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Pilares

FESP / ABECE / TQS


Alio E. Kimura
Apostila adotada como texto-base do Módulo EE05-
2010 Pilares do curso de pós-graduação FESP. Aborda
assuntos relacionados ao cálculo de pilares de
edifícios de concreto armado, privilegiando uma
visão eminentemente prática. Contém diversos
exercícios resolvidos manualmente como também
solucionados com o auxílio de uma ferramenta
computacional (TQS). Seu conteúdo pode conter
erros. Pretende-se, gradativamente, introduzir
necessárias revisões e melhorias.
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS
A motivação é um item fundamental na vida de qualquer ser humano, sob
todos os aspectos, e principalmente quando se tem um desafio pela frente.
O cálculo de pilares de concreto armado é, sem sombra de dúvidas, um dos temas mais
interessantes e instigantes de toda Engenharia de Estruturas. Trata-se de um assunto que
está sempre em voga, é objeto de inúmeras pesquisas e estudos avançados no meio
acadêmico. Naturalmente, também é cercado por algumas dúvidas, discussões e
divergências.
Diante deste panorama, cabe ao Engenheiro de Estruturas que trabalha no dia-a-dia de
escritórios de projeto a difícil missão de se manter sempre atualizado, de modo que possa
tomar decisões corretas e seguras durante a elaboração ou verificação de um projeto
estrutural.
É exatamente diante dessa dificuldade, isto é, de se enxergar uma aplicação prática da
teoria existente nos dias atuais, é que se pretende estudar o cálculo de pilares ao longo
deste curso. O objetivo principal será transmitir conceitos sem se deter em deduções
matemáticas, a fim de aguçar uma visão crítica e sólida do Engenheiro perante os problemas
correlatos e, principalmente, motivá-lo a se aprofundar cada vez mais no assunto, já que isso
será fundamental durante toda a sua atividade profissional.
O cálculo de pilares como um todo abrange uma teoria relativamente complexa e que
envolve os mais diversos tópicos da Engenharia de Estruturas, tais como: análise não-linear,
estabilidade global, dimensionamento de seções de concreto armado, técnicas de
detalhamento de armaduras, etc.
Com essa diversidade de temas, portanto, fica evidente que não será possível estudar tudo
com a devida profundidade durante o curso. Em alguns tópicos, será apresentada somente a
sua conceituação básica e indicada a forma de se obter a solução para o problema.
O que se pretende é esclarecer as dúvidas atuais mais comuns presentes no meio técnico
profissional, mostrando que é possível, sim, ainda calcular pilares à mão. Ao mesmo tempo,
deixar-se-á claro que o uso consciente e responsável de uma ferramenta computacional é
vital para a produção de projetos com qualidade e segurança, da mesma forma em que se
aprimora e agiliza o aprendizado de conceitos fundamentais.
De forma alguma, este se propõe a colocar um ponto final no que se refere ao cálculo de
pilares, mesmo porque existem diversas questões ainda em aberto, sem resposta definitiva.
Na medida do possível, diversos exemplos serão resolvidos manualmente. Em muitos deles,
será feito o uso de sistemas computacionais destinados à elaboração de projetos de
estruturas de concreto.
Nos textos apresentados durante o curso, dispensar-se-á qualquer tipo de formalidade
quanto ao seu formato e escrita. É importante lembrar que os mesmos podem (devem)
conter erros.

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Mais adiante, quando se discutir o cálculo de pilares dentro do contexto global do projeto de
edifícios, ficarão esclarecidos quais os principais tópicos que serão abordados durante o
curso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Existem inúmeras publicações (livros, teses, artigos) que abordam cada um dos diversos
temas relacionados ao cálculo de pilar, de forma rica e detalhada. A seguir, apresenta-se
uma modesta lista de publicações que tratam desse assunto.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT), “NBR 6118:2003 - Projeto de
estruturas de concreto – Procedimento”, Rio de Janeiro, 2003.
CARVALHO, R. C. & PINHEIRO, L. P., “Cálculo e detalhamento de estruturas usuais de
concreto armado”, Vol. 2, Ed. Pini, 589 p., São Paulo, 2009.
COVAS, N. C. & KIMURA, A. E., “Efeitos locais de 2ª ordem em pilares”, São Paulo, 2003.
FRANÇA, R. L. S., “Contribuição ao estudo dos efeitos de segunda ordem em pilares de
concreto-armado”, Tese de doutoramento, São Paulo, 1991.
FRANÇA, R. L. S., “Relações momento-curvatura em peças de concreto-armado submetidas à
flexão oblíqua composta”, Dissertação de mestrado, São Paulo, 1984.
FRANÇA, R. L. S. & KIMURA, A. E., “Resultados de recentes pesquisas para o
dimensionamento das armaduras longitudinal e transversal em pilares-parede”, ENECE, São
Paulo, 2006.
FUSCO, P. B., “Estruturas de Concreto – Fundamentos do projeto estrutural”, Ed. McGraw-
Hill, São Paulo, 1976.
FUSCO, P. B., “Estruturas de Concreto – Solicitações Normais”, LTC - Livros Técnicos e
Científicos Editora, Rio de Janeiro, 1981.
FUSCO, P. B., “Técnica de armar as estruturas de concreto”, Ed. Pini, 396 p., São Paulo, 1995.
IBRACON, “Comentários Técnicos e Exemplos de Aplicação NB-1”, Comitê Técnico Concreto
Estrutural, São Paulo, 2007.
INSTITUTO DE ENGENHARIA, “Coletânea de trabalhos sobre estabilidade global e local das
estruturas de edifícios”, São Paulo, 1997.
MACGREGOR, J. G & WIGHT, J. K., “Reinforced Concrete: Mechanics and Design”, Pearson -
Prentice Hall, New Jersey, 2005.
PINHEIRO, L. M., BARALDI, L. T., POREM, M. E., “Concreto Armado: Ábacos para Flexão
Oblíqua”, São Carlos, 1994.
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA (PECE), “ES009 - Estabilidade global e análise de
peças esbeltas”, Universidade São Paulo, Notas de aula, 2003.
SANTOS, L.M., “Estado limite último de instabilidade”, EP/USP, São Paulo, 1987.
TQS INFORMÁTICA, Manuais e Fluxogramas CAD/Pilar, São Paulo, 2004.
E, muitos outros...

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NBR 6118:2003
É inegável a evolução da atual norma NBR 6118:2003 perante as demais normas anteriores,
sob todos os aspectos. A NB1-1943 possuía 24 páginas (tamanho A5). A NBR 6118:1978, 53
páginas (tamanho A4). Finalmente, a NBR 6118:2003, 221 páginas (tamanho A4).

Recomenda-se, fortemente, que a atual norma seja lida e relida sempre que possível, já que
o seu texto procura retratar as diversas condições em que uma estrutura de concreto pode
estar sujeita na prática, de forma bastante detalhada. Por exemplo, na seção 16 composta
por apenas três páginas, descrevem-se claramente quais devem ser os princípios gerais de
dimensionamento, detalhamento e verificação de uma estrutura de concreto armado.
Obviamente, a atual NBR 6118:2003 possui itens discutíveis, como qualquer outro texto
normativo. E, por isso, é cabível que certas modificações sejam contempladas em futuras e
bem-vindas revisões.
No caso específico do cálculo de pilares, é possível afirmar com certa convicção que, de
modo geral, inúmeras dúvidas surgiram no meio técnico profissional com a entrada em vigor
da norma atual. Apenas para citar um exemplo, se antes na extinta NBR 6118:1978 tínhamos
apenas um método para analisar os efeitos locais de 2ª ordem, hoje, na atual NBR
6118:2003, temos quatro formulações distintas disponíveis, levando-nos a questionar:
 Qual método adotar no projeto de um edifício usual?
 Qual método tornará a estrutura mais segura?
 Em quais casos deve-se utilizar o método geral?
Além disso, na prática, como qualquer outra área tecnológica, parte dessas inovações
introduzidas na atual norma está diretamente correlacionada ao uso intenso de
computadores que, ao mesmo tempo em que permitiram que processamentos até então

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inviáveis fossem realizados de forma produtiva, passaram a adotar novos conceitos ainda
não muito bem difundidos no meio técnico profissional.
Resumidamente, os principais itens referentes ao cálculo de pilares presentes na NBR
6118:2003 estão nas seguintes seções:
 Seção 14: definições e tipos de análise a serem empregadas.
 Seção 15: análise da instabilidade e efeitos de 2ª ordem.
 Seção 17: dimensionamento de pilares.
 Seção 18: detalhamento de pilares.
Obviamente, existem diversos outros itens presentes na norma relacionados ao cálculo de
pilares. Eles serão gradativamente apresentados ao longo do curso.
A seção 15, que trata efetivamente do cálculo dos efeitos de 2ª ordem em pilares, é
bastante complexa e considerada, por muitos, o capítulo mais complicado da norma. Espera-
se que, durante o curso, todos os conceitos presentes nessa seção sejam plenamente
compreendidos e assimilados.

IMPORTÂNCIA DOS PILARES


Porque um edifício cai?
Trata-se de uma questão extremamente complicada de se responder, pois existem inúmeras
causas que podem levar um prédio à ruína. Cada caso é um caso, e é impossível generalizar a
resposta.
No entanto, todo Engenheiro de Estruturas precisa pensar sobre esse assunto, tirar suas
próprias conclusões, e principalmente, cercar-se de atitudes que evitem tal desastre. Afinal
de contas, todo projeto deve conduzir a uma estrutura segura.

Obviamente, qualquer peça numa estrutura tem a sua devida importância e precisa ser
dimensionada corretamente para atender às funções a que se destina. Existem, porém,
certos tipos de elementos que necessitam ter um cuidado redobrado, pois podem ocasionar
conseqüências mais graves, como o colapso total da edificação. Dentre eles, estão os pilares.
Um erro grosseiro no cálculo dos pilares pode derrubar um edifício!

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A afirmação anterior é um tanto quanto “pesada”. Encare-a não como uma ameaça, mas
sim, como uma forma de lembrá-lo de que os pilares são vitais na segurança estrutural de
um edifício. E que, por esta razão, precisam ser calculados, dimensionados e detalhados com
muito rigor e atenção.

Funções de um pilar
Basicamente, os pilares têm as seguintes funções no comportamento estrutural de um
edifício usual de múltiplos andares:
 Resistir às solicitações provenientes da aplicação das ações verticais na estrutura e
transmiti-las aos elementos de fundação.
 Resistir às solicitações provenientes da aplicação das ações horizontais na estrutura
 Auxiliar de forma significativa na manutenção da estabilidade global do edifício,
assim como garantir o adequado comportamento global da estrutura em serviço.

Taxa de compressão
Os pilares, principalmente nos lances junto à base de edifícios altos, estão constantemente
submetidos a uma elevada força normal de compressão.
Esta força, principalmente em pilares mais esbeltos, tende a desestabilizar os mesmos,
podendo ocasionar uma situação de desequilíbrio indesejável.
Com a tendência natural de se buscar cada vez mais espaços maiores nas edificações com o
intuito de otimizar o aproveitamento da construção, tanto o número bem como as
dimensões dos pilares vêm sendo gradativamente reduzidas, aumentando ainda mais a
responsabilidade dos mesmos.
Os pilares, cada vez mais, são obrigados a suportar elevadas taxas de compressão.

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Particularidades
O que é um pilar?
Definir o que é um pilar??? O que é isso??? Todo Engenheiro de Estruturas sabe muito bem
o que é um pilar!
Correto, porém é importante não subestimar essa pergunta, pois existem muitos casos no
qual um elemento é tratado e calculado como um simples pilar indevidamente.
Por definição, pilar é um elemento linear (uma dimensão preponderante perante as demais)
disposto na vertical e predominantemente comprimido.
No caso de edifícios usuais de múltiplos pavimentos, os pilares, de forma geral, possuem
seção e armaduras constantes ao longo de cada lance.
Veja, a seguir, três situações bastante freqüentes no projeto de edifícios de concreto armado
de elementos que não podem ser tratados como simples pilares.

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Pilar-parede não é pilar!

Pilar-parede é um elemento de superfície. E, portanto, não pode ser tratado como um pilar
comum (elemento linear). Existem considerações especiais que devem ser levadas em conta
em seu dimensionamento.

Tirante não é pilar!

Apesar de possuir uma geometria semelhante, dimensionar um tirante não é a mesma coisa
que dimensionar um pilar.

Pilar-inclinado não é pilar!

Dependendo do ângulo de inclinação do elemento estrutural, ele não pode ser tratado como
um simples pilar, pois aparecerão esforços de flexão e cisalhamento consideráveis, e a força
normal de compressão pode deixar de ser preponderante.

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Atenção nessas situações
As situações descritas anteriormente (pilar-parede, tirante, pilar-inclinado) são muito
comuns em edifícios de concreto armado. É importante estar atento para o que pode ser
considerado como um simples pilar ou não.
Dependo do caso, fazer o cálculo como um pilar comum nestas situações é uma ótima
referência para uma aproximação inicial. Já, em outros, erros graves podem estar sendo
cometidos de forma totalmente despercebida, podendo tornar a estrutura insegura.

CÁLCULO DE PILARES (REFLEXÃO)


Abstração da vida real
Quando calculamos uma estrutura ou parte dela, seja de forma manual ou por meio de um
computador, estamos adotando explicitamente um protótipo cujo objetivo é simular o
comportamento da mesma da maneira mais realista possível. Essa é uma condição primária
que em hipótese alguma pode ser tratada de forma implícita.
Por mais sofisticado que seja o modelo adotado, nem sempre, ou melhor dizendo, jamais
conseguiremos obter respostas durante o cálculo que traduzam a realidade de forma 100%
exata. Sempre existirão limitações decorrentes das aproximações consideradas.
Essas afirmações podem nos auxiliar a dar uma resposta a uma questão normalmente
levantada no meio técnico:
Eu sempre fiz desse jeito e nunca deu problema. Por que tenho que mudar?
A margem de segurança de um edifício de concreto armado é algo muito difícil de ser
mensurada, principalmente se tratada de forma geral. Se mesmo em ensaios laboratoriais
controlados nos mínimos detalhes, muitas vezes é difícil reproduzir respostas uniformes,
imagine em estruturas reais!
Durante a elaboração de um projeto estrutural, trabalhamos com inúmeras hipóteses,
aproximações e, principalmente, valores que, na prática, podem se tornar discrepantes.
Quando calculamos um pilar, por exemplo, procuramos estabelecer diversos critérios de
segurança, mas que podem variar para mais (mais segurança) ou menos (menos segurança)
na vida real. Dificilmente descobriremos a real exatidão dos cálculos efetuados. O ELU
(Estado Limite Último) é algo utópico, mas estritamente necessário.
A busca por metodologias que procuram retratar a realidade de forma mais precisa é algo
extremamente bem-vinda, salutar e que enriquece a profissão. Sem de forma alguma
menosprezar os processos aproximados, que têm sim sua devida relevância no nosso dia-a-
dia, é importante caminhar no sentido de aprimorar o cálculo e entender melhor os
fenômenos físicos, mesmo porque somente dessa forma é que saberemos o “quão
aproximado” são os métodos simplificados.
Portanto, a questão colocada anteriormente, “Eu sempre fiz desse jeito, e nunca deu
problema. Por que tenho que mudar?”, pode ser encarada de uma outra forma:

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Será que os processos que tenho utilizado estão sempre a favor da segurança? Será que o
que estou fazendo pode apresentar problema algum dia?
Na essência, essa é uma das razões que coloca a Engenharia de Estruturas num patamar
diferenciado, que envolve responsabilidade, discernimento e coerência. Trabalha-se com
limites opostos, a segurança e a economia, que, perante toda a sociedade, devem que ser
atendidos na sua plenitude.

Aproximações no cálculo de um pilar


Apesar de um tanto filosófico, as considerações colocadas anteriormente são importantes,
pois nos servem para chamar a atenção para a seguinte questão: quais aproximações são
adotadas no cálculo de um pilar? Como um pilar, na vida real, é calculado durante o projeto
estrutural?
Antes de adentrar a fundo no cálculo de efeitos de 2ª ordem, imperfeições geométricas,
fluência, diagramas momento-curvatura, M1d,mín, método geral, etc..., é extremamente
importante ter em mente exatamente como estamos calculando um pilar, e quais
simplificações estão sendo tomadas. Isso é imprescindível para se ter controle global de um
projeto estrutural.
Vejamos, a seguir, um resumo de como um pilar é comumente calculado hoje em dia.

Seja uma estrutura real, como a apresentada na


figura ao lado, cujos pilares precisam ser
dimensionados e detalhados pelo Engenheiro de
Estruturas.
Nota: a foto ao lado é de uma construção
localizada na cidade de Porto Alegre (RS), e é capa
do capítulo “Slender Columns” do livro “Reinforced
Concrete – Mechanics and Design” de James G.
MacGregor e James K. Wight.

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A estrutura como um todo é calculada


no computador por meio de uma
modelagem numérica (pórtico
espacial, grelhas, elementos finitos,
...), que contém diversas
aproximações.

A rigidez à flexão EI da seção transversal dos pilares é minorada para análise no Estado
Limite Último (ELU) a fim de considerar a não-linearidade física de forma aproximada (0,7.EIc
ou 0,8.EIc). A rigidez axial dos mesmos é majorada a fim de compensar os efeitos
decorrentes da construção. De onde vêm esses coeficientes?
Nessa etapa, um lance de pilar está “imerso” no meio da estrutura. Suas vinculações no topo
e na base são relativamente bem simuladas por meio das ligações com os elementos de
vigas e lajes.
Durante esse cálculo global, os efeitos globais de 2ª ordem são então avaliados (0,95.z ou P-
), bem como as imperfeições geométricas globais (desaprumo do edifício como um todo).

Uma vez efetuado o cálculo global,


cada lance de pilar é extraído desse
modelo e passa a ser analisado de
forma isolada.

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Nesse modelo local, as vinculações no topo e na base passam a ser tratadas de forma
bastante simplificada (apoios simples), de tal forma a manter o equilíbrio de esforços com o
modelo global.
A não-linearidade física, por sua vez, é considerada de forma mais refinada que no modelo
global (1/r aproximada, rigidez aproximada, rigidez acoplada a diagrama N, M, 1/r).
Os efeitos locais de 2ª ordem são então avaliados por processo aproximado (pilar-padrão ou
pilar-padrão melhorado) ou processos iterativos mais refinados (“P-”).
Nessa etapa, são também calculados os esforços devido às imperfeições geométricas locais
(falta de retilineidade ou desaprumo no lance) e a fluência (deformação lenta).

Concluindo
De acordo com o exposto anteriormente, as seguintes questões ficam em aberto:
 Por que não tratar todo problema por meio de um modelo único, sem a separação
global do local?
 Por que não considerar a rigidez dos elementos de forma uniforme?
 As imperfeições geométricas que podem ou não aparecer durante a construção da
estrutura não poderiam ser consideradas de outra forma?
 E a fluência? Será que as formulações atuais são condizentes com a realidade?
As questões acima deixam evidente o quanto temos ainda que evoluir e nos mostra que,
mais do que calcular números através de complexas expressões matemáticas, é preciso
“fazer Engenharia” na hora de projetar os pilares de um edifício, no sentido estrito da
palavra.
É fundamental que o Engenheiro tenha plena consciência de que há uma série de
simplificações consideradas durante todo o processo de cálculo dos pilares de uma
estrutura, sem contar as aproximações posteriores inerentes às etapas de dimensionamento
e detalhamento.
Na prática, durante a elaboração de um projeto estrutural, mais do que o preciosismo
matemático, é fundamental ter uma visão geral do problema e muito bom-senso na tomada
das decisões.

CÁLCULO DE PILARES (VISÃO GLOBAL)


De forma bastante simplificada, a elaboração de um projeto estrutural de um edifício pode
ser subdividida em quatro etapas principais: concepção estrutural, análise estrutural,
dimensionamento e detalhamento, emissão de plantas finais.

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O cálculo de pilares, obviamente, está inserido dentro desse contexto global, desde a
concepção até a emissão de desenhos. Os pilares fazem parte de um todo, de um projeto
que deve conduzir a uma estrutura que atenda os Estados Limites Últimos (segurança), de
Serviço (funcionalidade), assim como garantir a durabilidade da edificação.

É extremamente importante enxergar a influência dos pilares em cada uma dessas etapas.
Projetar pilares não significa apenas saber calcular os efeitos locais de 2ª ordem de forma
precisa! É muito mais que isso, envolve inúmeras outras importantes tarefas.
Veja, resumidamente, no fluxograma a seguir como é realizado o cálculo de pilares dentro
do contexto global de um projeto.
A visão abrangente do cálculo de pilares dentro do contexto global do projeto, apresentada
de forma resumida no fluxograma anterior, é o primeiro e decisivo passo para que se possa
projetar esses elementos, participantes da estrutura de um edifício, de forma adequada e
segura. Da mesma forma, se trata de um ponto de partida para a compreensão e o possível
aprofundamento teórico de cada um dos tópicos envolvidos.
Também, por meio desta visão geral, é possível entender o quão limitado será o curso
perante todo o contexto geral do projeto. O mesmo se concentrará principalmente no
estudo da modelagem local, mais especificamente no cálculo dos efeitos de 2ª ordem e das
imperfeições geométricas, necessários para o dimensionamento dos pilares de um edifício.

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CONCEPÇÃO ESTRUTURAL
Para muitos especialistas, e com toda a razão, trata-se da parte mais importante de todo o
projeto. O bom cálculo dos pilares de um edifício começa sempre numa boa concepção
estrutural.
Aqui é que se idealiza a estrutura do edifício e imagina-se o seu comportamento. É onde se
devem gastar os seus neurônios.
Fundamentalmente, nesta etapa, entram a criatividade, o bom senso e a experiência do
Engenheiro Estrutural. A função do computador é zero! Ele apenas proporciona facilidades
na entrada gráfica, mais nada. A concepção estrutural é 100% de responsabilidade do
Engenheiro.
No caso específico de pilares, durante a concepção estrutural, deve-se pré-dimensionar suas
dimensões (seção transversal e comprimento – entre pisos) e definir seus materiais (classe
do concreto), compondo-os dentro que uma estrutura que deverá ter uma resposta
adequada em ELU e ELS perante a aplicação das ações (permanentes e variáveis, verticais e
horizontais) no edifício.
Durante o curso, não estudaremos especificamente este assunto. Contudo, diversas
informações apresentadas durante o mesmo poderão trazer subsídios para uma melhor
concepção estrutural.

