Você está na página 1de 5

LEI DE INTRODUÇÃO AS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

Decreto-Lei 4.657/1942
1. Conceito nulidade ou anulabilidade. Exemplo: o divorciado que
É uma norma jurídica que visa regulamentar outras se casar sem realizar a partilha dos bens sofrerá como
normas jurídicas, determinando seu modo de sanção o regime da separação dos bens.
aplicação e entendimento no tempo e espaço. Embora
seja anexa ao Código Civil, é autônoma e aplica-se a e) Imperfeitas: são aquelas cuja violação não acarreta
todos os ramos de direito, exceto se o tema for qualquer consequência jurídica.
regulado de forma diversa na legislação específica.
4. Código, Consolidação, Compilação e Estatuto
Obs. A Lei 12.376 alterou apenas a nomenclatura a) Código: é o conjunto de normas estabelecidas por
LICC para LINDB, restando intocáveis os artigos do lei. É, pois, a regulamentação unitária de um mesmo
Decreto Lei nº 4.657/42. ramo do direito. Ex. Código Civil.

2. Conteúdo b) Consolidação: é a regulamentação unitária de leis


a) Vigência e eficácia das normas jurídicas; preexistentes. A Consolidação das Leis do Trabalho,
b) Conflito de leis no tempo; por exemplo, é formada por um conjunto de leis que
c) Conflito de leis no espaço; acabaram sendo reunidas num corpo único.
d) Critérios hermenêuticos;
e) Critérios de integração do ordenamento jurídico; c) Compilação: consiste num repertório de normas
f) Normas de direito internacional privado. organizadas pela ordem cronológica ou matéria.

3. Característica das Leis d) Estatuto: é a regulamentação unitária dos


a) Generalidade ou impessoalidade: se dirige a todas interesses de uma categoria. Ex. Estatuto do Idoso.
as pessoas indistintamente. Abre-se exceção à lei
formal ou singular, que é destinada a uma pessoa VIGÊNCIA DA LEI
determinada, como, por exemplo, a lei que concede
aposentadoria a uma grande personalidade pública. 1. Conceito
Lapso temporal que vai do momento em que a lei
b) Obrigatoriedade e imperatividade: porque o seu passa a ter força vinculante até a data em que é
descumprimento autoriza a imposição de uma sanção; revogada ou se esgota o prazo prescrito para sua
duração.
c) Permanência ou persistência: porque não se
exaure numa só aplicação; 2. Início da Vigência
Conforme o art. 1° da Lei de introdução, a lei começa
d) Autorizante: porque a sua violação legitima o a vigorar em todo o país 45 dias depois de
ofendido a pleitear indenização por perdas e danos. oficialmente publicada, salvo disposição em contrário.
Quando a lei brasileira é admitida no exterior, a sua
4. Classificação obrigatoriedade tem início somente 3 meses depois de
a) Cogentes ou injuntivas: são as leis de ordem oficialmente publicada.
pública, e, por isso, não podem ser modificadas pela
vontade das partes ou do juiz. Atenção: Não é 90 dias é 3 meses.

