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& EMPRESAS
JANEIRO E FEVEREIRO 2010 | N.º 1 | 2ª SÉRIE
EDITORIAL
• Contabilidade & Empresas - Ano novo vida nova (!)
ENTREVISTA
• Presidente da CNC – Domingos José da Silva Cravo
ARTIGOS
• SNC – uma atitude diferente
• O “justo valor” no SNC e o art. 32.º do CSC
• Reversão do activo e prestações do concedente
• A crise
• Tratamento fiscal das gratificações por aplicação
dos resultados
• Ética e auditoria
• Medição de performance
OUTROS DESTAQUES
ISBN 972-788-201012 -5
• Eleições na Ordem dos TOC
• Normalização Contabilística
• Impactos fiscais das NIC e do SNC
9 727882 010125
Editorial
JoaQuim CunHa
guimarãEs
jguimaraes@vidaeconomica.pt
DIRECTOR Actualidade
Joaquim Fernando da Cunha Guimarães Regulamento comunitário baixa limiares para os contratos públicos............ 10
COLABORADORES permanentes
Contabilidade
Agostinho Costa SNC – uma atitude diferente...................................................................... 11
António Lopes de Sá Reflexões sobre o SNC................................................................................ 12
Hernâni O. Carqueja I - 2010 – Ano novo, Contabilidade (com o SNC) nova!.................... 12
Guilherme Osswald II – O “justo valor” no SNC e o art. 32° do CSC............................... 14
Joaquim Fernando da Cunha Guimarães OE impede congelamento de reembolsos a devedores ao fisco..................... 17
José Azevedo Rodrigues Supervisão e controlo das práticas contabilísticas estão reforçados................ 18
José Alberto Pinheiro Pinto Reversão do activo e prestações do concedente............................................ 19
Maria José Fernandes
Mário da Cunha Guimarães Fiscalidade
Paulo Moura de Castro O tratamento fiscal das gratificações por aplicação dos resultados................ 22
Rogério Fernandes Ferreira A crise......................................................................................................... 26
Novo “Pacote IVA” garante mais receita ao Estado português...................... 28
COLABORADORES neste número Tributação autónoma pretende evitar situações de abuso continuado........... 30
António Domingues de Azevedo Quebra nas receitas fiscais faz disparar défice orçamental............................. 31
António Lopes de Sá Aumentam adesões ao Sistema Nacional de Compras Públicas.................... 32
Domingos José da Silva Cravo Impactos fiscais das NIC e do SNC............................................................. 33
Guilherme Osswald
Hernâni O. Carqueja Auditoria
Joaquim Fernando da Cunha Guimarães Ética e auditoria.......................................................................................... 36
José Alberto Pinheiro Pinto Normas Internacionais de Auditoria Clarificadas......................................... 37
Paulo Moura de Castro Revisores Oficiais de Contas com controlo de qualidade mais exigente........ 38
Rogério Fernandes Ferreira Ordem dos Revisores Oficiais de Contas quer mais transparência no sector.....39
IMPRESSÃO Associativismo
Uniarte Gráfica - Porto Eleições para a OTOC contam com três listas............................................. 48
C&E – Qual o ponto de situação da actual C&E – Uma das principais novidades da nova
organização da CNC relativamente à CNC é, sem dúvida, o controlo de aplicação das
constituição dos Órgãos? normas no âmbito do Sistema de Normalização
Contabilística (SNC). Já existem algumas ideias-
DC – Neste momento, a Comissão está completa- -base sobre o regulamento que irá ser aprovado?
mente constituída, quer ao nível do Conselho Geral,
quer ao nível da Comissão Executiva, estando já em ple- DC – É verdade que o Decreto-Lei nº 158/2009, de
13 de Julho, estabelece sanções para três tipos de compor- Nos termos da lei, o Painel de Consulta tem a função
tamentos: a não aplicação das disposições que constem das de apoiar a Comissão Executiva no processo de prepara-
Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), ção de normas nacionais de contabilidade, no processo
a supressão de lacunas de modo diverso do legalmente de preparação da votação no Comité de Regulamentação
estabelecido e a não apresentação de demonstrações fi- Contabilística do endosso de normas internacionais de
nanceiras previstas na lei. Contudo, nos dois primeiros contabilidade e de normas internacionais de relato finan-
casos apenas haverá lugar a sancionamento se da prática ceiro, e na preparação do plano de actividades da CNC.
das empresas decorrer uma distorção das demonstrações O Painel de Consulta actua mediante solicitações da
financeiras. Comissão Executiva da CNC, que poderá dirigir consul-
Sendo certo que a CNC irá exercer as competências tas específicas, i.e., consultas direccionadas a um grupo
que lhe estão cometidas por lei, esta questão do controlo reduzido e identificado de interessados no processo de
da aplicação das normas só terá resposta depois de devida- normalização contabilística e consultas públicas de carác-
mente analisada pelo Conselho Geral. ter geral.
De qualquer forma, neste momento, considero que a Naturalmente que nas consultas específicas a partici-
prioridade é de outra natureza e tem a ver com a criação pação é sujeita a inscrição prévia dos interessados.
de condições para que possa existir uma aplicação apro- Para o funcionamento do Painel de Consulta, a Co-
priada do SNC. missão Executiva comunica a existência das matérias que
O sistema tem de valer pelos seus méritos intrínsecos e pretende sujeitar a consulta no “site” da CNC, com indi-
não pelo regime sancionatório que lhe está associado. Daí cação da natureza da referida consulta, bem como o prazo
que considere muito importante que a CNC se organize durante o qual a mesma decorre. Posteriormente, a Co-
de modo a poder contribuir para uma aplicação serena missão Executiva, nas suas decisões, pondera as opiniões
do novo sistema e se constitua parceira na identificação transmitidas no processo acima referido e efectuará uma
das potencialidades que este pode gerar para as empresas e síntese dos principais contributos que divulgará.
para os demais utilizadores. Os membros do Painel de Consulta podem assistir às
As próprias empresas que não venham a adoptar o reuniões do Conselho Geral da Comissão de Normaliza-
SNC serão, seguramente, mais penalizadas pelo mercado ção Contabilística, desde que o requeiram e sejam auto-
do que aquelas que venham a aplicar o sistema, já que rizados.
estas terão condições para apresentar uma informação fi- O Painel de Consulta, estou certo, afirmar-se-á como
nanceira mais útil para todos e, por isso, usufruirão dos factor de aproximação entre agentes do processo de nor-
benefícios económicos associados a tal postura. A reacção malização contabilística e contribuirá para a melhoria das
adversa do mercado àqueles que não venham a aplicar, ou normas contabilísticas a adoptar em Portugal.
que venham a aplicar mal o SNC, será seguramente mais
penalizante para as empresas que qualquer mecanismo C&E – A CNC iniciou o que se poderá designar
contra-ordenacional. de uma “nova fase” na divulgação das suas
actividades, através da emissão da newsletter
C&E – Outra das novidades do Decreto-Lei “CNC em breves”. Que outras acções estão
n.º 160/2009 é o “painel de consulta”. Como previstas em prol de uma melhor divulgação das
funcionará? actividades da CNC?
DC – Com efeito, uma das maiores novidades intro- DC – A publicação da newsletter constitui uma das
duzida pela nova legislação está relacionada com o modo formas privilegiadas de comunicação das actividades da
de actuação da Comissão e pode constituir, a meu ver, CNC. Para além disso, está neste momento em curso
uma mais-valia muito significativa em todo o processo de um trabalho que está a ser desenvolvido por um dos
normalização, uma vez que com a criação do painel de membros da Comissão Executiva de reestruturação e re-
consulta foi estabelecido um mecanismo de envolvimento organização do “site” da Comissão, de forma a torná-lo,
dos interessados no processo de normalização, incremen- por um lado, mais amigável e, por outro lado, mais útil a
tando as condições para que o processo de normalização quem procura informações acerca da normalização con-
ganhe em transparência e em simplificação. tabilística portuguesa.
A par desses instrumentos, a Comissão efectuou, no Uma vez que há dúvidas que são colocadas de forma
passado dia 15 de Dezembro, uma conferência onde apre- recorrente, a Comissão Executiva está a preparar um con-
sentou a sua visão acerca do novo Sistema de Normali- junto de FAQ que continuará a disponibilizar no “site” e
zação Contabilística e que envolveu, nomeadamente, os na newsletter.
mais altos representantes das Confederações dos Agricul-
tores de Portugal, do Comércio e Serviços e da Indústria, C&E – Com o SNC há um significativo
bem como o Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais melhoramento da Estrutura Conceptual. Sendo
de Contas e o Presidente da Direcção da Ordem dos Téc- um investigador particularmente atento aos
nicos Oficiais de Contas. Foi uma jornada que a Comis- aspectos teórico-conceptuais, quais as principais
são Executiva avaliou de forma muito positiva e que, se bases dessa Estrutura Conceptual?
tudo correr conforme o planeado, levará a que durante o
ano que agora se iniciou tenhamos um novo evento orga- DC – Em primeiro lugar, há que considerar que o
nizado pela Comissão. facto de o SNC incorporar de modo formal uma estrutu-
ra conceptual, tem um relevante significado em matéria
C&E – A implementação das Normas de regulamentação contabilística, pois traduz o “com-
Internacionais de Contabilidade (NIC) e do promisso” do regulador – no caso português, a CNC
SNC em Portugal, exigirá uma nova dinâmica da – para com a sociedade em matéria de desenvolvimento
CNC, face à necessidade de acompanhar o ritmo do sistema normativo. De facto, a CNC, ao reconhecer
de produção de normas do IASB e a consequente a Estrutura Conceptual constante do SNC, aceitou im-
adaptação a esse normativo internacional. De plicitamente uma dada referência teórica para o processo
que forma é que a CNC se organizará para fazer normalizador – ou seja, um modelo económico com evi-
face a esses novos desafios?
dentes manifestações utilitaristas – e definiu uma linha
de actuação a seguir e, também, a autolimitação das suas
DC – A Comissão Executiva está organizada, neste
opções.
momento, em dois grupos de trabalho: um, de apoio à
A assumção dessa lógica económica na construção do
implementação, melhoria e actualização do SNC, e um
modelo contabilístico, resulta da escolha dos utentes da
outro, de acompanhamento do processo de harmoniza-
informação financeira a divulgar pelas entidades sujeitas
ção contabilística internacional. O primeiro dos grupos
ao sistema contabilístico, pela análise das características
começou a avaliar os vinte regulamentos comunitários
do meio envolvente, pela avaliação das necessidades dos
que foram publicados desde o regulamento que serviu
utilizadores da informação financeira, e, consequente-
de referência à adopção do SNC, no sentido de propor
mente, do estabelecimento dos objectivos a consignar à
quais os que são susceptíveis de adaptação e posterior
sobredita informação.
incorporação no quadro do SNC e qual o calendário
A partir daí, a Estrutura Conceptual desenvolve-se – em
apropriado.
linha muito próxima à que é reconhecida pelo International
O acordo de princípio que está estabelecido é que a
Accounting Standards Board (IASB) – no sentido de fixar
Comissão apenas proporá para entrada em vigor em 1 de
as características qualitativas a que deve obedecer tal infor-
Janeiro de cada ano as normas que forem aprovadas pelo
Conselho Geral até finais de Julho do ano anterior. mação e, finalmente, deduzir os elementos das demonstra-
ções financeiras, seu reconhecimento e mensuração.
