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Pouco antes do jogo que a indicaria como ialorixá (Foto: Aristides Baptista | Ag.

A TARDE |
22.3.1976)

"...às 10 horas e 45 minutos, no Barracão, eu, Fernando José Pacheco Vasquez, Secretário da
Sociedade Civil (Obá Xorun), dirigi-me a todos os presentes, solicitando que se aproximassem
da mesa onde seria realizado o jogo para a escolha da futura Iyalorixá, uma vez que antes do
jogo ser iniciado, o professor Agenor Miranda, Babalaô, considerado o único Oluô no Brasil,
filho espiritual da falecida Eugênia Anna dos Santos (Mãe Aninha), irmão da também falecida
Ondina Valéria Pimentel, vindo do Rio de Janeiro exclusivamente para esta cerimônia, irá fazer
uma dissertação do que acontecerá em seguida. Com a segurança que lhe é peculiar, e a
franqueza de sempre, ele se dirigiu aos presentes nos seguintes termos: "Não estou aqui para
ser agradável a quem quer que seja, sei que muitos dos presentes já fizeram sua escolha,
porém eu estou aqui para cumprir a determinação de Xangô, e advirto a todos os filhos e
filhas, Obás e Ogãs, e a todos vinculados a este Axé, que vontade de Xangô é Lei, é sagrada, e
sua escolha, sobre quem quer que caia, terá de ser por todos acatada e respeitada, e a filha
deste Axé que for por ele escolhida não deverá se deixar levar pelo coração, e deverá, sim, agir
com justiça e sabedoria, promovendo a união de todos, e acima de tudo ter pulso forte para
manter a hierarquia, doa em quem doer". A hierarquia, ele repetia que tinha de ser mantida
acima de tudo. Sentou-se em seguida para dar início ao jogo. Ao seu lado direito estava
sentada Eutrópia de Castro (Iyakêkêrê), aos eu lado esquerdo o Assobá Deoscóredes dos
Santos, e em volta destes, representações do Engenho Velho, Gantois, Bate-Folha, e de
diversas outras Casas da Bahia e do Rio de Janeiro, e ainda os membros do Conselho Religioso.
O Professor Agenor Miranda segurou os búzios e concentrou-se. Todos os presentes
conservaram um silêncio absoluto, atentos ao professor. Ele deu início à leitura, e falou
EJIONILÊ, recolheu os búzios e, após uma pausa, jogou-os novamente e falou ODI, e
novamente usados os búzios falou OXÉ, em seguida OSSÁ, após nova concentração usou
novamente os búzios e falou EJILASEBORÁ, apresentando Oxossi, em seguida falou ÔFUN
trazendo ORUKÓ de ODÉ KAIODÊ; novamente o professor usou os búzios e voltaram OSSÁ e
OXÊ, os Odus de Odé Kayodê, filha do Axé a quem Xangô escolhia e determinava ser a nova
Iyalorixá. O professor Agenor se dirigiu aos presentes, dizendo que se ali, naquele momento,
houvesse algum Oluô, ou pessoa que sabe ler nos búzios, que se aproximasse e viesse ler e
constatar o que ali estava determinado por Xangô. Em seguida, como é de praxe, o Assobá
partiu um OROBÔ e pediu a Xangô confirmação do que disseram os búzios, e por duas vezes
seguidas a palavra foi confirmada com ALAFIÁ. O Professor Agenor procurou saber quem
atendia pelo nome de Odé Kayodê, e Stela Azevedo se apresentou e foi notificada pelo
Professor Agenor ser ela a escolhida por Xangô para dirigir os destinos do Axé..."

Trecho retirado da Transcrição da ata registrada no dia 19 de março de 1976 do livro de Atas
do Conselho Religioso do Ilê Axé Opó Afonjá.

Na última quinta-feira do ano Odé reclama a presença de sua filha mais dileta ao Orum.

Iyá Stella Odé Kayode tem seu merecido descanso ❤️

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