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01 de Agosto de 2018.

Depakote me traz espinhas literalmente dolorosas, que me remetem a um tempo que


pensei que nunca voltaria a viver. Hoje, particularmente, ele me deixou elétrica! Eu senti
vontade de fazer um milhão de coisas e cheguei até a sair do carro e deixa-lo ligado,
enquanto fui à farmácia comprar picolés para o Joaquim.
Ir para a casa do meu pai é uma mistura de sentimentos absurdos. Lá eu descobri duas
meninas que me admiram e me fazem um bem danado. Lá também encontro um ser
humaninho que luta a cada minuto com a própria cabeça e que tem feito barulhos
ensurdecedores! Hoje ele me bateu, só para ouvir o barulho do tapa. Por um momento
me vi chamando a atenção dele, em seguida percebi que ainda tenho muito a aprender
para conseguir ajuda-lo.
O dia está terminando e eu sinto vontade de não estar aqui. Ouvi a definição perfeita da
depressão hoje: as coisas não atravessam a minha pele. Eu estou aqui, eu comi, eu fiz
diversas coisas produtivas e mesmo assim, nada me atinge. É extremamente doloroso
perceber que ninguém entende, quase ninguém. Eu achava que o Márcio entendia, mas
ele entende até certo ponto. E a Bianca? Hoje ela disse que eu me escondo na depressão
e que eu deveria tirar um minuto de cada dia para olhar o lado positivo das coisas. Meu
Deus! Se ela soubesse o quanto eu queria conseguir, o quanto eu tento, o quanto essas
tentativas me machucam e me frustram. As pessoas perguntam “o que foi? Por que
estas chorando?”. Eu queria que dizer que estou doente fosse suficiente, mas
infelizmente o machucado não é aparente.
Eu queria poder dizer para o Márcio que quero ficar sozinha sem que isso fosse
relacionado a não querer estar perto dele. Eu queria poder dizer para a minha mãe que
quero ir para um lugar isolado, ou simplesmente poder me trancar no banheiro sem que
ela se afligisse. Eu queria desaparecer! Só um dia... eu queria dormir naturalmente e me
sentir descansada. Dormir por sentir um sono natural, não afetado por remédio algum.
Eu queria me sentir bem ao lado das pessoas que eu amo, eu queria me sentir bem por
ser tão privilegiada, por estar viva, por qualquer coisa que fosse.
Eu queria que alguém (além da minha mãe e de profissionais) conseguisse enxergar essa
doença como algo real, e que não precisa de justificativa. Algo como um câncer. Por que
Fulano está com Leucemia? O que causou? Ninguém pergunta. Por que as pessoas
SEMPRE precisam perguntar pela justificativa dessa doença de merda? EU NÃO SEI
PORQUE. EU NÃO SEI PORQUE ESTOU CHORANDO, OU ESCREVENDO ISSO. EU NÃO SEI
PORQUE O MEU CÉREBRO NÃO ME DEIXA SER FELIZ, NÃO ME DEIXA APROVEITAR A VIDA
COMO UMA PESSOA NORMAL. EU NÃO SEI.
Por que eu me inscrevi como aluna especial no mestrado? Ou enviei currículo para
escolas? Eu não tenho vontade de nada, mas ao mesmo tempo não quero me sentir
inútil. Mais uma vez: me obrigando a viver para responder menos perguntas feitas por
ignorantes. Ou para poder dar respostas mais satisfatórias?

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