APLICAÇÃO DA FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X PORTÁTIL NO ESTUDO

GEOQUÍMICO DE TESTEMUNHO DE SONDAGEM

NEVES, R.S. & ALVARENGA, C.J.S.

UnB, Instituto de Geociências, Laboratório de Testemunhos, Brasília, DF.

ABSTRACT APPLICATION OF PORTABLE X-RAY FLUORESCENCE IN THE GEOCHEMICAL

SURVEY TESTIMONY STUDY. The x-ray fluorescence technique allows the identification and
quantification of the chemical elements present in a sample. Therefore, it is a very useful instrument in
the study of the origin of the sediments that form the rocks and of the weather processes. The
application of this technique in the study of drill-core samples allows the observation of the variation of
the elements along a continuous profile providing important information for the stratigraphic sucession,
sedimentary environments, and the enrichement of certain elements with mineralization quest.
In this work, a drill-core sample was analyzed from the north of the Paraná Basin, having drilled the
Cuiabá Group as basement and the Furnas and Ponta Grossa Formations. The results show, a great
compositional variation in the contact between the lithostratigraphic units, denoting different
sedimentation environments for each unit. The basement exhibits a predominantly homogeneous
composition with point anomalies. The Furnas Formation due to its predominance of sandstones shows
Si enrichment, and the Ponta Grossa Formation generally shows Fe and in the basal shales.

Key-words: Fluorescence x-ray, chemostatigraphy, Paraná Basin.

RESUMO A técnica de fluorescência de raios-x permite a identificação e a quantificação dos

elementos químicos presentem em uma amostra. Sendo assim um instrumento muito útil no estudo da
proveniência dos sedimentos que formam as rochas e dos processos intempéricos atuantes. A aplicação
dessa técnica no estudo de testemunhos de sondagem permite a observação da variação dos elementos
ao longo de um perfil contínuo fornecendo informações importantes para a estratigrafia que possibilitam
o entendimento do empilhamento dos estratos e dos ambientes de sedimentação, além de possibilitar a
identificação de minérios em estratos muito enriquecidos em determinados elementos.
Neste trabalho foi analisado um testemunho de sondagem do norte da Bacia do Paraná, que perfurou o
Grupo Cuiabá, embasamento da Bacia, e as Formações Furnas e Ponta Grossa. Os resultados mostram
uma grande variação composicional no contato das unidades litoestratigráficas, denotando diferentes
ambientes de sedimentação para cada unidade. O embasamento exibe uma composição
predominantemente homogênea com anomalias pontuais. A Formação Furnas por sua predominância de
arenitos mostra um grande enriquecimento em Si, enquanto que a Formação Ponta Grossa exibe
enriquecimento anômalo de Fe, Mn, Al, e empobrecimento anômalo em Si e K nos folhelhos basais,
quando comparado à unidade subjacente.

Palavras-chave: Fluorescência raios-x, quimioestratigrafia, Bacia do Paraná.

