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Um Estudo sobre as TICs como Ferramentas na

Educação Musical de Alunos com Deficiência Visual


Alexandre Henrique dos Santos1, José Fornari2, Vilson Zattera3
1 Departamento de Música, Instituto de Artes (IA) – UNICAMP

2 Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS) – UNICAMP

3 Laboratório de Acessibilidade (LAB) – UNICAMP

{alexjazzbass, tutifornari, vilson.zattera|}@gmail.com


Abstract: Information and Communication Technologies (ICTs ) are part of
the contemporary world and pervade all areas of social action and
interaction. This article presents a theoretical study on the use of ICTs in aid
to the musical education of students with visual impairment. Here are
described some of the most used technological tools to promote accessibility
to music, such as screen reader softwares and tactile methodologies, using
miniature of musical instruments (handmade or 3D printed) . This study aims
to help bridge the gap of social inclusion of music students with visual
disabilities through alternative technologies that promote their digital
inclusion.
Resumo: As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) fazem parte
do mundo contemporâneo e permeiam todas as áreas de ação e interação
social. Este artigo apresenta um estudo teórico sobre a utilização das TICs
no auxílio à educação musical dos alunos com de ficiência visual. Serão aqui
descritas algumas das ferramentas mais utilizadas para promover a
acessibilidade à música, tais como os softwares leitores de tela e as
metodologias de abordagem táctil, utilizando miniaturas de instrumentos
musicais (feitos à mão ou em impressoras 3D). Este estudo busca auxiliar a
suprir a existente lacuna de inclusão social dos estudantes de música com
de ficiência visual, através de alternativas tecnológicas que promovam a sua
inclusão digital.

