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EDUCAÇÃO

PISA. Alunos portugueses acima da média da


OCDE pela primeira vez em 15 anos
6/12/2016, 10:00 3.944 28

Pela primeira vez, os alunos portugueses superaram a média da OCDE a ciências, leitura e
matemática e foram mesmo os que mais evoluíram a ciências. Os privados e o Alentejo Litoral
em destaque no PISA

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O PISA avalia o nível de literacia de alunos de 15 anos a ciências/tecnologia, leitura e matemática


NUNO VEIGA/LUSA

Autor
Marlene Carriço
Mais sobre
EDUCAÇÃO
501 498 492.

Esta sequência quase que podia ser um daqueles números de valor


acrescentado para os quais se liga para tentar a sorte e, quem sabe,
receber um prémio. Neste caso não é um número telefónico, mas dá
direito a galardão: um prémio de bom desempenho aos alunos
portugueses de 15 anos que foram postos à prova, em 2015, no âmbito do
estudo internacional de referência Programme for International Student
Assessment (PISA). Com 501 pontos a literacia científica, 498 a
literacia em leitura e 492 em literacia a matemática, os alunos
portugueses não só melhoraram face à última edição (2012),
como ultrapassaram, pela primeira vez, a média dos países
da OCDE, nas três áreas, de acordo com os resultados divulgados, esta
terça-feira, pela organização.
Em 2000, na primeira edição do PISA,
Portugal era uma espécie de campeão
O que é o PISA?
da liga dos últimos quando comparava
O Programme for International o nível de literacia dos seus alunos
Student Assessment (PISA) é um
exame internacional desenvolvido, de com o dos restantes países. A
três em três anos, pela OCDE e que ciências/tecnologia e a leitura — com
não visa avaliar conteúdos 459 e 470 pontos, respetivamente —
curriculares, mas antes avaliar em que
medida os alunos entre os 15 anos e ocupava o antepenúltimo lugar entre
três meses e os 16 anos e dois meses (e os membros da OCDE e no caso da
que estejam a frequentar, pelo menos,
matemática (454 pontos) estava a
o 7.º ano) mobilizam os
conhecimentos que têm a leitura, quatro lugares do fim. Em 15 anos o
matemática ou ciências, para resolver quadro mudou radicalmente. O
situações do quotidiano e exercerem
progresso foi “muito significativo”,
plenamente a cidadania. O primeiro
PISA data do ano 2000 e em cada ciclo escreve o IAVE no documento a
tem sido dada ênfase a uma das três propósito do PISA. No caso das
áreas avaliadas. Este ano foi a vez das
ciências a pontuação média dos alunos
ciências. Os resultados do PISA, numa
escala de zero a 1.000, são tidos em subiu 42 pontos, a leitura subiu 28 e a
muita consideração pelas instituições e matemática somou mais 38 pontos.
governos de cada país pois são o
reflexo das políticas adotadas e
estabelecem metas baseadas em
padrões de desempenho definidos
internacionalmente.

Esta melhoria dos resultados refletiu-se numa ascensão nas tabelas.


Considerando apenas os 34 países da OCDE participantes, Portugal
ocupou a 17.ª posição em literacia científica, na avaliação da leitura
ocupou a 18.ª posição, e a matemática não conseguiu melhor do
que a 22.ª posição.

“Portugal tem tido um percurso muito positivo. Ao longo das seis edições
do estudo, em todos os domínios, a tendência de evolução global dos
resultados mostra-nos uma subida gradual”, descreve Helder Sousa,
presidente do conselho diretivo do Instituto de Avaliação Educativa
(IAVE), acrescentando, ainda a este propósito, que “Portugal integra um
lote muito restrito de países da OCDE que evidenciaram uma progressão
positiva, bastante expressiva, ao longo das seis edições do estudo”.

No documento elaborado pelo Instituto, Helder Sousa destaca ainda


que, “pela primeira vez, o resultado nacional nos três domínios está
acima da média da OCDE: oito pontos em Ciências, cinco
pontos em Leitura e dois pontos em Matemática” sendo que,
neste último, a diferença não é significativa.

Portugueses foram os que mais melhoraram a


literacia científica
Nesta edição do PISA as atenções estiveram voltadas para a literacia
científica. E as conclusões não são animadoras no geral. A pontuação
média baixou de 498 em 2006 para 493 em 2015. Em 63 países
participantes, 30 mantiveram resultados, 18 baixaram e 15 subiram. A
Finlândia, que era o país com melhor classificação em 2006, caiu 11
pontos desde então. Fez o caminho ao contrário de Portugal.

É dececionante que, para a maioria dos países com dados


comparáveis, o desempenho científico no PISA permaneceu
praticamente inalterado desde 2006″, lê-se no relatório do PISA
2015.

“De fato, apenas uma dúzia de países mostraram uma melhoria


mensurável no desempenho científico dos jovens de 15 anos, como
Singapura e Macau (China) e Peru e Colômbia”, destacam os especialistas
no relatório agora apresentado. “Também é preocupante ver quantos
jovens não atingem até mesmo os resultados de aprendizagem mais
essenciais.”

