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LICENCIATURA EM PSICOLOGIA
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
2007/2008
SUMÁRIO
1. O que é a motivação?
1.1. Noção de Motivação
1.2. Motivação Intrínseca e Extrínseca
1.3. Abordagens da Motivação
1.4 Motivação para a aprender na escola
2. Objectivos e Motivação
2.1. Tipos de Objectivos
2.2. Feedback e Aceitação dos Objectivos
3. Necessidades e Motivação
3.1. Hierarquia de Necessidades de Maslow
3.2. Motivação para a Realização
4. Atribuições, Crenças e Motivação
4.1. Teoria da Atribuição
4.2. Crenças sobre Capacidade
4.3. Crenças sobre Auto-Eficácia
4.4. Atribuições, Motivação para a Realização
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2. Reacções de alunos:
A. Ainda não começou a trabalhar, como de costume. Limita-se a dizer: “Não compre-
endo” ou “Isto é muito difícil”. Quando o professor o tenta ajudar ele responde às
questões correctamente, mas diz que “adivinhou” e que “realmente não sabe”. Este
aluno não causa problemas de disciplina porque passa a maior parte do tempo “com a
cabeça no ar”, mas está a começar a falhar cada vez mais.
B. Confere com o professor cada passo — quer ser perfeito. Uma vez o professor deu-
lhe mais valores por um excelente desenho colorido do equipamento e a partir daí
este aluno produz sempre uma verdadeira obra de arte para o trabalho de laboratório.
É bom aluno na disciplina, mas apenas pretende fazer os cursos básicos com receio
de ter um Bom. Se uma coisa não é exigida para o teste deixa de se interessar.
C. Está interessado neste projecto e até sabe mais do que o professor sobre ele. Cons-
truiu um laboratório na garagem e passa horas a ler sobre Química e a fazer expe-
riências. Mas as suas classificações variam entre Bom – e Suficiente + porque
quando a matéria é de Biologia não se interessa. Fica satisfeito com os Suficiente que
tem nos testes mesmo sem estudar nem tentar ter mais. O trabalho de casa não lhe
interessa. A sua única participação é dizer piadas sobre as ilustrações no texto. Mas
poderia fazer muito melhor.
D. Mais uma vez não trouxe o manual. O professor diz-lhe que pode partilhar o de ou-
tro colega. O aluno faz de conta que está a trabalhar, mas passa a maior parte do
tempo a gozar com a tarefa ou a tentar obter respostas dos colegas quando o profes-
sor vira as costas. Quer que toda a gente saiba que “não está sequer a tentar”, pois
dessa forma, se as notas forem baixas, tem uma desculpa. Tem medo de tentar por-
que se fizer um esforço e falhar tem medo que os outros achem que é “burro”.
E. É bom aluno na maioria das disciplinas, mas fica bloqueado nos testes de Ciências.
Parece bom aluno em trabalhos de grupo e nos trabalhos de casa, mas “esquece” tudo
o que sabe quando tem que responder a perguntas na sala de aula ou quando está a
fazer um teste. Os seus pais são cientistas e esperam que ele também o venha a ser,
mas este seu futuro não parece brilhante.
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1. O QUE É A MOTIVAÇÃO?
Geralmente, e de forma muito simples, motivação é definida como algo que activa,
orienta e mantém o comportamento.
1. O que é que determina que uma pessoa inicie uma determinada acção? Que escolhas
é que as pessoas fazem sobre o seu comportamento? Por exemplo, porque é que al-
guns estudantes começam logo a fazer o seu trabalho de casa, enquanto outros ficam
a ver televisão?
2. Depois da pessoa tomar uma decisão, quanto tempo demora até a pessoa realmente
começar? Porque é que alguns estudantes que decidiram fazer o trabalho de casa co-
meçam imediatamente, enquanto outros procrastinam?
Todos nós sabemos o que é estarmos motivados, dirigirmo-nos com energia para um
objectivo. Também sabemos o que é trabalhar duramente, mesmo que não estejamos fascina-
dos pela tarefa. O que é que dá energia e dirige o nosso comportamento? A explicação pode
ser: “drives” (forças), necessidades, incentivos, medos, objectivos, pressões sociais, interes-
ses, autoconfiança, curiosidade, crenças, valores, expectativas, etc.
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Algumas explicações da motivação baseiam-se em factores internos, pessoais, como ne-
cessidades, interesses, curiosidade; outras explicações baseiam-se em factores externos, am-
bientais: recompensas, pressão social, punição. A motivação que advém de factores como in-
teresse ou curiosidade é a chamada motivação intrínseca. A motivação intrínseca é a tendên-
cia natural para procurar e vencer desafios por interesse pessoal ou para exercitar capacidades.