1. Introdução
Sabe-se que a visão é um dos órgãos mais significativos para a aquisição de
informações externas. Louro (2012) nos diz que aproximadamente 75% de nossa
percepção se dá por meio deste sentido (LOURO, 2012, p. 247). Uma falha no sistema
visual pode comprometer a qualidade de vida e consequentemente o aprendizado do
indivíduo deficiente, de diferentes e inesperadas maneiras. No caso dos músicos
Deficientes Visuais (DV), existe uma série de barreiras que dificultam seu
desenvolvimento. Embora exista uma crença de que os músicos cegos têm a audição
mais apurada, Louro (2012) nos diz que, ainda que as pessoas DV se valham mais do
sentido da audição e assim desenvolvam mais esta percepção para os eventos do
cotidiano, não significa necessariamente que o ouvido musical destes indivíduos seja
automaticamente desenvolvido, ou seja, audição aguçada do DV para entender
sonicamente a realidade que o cerca é um processo cognitivo distinto daquele utilizado
pelo seu ouvido musical (LOURO, 2012, p. 263).
Ao mesmo tempo, pode-se observar que a sociedade contemporânea tem, em
grande parte, suas ações cotidianas estabelecidas em processos que envolvem o uso de
tecnologias de informação e comunicação digital – as chamadas TIC – para a realização
de tarefas do dia-a-dia. Segundo Ramos (2008), estão neste contexto incluídos
dispositivos como: o computador, smarthphones (telefones celulares com acesso à
internet e que rodam aplicativos), tablets (similares aos smartphones, porém com telas
maiores e sensíveis ao toque; as touchscreens) e o próprio cybespace, viabilizado pela
internet. O uso destes dispositivos tem influenciado significativamente o
comportamento social, alterando a maneira de interação entre indivíduos, suas formas e
horários de trabalhar e seus modos de entretenimento. Segundo Braga (2013), as
pessoas que não possuem contato ou proficiência com essas tecnologias já estão
sofrendo pressões sociais por serem apontadas como indivíduos que atrasam processos
compartilhados. Neste cenário, os DV enfrentem um desafio ainda maior. Além dos
obstáculos já existentes para a sua inclusão social, atualmente estes também sentem a
necessidade contemporânea de estarem digitalmente incluídos.
Um dos grandes obstáculos para a inclusão digital dos DV é o fato de que as
TIC , em sua imensa maioria, não são projetadas levando em conta possíveis usuários
com deficiência visual. Conforme dito entriormente, a visão é o sentido mais
significativo para a aquisição de informação do mundo externo. Por isso, as TIC foram
naturalmente desenvolvidas para se valer da existência desse sentido e de sua imensa
capacidade de coletar informação. Imagine utilizar um computador, smartphone ou
tablet de olhos cerrados. Toda a informação disposta na tela seria, em princípio,
descartada. Como alternativa, o que (e quando) ocorre é a adaptação das TIC criadas
para indivíduos videntes (com visão normal) que são utilizadas com algumas
modificações para tornarem-nas acessíveis aos usuários DV.
Louro (2012) nos lembra que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu
o ano de 1981 como sendo o “Ano Internacional das Pessoas Deficientes”. Isto levou a
sociedade a uma série de reflexões, constatações e pesquisas relacionadas à inclusão
social das pessoas DV, criando assim um novo conceito chamado de Paradigma de
Suporte. Este se baseia no pressuposto de que “a pessoa com qualquer tipo de
deficiência tem direito à convivência não segregada e ao acesso imediato e contínuo aos
direitos disponíveis para os demais cidadãos” (LOURO, 2012, p. 27). A partir dessa
ideia a autora diz que “cabe à sociedade adequar-se à necessidade de todas as pessoas”
(LOURO, 2012, p. 28). Neste contexto, o presente estudo pretende contribuir para o
processo de inclusão digital e social das pessoas DV, em particular aos que são músicos
e estudantes de música.
Este estudo teórico também pretende apontar possíveis caminhos metodológicos
para a discussão atualmente presente na área de educação, que é a inclusão de alunos
com algum tipo de deficiência na sala de aula padrão. Esta pesquisa pretende fomentar,
através do uso das TIC, a criação de soluções por parte dos professores que lidam com
este tipo de desafio em sala de aula, uma vez que atualmente, as leis implementadas no
Brasil, a fim de propiciar a socialização do deficiente, buscam colocar os alunos com
qualquer tipo de limitação, física ou cognitiva, em salas de aula regulares. Desta
maneira cria-se a desafiadora conjuntura para o professor, que precisa adquirir
habilidades que não fazem necessariamente parte da sua formação educacional, a fim de
lidar com esta nova realidade, além de ter que continuar enfrentando as dificuldades
comportamentais usuais, apresentadas pelos alunos ditos normais, tendo em vista que,
em grau maior ou menor, os alunos com deficiência necessitam de uma atenção mais
direcionada e exclusiva do educador. Espera-se com isto que com o presente estudo
auxilie os músicos e alunos DV a fazer das TIC as suas aliadas na promoção da
acessibilidade digital e também musical, pois ainda que seja uma empreitada bastante
complexa e desafiadora, esta necessita e merece ser realizada.