ANÁLISE ESTRUTURAL
Outra etapa do projeto que, em conjunto com a concepção estrutural, define a trajetória
principal do mesmo.
Certamente, o dimensionamento e detalhamento de pilares, que serão abordados mais
adiante, também são de extrema relevância, mas pode-se afirmar, categoricamente, que
uma boa concepção aliada uma adequada análise estrutural, praticamente garantem o
sucesso do projeto de pilares.
Nos dias atuais, tem-se mostrado que a grande maioria das falhas e patologias presentes nos
edifícios já construídos provém de imprecisões na concepção e na análise estrutural.
O verdadeiro objetivo da análise estrutural é descobrir qual a resposta da estrutura perante
as ações que lhe foram aplicadas, respondendo a seguinte questão: quais são os esforços
atuantes nos pilares?
Uma condição essencial para que os pilares sejam dimensionados de forma correta é a
obtenção de esforços precisos e realistas durante a análise estrutural.
Para isso, adotam-se protótipos que procuram simular o comportamento da estrutura real.
Estes protótipos, associados aos diversos tipos de análises (linear, não-linear), definem o que
comumente denominamos de modelos estruturais.
No caso da análise de pilares, dois principais modelos são adotados: modelo global e modelo
local.

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Modelo Global
Neste modelo, a estrutura do edifício inteiro é analisada como um todo. Usualmente, se faz
o uso do Pórtico Espacial, onde cada lance de pilar fica representada por uma única barra.
Ao final do processamento, obtém-se as solicitações inicias (Sd,ini), de 2ª ordem global (Sd,2ª
glo) e as devidas às imperfeições geométricas globais (Sd,igG).

Por meio da modelagem global, é que se avalia a estabilidade da edificação como um todo
através de parâmetros globais, como o z ou o . E, de acordo com a deslocabilidade da
estrutura, ela é classificada como de nós fixos ou móveis.

É importante salientar que os pilares, sejam eles com grande rigidez à flexão (núcleos rígidos
em torno de caixas de elevador e caixa de escada) ou formando um conjunto rígido com as
vigas (aporticamento), são fundamentais na manutenção da estabilidade global de edifícios,
principalmente os mais esbeltos.
Também por meio da modelagem global, da qual os pilares fazem parte, os deslocamentos
laterais e as acelerações provocadas pelas ações horizontais são avaliados, de tal forma que
o comportamento em serviço da edificação seja analisado.
Enfim, os pilares, inseridos dentro da modelagem global, têm influência significativa na
obtenção dos resultados (esforços solicitantes, estabilidade global, conforto).

Modelo Local
Neste modelo, um trecho do pilar (lance) é analisado de forma totalmente isolada da
estrutura.

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Ao final do processamento, obtém-se os efeitos locais e localizados de 2ª ordem (Sd,2ª loc e


Sd,2ª loz), os devidos às imperfeições geométricas locais (Sd,igL) e à fluência (Sd,flu).
As solicitações nos pilares resultantes da modelagem local serão objeto de estudo detalhado
durante o curso.

DIMENSIONAMENTO
Condição de segurança
É muito importante estar ciente de que, no momento do dimensionamento dos pilares, o
que está se fazendo, na realidade, é verificar somente algumas seções escolhidas ao longo
do elemento.
Estas seções consideradas críticas são, normalmente, a seção do topo de cada lance, a seção
da base de cada lance e uma seção que fica entre o topo e a base de cada lance onde, devido
ao surgimento de efeitos locais de 2ª ordem, a solicitação total poderá ser maior que a dos
extremos.
Repetindo, ao dimensionar os pilares, estamos verificando apenas algumas seções críticas
ao longo de sua extensão.
Isso é feito porque a condição primária de segurança, apresentada abaixo, é descrita
analiticamente para uma seção:

Sd ≤ R d
De acordo com esta singela expressão, que serve de base para o dimensionamento de
elementos de concreto armado em geral, temos de um lado a solicitação com o seu valor de
cálculo. Do outro, a resistência com o seu valor de cálculo.
Conforme já apresentado no fluxograma, a solicitação é calculada durante a análise
estrutural (modelagem global e local) e com a majoração dos esforços pelo coeficiente f.
Já, a resistência é calculada a partir da seção de concreto e aço com a minoração da
resistência característica dos mesmos, c e s, respectivamente.

Solicitação Sd
A solicitação em uma seção do pilar é calculada durante a análise estrutural. Uma parcela da
mesma é calculada pelo modelo global e a outra pelo modelo local.

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O cálculo das solicitações seja objeto de estudo mais detalhado durante praticamente todo o
curso.

Resistência Rd
A resistência última de uma seção submetida a solicitações normais é calculada levando-se
em conta as seguintes hipóteses básicas:
 A seção permanece plana após a sua deformação (condição de compatibilidade).
 Há a total solidariedade entre o concreto e o aço, de tal forma que a deformação nas
armaduras é a mesma nas fibras de concreto que estão imediatamente no seu entorno.
 O encurtamento que leva a ruptura do concreto é de 3,5/1000.
 O alongamento plástico excessivo do aço é de 10/1000.
 A resistência à tração do concreto (fct) é totalmente desprezada.
Na situação última (ELU), a configuração da deformação na seção se dá de acordo com um
dos domínios de cálculo.

 O diagrama tensão-deformação do concreto é o definido no item 8.2.10.1 da NBR


6118:2003.
 O diagrama tensão-deformação do aço é o definido no item 8.3.6 da NBR 6118:2003.
 Pode-se adotar o diagrama parábola-retângulo ou retangular para a distribuição das
tensões na parte da seção que está comprimida.
Baseado nas hipóteses clássicas anteriormente descritas e que estão claramente definidas
no item 17.2.2 da NBR 6118:2003, pode-se então calcular analiticamente os esforços
resistentes últimos numa seção de concreto armado.
Para isso, no caso de elementos submetidos à flexão simples, como as vigas, basta:
 Definir uma posição da linha neutra (LN).
 Definir as deformações nos concreto e no aço, de acordo com os domínios de cálculo
(semelhança de triângulos).

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Calcular as respectivas tensões no concreto (fcd) e no aço (fyd), de acordo com os diagramas
idealizados previsto na norma.
 Calcular as respectivas forças no concreto (Nsd) e no aço (Nsd), admitindo a lei de
Hooke ( = E. ).
 Verificar se há a o equilíbrio interno de forças na seção, isto é, Ncd = Nsd.
 Se a condição de equilíbrio estiver satisfeita basta calcular o momento resistente
último (MRd) por meio da multiplicação das forças no concreto e no aço pelos seus
respectivos braços de alavanca em relação à LN.
 Se a condição de equilíbrio não for satisfeita, isto é, Ncd ≠ Nsd, deve-se definir outra
posição de LN e repetir o processo.
No caso de pilares, que além do momento fletor, a seção também está submetida a uma
força normal de compressão, caracterizando-se numa flexão composta normal, o
procedimento para se calcular o MRd é exatamente o mesmo, com a única diferença de se
considerar as deformações e tensões adicionais oriundas da força normal. Ou seja, para cada
força Nd, pode-se calcular um momento MRd.
Ainda no caso de pilares, também é comum a atuação de momentos fletores em cada
direção acrescidos da força normal, caracterizando assim numa flexão composta oblíqua.
Neste caso, o procedimento descrito acima também é similar, porém com a LN inclinada, o
que dificulta bastante o cálculo manual.

Seja na flexão composta normal como na flexão composta oblíqua, situações típicas para o
caso dos pilares, é muito conveniente se fazer o uso de curvas ou diagramas de interação
para se avaliar a resistência da seção. Esse assunto será apresentado com mais detalhes a
frente.
19
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Situação de incêndio e durabilidade
Durante o dimensionamento das seções dos pilares, também se devem levar em conta
questões relativas à sua resistência em situação de incêndio e a durabilidade ao longo do
tempo.
No caso da verificação perante a ação do fogo, é mais usual e prático fazer o uso do Método
Tabular presente na NBR 15200:2004, que consiste em atender dimensões (bmín e c1mín –
distância do CG da armadura à face exposta ao fogo) de acordo com a magnitude da
exposição da construção ao incêndio-padrão (TRRF).
Em relação à durabilidade, deve-se definir cobrimento e concreto adequados de tal forma
proteger as armaduras da agressividade do meio-ambiente.

DETALHAMENTO
Uma vez garantida a segurança nas seções consideradas críticas dos pilares, esta (a
segurança) é estendida para toda a extensão desses elementos por meio de um correto
detalhamento de armaduras.
Isso se faz por meio da definição correta do comprimento das barras de armadura ao longo
do pilar, levando-se em consideração as condições de ancoragem e transpasse, assim como
da distribuição da armadura transversal (estribos e grampos), a fim de se evitar a flambagem
das barras longitudinais.
Deve-se também atender requisitos necessários para uma boa construção dos elementos da
obra (construtibilidade). Neste caso, torna-se importante o atendimento a espaçamentos e
taxas de armaduras limites.

DESENHO
Os desenhos dos pilares tanto nas plantas de fôrmas como nas plantas de armações são o
resultado final de todo o projeto estrutural. Devem conter todas as informações necessárias
para construção correta da edificação.
Apesar de todo o exaustivo trabalho das demais etapas (concepção, análise,
dimensionamento e detalhamento), o produto de um projeto estrutural fica resumido num
conjunto de papel ou arquivos de desenho.
Por isso, torna-se vital evidenciar ao contratante que projetar pilares não significa apenas
desenhá-los. Mas, muito mais que isso, principalmente por ser um trabalho essencialmente
intelectual e que envolve grandes responsabilidades.

ADIMENSIONAIS
A seguir, serão revisadas as principais variáveis adimensionais presentes no cálculo de
pilares.

20
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Força normal adimensional ()
A força normal adimensional numa seção é calculada pela seguinte fórmula:
N Sd
 , sendo Nsd a força normal solicitante de cálculo, Ac a área bruta da seção
Ac . f cd
transversal e fcd a resistência de cálculo do concreto à compressão.
Esta fórmula é bem simples de ser compreendida. Nada mais é que o quociente entre a
tensão solicitante e a tensão resistente da seção de concreto, com seus valores de cálculo.
 Sd ( f .N Sk ) /(b.h) N Sd / Ac N Sd
   
 Rd f ck /  c f cd Ac . f cd

Trata-se de um parâmetro que pode fornecer uma referência em relação à magnitude força
normal, possibilitando estabelecer quais as seções dos pilares que podem estar mais
próximo do limite de sua resistência à compressão.

A formulação da força normal adimensional também pode servir para um pré-


dimensionamento da seção tranversal.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Excentricidade relativa (e/h)
Numa seção submetida à flexão composta normal (N + M), pode-se definir uma
excentricidade “e” cujo valor é o quociente entre o momento fletor e a força normal:
M
e .
N
e
Ainda, é possível definir a chamada excentricidade relativa (e/h) = , sendo h a dimensão
h
da seção na direção analisada.
Trata-se de um parâmetro que pode indicar o nível da solicitação do momento fletor numa
seção. Exemplo: seja um lance de pilar retangular 20 cm X 60 cm, cuja seção do topo esteja
submetido às seguintes solicitações:

Calculando as excentricidades em cada uma das direções, temos:


My 4,0
ex    0,02m  2,0cm
N 200
Mx 4,0
ey    0,02m  2,0cm
N 200
Note que a excentricidade ex é gerada pelo momento fletor em torno do eixo y, e vice-versa.
Agora, calculando as excentricidades relativas, temos:
e x 2,0 e y 2,0
  0,1  10%   0,033  3,3%
b 20 h 60

Apesar dos momentos nas duas direções terem a mesma magnitude, M x = My = 4,0tf.m, é
possível perceber que o momento em torno da direção menos rígida (My) é mais significativo

22
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
para a seção do que o momento na outra direção, pois gera uma excentricidade relativa
maior (ex = 10%).

Momento fletor adimensional ()


O momento fletor adimensional numa seção é calculado pela seguinte fórmula:
e M Sd
   .   , sendo Msd o momento fletor solicitante de cálculo, Ac a área bruta da
 h  Ac . f cd .h
seção transversal, fcd a resistência de cálculo do concreto à compressão e h a dimensão na
direção analisada.
Trata-se de um parâmetro que serve de base para construção de curvas de interação e
ábacos de dimensionamento.

Taxa geométrica de armadura ()


A taxa geométrica de armadura numa seção é dada por:
A 
   s  , sendo As a área total de aço na seção transversal e Ac a área bruta da mesma.
 Ac 
Trata-se de um parâmetro nos dá uma referência com relação à quantidade de armadura
numa seção. A norma define valores máximos e mínimos de taxas em seções de pilares.

Taxa mecânica de armadura ()


A taxa geométrica de armadura numa seção é dada por:
 As . f yd 
    , sendo As a área total de aço na seção transversal, Ac a área bruta da mesma,
 c cd 
A . f
fyd a resistência de cálculo do aço à tração e fcd a resistência de cálculo do concreto à
compressão.
Trata-se de um parâmetro que serve de base para construção de ábacos de
dimensionamento.

Índice de esbeltez ()


O índice de esbeltez de um lance de pilar depende de sua geometria e das condições de
vínculo nos seus extremos, e é calculado pela seguinte fórmula:
le
 , sendo le o comprimento equivalente do lance e i o raio de giração da seção
i
transversal na direção analisada.
le . 12 3,46.le
Para o caso de seção retangular:    , sendo h a dimensão da seção na
h h
direção analisada.

23
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
4.l e
Para o caso de seção circular cheia:   , sendo D o diâmetro da seção.
D
Por meio do valor do índice de esbeltez, é possível estabelecer o quanto a peça é esbelta, e
assim, ter a noção da magnitude dos efeitos locais de 2ª ordem.
Veja o exemplo de um pilar retangular de 20cm X 60cm e le=3,0m. Note que, há um índice de
esbeltez para cada direção.

O valor de le é função do tipo de vínculo adotado. Veja, a seguir, algumas condições típicas.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 1

Dado o pilar ao lado, cujos dados são:


 Seção constante 25 cm X 65 cm
 Armadura constante: 6  12,5 mm
 le = 6,40 m (bi-apoiado)
 fck = 20 MPa; c = 1,4
 fyk = 500 MPa; s = 1,15
 NSd (seção topo) = 84 tf
 MSd (seção do topo, em torno da direção
menos rígida) = 2,4 tf.m

Análise em torno da direção menos rígida:


calcular  do pilar, e (e/h), , , ,  na seção do
topo.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Resolução:

CLASSIFICAÇÃO
Um pilar pode ser classificado segundo a sua esbeltez, a sua posição na estrutura e a sua
contribuição no contraventamento da estrutura.

Quanto à esbeltez
Basicamente, os pilares podem ser classificados de acordo com o seu índice de esbeltez da
seguinte forma:

26
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Nas estruturas usuais em concreto armado, a grande maioria dos pilares tem um índice de
esbeltez inferior a 90. Em certos casos particulares na qual a arquitetura do edifício impõe
uma geometria mais ousada, adotam-se pilares mais esbeltos (90 < ≤ 140). Casos de
pilares com índice de esbeltez superior a 140 são raros e devem ser evitados.

Quanto mais esbelto for o pilar, mais detalhado e cuidadoso deve ser o seu cálculo, pois os
efeitos locais de 2ª ordem são mais significativos e tendência de perda de estabilidade é
maior. A adoção indiscriminada de pilares esbeltos em um projeto é um risco enorme.

O engenheiro deve que ter a “sensibilidade” de avaliar nível esbeltez de um pilar, isto é,
saber diferenciar um pilar robusto de um pilar esbelto. Pilar com índice de esbeltez superior
a 90 é muito esbelto e o seu cálculo deve ser realizado com critério.
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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Quanto à posição na estrutura
Um pilar pode ser classificado de acordo com a sua posição na estrutura em: pilar de canto,
pilar de extremidade (ou lateral) e pilar intermediário (ou central).

A classificação de um pilar quanto à sua posição na estrutura é bastante útil, pois pode
indicar que tipo de solicitações iniciais o mesmo pode estar submetido. Pilares de canto
estão submetidos à flexão composta oblíqua (ver figura a seguir), pilares de extremidade
podem estar submetidos à flexão composta normal e pilares intermediários podem estar
submetidos à compressão centrada. Mas, isso depende de cada caso.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Quanto ao contraventamento
Em relação à sua contribuição no contraventamento da estrutura, um pilar pode ser
classificado em: pilar de contraventamento e pilar contraventado.
Pilares de contraventamento possuem grande rigidez a ações horizontais. Os pilares
contraventados são elementos de menor rigidez, mas que estão interligados aos pilares de
contraventamento.

É muito importante durante a análise de uma estrutura, identificar quais são os pilares
contraventados e os pilares de contraventamento. Eles possuem comportamento estrutural
distinto, e são calculados de forma diferente.

CURVAS OU DIAGRAMAS DE INTERAÇÃO


Já foi apresentado anteriormente que, uma vez conhecida a geometria da seção, as
armaduras, os materiais, estabelecidas as hipóteses que definem a situação última (ruptura
do concreto ou alongamento plástico excessivo do aço) e os coeficientes de segurança,
torna-se possível calcular analiticamente a resistência última (Rd) de uma seção de concreto
armado.
No caso de seções submetidas à flexão composta, normal ou oblíqua, a resistência última
(Rd) pode ser graficamente representada por meio de curvas ou superfícies de interação.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Curva N-M
Para seções submetidas à flexão composta normal (N, M), podem-se montar curvas ou
diagramas de interação que relacionam a força normal última com o momento fletor último.

Na figura anterior, a curva representa a resistência última (Rd) da seção, onde cada ponto
sobre a mesma define pares (NRd e MRd). Caso a solicitação (Sd), composta por uma força
normal solicitante atuando em conjunto com o momento fletor solicitante, par (N Sd, MSd),
for definido por um ponto dentro ou sobre a curva de interação, a condição de segurança
fica atendida (Sd ≤ Rd).
Contrariamente, quando a solicitação (Sd), definida por um par solicitante (NSd, MSd), ficar
representado para fora da curva de interação, o ELU à ruptura é atingido.
De forma geral, é possível perceber na curva acima que a resistência à tração não diminui
tanto à medida que alterarmos o valor do momento fletor. Este fato, porém, não ocorre
quando a força é de compressão.
Veja, a seguir, a curva de interação N-M para uma seção retangular de 30 cm X 60 cm,
armadura composta por 16 barras de 20 mm dispostas simetricamente (d’ = 3,6 cm),
concreto C20, aço CA50, f = 1,4 e s = 1,15.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A curva N-M pode ser representada com a força normal na abscissa e o momento no eixo
das ordenadas, ou vice-versa.

Curva N-Mx-My
Para seções submetidas à flexão composta oblíqua (N, M x, My), pode-se montar curvas ou
diagramas de interação que relacionam a força normal última (pré-fixada) com ambos os
momentos fletores últimos.
Veja, a seguir, a curva de interação N-Mx-My para uma seção retangular de 30 cm X 60 cm,
armadura composta por 16 barras de 20 mm dispostas simetricamente (d’ = 3,6 cm),
concreto C20, aço CA50, f = 1,4, s = 1,15 e força normal de cálculo igual a 150 tf.

OBS.: é preciso tomar cuidado com a notação adotada para os momentos.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Seção qualquer
No caso de seção com geometria irregular, como por exemplo, seção com formato em “L”,
usualmente, o diagrama é traçado com momentos fletores atuando nas direções principais,
conforme mostra a figura a seguir.

Superfície N-Mx-My
Quando montamos “n” curvas N-Mx-My sucessivamente, variando o valor da força normal
desde o do valor limite à tração até o limite à compressão, obtemos o que chamamos de
superfície de interação N-Mx-My. Trata-se do caso geral para a análise à flexão composta
oblíqua.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Veja, a seguir, o exemplo de uma superfície de interação N-Mx-My.

Curvas nos computadores


A construção de curvas de interação nos computadores é bastante comum e eficiente. O
cálculo e traçado das mesmas, normalmente, levam pouco mais que centésimos de segundo.

Curvas aproximadas
Existem algumas propostas para a definição aproximada da curva N-Mx-My que, em geral,
conduzem a resultados a favor da segurança. O uso da curva aproximada é interessante para
se realizar verificações manuais.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Inclusive, a NBR 6118:2003, no item 17.2.5.2, traz a seguinte expressão:


 
 M Rd , x  M 
    Rd , y   1 , sendo: MRd,x e MRd,y as componentes do momento resistente de
M  M 
 Rd , xx   Rd , yy 
cálculo em flexão composta oblíqua e MRd,xx e MRd,yy os momentos de cálculo em flexão
composta normal.
Em geral, a favor da segurança, o valor do expoente  é igual a 1,0. No caso de seções
retangulares, pode ser adotado 1,2.
Essa equação pode ser ilustrada graficamente da seguinte forma:

34
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 2
Seja a seção abaixo cujos dados são:

 Seção retangular 20 cm X 60 cm
 Armadura: 10  20 mm (d’ = 4,63 cm)
 fck = 30 MPa; c = 1,4
 fyk = 500 MPa; s = 1,15
 Eixo x em torno da direção menos rígida
a) Montar a superfície N-Mx-My.
b) Quando submetida à tração simples, qual o valor da força normal última admitida
pela seção? Fazer conta simples para justificar o valor encontrado.
c) Quando submetida à compressão simples, qual o valor da força normal última
admitida pela seção? Fazer conta simples para justificar o valor encontrado.
d) Montar curvas N-Mx e N-My.
e) Quais os momentos resistentes últimos à flexão simples nas duas direções?
f) Montar a curva de interação N-Mx-My, para uma força normal Nd = 210 tf.
g) Qual o MRdx quando MRdy = 0,0 tf.m (flexão composta normal em torno de x)?
h) Qual o MRdy quando MRdx = 0,0 tf.m (flexão composta normal em torno de y)?
i) Quando submetida à NSd = 210 tf, MSdx = -5,0 tf.m e MSdy = 7,0 tf.m, a seção passa?
j) Quando submetida à NSd = 210 tf, MSdx = 6,0 tf.m e MSdy = -7,0 tf.m, a seção passa?
k) Qual das duas condições de carregamento anteriores é a mais crítica?
l) Avaliar as duas condições de carregamento definidas nos itens 4 e 5 adotando a
curva aproximada da NBR 6118.

35
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

36
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

DIMENSIONAMENTO DE UM LANCE
Conforme já foi salientada anteriormente, a condição primária de segurança (Sd ≤ Rd) é
verificada apenas em algumas seções durante o dimensionamento de um elemento
estrutural, e depois é extrapolada para as demais seções por meio de um detalhamento
adequado.
Vamos visualizar este conceito para um lance de pilar.
Um pilar é composto por “n” seções ao longo de seu lance, cada qual com a sua resistência e
solicitação. O dimensionamento e o detalhamento efetuados pelo Engenheiro durante a
elaboração do projeto estrutural devem garantir que, em todas as “n” seções, a condição de
segurança seja plenamente atendida.