Quando estamos intrinsecamente motivados não necessitamos de incentivos ou punições por-
que a própria actividade é recompensadora. A motivação intrínseca é “o que nos motiva para
fazer alguma coisa quando não temos que fazer nada”. É o caso do aluno C que estuda quí-
mica fora da escola simplesmente porque gosta de o fazer.
Pelo contrário, quando fazemos algo para obter um grau ou uma recompensa, par evitar
uma punição, para agradar ao professor, ou por qualquer outra razão que tenha pouco a ver
com a própria actividade, estamos a experienciar motivação extrínseca. Não estamos interes-
sados na actividade em si; apenas nos interessa o que essa actividade nos pode fazer ganhar. É
o caso do aluno B, que trabalha para obter um grau académico e está pouco interessado na
matéria em si.
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ressantes e que não estimulam a curiosidade. Nessas situações são necessários incentivos e
apoios externos. Os professores devem encorajar e alimentar a motivação intrínseca, ao
mesmo tempo que se asseguram de que a motivação extrínseca apoia a aprendizagem.
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1.3.3. Abordagens Cognitivistas
De acordo com as teorias cognitivistas, as pessoas são vistas como activas e curiosas,
que procuram informação para resolverem pessoalmente problemas relevantes. As pessoas
trabalham arduamente porque gostam de trabalhar e porque querem compreender. Portanto, os
teóricos cognitivistas enfatizam a motivação intrínseca. Um exemplo de teoria cognitiva da
motivação é a teoria da atribuição causal de B. Weiner.
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Quadro 1 — Abordagens da Motivação
Comporta- Humanística Cognitivista Aprendizagem
mentalista Social
Fonte da Reforço extrínseco Reforço intrínseco Reforço intrínseco Reforço intrínseco e
Motivação extrínseco
Influências impor- Reforçadores. Necessidade de Crenças. Valor dos objecti-
tantes Recompensas. auto-estima, Atribuições de su- vos.
Incentivos. auto-realização e cesso e de fracasso. Expectativa de atin-
Punidores. auto-determinação. Expectativas. gir os objectivos.
Principais teóricos Skinner Maslow Weiner Bandura
Os professores estão interessados num tipo particular de motivação dos seus alunos — a
motivação para aprender. A motivação do estudante para aprender pode ser descrita como a
tendência do aluno para considerar que as actividades académicas têm significado e valor e
para tentar tirar benefícios académicos dessas actividades. A motivação para aprender pode
ser considerada quer como um traço geral, quer como um estado específico de uma situação.
Muitos aspectos podem fazer aumentar a motivação para aprender: planeamento, con-
centração no objectivo, consciência metacognitiva do que se pretende aprender e de como se
tenciona aprender, procura activa de nova informação, percepções claras do feedback, orgulho
e prazer na realização e nas aquisições, pouca ansiedade e não ter receio de falhar. A motiva-
ção para a aprendizagem é mais do que querer aprender; inclui a qualidade dos esforços men-
tais dos alunos.
Seria bom que todos os alunos chegassem à escola com uma grande motivação para
aprender, mas isso nem sempre acontece. E mesmo que aconteça, o trabalho na escola pode
continuar a parecer aborrecido ou pouco importante para alguns alunos.
Os professores têm três grandes objectivos. O primeiro é fazer com que os alunos este-
jam envolvidos de forma produtiva nos trabalhos da sala de aula; ou seja, criar um estado de
motivação para a aprendizagem. O segundo objectivo a longo prazo é desenvolver nos alunos
o traço de estarem motivados para a aprendizagem, de forma a educarem-se a si próprios ao
longo da vida. O terceiro objectivo é fazer com que os alunos estejam empenhados cogniti-
vamente — pensarem aprofundadamente naquilo que estudam.
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2. OBJECTIVOS E MOTIVAÇÃO
Um objectivo é aquilo que uma pessoa tenta realizar. Quando os alunos tentam ler um
capítulo ou ter uma determinada nota estão envolvidos num comportamento dirigido por um
objectivo (goal-directed behavior). Quando tentam atingir um objectivo, geralmente os alunos
têm consciência de uma dada condição actual (“ainda não abri o livro”), de uma condição
ideal (“já li e compreendi todas as páginas”) e da discrepância entre as situações actual e
ideal. Os objectivos motivam a pessoa para agir no sentido de reduzirem a discrepância entre
“onde estão” e “onde queriam estar”.