C&E – Com a implementação do SNC vão, Esta perspectiva conceptual – ao aparecer tão clara-
com certeza, aumentar as dúvidas mente definida no quadro do SNC – tem o mérito de
dos preparadores e dos auditores. De que permitir eliminar alguns aspectos dúbios que se desen-
forma a CNC vai responder a tais dúvidas? volveram no quadro do POC, face à hibridez do siste-
ma então vigente. Fica agora claro que as linhas mestras
DC – Como referia acima, um dos grupos de trabalho do sistema apontam para uma apropriada divulgação
da Comissão tem essa função de apoio à implementação, da informação financeira nas demonstrações financeiras
melhoria e actualização do SNC e tem vindo a respon- preparadas pelas empresas que tenham em conta, em
der às questões que lhe são colocadas pelos utilizadores primeiro lugar, os efeitos económicos das operações que
do SNC. envolvem a empresa.
C&E – Um dos pilares fundamentais operações que envolvem a empresa, estava já a fazer alguma
da Estrutura Conceptual é o da mensuração, referência a este novo paradigma da informação financeira.
no qual assume particular relevo o critério A circunstância de agora termos um sistema em que
do “justo valor”. Quais os principais as normas se baseiam mais em princípios e do que em
parâmetros do “fair value”, nomeadamente regras – como explicitamente está referido no ponto 1.2
no que tange à sua aplicabilidade às entidades do Anexo ao Decreto-Lei nº 158/2009 – significa que a
abrangidas pela Norma Contabilística e de interpretação das mesmas não se pode confinar ao seu as-
Relato Financeiro – Pequenas Entidades?
pecto meramente literal, mas deve ter em consideração os
objectivos gerais que lhe estão consignados no contexto
DC – De facto, ao nível da mensuração regista-se a in-
do SNC. E aqui não é de mais relembrar que, cf. estabe-
clusão do “fair value” como critério de mensuração a adop-
lece o Anexo ao diploma antes referido, as demonstrações
tar no quadro do SNC. Sobre este tema, gostaria de referir
financeiras são uma representação estruturada da posição
que a solução encontrada quanto à adopção do “fair value”
financeira e do desempenho financeiro de uma entidade,
constitui um bom ponto de equilíbrio, uma vez que, ten-
que, sendo de finalidades gerais, têm como objectivo pro-
dencialmente, ficamos no quadro do que podemos designar
porcionar informação acerca da posição financeira, do de-
pela adopção do “fair value” “regulado”, i.e., a permissão de
sempenho financeiro e dos fluxos de caixa de uma entida-
adopção de critérios de fair-value, por regra, apenas nas situ-
de que seja útil a uma vasta gama de utentes na tomada de
ações em que exista mercado regulado e de forte restrição à
decisões económicas, evidenciando também os resultados
adopção de critérios “mark-to-model”. Em especial no que
da condução, por parte do órgão de gestão, dos recur-
respeita a pequenas entidades a adopção do “fair value” ain-
sos a ele confiados. Ora, para satisfazer este objectivo, as
da é mais restritiva já que apenas é permitida a sua adopção
demonstrações financeiras proporcionam informação de
nos casos de instrumentos financeiros negociados em mer-
uma entidade acerca dos vários elementos nela contidos
cado líquido e regulamentado.
(v.g. activos, passivos, capital próprio, rendimentos e gas-
A par desta abordagem contabilística à problemática
tos), tal como estão definidos na Estrutura Conceptual.
do “fair value”, há que anotar a alteração ao artigo 32º
Esta informação, juntamente com outra incluída nas
do Código das Sociedades Comerciais efectuada pelo De-
notas do anexo, ajuda os utentes das demonstrações finan-
creto-Lei n.º 185/2009, de 12 de Agosto, nos termos da
ceiras a prever os futuros fluxos de caixa da entidade e, em
qual, se impede a distribuição dos incrementos decorren-
particular, a sua tempestividade e certeza.
tes da aplicação do justo valor através de componentes do
Portanto, as várias disposições das normas – que ago-
capital próprio até que os mesmos sejam alienados, exerci-
ra não são tão prescritivas quanto o eram no quadro do
dos, extintos, liquidados ou, também, quando se verifique
POC – têm de ser lidas neste contexto. Veja-se um exem-
o seu uso, no caso de activos fixos tangíveis e intangíveis,
plo ilustrativo do que penso a este respeito. O parágrafo
regulando-se, desta forma, alguns dos efeitos mais nefas-
12 da NCRF 27 – Instrumentos financeiros refere que
tos da aplicação do “fair value”.
uma entidade deve mensurar ao custo ou ao custo amorti-
C&E – Em recente entrevista à revista zado, entre outros, algumas contas a receber (e, entre elas,
“Revisores/Auditores” sublinhou que com o SNC as de clientes) e as contas a pagar (nestas se incluindo as
assistimos a um novo paradigma da informação dívidas a fornecedores). A opção pelo custo ou pelo custo
financeira. Quais as características principais amortizado não é casuística. A opção está condicionada à
desse novo paradigma, nomeadamente no que obtenção da imagem verdadeira e apropriada da posição
concerne à dicotomia “princípios vs. regras”? financeira e dos resultados da entidade e, naturalmente,
que tal imagem não é obtida pela utilização indiscrimi-
DC – De algum modo, esta alteração já estava a ser nada de um ou do outro dos critérios. Obviamente que,
enunciada na resposta acerca das principais bases da Estru- atento o objectivo da informação financeira, e as condi-
tura Conceptual. Quando referi antes que fica agora claro ções económicas concretas de cada situação, assim deve
que as linhas mestras do sistema apontam para uma apro- ser utilizado o custo ou o custo amortizado, sendo que o
priada divulgação da informação financeira nas demons- primeiro tem, por norma, mais sentido económico nos
trações financeiras preparadas pelas empresas que tenham casos de curto prazo de maturidade e o segundo nos casos
em conta, em primeiro lugar, os efeitos económicos das de longo prazo de maturidade.
*Estes dois artigos fazem parte de um conjunto de reflexões que elaboraremos ao longo do corrente ano sobre aspectos contabilísticos, fiscais e legais do SNC.
SNC
19 Capítulos
12 NCRF não aplicáveis
16 NCRF aplicáveis
Restantes empresas dos sectores 2 Apêndices
não financeiros
* Apenas para as Pequenas Entidades (PE), conforme dispõe o art. 9º do DL 158/2009, de 13 de Julho.
De notar que a Norma Contabilística e de Relato Fi- O SNC constitui, sem dúvida, uma evolução signifi-
nanceiro para Pequenas Entidades (NCRF-PE), apresen- cativa da Contabilidade em Portugal, assumindo particu-
tada como “2.º nível”, constitui uma opção relativamen- lar relevância a sua Estrutura Conceptual, aprovada pelo
te às 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro Aviso n.º 15652/2009, de 7 de Setembro.
(NCRF) do “1.º nível”, que apenas pode ser exercida Finalmente, sugerimos aos leitores a consulta do
pelas entidades que cumpram os requisitos previstos no menu “Normalização Contabilística e SNC” do nos-
mencionado art. 9.º do Decreto-Lei n.º 158/2009. so Portal INFOCONTAB, no qual disponibilizamos
diversas informações sobre o SNC, nomeadamente
Disponíveis no menu “Normalização Contabilística e SNC” do nosso
Portal INFOCONTAB e no sítio da CNC. artigos da nossa autoria e de outros autores, os quais
O n.º 1 deste articulado prevê (os n.ºs. 2 e 3 prevêem outras condições constituem um contributo para o seu melhor conhe-
complementares):
“Artigo 9.º
cimento.
Pequenas entidades
A «Norma contabilística e de relato financeiro para pequenas entidades»
(NCRF -PE), compreendida no SNC, apenas pode ser adoptada, em al- c) Número de trabalhadores empregados em média durante o exercício:
ternativa ao restante normativo, pelas entidades, de entre as referidas no 20.”
artigo 3.º e excluindo as situações dos artigos 4.º e 5.º, que não ultrapassem A própria NCRF-PE confirma estes indicadores.
dois dos três limites seguintes, salvo quando, por razões legais ou estatutá- Sobre esta temática elaborámos um artigo sob o título “A Estrutura Con-
rias, tenham as suas demonstrações financeiras sujeitas a certificação legal ceptual da Contabilidade – Do POC ao SNC”, TOC n.º 91, de Outubro
de contas: de 2007, e disponível para “download” no menu “Actividades Pessoais”/
a) Total do balanço: € 500 000; “Artigos(download)/”Por Título”/”N.º 216”, do nosso Portal” INFOCON-
b) Total de vendas líquidas e outros rendimentos: € 1 000 000; TAB”.
que “terão de ser compensadas estas perdas, e só depois se activo tangível) do excedente de revalorização (admite-se
poderão libertar bens para distribuição”; que os restantes 200 dos resultados transitados não se en-
8. No que tange à nova redacção do n.º 1 do art.º contram realizados e referem-se a outros factos patrimo-
32.º do CSC, mantém-se a cláusula restritiva da distribui- niais), qual o montante distribuível?
ção dos bens12 aos sócios, i.e., quando o capital próprio,
RUBRICA VALOR
incluindo o resultado líquido do período13, seja inferior
51 Capital 1.000
à soma do capital social14 e das reservas que a lei15 ou o 551 Reservas legais 100
contrato16 não permitem distribuir aos sócios ou quando 553 Reservas estatutárias 100
se tornar inferior a esta soma em consequência dessa dis- 56 Resultados transitados* 400
tribuição. 58 Excedentes de revalorização de acti-
vos fixos tangíveis e intangíveis** 100
Esta disposição visa, nomeadamente, a protecção do
81 Resultado líquido do período 200
capital das sociedades, constituindo uma “salvaguarda da
Total do Capital Próprio 1.900
descapitalização” e protecção dos sócios minoritários, em * Inclui o valor de 200 referente à parte realizada do excedente de revalo-
obediência ao designado princípio da “conservação do ca- rização. Os restantes 200 consideram-se “não realizados”.
