Depakote me traz espinhas literalmente dolorosas, que me remetem a um tempo que
pensei que nunca voltaria a viver. Hoje, particularmente, ele me deixou elétrica! Eu senti vontade de fazer um milhão de coisas e cheguei até a sair do carro e deixa-lo ligado, enquanto fui à farmácia comprar picolés para o Joaquim. Ir para a casa do meu pai é uma mistura de sentimentos absurdos. Lá eu descobri duas meninas que me admiram e me fazem um bem danado. Lá também encontro um ser humaninho que luta a cada minuto com a própria cabeça e que tem feito barulhos ensurdecedores! Hoje ele me bateu, só para ouvir o barulho do tapa. Por um momento me vi chamando a atenção dele, em seguida percebi que ainda tenho muito a aprender para conseguir ajuda-lo. O dia está terminando e eu sinto vontade de não estar aqui. Ouvi a definição perfeita da depressão hoje: as coisas não atravessam a minha pele. Eu estou aqui, eu comi, eu fiz diversas coisas produtivas e mesmo assim, nada me atinge. É extremamente doloroso perceber que ninguém entende, quase ninguém. Eu achava que o Márcio entendia, mas ele entende até certo ponto. E a Bianca? Hoje ela disse que eu me escondo na depressão e que eu deveria tirar um minuto de cada dia para olhar o lado positivo das coisas. Meu Deus! Se ela soubesse o quanto eu queria conseguir, o quanto eu tento, o quanto essas tentativas me machucam e me frustram. As pessoas perguntam “o que foi? Por que estas chorando?”. Eu queria que dizer que estou doente fosse suficiente, mas infelizmente o machucado não é aparente. Eu queria poder dizer para o Márcio que quero ficar sozinha sem que isso fosse relacionado a não querer estar perto dele. Eu queria poder dizer para a minha mãe que quero ir para um lugar isolado, ou simplesmente poder me trancar no banheiro sem que ela se afligisse. Eu queria desaparecer! Só um dia... eu queria dormir naturalmente e me sentir descansada. Dormir por sentir um sono natural, não afetado por remédio algum. Eu queria me sentir bem ao lado das pessoas que eu amo, eu queria me sentir bem por ser tão privilegiada, por estar viva, por qualquer coisa que fosse. Eu queria que alguém (além da minha mãe e de profissionais) conseguisse enxergar essa doença como algo real, e que não precisa de justificativa. Algo como um câncer. Por que Fulano está com Leucemia? O que causou? Ninguém pergunta. Por que as pessoas SEMPRE precisam perguntar pela justificativa dessa doença de merda? EU NÃO SEI PORQUE. EU NÃO SEI PORQUE ESTOU CHORANDO, OU ESCREVENDO ISSO. EU NÃO SEI PORQUE O MEU CÉREBRO NÃO ME DEIXA SER FELIZ, NÃO ME DEIXA APROVEITAR A VIDA COMO UMA PESSOA NORMAL. EU NÃO SEI. Por que eu me inscrevi como aluna especial no mestrado? Ou enviei currículo para escolas? Eu não tenho vontade de nada, mas ao mesmo tempo não quero me sentir inútil. Mais uma vez: me obrigando a viver para responder menos perguntas feitas por ignorantes. Ou para poder dar respostas mais satisfatórias?