b) Supletivas ou permissivas: são as leis dispositivas, 3. Vacatio Legis


que visam tutelar interesses patrimoniais, e, por isso, O intervalo (45 dias ou três meses ou outro previsto
podem ser modificadas pelas partes. em lei) entre a data da publicação da lei e a sua entrada
em vigor denomina-se vacatio legis. Inclusive, durante
c) Perfeitas: são as que preveem como sanção à sua este intervalo, a lei não produzirá efeitos, devendo
violação a nulidade ou anulabilidade do ato jurídico. incidir a lei anterior no sistema legislativo. Conta-se o
prazo dia a dia, inclusive domingos e feriados
c) Mais que perfeitas: são as que preveem como
sanção à sua violação, além da anulação ou 3.1. Obrigatoriedade da Vacatio
anulabilidade, uma pena criminal. Em duas hipóteses a vacatio legis é obrigatória: Lei
que cria ou aumenta contribuição social para a
d) Menos perfeitas: são as que estabelecem como Seguridade Social. (VL de 90 dias, art. 195, § 6.º,
sanção à sua violação uma consequência diversa da CF).
Lei que cria ou aumenta tributo. (VL 90 dias art. a) Derrogação: é a revogação parcial de uma lei. Ou
150, III, c, CF). seja, somente uma parte da lei é revogada e o restante
3.2. Contagem do Prazo continua em vigor.
Art. 8º, § 1º da LC 95/98 - A contagem do prazo para b) Ab-rogação: é a revogação total de uma lei. Ou
entrada em vigor das leis que estabeleçam período de seja, toda a lei é suprimida. Logo, todos os dispositivos
vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação daquela lei não serão mais usados e nem válidos.
e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia
subsequente à sua consumação integral. Ex. Lei 3. Repristinação
publicada no dia 02 de abril. Prazo de vacância de 10 A repristinação consiste na restauração da lei revogada
dias. No caso, o prazo de vacância inclui o dia 02 de pelo fato da lei revogadora ter perdido sua vigência. E,
abril e vai até o dia 11 de abril (porque são 10 dias de como regra (há exceção), a repristinação não é
vacância). Mas a lei somente entrará em vigor no dia admitida em nosso sistema jurídico. Para que ocorra a
seguinte (12 de abril). lei nova tem que expressamente declarar a restauração.

4. Nova Publicação de Texto Legal 4. Ultratividade das Normas


Se, ao longo desse tempo de espera, sobrevierem Admite-se, excepcionalmente, o fenômeno da
correções ao texto de lei, a contagem do prazo é ultratividade da norma, a qual continuará a proteger
reiniciada. Já qualquer modificação, após o início de atos pretéritos, mesmo após ser revogada. Ex. art. 144
vigência, implicará em uma lei nova, salvo quando se do CTN que determina que o lançamento se reportará
tratar apenas de correção de erros de digitação. à data do fato gerador, regulando-se pela lei então
vigente, ainda que posteriormente modificada ou
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO revogada.

1. Continuidade das Leis APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO


Regra geral, quando uma lei entra em vigor, ela não
tem prazo de vigência, salvo a exceção das leis 1. Normas do País em que For Domiciliada a Pessoa
temporárias. Desse modo, prevalece o princípio da Nos termos do art. 7.º da LINDB, serão aplicadas as
continuidade das leis em nosso ordenamento jurídico. normas do país em que for domiciliada a pessoa, no
Assim, a lei deixa de alcançar os fatos supervenientes, que concerne ao começo e fim da personalidade,