A resistência de cálculo (Rd) de cada uma das “n” seções de concreto armado submetidas à
flexão composta, normal ou oblíqua, pode ser representada por meio de “n” curvas ou
superfícies de interação.
Em edifícios usuais de múltiplos andares, a geometria da seção, as armaduras e o material
(concreto e aço) empregado num lance comumente são constantes. A diferença entre a
força normal de compressão atuante na seção do topo e na seção da base de um lance é
muito pequena (é oriunda somente do peso-próprio do mesmo), de tal forma que é razoável
se considerar uma força de compressão também constante ao longo do lance (adota-se
sempre o valor da maior força na base).
A partir destas considerações, a resistência última de cálculo (Rd) de todas as seções de um
lance fica definida apenas por uma única curva de interação N-Mx-My, conforme ilustra a
figura a seguir.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Ou seja, no dimensionamento de um lance de pilar, deve-se garantir que todas as


solicitações de cálculo ao longo do mesmo (Sd,i, i=1,n), representada por (NSd,i, MSdx,i, MSdy,i)
no caso da flexão composta oblíqua, estejam contidas dentro da curva de interação montada
com NRd,i = NSd,i = Nd,cte.

Seções críticas
Obviamente, entre o topo e a base do lance de pilar há seções críticas cujas solicitações
governam o dimensionamento do mesmo. Durante o curso, apresentaremos como
“descobrir” quais são estas seções.

Combinações de ações
O dimensionamento de um lance do pilar deve garantir a segurança para todas as possíveis
combinações de ações (ELU) atuantes no mesmo. Cada combinação possui um determinado
valor de força normal no lance (Nd). E, com isso, no caso geral do dimensionamento de um
38
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
lance de pilar, podemos dizer que as solicitações nas seções críticas calculadas para cada
uma das combinações precisam estar dentro da superfície de interação.

Envoltória de esforços
É importante lembrar que no dimensionamento à flexão composta, não vale a envoltória de
esforços das combinações, comumente adotada no dimensionamento de vigas. Ou seja, não
se deve dimensionar para (NSd,máx - MSdx,máx - MSdy,máx). Isso pode levar a um
dimensionamento exageradamente a favor da segurança, ou mesmo contra a segurança.
A verificação da segurança deve ser averiguada isoladamente para cada combinação.

Coeficiente adicional
Há duas condições em que se deve introduzir uma segurança extra no dimensionamento de
pilares. Em ambos os casos, adota-se um coeficiente de majoração adicional n na definição
das solicitações de cálculo. Veja a seguir.

Pilares com menor dimensão inferior a 19 cm


Na tabela 17 da NBR 6118:2003, define-se um coeficiente adicional n para pilares com
menor dimensão inferior a 19 cm.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

n = 1,95 - 0,05 b;
b é a menor dimensão da
seção transversal do pilar

Pilares com esbeltez superior a 140


Para pilares cuja esbeltez em relação à sua direção principal de inércia for superior a 140,
deve-se adotar um coeficiente adicional n, conforme a expressão a seguir.
n = 1 + 0,01.( - 140) / 1,4;  é o índice de esbeltez do pilar.
Essa expressão não está definida na NBR 6118:2008, mas deve ser contemplada numa futura
revisão desta norma.

Representação de Esforços em Planta


Existem inúmeras formas de representar graficamente os esforços solicitantes em um lance
de pilar. Uma maneira bastante interessante e eficiente é a representação em planta dos
mesmos (solicitações) junto com a curva de interação (resistência).
Veja, a seguir, o exemplo de uma representação em planta de um lance de pilar de concreto
armado com momentos fletores variando linearmente entre o seu topo e a sua base.

Cada par de esforços (Mx e My) fica representado por um único ponto. Dessa forma, os
momentos solicitantes no topo e na base ficam representados por dois pontos (Topo e
Base), como apresentados na figura anterior.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Quando os momentos fletores variam linearmente entre o topo e a base, os esforços ao
longo do lance ficam representados por uma reta.
A curva resistente é definida de acordo com os materiais, a geometria da seção, a
configuração de armaduras e a força normal solicitante. Por meio do desenho dessa curva, é
possível quantificar graficamente o nível de solicitação atuante ao longo das seções de um
lance em relação às suas resistências.
Veja, a seguir, outro exemplo, agora com o momento My atuando no mesmo sentido.

A representação de esforços em planta é bastante simples, possibilita a visualização


completa do que ocorre num lance, e nos auxiliará na compreensão das explanações feitas
ao longo do curso sobre a envoltória mínima de 1ª ordem, bem como sobre os esforços
locais de 2ª ordem.

ÁBACOS DE DIMENSIONAMENTO
O dimensionamento de pilares de um edifício de concreto está baseado na verificação da
segurança (Sd ≤ Rd) em certas seções consideradas críticas nesses elementos.
Como normalmente as solicitações (Sd), a seção transversal e os materiais (fcd e fyd) são
conhecidos, a verificação desta condição recai no cálculo de uma armadura necessária, cuja
solução pode ser bastante trabalhosa. Na prática, há duas formas de se fazer isso de forma
produtiva: por meio do uso de ábacos ou por meio de softwares.
Atualmente, a resolução por meio do computador é a mais comum, e fornece resultados
com grande precisão e rapidez. Contudo, principalmente em casos onde há a necessidade de
se fazer alguma conta manual expedita, também pode-se fazer o uso de ábacos.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Diversos ábacos, válidos somente para seção retangular, foram construídos e reproduzidos
por muitos autores, dentre eles: MARINO (1978), FUSCO (1981), SUSSEKIND (1985),
DUMONT (1987), VENTURINI (1990), PINHEIRO (1994), etc. Hoje em dia, eles também se
encontram disponíveis na Internet.
Todos os ábacos são montados a partir de uma pré-definição da armadura na seção (arranjo
e d’/h) e estão baseados nos adimensionais , , .

Flexão Composta Normal


Para os casos de seção submetida à flexão composta normal, conhecidos os valores da força
normal adimensional () e o momento fletor adimensional (), pode-se extrair o valor da
taxa geométrica de armadura (), e assim, obter a área de armadura necessária na seção.
Note que na definição de  e  estão implicitamente definidas as solicitações e os materiais.
Veja, a seguir, um exemplo de ábaco para uma seção submetida à flexão composta normal,
armadura simétrica, aço CA50 e d’/h = 0,15.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Flexão Composta Oblíqua
Para os casos de seção submetida à flexão composta oblíqua, conhecidos os valores da força
normal adimensional () e os momentos fletores adimensionais (xe y), pode-se extrair o
valor da taxa geométrica de armadura (), e assim, obter a área de armadura necessária na
seção.
Veja, a seguir, um exemplo de ábaco para uma seção submetida à flexão composta oblíqua,
armadura simétrica, aço CA50 e d’y/hy = 0,05 e d’x/hx = 0,10.

Diversos exemplos de como usar ábacos no dimensionamento de armaduras podem ser


encontrados no livro dos Profºs CHUST e PINHEIRO, página 286.
Utilizaremos ábacos em exemplos resolvidos durante o curso.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

SOLICITAÇÕES EM PILARES DE EDIFÍCIOS


Basicamente, os esforços solicitantes mais importantes que atuam ao longo de cada um dos
lances de um pilar de um edifício usual, decorrentes da aplicação das ações verticais e
horizontais, são:
 Força normal, predominantemente de compressão.
 Momentos fletores, em cada direção.
Há também a atuação do momento torsor e das forças cortantes. No entanto, nos casos
usuais de edifícios com múltiplos pavimentos, os mesmos podem ser desprezados1, pois não
são solicitações preponderantes e significativas.
Quando há atuação simultânea da força normal (N) e dos dois momentos fletores (Mx e My)
nos pilares, suas seções ficam submetidas a uma flexão composta oblíqua. Essa situação é
típica em pilares de canto.

1
Há casos em que a consideração dos esforços de cortante e torsor não podem ser desprezadas.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Nos casos em que o momento fletor numa das direções é desprezível, as seções ficam
submetidas a uma flexão composta normal. Essa situação é típica em pilares de
extremidade, mas não é regra geral.

É bom lembrar que a consideração da flexão composta normal é uma aproximação, válida
somente para simplificar o caso geral, que é a flexão composta oblíqua. Na vida real, os
pilares quase sempre estarão submetidos a momentos fletores nas duas direções.
Nos sistemas computacionais atuais, usualmente todos os pilares são dimensionados à
flexão composta oblíqua (N, Mx e My). Não há a simplificação em flexão composta normal.

Força normal

A força normal nos pilares oriunda da aplicação


das ações verticais nos pavimentos é acumulada
lance a lance do topo para a base do edifício, até
transmiti-la para os elementos de fundação.

45
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Usualmente, num mesmo lance, a diferença gerada pelas ações verticais entre a força
normal na seção do topo e na seção da base é pequena. Refere-se apenas à atuação do
peso-próprio no lance. Na prática, sempre se adota uma força normal máxima (base)
constante para o dimensionamento do lance.

Quando submetida exclusivamente a


ação horizontal (situação meramente
fictícia), parte dos pilares ficam
tracionados, e a outra parte
comprimida, formando binários
resistentes aos esforços gerados pela
ação.

Vale à pena lembrar, no entanto, que a atuação isolada da ação horizontal na estrutura, na
prática, nunca ocorrerá. Na vida real, não há uma situação na qual exista a atuação da
mesma sem a presença simultânea das cargas verticais (peso-próprio, revestimentos,
sobrecargas, etc). A estrutura precisa existir para que o vento atue!
A ação horizontal, portanto, sempre atuará no sentido de aumentar ou aliviar a força de
compressão já existente nos pilares devido à presença da carga vertical. Ou seja, o que vale,
na realidade, são os esforços solicitantes devido a uma combinação de ações verticais e
horizontais.

46
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Momentos fletores
A distribuição de momentos fletores ao longo dos lance dos pilares de um edifício,
decorrentes da aplicação das ações verticais e horizontais, é variável. Depende de suas
rigidezes e dos elementos que estão vinculados (vigas ou lajes). Eis alguns exemplos:

Quando presentes em estruturas aporticadas submetidas a


ações verticais, os diagramas de momentos fletores nos
pilares tendem a apresentar o formato ao lado.

Parcelas de esforços
Com o intuito de facilitar o cálculo de um lance de pilar, o esforço total utilizado no seu
dimensionamento pode ser subdividido nas seguintes parcelas:

Estas parcelas de esforços se referem basicamente aos momentos fletores (M x e My) no


pilar. Para as demais solicitações (força normal, forças cortantes e momento torsor), não é
necessário subdividi-las com detalhes dessa maneira. E, portanto, é muito comum definir a
seguinte expressão:

47
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Além disso, também é usual expressar estas parcelas em valores de excentricidades. Nesse
caso, basta dividir os respectivos momentos fletores pela força normal (constante):

Muito embora esses esforços atuem de forma conjunta na vida real, é comum utilizar
modelos distintos e separados para calcular cada uma dessas parcelas durante a elaboração
de um projeto estrutural.
Usualmente, os esforços iniciais, os esforços globais de 2ª ordem e os esforços provenientes
das imperfeições geométricas globais são calculados por meio de modelos que contemplam
toda a estrutura (modelo global), enquanto que os esforços locais de 2ª ordem, os esforços
provenientes de imperfeições geométricas locais e os esforços devido à fluência são
analisados por meio de modelos que tratam o lance de pilar de forma isolada (modelo local).

SOLICITAÇÕES INICIAIS
São chamadas solicitações iniciais os esforços calculados durante a análise estrutural,
resultantes da aplicação das ações verticais e horizontais no modelo global do edifício e
necessárias para manter o equilíbrio da estrutura na posição indeformada (análise em
primeira ordem).

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Os esforços iniciais que aparecem nos lances dos pilares são oriundos dos elementos (vigas
ou lajes) que estão vinculados aos mesmos.

Atualmente, na grande maioria dos sistemas computacionais, os esforços iniciais são


calculados a partir de um modelo clássico de pórtico espacial, isto é, um modelo
tridimensional (3D) composto por elementos lineares (barras), conectadas por nós que
possuem 6 graus de liberdade.
Neste modelo, as barras representam todo o conjunto de pilares e vigas que formam a
estrutura do edifício. As lajes são consideradas como diafragmas rígidos.

A avaliação da distribuição e magnitude dos esforços iniciais (forças normais e cortantes,


momentos fletores e torsores) é uma etapa primordial no cálculo dos pilares. Faz parte da
análise estrutural e deve estar de acordo com o previsto durante a concepção da estrutura.
Trata-se de uma tarefa com total responsabilidade por parte do Engenheiro. Nenhum
sistema computacional é capaz de alertar quando um pilar, que deveria estar submetido a
uma força de 400 tf, estiver solicitado com 100 tf!
Se os esforços iniciais estiverem incorretos, todo o cálculo dos demais esforços nos pilares
(imperfeição geométrica, 2ª ordem, fluência) ficará totalmente comprometido.

Modelo realista
É importante lembrar que, ao contrário de um pórtico espacial puramente elástico que pode
gerar resultados imprecisos, é conveniente adotar um modelo adequado e direcionado para

49
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
a modelagem de edifícios de concreto armado, isto é, que possua adaptações para a
obtenção de respostas compatíveis com a realidade da estrutura.
É obrigatório sempre utilizar um modelo numérico que forneça resultados precisos e
confiáveis. Caso contrário, é melhor nem começar a calcular os pilares.
Dentre as adaptações que devem ser consideradas durante a modelagem, podemos citar:
ligações viga-pilar flexibilizadas, efeitos construtivos, viga de transição, tirante e
plastificações.

Ligação viga-pilar
Os cruzamentos entre os pilares e as vigas de um edifício de concreto armado são regiões
importantes da estrutura onde ocorre a transferência de esforços de uma peça para outra.
São trechos que necessitam de um tratamento particular durante a modelagem estrutural.

No pórtico espacial, existem três itens importantes referentes às ligações viga-pilar que
necessitam ser considerados:
 Trechos rígidos
 Flexibilização da ligação viga-pilar
 Excentricidades de apoios
Trechos rígidos são regiões na intersecção de vigas e pilares de uma estrutura de concreto
armado que apresentam elevada rigidez.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A rigidez efetiva da ligação entre os elementos, principalmente em casos vigas se apoiando
em pilares alongados, necessita ser considerada de forma adequada no modelo de pórtico
espacial. Veja um exemplo a seguir.

No modelo de pórtico espacial, a rigidez efetiva na ligação viga-pilar é incorporada ao


modelo por meio de "molas" posicionadas nos extremos das barras. Ou seja, as ligações são
flexibilizadas.

A técnica utilizada para simular esse comportamento é baseada na manipulação das


matrizes de rigidez das barras (ligação semi-rígida).

Além dos trechos rígidos e das ligações flexibilizadas, as excentricidades existentes entre
elementos não alinhados deve ser também considerada. Veja abaixo dois casos típicos de
excentricidades: vigas não alinhadas com o CG do pilar, variação de seção de um mesmo
pilar entre um lance e outro.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 3
Fazer um estudo das solicitações iniciais nos pilares do edifício hipotético abaixo.
a) Entender o sistema global e local de
coordenadas.
b) Analisar a distribuição das forças normais nos
pilares para ações verticais, horizontais e
combinações.
c) Analisar a distribuição dos momentos fletores
nos pilares para ações verticais e horizontais.
d) Avaliar o equilíbrio de esforços nos pilares de
canto.
e) Avaliar o equilíbrio de esforços nos pilares de
extremidade.
f) Avaliar o equilíbrio de esforços no pilar
central.
g) Os momentos fletores no último lance dos
pilares são maiores que os demais lances. Por
quê?

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

COMPORTAMENTO NÃO-LINEAR
De forma bastante simplificada, pode-se dizer que uma estrutura possui um comportamento
não-linear quando a sua resposta, seja em deslocamentos, esforços ou tensões, é
desproporcional à medida que um carregamento é aplicado.

Exemplo
Seja uma estrutura qualquer submetida a um carregamento “P”, cujo deslocamento
resultante num determinado ponto é igual a “d”.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Agora, imagine se adicionássemos nesta estrutura mais uma mesma carga “P”, de tal
maneira que o carregamento total ficasse igual a “2.P”. Qual será o deslocamento
resultante?

Se for efetuada uma análise puramente linear, certamente o deslocamento resultante será
proporcional ao acréscimo de carga, isto é, igual “2.d”. A resposta da estrutura em termos
de deslocamentos terá um comportamento linear à medida que o carregamento é aplicado.
Por sua vez, se for efetuada uma análise não-linear, o deslocamento resultante não será
proporcional ao acréscimo de carga, isto é, será um valor diferente de “2.d”. E mais,
provavelmente maior que “2.d”. A resposta da estrutura em termos de deslocamentos terá
um comportamento não-linear à medida que o carregamento é aplicado.

Basicamente, existem dois fatores principais que geram o comportamento não-linear de


uma estrutura:

 Alteração das propriedades dos


materiais que compõem a estrutura,
designada “não-linearidade física” (NLF).

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

 Alteração da geometria
da estrutura, designada “não-
linearidade geométrica” (NLG).

NÃO-LINEARIDADE FÍSICA
A não-linearidade física na análise de estruturas de concreto armado que, diga-se de
passagem, é um material essencialmente não-linear, pode ser tratada de diferentes formas,
desde processos aproximados até metodologias mais complexas.

Não-linearidade física de forma aproximada


Uma maneira aproximada para considerar a não-linearidade física em uma estrutura, isto é,
considerar a variação do comportamento do material à medida que o carregamento é
aplicado, é alterar diretamente o valor da rigidez dos elementos que a compõe.

É o que fazemos, por exemplo, no cálculo do pórtico espacial no Estado Limite Último (ELU)
quando adotamos 0,8.EIc nos pilares e 0,4.EIc nas vigas.
Outro exemplo: redução de rigidez nas bordas de laje de tal forma a simular uma possível
fissuração do concreto nessas regiões. Em elementos predominantes fletidos como vigas e
lajes, a fissuração é preponderante no comportamento não-linear da estrutura.

Não-linearidade física de forma refinada


Uma maneira mais refinada de tratar a não-linearidade física em uma estrutura é por meio
do uso de relações momento-curvatura.

Curvatura é a variação do ângulo de rotação


ao longo de um trecho (d/ds) e, portanto
não é expresso em graus ou radianos.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A maneira mais comum e também correta


de definir curvatura é sendo o inverso do
raio de curvatura (1/r).

Em uma seção de concreto armado, a curvatura pode ser expressa de forma aproximada da
seguinte forma (compatibilidade de deformações):

Ou seja, com as deformações no concreto e no aço, c e s, e a altura útil d, é possível


calcular a curvatura em uma seção de concreto armado.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Também de forma aproximada, é possível relacionar a curvatura de uma seção com o
momento fletor atuante na mesma através da seguinte fórmula (relação constitutiva):

A relação momento-curvatura (M x 1/r) é análoga à expressão que relaciona a tensão com a


deformação ( x ), porém tem uma grande vantagem: permite que a não-linearidade física
seja acoplada aos cálculos de uma forma mais fácil e direta. Note que o que relaciona o
momento com a curvatura de uma seção é a sua rigidez à flexão EI.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Diagrama momento-curvatura

Quando a relação momento-curvatura


de uma seção é definida para
diferentes níveis de solicitação, obtém-
se então o diagrama “M x 1/r”.

Veja, a seguir, o exemplo de um diagrama M x 1/r usualmente utilizado no cálculo de flechas


em pavimentos de concreto armado (ELS).

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Diagrama normal-momento-curvatura (N, M, 1/r)


Com a presença concomitante de uma força normal na seção, a relação momento-curvatura
continua válida, porém, é claro, dependente diretamente do valor da força normal. Nesse
caso, a relação passa ser denominada N, M, 1/r.

Com a presença da força normal, o diagrama “M x 1/r” passa a ser chamado de normal-
momento-curvatura ou “N, M, 1/r”.

O conceito é exatamente o mesmo: dada uma força normal atuante, a curvatura na seção se
altera de acordo com o momento fletor solicitante. Esta variação é determinada por uma
rigidez EI.
A compreensão do diagrama “N, M, 1/r” é extremamente importante no cálculo de pilares.
Lembre-se que os mesmos estão submetidos à atuação conjunta de momentos fletores e da
força normal de compressão.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Veja, a seguir, o exemplo de um diagrama “N, M, 1/r” para uma seção retangular (30 cm X
60 cm) e com uma determinada configuração de armadura adotada.

Para uma dada força normal


(N = 150 tf), note que a
variação da curvatura (1/rx)
à medida que o momento
fletor (Mx) aumenta não é
linear.
Na construção desse
diagrama não é levada em
conta à resistência à tração
do concreto (ELU).

O diagrama N, M, 1/r varia em função das seguintes características:


 Geometria da seção
 Materiais (concreto e aço)
 Configuração de armaduras
 Força normal atuante

Diagramas N, M, 1/r na prática


A montagem de diagramas N, M, 1/r para seções de concreto armado, na prática, torna-se
viável somente com o uso de computadores. De forma manual, os cálculos demandam
muito tempo, e tornam impraticáveis diante da produtividade exigida durante a elaboração
de um projeto estrutural.
Hoje, por meio de algoritmos numéricos confiáveis e eficientes, um diagrama N, M, 1/r pode
ser calculado para uma seção de concreto armado genérica em centésimos de segundos.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Cabe ao Engenheiro Estrutural


saber interpretar o diagrama
gerado por um sistema
computacional. E neste caso,
compreender bem conceitos como
rigidez, relação momento-
curvatura são imprescindíveis.

Os diagramas N, M, 1/r serão largamente utilizados no cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem
ao longo do curso.

Exemplo
Seja a seção transversal com os dados abaixo:

 Seção 30 cm x 60 cm
 Armadura: 16  20 mm
 Concreto C30, c = 1,4
 Aço CA50, s = 1,15
 Eixo x em torno da direção
menos rígida

Considerando a tensão de pico no concreto no ELU igual a 0,85.fcd e f3 = 1,0:


a) Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de x para uma força normal N d = 100 tf. Qual o
valor de MRd? Qual a rigidez secante definida para um momento fletor igual a M Rd?
b) Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de y para uma força normal Nd = 100 tf. Qual o
valor de MRd? Qual a rigidez secante definida para um momento fletor igual a M Rd?
c) Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de x para uma força normal N d = 200 tf. Qual o
valor de MRd? Qual a rigidez secante definida para um momento fletor igual a MRd?
d) Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de x para uma força normal N d = 300 tf. Qual o
valor de MRd? Qual a rigidez secante definida para um momento fletor igual a M Rd?
e) A variação de rigidez EI nos itens a), c) e d) é linear ou não-linear?
f) Altere a bitola das barras para 12,5 mm. Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de x
para uma força normal Nd = 300 tf. Qual o valor de MRd? Qual a rigidez secante
definida para um momento fletor igual a MRd?

