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1. INTRODUÇÃO
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doutorando que estudava o andamento da justiça no século XIX.
Tal fato me recobrou o livro O queijo e os vermes do historiador
italiano Carlo Ginzburg, cuja notoriedade da obra se dá justamente
por sua pesquisa ser pautada na leitura detalhada de processos
inquisitoriais da Itália contra-reformista do final da Idade Média. No
entanto, a “popularidade” do trabalho de Ginzburg se dá
justamente pelo fato de ele transformar suas investigações
científicas em narrativas muito interessantes como a que constitui
o livro que citei acima.
(GINZBURG, 2006, p. 9)
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putrefação. Sobre um dos Sagrados Sacramentos, a Comunhão,
tinha suas próprias interpretações, no entanto, quando posto
diante dos inquisidores que presidiam seu julgamento não desdizia
nada, porém, reformulava suas proposições de forma que elas
ficassem “politicamente corretas” e coubessem nas expectativas
do discurso da Igreja Católica.
GINZBURG, 2006, p. 43
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circulação fluida e as práticas comuns que extrapolam as
fronteiras sociais”.
Um texto nunca sai ileso de uma leitura, pois o ato de ler é uma
prática, muitas vezes, dialógica, já que não podemos considerar o
leitor como um papel “em branco”, vazio, mas como um indivíduo
possuidor de conhecimentos e experiências que dialogam com as
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informações escritas no texto. O texto não se constitui sem o
leitor, pois é ele que, com suas interpretações e inferências
reordena e retira significado(s) dele (CERTEAU, apud CHATIER,
1994).
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PASSETI, Gabriel. Um estudo de micro-história: Domenico Scandella nos processos da
inquisição. Disponível em http://www.klepsidra.net/klepsidra5/menocchio.html
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da “multiplicidade de aptidões e expectativas” dos leitores e os
diferentes usos feitos de um determinado texto (ROJAS, apud
CHARTIER, 1992).
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No ensaio O inquisidor como antropólogo, o autor de Os queijos
e os vermes faz comparações entre essas duas ocupações chegando
a dizer que “os atos processuais produzidos pelos tribunais laicos e
eclesiásticos poderiam ser comparados com o caderno de notas de
um antropólogo em que tenha sido registrado um trabalho de campo
feito séculos atrás” (GINZBURG, 2007, p. 280). Nesse mesmo texto, o
autor diz que os processos inquisitoriais configuram um vasto campo
de pesquisa para aqueles que procuram conhecer e entender o
comportamento e as atitudes das classes subalternas da Idade Média.
As dificuldades em trabalhar com as sociedades do passado são
muitas, principalmente quando o foco do trabalho está dirigido à
parcela menos privilegiada da população, afinal as poucas fontes que
se tem são pouco acessíveis, além de terem sido produzidas por
pessoas pertencentes às classes dominantes (GINZBURG, 2006).
CHARTIER, 1990, p. 57
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...reconstruir as variações que diferenciam os
espaços legíveis- isto é, os textos nas suas formas
discursivas e materiais- e as que governam as
circunstâncias de sua efetuação- ou seja, as
leituras compreendidas como práticas concretas e
como procedimentos de interpretação.
CHARTIER, 1994, p. 12
3. CONCLUSÃO
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Todavia, é interessante para nós perceber que na composição
de O queijo e os vermes encontramos um material rico para que se
perceba que a relação entre texto e leitor pode acontecer
independentemente dos níveis culturais e sociais tanto de cima para
baixo como de baixo para cima. É como se fosse uma ciranda que,
mesmo em constante movimento, não deixa de receber novos
sujeitos para participar dela:
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suas leituras de maneira singular. Ginzburg não vive sob a mesma
censura de Menocchio, no entanto, é sabido que toda leitura cientifica
é norteada e delimitada por inúmeros critérios, entretanto, a leitura
do processo inquisitorial de Menocchio e as informações por ele
trazidas extrapolaram os limites da disciplina História e se espalham
por diversas outras áreas quando Ginzburg produz O queijo e os
vermes.
4. REFERENCIAL TEÓRICO:
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• ______________. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias
de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Cia das
Letras, 2006.
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