Mas Portugal aparece em contra-


O que é a literacia ciclo. Já vimos que entre 2000 e 2015
científica?
a pontuação do alunos portugueses
A literacia científica corresponde à subiu 42 pontos nesta matéria e que
capacidade que os jovens de 15 anos
de 2012 para 2015 subiu 12, para os
têm para participar em discussões
relacionadas com ciência e também 501 pontos, depois de ter resvalado
com a tecnologia e sempre numa quatro pontos entre 2009 e 2012. Se
perspetiva de resolução de problemas
do dia-a-dia. Um cidadão com um bom
nos centrarmos nas edições
nível de literacia científica é capaz de exatamente comparáveis — as duas em
ter um discurso fundamentado sobre que este tipo de literacia esteve em
ciências e tecnologia, ou seja, explica
um fenómeno científico, mobilizando
foco (2006 e 2015) — então, nesse
teorias, conceitos, explicações e factos; caso, a evolução média da
avalia e concebe investigações
literacia científica foi de 2,8
científicas, compreendendo a
finalidade da investigação e aborda pontos por ano. Em cada três anos
questões usando esse método e, por de avaliação das ciências, Portugal
último, analisa e interpreta dados aumentou oito pontos. Isso faz com
cientificamente.
que, entre os países da OCDE que
participaram nos quatro ciclos
do PISA desde 2006, Portugal seja o que denota um aumento
mais expressivo.

Os alunos portugueses encontram-se agora no segundo bloco de países


com melhores resultados a literacia científica e acima da média da OCDE.
Se considerarmos apenas os países da organização, Portugal surge em
17ª posição, subindo de 26.º em 2012. Se atendermos a todos os 72
participantes, Portugal aparece na 23ª posição (35.º em 2012).

No primeiro bloco, em dez países sete são asiáticos. Singapura apresentou


o melhor resultado, com 556 pontos, seguido do Japão, com 538 pontos,
da Estónia, com 534, e da Finlândia, com 531.

O forte dos alunos portugueses é ao nível da interpretação de dados e


evidências científicas (503 pontos) e, ao nível do conteúdo, são melhores
na avaliação de conteúdos relativos a sistemas vivos (503 pontos).

Importante ainda sublinhar que Portugal foi o país que registou o


maior aumento na percentagem de alunos “top performers”,
entre 2006 e 2015. A maior subida registou-se entre 2012 e 2015. E,
cumulativamente, o país reduziu a fatia de alunos com mau desempenho
(“low performers”). Foi, aliás, dos poucos países que conseguiu essa
conjugação.

Resultados melhoraram também a leitura e


matemática
Mas não foi só a literacia científica que os alunos portugueses melhoraram
o desempenho. No que toca à literacia em leitura, Portugal subiu 28
pontos face à primeira edição (2000) — numa média de 1,8 pontos por
ano –, 10 pontos, relativamente a 2012, e nove quando olhamos para o
último ano em que esta matéria esteve em destaque (2009). Em 2015, os
alunos portugueses alcançaram 498 pontos a literacia em
leitura, ficando cinco pontos acima da média da OCDE, em 18.º
lugar quando comparado com os restantes países da OCDE (em 2012
ocupava a 25ª posição) e em 21ª tendo em conta os 72 participantes de
todo o mundo (subindo da 32ª posição alcançada em 2012).
Mais uma vez, e agora a leitura, os países com melhores desempenhos são
asiáticos: Singapura (535 pontos) e Hong Kong (527). Sendo que o Canadá
igualou este último, também com 527 pontos. A Finlândia (526), a Irlanda
(521) e a Estónia (519) são os melhores países europeus.

Olhando para o conjunto dos alunos postos à prova, o topo do topo das
performances foi atingido apenas por 0,6% dos alunos mas, comparando
com o último ciclo de avaliação em que a leitura foi o domínio principal
(2009), Portugal registou um aumento significativo na percentagem de
alunos “top performers”.

No capítulo da literacia em leitura, é de esperar que um jovem de 15 anos


consiga localizar e recuperar um ou mais elementos de informação de um
texto (requisitos para uma candidatura a uma oferta de emprego, por
exemplo); integrar e interpretar (por exemplo, identificar uma relação que
não é explícita ou inferir o significado de uma afirmação) e refletir e
avaliar (relacionar a informação presente no texto com os conceitos e
conhecimentos adquiridos fora dali e com as experiências do próprio.
Aqui destaca-se, por exemplo, a apresentação de argumentos ou de
evidências que estão para além do texto em si).

Por fim, a literacia a matemática que compreende a capacidade de alguém


formular, aplicar e interpretar a matemática em contextos diversos e
inclui raciocinar matematicamente e utilizar conceitos, processos e factos
e ferramentas para descreverem explicar e prever fenómenos.