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
g) Eliminar as barras no canto inferior esquerdo conforme mostra a figura abaixo.
Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de x para uma força normal N d = 300 tf. Existe
simetria nos dois sentidos? Por que para Md = 0, a curvatura é diferente de zero?

Considerando a resistência do concreto no ELU igual a 0,85.fcd, e aplicando uma força normal
de compressão com valor de cálculo igual a NSd = 100 tf, obtém-se o seguinte diagrama N, M,
1/r em torno da direção menos rígida da seção (direção x).

Comentários:
 A curva é idêntica nos dois sentidos, positivo e negativo, pois a seção é inteiramente
simétrica na direção x.
 O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 30,4 tf.m.
 A curvatura na ocasião da atuação do MRd é igual a 2,72x10-2 m-1.
 A rigidez EIsec definida por uma reta secante para M = MRd é igual a 1117,5 tf.m2.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Para a mesma força normal de compressão NSd = 100 tf, obtém-se o seguinte diagrama N, M,
1/r em torno da direção mais rígida da seção (direção y).

Comentários:
 A curva é idêntica nos dois sentidos, como esperado.
 O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 59,5 tf.m.
 A curvatura na ocasião da atuação do MRd é igual a 1,41x10-2 m-1.
 A rigidez EIsec definida por uma reta secante para M = MRd é igual a 4235,2 tf.m2.
Retornando a análise em torno da direção menos rígida (direção x). Vamos alterar a força
normal de compressão para NSd = 200 tf. Obtém-se então o seguinte diagrama N, M, 1/r.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Comentários:
 O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 28,7 tf.m (para NSd = 100 tf,
MRd = 30,4 tf.m).
 A rigidez EIsec definida pela reta secante é igual a 1435,6 tf.m2 (para NSd = 100 tf, EIsec
= 1117,5 tf.m2).
Aumentando a força normal de compressão para NSd = 300 tf, obtém-se então o seguinte
diagrama N, M, 1/r.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Comentários:
 O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 22,6 tf.m (para NSd = 100 tf,
MRd = 30,4 tf.m e para NSd = 200 tf, MRd = 28,7 tf.m).
 A rigidez EIsec definida pela reta secante é igual a 1440,1 tf.m2 (para NSd = 100 tf, EIsec
= 1117,5 tf.m2 e para NSd = 200 tf, EIsec = 1435,6 tf.m2).
 Tanto em termos de resistência como em termos de rigidez, a variação à medida que
a força normal aumenta não é linear.
Mantendo a força normal de compressão para NSd = 300 tf, e agora alterando a armadura
para 16  12,5 mm, obtém-se então o seguinte diagrama N, M, 1/r.

Comentários:
 O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 11,4 tf.m (para 16  20 mm,
MRd = 22,6 tf.m).
 A rigidez EIsec definida pela reta secante é igual a 911,1 tf.m2 (para 16  20 mm, EIsec
= 1440,1 tf.m2).

Finalmente, vamos eliminar a simetria das


armaduras retirando três barras do canto
esquerdo inferior, conforme mostra a figura
ao lado.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Comentários:
 O diagrama não apresenta simetria nos dois sentidos.
 Para um momento fletor Md = 0,0 tf.m, há o aparecimento de uma curvatura
diferente de zero, ocasionado exclusivamente pela presença da força normal de compressão
para NSd = 300 tf.

NÃO-LINEARIDADE GEOMÉTRICA
Assim como a não-linearidade física, a não-linearidade geométrica também gera uma
resposta não-linear de uma estrutura. Porém, esse comportamento não ocorre mais devido
a alterações no material, mas sim devido a mudanças na geometria dos elementos
estruturais à medida que um carregamento é aplicado.
O efeitos gerados a partir do equilíbrio na configuração deformada (efeitos de 2ª ordem)
ocasiona uma resposta não-linear de uma estrutura, chamada de não-linearidade
geométrica.

Não-linearidade geométrica aproximada


Assim como a não-linearidade física, a não-linearidade geométrica pode ser resolvida de
forma aproximada. Nesse caso, a forma final da posição de equilíbrio é pré-determinada,
permitindo a solução matemática do problema.
É o que fazemos, por exemplo, ao utilizar a fórmula do coeficiente z, cuja formulação é
resultante de uma estimativa da variação da forma da estrutura à medida que as cargas são
aplicadas à mesma.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Outro exemplo: o método do pilar-padrão aplicado no cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem
em pilares. Nesse caso, admite-se que a forma final da posição de equilíbrio do elemento em
questão é uma curva senoidal.

Não-linearidade geométrica de forma refinada


Existem diversos processos numéricos, comumente denominados P-, que tratam a não-
linearidade geométrica de forma refinada. Basicamente, são cálculos iterativos em que se
busca a posição final de equilíbrio da estrutura ou parte dela.
Por ser um processo iterativo, é necessária a definição de tolerâncias para obtenção da
convergência do método. Existem formulações baseadas na introdução de “deltas” de
esforços entre cada iteração, bem como outras, mais sofisticadas, que corrigem a matriz de
rigidez dos elementos de tal forma a simular a variação da geometria da estrutura à medida
que o carregamento é aplicado sobre a mesma.

Efeitos de 2ª Ordem
Efeitos de 2ª ordem são efeitos adicionais à estrutura gerados quando o equilíbrio da mesma
é tomado na sua posição deformada (análise em 2ª ordem). Esses efeitos são reais, e podem
ser grandes ou pequenos.
A NBR 6118:2003, item 15.2, permite desprezar os efeitos de segunda ordem somente após
a constatação de que a magnitude dos mesmos não represente um acréscimo de 10% nas
reações e nas solicitações relevantes da estrutura.
A NBR 6118:2003, item 15.4.1, classifica os efeitos de segunda ordem presentes numa
estrutura de concreto em três tipos:

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Muito embora ocorram de forma simultânea no edifício, os efeitos globais, locais e
localizados de segunda ordem comumente são calculados de forma separada, conforme
sintetiza a figura a seguir.

Os efeitos globais de 2ª ordem se referem à estrutura como um todo e são calculados a


partir de uma modelagem global (pórtico espacial). Os efeitos locais se referem a um trecho
isolado do pilar (lance) e são calculados por meio de uma modelagem local. Já, os efeitos
localizados se referem a uma região específica de pilares-parede (extremos com baixa
rigidez) que possuem uma tendência de ter efeitos de 2ª ordem mais significativos em
função de uma concentração de tensões.
O cálculo dos efeitos globais, locais e localizados de 2ª ordem será estudado com detalhes
durante o curso.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

COEFICIENTE F3
O coeficiente ponderador das ações f, usualmente igual a 1,4, é resultante da multiplicação
de 3 fatores apresentados a seguir.

O primeiro fator f1 procura prever a variabilidade do valor da ação, ou seja, considera que a
carga efetivamente aplicada à estrutura real não é 100% exata, podendo ser maior ou menor
que o valor especificado em projeto.
O segundo f2 procura prever a simultaneidade das ações, isto é, a probabilidade de
ocorrência simultânea de ações distintas. São os famosos coeficientes .
Já o terceiro fator f3 leva em conta as aproximações feitas em projeto. Vale lembrar que
todo projeto estrutural, por mais que seja elaborado de forma refinada, é apenas uma
simulação simplificada de um edifício real.

NBR 6118:2003
No item 15.3.1 da NBR 6118:2003, tem-se:
“Pode ser considerada também a formulação de segurança em que se calculam os efeitos de 2ª
ordem das cargas majoradas de f/f3, que posteriormente são majorados de f3, com f3 = 1,1, ...”
Pelo menos à primeira vista, essa afirmação presente na norma é um pouco confusa. O que
se objetiva com essa consideração é suprir da análise dos esforços de 2ª ordem, que possui
uma resposta não-linear, o fator do coeficiente de segurança que trata das aproximações de
projeto (f3). Dessa forma, os efeitos de segunda ordem calculados com valores de cálculo
ficam ligeiramente menores, não podendo esquecer, obviamente, de complementá-los com
f3 para obtenção do resultado final.

Exemplo
A consideração do coeficiente f3 = 1,1 tem influência direta na análise de uma estrutura
com comportamento não-linear. Veja, a seguir, um exemplo bastante simples que procura
mostrar a influência do coeficiente f3 em um cálculo.
Seja uma estrutura hipotética que possui um comportamento tipicamente não-linear,
conforme mostra a figura a seguir.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A resposta da estrutura (S) em função da


ação (F) está representada pela curva em
azul.

Imagine que o valor da ação característica a ser aplicada sobre a estrutura é Fk = 10,
resultando numa resposta S k = 45.

Utilizando f = 1,4 de tal forma a considerar o


valor de cálculo, teremos:
Fd = 10 x 1,4 = 14  Sd = 85

Utilizando a formulação de segurança com f3


= 1,1, teremos:
Fd = 10 x 1,4/1,1 = 12,7  Sd = 72
Sd,tot = 72 x 1,1 = 79,2 < 85

Como se pôde observar, a análise com a formulação de segurança com f3 = 1,1 resulta em
valores finais menores quando comparados com a aplicação direta de f = 1,4 em estruturas
com comportamento não-linear.
Dessa forma, o cálculo de uma estrutura em que se considera a não-linearidade geométrica
(z ou P-) ou física (N, M, 1/r) é influenciado diretamente pelo f3 = 1,1.
Vale lembrar que a adoção de f3 = 1,1 é opcional, podendo ser adotado também f3 = 1,0.

Exemplo
Analisar uma estrutura muito simples abaixo considerando a não-linearidade geométrica,
ora com f3 = 1,0 e ora com f3 = 1,1.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Trata-se de uma barra vertical
engastada na base com
comprimento igual a 5 m, com
seção transversal 30 cm x 30 cm,
módulo de elasticidade igual a
28.000 MPa, submetida a uma
força horizontal constante (Fhd = 10
tf) e a uma força vertical variável
(Fvd = 0 tf a 100 tf) em seu topo,
conforme mostra a figura ao lado.
OBS.: valores da força são de
cálculo.
a) Na análise linear, quais os deslocamentos no topo variando-se Fv?
b) Na análise linear, quais os momentos fletores na base variando-se Fv?
c) Na análise NLG com f3=1,0, quais os deslocamentos no topo variando-se Fv?
d) Na análise NLG com f3=1,0, quais os momentos fletores na base variando-se Fv?
e) Na análise NLG com f3=1,1, quais os deslocamentos no topo variando-se Fv?
f) Na análise NLG com f3=1,1, quais os momentos fletores na base variando-se Fv?
g) A variação de deslocamentos no topo e momentos na base à medida que o valor de
Fv é incrementado é linear ou não-linear?
Por meio do cálculo linear tradicional em primeira ordem, isto é, na configuração geométrica
inicial indeformada, obtém-se as seguintes reações e esforços (força normal, força cortante
e momento fletor).

72
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Note que o momento fletor final na base da barra (50,0 tf.m), assim como o deslocamento
no topo (22 cm), na análise linear, não variam à medida que a força vertical é incrementada.
Agora, vamos fazer a análise considerando a não-linearidade geométrica por meio de um
processo P-, efetuado no computador, considerando f3 = 1,0. Veja, a seguir, a variação do
momento fletor na base à medida que a carga vertical é alterada.

Note que o esforço varia de 50,0 tf.m até 97,0 tf.m.


Finalmente, vamos fazer a análise com NLG e considerando f3 = 1,1.

Também houve uma variação de momentos fletores, de 50,0 tf.m até 88,7 tf.m, porém os
valores dos esforços finais ficaram menores devido à consideração de f3 = 1,1.
Em ambos os casos com NLG, o aumento de esforços à medida que a carga vertical é
incrementada é decorrente do surgimento de efeitos de 2ª ordem, que tornam o
comportamento da estrutura nitidamente não-linear, conforme mostra o gráfico a seguir.

73
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

NLF + NLG = COMPORTAMENTO NÃO-LINEAR


Nos itens anteriores, muito embora a não-linearidade física (NLF) tenha sido estudada de
forma independente da não-linearidade geométrica (NLG), ambas sempre atuam de forma
conjunta. Isto é, uma estrutura de concreto armado, ao ser carregada, sofre influência tanto
da não-linearidade física (alteração no material) como da não-linearidade geométrica
(alteração da geometria) simultaneamente.

É importante estar ciente que tanto a não-linearidade física como a não-linearidade


geométrica, na vida real, estão sempre presentes nos edifícios em concreto armado. E por
isso, torna-se fundamental considerá-las no cálculo da estrutura em certas situações.

EFEITOS GLOBAIS DE 2ª ORDEM


Conforme a nomenclatura já deixa evidente, os esforços globais de 2ª ordem estão
relacionados ao edifício como um todo, isto é, ao conjunto completo formado pelos pilares,
pelas vigas e lajes da estrutura. Ex: um edifício submetido à ação do vento desloca-se
horizontalmente. Com isso, geram-se esforços adicionais nesses elementos devido à
presença simultânea de cargas verticais (peso próprio + sobrecarga), chamados de efeitos
globais de 2ª ordem.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Estruturas de nós fixos e nós móveis


Quando os deslocamentos horizontais dos nós de uma estrutura são pequenos e,
consequentemente, os efeitos globais de 2ª ordem são desprezíveis (inferiores a 10% dos
esforços totais), a estrutura, para efeitos de cálculo, é considerada de nós fixos.
Em contrapartida, quando os deslocamentos horizontais dos nós não forem pequenos, a
estrutura é considerada de nós móveis.
A classificação de uma estrutura como sendo de nós fixos ou nós móveis pode ser feita de
acordo com os resultados dos parâmetros de instabilidade  e z. No caso desse último, a
estrutura é considerada de nós fixos quando z ≤ 1,1.

Processos de cálculo
Segundo o item 15.7.1 da NBR 6118:2003, temos: “Na análise estrutural de estruturas de nós
móveis, devem ser obrigatoriamente considerados os efeitos da não-linearidade geométrica
e da não-linearidade física e, portanto, no dimensionamento devem ser obrigatoriamente
considerados os efeitos globais e locais de 2ª ordem.”.
Os esforços globais de segunda ordem podem ser calculados de duas formas:
 Análise aproximada pelo coeficiente z.
 Análise não-linear P-.
Na análise aproximada via z, o item 15.7.2 da NBR 6118:2003 descreve “Uma solução
aproximada para a determinação dos esforços globais de 2ª ordem consiste na avaliação dos
esforços finais (1ª ordem + 2ª ordem) a partir da majoração adicional dos esforços
horizontais da combinação de carregamento considerada por 0,95.z . Esse processo só é
válido para z ≤ 1,3.”.

Não-linearidade física
A NBR 6118:2003, seção 15 “Instabilidade e efeitos de 2ª ordem”, item 15.7.3, permite
definir uma rigidez aproximada em vigas, pilares e lajes na análise dos esforços globais de 2ª
ordem em estruturas reticuladas com no mínimo quatro andares. Exemplo: em edifícios
modelados por pórtico espacial que atendam essa última condição, pode-se adotar, de
forma aproximada, EIsec = 0,4.Eci.Ic nas vigas e EIsec = 0,8.Eci.Ic nos pilares.

75
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
E, para estruturas com menos de quatro andares? O que fazer? Posso adotar os mesmos
valores? Por que essas reduções são recomendadas somente para estruturas com no
mínimo quatro andares?
Essa restrição foi definida na norma devido à falta de estudos específicos para este tipo de
estrutura, onde, dependendo do nível de solicitação, no Estado Limite Último (ELU), as
rigidezes nas vigas, e principalmente nos pilares, podem atingir valores bem inferiores aos
especificados de forma aproximada. Nesse caso, com a adoção das reduções de rigidez
definidas anteriormente, os efeitos de 2ª ordem seriam subestimados. E, portanto, a análise
estaria contra a segurança.
Atualmente, existem pesquisas direcionadas para análise deste assunto. Em breve, teremos
uma possível resposta para esta questão.
Neste momento, a única afirmação que se pode fazer é que a não-linearidade física em
estruturas com menos de quatro andares deve obrigatoriamente ser sempre considerada. E
que, na impossibilidade de definição de valores de redução de rigidez mais precisos (obtidos
por meio de diagramas momento-curvatura), os mesmos devem ser estimados com
precaução, priorizando sempre um cálculo a favor da segurança.

Análise não-linear geométrica e coeficiente f3


Seja na análise P- como no cálculo por meio do coeficiente z, pode ser considerada a
formulação de segurança em que se calculam os efeitos de 2ª ordem das cargas majoradas
de f/f3, que posteriormente são majorados de f3.
Em estruturas com comportamento não-linear, como no caso de um edifício de concreto
armado, o cálculo com f3 = 1,1 resulta em valores finais menores quando comparados com a
aplicação direta de f = 1,4 (f3 = 1,0).
Conforme mostrado no último exemplo 5, foi possível constatar a afirmação acima por meio
de um exemplo no qual utilizamos a análise P-. No caso do uso do coeficiente z, sua
formulação deve ser adaptada então da seguinte forma:
1
z  , com f3 = 1,0 ou f3 = 1,1.
M tot, d 1
1 
M 1,tot, d  f3
Note que, para f3 = 1,1 o valor do coeficiente z obtido é menor do que quando adotado f3
= 1,0.

Efeitos globais nos pilares


A análise global em 2ª ordem gera efeitos adicionais tanto nas vigas como nos pilares.
Na modelagem global usualmente adotada para o cálculo de edifícios de concreto armado,
como por exemplo, o pórtico espacial, a influência dos efeitos globais de 2ª ordem se
concentra no topo e na base de cada lance de pilar, uma vez que cada um desses trechos é
discretizado com apenas um único elemento (barra). Veja a figura a seguir.

76
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 4
Fazer um estudo das solicitações globais de 2ª ordem nos pilares do edifício hipotético
apresentado a seguir, via 0,95.z e P-, com f3 = 1,0 e f3 = 1,1.
O edifício possui simetria na duas direções. A não-linearidade física foi considerada de forma
aproximada: 0,8.EIc para pilares e 0,4.EIc para vigas.
a) Quais os valores de z para os ventos a 180o
(lateral ) e 90o (frontal ↑), com f3 = 1,0?
b) Para o pilar P4, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção
menos rígida para a combinação 17
(PP+PERM+0,8.ACID+VENT180 o)?
c) Calcular o valor característico da força
normal e momento fletor na base em torno
da direção menos rígida do pilar P4, lance
1, utilizando o processo aproximado com
z.
d) Para o pilar P6, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção
mais rígida para a combinação 10
(PP+PERM+ACID+0,6.VENT90 o)?
e) Calcular o valor característico da força
normal e momento fletor na base em torno
da direção mais rígida do pilar P6, lance 1,
utilizando o processo aproximado com z.

77
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
f) Quais os valores de z para os ventos a 180o
(lateral ) e 90o (frontal ↑), com f3 = 1,1?
g) Para o pilar P4, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção
menos rígida para a combinação 17
(PP+PERM+0,8.ACID+VENT180 o)?
h) Calcular o valor característico da força
normal e momento fletor na base em torno
da direção menos rígida do pilar P4, lance
1, utilizando o processo aproximado com
z.
i) Para o pilar P6, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção
mais rígida para a combinação 10
(PP+PERM+ACID+0,6.VENT90 o)?
j) Calcular o valor característico da força
normal e momento fletor na base em torno
da direção mais rígida do pilar P6, lance 1,
utilizando o processo aproximado com z.

k) Quais os valores de z para os ventos a


180o (lateral ) e 90o (frontal ↑), com f3
= 1,1?
l) Para o pilar P4, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção
menos rígida para a combinação 17
(PP+PERM+0,8.ACID+VENT180 o),
utilizando o processo P-?
m) Para o pilar P6, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção
mais rígida para a combinação 10
(PP+PERM+ACID+0,6.VENT90 o), utilizando
o processo P-?

78
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
n) Montar uma tabela geral com os resultados obtidos e fazer uma análise crítica dos
mesmos.

79
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

IMPERFEIÇÕES GEOMÉTRICAS GLOBAIS


Todo edifício, quando executado num canteiro de obra, está sujeito ao aparecimento de
desvios geométricos, isto é, distorções na forma e no posicionamento dos elementos
estruturais originados durante a sua implantação.
Estas “falhas” de construção, chamadas de imperfeições geométricas, são praticamente
inevitáveis e aleatórias. Podem ser grandes ou pequenas.

Toda estrutura é geometricamente imperfeita!

Muito embora não tenha o controle direto dessa situação de obra, o Engenheiro de
Estruturas deve obrigatoriamente levar em conta as imperfeições geométricas durante a
elaboração do projeto, pois as mesmas, na maioria dos casos, não estão cobertas pelos
coeficientes de segurança.

Os pilares são elementos altamente sensíveis às imperfeições geométricas!

Muito embora as imperfeições geométricas gerem repercussão em toda a estrutura, nos


pilares a influência é muito mais significativa. E, por isso, os mesmos precisam ser
adequadamente dimensionados de modo a resistir, dentro de certa tolerância, às
solicitações extras devido ao aparecimento destes desvios.
É obrigatório considerar as imperfeições geométricas no cálculo de pilares de edifícios de
concreto armado.

80
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A NBR 6118:2003, item 11.3.3.4 “Imperfeições geométricas”, divide as imperfeições


geométricas em dois grupos:
 Imperfeições geométricas globais.
 Imperfeições geométricas locais.

Imperfeições geométricas globais

As imperfeições globais se referem ao edifício como um todo, ou seja, é como se a estrutura


inteira ficasse inclinada (em desaprumo) para um dos lados, ocasionando esforços adicionais
principalmente nas vigas e nos pilares, devido à presença simultânea das cargas verticais.
A NBR 6118:2003, item 11.3.3.4.1 “Imperfeições geométricas globais”, define que o
desaprumo global não deve ser superposto ao efeito do vento e deve ser considerado
apenas quando for mais desfavorável que o mesmo.
De maneira geral, pode-se dizer que o desaprumo global somente é mais desfavorável que o
vento em edificações baixas submetidas a cargas verticais elevadas (ex: construções
industriais).
Em edifícios mais altos, normalmente o vento é preponderante, muito embora existam casos
particulares na qual esta afirmação não se confirme (ex: edifício com uma face delgada na
qual a pressão de vento é muito baixa).
Os efeitos das imperfeições geométricas globais são calculados por meio de modelos que
contemplam toda a estrutura, como por exemplo, um pórtico espacial. Há diversas maneiras
de simular a presença do desaprumo global. Uma delas é aplicar momentos nos nós a partir
81
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
do deslocamento da força vertical gerado pela rotação a. Uma outra possibilidade é inclinar
toda a geometria da estrutura por a. Essas duas opções são similares.
No livro de comentários da NBR 6118 publicado pelo Ibracon, indica-se a possibilidade de
simulação da imperfeição geométrica global por meio de cargas horizontais equivalentes.
Veja a seguir.