** Valor não realizado de 100 num total de 300.
pital”.
Vejamos o seguinte exemplo: Neste caso, o Capital Próprio é de 1900, sendo superior
à soma (1200) do capital (1000) com as reservas legais (100)
RUBRICA VALOR
e as reservas estatutárias (100), pelo que não resulta qualquer
51 Capital 1000
551 Reservas legais 100
impedimento à distribuição dos resultados. Os resultados
distribuíveis, sem as reservas17, são de 400, referente ao so-
553 Reservas estatutárias 100
matório do resultado líquido do período (200) com os resul-
56 Resultados transitados (400)
81 Resultado líquido do período 200
tados transitados correspondentes à realização do excedente
Total do Capital Próprio 1000
de revalorização do activo fixo tangível (200).
Note-se, ainda, que mesmo após essa distribuição
(400) o capital próprio (que ficará a ser de 1500) conti-
Neste contexto, dado que o Capital Próprio (1000) é nuará a ser superior a 1200, pelo que se encontra também
inferior à soma (1200) do capital (1000) com as reservas cumprida a condição do n.º 1 do art.º 32.º do CSC;
legais (100) e as reservas estatutárias (100), não poderá 9. O n.º 2 do art.º 32.º constitui a principal novidade da
ser distribuído o resultado líquido do período, pois este alteração do articulado face à referida aplicação do critério
deverá ser utilizado prioritariamente para cobertura dos de mensuração do justo valor, constituindo uma limitação
resultados transitados negativos de 400. objectiva à distribuição de bens resultante de incrementos
Admitindo, agora, uma segunda situação, em que os (variações positivas) decorrentes da aplicação do justo valor
resultados transitados de 400 são positivos, dos quais 200 através de componentes em capital próprio (aumentos nas
resultam da realização (pelo uso, i.e., a depreciação de um contas da Classe 5 do SNC), nomeadamente os agora deno-
minados excedentes de revalorização evidenciados na conta
12 A palavra “bens” deve ser entendida em sentido lato, incluindo, portan-
58 - “Excedentes de revalorização de activos fixos tangíveis e
to, os resultados.
13 A Conta “88 - Resultado líquido do exercício” do POC, passou a desig- intangíveis” e os ajustamentos positivos decorrentes da apli-
nar-se “81 - Resultado líquido do período”, conforme Código de Contas do cação do método da equivalência patrimonial relevados na
SNC aprovado pela Portaria n.º 1011/2009, de 9 de Setembro.
14 A designação “capital social” (conta “52 - Capital social”) era utilizada conta “571 – Ajustamentos em activos financeiros – Relacio-
no primeiro POC, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47/77, de 7 de Feverei- nados com o método da equivalência patrimonial”.
ro (POC/77), tendo passado a intitular-se apenas por “capital” (conta “51 A expressão “quando os elementos ou direitos que
- Capital”) com o actual POC (POC/89), aprovado pelo Decreto-Lei n.º
410/89, de 21 de Novembro. O Código de Contas do SNC mantém a lhes deram origem sejam alienados18, exercidos19, extin-
designação do POC/89 de “capital” (conta “51 - Capital”). Ou seja, a desig- tos20, liquidados21 ou, também, quando se verifique o
nação do CSC não está normalizada com o POC/89 nem com o SNC.
15 Normalmente, a “reserva legal” (conta “571 - Reservas legais” no POC e 17 Estas podem ser redistribuídas se não existirem impedimentos legais.
conta “551 - Reservas legais” no SNC). 18 Ou vendidos.
16 Designadas de “reservas estatutárias” (no POC tinha uma conta própria 19 Caso do exercício de opção de compra na locação financeira.
com o título “572 - Reservas estatutárias”, ao passo que o SNC não a prevê 20 Como exemplos podemos apenas ter os seguintes casos: término de um
explicitamente, pelo que deve ser criada uma subconta da conta “552 - Ou- contrato de aquisição de bens, término do contrato de sociedade (v.g. objec-
tras reservas” ou mesmo uma conta com grau superior, por exemplo, “553 to social, duração da sociedade) e a insolvência.
- Reservas estatutárias”). 21 Por exemplo, em processo de insolvência da empresa ou término do
uso22, no caso de activos fixos tangíveis e intangíveis”, “Braz Machado, no livro atrás referido, preconiza que a re-
diz respeito à verificação do “princípio de realização”, o serva (excedente) de reavaliação não realizada deveria ser
qual se encontra contemplado no item 2.4 da Directriz identificada no capital próprio numa classificação especí-
Contabilística n.º 16 (DC16) – “Reavaliação de Activos fica de “capital não realizado”.
Imobilizados Tangíveis”23 e, com o SNC, na NCRF 6 No esquema seguinte resumimos este clausulado:
– “Activos Intangíveis” e na NCRF 7 “Activos Fixos Tan-
gíveis”, nos parágrafos relativos à mensuração após reco-
nhecimento, e, mais concretamente, nas partes relativas Por “abate”
– Alienação
ao modelo de revalorização24. – Exercício do direito
Em nosso artigo anterior25, citámos Braz Machado26 Activos fixos – Extinção
tangíveis e Realização – Liquidação
nos seguintes termos: (causas)
intangíveis
objecto e ou durabilidade do contrato da sociedade.
22 Pela depreciação do activo fixo tangível ou amortização do activo fixo Uso (depreciação de activos
intangível. fixos tangíveis e amortização
23 O item 2.4 da DC16 prevê: de activos fixos intangíveis)
“2.4. O excedente obtido do processo de reavaliação só se considera realizado, de
acordo com os princípios contabilísticos geralmente aceites, pelo uso ou alienação
dos bens a que respeita.”. Fonte: Elaboração própria.
24 Parágrafos 74 a 86 da NCRF6 e parágrafos 31 a 42 da NCRF7.
25 Sob o título “A Realização e a Utilização das “Reservas” (“Excedentes”) Em suma, o art.º 32.º do CSC constitui, efectivamente,
de Reavaliação”, Revisores & Empresas n.º 13, de Abril/Junho de 2001, pp.
24-8 e disponível para “download” no menu “Actividades Pessoais/Artigos
uma norma do direito societário que interfere (limita) di-
(Download)/Por Título/N.º 69” do Portal INFOCONTAB, no qual apre- rectamente na aplicação do critério de mensuração do justo
sentámos as principais características teóricas e práticas desta problemática. valor.
26 BRAZ MACHADO, José Rita: “Contabilidade Financeira”, Ed. Proto-
contas, Lisboa, 1998, pp. 1148-52. *ROC, TOC, Docente do Ensino Superior
Reversão do activo
e prestações do concedente
Hernâni O. Carqueja* afecto, não comprometeria o reembolso final do capital e
do financiamento complementar. O reconhecimento das
A reversão dos activos afectos à exploração, no final do amortizações teria implicado a retenção de valores corres-
período da concessão ou em situações de resgate antecipa- pondentes ao valor “gasto” no imobilizado, valor que, no
do, implica, para os titulares de partes de capital numa esquema, acresceu a outros activos.
concessionária, providências adequadas à conservação do Mas a realidade económica é mais complexa e são
capital que investiram. poucos os elementos do imobilizado com duração útil
A natureza do problema a resolver pode ser esquema- igual ao período da concessão – haverá que substituir
tizada considerando o caso de uma concessionária com muitos para manter em operação a concessão, e de
o capital de 5000 e investimentos iniciais necessários ao facto boa parte do valor retido, ao reconhecer amor-
arranque da concessão de 250 000 – dos quais 200 000 tizações, acaba imobilizado e novamente afecto à con-
em imobilizado e 50 000 em “Outros Activos”. O finan- cessão. A experiência empresarial permite prever que o
ciamento implica financiamentos além do proporcionado valor global líquido do imobilizado, ignorando infla-
pelo capital, só 5000, são necessários mais 245 000. Ad- ção e se não houver alterações tecnológicas significa-
mita-se que a concessão é feita por 50 anos, sendo rever- tivas, e aceitando afastamentos pontuais relativamente
sível, numa hipótese muito simplificadora, a preço zero a à tendência, se vai fixar em valores líquidos inferiores
totalidade dos activos afectos. Reduzindo o modelo só aos a 200 000. Haverá sempre em uso alguns elementos
elementos essenciais à análise, teremos: novos, alguns elementos do imobilizado parcialmente
ACTIVO CAPITAL PRÓPRIO e PASSIVO
amortizados e até elementos totalmente amortizados. A
Imobilizado 200 000 Capital 5 000
hipótese de gastar toda a utilidade do imobilizado em
Financiamento
Outros activos 50 000 245 000 50 anos pode colocar-se tomando como referência a
Complementar
250 000 250 000 utilidade, ou valor, para a entidade concessionária, mas
carece totalmente de razoabilidade com qualquer ou-
Ignorando o facto de a história económica tornar pre- tra referência. Para o concedente, a reversão traduz-se
visível alteração significativa do valor da moeda passados em receber valores diferentes de zero e com significado.
os cinquenta anos, considerando totalmente amortizado o Atribuir ao imobilizado o valor que normalmente teria
imobilizado, uma sequência de exercícios com resultado fi- numa exploração em continuidade é a única solução
nal acumulado nulo, e ignorando completamente problemas inteligível para a generalidade de utentes, e, certamen-
legais e fiscais, teríamos em final e imediatamente antes da te, para o concedente. É a quebra de continuidade da
reversão: exploração que é invocada para atribuição do valor zero
ACTIVO CAPITAL PRÓPRIO e PASSIVO pelo concessionário.