2. Propostas Metodológicas
A evolução tecnológica computacional, nas últimas décadas, teve significativa
influência também na área musical, através da popularização do hardware e da
viabilização de sua interconexão, através da internet, além do desenvolvimento de
softwares específicos para aplicações musicais. Atualmente, o músico ou estudante de
música com acesso à informática, tem a possibilidade de utilizar softwares editores de
partituras, editores de áudio, gravadores multipistas, softwares instrucionais usados para
o treinamento da percepção de intervalos, acordes e escalas, bem como para o acesso às
bibliotecas virtuais de áudio e vídeo (lembrando que, para que o músico usufrua destes
recursos, é necessário que o mesmo tenha proficiência, mesmo que básica, em
informática). Sendo assim, torna-se oportuno que estas possibilidades também se
tornem acessíveis aos músicos e estudantes DV. Porém, é inegável que haja grande
dependência das pessoas DV do auxílio de indivíduos videntes, tanto para a operação de
softwares, como para o acesso ao material bibliográfico (em formato digital), para a
realização dos seus estudos musicais. Estes fatores sem dúvida causam um descompasso
no processo de aprendizado e na questão da igualdade nos ambientes de aprendizagem
ou profissionais.
As tecnologias usadas como ferramentas de auxílio aos DV, são também
chamadas de Tecnologias Assistivas. Estas são ferramentas de software e hardware que
propiciam a superação da lacuna entre o que uma pessoa com deficiência quer fazer e o
que existe de infraestrutura tecnológica, que a permite executar tal tarefa. Segundo
Hasher, a tecnologia assistiva “é constituída por equipamentos, dispositivos e sistemas
que podem ser usados para superar as barreiras sociais referentes à infraestrutura e
outros obstáculos vividos pelas pessoas com deficiência e que impedem a sua
participação plena e igualitária em todos os aspectos da sociedade”. (HASHER, 2008, p.
4) (Tradução do autor)1
Pode-se dizer que, mesmo com o grande avanço tecnológico, que reflete em
inúmeras contribuições para o estudo da música para pessoas DV, as tecnologias
disponíveis, em sua grande maioria, apresentam algumas dificuldades de manipulação
para este público, devido ao fato de que os softwares de música possuírem suas
interfaces quase que exclusivamente gráficas (visuais) e que muitas vezes não são
acessíveis aos softwares Leitores de Tela; ou seja, softwares capazes de transformar em
linguagem (através de um módulo sintetizador de voz) trechos de arquivos de texto
disposto na tela, de modo que o usuário DV pode ter acesso sonoro (na forma de
linguagem falada) ao conteúdo textual (na forma de linguagem escrita). São exemplos
de leitores de tela:
a) Dosvox: Sistema desenvolvido desde 1993 pelo Núcleo de Computação
Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Compreende a utilização de um sintetizador de voz em português. De acordo
1
It consists of equipment, devices and systems that can be used to overcome the social,
infrastructure and other barriers experienced by disabled people and that prevent their full and equal
participation in all aspects of society (HASHER, 2008, p. 4).
com Tudissaki (2015), pelo fato do sistema ser construído em português,
facilita a interação do deficiente e a máquina. Segundo a autora, o sistema
pode ter uma atenuação das dificuldade operacionais por parte dos DV, pois
o usuário pode criar seu próprio ambiente de trabalho no programa.
(TUDISSAKI, 2015, p. 66).
b) Virtual Vision: Desenvolvido pela empresa Micro Power – Ribeirão Preto –
SP. Umas das características do software é informar ao DV quais os
controles (botões, listas e menus) estão ativas no momento. Esta
característica é significativa, pois uma das dificuldades no uso de leitores de
tela, é o fato do DV saber quando uma janela está ativa ou não na tela
(TUDISSAKI, 2015, p. 67).
c) Jaws: programa desenvolvido pela empresa americana Henter Joyce. É um
dos softwares mais utilizados pelos DV. Com esta ferramenta o DV pode
trabalhar tão rápido quanto uma pessoa vidente. É de fácil operação e
funciona em ambientes Windows (TUDISSAKI, p.67).
d) Orca: este software é de código aberto e funciona na plataforma Linux. É
totalmente traduzido para português e passa pela revisão de Tiago Melo
Cabral, que também é DV, usa o software todos os dias e mantém contato
com outros DV que usam softwares livres, Amadeus (2007).
e) NVDA (NonVisual Desktop Access) também é um software distribuído
gratuitamente e funciona em plataforma Windows. Se o usuário possuir uma
ferramenta chamada Display Braile, o NVDA é capaz de converter o texto
da tela do computador em Braile.
Para que as tecnologias assistivas de fato representem uma possibilidade de
inclusão para os músicos e alunos DV aos recursos oferecidos pela informática, devem
ser criadas metodologias específicas para a utilização das TIC na educação musical às
pessoas DV, bem como levar em consideração as possibilidades de possíveis adaptações
das TIC já existentes. Desta maneira, deve-se examinar como as TIC existentes,
sobretudo da área musical, podem ser readaptadas para auxiliar os DV nos seus estudos
musicais. Entre os objetivos almejados, está o desenvolvimento de estratégias para dar
acesso ao DV às ferramentas de informática, como softwares que interagem com a área
musical, como por exemplo, os editores de áudio (ex: Audacity), editores de partituras
(incluindo softwares que editam partituras para a musicografia Braile ou oferecem
caminhos para a mesma, (ex: Musibraile, Sibelius, Musescore, Goodfell, Braile Music
Editor e Sibelius Speaking) e sequenciadores (ex: Anvil Studio, Sonar e Caketalking),
como também os recursos tecnológicos da área da música existentes para o estudo e
desenvolvimento da teoria e percepção musical (ex: Ear Master e os sites Music
Theory.net e Teoria.com).

