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R  E  L  A  T  Ó  R  I  O    D A S

D E S I G  U  A  L  D  A  D  E  S
RAÇA     GÊNERO     CLASSE

ano 2018 / n.2


Luiz Augusto Campos
Danilo Franca
João Feres Júnior
Expediente
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Instituto de Estudos Sociais e Políticos – IESP

Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa


http://gemaa.iesp.uerj.br

g
gemaa@iesp.uerj.br

Coordenadores
João Feres Júnior

Luiz Augusto Campos

Pesquisadoras/es Associadas/os
Anna Carolina Venturini
Bruno Salgado
Laís Müller
Marcell Machado
Marcelle Felix
Marcia Cândido
Poema Eurístenes
Raissa Rodrigues

Assistentes de pesquisa

Águida Bessa
Beatris Lima
Caroline Serôdio
Gizelle Castro
Luisa Calixto
Vivian Nascimento
Capa, layout e diagramação
Luiz Augusto Campos

Marcia Cândido
relatório das desigualdades de raça, gênero e classe (gemaa) / ano 2018 / n. 2 / p. 1

Relatório das Desigualdades de


Raça, Gênero e Classe nº 2

Luiz Augusto Campos O objetivo do Relatório das Desigualdades de


Professor IESP-UERJ Raça, Gênero e Classe nº 2 é tornar acessível ao
grande público dados estatísticos relacionados a
Danilo França
Pesquisador Unicamp
raça, gênero e classe no Brasil. Com base em
resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de
João Feres Júnior Domicílios (PNAD) de 2016, produzimos análises
Professor IESP-UERJ sobre distribuição da população, renda familiar,
média de escolaridade, presença no ensino
superior, taxa de desemprego, classe social, dentre
outros, sempre em referência à variável raça e, em
alguns casos, sua intersecção com gênero. As
conclusões ressaltam as intensas desigualdades do
país, sobretudo no que se refere à questão racial e
ao grupo de mulheres pretas e pardas.

Introdução
O Relatório das Desigualdades GEMAA Nº 2 pretende fornecer uma
descrição geral e sintética das desigualdades raciais e de gênero no Brasil a partir
de indicadores provenientes da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios – Contínua (PNADC), realizada pelo IBGE em 2016. Trata-se de uma
pesquisa amostral nacional que permite o acompanhamento das transformações
das desigualdades em nosso país. Embora foque nos dados de 2016, este texto
remeterá, sempre que possível, aos resultados apresentados no relatório anterior,
referentes ao ano de 2015.
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Metodologia
A PNADC é um survey nacional produzido pelo IBGE que passou a ser
realizado a partir do ano de 2012. Seu intuito é substituir a Pesquisa Mensal de
Emprego (PME) e a PNAD Anual, sendo, portanto, uma agregação de ambas, com
foco em temas relativos ao trabalho e à renda. Diferentemente da PNAD original,
de frequência anual, a PNADC é realizada ao longo de todo o ano, com resultados
divulgados trimestralmente.1

Os dados analisados no presente relatório não são totalmente comparáveis


aos dados da PNAD Anual apresentados no relatório anterior, uma vez que ambas
as pesquisas possuem significativas diferenças no desenho das respectivas
amostras e na definição de variáveis. Não obstante as diferenças metodológicas,
as tendências captadas pelas duas pesquisas se aproximam, permitindo algumas
analogias.

Mantendo os parâmetros do relatório anterior, as desigualdades de raça e


gênero serão discutidas a partir de gráficos que exibem indicadores educacionais,
de renda e trabalho da população adulta, isto é, indivíduos entre 18 e 64 anos.
Consideraremos os grupos de raça-cor autodeclarados brancos, pretos e pardos,
que compreendem 99,2% da população brasileira.

Resultados
O Gráfico 1 apresenta a distribuição de cor/raça no Brasil dentro das
categorias censitárias definidas pelo IBGE (“brancos”, “pretos”, “pardos”,
“amarelos” e “indígenas”). Para facilitar a visualização, juntamos na categoria
“outros” todos os homens e mulheres autodeclarados “amarelos” e “indígenas”,
que, somados, correspondem a 0,8% da população.