Imobilizado 200 000 Capital 5 000 Mas esta hipótese conduz de imediato à necessidade de
Amortização -200 000 prever a perda pela entrega do Imobilizado quando da re-
0 versão da concessão; a falta de tal providência é evidenciada
Financiamento pelo seguinte cenário simplificado para facilitar análise:
Outros activos 250 000 245 000
Complementar
ACTIVO CAPITAL PRÓPRIO e PASSIVO
250 000 250 000
Imobilizado 200 000 Capital 5 000
Amortização -90 000
A amortização implicou retenção de valores, acres-
110 000
cendo 200 000 em “Outros Activos”. Nesta situação, Financiamento
Outros activos 140 000 245 000
que limita os problemas aos que pretendemos apreciar, Complementar
a entrega do imobilizado, por reversão do património 250 000 250 000
Podemos designar o financiamento pelo concedente, parte do capital próprio da entidade os subsídios para fo-
quando não remunerado e quando persista até ao resga- mento de cooperativas não exigíveis, enquanto se verifi-
te ou reversão, por exemplo “Prestações do Concedente”. que continuidade, mesmo que não possam ser apropria-
Tal como as prestações suplementares dos titulares de par- dos pelos cooperantes. As unidades de participação não
tes do capital, as “Prestações do Concedente” integram o reembolsáveis por iniciativa dos titulares não constituem
Capital Próprio à disposição da entidade a que respeita a capital dos proprietários do capital nominal, mas são capi-
exploração. São, para a entidade, uma parcela dos Fun- tal para a entidade, mesmo quando implicam uma remu-
dos Próprios; são exigíveis quando da reversão, mas esta neração não dependente de resultados. É também capital
implica quebra de continuidade na exploração pelo con- próprio da entidade o valor das unidades de participação
cessionário. só reembolsáveis por iniciativa da entidade mas implican-
Na hipótese, que é pelo menos uma possibilidade teóri- do concordância expressa dos titulares, situação que pode
ca, de as prestações do concedente excederem o valor a atri- justificar particular cuidado em estimativas dos resultados
buir à totalidade do activo reversível, a entrega do activo e sua disponibilidade.
reversível liquida parte das “Prestações do Concedente” e o São diversas as situações em que o capital próprio da
valor restante terá que ser pago por outros activos. As con- entidade tem valores que não fazem do capital próprio
tas, mantendo a hipótese de resultados acumulados iguais a dos titulares de partes do capital, e podem variar face às
zero, podem ser exemplificadas nos termos seguintes: instituições legais de cada caso. A tradução de uma nor-
ACTIVO CAPITAL PRÓPRIO e PASSIVO
ma, transposição de uma língua para outra, pode acar-
Imobilizado 200 000 Capital 5 000
retar dificuldades acrescidas quando não há equivalência
Amortização -90 000 de instituições. Em muitos casos, uma tradução, que
110 000 até pode parecer correcta fora do contexto contabilísti-
Outros activos 140 000 Prestações do concedente 245 000 co, pode resultar em falta de equivalência dos conceitos
250 000 250 000 correspondentes aos termos usados na língua fonte e na
tradução.
Se os termos da concessão estabelecerem que a en- Esperávamos que o novo modelo contabilístico nor-
trega do imobilizado em reversão liquida 110 000 das malizado, o SNC, comportasse modelo de informação
Prestações do Concedente, então o activo restante, “Ou- mais adequado ao esclarecimento do mercado. Mas as es-
tros Activos”, será aplicado na liquidação de 245 000 pecialidades das concessões, instituições que nos cercam
- 110 000 = 135 000, e reembolso do capital de 5000. (estradas, água, electricidade, gás, comunicações, etc.),
Na situação de arranque do processo o valor de “Outros continuam opacas, designadamente na informação con-
Activos” era 50 000, a amortização implicou acréscimo tabilística relativa ao capital próprio, quer dos titulares de
de 90 000, 50 000 + 90 000 = 140 000. partes do capital quer da entidade.
Estas “Prestações do Concedente”, tal como as “Re- Estas observações pretenderam clarificar a necessidade de
servas Para Reversão”, não são exigíveis enquanto conti- existirem Reservas afectas à Reversão para que seja possível
nuar a concessão, isto é, enquanto não houver quebra de conservar o valor nominal do capital social, quer para efei-
continuidade. Correspondem a valores à disposição da tos de reembolso quer de continuidade após reorganização.
entidade, mas não dos titulares de partes de capital, que Também pretendem clarificar a especialidade do problema
não podem apropriar-se deles. São capital próprio da en- da necessidade de Reservas para Reversão quando o conce-
tidade, mas não dos proprietários. dente financia parte ou a totalidade do imobilizado afecto
Há outras situações em que o capital da entidade pode até final da concessão, e a reversão liquida, total ou parcial-
compreender valores não incluídos no capital dos proprie- mente, tal financiamento (Prestações do Concedente).
tários, designando por proprietários os accionistas que Em esclarecimento da natureza contabilística dos va-
controlam a gestão ou os accionistas detentores de acções lores à disposição da entidade e não apropriáveis pelos ti-
comuns. Dependendo do privilégio, o capital privilegia- tulares de partes de capital, esquematizaram-se situações
do pode ser excluído do capital próprio dos proprietários. demasiado simplificadas, mas que ajudam a situar o pro-
Em contas consolidadas, o capital de minoritários é capi- blema da classificação contabilística.
tal próprio do grupo, mas excluído do capital próprio dos
* ROC, TOC, ex-Docente da FEP,
proprietários da empresa-mãe. Numa cooperativa, fazem Director da Revista de Contabilidade e Comércio
n) Sem prejuízo da alínea anterior, os gastos relativos à Por outro lado, não é verdade que o novo normativo
participação nos lucros por membros de órgãos sociais, contabilístico preveja que as gratificações por aplicação
quando os beneficiários sejam titulares, directa ou indi- de resultados sejam necessariamente registadas como gas-
rectamente, de partes representativas de, pelo menos, 1 tos nos períodos em que o trabalho é prestado.
% do capital social, na parte em que exceda o dobro da É importante ler o que efectivamente se diz nesse nor-
remuneração mensal auferida no período de tributação mativo, designadamente na Norma Contabilística e de
a que respeita o resultado em que participam.”. Relato Financeiro 28 (NCRF 28) – Benefícios dos em-
Complementarmente, ainda sobre este assunto, os pregados.
nºs 5 e 6 do artigo 45.º passaram a dispor: De acordo com a alínea (c) do § 9 desta Norma, as
“5 — No caso de não se verificar o requisito enunciado gratificações por aplicação de resultados – “participação
na alínea m) do n.º 1, ao valor do IRC liquidado nos lucros e bónus pagáveis dentro de doze meses após o fi-
relativamente ao período de tributação seguinte adi- nal do período em que os empregados prestam o respectivo
ciona-se o IRC que deixou de ser liquidado em resul- serviço” – constituem benefícios a curto prazo dos em-
tado da dedução das importâncias que não tenham pregados.
sido pagas ou colocadas à disposição dos interessados Relativamente a este tipo de benefícios, o § 11 da
no prazo indicado, acrescido dos juros compensatórios NCRF 28 diz textualmente:
correspondentes. “Quando um empregado tenha prestado serviço a uma enti-
6 — Para efeitos da verificação da percentagem fixada na dade durante um período contabilístico, a entidade deve
alínea n) do n.º 1, considera -se que o beneficiário detém reconhecer a quantia não descontada de benefícios a cur-
indirectamente as partes do capital da sociedade quando to prazo de empregados que espera ser paga em troca desse
as mesmas sejam da titularidade do cônjuge, respectivos serviço:
ascendentes ou descendentes até ao 2.º grau, sendo igual- (a) Como um passivo (gasto acrescido), após dedução de
mente aplicáveis, com as necessárias adaptações, as regras qualquer quantia já paga. Se a quantia já paga ex-
sobre a equiparação da titularidade estabelecidas no Có- ceder a quantia não descontada dos benefícios, uma
digo das Sociedades Comerciais”. entidade deve reconhecer esse excesso como um activo
Como facilmente se intui, esta mudança terá sido (gasto pré-pago) na extensão de que o pré-pagamento
provocada pela modificação do tratamento contabilístico conduzirá, por exemplo, a uma redução em futuros
que o SNC alegadamente veio dar às gratificações por pagamentos ou a uma restituição de dinheiro; e
aplicação de resultados comparativamente com o que ti- (b) Como um gasto, salvo se outra Norma Contabilística
nha no POC. e de Relato Financeiro exigir ou permitir a inclusão
Cremos, porém, que não se terá interpretado correc- dos benefícios no custo de um activo (ver, por exem-
tamente as disposições do novo normativo contabilístico plo, NCRF 18 - Inventários e a NCRF 7 - Activos
sobre a matéria, pois se presumiu que as gratificações por Fixos Tangíveis).
aplicação de resultados passariam a ser obrigatoriamente Os parágrafos 12, 15 e 18 explicam como uma entida-
registadas, não como variações patrimoniais negativas no de deve aplicar este requisito a benefícios a curto prazo dos
ano da respectiva atribuição, mas como gastos no período empregados na forma de ausências permitidas e de planos de
a que se refere o resultado, ou seja, no ano anterior. participações nos lucros e de bónus”.
A ideia parece resultar do princípio de que os gastos Pretende-se, segundo parece resultar deste parágrafo,
com o pessoal devem ser registados, não quando ocorre o que o gasto correspondente aos benefícios a curto prazo
dispêndio da entidade, mas quando o serviço é efectiva- dos empregados seja registado no período em que o res-
mente prestado. pectivo serviço for prestado.
Por um lado, este não é um princípio novo, pois já Não obstante, no caso particular das gratificações por
assim era no tempo do POC. Veja-se, por exemplo, o aplicação de resultados, existe um parágrafo – o § 18 –
que acontecia com as remunerações devidas por motivo em que especificamente se estabelece o respectivo regime
de férias, que, segundo o POC, eram contabilisticamen- contabilístico, nos seguintes termos:
te registadas no exercício em que, pelo trabalho prestado “Uma entidade deve reconhecer o custo esperado dos paga-
pelos trabalhadores, o direito era adquirido, e não quan- mentos de participação nos lucros e bónus segundo o pa-
do o pagamento era concretizado. rágrafo 11 quando, e só quando:
A crise*
Rogério Fernandes Ferreira**
I. Visibilidade da crise
“Crise” significa alteração provocada por doença, situa-
ção anormal e grave (cf. Dicionário de A. Moraes). Assim,
crise será também situação anómala, de doença, da econo-
mia, da sociedade, das nações.