Há quatro razões que explicam por que o estabelecimento de objectivos aumenta a rea-
lização. Em primeiro lugar, os objectivos dirigem a nossa atenção para a tarefa; em segundo
lugar, os objectivos mobilizam os esforços (até certo ponto, quanto mais difícil for o objectivo
maiores serão os esforços para o cumprir); em terceiro lugar, os objectivos fazem aumentar a
persistência (quando se tem um objectivo claro há menos probabilidades de a pessoa se dis-
trair ou desistir antes de ter atingido o objectivo); finalmente, os objectivos promovem o de-
senvolvimento de novas estratégias quando as anteriores não são eficazes.
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O segundo tipo de objectivos é o objectivo de realização/desempenho; um objectivo
de realização refere-se à intenção da pessoa de parecer competente ou fazer bem as coisas aos
olhos dos outros. Os estudantes com objectivos de realização centram-se na forma como são
julgados pelos outros; querem parecer inteligentes e evitar serem vistos como incompetentes;
se isso parecer impossível podem adoptar estratégias defensivas, estratégias para evitar o fra-
casso. O que é importante é a avaliação da sua realização, não o que realmente aprenderam.
São os estudantes envolvidos no Eu (ego-involved learners), pois estão preocupados consigo
próprios. Alguns comportamentos característicos deste tipo de alunos:
— tentam utilizar “atalhos” para completar as tarefas (tentam acabar sem fazerem o tra-
balho que deveriam fazer para realmente aprenderem o assunto);
— copiam dos apontamentos dos colegas;
— chamam a atenção para os bons resultados;
— só trabalham a sério nas tarefas que servem para avaliação;
— ficam preocupados e escondem trabalhos com notas baixas;
— comparam as suas classificações com as dos colegas;
— escolhem tarefas que mais facilmente possam resultar em boas classificações;
— ficam incomodados com trabalhos que não tenham critérios de avaliação claros.
As crenças dos alunos sobre as suas capacidades e esforço afectam o tipo de objectivos
que estabelecem. Estabelecer objectivos de aprendizagem e estar envolvido na tarefa faz au-
mentar a motivação, enquanto que ter objectivos de desempenho e estar envolvido no Eu faz
diminuir a motivação para a aprendizagem.
Para além dos objectivos deverem ser específicos, desafiadores, atingíveis e centrados
na tarefa, existem dois factores adicionais que tornam eficaz o estabelecimento de objectivos
na escola. O primeiro é o feedback. Para a pessoa ser motivada pela discrepância entre “onde
está” e “onde gostaria de estar”, ter que ter um sentido acurado de onde está e até onde quer ir.
Quando o feedback diz ao aluno que os seus esforços ainda não permitiram que atingisse o
objectivo, então o aluno pode empenhar-se mais ou tentar uma nova estratégia. Quando o
feedback diz ao aluno que o objectivo foi atingido ou superado., o aluno deve sentir-se satis-
feito e competente (talvez suficientemente competente para estabelecer um objectivo mais
elevado da próxima vez). O feedback que enfatiza o progresso é o mais eficaz.
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O segundo factor que afecta a motivação é a aceitação do objectivo. Quando os alunos
aceitam os objectivos estabelecidos pelo professor ou estabelecem os seus próprios objecti-
vos, aumenta a importância do estabelecimento de objectivos para motivar a aprendizagem.
Haverá problemas na motivação se o aluno recusar os objectivos estabelecidos por outros
(professores) ou se recusar a estabelecer os seus próprios objectivos. De forma geral, os alu-
nos aceitam os objectivos estabelecidos por outros se estes parecerem realistas, de dificuldade
razoável, tiverem significado e se forem dadas boas razões para o valor dos objectivos.
3. NECESSIDADES E MOTIVAÇÃO
Uma necessidade pode ser definida como um requisito biológico ou psicológico, como
um estado de privação que motiva a pessoa a encetar uma acção para um objectivo. As nossas
necessidades raramente são satisfeitas de forma completa e perfeita; é sempre possível uma
melhoria. As pessoas são motivadas pelas tensões que as necessidades criam para atingir os
objectivos que as podem satisfazer.
Maslow (em 1970) sugeriu que os seres humanos têm uma hierarquia de necessidades
que vão das necessidades de baixo nível (sobrevivência e segurança) às necessidades de nível
mais elevado (realização intelectual e auto-realização). A figura seguinte (Figura 1) apresenta
o diagrama do modelo de Maslow.