EFEITOS LOCAIS DE 2ª ORDEM


Os efeitos locais de 2ª ordem estão relacionados a uma parte isolada da estrutura. Ex: um
lance de pilar sob a atuação de momentos fletores no seu topo e na sua base se deforma.
Com isso, geram-se efeitos adicionais devido à presença simultânea da carga normal de
compressão, chamados de efeitos locais de 2ª ordem.

Efeitos locais nos pilares


No item 15.7.4 da NBR 6118:2003, tem-se:
“A análise global de 2ª ordem fornece apenas os esforços nas extremidades das barras, devendo ser
realizada uma análise dos efeitos locais de 2ª ordem ao longo dos eixos das barras comprimidas, ...”

82
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

83
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

“Os elementos isolados, para fins da verificação local, devem ser formados pelas barras comprimidas
retiradas da estrutura, com comprimento le, ..., porém aplicando-se às suas extremidades os esforços
obtidos através da análise global de 2ª ordem.”

Comprimento le
Na análise dos efeitos locais de 2ª ordem, é fundamental definir corretamente o
comprimento equivalente le.
No item 15.6 da NBR6118:2003, ”Análise de estruturas de nós fixos”, é apresentada uma
formulação em que o valor do comprimento equivalente é definido a partir dos elementos
que vinculam o pilar (vigas) e da dimensão do mesmo. Porém, o cálculo segundo esse item
somente deve ser adotado quando os elementos de travamento do lance do pilar estiverem
muito bem definidos.
Veja o exemplo a seguir.

84
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

É fácil perceber que o topo do pilar não está


travado pela viga segundo a direção de menor
rigidez.

Vinculações no topo e na base

As condições de vinculação no topo e na base do lance do pilar é extremamente relevante


na avaliação dos efeitos locais de 2ª ordem. Por exemplo, um pilar com 3 m de pé-direito,
biapoiado, terá resultados bastante distintos se considerado apenas engastado na base.
Atualmente, nos processos de cálculo usuais, apenas certas condições de vinculações
aproximadas são consideradas, muito embora, na vida real, um lance de pilar imerso no
interior da estrutura de um edifício usual de concreto armado se comporte de forma
intermediária entre as situações.

Índice de esbeltez limite 1


Partindo do princípio básico de que os efeitos de 2ª ordem podem ser desprezados desde
que a magnitude dos mesmos seja inferior a 10% da resposta total, a NBR 6118:2003, em
seu item 15.8.2 “Dispensa da análise dos efeitos locais de 2ª ordem”, estabelece um índice
de esbeltez limite calculado pela seguinte fórmula:

85
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
e1
25  12,5.
35  1  h  90
b
Essa é uma das grandes melhorias da atual norma de concreto em relação à anterior NBR
6118:1980, que fixava um valor limite constante igual a 40.
Além de depender da excentricidade relativa e1/h, o valor de 1 é altamente influenciado
pelo coeficiente b, que procura levar em conta o tipo de vinculação nos extremos do pilar,
bem como a forma do diagrama de momentos fletores.

Coeficiente b
O coeficiente b é calculado da seguinte forma:
MB
a) 0,4   b  0,6  0,4.  1,0 para pilares biapoiados sem cargas transversais, sendo MA
MA
o maior valor absoluto do momento fletor ao longo do pilar e M B o momento na outra
extremidade, com sinal positivo se tracionar a mesma face que M A e negativo em caso
contrário.
MC
b) 0,85   b  0,8  0,2.
 1,0 para pilares engastados, sendo MA o momento no engaste
MA
e MC o momento na meio do pilar em balanço.
c)  b  1,0 para pilares com momentos inferiores ao M1d,mín ou pilares biapoiados com
cargas transversais significativas.

A expressão definida em (a) equivale a dizer


M B  0,5.M A , ou seja, o momento com o
valor menor (MB) deve ser no mínimo maior
que metade do momento maior (MA) com sinal
invertido. Veja, ao lado, um exemplo:

EXEMPLO 5
Para pilares bi-apoiados, calcular o coeficiente b para os seguintes casos:

86
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Imaginando uma excentricidade relativa e1/h = 0,08, calcule o índice de esbeltez limite 1
para cada um dos casos.

Representação em planta
Independente do método a ser aplicado na análise dos efeitos locais de 2ª ordem, é muito
importante “enxergar” com clareza a influência dos mesmos no comportamento de um pilar.
Para isso, vamos recorrer ao uso da representação em planta.
Seja um pilar submetido a uma flexão composta oblíqua, com esforços de 1ª ordem
apresentados na figura a seguir.

Como a variação dos momentos de 1ª ordem entre o topo e a base é linear em ambas as
direções, fica então definida uma reta na representação em planta.

87
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Adotando-se um método geral para calcular o pilar, é possível então perceber que os efeitos
locais de 2ª ordem tendem a gerar esforços adicionais no sentido levar o mesmo à ruína
(ELU), conforme mostra a figura a seguir.

Os efeitos de 2ª ordem tendem a levar os esforços totais ao longo do lance para fora da
curva resistente, na direção crítica onde o pilar é mais esbelto.

Não-linearidade física e geométrica


A revisão dos conceitos sobre as não-linearidades presentes em estruturas de concreto
armado (momento-curvatura, coeficiente f3, ...) realizada anteriormente não foi feita à toa,

88
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
visto que no cálculo dos efeitos locais de segunda ordem, duas questões são a chave para a
solução do problema:
 Como considerar a não-linearidade física (NLF)?
 Como considerar a não-linearidade geométrica (NLG)?
 Em outras palavras, na análise de um lance de pilar, temos duas perguntas principais
a responder:
 Qual rigidez EI deve ser considerada?
 Como se deformará o pilar à medida que o carregamento é aplicado?

Para cada uma dessas questões existem soluções distintas, umas mais aproximadas e outras
que tratam o problema de forma mais refinada. Daí é que surgem os diferentes métodos
presentes na NBR 6118:2003.

Processos de cálculo – NBR 6118:2003


A NBR 6118:2003 permite o uso de 4 métodos para análise local de 2ª ordem. São eles:

Os três primeiros métodos são considerados processos aproximados e são descritos no item
15.8.3.3 da NBR 6118:2003, enquanto que o Método geral, como a própria nomenclatura já
deixa meio evidente, é um processo mais abrangente e sofisticado.
Vale lembrar que na extinta NBR 6118:1980 havia apenas um método disponível, o pilar-
padrão com curvatura aproximada, cuja formulação era praticamente similar à atual.
Cada um desses métodos possui limitações próprias, e por isso, podem ser aplicados desde
que a esbeltez do pilar esteja dentro de um certo patamar. Evidentemente, os processos
aproximados possuem uma limitação maior.

89
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Estudaremos cada um desses métodos detalhadamente mais adiante.

Esbeltez limite

Os métodos do pilar-padrão com 1/r aproximada e pilar-padrão com  aproximada podem


ser utilizados em pilares com esbeltez máxima igual a 90. O método do pilar-padrão
acoplado a diagrama N, M, 1/r é limitado para uma esbeltez máxima de 140. O método
geral, por sua vez, pode ser usado até um limite de 200.
Acima desse valor, a norma não permite o uso de nenhum método, a não ser em casos de
postes onde a força normal de compressão é baixa.

Métodos aproximados
Antes mesmo de iniciar o estudo da formulação de cada um dos métodos aproximados, pela
própria nomenclatura dos mesmos é possível tirar algumas conclusões prévias. Note que os
três processos aproximados fazem o uso de um termo comum: “pilar-padrão”.

O que é pilar-padrão?
Conforme já sabemos, o cálculo da deformada do lance de um pilar à medida que o
carregamento é aplicado sobre o mesmo, é um dos desafios presentes na análise local em 2ª
ordem. Como tratar a não-linearidade geométrica num lance de pilar?
O método do pilar-padrão consiste numa aproximação que pressupõe que a deformada final
do pilar será representada por uma curva senoidal. Existem inúmeros estudos que
comprovam a eficiência dessa simplificação, válida até um determinado limite de esbeltez.

Uma vez definida a forma final do lance do pilar (senóide), é possível então chegar a uma
solução analítica para o problema da não-linearidade geométrica, obtendo-se expressões
relativamente simples que podem ser utilizadas no cálculo do pilar.
Dessa forma, conclui-se que os três processos aproximados presentes na NBR 6118:2003,
tratam a não-linearidade geométrica (NLG) de forma idêntica.

90
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

O que diferencia um método aproximado do outro é justamente as diferentes maneiras de


considerar a outra não-linearidade, a física (NLF).

Pilar-padrão melhorado

O método do pilar-padrão comum considera toda a deformação do pilar (1ª ordem + 2ª


ordem) como sendo uma curva senoidal. Existe também o método do pilar-padrão
melhorado em que apenas a deformada de 2ª ordem é considerada senoidal. Esse último
processo não será objeto de estudo nesse curso.

PILAR-PADRÃO COM 1/R APROXIMADA


Aplicabilidade
Esse método pode ser empregado apenas para pilares com  ≤ 90, seção constante e
armadura simétrica e constante ao longo de seu eixo.

Não-linearidade geométrica
Admite-se que a deformação da barra seja senoidal (pilar-padrão).

Não-linearidade física
A rigidez do lance do pilar é obtida por meio da definição de uma curvatura aproximada na
seção crítica.

Formulação
A formulação é extremamente simples e possibilita o cálculo manual. O momento total (1ª
ordem + 2ª ordem) máximo no pilar é calculado pela seguinte expressão:
le2 1 1 0,005 0,005
M d ,tot   b .M 1d , A  N d . .  M 1d , A , sendo  
10 r r h.(  0,5) h
onde:

91
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
N Sd
 e M 1d , A  M 1d ,mín
Ac . f cd
O momento de 2ª corresponde à parcela Nd.(le2/10).(1/r).
Note que não é necessário conhecer previamente a armadura do pilar para aplicar as
fórmulas acima.

92
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 6
Calcular os efeitos locais de 2ª ordem pelo método do pilar-padrão com 1/r aproximada e
dimensionar a armadura do pilar a seguir.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

NUM SISTEMA COMPUTACIONAL


No exemplo anterior, os esforços locais de 2ª ordem foram calculados pelo método do pilar-
padrão com 1/r aproximada de forma 100 % manual. Foi possível dimensionar a armadura
necessária por meio de um ábaco --, também sem a necessidade de um computador.
Foi possível calcular os efeitos locais de 2ª ordem e dimensionar a armadura inteiramente
à mão!
Na prática profissional de projetos, entretanto, esses procedimentos são integralmente
realizados com o auxílio de um sistema computacional. Isso é necessário porque são
inúmeros os pilares e combinações de ações no projeto de um edifício real, tornando
inviável a execução de todas as contas necessárias de forma manual.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Imagine o trabalho de se calcular e dimensionar o pilar anterior para 20 combinações ELU!
Depois, imagine que este mesmo pilar possui 20 lances! Finalmente, imagine que existam 20
pilares similares a ele presentes na estrutura do edifício! Seria totalmente improdutivo
querer fazer tudo à mão, ainda mais correndo um risco evidente de se fazer alguma conta
errada.
Diante deste cenário, como em qualquer etapa de um projeto estrutural assistido por
computador, torna-se fundamental compreender claramente o funcionamento do sistema
computacional que está sendo utilizado e conhecer os aspectos teóricos que foram adotados
na implementação do mesmo, a fim de utilizá-lo com a segurança e a eficiência desejada.
O caminho trilhado por um software para calcular, dimensionar e detalhar os pilares de um
edifício real é bastante complexo. O número de contas executados pelo computador é
gigantesco para que se tenha o resultado final desejado (desenho das armações).
Invariavelmente, os relatórios com resultados parciais atingem a casa dos milhares de linhas.
Resumidamente, o cálculo de um pilar por meio de um sistema computacional (TQS) é
realizado do seguinte forma:

Etapa 1: Definição de Dados (Concepção Estrutural)


Nesta etapa inicial, o Engenheiro define os materiais (classe do concreto) dos elementos e as
ações (verticais e horizontais) em que o edifício estará submetido.

A geometria de todos os pilares do edifício é definida graficamente no Modelador Estrutural


pelo Engenheiro.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Etapa 2: Modelagem Global


Com os dados da Etapa 1, o sistema gera um modelo global (Pórtico Espacial) compatível
com todas as informações definidas pelo Engenheiro. Nesse modelo, cada lance de pilar é
simulado por uma única barra.
É por meio desse modelo global que se calculam as solicitações iniciais, os esforços devidos
às imperfeições geométricas globais e as solicitações globais de 2ª ordem (0,95.z ou P-),
para cada uma das combinações de ações ELU necessárias para o dimensionamento dos
pilares.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Etapa 3: Transferência de Esforços
A integração entre os subsistemas de análise (Pórtico-TQS®) e os subsistemas de
dimensionamento (CAD/Pilar®) é realizada por meio do que se chama de "transferência de
esforços".

Essa transferência de esforços é efetuada através da gravação de arquivos de dados no disco


(PRJ-nnnn.TEP), que posteriormente são lidos durante a análise local e o dimensionamento
dos pilares.
A transferência de esforços pode ser executada durante o processamento global do edifício
de acordo com as opções definidas pelo Engenheiro, indicadas a seguir.

A transferência de esforços também pode ser executada por meio de comandos locais
existentes no subsistema Pórtico-TQS® (menu "Visualizar - Transferência de esforços").
Porém, recomenda-se que esse processo seja sempre realizado durante o processamento
global.

98
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Lembre-se sempre que todo dimensionamento das armações é baseado em arquivos
gravados durante a transferência de esforços. Ao reprocessar um pórtico espacial, é
imprescindível executar essa transferência para que o dimensionamento dos elementos
(pilares) fique compatível com a análise estrutural global.

Esforços transferidos
São transferidos a força normal (N) e os momentos fletores nas duas direções (M y e Mz) de
cada trecho de pilar, que atuam concomitantemente em cada combinação última (ELU1 ou
ELU2) definida no pórtico espacial ELU. A envoltória ELU2 é considerada apenas quando a
redução de sobrecargas está ativada no edifício. Os momentos torsores e as forças cortantes
são desprezadas.

Etapa 4: Modelagem Local


Nesta etapa, cada lance ou trecho de pilar é analisado isoladamente por meio de um modelo
local, cujas solicitações de partida são os esforços transferidos do modelo global.
É por meio da modelagem local que se calculam os esforços devidos às imperfeições
geométricas locais e as solicitações locais de 2ª ordem (métodos aproximados ou método
geral), para cada uma das combinações de ações ELU necessárias para o dimensionamento
dos pilares.

Definição de vinculações no topo e na base


Na modelagem local, é fundamental definir corretamente as condições de vínculo no topo e
na base do lance para cada uma das direções, de tal forma a se extrair o comprimento
equivalente (le) para análise.
É importante lembrar que num mesmo trecho de pilar é possível ter condições de vínculo
totalmente distintas nas duas direções.

99
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Montagem de carregamentos
Nesta fase, os esforços locais de 2ª ordem são calculados de acordo com o método
estabelecido nos critérios de projeto (isso ficará mais claro ao longo dos exemplos
seguintes).
Para cada lance dos pilares dos edifícios, montam-se carregamentos finais para o
dimensionamento dos mesmos contendo todas as diversas condições de solicitação de
cálculo (Sd).
Usualmente, num edifício real, a listagem com os carregamentos montados é bastante
extensa.

Etapa 5: Dimensionamento
Definição das configurações de armaduras
A partir da definição de espaçamentos limites entre barras longitudinais (mínimos e
máximos), bitolas limites como também das taxas de armaduras limites (todos são critérios
de projeto), torna-se possível pré-determinar as possíveis configurações de armaduras na
seção representativa do lance do pilar.

100
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Dimensionamento
Uma vez conhecidas as solicitações de cálculo (Sd) oriundas da montagem de carregamentos
e as configurações de armaduras que possibilitam determinar a resistência da seção (Rd), e
que pode ser representada por uma curva de interação N-Mx-My, é possível verificar a
condição Sd ≤ Rd.
Dessa forma, para cada bitola de armadura longitudinal, é possível determinar uma
configuração (posição das barras na seção transversal) em que a condição acima é
respeitada (ou não).

Etapa 6: Detalhamento
Seleção de configuração
Durante o dimensionamento, foram determinadas as configurações possíveis para cada
bitola de armadura longitudinal. Fica faltando, então, selecionar a configuração que melhor
se adapte ao trecho em questão. Essa condição deve se adequar às condições de transição
de um lance para outro.

Detalhamento
Uma vez selecionada a configuração de armadura na seção, é necessário definir o
comprimento das barras levando-se em conta importantes questões com relação ao
transpasse e ancoragem das barras.
É importante lembrar que também nessa fase deve-se definir a armadura transversal

Etapa 7: Desenho

Com todos os dados definidos anteriormente,


cabe finalmente gerar um desenho que
represente graficamente o pilar calculado, que
deve conter todas as informações necessárias
para sua execução na obra.

101
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 7
Como o sistema computacional calcula e dimensiona o pilar analisado anteriormente?
O objetivo deste exemplo é demonstrar como o pilar dimensionado anteriormente foi
calculado por meio do sistema computacional (TQS).
Primeiramente, é importante estar ciente de que os esforços apresentados no enunciado do
problema (NSd = 84 tf, MSd = 4,8 tf.m e MSd = -2,4 tf.m) são oriundos da modelagem global,
usualmente baseada no modelo de pórtico espacial. Esses esforços devem representar as
solicitações iniciais, acrescidas dos esforços globais de 2ª ordem e dos efeitos devidos às
imperfeições geométricas globais, da forma mais fiel e realista possível. Trata-se do ponto de
partida para que a análise local dos esforços de 2ª ordem seja devidamente realizada.
a) Analisar os esforços no pórtico espacial e entender o sistema de coordenadas.
b) Analisar critérios de projeto.
c) Analisar os resultados no relatório “Montagem de carregamentos”.
d) Quais os outros tipos de configurações de armaduras possíveis?
e) Analisar os resultados no editor de geometria, esforços e armaduras. Que dados
podem ser alterados sem reprocessar a montagem de carregamentos?
f) Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método do pilar-padrão com 1/r aproximada e
dimensionar a armadura para o pilar a seguir, aumentando a força normal em 50 % e
100 %.
Resposta item f)

102
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
T Q S INFORMATICA LTDA PartPL - Montagem de Carregamentos de pilares (V14.3.53 ) Pg 1
CAD/Pilar FESP 13:07:03
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
DETERMINACAO DOS ESFORCOS FINAIS PARA DIMENSIONAMENTO
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
COMBINACAO DE ESFORCOS DO PORTICO ESPACIAL : 1
COMBINACAO ( 1) = CASO 2 "ELU1/ACIDCOMB/TODAS "
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
PILAR:P1 NUM: 1
LANCE: 1

ESFORCOS CARACTERISTICOS ( Eixos XYZ no Sistema Global )


FZ base MX(topo/base) MY(topo/base)
CASO 1 60.00 171.40 .00
-342.90 .00

ESFORCOS INICIAIS DE CALCULO - ANG = .0 ( Entre eixos X,x )


---- Eixos XYZ Global ---- / ---- Eixos xyz Local -----------------
COMB FICt Z MIC X MIC Y FICt z MIC x Alfbx MIC y Alfby COMB.LOC M1dminx M1dminy
( 1) 84.0 240.0 .0 84.0 240.0 .0 TOPO
( 1) 84.0 -192.1 .0 84.0 -192.1 .0 MEIO 189.0 289.8
( 1) 84.0 -480.1 .0 84.0 -480.1 .400 .0 1.000 BASE

VALORES OBTIDOS NA DETERMINACAO DOS CARREGAMENTOS


CARR. COMB e.Inicx e.Mminx e.1.x e.2.x e.Totx le lambda1 lambda gamaN Nd C.M2Ord
...
CARR. COMB e.Inicy e.Mminy e.1.y e.2.y e.Toty le lambda1 lambda gamaN Nd C.M2Ord
1 ( 1) 2.86 2.25 2.86 .00 2.86 640.0 .0 .0 1.000 84.00
2 ( 1) -2.29 2.25 -2.29 -8.19 -10.48 640.0 65.3 88.7 1.000 84.00 CurvApr
3 ( 1) -5.71 2.25 -5.71 .00 -5.71 640.0 .0 .0 1.000 84.00

CARREGAMENTOS DE ESFORCOS FINAIS DE CALCULO ANTES DA ENVOLTORIA


CARR 1 2 3
FdzT 84.0 84.0 84.0
MdxT 240.0 -880.2 -480.1
MdyT 289.8 289.8 289.8

CARREGAMENTOS DE ESFORCOS FINAIS DE CALCULO PARA DIMENSIONAMENTO APOS A ENVOLTORIA


CARR 1 2
FdzT 84.0 84.0
MdxT 240.0 -880.2
MdyT 289.8 289.8
COMB ( 1 ) ( 1 )
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

103
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

PILAR-PADRÃO COM  APROXIMADA


Aplicabilidade
O método do pilar-padrão com rigidez  aproximada pode ser adotado na análise de pilares
retangulares com ≤ 90, com armadura simétrica e constante ao longo de seu eixo.

Não-linearidade geométrica
Admite-se que a deformação da barra seja senoidal (pilar-padrão).

Não-linearidade física
A não-linearidade física no lance do pilar é considerada por meio de uma expressão
aproximada para rigidez, cuja dedução foi obtida durante a tese de doutoramento do prof.
Ricardo França.
O valor da rigidez é tomado de forma adimensional e é denominado de rigidez  (“kapa”).

Formulação
Assim como o método do pilar-padrão com 1/r aproximada, a formulação do pilar-padrão
com  aproximada é simples e possibilita o cálculo manual.
Segundo a formulação apresentada na NBR 6118:2003, o cálculo do momento total máximo
MSd,tot deve ser realizado de forma iterativa em função da rigidez adimensional , de acordo
com as seguintes fórmulas:
 b .M S1d , A
M Sd ,tot 
2
1
120. /
 M Sd ,tot 
  32.1  5. .
 h.N Sd 

O momento de 2ª ordem é calculado por uma amplificação da 1ª (b.MS1d,A).


Note que não é necessário conhecer previamente a armadura do pilar para aplicar as
fórmulas acima.
Essa formulação foi inteiramente definida pelo Profº Ricardo França na sua tese de
doutoramento “Contribuição ao estudo dos efeitos de segunda ordem em pilares de
concreto armado”.