Toda a gente já concluiu que a crise existe, pois o sente
na própria pele ou o sente nas afectações dos que estão a
sofrer os efeitos. A crise actual também se manifestou nou-
tros países e, por isso, entidades oficiais, ministros e outros
dirigentes aparecem a justificar o que se vem passando em
Portugal, invocando que a crise é geral, ou que se está a
ser afectado pelas dificuldades do exterior, focando que se
exporta menos porque as empresas dos países em crise re- era grave, mas com a crise actual, mundial e nacional, os
duzem as suas compras de bens e serviços. São factos, mas problemas avolumaram-se.
não explicam tudo. Os partidos da oposição, olhando à si- O que fazer? Quais são as soluções?
tuação do País, em confronto com anos anteriores, acentu-
am que se piorou, atribuindo todas as culpas ao Governo, II. Agir perante a crise
o que também não é razoável. Antes de se instalar uma crise, aparecem os sinais. O
O País está mais pobre, e em crise. Ocorreram em Por- que se fez para a atacar foi insuficiente. A crise veio-se
tugal eventos que geraram quebras de produção, perdas de instalando e progredindo, e está a gerar desastrosas conse-
postos de trabalho, falências de empresas. Problemas graves quências (paralisações, cessações de produção, perdas de
em certos bancos, a que se juntaram escândalos de corrup- postos de trabalho, quebras de rendimentos, carências va-
ção, com uma Justiça que não funciona, tudo a fazer recear riadas, endividamentos, falências e turbulências sociais).
ocorrências ainda mais graves. Tudo quanto se fizer de apropriado será desejável, mas
O problema é que o País, de há muitos anos a esta par- a crise é situação tão má que o melhor seria evitá-la. Peran-
te, se encontra em plano inclinado, para o pior. Criaram-se te os prenúncios de crise, não se poderia ficar em estado
nele artificialismos. Em geral, governos sucessivos, desde o larvar. Porém, a tendência de muitas pessoas é a de que
25 de Abril, têm sofrido exigências de todos, desde os mais “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas” ou a de que
privilegiados aos mais pobres, para que se lhes concedam não podem, sozinhos, tomar medidas, pois sentem a adver-
melhores remunerações, mais regalias sociais, melhor as- sidade derivada das atitudes dos muitos que não querem
sistência. Em particular na função pública e em empresas partilhar dificuldades nem ajudar à solução. Assim, é difícil
públicas os encargos cresceram e o volume de funcionários alterar o sentido do plano, inclinado, pelo qual os avanços
também. Em geral, pode dizer-se que todos, quase todos, da crise vão deslizando.
quiseram, para si, o concedido a outros, mesmo sabendo Entendemos que, em Portugal, há má cultura democrá-
que se tratava de atribuições desrazoáveis, ilegítimas, imo- tica. A prática, até agora, tem sido, sempre ou quase sem-
rais e ilegais. pre, a de quem está em outro lado entender que a opção
E o país ficou mais pobre. Não dispõe de riqueza e não é combater os adversários, vê-los como inimigos, quando
produz o suficiente para satisfazer as reivindicações havidas, seria de apreciar se o programado está (ou não) correcto e,
gerando-se, assim, endividamento, défices, mais impostos então, auxiliar (não contrariar).
e mais injustiça social. Tudo o que estava acontecendo já A actual crise portuguesa deriva, muito, da actuação de
decénios dos portugueses e de seus partidos, associações, O funcionalismo público, onde praticamente não se
sindicatos, que nas alturas de tomadas de posições neces- premeiam os melhores e em que todos têm emprego (vi-
sárias se colocaram sempre em oposição uns aos outros e talício), mesmo os que não exercem as suas funções com
nunca, ou quase nunca, em concertação. Entenderam, de- empenho, veio sempre em crescendo, em número e em
magogicamente, ir contra as medidas que conviria tomar encargos.
no País. Desde o 25 de Abril que se praticam excessos e A produção no País é inferior ao consumo e a comu-
abusos, incluindo atribuições de rendimentos e de benesses nidade portuguesa vem assim acumulando défices, endi-
a todos os que recalcitrem com alguma força contra o es- vidamento.
tatuído, exigindo mais (sempre mais). Em certos casos, até A acrescer, observa-se que, em geral, os partidos conver-
será pouco. Porém, tem de ponderar-se que não se pode dar gem na atribuição de prebendas aos políticos. Um caso que
além do que se tem. temos sublinhado, e que não esquecemos, é o da legislação
na qual a Assembleia da República atribuiu aos deputados
III. Como salvar Portugal? (e demais agentes políticos) que exercessem funções du-
rante um certo período de anos (oito, agora doze), pensão
O que vem acontecendo no nosso País está a che- vitalícia, sem articulação com quotizações para a Segurança
gar a um ponto que muitos analistas vêm referindo que Social, como é exigido aos demais trabalhadores.
acabará em desfecho calamitoso. E porquê? Porque se Nas situações existentes torna-se cada vez mais difícil
inseriram no nosso viver opções que, idealmente ou encontrar receitas através de impostos e de outros tributos
ideologicamente, se foram aceitando, pois derivavam que permitam acorrer à totalidade dos gastos públicos que
de soluções introduzidas democraticamente. Só que tais estão incomportáveis. Assim, ao problema económico do
soluções, em regra, não foram ponderadas nas suas con- défice crónico da balança comercial junta-se o do défice
sequências negativas, designadamente na economia na- orçamental, também algo crónico e impossível de conter.
cional e nas finanças públicas. Damos alguns exemplos
elucidativos. Que soluções, então, para salvar Portugal?
A Constituição da República de 1976 introduziu o
direito à greve (art. 58º) e a proibição do despedimento A promiscuidade entre Estado, empresas públicas e algu-
sem justa causa (art. 53º). Mas algumas greves tornaram-se mas grandes empresas privadas tornou-se chocante. As clas-
abusivas e, em geral, acabaram por ser praticadas, apenas, ses profissionais não transigem nas suas exigências. As remu-
em empresas públicas e nos serviços do Estado, ou seja, nerações e as reformas escandalosas e abusivas de gestores de
exactamente onde, por vocação, se deve estar à disposição empresas públicas, alguns escândalos na banca, os processos
de todos e em particular dos utentes mais pobres, ou dos judiciais que se eternizam (devido a sucessivos recursos e a
que mais precisam. incidentes dilatórios variados), e acabam por prescrever (ou
Quanto à proibição de despedimentos sem justa cau- em absolvições por provas não aceites ou falsas e consabidas).
sa, derivou, daí, em face de crises conjunturais passadas, Autênticos desaforos que continuam a descredibilizar um pi-
ou da crise geral vivida, desde 2008, que muitas empresas, lar fundamental da Nação, que é a Justiça.
em particular médias e pequenas e do sector industrial, so- Estes factos prejudicam o País (tornam-no ingerível).
freram gravames nos custos da sua produção. É que, com E os partidos? Os seus eleitos parece entenderem que o
as crises, houve quebras de encomendas, ficando o pessoal objectivo deve centrar-se em oposição aos eleitos dos ou-
inactivo. Mas os encargos de mão-de-obra mantiveram-se, tros partidos. ainda que desadequada ou mentirosa. O(s)
acabando as empresas em falência. Surgiu, assim, no fim, partido(s) que estiver(em) a governar sofre(m) oposição
a cessação de trabalho, para todos, e não só para exceden- desapiedada, algo incorrecta, dos partidos da oposição.
tários. Esta é a realidade, pelo que a resposta ao título deste texto
revela-se difícil. Impossível? Possível só através de milagre?
Tragédia De solução excepcional?
Quererão os portugueses, em face do estado do seu
O que vem acontecendo no nosso País está a chegar a País, prescindir de excessos e de benesses (os que as têm)?
um ponto que muitos analistas vêm referindo que aca- Darem exemplos de boas condutas? Poderá o investimen-
bará em desfecho calamitoso. to aparecer de novo? Os que estão a beneficiar de refor-
mas excessivas e injustas prescindirão de parte delas? A Nos pontos anteriores acentuámos que Portugal foi
ambição pode ser contida e acabará a corrupção de quem, atingido por crise (económica), o que quer dizer que está
detendo cargos e responsabilidades sociais, não olha a (economicamente) doente. A doença de Portugal não é
meios? Será possível regeneração? Como regenerar? Dar só económica, é também política (e isso é muito pior).
bons exemplos, debelar males existentes e sair da actual O sistema político em que se vive é de Democracia, mas
situação em que se caiu? Será que os eleitos são capazes de há decénios que se degrada. Há maus eleitos. Mas o pior é
actuar conjugadamente? No sentido de viabilizarem pro- que muitos eleitores também são maus. Em eleições havidas
postas para a salvação nacional? Ou ter-se-á de acabar em verifica-se que os suspeitos, ou acusados, de crimes, quando
revolução, que mude as estruturas que estão a apodrecer? concorrem nas eleições, são os preferidos pela maior parte
dos eleitores.
IV. As respostas A COMO SALVAR Um País em democracia, doente e em crises tem de
PORTUGAL curar-se, para não morrer. Eis o que se entende de acentu-
V. PORTUGAL DOENTE ar. Talvez em comunicação seguinte se procure explicar um
A versão original deste artigo, disponível no Portal INFOCONTAB em
pouco mais (Camões, no fim da sua vida, doente, triste-
www.infocontab.com.pt no menu “Mestres-Professores/Rogério Fernandes mente, disse ao “menos morro com a Pátria”).
Ferreira (1929 - ...)/Artigos”, contém este capítulo que, com a anuência
do Professor, foi suprimido, pois o mesmo inclui depoimentos pessoais de **Professor Catedrático Jubilado
diversos amigos e colegas do Professor de resposta ao texto. e Consultor de Empresas
sejam idóneos e de controlo inequívoco. “No caso de Ainda neste âmbito, elimina-se a exigência de evi-
os inventários requererem um período superior a um denciar separadamente na contabilidade a parte do valor
ano para atingirem a sua condição de uso ou venda, in- dos imóveis correspondentes ao terreno, transferindo-se
cluem-se no custo de aquisição ou de produção os cus- essa exigência para o dossier fiscal. E passam a ser aceites
tos de empréstimos obtidos que lhes sejam directamente para efeitos fiscais depreciações ou amortizações infe-
atribuíveis, de acordo com a normalização contabilística riores às quotas mínimas. A partir da sua classificação
especificamente aplicável.” como activos não correntes detidos para venda, aos acti-
vos sujeitos a deperecimento deixam de ser aplicáveis as
Depreciações e amortizações depreciações ou amortizações para efeitos fiscais. “Desde
significam diferenças contabilísticas que contabilizadas ao custo histórico, as propriedades
de investimento podem ser objecto de depreciação para
As depreciações e amortizações para efeitos fiscais po- efeitos fiscais.”
dem dar lugar a significativas diferenças contabilísticas.
