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Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de

Coimbra (FCTUC)
Antropologia - Evolução Social
2014/2015

Modelos de primatas para a evolução


do comportamento social humano

Docente: Sofia Wasterlain

Discente: André M. C. Redinha - 2012143962


Introdução
Através do avanço do estudo da evolução humana, considerou-se que muitas das
adaptações essenciais dos seres humanos estão relativamente ligadas com a sua
organização social e também com o seu próprio comportamento. Ligadas ao estudo da
evolução humana, temos duas áreas, a Antropologia e a Primatologia.

Numa tentativa de compreender melhor as origens da sociedade humana e o seu


comportamento humano, foram criados alguns modelos de modo a conseguirmos
entender melhor este assunto.

Existem três tipos de modelos de primatas que tentam explicar a evolução do


comportamento social humano.

Inicialmente, o “Modelo de Primatas” que tenta fazer correspondências com as


características presentes em determinadas espécies animam (primatas não humanos ou
outros) atuais a possíveis características que possam ter estado presentes nos primeiros
hominíneos. Seguidamente, o “Modelo Filogenético” que compara pongídeos africanos
vivos e seres humanos onde, procura encontrar uma ligação de comportamentos comuns
entre todos. Para concluir, o terceiro modelo é o “Modelo da Ecologia
Comportamental”, onde se procura ver quais as transformações causadas pelas
mudanças ambientais que influenciaram o comportamento e a organização social dos
ancestrais hominíneos.

Este tema tem uma elevada importância na medida em que ao estudar o comportamento
dos primatas não humanos, procura-se entender e encontrar o ponto de partida da
evolução humana.
Modelos das espécies vivas
Além dos modelos de primatas para os antepassados hominídeos, foi ocasionalmente
dito ser instrutivo estudar os carnívoros sociais, como por exemplo os leões.

Este modelo foi importante para encontrar semelhanças entre os carnívoros sociais
(leões, por exemplo) e os antigos ancestrais comuns e a forma como estes caçavam.

Modelos dos Primatas

Babuíno da Savana

Uma espécie bastante diferente de todas as outras. Apesar de ser geneticamente menos
aparentada com os seres humanos, em relação a outros primatas, esta espécie foi
escolhida por partilhar um habitat semelhante ao dos primeiros hominíneos, a savana.
Os babuínos são cercopitecóides que vivem em grupos que podem atingir os 200
indivíduos, onde há uma relação de dominância nos machos. Existe um elevado
dimorfismo sexual e a sua organização social é multi-macho/multi-fêmea.

Babuíno Gelada

Theropithecus gelada)
(

Em 1970, o antropólogo Clifford Jolly propõe esta espécie. Esta teoria baseia-se no
estudo do comportamento alimentar deste babuíno, onde o objetivo era comparar o
Babuíno Gelada com os outros cercopitecóides.
Neste modelo podemos encontrar uma relação fundamental, a diferença de viver na
floresta e na savana.

Jolly, ao observar o Theropithecus gelada, concluiu que os primeiros hominíneos


alteraram a sua dieta frugívora para ervas e sementes durante a transição entre a zona
florestal e a savana, ao invés de iniciarem uma dieta carnívora. Seguidamente, podemos
observar algumas das características físicas da espécie que comprova:

 Polegares extremamente oponíveis;


 Bases cranianas curtas e largas;
 Dentes incisivos pequenos e erupção dos caninos mais precoces
relativamente aos molares.

Chimpanzé Comum

(Pan Troglodytes)
Sendo o primata que é mais parecido geneticamente com o ser humano, que realizava
algumas tarefas já um pouco avançadas, como a caça ou o uso de utensílios, o Pan
Troglodytes tinha obrigatoriamente de entrar modelo neste modelo de primatas.

Este modelo, segundo Richard Potts, apresentava algumas lacunas e cria-se uma
dicotomia entre o Pongídeo e o Humano. Como forma de exemplo, temos a comparação
entre a dentição dos pongídeos e humanos. Foi-se comparar a dentição de um
Australopithecus ao de um humano e as características do pongídeo (dentes posteriores
grandes, esmalte espesso, maxilares robustos) era totalmente diferente à do humano.

Bonobo
O Bonobo é a mais recente espécie a entrar neste modelo. Tendo sido proposto em 1978
por Zihlman, Cronin, Sarich e Cramer e mais tarde por Randall Susman, pois esta
espécie possui proporções similares às do Australopithecus afarensis e características
sociais únicas. O Pan paniscus apresenta uma organização social mais centrada nas
fêmeas, onde os membros dos grupos fazem uso do sexo como forma de reduzir as suas
tensões sociais.

Teoria do primata aquático


Desenvolvida por Alistair Hardy, em 1960, viria a defender a fase aquática ou
semiaquática na evolução dos hominídeos que teria ocorrido após a divisão
homem/pongídeos. Neste modelo, haveriam certas características fundamentais em que
o Homem possui não são partilhadas com outros primatas mas sim com mamíferos
aquáticos:

o Postura ereta,
o Habilidade “inata” relativamente a atividades em meio aquático (nomeadamente
o mergulho),
o Volume cerebral três vezes superior ao considerado normal comparativamente a
primatas com o nosso tamanho corporal.