1A antiga PNAD Anual foi realizada até o ano de 2015, ou seja, entre 2012 e 2015, ambas as PNADs
(Anual e Contínua) eram divulgadas pelo IBGE. A partir do ano de 2016, o IBGE interrompeu a
realização da PNAD Anual e passou a divulgar apenas a PNAD Contínua.
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Gráfico 1 Percentual de grupos


de cor de acordo com
autodeclaração (2016)

0,8
8,3

44,7

46,2

Outros Branca Parda Preta

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

Desde 2007, os autodeclarados “brancos” não são mais o grupo de cor/raça


majoritário na população. Os dados recentes confirmam a tendência de queda da
proporção desses indivíduos, que correspondiam a 44,7% da população em 2016.
Os autoclassificados “pardos” representam a maior parcela da população
brasileira, correspondendo a 46,2%, enquanto os autodeclarados “pretos” somam
8,3%.
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Gráfico 2 Distribuição por


cor/raça no tempo entre
1998 e 2016

60%

54% 54% 53%


50% 51%
50% 48% 48% 46%
45% 45%
43% 44% 43% 45%
42%
40% 40% 40%
38%

30%

20%

10%
8% 8% 9% 8%
6% 6% 6% 6% 7% 7%

0% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 2% 1% 1% 1%
CENSO

CENSO
PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNAD

PNADC
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

brancos pardos pretos outros

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

O Gráfico 3 apresenta alguns dados sobre a desigualdade racial presente


na trajetória escolar dos brasileiros. Autodeclarados “brancos” ainda
predominam nos níveis de escolaridade mais altos, enquanto “pretos” e “pardos”
se concentram nos mais baixos. Este predomínio condiz com resultados
apresentados no relatório anterior, embora possamos verificar um crescimento
da proporção dos formados no ensino superior em todos os três grupos raciais.
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Gráfico 3 Distribuição racial por


níveis de escolaridade
(2016)

32%

29%

31%

30% 9%

10% 8%
8% 7% 32%
10% 4%
20% 8% 5% 22%
9%
4% 9% 5% 7%
SEM FUNDAMENTAL FUNDAMENTAL MÉDIO MÉDIO SUPERIOR SUPERIOR
INSTRUÇÃO E INCOMPLETO COMPLETO OU INCOMPLETO COMPLETO OU INCOMPLETO COMPLETO
MENOS DE 1 OU EQUIVALENTE OU EQUIVALENTE OU
ANO DE EQUIVALENTE EQUIVALENTE EQUIVALENTE
ESTUDO

Brancos Pardos Pretos

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

Uma característica que pode ser depreendida do Gráfico 3, e que é


confirmada de forma mais explícita no Gráfico 4, é a similaridade dos indicadores
educacionais de pretos e pardos. A média dos anos de estudos destes últimos está
empatada nos 8 anos de escolarização e ainda abaixo da média dos brancos.
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Gráfico 4 Média dos anos de


escolaridade por
raça/cor (2016)

12

10
10

8 8
8

0
Brancos Pardos Pretos
Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

O Gráfico 5 apresenta a distribuição racial por faixas de renda. Novamente,


os números são análogos àqueles das desigualdades educacionais: brancos
sobrerrepresentados nos domicílios de renda mais alta e pretos e pardos naqueles
de renda mais baixa. Impressiona a desproporção racial no topo da pirâmide de
renda (famílias com renda acima de 5 salários mínimos per capita), bem como
na base. Na comparação com os dados de 2015, parece ter havido uma pequena
diminuição de pretos e pardos no topo e aumento destes na base, embora tal
variação esteja dentro da margem de erro amostral.
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Gráfico 5 Distribuição racial por


faixas de renda
domiciliar per capita
(2016)

40%
34%
35%
30% 31%31% 31%
30%
26%
24%
25% 23%

20%
14%
15% 12%
9%
10% 7% 6% 7%

5% 3% 3%
1% 2% 1% 1% 2%
0%
Sem rendimento Até ½ SM De ½ a 1 SM De 1 a 2 SM De 2 a 3 SM De 3 a 5 SM Mais de 5 SM

Brancos Pretos Pardos

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

A proximidade entre pretos e pardos, bem como a distância destes com


relação aos brancos, é mais uma vez confirmada por meio da comparação das
rendas domiciliares. Os brancos auferem em média quase o dobro da renda dos
não brancos: 88,8% a mais que pretos e 89,7% a mais que os pardos.