Por exemplo, quanto ao conceito de valor depreciável, Perdas por imparidade
ao valor residual, à escolha do método de depreciação, à
estimativa da vida útil, à depreciação por componentes As perdas por imparidade são dedutíveis para
e à data de início das depreciações e amortizações, facto efeitos fiscais apenas no caso de créditos e de desva-
que levou José Vieira dos Reis a debruçar-se de forma
lorizações excepcionais verificadas em activos fixos
mais promonorizada sobre a matéria.
tangíveis, activos intangíveis, activos biológicos não
Desenvolvendo, a dedutibilidade fiscal das depre-
consumíveis e propriedades de investimento prove-
ciações e amortizações “deixa de estar dependente
nientes de causas anormais devidamente comprova-
da respectiva contabilização como gasto no mesmo
das ou alterações significativas, com efeito adverso,
período de tributação, podendo ser também aceites
no contexto legal.
quando tenham sido contabilizadas como gastos nos
Quanto às perdas por imparidade de activos depre-
períodos de tributação anteriores, desde que não te-
ciáveis ou amortizáveis não aceites como desvalorizações
nham sido dedutíveis por excederem as quotas máxi-
excepcionais, são consideradas como gastos, em partes
mas admitidas”.
iguais, durante o período de vida restante desse activo
Além disso, prevê-se a inclusão no custo de aqui-
ou até ao período de tributação anterior àquele em que
sição ou de produção dos elementos depreciáveis ou
se verificar o abate físico, o desmantelamento, o aban-
amortizáveis dos custos de empréstimos obtidos, in-
dono, a inutilização ou a transmissão do mesmo. “Nos
cluindo diferenças de câmbio a eles associadas, quan-
demais casos, a aceitação das perdas por imparidade so-
do respeitarem ao período anterior à sua entrada em
mente ocorre no período de tributação da sua efectiva
funcionamento ou utilização, desde que superior a um
ano. realização.”
“Elimina-se a exigência de diferimento, durante As perdas por imparidade em créditos continuam
um período mínimo de três anos, das despesas com a ser aceites para efeitos fiscais se cumprirem determi-
a emissão de obrigações dos encargos com campa- nadas regras do CIRC, designadamente encontrar-se o
nhas publicitárias e dos encargos financeiros e das crédito vencido há mais de seis meses. Para efeitos con-
diferenças cambiais desfavoráveis relacionados com tabilísticos, as perdas por imparidade em créditos são
o imobilizado e correspondentes ao período anterior reconhecidas quando se estima uma perda, podendo, no
à sua entrada em funcionamento”. limite, ter de se reconhecer perdas de imparidade em
créditos ainda não vencidos.
Vieira dos Reis faz notar que se aceitam para efei-
Valor depreciável tos fiscais as provisões para garantias a clientes, embora
sujeitas a determinado limite, em função dos encargos
A aplicação do regime fiscal das depreciações e amorti- efectivos com garantias em três períodos de tributação
zações pode dar lugar a diferenças contabilísticas essen- anteriores. O limite é determinado tendo em conta os
ciais quanto ao conceito de valor depreciável. encargos efectivos de garantias dos últimos três anos e as
vendas e prestações de serviços com garantia dos últimos mentos do elemento coberto reconhecidos em resul-
três anos. tados – ainda que não realizados – concorrem para a
formação do lucro tributável, na exacta medida dos
Gastos de créditos incobráveis no PEC ajustamentos de sinal contrário, gerados pelo instru-
mento de cobertura.”
Já no que respeita ao pagamento especial por conta, Nas operações de cobertura de fluxos de caixa ou de
aceitam-se como gastos de créditos incobráveis resultan- cobertura do investimento líquido numa unidade ope-
tes de procedimento extrajudicial de conciliação (PEC) racional estrangeira, os ajustamentos gerados pelo ins-
para viabilização de empresas em situação de insolvência trumento de cobertura são diferidos (na parte conside-
ou em situação económica difícil (mediado pelo IAP- rada eficaz), até ao momento em que os ajustamentos do
MEI). elemento coberto concorram para a formação do lucro
Também se aceita para efeitos fiscais a dedução das tributável.
contribuições suplementares para fundos de pensões e Vieira dos Reis chama a atenção para o facto de, se
equiparáveis destinadas à cobertura de responsabilida- existirem correcções ao valor de transmissão de direitos
des com benefícios de reforma que resultem da aplica- reais sobre imóveis, deixar de ser exigida ao adquirente
ção das NIC – adoptadas pela União Europeia ou do desses direitos a respectiva contabilização pelo valor pa-
SNC – repartidas em partes iguais por cinco períodos trimonial tributário definitivo para que o mesmo seja
de tributação. considerado para efeitos de determinação de qualquer
Na sua intervenção, o revisor oficial de contas abor- resultado tributável em IRC. Lembra ainda que “o re-
dou a questão das mais e menos-valias fiscais: “São gime especial de neutralidade fiscal aplicável às fusões,
abrangidos pelo regime das mais e menos-valias fiscais cisões e entradas de activos deixa de estar dependente
os activos fixos tangíveis e intangíveis, os activos bioló- das condições exigidas relativamente à contabilização
gicos não consumíveis, as propriedades de investimen- dos elementos patrimoniais transferidos”.
to, ainda que qualquer destes activos tenha sido reclas- Finalmente, convém ter em conta o que se passa
sificado como activo não corrente detido para venda no que respeita ao regime transitório. Vieira dos Reis
e os instrumentos financeiros, com excepção daqueles adianta: “Os efeitos nos capitais próprios decorrentes da
em que os ajustamentos decorrentes da aplicação do adopção, pela primeira vez, dos novos referenciais conta-
justo valor através de resultados concorrem para a for- bilísticos e que sejam considerados relevantes para efei-
mação do lucro tributável no período de tributação.” tos fiscais concorrem em partes iguais para a formação
Por sua vez, a correcção monetária não é aplicável aos do lucro tributável durante cinco períodos de tributa-
instrumentos financeiros, salvo quanto às partes de ca- ção, sem prejuízo das entidades que já os aplicavam este
pital. período se contar a partir daquele em que os referenciais
Para efeitos da aplicação do regime do reinvestimen- se aplicaram pela primeira vez.”
to dos valores de realização, são fiscalmente aceites os No entanto, as despesas com a emissão de obriga-
activos tangíveis, biológicos não consumíveis e as pro- ções, os encargos com campanhas publicitárias e os en-
priedades de investimento afectos à exploração, com cargos financeiros e as diferenças cambiais desfavoráveis
excepção dos bens adquiridos em estado de uso a con- relacionadas com o imobilizado e correspondentes ao
tribuinte de IRS ou IRC, com o qual existam relações período anterior à sua entrada em funcionamento, reco-
especiais. nhecidos como gastos e ainda não aceites fiscalmente, a
partir da transição concorrem para a formação do lucro
A formação do lucro tributável tributável, de acordo com o regime que era adoptado.
E às mais ou menos-valias fiscais de elementos do
Os ajustamentos decorrentes da aplicação do justo activo imobilizado que tenham beneficiado do ante-
valor a instrumentos financeiros derivados ou a qual- rior regime de reinvestimento e cujos valores de rea-
quer outro activo ou passivo financeiro utilizado como lização ainda não tenham sido reinvestidos é aplicável
instrumento de cobertura restrito à cobertura do cam- o disposto na nova redacção do regime, mantendo-se,
bial concorrem para a formação do lucro tributável. contudo, o prazo original para a concretização desse
“Nas operações de cobertura de justo valor, os ajusta- reinvestimento.
Ética e auditoria
António Lopes de Sá* que em livro escrevi mostrando os graves erros da có-
Conhecida é a existência de processos na Justiça en- pia do modelo anglo-saxão, relativos à Lei 6404/76,
volvendo profissionais da Contabilidade em relação às só agora alguns são corrigidos em novas leis, mais de
opiniões que emitiram sobre demonstrações. trinta anos depois. Diversos erros, todavia, ainda per-
Como o Contador é um preposto, terceiros se valem manecem.
do que ele assina e quando as situações informadas não Ao discordar, jamais em meus pareceres afirmei que
correspondem à realidade ocorrem, então, os problemas as situações de uma empresa eram correctas simplesmen-
que vão ter ao judiciário. te porque uma norma ou uma lei as exigia, mas apenas
Dentre os diversos casos já ocorridos, um dos mais que seguiam disposições obrigatórias; se era a minha opi-
recentes foi o relativo ao financista Bernard Madoff, que nião que se requeria, era essa que deveria oferecer, respei-
aplicou um calote de cerca de 50 mil milhões de dólares tando o preceito ético, evitando a prejudicar terceiros. A
no mercado através da empresa que possuía e que tinha capacidade de julgamento é um princípio que, tolhido,
balanços auditados. também subtrai o direito fundamental de liberdade do
Inquiridos sobre os pareceres, os auditores responde- ser humano.
ram que haviam seguido as “normas”, segundo difundiu Aquele que sonega a si mesmo o direito de dizer tor-
a imprensa. na-se indigno consigo mesmo.
Tudo isto ocorreu e tenderá a suceder enquanto Discordei e ainda discordo de algumas normas de
prevalecerem critérios subjectivos e “negociação de entidades estadunidenses, da própria IASB (filha do
normas”, como a imprensa depreciativamente se re- mundo anglo-saxão), assim como do IFAC, e se não im-
feriu recentemente (CFO, 11 de Março de 2008, em ponho ideias a ninguém, também não omito as próprias
“Hot Times for Accounting Officials”, comentário de quando requerida a minha opinião; só me curvo diante
David M. Katz). da ciência, da realidade objectiva; jamais cedi espaços às
O fato de existir uma norma contabilística legal, ofi- imposições ou as empreguei como minhas, pois a cons-
cial, de entidade de classe ou governamental não significa ciência ética profissional não se deve formar pelo que
que o profissional deva aceitá-la de forma absoluta como é compulsório, mas pelos efeitos da inteligência como
base para sua opinião, embora compelido a cumpri-la; outorga divina que é, a menos que o indivíduo resolva
não podendo evitá-la, deve ressalvar, apresentando seu abdicar a si mesmo.
julgamento próprio e que pode ser até contrário ao texto O uso da liberdade de expressão pelo profissio-
legal; por várias vezes, emiti opinião dizendo que a situ- nal chega a ser um dever ético quando requerida é a
ação informada tinha sido feita para cumprir a lei, mas opinião; o discordar de consensos, normas, leis não
que esta tecnicamente se achava errada em meu modo significa desobedecer, nem insurgir-se contra a ordem
de entender. pública – é um direito do cidadão; é absolutamente
Assim, por exemplo, em certa época, embora legal, a lícito o contador expressar o contraditório e obrigação
“correcção monetária” no Brasil eu dela discordava quan- moral é fazê-lo quando implica informação a terceiros
to ao critério, esse que era económico e não contábil; sobre erros que ferem a realidade objetiva patrimo-
assim opinei, afirmando que o demonstrado estava de nial.
acordo com a lei, mas, em face da realidade objectiva, Assim, por exemplo, posso afirmar que bens arren-
encontrava-se errado, porque o denominado “lucro in- dados se encontram demonstrados no Activo segundo as
flacionário” era uma “fantasia de números”, mas não um Normas que a lei obriga a seguir, mas, do ponto de vista
aumento real de função da riqueza; mais tarde, os tri- ético, não posso omitir minha opinião de que se trata de
bunais superiores de Justiça confirmariam a opinião que algo errado tecnicamente em face da realidade, em caso
por dever ético emiti. de necessidade de liquidação dos referidos.