PP com 1/r aproximada X PP com rigidez  aproximada

Aparentemente, a formulação acima é bastante distinta da formulação do método do pilar-


padrão com 1/r aproximada. No entanto, a única diferença se concentra na consideração na
não-linearidade física, ora adotando um valor aproximado para 1/r, ora um valor
aproximado para rigidez ().
104
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Veremos, mais adiante, que para valores equivalentes de 1/r e rigidez, o resultado final
(MSd,tot) é o mesmo, comprovando que a aproximação pela curva senoidal (pilar-padrão) é
similar em ambos os métodos.

EXEMPLO 8
Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método do pilar-padrão com rigidez  aproximada e
dimensionar a armadura para o pilar a seguir.

Depois, recalcular e analisar o mesmo no sistema computacional (TQS), adotando o método


do pilar-padrão com rigidez  aproximada.

105
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

106
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Cálculo direto sem a necessidade de iterações


Conforme já observado, a formulação do método do pilar-padrão com rigidez  aproximada
presente na NBR 6118:2003 prevê um processo iterativo, pois a fórmula do M Sd,tot depende
de , que por sua vez possui uma expressão dependente de MSd,tot.
Embora a convergência do método não seja demasiadamente trabalhosa, necessitando
normalmente de até 3 ou 4 iterações, pode-se também utilizar uma formulação que evita o
processo iterativo.
 M Sd ,tot   .M
Substituindo a equação   32.1  5. . em M Sd ,tot  b S12d , A
 h.N Sd  
1
120. /
e considerando M S1d   b .M S1d , A , obtém-se:

 A  5.h
 N .l 2
,tot  B.M Sd ,tot  C  0 , onde:  B  h 2 .N Sd  Sd e  5.h.M S1d
2
A.M Sd
 320
C   N Sd .h 2 .M S1d

 B  B 2  4. A.C
M Sd ,tot 
2. A
sendo: h a altura da seção na direção analisada, le o comprimento equivalente do lance do
pilar, NSd a força normal solicitante com seu valor de cálculo e MS1d o momento solicitante
de 1ª ordem na seção considerada com o seu valor de cálculo.

107
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A formulação que possibilita o cálculo direto sem a necessidade de iterações que acaba de
ser apresentada gera, obviamente, resultados compatíveis com o processo iterativo.

EXEMPLO 9
Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método do pilar-padrão com rigidez  aproximada
(formulação direta) e dimensionar a armadura para o pilar a seguir.

Depois, efetuar e analisar o cálculo no sistema computacional.

108
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

109
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
T Q S INFORMATICA LTDA PartPL - Montagem de Carregamentos de pilares (V14.3.53 ) Pg 1
CAD/Pilar FESP 13:07:03
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
DETERMINACAO DOS ESFORCOS FINAIS PARA DIMENSIONAMENTO
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
COMBINACAO DE ESFORCOS DO PORTICO ESPACIAL : 1
COMBINACAO ( 1) = CASO 2 "ELU1/ACIDCOMB/TODAS "
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
PILAR:P1 NUM: 1
LANCE: 1

ESFORCOS CARACTERISTICOS ( Eixos XYZ no Sistema Global )


FZ base MX(topo/base) MY(topo/base)
CASO 1 60.00 171.40 .00
-342.90 .00

ESFORCOS INICIAIS DE CALCULO - ANG = .0 ( Entre eixos X,x )


---- Eixos XYZ Global ---- / ---- Eixos xyz Local -----------------
COMB FICt Z MIC X MIC Y FICt z MIC x Alfbx MIC y Alfby COMB.LOC M1dminx M1dminy
( 1) 84.0 240.0 .0 84.0 240.0 .0 TOPO
( 1) 84.0 -192.1 .0 84.0 -192.1 .0 MEIO 189.0 289.8
( 1) 84.0 -480.1 .0 84.0 -480.1 .400 .0 1.000 BASE

VALORES OBTIDOS NA DETERMINACAO DOS CARREGAMENTOS


CARR. COMB e.Inicx e.Mminx e.1.x e.2.x e.Totx le lambda1 lambda gamaN Nd C.M2Ord
...
CARR. COMB e.Inicy e.Mminy e.1.y e.2.y e.Toty le lambda1 lambda gamaN Nd C.M2Ord
1 ( 1) 2.86 2.25 2.86 .00 2.86 640.0 .0 .0 1.000 84.00
2 ( 1) -2.29 2.25 -2.29 -6.54 -8.82 640.0 65.3 88.7 1.000 84.00 KapaApr
3 ( 1) -5.71 2.25 -5.71 .00 -5.71 640.0 .0 .0 1.000 84.00

CARREGAMENTOS DE ESFORCOS FINAIS DE CALCULO ANTES DA ENVOLTORIA


CARR 1 2 3
FdzT 84.0 84.0 84.0
MdxT 240.0 -741.0 -480.1
MdyT 289.8 289.8 289.8

CARREGAMENTOS DE ESFORCOS FINAIS DE CALCULO PARA DIMENSIONAMENTO APOS A ENVOLTORIA


CARR 1 2
FdzT 84.0 84.0
MdxT 240.0 -741.0
MdyT 289.8 289.8
COMB ( 1 ) ( 1 )
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

111
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

DIAGRAMA N, M, 1/R (NBR 6118:2003)


Durante a revisão sobre o comportamento não-linear das estruturas de concreto armado, foi
demonstrado que o principal efeito da não-linearidade física pode ser considerado por meio
das relações N, M, 1/r, nas quais é possível extrair a rigidez EI necessária para análise.
A seguir, vamos estudar com maiores detalhes o diagrama N, M, 1/r proposto na NBR
6118:2003, que serve como base para aplicação de processos mais refinados no cálculo de
pilares (pilar-padrão acoplado a diagramas e método geral).
No item 15.3 da NBR 6118:2003, tem-se:
“A não-linearidade física, presente nas estruturas de concreto armado, deve ser obrigatoriamente
considerada.”
No item 15.3.1 da NBR 6118:2003, tem-se:
“O principal efeito da não-linearidade pode, em geral, ser considerado através da construção da
relação momento-curvatura para cada seção, com armadura suposta conhecida, e para o valor da
força normal atuante.”

“Pode ser considerada também a formulação de segurança em que se calculam os efeitos de 2ª ordem
das cargas majoradas de f/f3, que posteriormente são majorados de f3, com f3 = 1,1, ...”
Espera-se que, com as informações transmitidas anteriormente, essas afirmações estejam
bem claras. Já vimos que a não-linearidade física pode ser analisada com o uso do diagrama
N, M, 1/r, bem como a influência da força normal e da armadura na montagem do mesmo.
Estudamos também a influência do f3 no comportamento de uma estrutura.

Tensão de pico igual a 1,1.fcd


Faltam mais alguns poucos detalhes para compreendermos plenamente o diagrama da
norma. No item 15.3 da NBR 6118:2003, tem-se:
“A deformabilidade dos elementos deve ser calculada com base nos diagramas tensão-deformação
dos materiais. A tensão de pico do concreto deve ser igual a 1,1.fcd, ...”
A tensão de pico do concreto foi elevada em 30% em relação ao 0,85.fcd (0,85 * 1,3 ≈ 1,1) de
tal forma a uniformizar a condição das seções ao longo de todo lance de um pilar no Estado
Limite Último (ELU). Imaginar que, no momento da perda de estabilidade, será atingido o
esgotamento da capacidade de todas as seções simultaneamente seria um tanto exagerado.
Portanto, exclusivamente para avaliar a deformabilidade de um lance pilar, que terá
influência direta no cálculo dos efeitos de 2ª ordem, deve-se utilizar 1,1.fcd.

Objetivo do diagrama
O diagrama N, M, 1/r proposto pela NBR 6118:2003 é mostrado a seguir:

112
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Em primeiro lugar, é importante deixar bem claro o seguinte: o objetivo principal é


extrairmos desse diagrama uma rigidez que permita fazer a análise dos efeitos de 2ª ordem
em um pilar de tal forma que a não-linearidade física seja bem retratada.

Curva com 0,85.fcd

A curva com o tradicional


0,85.fcd somente serve para
definir o momento
resistente último de cálculo
(MRd) no Estado Limite
Último (ELU), e não para
extrair a rigidez EI. Essa
curva deve ser montada
fixando-se um força normal
atuante igual à NSd.

Curva com 1,1.fcd

Esta, sim, é a curva na qual


deve ser extraída a rigidez EI
para consideração da
deformabilidade do pilar.

113
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Na realidade, a curva montada com uma tensão de pico igual a 1,1.f cd atinge um patamar
acima do MRd calculado com 0,85.fcd, conforme mostra a figura a seguir.

Porém, de ponto de vista prático, tudo que está acima de M Rd não tem validade real, pois
está além da resistência admitida pela seção no ELU.
Dessa forma, principalmente com o intuito de otimizar o tempo de processamento, em
geral, os sistemas computacionais apenas utilizam a curva com 1,1.f cd até o ponto B que
define a rigidez que se deseja calcular.

Linearização – Reta AB
Na curva com 1,1.fcd, a rigidez EI varia de acordo com a magnitude do momento fletor (é
uma curva). Ou seja, num lance de pilar, onde há a variação dos esforços entre o seu topo e
a sua base, ficam então definidos diferentes níveis de rigidezes.

Correto. Porém, não seria interessante ter uma maneira de obter uma rigidez única que
pudesse se aplicada ao longo de todo lance, a favor da segurança obviamente?
Outra questão: na extração da rigidez EI na curva não deveria ser levado em conta o esforço
concomitante na outra direção y?

114
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A linearização por meio da reta AB responde exatamente essas questões, pois ela define
uma rigidez constante EIsec que pode ser utilizada ao longo de todo lance, tanto na análise à
flexão composta normal como na oblíqua (a rigidez pela curva não pode ser utilizada na
flexão composta oblíqua).
Veja, a seguir, um gráfico com várias curvas N, M, 1/r montadas para diversos níveis de
solicitação na direção y. Note que a reta AB sempre fornece uma rigidez EI sec a favor da
segurança (menor), independente da magnitude do esforço na outra direção. Ou seja, as
direções são desacopladas.

A proposta para linearização do diagrama N-M-1/r é explicada com detalhes na tese de


doutoramento do Profº Ricardo França (capítulo 5).

Coeficiente f3
Alternativamente (não é obrigatório), pode-se fazer o uso do coeficiente f3 = 1,1 na
obtenção da rigidez EIsec. Nesse caso, a curva com 1,1.fcd é montada com uma força normal
igual a NRd/f3, e o esforço para definição da reta deve ser igual MRd/f3.

A rigidez EI é calculada no ponto B (MRd/1,1), pois com a aplicação de NRd/1,1 jamais se


atingirá o MRd na sua totalidade.
Vale lembrar que a adoção de f3 = 1,0, que também é válida, leva a uma rigidez menor (a
favor da segurança) que a obtida com f3 = 1,1.

115
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Seção não-padrão
A obtenção da rigidez EIsec por meio da linearização do diagrama N, M, 1/r já foi amplamente
testada e validada para seção retangular com armadura simétrica. Nos demais casos, deve-
se ter precaução.
Veja, a seguir, como fica o diagrama N, M, 1/r para uma seção com formato em “L”, segundo
seu eixo principal de menor inércia. Note que há diferentes rigidezes secantes EIsec para cada
sentido da solicitação.

Nesse caso, qual rigidez deve ser adotada na análise da deformabilidade do pilar, 9042,7
tf.m2 ou 10052,2 tf.m2?
Pesquisas atuais estão sendo realizadas para solucionar essa questão. A princípio, enquanto
não se tem uma resposta definitiva, sugere-se tomar o valor a favor da segurança (9042,7
tf.m2).

116
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

PILAR-PADRÃO ACOPLADO A DIAGRAMAS N, M,


1/R
Aplicabilidade
Esse método pode ser empregado apenas para pilares com  ≤ 140.

Não-linearidade geométrica
Admite-se que a deformação da barra seja senoidal (pilar-padrão).

Não-linearidade física
A não-linearidade física é considerada por meio da obtenção da rigidez no diagrama N, M,
1/r proposto pela NBR 6118:2003, conforme mostra a figura a seguir.
Note que há uma relação entre a rigidez secante EIsec e a rigidez adimensional .

Muito embora tenha o mesmo nome da rigidez adimensional calculada no método do pilar-
padrão com rigidez aproximada, essa rigidez  obtida pelo diagrama (rigidez acoplada ao
diagrama N, M, 1/r) é mais precisa. Poderíamos dizer que se trata de uma rigidez “mais
refinada”.

Formulação
O momento total máximo MSd,tot é calculado exatamente pela mesma fórmula do método do
pilar-padrão com rigidez aproximada:
 b .M S1d , A
M Sd ,tot 
2
1
120. /

117
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
No entanto, deve-se ficar bem claro que o valor da rigidez  a ser utilizado na fórmula é o
obtido pelo diagrama normal-momento-curvatura, e não a rigidez  aproximada.
Quando se faz o uso do coeficiente f3, a fórmula para obtenção do momento total fica
assim:
 b .M S1d , A
M Sd ,tot 
2
1
120. f 3 . /

Duas observações muito importantes com relação ao método do pilar-padrão acoplado ao


diagrama N, M, 1/r:
 Trata-se de um método que, na prática, é mais viável com o uso de um computador,
pois como vimos no início deste curso, a montagem do diagrama N, M, 1/r é extremamente
complicada de ser realizada manualmente.

 É necessário que a armadura existente no lance do pilar seja previamente conhecida,


pois não há diagrama N, M, 1/r sem armadura definida! Ou seja, o processo de
dimensionamento é realizado por um processo iterativo de verificações.

NBR 6118:2003
Na NBR 6118:2008, item 15.8.3.3.3, o método do pilar-padrão acoplado a diagramas N, M,
1/r é definido da seguinte forma:
“A determinação dos esforços locais de 2ª ordem em pilares com ≤ 140 pode ser feita pelo
método do pilar-padrão ou pilar-padrão melhorado, utilizando-se para a curvatura da seção
crítica valores obtidos de diagramas N, M, 1/r específicos para o caso.”

118
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 10

Dada a seção ao lado, montar o


diagrama N, M, 1/r nas duas
direções principais e extrair os
valores da rigidez secante EIsec e
.

119
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 11
Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método do pilar-padrão com rigidez  acoplado a
diagramas e dimensionar a armadura para o pilar a seguir.

Depois, efetuar e analisar o cálculo no sistema computacional.

EXEMPLO 12
Calcular curvatura (1/r) na seção crítica correspondente a rigidez extraída do diagrama N, M,
1/r e recalcular Md,tot a partir da expressão Md,tot = b.MA + Nd . (le2/10) . (1/r).

120
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

ÁBACOS , µ, 
Foi apresentado anteriormente como extrair da rigidez secante adimensional  a partir da
construção de diagramas N-M-1/r, segundo o que prescreve a NBR 6118:2003. Comentou-se
também que esse procedimento torna-se viável, na prática, com o uso de computadores.
Alternativamente, o valor da rigidez secante adimensional  pode ser colocado em conjunto
com valores últimos NRd e MRd em ábacos de interação força normal-momento fletor (ou -
), originando ábacos --. O procedimento para a construção desses é explicado com
detalhes na tese de doutoramento do Profº Ricardo França. Resumidamente:
 -Conhecida a seção (b x h), o arranjo de armadura (As, d’/h), os materiais (fck, c, fyk e
s) e a força normal (Nd), monta-se o diagrama N, M, 1/r, conforme a NBR 6118:2003.
Obtém-se assim os valores de MRd, , conforme mostra a figura abaixo.

121
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

 Para o ponto analisado, temos então: =Nd/(Ac.fcd), =.[MRd/(Nd.h)],


=(As.fyd)/(Ac/fcd) e ; o que é representado por um ponto no ábaco --.
 Repetindo o procedimento para diversos pontos, e interpolando para obter valores
intermediários, obtém a curva --, conforme mostra a figura a seguir.

A construção de ábacos -- já foi realizada por vários autores. A Engª Patrícia de A. S.
Oliveira montou inúmeros ábacos para seção retangular variando o tipo de arranjo de
armaduras e o coeficiente de fluência . Um exemplo é apresentado na página seguinte.

122
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

123
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 13

Dada a seção a seguir, montar o


diagrama N, M, 1/r em torno da
direção menos rígida e extrair os
valores da rigidez secante EIsec e
.
Em seguida, comparar com valor
 extraído a partir do ábaco --
.

Diagrama N, M, 1/r montado na calculadora TQS.

124
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

125
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

RESUMO (MÉTODOS APROXIMADOS)


A tabela a seguir apresenta um resumo das principais características de cada um dos
métodos aproximados.

Pilar-padrão com 1/r Pilar-padrão com Pilar-padrão acoplado


aproximada rigidez  aproximada a diagrama N, M, 1/r

Item da NBR
15.8.3.3.2 15.8.3.3.3 15.8.3.3.4
6118
NLG Pilar-padrão Pilar-padrão Pilar-padrão

1 0,005 0,005  M Sd ,tot  EI sec


NLF     32.1  5. . 
r h.(  0,5) h
 h.N Sd  Ac .h 2 . f cd

Esbeltez limite  ≤ 90  ≤ 90  ≤ 140


Cálculo manual Sim Sim Não(*)
Necessita As
Não Não Não(*)
conhecido
(*)
Opcionalmente, podem ser utilizados ábacos --

MÉTODO GERAL
Até o momento, foram apresentados três métodos aproximados para análise dos efeitos
locais de 2ª ordem. Agora, vamos estudar um processo mais abrangente e sofisticado,
usualmente chamado de Método Geral.

NBR 6118:2003
O método geral é definido na NBR 6118:2003, item 15.8.3.2, por apenas uma única frase:
“Consiste na análise não-linear de 2a. ordem efetuada com discretização adequada da barra,
consideração da relação momento-curvatura real em cada seção, e consideração da não-
linearidade geométrica de maneira não aproximada.”
Nesse item, não existe nenhuma formulação definida, e muito menos uma descrição
detalhada de como aplicar o método. Somente existe a definição acima, e nada mais.
Dessa frase, podemos extrair as seguintes informações principais:

126
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Aplicabilidade
O método geral pode ser empregado apenas para pilares com  ≤ 200 e é obrigatório para
pilares com  > 140. Acima desse último limite (140), não se pode aplicar nenhum dos
processos aproximados estudados anteriormente.

Não-linearidade geométrica
As deformações ao longo lance do pilar devem ser analisadas por processo refinado. Não se
pode adotar a aproximação por uma curva senoidal (pilar-padrão).

Existem diferentes maneiras para considerar a não-linearidade geométrica de forma


refinada. Uma primeira alternativa é a partir do diagrama de momentos fletores no lance do
pilar, obter as curvaturas (1/r) por meio da rigidez EI, as rotações () e deslocamentos (d) por
meio de integrações sucessivas, e depois, com esses incrementar os momentos de 2ª ordem
nos esforços originais. Esse cálculo é repetido inúmeras vezes até o acréscimo de esforços ou
deslocamentos tender a zero.
Uma outra forma de tratar o problema é utilizar modelos numéricos que possibilitem a
análise em 2ª ordem (equilíbrio na posição deformada), como por exemplo, o cálculo de um
pórtico espacial por meio de uma análise P-.
Seja qual for o processo empregado, a informação principal que se busca é a posição final de
equilíbrio do lance do pilar, de tal forma a definir a magnitude total dos efeitos locais de 2ª
ordem.

127
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A busca dessa posição de equilíbrio é sempre iterativa. E, por isso, é fundamental que sejam
consideradas tolerâncias que controlem a convergência dos processos de forma eficiente e
segura. Usualmente, esses valores são definidos em “deltas máximos de deslocamentos ou
esforços”.

Instabilidade local
Ao empregar um processo aproximado (pilar-padrão com 1/r aproximada, pilar-padrão com
 aproximada, pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r), a única resposta final que temos
é se o lance de pilar passa ou não em relação à resistência última da seção crítica (ruptura).
Já, no método geral, além dessa informação (ruptura da seção crítica), pode-se flagrar se o
lance é estável ou instável, pois a busca pela posição de equilíbrio do mesmo é iterativa.

128
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Ao adotar o método geral no cálculo de um pilar


demasiadamente esbelto, por exemplo, pode-se se
chegar numa situação de instabilidade quando o número
máximo de iterações definido na análise é alcançado.
Nesse caso, o processo não converge pois os acréscimos
de deslocamentos a cada iteração são superiores à
tolerância adotada. Esse resultado independe do nível de
solicitação da seção crítica em relação à sua resistência.

Não-linearidade física
A não-linearidade física é considerada por meio da obtenção da rigidez no diagrama N, M,
1/r. Essa rigidez pode ser definida das seguintes formas:
 Pela rigidez secante EIsec obtida pela linearização do diagrama (reta), e que pode ser
estendida para todas as seções do lance. É a forma mais recomendável de se obter a rigidez,
pois está a favor de segurança bem como facilita a análise (desacoplamento das duas
direções).

 Pela rigidez secante EI obtida pela curva para cada seção do lance de acordo com a
sua solicitação atuante. Trata-se de um procedimento válido somente para casos de flexão
composta normal.

129
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

 Pela rigidez secante oblíqua em que considerem simultaneamente os esforços


solicitantes em ambas as direções dos pilares.

Discretização adequada

No método geral, é fundamental que


o lance do pilar seja discretizado
adequadamente, de tal forma a
obter as respostas em várias seções.

130
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Ao contrário dos processos aproximados em que a definição da seção crítica entre o topo e a
base do lance do pilar era realizada de forma simplificada pelo coeficiente b, no método
geral essa seção é definida de forma bem mais realista.
Em lances de pilares de edifícios usuais, a discretização em 10 trechos é suficiente.

Coeficiente f3
Pode ser considerada a formulação de segurança em que se calculam os efeitos de 2ª ordem
das cargas majoradas de f/f3, que posteriormente são majorados de f3.

131
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Processo de verificação
O método geral é essencialmente um processo de verificação, pois é necessário conhecer
previamente a armadura ao longo do lance do pilar para calcular os esforços de 2ª ordem.
Dessa forma, assim como no método do pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r, o
processo de dimensionamento pelo método geral é iterativo. Define-se uma armadura e
analisa-se o pilar sucessivamente, até a obtenção de uma armadura necessária.

Cálculo manual
Calcular manualmente um lance de pilar pelo método geral é inviável, visto que é necessário
considerar tanto a não-linearidade física como a geométrica de forma refinada. Na prática, o
emprego do método geral somente é realizado com o uso de um computador.
Cabe ao Engenheiro de Estruturas conhecer a teoria que envolve o método, de tal forma a
poder interpretar os resultados obtidos de forma segura.