Dadas as transformações nos rendimentos provocadas pela inflação, bem


como pelas diferenças metodológicas das PNADs Anual e Contínua, não podemos
realizar uma comparação direta com os dados de 2015. Ainda assim, as diferenças
percentuais indicam que a renda média dos brancos era 80% maior que a dos
pardos e 81% maior que a dos pretos. Ou seja, observamos um aprofundamento
nas desigualdades raciais de renda, especialmente de 2015 para 2016, explicitado
no Gráfico 6.
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Gráfico 6 Média da renda


domiciliar per capita
por raça/cor entre 2011
e 2016 (em reais)

2000
1747
1800

1600 1487 1521


1378
1400 1257

1200 1093

1000 921
828 841
742
800 602 676 925
820 839
600 737
602 665
400

200

0
2011 2012 2013 2014 2015 2016

Brancos Pretos Pardos

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

A proximidade entre pretos e pardos nos indicadores educacionais e de


renda nos permite agrupá-los num único grupo em algumas análises de
indicadores socioeconômicos. Assim, o Gráfico 7 sumariza estes diferenciais e
confirma o aumento da disparidade racial em renda e educação com relação ao
ano de 2015. Deve ser ressaltada a forte estabilidade da desigualdade, na série
analisada, com os diferenciais de renda sendo sempre maiores que os diferenciais
educacionais. No ano de 2016, a desigualdade de renda entre brancos e não-
brancos atingiu o maior valor da série histórica, com uma vantagem de 90% para
os primeiros.
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Gráfico 7 Razão entre a média


de renda domiciliar per
capita e a escolaridade
de brancos e não
brancos no Brasil entre
2011 e 2016 (%)

200% 186% 186% 190%


181% 180% 181%
180%

160%

140%
121% 121% 121% 120% 119% 122%
120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
2011 2012 2013 2014 2015 2016

Renda Anos de estudo

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

Uma avaliação mais acurada da distribuição de brancos, pretos e pardos


nas diferentes posições sociais pode ser realizada observando-se a distribuição
destes grupos em categorias ocupacionais. Estas são importantes referências nos
estudos de estratificação social, pois somam pré-requisitos de qualificação
educacional, hierarquias de status social e expectativas de rendimento e
recompensas materiais e simbólicas. Neste relatório, lançaremos mão do
esquema de categorias ocupacionais proposto por Erikson, Goldthorpe e
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Portocarrero2, chamado doravante de “esquema EGP”, adaptado aos dados


nacionais de forma análoga ao que foi realizado por Barbosa e Marschner3.
O Gráfico 8 apresenta a distribuição de brancos, pretos e pardos na
população ocupada brasileira em onze categorias ocupacionais do esquema EGP
adaptado. Os brancos estão mais representados em categorias com maiores
requisitos de qualificação e/ou maiores recompensas materiais e simbólicas,
como as de Profissionais e Administradores, Proprietários e Empregadores.
Pretos e pardos estão sobrerrepresentados em categorias de menor renda e
qualificação como as de trabalhadores manuais. Os três grupos de raça/cor têm
participação quase igual em categorias intermediárias como as de trabalhadores
não-manuais de rotina e técnicos e supervisores do trabalho manual.

2 ERIKSON, Robert; GOLDTHORPE, John; PORTOCARERO, Lucienne. Intergenerational class


mobility in three Western European societies. British Journal of Sociology, v. 30, n. 4, p. 415-439,
1979. Ver também: CARVALHAES, Flavio Alex de Oliveira. A tipologia ocupacional Erikson-
Goldthorpe-Portocarero (EGP): uma avaliação analítica e empírica. Sociedade e
Estado., Brasília, v. 30, n. 3, p. 673-703, dez. 2015.
3 BARBOSA, Rogério; MARSCHNER, Murillo. "Uma proposta de padronização de classificações

em pesquisas do IBGE (Censos 1960-2010) e PNADs (1981-2011): educação, setores de atividade


econômica e ocupação (ISCO-88, EGP11 e ISEI)". Working paper. Mimeo. 2013.
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Gráfico 8 Distribuição racial por


categorias socio-
ocupacionais EGP em
2016

4,2%
I. Prof e Adm de Nível Alto 3,4%
11,5%

5,7%
II. Prof e Adm de Nível Baixo 6,8%
10,6%

9,7%
IIIa. Não-manual rotina, nível alto 9,7%
12,0%

15,9%
IIIb. Não-manual rotina, nível baixo 14,7%
14,4%

2,5%
IVa2. Proprietários e empregadores 1,6%
5,6%

0,2%
IVc1. Propr rurais com empregados 0,1%
0,3%

7,0%
IVc2. Propr Rurais de Subsistência 5,1%
5,0%

V. Técnicos e supervisores do Trab. 3,0%


3,2%
Manual
3,7%

28,6%
VI. Trabalhadores Manuais Qualif. 29,8%
23,0%

18,7%
VIIa. Trab Manuais Não-qualif 21,8%
11,9%

4,4%
VIIb. Trab Manuais Rurais 3,9%
2,0%

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0%

Pardos Pretos Brancos

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.