Muitas outras opiniões diferentes do legislado e
*Professor Universitário
normatizado as tive, como ainda as tenho; matérias e Consultor de Empresas
Normas Internacionais
de Auditoria Clarificadas
É a nova designação das Normas Internacionais de
Auditoria (NIA), ou, na terminologia anglo-saxónica, ISA
(International Standards of Auditing). A propósito desta
nova designação, o ROC Gastambide Fernandes, em en-
trevista à revista Revisores – Auditores (n.º 47, de Outubro/
Dezembro de 2009, p. 3), esclareceu:
“Este projecto da IFAC, que surgiu no ano de 2005,
destinou-se a dar resposta a várias críticas de reguladores e
de utentes que se queixavam da falta de consistência entre as
normas e da existência de muitos pontos de ambiguidade.
Trabalhando em cooperação com o Public Interest Oversi-
ght Board (PIOB), o International Auditing and Assurance
Standards Board (IAASB) encetou o chamado “Projecto de
Clareza”, com o fim de substituir todas as normas até então
em vigor, mesmo aquelas que recentemente tinham sido
revistas (revised) ou refeitas (redrafted).
Em consequência desta substituição e para evitar con-
fusões, adjectivaram-se estas novas normas de ‘clarificadas’
(clarified).” - Desenvolvimento da norma relativa às entidades que
Ainda nessa excelente entrevista, Gastambide Fernan- usem organizações de serviços, com vários requisitos
des informa que as NIA/ISA foram alteradas na sua forma muito exigentes que incidem sobre a organização de
e substância, e relativamente a esta sublinhou os seguintes serviços e a entidade e os respectivos auditores.
aspectos: - Introdução em muitas normas de Considerações Espe-
- Distinção entre referencial contabilístico de apresenta- ciais para as Pequenas Entidades e de Considerações
ção apropriada e referencial contabilístico de cumpri- Específicas para as Entidades do Sector Público.
mento. - Separação no relatório do auditor da opinião sobre as
- Subordinação a requisitos éticos de independência, evi- demonstrações financeiras da opinião sobre outros re-
denciada sobretudo no título do “Relatório Auditor quisitos legais ou regulamentares.
Independente”. - Introdução do conceito de materialidade do desempe-
- Existência de duas normas para tratar o controlo de nho, diferente do conceito de materialidade das de-
qualidade; uma para ser aplicada antes da finalização monstrações financeiras.
do relatório do auditor, e outra para ser aplicada pelas - A aplicação da norma sobre “Acontecimentos Subse-
firmas de auditoria, sociedades de revisores e revisores quentes” pode trazer conflitos com a legislação portu-
individuais nos seus escritórios. guesa, sobretudo no que se refere à eventual emenda
- Mantém a distinção entre “gerência” (management) e ou substituição do relatório do auditor.
“encarregados da governação” (those charged with go- - Desenvolvimento da norma sobre auditorias de grupo,
vernance) que é transversal a grande número de nor- regulando com muito pormenor as relações entre a
mas. Esta distinção poderá causar, no caso português, gerência do grupo, a gerência do componente e os res-
e em entidades que não sejam de grande dimensão, pectivos auditores.
dificuldades não só na distinção como na aplicação das
normas que a elas se refiram. A entrevista está disponível no sítio da OROC em
- Distinção entre “perito do auditor” e “perito da gerência”. www.oroc.pt.
Medição de performance
Paulo Moura de Castro*
CNC elegeu membros do Conselho - N.º 2 de Dezembro que tem os seguintes itens: A Con-
Geral e da Comissão Executiva ferência CNC; Consulta pública e Programa.
Entretanto, e de acordo com esta newsletter, a 1.ª Con-
Em reunião do Conselho Geral da CNC de 12 No- ferência da renovada CNC teve lugar no passado dia 15
vembro de 2009 foram constituídos os órgãos do Con- de Dezembro de 2009.
selho Geral e da Comissão Executiva da CNC, face ao
disposto no Decreto-Lei n.º 160/2009, de 13 de Julho. A revolução das NIC
De acordo com a newsletter “CNC em Breves” n.º 2, de
Dezembro de 2009, a Comissão Executiva é constituída A revista espanhola Técnica Contable n.º 722, de Se-
pelos seguintes membros: tembro de 2009, pp. 14-38, contém um extenso artigo,
a) Preparadores de Informação financeira – os Drs. Pedro sob o título La Revolución de las NIIF, da autoria de Car-
Aleixo Dias – Confederação da Indústria Portuguesa los Barroso, no qual expõe as principais alterações em
e Carlos Manuel Grenha – Associação Portuguesa de debate no IASB, nas NIC e NIRF e respectivas Interpre-
Empresas Municipais; tações (SIC e IFRIC), as quais se reflectirão obviamente
b) Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas – o Prof. Ave- no normativo contabilístico, nomeadamente a nível do
lino Azevedo Antão; SNC.
c) Ordem dos Revisores Oficiais de Contas – o Dr. João Neste contexto, a CNC deverá proceder à análise das
Amaro Cipriano; mutações em contenda e efectuar as respectivas adapta-
d) Utilizadores de Informação financeira – o Dr. Eduardo ções ao SNC, nomeadamente às Normas Contabilísticas
Damásio – Comissão do Mercado de Valores Mobi- e de Relato Financeiro (NCRF).
liários; Considerando que o IASB, como organismo emis-
e) Representantes das Escolas Superiores de Contabilida- sor das NIC/NIRF e SIC/IFRIC, tem um dinâmica
de – o Prof. José Duarte Assunção Dias, do Instituto
de permanente ajustamento e ou aprovação dessas no-
Superior de Economia e Gestão da Universidade Téc-
vas normas, a CNC terá, obviamente, de acompanhar
nica de Lisboa
esse ritmo de trabalho, por força da necessidade da
f ) Personalidades de reconhecido mérito em matérias
sua adaptação ao SNC, não podendo, obviamente,
contabilísticas – o Dr. António Baia Engana.
acontecer, como acorreu até agora com as Directri-
Para além dos eleitos pelo Conselho Geral, a Comis-
zes Contabilísticas, as quais resultavam de adaptações
são Executiva integra, por inerência, o Presidente da CNC
das NIC/NIRF (20 das 29 Directrizes Contabilísticas
Domingos Cravo e as representantes da IGF, da Direcção-
tiveram influências directas e nunca foram actualiza-
-Geral dos Impostos e da Direcção-Geral do Orçamen-
das).
to, respectivamente as Dras. Isabel Castelão Silva, Maria
Cristina Mourinho e Maria Luísa Barata. Perante esta “Revolução NIC”, não iremos ter uma
“Revolução SNC”?
CNC lança newsletter Para pensar! O que é certo é que as dinâmicas da CNC
sob o título “CNC em breves” e do SNC terão de acompanhar permanentemente o tra-
balho do IASB e da UE através dos respectivos Regula-
A nova CNC disponibiliza no seu sítio a newsletter sob mentos, o que também exigirá um esforço dos preparado-
o título “CNC em breves”, tendo, até à data, publicado res (v.g. TOC) e dos auditores (ROC).
dois números:
- N.º 1, de 25 de Novembro de 2009, na qual des- Normativo
taca: A abrir; Notícias do Conselho Geral; Eleição
da Comissão Executiva; Actividade da Comissão; A CNC deverá proceder à análise das mutações em
Linhas mestras da actuação da CNC; Perguntas fre- contenda e efectuar as respectivas adaptações ao SNC,
quentes (FAQ); Notícias da Comissão Executiva e nomeadamente às Normas Contabilísticas e de Relato
Documentos em consulta; Financeiro (NCRF).
A Associação Fiscal Portuguesa (AFP) e o Instituto Na sequência da publicação dos diplomas legais que
Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade integram o Sistema de Normalização Contabilística e das
Técnica de Lisboa (ISCSP) assinaram um protocolo de alterações ao Código do IRC, os agentes económicos de-
colaboração que visa a aproximação das duas entidades vem estar conscientes que foram introduzidas profundas
e a conjugação de esforços na divulgação das respectivas mudanças em termos contabilísticos. O sector da constru-
áreas de interesse, conhecimentos e iniciativas. Destaque ção quer cumprir as novas regras.
para as áreas da fiscalidade e da ciência das finanças e da Mas é um facto que o SNC ainda suscita dúvidas e in-
administração e da gestão financeira pública. certezas por parte das empresas. Pelo que a Associação dos
O protocolo permitirá reforçar as competências de Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AIC-
ambas as partes. Pretende-se estimular a produção de es- COPN) quer dar a conhecer em pormenor o que se vai
tudos académicos e científicos, bem como a realização de passar no âmbito contabilístico. Assim, promove, no dia
congressos, colóquios, debates e outras iniciativas conjun- 18 de Março, na sua sede, uma sessão de esclarecimento
tas de divulgação da cultura e do conhecimento financeiro sobre o novo regime, orientada sobretudo para o impacto
e tributário, estimulando nesse sentido alunos, académi- dessas mudanças no quotidiano das empresas do sector da
cos e investigadores. construção.
A AFP tem desenvolvido a sua actividade de divulga-
ção da cultura e da ciência fiscal em todos os seus domí-
nios, através de uma maior aproximação às universidades. Otoc pede linha de crédito
O instituto tem reforçado as suas competências no domí- para equipamentos e formação
nio dos estudos de administração e gestão públicos e do
controlo público financeiro. Recentemente intensificou a A Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas solicitou
sua actividade formativa em Angola e Moçambique, por junto do Governo a criação de uma linha de crédito ao in-
via de cursos de pós-graduação e de especializção. vestimento e à formação profissional. Depois de os profis-
sionais já terem despendido elevadas somas para fazerem
face a exigências recentes, o SNC vai implicar novas exi-
gências, quer em termos de equipamentos informáticos,
quer ao nível da formação profissional.