No entanto, não existem quaisquer provas arqueológicas ou paleológicas. Vários autores


defendem que as características que teriam sido adaptativas para a vida aquática seriam
disfuncionais na terrestre.

Modelo Filogenético
Este modelo foi concebido por Richard Wrangham e apresentado no final da década de
80. Neste modelo, o autor selecionou 14 características comportamentais em primatas e
procurou encontrar correspondência nestas, entre os seres humanos e as três espécies de
pongídeos africanos: os gorilas, os chimpanzés e os bonobo, de forma a tentar
encontrarem quais seriam a as que estavam presentes no ancestral comum.
Fig.1 Comparação das caraterísticas entra as espécies. (Lewin, 2005)

Das 14 características selecionadas, 8 das características tinham correspondência nas


espécies. Seguidamente, e com base nos resultados da pesquisa do autor, este
caracterizou o ancestral comum:

 Redes sociais próximas,


 Relações inter-grupo hostis dominadas por machos
 Ausência de alianças entre fêmeas,
 Os machos têm contactos sexuais com mais do que uma fêmea.

Estas inferências são segundo o autor, meramente uma base sobre a qual o
comportamento social dos primeiros hominíneos poderá ser construído.

Considerada inicialmente uma abordagem clássica, este modelo, o modelo filogenético,


está a tornar-se cada vez mais popular de forma a explorar vários traços em primatas.

Modelo da ecologia comportamental


Este modelo, proposto por Robert Foley, que mais tarde teve a ajuda de Phyllis Lee, foi
o último modelo a ser proposto. Este modelo procura estabelecer a variedade de
estruturas sociais existentes para os hominídeos através da reconstrução da organização
social com recurso dos princípios da ecologia comportamental. Procura determinar
como estas estruturas podem ser alteradas face as mudanças constantes da Natureza. Há
uma estrutura que depende da de uma interação.
Fig.2 (Lewin, 2005)

Na fase final do Mioceno aquando ocorreram grandes alterações climáticas que


consequentemente deixaram o habitat mais seco e mais diverso, o que levaria a uma
forma bastante desorganizada dos alimentos para que levou a dispersão por parte dos
indivíduos do sexo feminino e as suas crias a se juntarem de forma a ficarem mais
protegidas contra possíveis predadores.

Dentro das espécies de hominídeos de há 3 a 1 milhões de anos, desenvolveu-se um


grau de diversidade morfológica, presumivelmente refletindo a adaptação a diferentes
padrões de subsistência, onde podemos encontrar dois exemplos, o Paranthropus e o
Homo ergaster.

Relativamente ao Paranthropus, este explorava uma dieta de alimentos vegetais. Era


visto em areas grandes, largamente dispersas. Relativamente ao seu grupo, enfraquecia
os laços de parentesco masculinos e dentro de um grupo grande havia a existência de
competição entre macho e dimorfismo sexual.

Já o Homo Ergaster, este apresentaria uma dieta mais baseada à base de carne, tudo isto
porque havia uma enorme dispersão dos recursos alimentares mas existia uma maior
qualidade. Devido a esta alimentação da espécie, iria trazer alterações nesta, onde o
tamanho do crânio viria a aumentar.
Como testar os modelos?
Estes modelos apresentados centram-se em previsões acerca do passado, não podem, na
atualidade, ser observados e com isto surge como se testara estes modelos, para isso há
duas formas importantes, através do registo fóssil e da comparação do dimorfismo
sexual.

O registo fóssil fornece uma boa base para esse tipo de observações. Por exemplo, de
acordo com Lewin (1993), algumas das alterações relacionadas com o género Homo
têm por base uma mudança ecológica no sentido de recursos de melhor qualidade.
Assim sendo, os registos ecológicos e arqueológicos podem ser examinados com o
objetivo de obter evidências que comprovem esta afirmação e em que momento do
tempo ocorreu.

Seguidamente, podemos ver a comparação dos níveis de dimorfismo sexual. Utilizando


o registo fóssil é possível comparar os tamanhos corporais dos dois sexos, nas várias
espécies de hominídeos, para estimar qual a percentagem de dimorfismo sexual
existente.

Conclusão
Atualmente não há um modelo no qual seja o mais indicado de forma a identificar o
nosso comportamento social.

Como podemos ver, são variados os modelos que há para analisar o nosso
comportamento humano, mas devido a alguns problemas ainda não será possível referir
que há uma modelo 100% explicativo acerca do nosso comportamento humano.
Bibliografia

Foley, R.A. 1996. An evolutionary and chronological framework for human social
behaviour. Proceedings of the British Academy 88: 95-117.

Kinzey, W. G. 1987. Introduction. In: The Evolution of Human Behavior: Primate


Models, Kinzey, W. G. (Ed). Nova Iorque: SUNY Press;

Lewin, R. 2005. Human Evolution. An Illustrated Introduction. Malden: Blackwell


Publishing;

Lewin, R. 1998. Principles of Human Evolution. A core textbook. Malden: Blackwell


Science. Páginas 169-177.

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