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O Gráfico 9 sintetiza as onze categorias em três grandes grupos


hierarquizados: o primeiro deles, representando classes sociais mais altas, agrega
as categorias de profissionais e administradores (de alto e baixo nível) e de
proprietários e empregadores (rurais ou não); o segundo, representando classes
intermediárias, é composto pelas categorias de trabalhadores não-manuais (de
alto e baixo nível) e de técnicos e supervisores; no terceiro grupo, das classes mais
baixas, estão os trabalhadores manuais. Os resultados explicitam a tamanha
desproporção da representatividade de brancos nas classes mais altas e de não
brancos nas classes mais baixas.

Gráfico 9 Distribuição racial por


agregados de categorias
ocupacionais no Brasil
(2016)

13%
Profiss, Propriet e Empreg 12%
28%

29%
Trab Não-Manuais, Técn e Superv 28%
30%

59%
Trabalhadores Manuais 61%
42%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Pardos Pretos Brancos

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

Em tese, cada ocupação se caracterizaria por um nível de rendimento


médio comum entre os indivíduos que a praticam. No entanto, é possível observar
significativas desigualdades raciais de renda internas às categorias ocupacionais.
Estes resultados são apresentados no Gráfico 10. Comparando os rendimentos
domiciliares médios de brancos, pretos e pardos em cada um dos três agregados
de categorias ocupacionais, nota-se que a recompensa em renda dos brancos é
sempre mais alta que a dos pretos e pardos. A distância entre brancos e não
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brancos aumenta paulatinamente à medida em que nos aproximamos das classes


mais altas. Além disso, o gráfico evidencia que, apesar de terem rendimento
médio muito semelhante nas classes baixas e intermediárias, há uma maior
distinção entre pretos e pardos nas classes altas, com vantagem para estes
últimos.

Gráfico 10 Média da renda


domiciliar per capita
por raça/cor e classe
social em 2016 (reais)

4000
3643

3500

3000

2500
2372

2000 2169
1653

1500
1075 1187
1000 1162
809

500 755

0
Trabalhadores Manuais Trabalhadores Não-Manuais, Profissionais, Proprietários e
Técnicos e Supervisores Empregadores

Brancos Pretos Pardos

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

O Gráfico 11 apresenta a taxa de desemprego de brancos, pretos e pardos


entre 2011 e 2016. Mais uma vez, os dois grupos não brancos apresentam
indicadores muito próximos (13%) e piores que o dos brancos, grupo que possuía
9% de desempregados em 2016. Convém apontar que estes indicadores de
desemprego são os maiores da série para os três grupos, mas principalmente para
pretos e pardos, o que nos sugere que os não brancos são particularmente
afetados por oscilações e crises econômicas, como a que ocorria no país em 2016.
relatório das desigualdades de raça, gênero e classe (gemaa) / ano 2018 / n. 2 / p. 14

Gráfico 11 Taxa de desemprego


por raça/cor entre 2011
e 2016 (%)

14%
13%
13%
12%
11%

10%
10%
9%
8% 8%
8% 8% 8%
7% Brancos
7% 7% 7% 7% Pardos
6%
6% 6% Pretos
5% 5%
4%

2%

0%
2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.


relatório das desigualdades de raça, gênero e classe (gemaa) / ano 2018 / n. 2 / p. 15

Gráfico 12 Distribuição da
população de acordo
com raça/cor e gênero
(2016)

30% 28%
27%

25% 24%
21%
20%

15%

10%

5%

0%
Brancos Não-Brancos

Mulher Homem

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

O Gráfico 12, que contém a distribuição da população segundo raça e


gênero, inicia uma sequência de análises das desigualdades por raça e gênero. O
gráfico apresenta uma clara demonstração de que os não brancos conformam a
maioria da população brasileira. As mulheres não brancas correspondem à maior
parcela (28%) da população, seguidas pelos homens não brancos (27%), mulheres
brancas (24%) e, finalmente, homens brancos (21%). Os resultados expostos mais
adiante mostrarão que estes últimos, minoritários, apresentam os melhores
indicadores socioeconômicos.
relatório das desigualdades de raça, gênero e classe (gemaa) / ano 2018 / n. 2 / p. 16