3. Metodologias de desenvolvimento
A presente pesquisa, apresentada aqui de forma teórica, pretende ter a sua parte
empírica desenvolvida no Laboratório de Acessibilidade da Biblioteca Central Cesar
Lattes da UNICAMP. Serão elaboradas, discutidas e mapeadas as experiências com os
softwares e hardwares propostos. A partir dos dados coletados e analisados serão
desenvolvidas possíveis soluções para os problemas estudados. Posterior a esta etapa,
será proposto um projeto piloto que poderá ser oferecido e desenvolvido gratuitamente
nos centros de atendimento às pessoas DV de Campinas e Limeira, S.P. Vale lembrar
que, se necessário, também será feita uma atualização em informática e acessibilidade
para os alunos participantes, pois, conforme dito anteriormente, o acesso à informática
pelos DV ainda é fortemente dependente da informação visual e, portanto, um grande
desafio.
Os softwares a serem usados no projeto serão as ferramentas de código-livre,
que não apenas deixam de gerar custos para a sua aquisição, como permitem ser
modificados e estendidos, por usuários mais avançados. Por enquanto, estão no âmbito
deste estudo, experimentos com o uso dos softwares Sonic Pi (www.sonicpi.net),
Audacity (www.audacity.org) e o Anvil Studio (www.anvilstudio.com).
O Sonic Pi é um software livre e foi desenvolvido pelo Dr. Sam Aaron na
Universidade de Crambridge. Foi projetado especificamente para sala de aula, além de
também poder ser usado em performances ao vivo. A entrada de informações no
programa é feita através de linhas de texto e no ambiente de programação o usuário
pode alterar os parâmetros do programa em tempo real. Funciona em Windows, Mac e
Linux. O Audacity também é um software livre e de código aberto. É um editor de
áudio e gravador multipistas. Funciona nas plataformas Windows, Linux e Mac OS X.
Já o Anvil Studio é Freeware, ou seja, é gratuito, mas não tem o código aberto, além do
mais se o usuário quiser pode ter acesso à recursos adicionais mediante pagamento de
taxas. No entanto, sua versão free é suficiente para atender a proposta da presente
pesquisa.
O critério para escolha destes softwares, além do fato de serem de operação e
manipulação aberta, também estão relacionados ao fato da possibilidade de que alguns
deles permitirem a manipulação por linhas de texto - o que é vantajoso para o usuário
DV, uma vez que este não faz uso do mouse, uma vez que este necessita do
rastreamento da visão para que seja operado corretamente - e outros que mesmo tendo a
linguagem gráfica, também permitem o acesso com o leitor de tela, como no caso do
Audacity. Desta maneira o deficiente visual pode interagir com processos de edição
com amostras de áudio, bem como explorar possibilidades de manipulação sonora
possíveis em diversos processos musicais. Estes mecanismos abrem possibilidades
metodológicas para uma série de atividades musicais no âmbito da percepção,
composição e teoria musical.
Já com o software Sonic Pi, como sua forma de inserção de comandos é por
linhas de texto, é possível que o usuário DV interaja com diversos tipos de
manipulações sonoras com esta ferramenta. A figura a seguir apresenta um exemplo
típico de programação do SonicPi.
Figura 1: Exemplo de uma amostra de áudio com som de guitarra usando o
Sonic Pi

