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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MDG PROCESSO Nº 29.486/15


ACÓRDÃO

Veleiro “FIDDLER” e saveiro “NOVA CONQUISTA I”. Erro de manobra.


Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


No dia 04 de maio de 2013, cerca das 09h30min, nas águas costeiras de
Itapoã, Salvador, BA, ocorreu a abalroação envolvendo o veleiro “FIDDLER” e saveiro
“NOVA CONQUISTA I”, com danos materiais.
No inquérito, realizado pela Capitania dos Portos da Bahia, foram ouvidas 3
testemunhas, realizado laudo pericial e juntada a documentação de praxe.
Hannah Jane Sutton, tripulante do veleiro “FIDDLER”, já qualificada nos
autos declarou que saiu de Cabedelo, PB, parou em Recife, PE e continuaram a viagem
até Salvador, BA, que estava no serviço de quarto de 08h as 12h, que estava com a vela
Gib aberta, que, com a embarcação desenvolvendo a velocidade de 6 nós, olhou a proa
pelo guarda-mancebo nos quinze minutos que antecederam o abalroamento e não viu o
barco, que estava conversando com o Capitão, Sr. Kirk, que olhou o radar e o AIS e não
viu nada, que ouviu um grito antes de colidir e pegou o timão para guinar para boreste,
mas a embarcação estava no piloto automático e não teve como guinar, tendo abalroado o
barco de pesca por volta das 09h20min, que ficou um pouco desnorteada e depois o
capitão tomou a condução da embarcação, que desceu para o interior do veleiro para
verificar se estava fazendo água e não foi constatado nenhum tipo de avaria no casco, que
pegou os coletes salva-vidas para os pescadores, mas não houve necessidade de utilizá-
los, que tentou se comunicar com os pescadores e um dos tripulantes do veleiro, que fala
um pouco de espanhol fez a ponte de comunicação e foi feita a tentativa de rebocar o
barco de pesca a contrabordo, mas não foi possível continuar por ter feito uma pequena
avaria no costado do veleiro, que foi decidido rebocar por meio de um cabo, que durante
o reboque os pescadores permaneceram no barco de pesca, orientando o capitão do
veleiro “FIDDLER” para conduzi-los até a enseada de Itapuã, que está no Brasil por
motivo de turismo, que havia seis pessoas a bordo, que é habilitada, mas não sabe se os
demais tripulantes têm habilitação, que estava conduzindo o veleiro no momento do
abalroamento, que a visibilidade era boa e a velocidade do vento era de 13 nós, que o
radar e o VHF estavam ligados, que não sabe dizer onde se encontra a embarcação, que
não houve avarias no veleiro, mas no barco de pesca ocorreu a retirada de tinta do
costado, que o abalroamento ocorreu na posição: Latitude 13º 00,1’ Sul e Long. 038º
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(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.486/2015........................................)
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19,35’ Oeste, com profundidade de 40 metros e que não conhece as regras do RIPEAM.
Antonio José Sousa dos Santos, pescador profissional e mestre do saveiro
“NOVA CONQUISTA I”, já qualificado nos autos, declarou que, estava com o barco de
pesca “NOVA CONQUISTA I” fundeado em frente ao Farol de Itapuã, no dia 4 de maio
de 2013, a uma distância aproximada de 3 quilômetros da costa, quando o depoente viu
um veleiro se aproximando e chamou-o pelo VHF no canal 16, não obtendo resposta,
pegou o apito do colete e começou a apitar dando sinal ao veleiro, que uma pessoa do
sexo feminino estava no governo do veleiro e ao ver a situação começou a se desesperar e
o comandante subiu e tentou desviar o veleiro da embarcação mas não teve êxito,
colidindo a proa do veleiro com o espelho de popa do barco de pesca, que conduzia o
saveiro, que havia mais um pescador a bordo, que tinha a bordo coletes salva-vidas, bóia
circular, extintores de incêndio e rádio, mas perdeu este último em decorrência do
abalroamento, que o comandante do veleiro os rebocou até o porto de Itapuã, que o rádio
VHF, a antena de VHF e o refletor radar caíram no mar, que o guarda mancebo da popa
foi todo arrancado, que o espelho da popa perdeu cerca de 10 cm da fibra e da madeira,
que o vento era fraco e a visibilidade boa, que não houve avarias no veleiro, que não
houve nenhum descumprimento de regra do RIPEAM e que deveria ter um vigia na proa
do veleiro para manter a proa sempre livre de obstáculos, já que a vela da proa impede a
visão do timoneiro e que deveria utilizar o motor em substituição a vela.
O Laudo pericial apontou imperícia de ambos os condutores como causa
determinante.
No Relatório o Encarregado concluiu que de tudo quanto contêm os presentes
autos, conclui-se:
I) fatores que contribuíram para o acidente:
a) Fator Humano - não contribuiu;
b) Fator Material – não contribuiu; e
c) Fator Operacional – Contribuiu, pois não foram cumpridos o disposto no
parágrafo II do art. 8º da Lei nº 9.537 de 11 de dezembro de 1997 - Lei de Segurança do
Tráfego Aquaviário em Águas Jurisdicionais Brasileiros (LESTA), item IV, do art. 23, do
Decreto nº 2.596, de 18 de maio de 1998 - Regulamento da Lei de Segurança do Tráfego
Aquaviário em Águas Jurisdicionais Brasileiros (RLESTA), e o contido nas Regras 5, 6,
7, 8, 16 e Item b da Regra 18 do Regulamento Internacional para Evitar Abalroamento no
Mar (RIPEAM).
II) que, em consequência, ocorreu o abalroamento da saveiro “NOVA
CONQUISTA I” pelo veleiro “FIDDLER”, de bandeira americana e causando as
seguintes perdas e avarias do rádio e antena de VHF e refletor radar, que caíram no mar,