Gráfico 13 Média da renda


domiciliar per capita
por raça/cor e gênero
no Brasil entre 2011 e
2016 (em reais)

2000
1798
1800

1526 1558 1702


1600
1418
1300 1489
1400
1452
1122 1342
1200 1220
1067 958
1000
867 881
800 777
702 887
626 789 802
600 706
647
578
400

200

0
2011 2012 2013 2014 2015 2016

Homem Branco Mulher Branca Homem Não-Branco Mulher Não-Branca

Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

O Gráfico 13 compara as médias das rendas domiciliares per capita dos


quatro grupos de raça e gênero desde 2011 até 2016. Os resultados revelam a
enorme vantagem dos homens brancos, cuja renda é maior que o dobro da renda
das mulheres não brancas, bem como um abismo racial no qual os brancos
(homens e mulheres) são mais favorecidos do que homens e mulheres não
brancos. Há também evidentes vantagens dos homens no interior de cada grupo
racial. Contudo, se, em vez de observarmos as rendas domiciliares, compararmos
as rendas individuais (auferidas no mercado de trabalho ou outras fontes de
rendimentos), as desigualdades de gênero se tornam mais acentuadas, embora
ainda menores do que as desigualdades raciais.
relatório das desigualdades de raça, gênero e classe (gemaa) / ano 2018 / n. 2 / p. 17

Gráfico 14 Média dos anos de


escolaridade por
raça/cor e gênero no
Brasil entre 2011 e
2016
12

10 10 10 10 10
10
9 10
9 9 9
9 9
8 8 8 8 8
8
8 8 8 8
Mulher Branca
7 7 7
6 Mulher Não-Branca
Homem Branco
Homem Não-Branco
4

0
2011 2012 2013 2014 2015 2016
Fonte: GEMAA, a partir de dados do IBGE.

O Gráfico 14 compara os anos de estudo dos quatro grupos de raça e


gênero. Mais uma vez, percebe-se um padrão de desigualdades raciais homólogo
ao observado desde o início deste texto: brancos (homens e mulheres) têm, em
média, cerca de 10 anos de estudo enquanto que a média dos homens e mulheres
não brancos é de cerca de 8 anos. Entretanto, os dados deste gráfico apontam
uma perversa especificidade no que tange os diferenciais de gênero: no interior
de cada grupo racial, as mulheres apresentam uma média de anos de estudo
superior àquela dos homens. Este resultado nos sugere não apenas uma maior
escolarização das mulheres, mas, também, e principalmente, que o acúmulo de
credenciais educacionais por parte da população feminina não se converte em
maiores ganhos de rendimentos tal qual ocorre entre os homens, em especial, os
homens brancos.
relatório das desigualdades de raça, gênero e classe (gemaa) / ano 2018 / n. 2 / p. 18

Considerações Finais
O presente texto apresentou um panorama geral das desigualdades raciais
e de gênero no âmbito da educação, trabalho e renda. Em todas as mensurações,
observamos significativas vantagens dos brancos com relação aos não brancos,
haja vista que os resultados de pretos e pardos são muito semelhantes. As
disparidades aqui expostas mostram, em grande medida, uma certa melhora das
desigualdades de classe e de gênero, mas uma pequena piora das desigualdades
entre os grupos raciais.

As distâncias maiores foram observadas na mensuração da média de renda


domiciliar, na qual os homens brancos são especialmente favorecidos, seja em
comparação com homens e mulheres não brancas (que obtêm cerca da metade da
renda deles), seja em comparação às mulheres brancas (que possuem maior
média de anos de escolaridade e, ainda assim, recebem menos do que eles). No
extremo oposto, as mulheres não brancas possuem a menor renda média dos
quatro grupos de raça e gênero considerados, mesmo possuindo escolaridade
maior que a dos homens não brancos.

É difícil determinar em que medida tais números representam tendências


consolidadas, sobretudo pelos problemas de comparação da PNAD Contínua e os
dados anteriores. Isso mostra, contudo, a importância de permanecer
monitorando a evolução de tais desigualdades nos anos que se seguem. Só assim
poderemos avaliar melhor os efeitos de alguns recentes retrocessos sociais e
econômicos nas populações mais desfavorecidas.

Como citar
CAMPOS, Luiz; FRANÇA, Danilo & FERES JÚNIOR,
João. Relatório das Desigualdades de Raça, Gênero e
Classe (GEMAA), n. 2, 2018, pp. 1-18.

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