Auto-Realização
Necessidades de Ser
Estéticas
Realização Intelectual
Auto-Estima
Pertença Necessidades
Segurança de Deficiência
Fisiológicas
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Maslow chamou às quatro necessidades de nível inferior necessidades de deficiência —
quando estas necessidades estão satisfeitas a motivação para as satisfazer decresce. Denomi-
nou as três necessidades de nível superior de necessidades de ser — quando são atingidas não
cessa a motivação da pessoa; pelo contrário, aumenta para procurar uma satisfação mais pro-
funda (são necessidades que nunca estão plenamente satisfeitas).
Apesar das críticas, a teoria de Maslow permite-nos olhar para o ser humano como uma
pessoa total, com as suas necessidades físicas, emocionais e intelectuais interrelacionadas.
Isto tem importantes implicações para a educação, mostrando que uma criança que não tem as
suas necessidades mais básicas satisfeitas dificilmente poderá estar motivada para procurar o
conhecimento e a compreensão. Muitas vezes os estudantes procuram satisfazer as suas ne-
cessidades de nível mais baixo, o que pode entrar em conflito com o desejo dos professores
deles atingirem objectivos de nível mais elevado.
David McClelland e John Atkinson foram pioneiros no estudo da motivação para a rea-
lização1.
De acordo com estes autores, pessoas que procuram a excelência e o sucesso numa dada
área pela busca de realização, e não por uma qualquer recompensa, são pessoas com elevada
necessidade de realização. Mas as pessoas têm também necessidade de evitar o fracasso.
Quando a necessidade de realização, numa dada situação, é maior que o desejo de evitar o
fracasso, a motivação resultante será correr riscos o tentar a realização; pelo contrário, quan-
do a necessidade de evitar o fracasso for maior, o risco será encarado como ameaçador e a
motivação resultante será evitar a situação.
1
Existem duas explicações para a origem da motivação para a realização. Alguns teóricos afirmam que é um
traço estável e inconsciente, cuja origem está na família e no grupo cultural da criança. Outros teóricos enca-
ram a motivação para a realização como um conjunto de crenças e valores conscientes, moldados por expe-
riências com o sucesso e o fracasso e por factores da situação, como dificuldade da tarefa e incentivos dispo-
níveis.
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Se a motivação do estudante para a realização for maior que a sua motivação para evitar
o fracasso um pequeno falhanço pode fazer aumentar o seu desejo de resolver um problema;
ele está determinado a conseguir e, por isso, tenta novamente. Se o sucesso for obtido muito
facilmente pode fazer diminuir a motivação daqueles com elevadas necessidades de realiza-
ção. Pelo contrário, estudantes motivados pela necessidade de evitar o fracasso ficam desen-
corajados pelo falhanço e encorajados pelo sucesso. A motivação para a aquisição encoraja a
motivação para a aprendizagem, enquanto que a ansiedade e medo do fracasso diminuem a
motivação para a aprendizagem.
Motivação resultante
Um pequeno fracasso pode aumentar o desejo de A pessoa sente-se desencorajada com o falhanço
resolver o problema
O sucesso obtido muito facilmente pode fazer A pessoa sente-se encorajada com o sucesso
diminuir a motivação
Para além dos objectivos e das necessidades, outros factores devem ser considerados no
estudo da motivação. O sucesso não encoraja a motivação se for considerado apenas como
“uma sorte” que poderá não se repetir. O fracasso apenas será visto como ameaçador se a pes-
soa considerar que algo está “errado” com ela. Por outras palavras, as crenças e as atribuições
sobre o que acontece e porque acontece (porque somos bem sucedidos e porque falhamos)
afectam a motivação.
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4.1. Teoria da Atribuição
O quadro seguinte (Quadro 3) exemplifica como um estudante pode explicar o seu fra-
casso num teste, utilizando as oito combinações possíveis das três dimensões causais.
De acordo com Weiner, estas três dimensões têm implicações importantes para a moti-
vação.
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(como à disposição nesse dia ou à sorte) esperará mudanças no futuro em situações seme-
lhantes. A dimensão da controlabilidade está relacionada com emoções como a raiva, pie-
dade, gratidão e vergonha. Se a pessoa falha em algo que acredita ser controlável poderá sen-
tir-se culpada; se for bem sucedida pode sentir-se orgulhosa. O fracasso numa tarefa conside-
rada incontrolável pode levar à vergonha ou à fúria para com a situação, enquanto que o su-
cesso pode originar sentimentos de gratidão. O sentimento de controlo da aprendizagem rela-
ciona-se com a escolha de tarefas académicas mais difíceis, maior esforço e maior persistên-
cia no trabalho escolar.