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o guarda mancebo da popa foi todo arrancado e o espelho da popa perdeu cerca de 10 cm
da fibra e da madeira.
III) é possível responsável direto a condutora do veleiro “FIDDLER”,
tripulante Hannah Jane Sutton, por não ter adotado as medidas adicionais necessárias
como passar a utilizar a propulsão motora e manter uma vigilância permanente e eficaz
da proa do veleiro, como forma de evitar ou reduzir as consequências de um
abalroamento e responsável indireto o proprietário e Comandante e proprietário, Kirk
Douglas Hillard, por não ter instruído adequadamente os seus tripulantes sobre os
procedimentos que deveriam ser adotados, quando da ocorrência de situações
emergenciais.
Assim a condutora e o proprietário e Comandante do veleiro “FIDDLER”
infringiram o disposto no parágrafo II, do art. 8º, da Lei nº 9.537 de 11 de dezembro de
1997 - Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário em Águas Jurisdicionais Brasileiros
(LESTA), item IV, do art. 23, do Decreto nº 2.596, de 18 de maio de 1998 - Regulamento
da Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário em Águas Jurisdicionais Brasileiros
(RLESTA), e o contido nas Regras 5, 6, 7, 8, 16 e Item b da Regra 18 do Regulamento
Internacional para Evitar Abalroamento no Mar (RIPEAM).
A Procuradoria Especial da Marinha - PEM, ofereceu representação em face
dos indiciados, com fulcro no art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54.
Citados os representados foram defendidos pela DPU sob o argumento da
negativa geral.
Na fase de instrução, nenhuma prova foi produzida.
Em alegações finais, manifestaram-se as partes.
É o relatório.
De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que o acidente da
navegação decorreu de erro de manobra dos representados.
Tal processo é de fácil solução, visto que o comandante representado, em seu
depoimento afirmou que “houve falta de vigilância por parte de quem estava na condução
e que a Sra. Hannah não tem muita experiência pelo fato de ter feito dois meses de
treinamento desde a África do Sul e estava confiante com o seu desempenho”.
Ora, diante do fato do Veleiro estar fundeado, o tempo e mar bom e não
haver qualquer restrição de manobra no Veleiro, fica indubitavelmente demonstrado a
imperícia dos condutores representados que devem ser responsabilizados pelo acidente,
como concluíram a perícia, o relatório do inquérito e demonstraram o conjunto
probatório.
Diante do exposto, deve ser julgada integralmente procedente a

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representação.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente da navegação: abalroação entre veleiro e saveiro, com
danos materiais; b) quanto à causa determinante: erro de manobra; e c) decisão: julgar o
acidente da navegação como decorrente da imperícia e imprudência dos representados,
condenando cada um à pena de multa de R$ l.000,00 (mil reais), e ao pagamento das
custas divididas, na forma dos artigos 14, alínea “a” e 121, inciso VII, da Lei n° 2.180/54.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 26 de julho de 2018.

MARCELO DAVID GONÇALVES


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 27 de julho 2018.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE
Digitalmente

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Dados: 2018.12.14 14:35:52 -02'00'

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