Como dita inicialmente, também fazem parte da pesquisa a utilização de


instrumentos em miniatura, provenientes de criação através de impressoras 3D ou
adquiridos através de coleções prontas. Com estas miniaturas os DV podem entender
através do tato a anatomia de um instrumento musical e assim construir uma imagem
mental deste objeto. Experiências futuras serão conduzidas com usuários DV
explorando a miniatura através do sentido do tato ao mesmo tempo que ouvem o som
equivalente ao instrumento musical correspondente à miniatura, associando assim o som
do mesmo com as particularidades de sua construção. Por exemplo, explorando a
miniatura de um trombone ao mesmo tempo que ouve este som típico, o DV poderá
compreender o modo como este som é produzido, tendo uma noção da arquitetura dos
seus tubos, vara e o bocal. A figura 2 mostra um exemplo desse tipo de miniatura.

Figura 2: Exemplo de miniatura de trombone usado para descrever a forma do


instrumento musical ao aluno DV.
4. Procedimento pedagógico

Este estudo buscou seguir uma metodologia que envolvesse o uso das TIC associado à
pedagogia musical. Embora já existam muitas obras e autores discutindo a influência
das TIC na educação, como Khan (2013), Kenski (2013), Bauer (2014) e Gohn (2010 e
2012) sugerindo metodologias e formas de aplicação, este fenômeno ainda é muito
recente, do ponto de vista histórico, o que faz com que ainda não exista uma base
teórica plenamente consolidada. Entretanto, um dos caminhos de pesquisa que está
emergindo para a construção de uma metodologia teórica envolvendo a utilização das
tecnologias na educação vem dos autores Mishra e Koehler (2006).
Estes autores propuseram um quadro teórico integrando o uso de tecnologias a
um outro modelo pedagógico proposto anteriormente por Lee S. Shulman (1986), o
Conhecimento Pedagógico do Conteúdo - CPC (Pedagogical Content Knowledge –
PCK). Segundo Salles (2010), o CPC “é um conhecimento específico da docência que
emerge e cresce quando professores transformam o conhecimento do conteúdo
específico em conhecimento a ser ensinado” (SALLES, 2010, p. 23). Neste modelo
Shulman (1986), citado por Salles (2010), afirma que o CPC “é o conhecimento da
matéria em si e chega à dimensão do conhecimento da matéria para o ensino”
(SALLES, 2010, p. 23). O CPC pode ser entendido como a forma pela qual o professor
traduz com ilustrações, demonstrações, exemplos e estratégias específicas, um conteúdo
complexo, de forma a ser compreensível para todos os alunos.
Bauer (2014) explica como os autores inseriram o procedimento tecnológico na
teoria de Shulman. O autor diz que o que Mishra e Koehler (2006) implementaram foi
basicamente agregar um componente a mais ao modelo de Shulman - o conhecimento
tecnológico. Assim os autores criaram um modelo de ensino e aprendizagem chamado
Conhecimento Tecnológico Pedagógico do Conteúdo – CTPC ou Technological
Pedagogical and Content Knowledge – TPACK (BAUER, 2014, p. 12). Desta maneira
a adaptação do conteúdo passa também pelo crivo do processo tecnológico a ser
utilizado no processo de ensino e aprendizagem, o que pode ser uma ferramenta
pedagógica bastante significativa, já que os professores precisarão se valer de uma
adequação ou adaptação para tornar a maioria das TIC acessíveis aos alunos DV.
Segundo Mishra e Koehler (2006) o TPACK é um quadro pedagógico que
identifica o conhecimento necessário que o professor precisa ter para ensinar
eficientemente com recursos tecnológicos. A ideia central do modelo TPACK é a
interação de três formas de conhecimento: Conteúdo, Pedagogia e Tecnologia. O
modelo TPACK propõem que estas três bases não devam ser vislumbradas
separadamente, mas que sejam consideradas as intersecções entre elas, formando assim
quatro bases: Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (CPC), Conhecimento do
Conteúdo Tecnológico (CCT), Conhecimento Pedagógico Tecnológico (CPT), e a
intersecção das três, formando a base: Conhecimento Tecnológico Pedagógico do
Conteúdo, (CTPC), ou do idioma Inglês, TPACK.
A figura abaixo mostra uma síntese do funcionamento da metodologia TPACK.
Círculo azul: conhecimento do conteúdo. Círculo amarelo: conhecimento pedagógico. A
intersecção dos dois círculos forma o conhecimento pedagógico do conteúdo (CPC). O
círculo roxo é o conhecimento tecnológico. Fazendo a intersecção com círculo azul
(conhecimento do conteúdo) surge o conhecimento tecnológico do conteúdo (CTC). A
intersecção do círculo roxo com o amarelo (conhecimento pedagógico) surge o
conhecimento pedagógico tecnológico (CPT). Da intersecção do círculo roxo
(conhecimento tecnológico) com os dois círculos – azul e amarelo (conhecimento do
conteúdo e pedagógico) surge então o modelo: Conhecimento Pedagógico Tecnológico
do Conteúdo (CTPC) ou (Technological Pedagogical Content Knowledge - TPACK)