entretanto, continua a alcançar os efeitos dos atos quanto ao nome, capacidade e direitos de família.
praticados durante o seu período de vigência, salvo
disposição em contrário e desde que não afronte 2. Princípio da Territorialidade Moderada
direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa O Brasil adotou, quanto à vigência da lei no espaço, o
julgada. princípio da territorialidade moderada/temperada.
Portanto, não é absoluta a regra de aplicação da lei
a) Direito adquirido: consiste no direito material ou nacional, uma vez que, admite-se que, em certas
imaterial incorporado ao patrimônio do titular. circunstâncias especiais, a lei estrangeira tenha
eficácia dentro do nosso território, sem que isso
b) Ato jurídico perfeito: traduz-se naquele comprometa a soberania do país.
consumado nos termos da lei vigente ao tempo em que
se efetuou. Ex. um contrato que já foi celebrado, mas 3. Casamento Celebrado no Brasil
que ainda continua produzindo efeitos. Quanto ao casamento celebrado no Brasil devem ser
aplicadas as regras quanto aos impedimentos
c) Coisa julgada: consiste na decisão judicial matrimoniais conforme o art. 1.521 do CC. No mesmo
prolatada, da qual não cabe mais recurso. sentido, temos o art. 7.º, § 1.º, da LINDB. Quanto ao
casamento entre estrangeiros, esse poderá ser
2. Revogação celebrado no Brasil,
A revogação é o fenômeno pelo qual uma lei perde a perante autoridades diplomáticas ou consulares do
sua vigência. o princípio da continuidade tem exceção, país de ambos os nubentes (art. 7.º, § 2.º, da LINDB).
que são os casos das leis temporárias, cuja vigência Por fim, se os nubentes tiverem domicílios diversos,
tem prazo certo. A lei não perde a sua eficácia pelo deverão ser aplicadas as regras - quanto à invalidade
desuso; e o costume não tem força para revogar a lei. do casamento - do primeiro domicílio conjugal (art.
7.º, §3.º, da LINDB).
2.1. Espécies de Revogação
3.1. Regras Patrimoniais
Quanto às regras patrimoniais sobre o regime de bens Quando o juiz aplica a norma ao caso concreto
do casamento, deverá ser aplicada a lei do local em que (subsunção), normalmente, ele faz um exercício de
os cônjuges tenham domicílio. No entanto, em caso de interpretação das leis para efetuar o silogismo jurídico.
divergência quanto aos domicílios, prevalecerá o Nessa esteira, interpretar significa descobrir o sentido
primeiro domicílio conjugal. e o alcance da norma jurídica.
4. Bens
Em relação aos bens, o art. 8º da Lei de Introdução 2. Métodos de Interpretação
prevê que deve ser aplicada a norma do local em que a) interpretação autêntica/legislativa: é a realizada
esses se situam. Em caso de bens móveis pelo próprio legislador através de lei interpretativa. No
transportados, deverá ser aplicada a norma do caso, o legislador reconhece a obscuridade ou
domicílio do seu proprietário. Quanto ao penhor, será ambiguidade da norma e vota uma nova lei que se
aplicada a norma do domicílio que tiver a pessoa em destinada a esclarecer a sua intenção.
cuja posse se encontre a coisa empenhada.
b) Interpretação jurisprudencial/judicial: é a
5. Local que Rege as Obrigações interpretação fixada pelos Tribunais.
Conforme o art. 9º da LINDB, as obrigações serão
regidas pelas leis do local em que foram c) Interpretação doutrinária: é a interpretação feita
constituídas. pelos estudiosos do direito através de seus livros.