Esbeltez acima de 140


Devido ao fato de que pilares de edifícios de concreto armado com esbeltez superior a 140
ainda tenham sido pouco estudados com o uso do método geral, recomenda-se o uso de um
coeficiente ponderador de esforços adicional (n), cujo valor pode ser entre 1,2 a 1,4.

EXEMPLO 14
Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método geral e dimensionar a armadura para o pilar a
seguir.

Foi utilizado o sistema TQS para resolver o problema.


O diagrama N, M, 1/r adotado para definição da rigidez secante é mostrado na figura a
seguir.

132
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

O resultado final após 12 iterações foi o seguinte:

133
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 15
Nesse exemplo, vamos analisar um pilar engastado na base submetido a uma flexão
composta normal, que é objeto de estudo durante o curso do PECE-USP.
Inicialmente, iremos adotar f3 = 1,0 e rigidez EIsec pela reta. Depois, analisaremos os
resultados com f3 = 1,1. Finalmente, veremos o cálculo com a rigidez EI obtida pela curva
(válida apenas para casos de flexão composta normal).

A. Dados

Além da força normal de compressão, o pilar está submetido a uma força horizontal e um
momento fletor no topo segundo a sua direção menos rígida, de tal forma que os esforços
de primeira ordem são:

Para montar o diagrama N, M, 1/r, é preciso predefinir uma


configuração de armadura. Como exemplo, vamos adotar 8 
16 mm.

134
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
B. Cálculos iniciais
12.(2.3,5)
  93,3
0,26
M A  2,0 ; M C  1,3

1,3
 b  0,8  0,2.  0,93
2,0
 2,0 / 79,8 
25  12,5. 
1   0,26 
 28,2  1  35
0,93
Como  > 1, é necessário calcular os efeitos de 2ª ordem.
Como  > 90, é obrigatório o uso do método geral.
Não verificaremos o M1d,mín com o intuito de focar apenas a análise dos efeitos locais de 2ª
ordem. Essa verificação é obrigatória no caso de dimensionamento.

C. Análise com f3 = 1,0 e EIsec pela reta


O diagrama N, M, 1/r (calculado por computador) com NSd = 79,8 tf e 8  16 mm é
apresentado a seguir.

O momento resistente último da seção (MRd) é 7,1 tf.m e a rigidez secante pela reta é igual a
532,5 tf.m2.
Veja, a seguir, os deslocamentos e momentos fletores resultantes ao longo do pilar.

135
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Note que o esforço final na base atinge a resistência última do pilar.

D. Análise com f3 = 1,1 e EIsec pela reta


O diagrama N, M, 1/r (calculado por computador) com NSd = 79,8 tf e 8  16 mm é
apresentado a seguir.

O momento resistente último da seção (MRd) continua o mesmo 7,1 tf.m (como era
esperado) e a rigidez secante pela reta aumentou para 567,8 tf.m2.

136
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Como a análise em 2ª ordem é feita com NSd / 1,1 (que posteriormente é majorado por 1,1),
bem como uma rigidez maior, os deslocamentos são menores.

Consequentemente, os momentos fletores finais também diminuem, conforme mostra a


figura a seguir.

E. Análise com f3 = 1,1 e EIsec pela curva


Nesse caso, a rigidez adotada ao longo do lance do pilar é variável de acordo com a
solicitação em cada trecho. Note que as rigidezes obtidas pela curva são maiores.

137
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Devido ao aumento de rigidez ao longo de todo o lance, os deslocamentos e os esforços
finais diminuem bastante.

F. Conclusões
Resumindo os resultados numa tabela, temos:

f3 Rigidez EI MSd,tot (base)

1,0 Reta (532,5 tf.m2) 7,1 tf.m

1,1 Reta (567,8 tf.m2) 5,5 tf.m

1,1 Curva (entre 780 e 840 tf.m2) 4,2 tf.m


Nesse exemplo, o coeficiente f3 e o modo como a rigidez foi calculada (reta ou curva) foram
significativos nos resultados.

138
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Perceba que os valores obtidos pela curva, nesse exemplo, são bem superiores aos da reta.
Veja, a seguir, como a rigidez em cada seção é calculada utilizando a curva.

Trata-se de uma forma bastante refinada de definir a rigidez ao longo de um pilar, pois cada
trecho possui um EI de acordo com a sua solicitação.
É importante lembrar, no entanto, que essa metodologia somente é válida para casos de
flexão composta normal, visto que os esforços na outra direção são ignorados. Mais adiante,
veremos como obter a rigidez EI oblíqua real.

139
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 16
Agora, vamos verificar um pilar utilizando todos os métodos definidos na NBR 6118:2003. No
caso do método geral, vamos variar o coeficiente f3, ora com um valor de 1,0 ora com um
valor de 1,1, e o modo de como a rigidez é extraída do diagrama N, M, 1/r, ora pela reta, ora
pela curva.

Dada a armadura constante no lance de 12  20 mm (d’


= 4,5 cm), o pilar passa ou não passa?

Trata-se, também, de um exemplo estudado no curso do PECE-USP.

A. Cálculos iniciais
12.7,5
  74,2
0,35
M A  10,5 ; M B  2,0
 2,0
 b  0,6  0,4.  0,524
10,5

140
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 10,5 / 320 
25  12,5. 
1   0,35 
 50
0,524
Como  > 1, é necessário calcular os efeitos locais de 2ª ordem.
Como  < 90, pode-se adotar qualquer um dos métodos aproximados bem como o método
geral.
Não verificaremos o M1d,mín com o intuito de focar apenas a análise dos efeitos locais de 2ª
ordem. Essa verificação é obrigatória no caso de dimensionamento.

B. Pilar-padrão com curvatura aproximada


320
  0,985
0,35.0,65. 2000
1,4
1 0,005 0,005 1
 0,00962   0,014   0,00962
r 0,35.0,985  0,5 0,35 r

7,5 2
M Sd ,tot  0,524.10,5  320. .0,0962  22,8tf .m
10

C. Pilar-padrão com  aproximada


A  5.b  5.0,35  1,75

N Sd .l e2 320.7,5 2
B  b 2 .N Sd   5.b.M S1d  0,35 2.320   5.0,35.0,524.10,5  26,675
320 320
C   N Sd .b 2 .M S1d  320.0,35 2.0,524.10,5  215,6

 B  B 2  4. A.C 26,675   26,675 2  4.1,75.  215,6


M Sd ,tot    21,1tf .m
2. A 2.1,75
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:

141
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 21,1 
  32.1  5. .0,985  61,2
 0,35.320 
0,524.10,5
M Sd ,tot   21,1  OK!
74,2 2
1
120.61,2 / 0,985

D. Pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r


O diagrama N, M, 1/r para a armadura adotada, NSd = 320 tf e f3 = 1,0 é apresentado a
seguir.

Note que:
 O momento resistente último MRd na direção analisada é de 14,8 tf.m.
 A rigidez  obtida pelo diagrama (78,6) é bem maior que a rigidez  aproximada
(61,2).
O momento total aplicando a rigidez  obtida pelo normal-diagrama momento-curvatura é:
0,524.10,5
M Sd ,tot   12,9tf .m
74,2 2
1
120.78,6 / 0,985
142
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Esse esforço é bem menor que os valores obtidos anteriormente (22,8 tf para pilar-padrão
com 1/r aproximada e 21,1 para pilar-padrão com rigidez  aproximada).

Resolvendo o exemplo com o ábaco apresentado na página 117, temos:

143
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
E. Método geral
O diagrama N, M, 1/r para é o mesmo utilizado anteriormente no método do pilar-padrão
acoplado a diagrama.

Adotando-se uma tolerância máxima de deslocamentos relativos de 0,1 mm e um número


máximo de iterações igual a 20, chegaremos ao seguinte resultado final.

Note que o momento fletor total na seção crítica (13,3 tf) é maior que o valor obtido pelo
método do pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r (12,9 tf.m).
Lembrando que para a armadura adotada, tem MRd = 14,8 tf.m.

144
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Note que:
 Quando comparado com o processo mais preciso (método geral), o método do pilar-
padrão com 1/r aproximada superestimou os efeitos locais de 2ª ordem (+71%).
 Quando comparado com o processo mais preciso (método geral), o método do pilar-
padrão com rigidez  aproximada superestimou os efeitos locais de 2ª ordem (+59%).
 Em relação ao processo mais preciso (método geral), o método do pilar-padrão
acoplado a diagrama N, M, 1/r teve um resultado bem próximo (-3%).

F. Método geral com f3 = 1,1


O diagrama N, M, 1/r (calculado por computador) com NSd = 320 tf e 12  20 mm é
apresentado a seguir.

O momento resistente último da seção (MRd) continua o mesmo 14,8 tf.m (como era
esperado) e a rigidez secante pela reta aumentou para 3359,0 tf.m2.
Como a análise em 2ª ordem é feita com NSd / 1,1 (que posteriormente é majorado por 1,1),
bem como uma rigidez maior, os deslocamentos são menores.
Consequentemente, os momentos fletores finais também diminuem, conforme mostra a
figura a seguir.

145
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

G. Método geral pela curva


Nesse caso, a rigidez adotada ao longo do lance do pilar é variável de acordo com a
solicitação em cada trecho. Note que as rigidezes obtidas pela curva são praticamente as
mesmas da reta, pois a curva quase coincide com a reta.

E, portanto, nesse caso, os resultados variam muito pouco (como era de se esperar).

146
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
H. Conclusões
Resumindo os resultados numa tabela, temos:

Método f3 Rigidez EI MSd,tot Passa

Pilar-padrão com 1/r 22,8


1,0 Aprox. (2370 tf.m2) Não
aproximada tf.m

Pilar-padrão com  21,1


1,0 Aprox. (2437 tf.m2) Não
aproximada tf.m

Pilar-padrão acoplado a N, M, 12,9


1,0 Reta (3130 tf.m2) Sim
1/r tf.m

13,3
Método geral 1,0 Reta (3130 tf.m2) Sim
tf.m

12,1
Método geral 1,1 Reta (3359 tf.m2) Sim
tf.m

Curva (entre 3340 e 3386 11,9


Método geral 1,1 Sim
tf.m2) tf.m

Note que:
 A maneira como a não-linearidade física é tratada é significativa no resultado final. As
rigidezes aproximadas geram valores finais com uma boa margem de segurança.
 A maneira como a não-linearidade geométrica é tratada (pilar-padrão X processo
não-aproximado) não trouxe grandes diferenças nos resultados.

RESUMO GERAL
Até o momento, estudamos com relativa profundidade todos os processos presentes na NBR
6118:2003 para análise dos efeitos locais de 2ª ordem. Por meio de exemplos, foi possível
perceber as particularidades cada método e conhecer um pouco das suas vantagens e
desvantagens.
O gráfico a seguir faz um resumo geral quanto à aplicabilidade dos métodos em função do
índice de esbeltez do pilar.

147
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

No gráfico anterior, a palavra “qualquer” deve ser encarada com certa precaução, pois há
casos em que o seu campo de aplicação ainda não foi devidamente testado e comprovado,
sendo necessário estudos mais aprofundados para se ter uma resposta mais precisa e
definitiva.
O próprio Método Geral que é mais abrangente, por exemplo, necessita de mais testes para
que seja comprovada a sua validade para todo e qualquer tipo de pilar (ex.: pilares de seção
genérica com índice de esbeltez acima de 140).
Enquanto não se tem uma resposta definitiva para todos os casos, é sempre conveniente
durante a elaboração de um projeto estrutural, cercar-se de soluções que levem a uma
estrutura mais segura, principalmente em situações “que fogem do trivial”.

FLEXÃO COMPOSTA OBLÍQUA


Na vida real, todo pilar, seja ele de canto, de extremidade ou intermediário, está submetido
a uma força normal de compressão e a momentos fletores concomitantes nas duas direções,
ou seja, a uma flexão composta oblíqua.
Há certos casos em que a aproximação para uma flexão composta normal é possível e
defensável, principalmente quando se quer resolver um problema de forma manual, sem o
auxílio de um computador.

148
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Nos sistemas computacionais atuais destinados à elaboração de projetos de estruturas de
concreto armado, todo lance de pilar é analisado nas duas direções. Mesmo que os
momentos fletores em uma delas sejam pequenos, o pilar é dimensionado levando em
consideração a existência dos mesmos.
Porém, é importante deixar claro que o que se faz hoje, na prática, é analisar o pilar nas duas
direções separadamente, calculando os efeitos de 2ª ordem e das imperfeições geométricas
de forma isolada, e depois ao final, fazer a composição dos esforços obtidos para o
dimensionamento das armaduras. Isto é, nada mais é do que duas flexões compostas
normais que se juntam no fim. Podemos dizer então que se trata de uma análise oblíqua
“simplificada”.

A figura anterior representa bem o que foi colocado. Os esforços são calculados nas direções
y e z de forma independente (um não influi na resposta do outro), e depois são acoplados
durante o dimensionamento.
Esse tipo de procedimento, que na realidade é uma simplificação da análise oblíqua
verdadeira, é bastante eficiente desde que certas precauções sejam consideradas, e também
é permitido pela norma de concreto atual.

NBR 6118:2003
No item 15.8.3.3.5 da NBR 6118:2003, tem-se:
“Quando a esbeltez de um pilar de seção retangular submetido à flexão composta normal
oblíqua for menor que 90 ( < 90) nas duas direções principais, pode ser aplicado o processo
descrito em 15.8.3.3.3 simultaneamente em cada uma das direções.”
“A amplificação dos momentos de 1ª ordem em cada direção é diferente, pois depende de
valores distintos de rigidez e esbeltez.”
“Uma vez obtida a distribuição de momentos totais de 1ª e 2ª ordens, em cada direção, deve
ser verificada, para cada seção ao longo do eixo, se a composição desses momentos
solicitantes fica dentro da envoltória de momentos resistentes para a armadura escolhida.
Essa verificação pode ser realizada em apenas três seções: nas extremidades A e B e num
ponto intermediário onde se admite atuar concomitantemente os momentos M d,tot nas duas
direções (x e y).”

149
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
É possível perceber que a atual norma de concreto permite, com restrições, adotar a flexão
composta oblíqua “simplificada” utilizando o método do pilar-padrão com rigidez 
aproximada.
A seguir, serão estudados alguns exemplos aplicando esse tipo de procedimento. No final
deste capítulo, será feita uma breve discussão a respeito da análise à flexão composta
oblíqua mais precisa.

EXEMPLO 17
Trata-se de um exemplo presente na publicação do Ibracon “Comentários da NB-1”, cujos
dados são fornecidos a seguir.

A. Cálculos iniciais
b  20cm e h  60cm
le 300
x  12.  12.  17,3
h 60
le 300
 y  12.  12.  52,0
b 20
 Segundo o item 13.2.3, o coeficiente adicional n=1,0.
 Segundo o item 15.8.3.3.3, pode-se adotar o método do pilar-padrão com rigidez 
aproximada.
 Segundo o item 15.8.3.1, não é necessário considerar a fluência.

A.1 Cálculo em x
M S1dx, A  7,0tf .m (70kN.m)

M S1dx, B  4,0tf .m (-40kN.m)

M S1dx, B 4
 bx  0,6  0,4.  0,6  0,4.  0,37  0,4   bx  0,4
M S1dx, A 7

150
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
e   M S1dx, A / N Sd   7 / 210 
25  12,5. 1x  25  12,5.  25  12,5. 
1x   h   h   0,6   64,2
 bx  bx 0,4

A.2 Cálculo em y
M S1dy, A  6,0tf .m (60kN.m)

M S1dy, B  5,0tf .m (-50kN.m)

M S1dy, B 5
 by  0,6  0,4.  0,6  0,4.  0,27  0,4   by  0,4
M S1dy, A 6

 e1 y  M 
 25  12,5. 6 / 210 
/ N Sd
25  12,5.  25  12,5. S1dy, A
1 y   b   b   0,2   67,0
 by  by 0,4

B. Cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem


Como  x  17,3  1x  64,2 e  y  52,0  1 y  67,0 , não é necessário calcular os efeitos
locais de 2ª ordem em nenhuma das direções.

C. Esforços finais para dimensionamento


A armadura longitudinal do pilar deverá ser dimensionada de modo que a sua resistência
( N Rd , M Rdx , M Rdy ) atenda as condições de solicitação listadas a seguir. Os valores dos
esforços adimensionais ( ,  x ,  y ) apresentados podem ser utilizados em ábacos para o
dimensionamento desta armadura.

C.1 Flexão oblíqua no topo do pilar


N Sd  210tf (2.100kN)   0,817
M Sdx  7,0tf .m (70kN.m)   x  0,0454
M Sdy  5,0tf .m (50kN.m)   y  0,0972

C.3 Flexão oblíqua na base do pilar


N Sd  210tf (2.100kN)   0,817
M Sdx  4,0tf .m (-40kN.m)   x  0,0259
M Sdy  6,0tf .m (-60kN.m)   y  0,1167

151
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
D. Dimensionamento de armadura
Considerando um cobrimento igual a 30mm e uma armadura transversal com diâmetro de
6,3mm, obtém-se uma possível configuração de armadura longitudinal composta por 10
barras de 20mm (As = 31,4cm2), aço CA50, na qual todas as condições de solicitação são
atendidas, conforme mostra figura a seguir:

Utilizando um Método Geral, no qual considera-se a relação momento-curvatura real em


diversas seções ao longo do pilar e a não-linearidade geométrica de forma não aproximada,
obtém-se a seguinte resposta:

152
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 18
Trata-se do mesmo lance de pilar analisado anteriormente, porém com o diagrama de
momentos fletores em torno da direção menos rígida alterado.

A. Cálculos iniciais
A.1 Cálculo em x
M S1dx, A  7,0tf .m

M S1dx, B  4,0tf .m

M S1dx, B 4
 bx  0,6  0,4.  0,6  0,4.  0,37  0,4   bx  0,4
M S1dx, A 7

e   M S1dx, A / N Sd   7 / 210 
25  12,5. 1x  25  12,5.  25  12,5. 
1x   h   h   0,6   64,2
 bx  bx 0,4

A.2 Cálculo em y
M S1dy, A  6,0tf .m

M S1dy, B  0,0tf .m

M S1dy, B 0
 by  0,6  0,4.  0,6  0,4.  0,6
M S1dy, A 6

 e1 y  M 
 25  12,5. 6 / 210 
/ N Sd
25  12,5.  25  12,5. S1dy, A
1 y   b   b   0,2   44,6
 by  by 0,6

153
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
B. Cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem
Embora o índice de esbeltez limite tenha sido ultrapassado apenas em uma direção, isto é,
 x  17,3  1x  64,2 e  y  52,0  1 y  44,6 , vamos calcular os efeitos locais de 2ª ordem
tanto em x como em y.

B.1 Flexão oblíqua entre o topo e a base do pilar


a) Cálculo em x

Utilizando a formulação direta do método do pilar-padrão com rigidez  aproximada, tem-


se:
M S1dx   bx .M S1dx, A  0,4.7,0  2,8tf .m
A  5.h  5.0,6  3,0

N Sd .l e2 210.32
B  h 2 .N Sd   5.h.M S1dx  0,6 2.210   5.0,6.2,8  61,3
320 320
C   N Sd .h 2 .M S1dx  210.0,6 2.2,8  211,7

 B  B 2  4. A.C  61,3  61,32  4.3,0.  211,7


M Sdx,tot    3,01tf .m
2. A 2.3,0
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:
 M Sdx,tot   3,01 
 x  32.1  5. .  32.1  5. .0,817  29,3
 h.N Sd   0,6.210 

M S1dx 2,8
M Sdx,tot    3,0  OK!
 2
17,3 2
1 x
1
120. x / 120.29,3 / 0,817

b) Cálculo em y

M S1dy   by .M S1dy, A  0,6.6,0  3,6tf .m

A  5.b  5.0,2  1,0


N Sd .le2 210.32
B  b 2 .N Sd   5.b.M S1dy  0,2 2.210   5.0,2.3,6  1,1
320 320
C   N Sd .b 2 .M S1dy  210.0,2 2.3,6  30,2

 B  B 2  4. A.C 1,1   1,12  4.1,0.  30,2


M Sdy,tot    6,08tf .m
2. A 2.1,0
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:

154
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 M Sdy,tot   6,08 
 y  32.1  5. .  32.1  5. .0,817  45,1
 b.N Sd   0,2.210 

M S1dy 3,6
M Sdy,tot    6,1  OK!
 2
52,0 2
1
y
1
120. y / 120.45,1 / 0,817

C. Esforços finais para dimensionamento


A armadura longitudinal do pilar deverá ser dimensionada de modo que a sua resistência
( N Rd , M Rdx , M Rdy ) atenda as condições de solicitação listadas a seguir.

C.1 Flexão oblíqua no topo do pilar


N Sd  210tf ; M Sdx  7,0tf .m ; M Sdy  0,0tf .m

C.2 Flexão oblíqua na base do pilar


N Sd  210tf ; M Sdx  4,0tf .m ; M Sdy  6,0tf .m

C.3 Flexão oblíqua entre o topo e a base do pilar


N Sd  210tf ; M Sdx  3,01tf .m ; M Sdy  6,08tf .m

D. Dimensionamento de armadura
Considerando um cobrimento igual a 30 mm e uma armadura transversal com diâmetro de
6,3 mm, obtém-se uma possível configuração de armadura longitudinal composta por 10
barras de 20 mm (As = 31,4 cm2), aço CA50, na qual todas as condições de solicitação são
atendidas, conforme mostra a figura a seguir.

155
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Note que o esforço de 2ª ordem no meio do lance (ponto M) tende a levar a seção para o
ELU na direção menos rígida.
Utilizando o Método Geral, no qual se considera a relação momento-curvatura real em
diversas seções ao longo do pilar (rigidez EI pela reta) e a não-linearidade geométrica de
forma não aproximada, obtém-se a seguinte resposta:

Note que os efeitos locais de 2ª foram razoavelmente menores que os calculados pelo
método aproximado. Na direção mais rígida, esses esforços são insignificantes.

156
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 19
Trata-se do mesmo lance de pilar analisado anteriormente, porém com o diagrama de
momentos fletores em torno da direção menos rígida alterado.