É na literacia a matemática que os alunos portugueses pontuam


pior: 492 pontos, apesar da melhoria face ao ano 2000 (mais 38
pontos, uma evolução média de 2,6 pontos ao ano) e ao primeiro ano em
que a matemática esteve em análise (Portugal foi, aliás, dos países que
mais evolui positivamente desde então) e do aumento de cinco pontos
percentuais face a 2012, que colocou Portugal, pela primeira vez, acima da
média da OCDE, embora não seja estatisticamente significativo (dois
pontos). Isto porque, no conjunto, os países da OCDE pioraram o
desempenho a matemática (menos quatro pontos face a 2012).

Em 2015, Portugal ocupa 22ª posição entre os países da OCDE e a 29ª


considerando os 72 participantes, de uma tabela liderada, mais uma vez,
por Singapura (564 pontos) e por Hong Kong (548). O país da OCDE mais
bem classificado é o Japão, com 532 pontos. Já a Finlândia, por exemplo,
ocupa a oitava posição da OCDE e 10 do ranking geral, apesar de ter
quebrado na pontuação face ao último estudo (menos oito pontos).

Apesar das melhorias a matemática, quase um quarto dos alunos


ainda tinham, em 2015, muitas dificuldades a
matemática,estando abaixo do limiar do nível mais elementar de
desempenho. Alunos de topo a matemática são 11%.

Exemplo de um exercício de literacia científica


R 3 fotos

apazes melhores que as raparigas.


Escolas privadas e Alentejo Litoral em destaque
Passando de uma análise mais macro para uma análise mais micro, e
olhando apenas para o que se passa dentro das fronteiras nacionais, então
aí o melhor desempenho a literacia científica é registado no
Alentejo Litoral — com uma pontuação média de 536 pontos, 35 acima
da média nacional –, seguido da Lezíria, da Região de Leiria, Alto Minho,
Coimbra, Viseu Dão Lafões. No extremo oposto da tabela aparece o
Tâmega e Sousa com menos 41 pontos que a média nacional, seguida de
Alto Tâmega e Trás-os-Montes. No Tâmega e Sousa e no Alto Tâmega,
mais de um em cada três alunos não atinge sequer os conhecimentos
básicos a ciências.

Também em matéria de leitura, foram os alunos do Alentejo


Litoral a revelar melhor desempenho, em 2015: 534 pontos (mais
36 do que a média nacional), seguidos dos alunos da região de Leiria (514)
e Viseu Dão Lafões (511). No fundo da tabela voltam a estar os alunos do
Alto Tâmega, que não foram além dos 442 pontos (56 abaixo da média
nacional), seguidos dos alunos de Trás-os-Montes (456) e do Tâmega e
Sousa (457). Os alunos da Área Metropolitana de Lisboa pontuaram
melhor que os do Porto, com 505 e 501 pontos, respetivamente.

E a matemática, os melhores alunos estão igualmente no


Alentejo Litoral, tendo alcançado uma pontuação média de 528 pontos,
mais 36 do que a média nacional. Seguem-se os alunos do Alto Minho
(518 pontos), Viseu Dão Lafões (514) e Lezíria do Tejo (513). Os alunos do
Tâmega e Sousa voltam a ser os piores a matemática (454 pontos, menos
38 que a média).

Em relação à diferença de géneros, o PISA mostra que os rapazes


portugueses pontuam melhor do que as raparigas no caso da literacia
científica: os rapazes alcançaram mais 10 pontos do que as raparigas e
olhando para os alunos de topo, encontramos lá 9,5% dos rapazes testados
e apenas 5,2% das raparigas que participaram nos testes.

Portugal é, aliás, um dos países que registaram uma diferença mais


acentuada na distribuição dos resultados por género”, no que diz
respeito à literacia científica e essa diferença acentuou-se face a 2006.

Uma diferença de 10 pontos é também aquela que separa os rapazes das


raparigas a matemática. Os rapazes tiveram, em média, 497 pontos em
2015 e as raparigas não foram além dos 487.

Mas no que diz respeito à literacia em leitura as raparigas levam a melhor.


As raparigas pontuaram 17 pontos acima dos rapazes, ainda assim uma
diferença menos acentuada do que aquela que se registou em 2012
(diferença de 39 pontos) e menos vincada do que a verificada na média
dos países da OCDE: uma diferença de 27 pontos, favorável às raparigas.

Confirmando aquilo que vários rankings têm mostrado, os alunos das


escolas privadas que participaram neste teste revelaram
igualmente melhores desempenhos que os seus colegas que
frequentam escolas públicas. Em literacia científica alcançaram 546
pontos, contra os 498 dos alunos das escolas públicas; em literacia em
leitura conseguiram 532 pontos, mais 34 pontos do que os colegas das
públicas; e na literacia a matemática o desempenho médio dos alunos das
privadas foi também “significativamente superior à média nacional”.
Estes resultados do PISA chegam depois de ser também conhecido o
desempenho dos alunos do 4.º ano. Os alunos do 4.º ano mostraram-se
melhores a matemática e piores a ciências, do que em 2011. E
Portugal foi o país que mais melhorou resultados a matemática desde
1995, no 4.º ano, de acordo com o Trends in International Mathematics
and Science Study (TIMSS)

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