Figura 3: ilustração do modelo TPACK2

5. Discussão
O presente estudo é baseado nos fundamentos desta teoria pedagógica,
experimentando suas atribuições e validando suas contribuições na sala de aula;
verificando assim a sua funcionalidade. Em relação à metodologia que será usada para o
tratamento dos dados coletados, o método a ser usado nesta etapa será principalmente a
Análise de Conteúdos de Lawrence Bardin (2011). Esta metodologia pode ser usada
tanto para relacionar dados quantificáveis como respostas à questionários fechados,
como também pode ser usado para análise de entrevistas e filmagens dos voluntários
participantes da pesquisa. A análise de Conteúdos é um método de pesquisa em que as
informações são organizadas de maneira hierarquizada. Os dados são separados em
categorias e unidades, sendo estas: Unidades de Contexto: partes maiores de fenômenos
similares separados pelo pesquisador e as Unidades de Registro: partes menores de
dados que são separados e inseridos em unidades maiores, as já citadas anteriormente,
Unidades de Contexto. Considerando suas relações, estas são agrupadas em Categorias,
ou seja, as categorias agrupam as unidades de contexto que por sua vez agrupam as
Unidades de Registro. Para Bardin (2011, p. 125) a análise de conteúdos se organiza em
2
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três polos: 1. A pré-análise, 2. A exploração do material, 3. O tratamento dos resultados,
a inferência e a interpretação. A Análise de Conteúdos é um método que permite ao
pesquisador ter uma visão mais precisa das reações dos DV na relação com as TIC.
Depois dos dados processados e dependendo da frequência de apontamentos em relação
à alguns fenômenos, é possível compreender quais pontos funcionaram e quais precisam
ainda ser melhorados.
Os documentos e materiais a serem avaliados na Análise de Conteúdos
constituem o que Bardin define como Corpus, que é o “conjunto de documentos tidos
em conta para serem submetidos a procedimentos analíticos. A sua constituição implica,
escolhas, seleções e regras” (BARDIN, 2011, p. 126). Vale lembrar que estão atrelados
na presente pesquisa outros métodos e autores que pensam sobre o universo da pesquisa
acadêmica.

Os dois métodos supracitados são relevantes para o trabalho com os DV pelo


fato de que a proposta da pesquisa é melhorar o estudo e ensino de música para os DV,
criando caminhos que tornem possíveis seu acesso às TIC. O modelo TPACK pressupõe
que o professor tenha que conhecer o conteúdo a ser ensinado, como deve ser ensinado
(conhecimento pedagógico) e qual recurso tecnológico (conhecimento tecnológico)
pode ser usado para atingir o aprendizado, ou seja, este modelo pode criar uma relação
entre a engenharia (programação e adaptação da informática) e a pedagogia (como
transformar as TIC em ferramentas de ensino eficientes pra os alunos DV). Dentro deste
contexto é possível que estas duas áreas se relacionem de modo a juntarem esforços
auxiliando-se mutuamente, evitando assim despender esforços em pontos poucos usuais
para o aluno DV ou mesmo recair na falta de acessibilidade por parte de uma simples
ferramenta, comum em determinados softwares que não foram escritas no
desenvolvimento do programa.

