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22/09/2018 Graça e redenção em “O Senhor dos Anéis”

O Senhor dos Anéis

Graça e redenção em “O Senhor dos


Anéis”
Por que é que, depois de nos segurar por mais de 900 páginas e nos levar
até a beira das Fendas da Perdição, Tolkien parece rir da nossa cara no
momento mais intenso da história, fazendo Frodo recuar e trair todas as
expectativas, com medo de destruir logo o Um Anel?

Nesta terceira aula do nosso curso de férias sobre “O Senhor dos Anéis”,
você vai descobrir a profunda dimensão espiritual por trás desta e de
muitas outras passagens da trilogia do Anel!

Colocamos aqui à disposição dos alunos, em forma de breves tópicos, as principais aplicações
teológicas que o Pe. Paulo Ricardo nos propõe na aula de hoje como guias de leitura de algumas
passagens e personagens de O Senhor do Anéis.

O momento mais precioso e extraordinário, do ponto de vista teológico, de toda a


saga O Senhor dos Anéis é a incapacidade de Frodo, após uma série de façanhas
heróicas encaradas com grande resiliência, de lançar o Um Anel nas Fendas da
Perdição do monte Orodruin. Por trás desse “fracasso” do hobbit Bolseiro está a
verdade de que nenhum de nós pode vencer o mal com as próprias forças; trata-se,
numa palavra, do primada da graça divina sobre as debilidades e limitações da
natureza humana.

Também em Gollum pode-se ver um símbolo da graça sobrenatural entendida como


dom de Deus. Ele é retratado, pois, como um instrumento a serviço da Providência,
não só por seu papel na destruição do Um Anel, mas por ter sido, em várias ocasiões
ao longo da história, objeto da misericórdia de Bilbo, Frodo e Sam, que por
compaixão se recusaram a matá-lo.

Nesse sentido, Gollum encarna tanto o inimigo a quem devemos amar como as
dificuldades que, mesmo que não o percebamos, concorrem ao fim e ao cabo para a
nossa redenção e santificação.

O mundo de O Senhor dos Anéis só pode ser bem entendido se tivermos em mente
as características do mundo em que vivemos, marcado pelo pecado original,
associado particularmente ao apego cioso com que Eva, segundo o Livro do Gênese,

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22/09/2018 Graça e redenção em “O Senhor dos Anéis”

estendeu a mão para pegar o fruto proibido.

É por isso que a luta contra as consequências do pecado — fraqueza da vontade, afã
de possuir etc. — se expressa, em parte, na figura e nas adversidades de Frodo dos
Nove Dedos: o pecado, a escravidão e o egoísmo consistem em cerrar os punhos e
apegar-se ao Anel; a virtude, a liberdade e a redenção, em abrir a mão e deixá-lo ir.

O Fogo Secreto do qual Gandalf se proclama fiel servidor ao enfrentar o Balrog é, de


acordo com O Silmarillion, uma das características de Ilúvatar e, segundo as
anotações do próprio Tolkien publicadas em O Anel de Morgoth, representa o
Espírito Santo. Gandalf, portanto, apresenta-se como servidor da terceira pessoa da
Santíssima Trindade.

As visitas “casuais” de Gandalf a Bilbo e a Frodo, nesse sentido, expressam a graça


que Deus providencialmente nos concede para tirar-nos do nosso comodismo
habitual, desapegar-nos do pecado e dar-nos a força de realizar o bem. A história
dos três pequenos hobbits, por conseguinte, mostra que é só pela graça divina que
nos vem a redenção e a capacidade de amar aos que nos perseguem e desejam mal.

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