6. Organizações Destinadas a Interesse Coletivo d) Interpretação gramatical: consiste na busca do


Nos termos do art. 11 da Lei de Introdução, as sentido literal ou textual da norma constitucional.
organizações destinadas a fins de interesse coletivo,
como as sociedades e as fundações, devem obedecer à e) Interpretação lógica/racional: utiliza raciocínios
lei do Estado onde foram criadas. lógicos ou dedutíveis para a análise da norma. É o
método que atende ao espírito da lei, uma vez que
7. Contratos do Exterior procura
No que diz respeito ao contrato celebrado no exterior apurar o sentido e a finalidade da norma.
e destinado a produzir efeitos em nosso país, serão
admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto f) Interpretação sistemática: se relaciona com a
aos interpretação lógica, e, por tal motivo, muitos juristas
fatores externos, requisitos extrínsecos do ato. preferem denominá-la como interpretação lógico-
sistemática. Segundo esse método de interpretação,
8. Sucessão por Morte ou por Ausência uma lei não existe isoladamente, logo deve ser
No que concerne à sucessão por morte ou por interpretada em conjunto com outras pertencentes à
ausência, serão aplicadas as normas do país do último mesma categoria do direito.
domicílio do de cujus. As regras de vocação
hereditária para suceder bens de estrangeiro situados g) Interpretação histórica: baseia-se na busca dos
no Brasil serão as nacionais. Por sua vez, a sucessão antecedentes remotos e imediatos que interferiram no
de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada processo de interpretação de uma determinada lei, ou
pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos seja, baseia-se na investigação dos antecedentes da
filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre norma, na pesquisa do processo legislativo, com o
que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de intuito de descobrir o seu exato significado.
cujus.
h) Interpretação sociológica/teleológica: busca
9. Réu for Domiciliado no Brasil conciliar o sentido da norma às novas exigências
O art. 12 da Lei de Introdução assegura a competência sociais.
da justiça brasileira, quando o réu for domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação; i) Interpretação declarativa: é a interpretação que
garantindo, ainda, a competência da autoridade pátria declara o exato alcance da norma, ou seja, o texto legal
em casos de ações relativas a imóveis situados no corresponde ao pensamento do legislador.
Brasil.
j) Interpretação extensiva/ampliativa: amplia o
INTERPRETAÇÃO DA LEI sentido e o alcance apresentado pela expressão literal
da norma jurídica.
1. Conceito
l) Interpretação restritiva: restringe o sentido e o previstas, mas que foram compreendidas pelo seu
alcance apresentado pela expressão literal da norma alcance interpretativo.
jurídica.
b) Costumes: trata-se da prática reiterada, pública, e
INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA geral de determinado ato com a convicção de sua
obrigatoriedade.
1. Conceito
É sabido que o legislador não consegue prever todas c) Princípios gerais de direito: são mandamentos que
as situações que ocorrerão no presente e no futuro da se encontram na consciência dos povos e que são
sociedade, ainda mais porque vivemos em uma universalmente aceitas, ainda que não sejam escritas.
geração de constantes mudanças. Essa realidade
cambiante gera situações não previstas de modo
específico pelo legislador (lacunas) e que reclamam 4. Antinomia
solução por parte do juiz. Assim, integrar significa A antinomia (lacunas de colisão) é o fenômeno
preencher as lacunas da lei. E tem por objetivo baseado na presença de duas normas conflitantes
fornecer uma resposta jurídica para aquele que procura válidas e emanado de autoridade competente, sem que
o judiciário. se possa
dizer qual delas merecerá aplicação, em determinado
2. Classificação das Lacunas caso concreto.
a) Lacuna normativa: ausência de norma prevista
para determinado caso concreto; 4.1. Critérios para Aplicação
a) Critério cronológico: a norma posterior deve
b) Lacuna ontológica: presença de norma para o caso prevalecer sobre norma anterior;
concreto, entretanto, desprovida de eficácia social;
b) Critério da especialidade: a norma especial deve
c) Lacuna axiológica: presença de norma para o caso prevalecer sobre norma geral;
concreto, entretanto, considerada insatisfatória ou
injusta; c) Critério hierárquico: a norma superior deve
prevalecer sobre norma inferior.
d) Lacuna de conflito ou antinomia: choque de duas
ou mais normas válidas, sem que se possa dizer qual 4.2. Antinomia de 1º Grau
delas será aplicada em face de um determinado caso A antinomia de 1º grau é o choque de normas que
concreto. envolvem somente um dos metacritérios (cronológico,
especialidade, hierárquico). Casos de antinomia de 1º
3. Mecanismos Destinados a Suprir as Lacunas grau:
a) Analogia: demanda o preenchimento dos seguintes
requisitos: ausência de lei para disciplinar a hipótese a) Na hipótese de colisão entre norma posterior e
do caso concreto; semelhança entre a relação não norma anterior, valerá a norma posterior, com base no
contemplada por lei e a outra regulada; e identidade de critério cronológico;
fundamentos lógicos e jurídicos entre as duas
situações. Pode ser dividida em: analogia legis que b) Em caso de norma especial em confronto com
está pautada na aplicação de uma norma existente, norma geral, prevalecerá a norma especial, com fulcro
destinada a reger caso semelhante ao previsto. no critério da especialidade;
Portanto, a sua fonte é uma norma jurídica isolada, que
é aplicada para casos similares. E analogia juris, que c) Na situação de choque entre norma superior e norma
está baseada em um conjunto de normas, para que inferior, valerá a norma superior, por força do critério
sejam obtidos elementos que permitam a sua aplicação hierárquico.
ao caso em juízo não previsto.
4.3. Antinomia de 2º Grau
Obs. a analogia não se confunde com a interpretação A antinomia de 2.º grau é a colisão de normas válidas
extensiva. A primeira consiste no recurso a outra que envolvem dois dos metacritérios (cronológico,
norma do sistema jurídico, em virtude da inexistência especialidade, hierárquico). Casos de antinomias de 2º
de norma adequada à solução do caso concreto. grau:
Porém, implica na extensão da esfera de aplicação da
mesma norma a situações não expressamente
a) Na hipótese de choque entre uma norma especial
anterior e outra geral posterior, prevalecerá a norma
especial anterior, com espeque no critério da
especialidade;

b) Na situação de colisão de norma superior anterior e


outra inferior posterior, valerá a norma superior
anterior, com base no critério hierárquico;

c) Em caso de conflito entre uma norma geral superior


e outra norma especial e inferior, não existe um
metacritério.

Você também pode gostar