termos do artigo 132, IV, XI e XIII, do mesmo
diploma legal, sob risco de responsabilização criminal e
administrativa do superior hierárquico desidioso. Não há que
se falar, portanto, em desproporcionalidade da pena, já que
informada pelo princípio da legalidade estrita, não havendo
margem para a dosimetria da sanção pelo administrador.
(...)
7. Mandado de segurança denegado.
(MS 15.690/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/10/2011, DJe 06/12/2011).

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.


PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. ANALISTA
TRIBUTÁRIO DA RECEITA FEDERAL. PENA DE
CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. INEXISTÊNCIA DE
VÍCIOS CAPAZES DE MACULAR A LEGALIDADE DO
PROCEDIMENTO. SEGURANÇA DENEGADA.
(...)
6. O mandado de segurança não constitui via adequada para o
reexame das provas produzidas em processo administrativo
disciplinar, tampouco à revisão do juízo de valor que a
autoridade administrativa faz sobre elas.
7. Compreendida a conduta do impetrante nas disposições dos
arts. 117, IX, e 132, IV, da Lei n. 8.112/1990 - valer-se do cargo
para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da
dignidade da função pública, e prática de improbidade
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Superior Tribunal de Justiça
administrativa -, inexiste para o administrador
discricionariedade a autorizar a aplicação de pena diversa da
demissão ou da cassação de aposentadoria.
8. Segurança denegada.
(MS 14.023/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/02/2016, DJe 04/03/2016,
destaque meu).

Em acréscimo, observo que a aplicação da pena de demissão


ao Impetrante atendeu aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, não havendo que se falar em violação ao art. 128 da Lei n.
8.112/90, porquanto a medida é adequada e necessária diante da gravidade
da conduta perpetrada pelo Impetrante, o qual – repita-se – na condição de
Presidente da Fundação Universidade de Brasília - FUB, transferiu
irregularmente à Fundação de Estudos e Pesquisas em Administração e
Desenvolvimento - FEPAD a execução de contrato que deveria ter sido
executado pela própria Universidade de Brasília, como de fato ocorreu,
mesmo ciente de que a fundação de apoio não detinha condições técnicas e
operacionais para assumir tal responsabilidade, evidenciando a prática das
infrações disciplinares capituladas nos arts. 117, IX, e 132, IV, X e XIII, da Lei
n. 8.112/90, combinado com os arts. 10, caput, e incisos I, VIII e XII, e 11,
caput, e inciso I, da Lei n. 8.429/92.
Ante o exposto, DENEGO A SEGURANÇA, restando
prejudicado o agravo regimental de fls. 4.828/4.850e.
Custas processuais pelo Impetrante.
É o voto.

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