Pontificia Università Gregoriana – Facultà di Teologia
Seminario: In torno a Calcedonia
Nome: Adão Carlos Pereira da Fonseca 17/12/2018
Boaventura: O Verbo encarnado: Mediador da salvação
A salvação do homem é uma ação feita livremente por Deus. Segundo
Boaventura, ele poderia salvar o homem da forma que quisesse, mas escolheu realizar essa salvação mediante a encarnação do seu Filho eterno. A encarnação foi escolhida como modo de salvação porque é a forma mais adequada e conveniente para reconduzir o homem à inocência e à amizade com Deus, próprias do estado original humano. Deus assumiu a forma de servo para resgatar o homem do pecado. Foi conveniente que a salvação ocorresse através do mesmo Verbo com o qual todas as coisas foram criadas. O Verbo encarnado é o mediador perfeito entre Deus e o homem, porque, como Deus, pode oferecer uma perfeita satisfação, e como homem perfeito, pode ser amigo verdadeiramente de Deus. Criado por meio do Verbo, o homem se afastou dele com o pecado, e foi redimido justamente por meio deste Verbo eterno que se fez carne. Era conveniente que o homem não fosse salvo por um mero homem, pois se o fosse estaria sujeito a algo inferior a seu criador, não sendo possível ser reconduzido à amizade com Deus. A encarnação é obra da Santíssima Trindade, que produz a união da divindade com a carne, com a humanidade plena, sensível e racional, corpo e alma. O mesmo Deus que cria é o mesmo que produz a salvação e a reconciliação do homem. A encarnação é a assunção de uma humanidade plena, total, pois, o gênero humano caiu no pecado no corpo e na alma. A assunção da humanidade plena por Deus é chamada de encarnação porque é o ato de assumir a carne humana, não apenas uma parte. Se fosse apenas a assunção do corpo seria apenas uma animação. Como já havia sido dito por Anselmo, Boaventura afirma que o mediador da salvação deveria ser ao mesmo tempo homem e Deus verdadeiro porque o homem é que devia a Deus por causa do pecado e somente Deus poderia realizar a verdadeira satisfação. Em Cristo, homem e Deus verdadeiro, a verdadeira satisfação pode acontecer porque unindo em si humanidade e divindade ele realiza a reparação humana. Deus, que pode salvar, mas não pode sofrer, e a humanidade que deve a Deus, mas não pode pagar, unidos na pessoa divina do Verbo, realizam a salvação mediante o perfeito mediador. Na encarnação, a unidade das naturezas se dá na pessoa do Verbo divino, pois a natureza divina não pode existir em nenhum outro fundamento que não seja a hipóstase divina. Quem assume a carne é a pessoa do Verbo divino e o faz não de modo acidental nem através de uma mutação das naturezas, mas através da união de sua pessoa. Boaventura retoma aqui aquilo que havia sido definido por Calcedônia, a união das duas naturezas na pessoa do Verbo divino, na hipóstase divina. Esta definição é explicada por Boaventura com o argumento da conveniência. Foi conveniente que o Verbo por meio do qual tudo foi criado, que revela o Pai, reconduzisse o homem ao conhecimento de Deus. O mediador perfeito é a imagem do Pai, o Filho, o Verbo eterno gerado por Deus que conduz o homem à filiação divina. Na encarnação se identificam numa só pessoa o Filho de Deus e o filho do homem, com exceção daquilo que é próprio de cada uma das naturezas. Há uma união das naturezas em Cristo, não uma confusão, de modo que a comunicação dos idiomas se refere à pessoa que possui a natureza. Por exemplo, diz-se que Deus encarnou-se porque a pessoa divina do Verbo assumiu para si uma natureza humana, não porque tenha transformado a sua natureza divina em humana. Cristo sofreu de modo generalíssimo porque sofreu no corpo e na alma; de modo crudelíssimo porque sofreu pelos nossos pecados, sendo ele inocente; de modo ignominiosíssimo porque recebeu a condenação reservada aos piores criminosos e a cumpriu ao lado de dois ladrões; com paixão mortal porque sofre a separação da alma e do corpo na morte. O sofrimento de Cristo na cruz é o modo mais conveniente de resgatar o homem da situação de pecado em que se encontrava e de oferece-lo o melhor exemplo de obediência a Deus. A salvação do homem ocorre mediante a resposta de humildade dada por Deus, que sofre de modo extremo, até a morte, para repara a ofensa que o homem havia feito a Ele. A salvação é sinal do amor de um Deus que é capaz de salvar o homem dando tudo, até seu próprio Filho.