6. Considerações Finais
Este trabalho pretende contribuir para o surgimento de metodologias
tecnológicas que possibilitem o processo a inclusão dos alunos DV no ambiente digital
contemporâneo, sobretudo com as aplicações para o ensino e estudo de música. As TIC
estão ubiquamente permeadas da vida cotidiana contemporânea e assim torna-se cada
vez mais relevante criar alternativas de uso destas ferramentas para melhorar a
qualidade de vida e acesso à informação para os usuários DV. O estudo aqui
apresentado e a ser futuramente desenvolvido não ambiciona, obviamente, esgotar o
assunto, mas busca instigar o seu aprofundamento, contribuindo para a discussão sobre
a inclusão de pessoas deficientes visuais em todos os âmbitos sociais, em especial na
área musical.
O presente estudo tem como objetivo incluir o deficiente visual no ambiente
tecnológico e dar oportunidade para o mesmo usufruir das possibilidades de acesso a
diferentes áreas da música proporcionadas pelas TIC. Como pesquisas futuras, além de
abordar as possibilidades adaptativas dos softwares existentes, serão também
consideradas as possibilidades de desenvolvimento de ferramentas de leitura de tela,
com funções diferentes dos leitores de tela tradicionais. O projeto prevê que com uma
ferramenta de visão computacional, que possibilitará a leitura automática de qualquer
agrupamento de caracteres que constitua uma palavra, através do movimento do cursor
do mouse na tela e a utilização de algoritmos OCR (Optical Character Recognition),
para o reconhecimento automático de palavras em arquivos de texto ou imagem.
Como dito inicialmente, a inclusão digital dos indivíduos DV é acima de tudo
um direito, e trazer este enfoque para a pesquisa acadêmica contribui para que esta
cumpra o seu papel, que é, entre outros, o de proporcionar melhorias e possíveis
soluções para os anseios sociais.

7. Referências
Amadeu, Sérgio. ORCA: Software livre para inclusão dos cegos. Disponível em:
http://goo.gl/h6ptKF.
Bardin, Lawrence. Análise de Conteúdo. Tradução: Luís Antero Reto e Augusto
Pinheiro. São Paulo: Editora 70, 2011.
Bauer, Willian I. Music Learning Today: Digital Pedagogy, Performing and Responding
Music. New York: Oxford University Press, 2014.
BRAGA, Denise Bertoli. Ambientes Digitais: Re flexões teóricas e práticas. São Paulo:
Cortez, 2013.
Gohn, Daniel Marcondes. Introdução à Tecnologia Musical. São Carlos: UFSCAR,
2012.Technology.
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Hersh, Marion A. e Jhonson, Michael A. Assistive Technology for Visually Impaired
and Blind People. London: Springer – Verlag London Limited, 2008.
Kensky, Vani Moreira. Tecnologias e Tempo docente. Campinas – SP: Papirus, 2013.
Khan, Salman. Um Mundo, Uma Escola: A Educação Reinventada. Edição digital. Rio
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Koehler, Matthew J. e PUNYA, Mishra: Technological Pedagogical Content
Knowledge: A Framework for Teacher Knowledge. Teachers College Record
Volume 108, n. 6, Jun. 2006, pp. 1017–1054.
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Informação e Comunicação e OppenOf fice.org. 2ª ed. Lisboa, 2010. Disponível em:
http://www.adrianoafonso.net/ files/manuais/manual_tic_2ed.pdf
Salles, Maria Gislaine Pinheiro. Investigando o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo
sobre “Soluções” de uma Professora de Química. 2010, 257 f. Dissertação (Mestre) –
Instituto de Química, Instituto de Física, Instituto de Biociências e Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo,
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Silva, José Fernande. O Braile e a Musicogra fia. Disponível em: http://goo.gl/1t39d2.
Tudissaki, Shirlei Scobar. Ensino de Música para Pessoas com De ficiência Visual. São
Paulo: Cultura Acadêmica, 2015.

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