Desânimo Aprendido
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Atribuições e motivação do estudante
Quando estudantes geralmente bem sucedidos falham fazem muitas vezes atribuições
internas e controláveis dos fracassos — não compreenderam as instruções, não tinham o co-
nhecimento necessário ou não tinham estudado o suficiente. Quando os estudantes se sentem
capazes e atribuem o fracasso à falta de esforço ou a conhecimento insuficiente — causas
controláveis — centram-se geralmente em estratégias para serem bem sucedidos da próxima
vez. É uma resposta adaptativa, orientada para a mestria, que leva à realização, ao orgulho, a
um maior sentimento de controlo e a um sentido de autodeterminação.
Algumas das mais poderosas atribuições que afectam a motivação na escola são as
crenças sobre capacidade.
Os adultos têm duas concepções básicas de capacidade. Uma visão estática de capaci-
dade (“entity view of ability”) assume que a capacidade é um traço estável e incontrolável,
uma característica do indivíduo que não pode ser modificada. De acordo com esta perspectiva,
algumas pessoas têm mais capacidade que outras, mas a “quantidade” que cada pessoa tem
está estabelecida. Pelo contrário, uma visão dinâmica de capacidade (“incremental view of
ability”) assume que a capacidade é instável e controlável — um repertório de competências e
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conhecimentos em expansão. Através do trabalho, do estudo ou da prática, o conhecimento
pode ser aumentado e a capacidade desenvolvida.
As crianças mais novas tendem a ter quase exclusivamente uma visão dinâmica de ca-
pacidade. Ao longo dos primeiros anos de escolaridade, a maioria das crianças crê que esforço
é o mesmo que inteligência — as pessoas mais inteligentes esforçam-se muito e o esforço
árduo faz as pessoas mais inteligentes; se se fracassa é porque não se é inteligente e não houve
esforço suficiente; se se é bem sucedido, é-se inteligente e esforçado. A partir dos 11/12 anos,
as crianças já conseguem diferenciar esforço, capacidade e realização. Começam a acreditar
que alguém bem sucedido sem esforço deve ser muito inteligente. É a partir desta altura que
as crenças começam a afectar a motivação.
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uma orientação para a mestria atribui sucessos e fracassos a causas controláveis e acredita que
a capacidade pode ser desenvolvida.
Bandura sugere que uma fonte da motivação são os pensamentos e predições sobre pos-
síveis resultados do comportamento: “Irei ser bem sucedido ou irei fracassar?”, “As pessoas
gostarão de mim ou serei gozado?”
As pessoas imaginam as futuras consequências com base nas suas experiências passadas
e através da observação dos outros. Estas predições são também afectadas pela auto-eficácia
— as nossas predições sobre a nossa eficácia pessoal (competência) numa dada área. Bandura
(1995) define auto-eficácia como “crenças nas nossas capacidades para organizar e executar
os passos das actividades exigidas para lidar com situações futuras”. Um sentido de eficácia
tem quatro grandes influências: experiências de mestria (sucessos e fracassos anteriores numa
dada área), experiências vicariantes (observação de outros semelhantes que são bem sucedi-
dos ou fracassam), persuasão social (encorajamento por parte dos outros) e feedback fisioló-
gico e emocional. Destes factores, o mais poderoso é a nossa própria experiência.
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Eficácia e Motivação
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4.4. Atribuições e Motivação para a Realização
Os estudantes orientados para evitar o fracasso tendem a ter uma visão estática de ca-
pacidade e a estabelecer objectivos de desempenho. Não têm um forte sentido de competência
e a sua auto-estima está separada da sua realização — sentem-se tão inteligentes quanto a nota
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do seu último teste e nunca desenvolvem um sentido sólido de auto-eficácia. Para se sentirem
competentes, tentam proteger-se (e à sua auto-imagem) do fracasso. Se forem geralmente bem
sucedidos, podem evitar o fracasso correndo poucos riscos e fixando-se no que sabem. Se ex-
perimentaram sucessos mas também alguns fracassos, podem adoptar estratégias como a pro-
crastinação, não se esforçarem, estabelecerem objectivos muito baixos ou ridiculamente ele-
vados ou, ainda, afirmarem que não se importam com os resultados.
Para evitar que estudantes orientados para evitar o fracasso se venham a transformar em
estudantes orientados para a aceitação do fracasso, dever-se-á ajudá-los a procurarem objecti-
vos novos e mais realistas e a aspirarem a níveis mais elevados do que os estereótipos sobre o
que “devem” ou “são capazes” de fazer.
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