INTRODUÇÃO
A análise por fluorescência de raios-x é um
método quali-quantitativo baseado na
intensidade de raios-x emitidos pelos materiais.
O seu funcionamento se dá através da interação
de raios-x emitidos por uma fonte de radiação,
com um material em análise. Os raios-x emitidos
pela fonte de radiação atingem a amostra
provocando a ionização das camadas mais
internas dos átomos gerando vacâncias. Os
elétrons mais periféricos tendem a preencher
essas vacâncias induzindo a liberação de raios-x
com energias características e em intensidades
relativas às suas concentrações na amostra,
possibilitando através desse método a
determinação da composição química e a
concentração aproximada dos elementos na
amostra.
Figura 1: Esquema do processo de ionização dos átomos e
emissão de raios-x característicos.
O método da fluorescência de raios-x aplicado a
análises de testemunhos de sondagem fornece
dados em profundidade ao longo de um perfil
contínuo, o que é extremamente útil na
identificação de estratos enriquecidos em
determinados elementos, e no estudo da
evolução geológica de determinada região.
Neste trabalho foi analisado um testemunho de
sondagem da região de Campinápolis MT, no
extremo norte da Bacia do Paraná, contemplando
as formações Furnas e Ponta Grossa, e o Grupo
Cuiabá, embasamento da Bacia do Paraná.
A Bacia do Paraná é uma grande área de
sedimentação paleozoica-mesozoica em formato
ovalada, de eixo maior N-S, que ocupa partes do
território do Brasil, Paraguai, Uruguai e
Argentina, totalizando uma área de
aproximadamente 1,5 milhão de quilômetros
quadrados. O seu contorno atual é definido por
limites erosivos, relacionados em sua maioria
aos eventos tectônicos ocorridos no continente
entre as eras mesozoica e cenozoica (Milani,
1996, 1997 e 1998).
Figura 2: Mapa geológico da Bacia do Paraná. Localização
aproximada da área de amostragem do testemunho
simbolizada com um X vermelho no extremo norte do
mapa. Modificado da palestra de Almério Barros França,
Petrobrás, sobre rochas e solos, relacionado à Bacia do
Paraná.
Nos testemunhos o Grupo Cuiabá é constituído
por diamictitos, metarritmitos e filitos.
A Formação Furnas se inicia com
conglomerados e arenitos fluviais, brancos
feldspáticos, com estratificações cruzadas
tabular, apresentando uma relativa
granodecrescência para o topo onde se
encontram arenitos litorâneos rosados
intercalados com siltitos, com estratificações
truncadas tipo Hummokcys.
A Formação Ponta Grossa se inicia com espesso
pacote de folhelhos vermelhos, representativos
de um grande ciclo transgressivo, seguidos por
intercalações de arenitos cinza claros, siltitos e
folhelhos cinza escuros. Em alguns níveis há um
arenito preto, mal selecionado, envolto em uma
matriz argilosa creme, com características
texturais contrastantes com os demais arenitos.
MÉTODOS
Para as análises foi utilizado o analisador portátil
XRF DELTA da Olympus. Esse aparelho possui
dois modos de análise. O modo minning que por
indicação do fabricante opera por pelo menos 60
segundos e identifica os elementos: Mg, Al, Si,
P, S, K, Ca, Ti, V, Cr, Mn, Fe, Co, Ni, Cu, Zn,
W, As, Pb, Bi, Zr, Mo, Ag, Cd, Sn e Sb. E o
modo soil que deve ser operado por pelo menos
150 segundos e identifica os elementos: K, Ca,
S, P, Cl, Ti, V, Cr, Mn, Fe, Co, Ni, Cu, Zn, W,
Hg, As, Pb, Bi, Se, Rb, U, Sr, Y, Zr, Mo, Ag,
Cd, Sn, Sb e Ba. Neste trabalho optou se por
utilizar o aparelho no modo minning, devido ao
Figura 3: Perfil estratigráfico do testemunho analisado e concentração estimada dos elementos maiores identificados.
maior interesse por sua suíte de elementos.
O tempo de análise foi dobrado para 120
segundos para maior estabilização da leitura.
As análises foram realizadas ao longo de todo o
testemunho, com aproximadamente 250 metros
de extensão, em sua maioria com um
espaçamento de 50 centímetros, salvo os
intervalos com fácies sedimentares diferentes
onde se realizou análises menos espaçadas para
maior detalhe.
As análises foram realizadas no laboratório de
descrição de testemunhos do Instituto de
Geociências da Universidade de Brasília, DF.
RESULTADOS
Foram verificadas variações nas concentrações
de elementos entre rochas das diferentes
unidades litoestratigráficas (Figura 3).
No embasamento os elementos exibem um
padrão regular de concentrações, com exceção
dos metarritmitos do topo que são mais
enriquecidos em Fe, K e Al. Também se
observam três níveis pontuais muito
enriquecidos em Ca, Mn e Mg, e empobrecidos
em K, Si e Al.
Na Formação Furnas os arenitos brancos
feldspáticos se mostram enriquecidos em Si ao
longo de toda a unidade, enquanto que o Mn, K e
Al aumentam apenas na parte superior.
Na Formação Ponta Grossa os folhelhos basais
estão empobrecidos na maioria dos elementos
detectados. Exceto no aumento de Al quando
comparado à unidade inferior. Os níveis
arenosos da porção média da Formação Ponta
Grossa mostram aumento significativo nas
concentrações de Fe e Mn e pontuais picos de Ca
e Al. Os intervalos de arenitos pretos coincidem
com anomalias positivas contrastantes de Fe, Mn
e Ca, e anomalias negativas de K, Si e Al.
No contato entre o embasamento do Grupo
Cuiabá com os arenitos da Formação Furnas e
entre esses e os folhelhos da Formação Ponta
Grossa ocorrem importantes anomalias positivas
e negativas indicando uma superfície de
significativas mudanças geoquímicas.
CONCLUSÕES
As variações de concentrações de elementos
entre as diferentes unidades litoestratigráficas
podem indicar diferentes fontes de sedimentos
ou diferentes ambientes de sedimentação.
Nos arenitos pretos da Formação Ponta Grossa
as anomalias contrastantes quando analisadas
juntamente com a litologia e as estruturas
sedimentares, sugerem fluxos de detritos vindos
de regiões externas ao ambiente de
sedimentação, uma vez que possuem
características e composição química diferentes
das demais rochas geradas ali.
As anomalias presentes no contato entre as
unidades litoestratigráficas podem evidenciar um
momento de exposição subaérea onde fatores
intempéricos teriam atuado modificando a
química das rochas.
Os picos enriquecidos em Ca, Mn e Mg no
embasamento estão relacionados à fraturas nos
diamictitos preenchidas por carbonato.
O método da análise de fluorescência de raios-x
portátil é muito útil quando se possui o objetivo
de obtenção de dados qualitativos, pois se trata
de um método barato, de simples e rápida
operação, que possibilita o levantamento de
grande quantidade de dados em pouco tempo.
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