A linha de crédito teria como orientações a concessão
de um crédito aos TOC para actualização de programas
informáticos conexos com a sua profissão até ao limite
máximo de cinco mil euros. De um crédito para a aqui-
sição ou actualização dos equipamentos informáticos até
ao limite de 15 mil euros. E um crédito para participação
em acções de formação profissional até o limite máximo
de mil euros.
Os créditos concedidos serão reembolsados em 50%
do seu valor em seis prestações semestrais, vencendo-
se a primeira no prazo de um ano após a concessão dos
mesmos, com uma taxa de juro Euribor a seis meses sem
qualquer outro agravamento. O OTOC, em colaboração
com o IAPMEI, regulamentará a certificação dos investi-
mentos efectuados. O juro do período vencido será pago
em conjunto com as respectivas prestações e o do perío-
do de carência conjuntamente com a primeira prestação
a pagar.
deslocados. Seria importante o apoio financeiro directo primeira transmissão de um prédio construído por uma
à elaboração de propostas para concursos internacionais empresa que tenha por objecto a construção de edifícios
em países terceiros com impacto na criação de emprego para venda.
de jovens qualificados. Quanto ao IMT, com as actuais regras de determi-
nação do valor patrimonial, frequentemente há lugar
Valor patrimonial tributário distorce regras de mercado ao pagamento deste imposto sobre valores superiores
aos das transmissões efectivas. Apesar da redução das
A tributação do património é uma outra área que taxas do IMT relativamente às que vigoravam em sede
suscita sérias preocupações às empresas de construção. de sisa, verificou-se, em várias situações, um agrava-
A actual forma de determinação do valor patrimonial mento na tributação em IMT, tendo em conta o alar-
tributário tem conduzido a fortes distorções do merca- gamento considerável da base tributável. Pelo que a as-
do, em consequência da discricionariedade subjacente à sociação avança com uma redução substancial da taxa
aplicação dos vários coeficientes que compõem a fórmu- de imposto incidente sobre as transmissões onerosas de
la de cálculo. A amplitude da variação desses coeficien- imóveis, fixando-a num intervalo de zero a um ponto
tes pode induzir enormes variações no valor tributável percentual.
de imóveis cujos custos e áreas de construção sejam se-
melhantes. Reavaliação dos bens do imobilizado empresarial
A AECOPS sempre esteve contra a utilização do re-
ferido “valor de mercado” para efeitos de tributação do A tributação do rendimento merece especial atenção
património. Como tal, considera a possibilidade de al- por parte da estrutura associativa, que considera essen-
teração do método de avaliação em vigor, criando-se um cial a produção de nova legislação que permita proceder
novo sistema que possibilite obter um valor fiscal inde- à reavaliação legal dos bens do imobilizado empresarial.
pendente do valor patrimonial ou do valor de mercado. Por sua vez, os juros e outras formas de remuneração de
De facto, o valor apenas é determinado no acto da tran- suprimentos feitos pelos sócios à sociedade são sujeitos a
sacção concreta de um imóvel, não podendo ser utilizado retenção à taxa de 15% para efeitos de IRS, por se tratar
de forma generalizada como valor médio. de rendimentos de capitais, e estes rendimentos estão su-
As taxas de IMI e IMT também deveriam passar por jeitos a englobamento. Ora, esta legislação deveria ser al-
alterações, na óptica dos responsáveis associativos. As ta- terada em moldes que permitam a sua tributação através
xas do Imposto Municipal sobre imóveis têm uma grande da aplicação de uma taxa liberatória, à semelhança do que
amplitude. Sendo que a grande maioria dos municípios se passa com outras formas de remuneração de capitais.
fixa as taxas aplicáveis nos limites superiores ou muito A AECOPS lembra que o regime simplificado de tri-
próximos destes. A associação propõe uma redução subs- butação em sede de IRC foi suspenso. Mas existe uma
tancial nos limites e que seja criada uma taxa especial autorização legislativa para a criação de um novo regime
– correspondente a 50% da taxa normal – aplicável aos simplificado em sede deste imposto. Defende que deve ser
edifícios que apresentem uma elevada eficiência energé- incluído no OE um novo modelo de regime simplificado,
tica. à semelhança do que acontece noutros países europeus.
Por sua vez, a AECOPS pede a não sujeição a IMI dos Finalmente, é proposta a redução ou a eliminação da
terrenos para construção que tenham passado a figurar no tributação autónoma, tendo em conta que foi agravada
activo de uma empresa que tenha por objecto a constru- significativamente a carga fiscal por este meio. Face a uma
ção de edifícios para venda. E sujeição apenas a partir do conjuntura extremamente difícil, é necessário eliminar
ano seguinte, inclusive, àquele em que tenha ocorrido a este tipo de tributação ou, no mínimo, repor a situação
anterior. Por outro lado, no âmbito dos incentivos espe-
cíficos, é proposta a redução para 10% da taxa do IRC
Taxa
incidente sobre os lucros não distribuídos – reforçando os
A AECOPS defende, uma taxa liberatória de 10% (em capitais próprios – a ser permitida nas mesmas condições
IRS ou IRC) sobre todos os rendimentos prediais, ex- em que se concede o benefício por via das entregas em
cluindo os obtidos no arrendamento de espaços em dinheiro, para aumento do capital social.
grandes espaços comerciais.
Observações:
Sugere-se que a conta 51 - “Capital” seja decompos-
ta em “capital ordinário” (conta 51.1) e esta seja, depois,
decomposta em “subscrito e não realizado” (conta 51.11)
e “subscrito e realizado” (conta 51.12). Tal divisão servirá
para um melhor controlo dos valores já realizados e por
A 31 de Março de N+1, realizou-se uma Assembleia realizar, em conjunto com a conta 261 - “Accionistas c/
Geral, tendo sido deliberado: subscrição” (conta 262 - “Quotas não liberadas” no caso
1.º A transferência do resultado do período para resulta- de sociedades de responsabilidade limitada). Estas contas
dos transitados. podem ainda, se o número de sócio o permitir, serem de-
2.º Proceder a um aumento do capital, através de subscri- compostas pela participação de cada sócio na empresa.
ção pública, mediante emissão de 10.000 novas acções De acordo com o Código das Sociedades Comerciais,
(ordinárias), com um valor nominal de 5 u.m. e um se a empresa adquirir acções próprias, deverá indisponi-
valor de emissão de 6,7 u.m. cada. Realização do capi- bilizar uma reserva de valor igual ao valor de aquisição
tal: 70% de imediato e o restante a 1 ano. dessas acções (art. 324.º).
A 1 de Maio de N+1 adquiriu, a pronto, 2000 acções Não são permitidos diferimentos na realização do prémio
próprias ao accionista Sr. X, pelo valor unitário de 6,5 de emissão, ou seja, este tem de ser realizado de imediato.
u.m.. 2. Que indique qual o valor do capital social que
deve ser apresentado no Balanço.
Pedidos: No novo Balanço preconizado pelo SNC a rubrica
1. Os lançamentos, no exercício de N+1, relativos às onde é inscrito o capital social designa-se por “Capital
operações realizadas. realizado”, pelo que os valores inscritos na conta 51 - “Ca-
2. Que indique qual o valor do capital que deve figurar pital” e na conta 261 - “Accionistas c/ subscrição” (con-
no capital próprio e ser apresentado no Balanço de N+1. ta 262 - “Quotas não liberadas” no caso de sociedades
de responsabilidade limitada) devem ser compensados e
* Extraído e gentilmente cedido pelos autores do livro SNC - Sistema de apresentados naquela rubrica.
Normalização Contabilística - Casos Práticos, da autoria de António Borges,
Emanuel Gamelas, José Pinhão Rodrigues, Manuela Martins, Nuno Magro
Assim, o valor a apresentar no balanço de N+1 será de
e Pedro António Ferreira., Áreas Editora, Lisboa, 2009, pp. 278-80. 135.000 u.m. (150.000 u.m. - 15.000 u.m.).
Tendências
“Speculations & Trends” é um livro sobre ten- meios académicos das melhores universidades,
dências, vistas de ângulos diferentes, mas sempre com destaque para Harvard. O livro, em tom
numa perspectiva global. É feita uma abordagem despretensioso e directo, encerra em si próprio
inovadora e única sobre as tendências para os pró- uma nova tendência, entrega aos leitores os di-
ximos anos. Para o seu conteúdo contribuíram reitos intelectuais do seu conteúdo, em oposi-
mais de 700 pessoas de todo o mundo, desde ção com a normal protecção de “copyrights”.
“skaters” em Chicago até vendedores de Xangai. Pedro Barbosa integra os quadros do grupo
Na primeira parte, Pedro Barbosa compõe El Corte Inglés, é docente do IPAM e cronista
um conjunto de tendências para o período de regular em várias publicações. É licenciado em
2010 a 2012, abarcando áreas como o consu- Engenharia Industrial. A publicação é da res-
mo, a tecnologia, a saúde ou a sustentabilidade. A segunda ponsabilidade do grupo editorial Vida Económica, tem
parte é composta por artigos sobre assuntos debatidos nos 240 páginas e está disponível por 15 euros.
Gestão ambiental
O ambiente é um factor de força, mas pode valor, através de um sistema ambiental focado na
constituir também uma fraqueza para o negó- acção. Ou como pode o ambiente ser trabalhado
cio. Potenciar umas e evitar outras é o desafio em sintonia e em sinergia com a estratégia para
colocado pela obra “Gestão ambiental – Sinto- o negócio. Não menos importante é a forma de
nizar ambiente e estratégia para o negócio”, da encarar um sistema de gestão ambiental como
autoria de Carlos Pereira da Cruz. um portefólio de projectos de melhorias.
O livro dá resposta a muitas questões, cons- O autor é licenciado em Engenharia Quími-
tituindo mesmo um manual indispensável em ca. Tem desenvolvido a sua actividade profissional
qualquer tipo de organização empresarial. Desta- como consultor, auditor e formador nas áreas de
que para matérias como concentrar uma organi- gestão, qualidade e do ambiente. A edição é da
zação no que é essencial, alinhando os projectos de melhoria responsabilidade do grupo editorial Vida Económica e o li-
ambiental com a estratégia, os clientes-alvo e a proposta de vro está disponível por 26 euros, num total de 432 páginas.