A. Cálculos iniciais
A.1 Cálculo em x
M S1dx, A  7,0tf .m

M S1dx, B  4,0tf .m

M S1dx, B 4
 bx  0,6  0,4.  0,6  0,4.  0,37  0,4   bx  0,4
M S1dx, A 7

e   M S1dx, A / N Sd   7 / 210 
25  12,5. 1x  25  12,5.  25  12,5. 
1x   h   h   0,6   64,2
 bx  bx 0,4

A.2 Cálculo em y
M S1dy, A  6,0tf .m

M S1dy, B  5,0tf .m

M S1dy, B 5
 by  0,6  0,4.  0,6  0,4.  0,93
M S1dy, A 6

 e1 y  M 
 25  12,5. 6 / 210 
/ N Sd
25  12,5.  25  12,5. S1dy, A
  
1 y   b   b   0,2   28,8  35    35,0
 by  by
1y
0,93

157
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
B. Cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem
Embora o índice de esbeltez limite tenha sido ultrapassado apenas em uma direção, isto é,
 x  17,3  1x  64,2 e  y  52,0  1 y  35,0 , vamos calcular os efeitos locais de 2ª ordem
tanto em x como em y.

B.1 Flexão oblíqua entre o topo e a base do pilar


a) Cálculo em x

Utilizando a formulação direta do método do pilar-padrão com rigidez  aproximada, tem-


se:
M S1dx   bx .M S1dx, A  0,4.7,0  2,8tf .m
A  5.h  5.0,6  3,0

N Sd .l e2 210.32
B  h 2 .N Sd   5.h.M S1dx  0,6 2.210   5.0,6.2,8  61,3
320 320
C   N Sd .h 2 .M S1dx  210.0,6 2.2,8  211,7

 B  B 2  4. A.C  61,3  61,32  4.3,0.  211,7


M Sdx,tot    3,01tf .m
2. A 2.3,0
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:
 M Sdx,tot   3,01 
 x  32.1  5. .  32.1  5. .0,817  29,3
 h.N Sd   0,6.210 

M S1dx 2,8
M Sdx,tot    3,0  OK!
 2
17,3 2
1 x
1
120. x / 120.29,3 / 0,817

b)Cálculo em y

M S1dy   by .M S1dy, A  0,93.6,0  5,6tf .m

A  5.b  5.0,2  1,0


N Sd .l e2 210.32
B  b 2 .N Sd   5.b.M S1dy  0,2 2.210   5.0,2.5,6  3,1
320 320
C   N Sd .b 2 .M S1dy  210.0,2 2.5,6  47,0

 B  B 2  4. A.C 3,1   3,12  4.1,0.  47, 0


M Sdy,tot    8,59tf .m
2. A 2.1,0
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:

158
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 M Sdy,tot   8,59 
 y  32.1  5. .  32.1  5. .0,817  52,9
 b.N Sd   0,2.210 

M S1dy 5,6
M Sdy,tot    8,6  OK!
 2
52,0 2
1
y
1
120. y / 120.52,9 / 0,817

C. Esforços finais para dimensionamento


A armadura longitudinal do pilar deverá ser dimensionada de modo que a sua resistência
( N Rd , M Rdx , M Rdy ) atenda as condições de solicitação listadas a seguir.

C.1 Flexão oblíqua no topo do pilar


N Sd  210tf ; M Sdx  7,0tf .m ; M Sdy  5,0tf .m

C.2 Flexão oblíqua na base do pilar


N Sd  210tf ; M Sdx  4,0tf .m ; M Sdy  6,0tf .m

C.3 Flexão oblíqua entre o topo e a base do pilar


N Sd  210tf ; M Sdx  3,01tf .m ; M Sdy  8,59tf .m

D. Dimensionamento de armadura
Considerando um cobrimento igual a 30 mm e uma armadura transversal com diâmetro de
6,3 mm, obtém-se uma possível configuração de armadura longitudinal composta por 14
barras de 20 mm (As = 44,0 cm2), aço CA50, na qual todas as condições de solicitação são
atendidas, conforme mostra a figura a seguir.

159
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Note que o efeito de 2ª ordem no meio do lance (ponto M) é o esforço crítico para o
dimensionamento e tende a levar a seção para o ELU na direção menos rígida.
Utilizando o Método Geral, no qual considera-se a relação momento-curvatura real em
diversas seções ao longo do pilar (rigidez EI pela reta) e a não-linearidade geométrica de
forma não aproximada, obtém-se a seguinte resposta:

Note que o efeito da 2ª ordem na direção menos rígida continua a ser preponderante e
tende a levar a seção para o ELU. Quando comparado com o esforço total calculado pelo
método aproximado (8,59 tf.m), o valor obtido pelo Método Geral é um pouco menor (8,0
tf.m).

160
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

ANÁLISE OBLÍQUA MAIS PRECISA


Nos exemplos anteriores, analisamos os pilares por meio de uma análise à flexão composta
oblíqua “simplificada”, isto é, calculamos os efeitos locais nas duas direções de forma
desacoplada, e depois fizemos a composição no final para o dimensionamento da armadura.
Para que essa simplificação possa ser adotada, a consideração da não-linearidade física em
cada uma das direções, isto é, a definição das rigidezes EI a serem empregadas na análise,
deve estar sempre a favor da segurança.

A rigidez EI jamais pode ser extraída pela curva em casos de flexão oblíqua!

Em casos em que há atuação de momentos fletores concomintantes em ambas direções


(flexão composta oblíqua), quando for utilizado o diagrama N, M, 1/r (método geral ou pilar-
padrão acoplado a diagramas), a rigidez EI calculada, em hipótese alguma, ela poderá ser
extraída pela curva (como havíamos feito nos exemplos com flexão composta normal).
Nessa situação, deve-se utilizar sempre a rigidez definida pela reta (linearização do diagrama
N, M, 1/r). Caso contrário, isto é, se a rigidez for calculada pela curva, os resultados ficarão
contra a segurança.

Um exemplo vale mais que muitas palavras

Seguindo esse princípio, vamos fazer uma rápida aplicação para compreender o que foi
colocado anteriormente.
Seja uma seção de 30 cm x 60 cm, composta por armadura de 16 barras  20 mm, concreto
C30, (c = 1,4), aço CA50, (s = 1,15).

O diagrama N, M, 1/r em torno da direção menos rígida com N d = 150 tf e f3 = 1,1 é
mostrado a seguir.

161
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Note que:
 O momento resistente último é de MRd = 31,0 tf.m.
 A rigidez secante obtida pela reta é de EIsec = 1970,5 tf.m2.
O diagrama N, M, 1/r em torno da direção mais rígida é apresentar a seguir.

Note que:
 O momento resistente último é de MRd = 60,3 tf.m.

162
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 A rigidez secante obtida pela reta é de EIsec = 8236,6 tf.m2.

Momentos atuantes nas duas direções

Imagine, agora, que esta seção esteja solicitada por um momento M x = 15 tf.m e um
momento My = 37 tf.m.

Rigidezes pela reta


Se fossem adotadas as retas, as rigidezes seriam EIsec,x = 1970,5 tf.m2 e EIsec,y = 8236,6 tf.m2,
conforme mostram as figuras a seguir.

Note que as rigidezes em ambas as direções não variam em função dos momentos, são
sempre constantes.

Rigidezes pela curva


Utilizando o diagrama N, M, 1/r em torno de x (menos rígida), é possível extrair a rigidez pela
curva com Mx = 15 tf.m.

163
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Perceba que a rigidez obtida pela curva (2769,3 tf.m2) é bem superior ao valor obtido pela
reta (1970,5 tf.m2).
Por sua vez, utilizando o diagrama N, M, 1/r em torno de y (mais rígida), é possível extrair a
rigidez pela curva com My = 37 tf.m.

Observe que a rigidez obtida pela curva (10068,9 tf.m2) é bem superior ao valor obtido pela
reta (8236,6 tf.m2).
Essas rigidezes que acabaram de ser calculadas pelas curvas não podem ser utilizadas, pois
conduziriam a resultados contra a segurança!
Quando extraímos a rigidez EIsec,x = 2769,3 tf.m2 pelo diagrama N, Mx, (1/r)x, simplesmente
não levamos em conta o momento My = 37 tf.m. Enquanto que, quando extraímos a rigidez
EIsec,y = 10068,9 tf.m2 pelo diagrama N, My, (1/r)y, não contabilizamos o momento Mx = 15
tf.m.
A rigidez pela curva EIsec,x = 2769,3 tf.m2 somente poderia ser utilizada se o momento My
fosse igual a zero (flexão composta normal em torno de x). Já a rigidez pela curva EIsec,y =
10068,9 tf.m2 somente poderia ser utilizada se o momento M x fosse igual a zero (flexão
composta normal em torno de y).
Repetindo: as rigidezes pelas curvas, em nenhuma hipótese, podem ser adotadas em
análises à flexão composta oblíqua.

164
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Rigidezes pela superfície
Vamos agora introduzir uma novidade ainda não muito bem divulgada no meio técnico
profissional: a montagem de diagrama N, M, 1/r variando o momento fletor na direção
ortogonal à direção analisada. Isso gerará uma série de curvas (um para cada valor de
momento ortogonal até o esforço último).
Trata-se uma abordagem ainda aproximada da flexão composta oblíqua real, mas que já leva
em conta a atuação dos dois momentos fletores na seção de forma conjunta.
Veja, a seguir, uma série de diagramas N, M, 1/r em torno da direção x da seção analisada,
variando o momento My de 0 até o momento resistente último MRd,y = 60,3 tf.m.

As curvas com My = 0,0 tf.m destacadas na figura anterior correspondem exatamente aos
diagramas com 0,85.fcd e 1,1.fcd que utilizamos para extrair as rigidezes EIsec,x.
Como é possível montar infinitos diagramas variando M y de 0,0 tf.m até My = MRdy = 60,3
tf.m, podemos então definir uma chamada superfície N, M, 1/r.

165
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Com esse tipo de abordagem, passa a ser possível, por exemplo, extrair a rigidez (1/r)x para
um momento Mx = 15 tf.m com a atuação simultânea de um momento ortogonal M y = 37
tf.m.
Veja, a seguir, como fica o cálculo da rigidez EIsec,x para Mx = 15 tf.m utilizando o diagrama N,
Mx, (1/r)x com My = 37 tf.m. Esse diagrama é apresentado na vista lateral e espacial,
respectivamente.

166
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Note que a rigidez obtida na superfície (2065,2 tf.m2) é um pouco maior que a extraída pela
reta (1970,5 tf.m2), porém bem menor do que o valor da curva (2769,3 tf.m2)
Veja, a seguir, como fica o cálculo da rigidez EIsec,y para My = 37 tf.m utilizando o diagrama N,
My, (1/r)y com Mx = 15 tf.m. Esse diagrama é apresentado na vista espacial e lateral,
respectivamente.

167
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Note que a rigidez obtida na superfície (8605,2 tf.m2) é um pouco maior que a extraída pela
reta (8236,6 tf.m2), porém bem menor do que o valor da curva (10068,9 tf.m2)

Reta a favor da segurança


Bem, o principal objetivo de conhecer esse tipo de abordagem em que os dois esforços são
considerados em conjunto é compreender que a rigidez obtida pela linearização dos
diagramas (retas), na grande maioria das vezes, está a favor da segurança. E, por isso, é a
forma mais recomendada de se obter a rigidez para o cálculo dos efeitos locais num lance de
pilar.
Voltemos a análise em torno da direção x (menor rigidez). A rigidez secante pela reta é
obtida com tensão de pico igual a 1,1.fcd, f3 = 1,1 e para um esforço igual a MRd = 28,2 tf.m,
conforme mostra a figura a seguir.

Agora, veja os diagramas N, Mx, (1/r)x, variando o momento ortogonal My de 0,0 até MRdy =
60,3 tf.fm.

168
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A reta está por baixo de quase todas as curvas, gerando quase sempre uma rigidez menor (a
favor da segurança), independente do valor de My.
A análise na direção em torno de y (mais rígida) é análoga.

A reta está por baixo de quase todas as curvas, gerando quase sempre uma rigidez menor (a
favor da segurança), independente do valor de Mx.
É exatamente pelas colocações anteriores que pode-se afirmar que ao adotar a rigidez
obtida pela reta estamos desacoplando as direções, pois a análise em uma delas passa a ficar
independente do esforço ortogonal à mesma.

169
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 20
Trata-se de um pilar esbelto submetido a uma flexão composta oblíqua, conforme mostra a
figura a seguir.

Esse exemplo é baseado em um caso estudado no PECE-USP.


Inicialmente, vamos verificá-lo à flexão composta oblíqua “simplificada” por meio dos quatro
métodos disponíveis na norma (pilar-padrão com 1/r aproximada, pilar-padrão com rigidez 
aproximada, pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r e método geral).
Depois, vamos utilizar a análise à flexão composta oblíqua de forma mais precisa,
empregando as rigidezes obtidas pela superfície N, M, 1/r.
Embora a verificação do M1d,mín seja obrigatória, não vamos fazê-la aqui pois o objetivo
desse exemplo será focar a análise dos efeitos locais de 2ª ordem.

Cálculos iniciais
Cálculo em y
le 650
 y  12.  12.  86,6
b 26
M S1dy, A  4,0tf .m

M S1dy, B  1,0tf .m
M S1dy, B  1,0
 by  0,6  0,4.  0,6  0,4.  0,5
M S1dy, A 4,0

170
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 e1 y  M 
 25  12,5. 4 / 86,9 
/ N Sd
25  12,5.  25  12,5. S1dy, A
1 y   b   b   0,26   54,4
 by  bx 0,5

Como y = 86,6 > 1y = 54,4, é necessário calcular os efeitos locais nessa direção.

Cálculo em z
le 650
 z  12.  12.  57,7
h 39
M S1dz, A  8,0tf .m

M S1dz, B  4,0tf .m

M S1dz, B  4,0
 bz  0,6  0,4.  0,6  0,4.  0,4
M S1dz, A 8,0

e   M S1dz, A / N Sd   8 / 86,9 
25  12,5. 1z  25  12,5.  25  12,5. 
1z   h   h   0,39   69,9
 bz  bz 0,4
Como z = 57,7 < 1z = 69,9, não é necessário calcular os efeitos locais nessa direção.
Ficam então definidos os momentos no topo (8,0 tf.m), na base (-4,0 tf.m) e no meio do
lance (b.MS1dz,A = 0,4 . 8,0 = 3,2 tf.m).

Pilar-padrão com 1/r aproximada


Vamos calcular os efeitos locais de 2ª apenas na direção mais esbelta (direção y).
86,9
  0,6
0,26.0,39. 2000
1,4
1 0,005 0,005 1
 0,01748   0,0192   0,01748
r 0,26.0,6  0,5 0,26 r

6,5 2
M Sd ,tot  0,5.4  86,9. .0,01748  8,4tf .m
10

171
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Fazendo a composição dos esforços nas duas direções, tem-se:

Veja que o pilar rompe na seção calculada entre o topo e a base (ponto M).

Pilar-padrão com  aproximada


A  5.b  5.0,26  1,3

N Sd .l e2 86,9.6,5 2
B  b 2 .N Sd   5.b.M S1d  0,26 2.86,9   5.0,26.0,5.4  8,2
320 320
C   N Sd .b 2 .M S1d  86,9.0,26 2.0,5.4  11,75

 B  B 2  4. A.C 8,2   8,2 2  4.1,3.  11,75


M Sd ,tot    7,5tf .m
2. A 2.1,3
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:

172
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 7,5 
  32.1  5. .0,6  51,1
 0,26.86,9 
0,5.4,0
M Sd ,tot   7,5tf .m  OK!
86,6 2
1
120.51,1 / 0,6

Fazendo a composição dos esforços nas duas direções, tem-se:

A seção calculada entre o topo e a base (ponto M) fica no limite.

Pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r


O diagrama N, M, 1/r na direção menos rígida (direção y) para a armadura adotada, N Sd =
86,9 tf e f3 = 1,0 é apresentado a seguir.

173
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Note que:
 O momento resistente último MRd na direção analisada é de 8,7 tf.m.
 A rigidez  obtida pelo diagrama (61,2) é maior que a rigidez  aproximada (51,1).
O momento total aplicando a rigidez  obtida pelo normal-diagrama momento-curvatura é:
0,5.4,0
M Sd ,tot   5,2tf .m
86,6 2
1
120.61,2 / 0,6
Esse esforço é bem menor que os valores obtidos anteriormente (8,4 tf para pilar-padrão
com 1/r aproximada e 7,5 para pilar-padrão com rigidez  aproximada).

Fazendo a composição dos esforços nas duas direções, tem-se:

174
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A seção calculada entre o topo e a base (ponto M) passa.

Método geral
Nesse processo, os efeitos locais de 2ª ordem são calculados nas duas direções.
As rigidezes EI são obtidas pela linearização dos diagramas N, M, 1/r (retas) em cada direção,
apresentados a seguir.

175
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A posição de equilíbrio do lance é definida iterativamente. Os deslocamentos obtidos após
11 iterações são mostrados a seguir.

Note que o pilar se deforma em ambas direções.


Os diagramas de momentos fletores nas direções menos rígida e mais rígida são
apresentados a seguir, respectivamente.

176
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Como esperado, os efeitos de 2ª ordem na direção menos rígida foram pequenos,


justificando a não necesidade de calculá-los nos métodos aproximados ( < 1).
Fazendo a composição dos esforços nas duas direções, tem-se:

Os esforços finais praticamente foram iguais aos valores obtidos pelo pilar-padrão acoplado
a diagramas.

Flexão oblíqua mais precisa


Finalmente, vamos analisar o mesmo pilar por um processo em que as rigidezes das seções
ao longo do lance, em cada direção, são calculadas levando em conta atuação simultânea
dos dois momentos fletores (My e Mz).
Veja, a seguir, algumas figuras que ilustram como as rigidezes foram obtidas nesse processo.

177
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

178
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

É possível notar que nas duas direções, de uma forma geral, as rigidezes obtidas na
superfície N, N, 1/r são maiores que as rigidezes extraídas pelas retas (EI secy = 598,9 tf.m2 e
EIsecy = 1356,4 tf.m2).
Dessa forma, os esforços de 2ª ordem ao longo do lance são menores, conforme mostra a
figura a seguir.

179
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

IMPERFEIÇÕES GEOMÉTRICAS LOCAIS


Conforme já foi exposto, de uma forma geral, analisar os efeitos de imperfeições
geométricas durante a elaboração de um projeto estrutural é uma tarefa bastante complexa
e desafiante.
Como prever a magnitude das possíveis “falhas” geométricas que aparecerão durante a
construção?
Essa é uma questão extremamente complicada de ser respondida, e que sempre precisa ser
tratada com muita seriedade pelo Engenheiro de Estruturas. Afinal de contas, a resposta de
um pilar é bastante sensível ao aparecimento dessas imperfeições.
É obrigatório considerar as imperfeições geométricas no cálculo de pilares de edifícios de
concreto armado.
A NBR 6118:2003, item 11.3.3.4 “Imperfeições geométricas”, divide as imperfeições
geométricas em dois grupos:
 Imperfeições geométricas globais.
 Imperfeições geométricas locais.
Enquanto que as imperfeições globais estão relacionadas ao edifício como um todo e são
avaliadas na modelagem global (pórtico espacial), as imperfeições geométricas locais
referem-se aos lances dos pilares de um edifício, ocasionando esforços locais adicionais
devido à presença da carga normal de compressão.

180
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

No item 11.3.3.4.2 “Imperfeições locais” da NBR 6118:2003, define-se um ângulo de


inclinação 1 para simular a imperfeição local, seja pelo desaprumo do lance do pilar como
pela falta de retilineidade do mesmo.

O valor do ângulo 1, segundo a NBR 6118:2003, deve ser calculado pela fórmula ,
respeitando o seguinte limite mínimo 1mín = 1/300 = 0,003333.
A norma coloca ainda “Admite-se que, nos casos usuais, a consideração apenas da falta de
retilineidade ao longo do lance de pilar seja suficiente.”. Mas, fica difícil estabelecer o que
são os casos usuais.
O efeito dessa imperfeição geométrica gerada pela rotação 1 não é simples de ser
calculado, uma vez que é difícil definir a sua direção e o seu sentido crítico de atuação.
Usualmente, nos sistemas computacionais, o que se faz é considerar as imperfeições nas
duas direções principais, por meio da definição de excentricidades adicionais.
A NBR 6118:2003, em seu item 11.3.3.4.3, permite que o efeito das imperfeições
geométricas locais em um lance de pilar seja substituído, em estruturas reticuladas, pela
consideração do momento mínimo de 1ª ordem (M1d,mín), cujo valor é obtido pela seguinte
fórmula:
M 1d ,mín  N Sd .(0,015  0,03.h)

sendo: NSd a força normal solicitante com o seu valor de cálculo e h a altura da seção na
direção analisada, em metros.

181
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
OBS.: na extinta NBR 6118:1980, as imperfeições geométricas locais eram consideradas por
meio de uma excentricidade acidental adicional (ea), cujo valor era o maior entre 2 cm ou
h/30.

O que usar: M1d,mín X 1?


A formulação do momento mínimo de 1ª ordem tem origem na norma americana (ACI),
enquanto que a definição das imperfeições geométricas por meio do ângulo 1 vem do
código europeu.
O M1d,mín, conforme a nomenclatura deixa evidente, é um valor mínimo e não é um valor
aditivo. Enquanto isso, a excentricidade ea gerada 1 pelo é sempre aditiva.
Enfim, são duas vertentes totalmente distintas que se propõem a solucionar o mesmo
problema.
No Brasil, após a entrada em vigor da NBR 6118:2003, que possibilita o uso de ambas as
formulações, é mais comum o uso do M1d,mín, muito embora a aplicação do 1 também seja
válida. Por enquanto, não razões que mostram o favorecimento de uma proposta em
relação à outra. Também, não há regras que confirmem qual deles tende a gerar um
dimensionamento mais a favor da segurança.

EXEMPLO 21
Seja um pilar robusto ( = 34,6), de seção quadrada com b = h = 40 cm, biapoiado com le = 4
m, concreto C25 (c = 1,4), aço CA50 (s = 1,15), c = 3 cm, submetido a uma força normal de
compressão igual a NSd = 280 tf, compare o dimensionamento das armaduras para as
seguintes situações:
a.1) Momentos fletores solicitantes nulos em ambas as direções e M1d,mín.
a.2) Momentos solicitantes constantes iguais a MSd = 4,2 tf.m em ambas as direções e
M1d,mín.
b.1) Momentos fletores solicitantes nulos em ambas as direções e 1.
b.2) Momentos solicitantes constantes iguais a MSd = 4,2 tf.m em ambas as direções e 1.
c) Compare os resultados de a.1 (M1d,mín) com a.2 (1), MSd = 0,0 tf.m.
d) Compare os resultados de b.1 (M1d,mín) com b.2 (1) , MSd = 4,2 tf.m.

182
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

APLICAÇÃO DO M1D,MÍN
Embora a fórmula do momento mínimo de 1ª ordem seja extremamente simples, muitas
dúvidas com relação à sua aplicação surgiram no meio técnico. Na publicação que contém
comentários da NB-1, publicada pelo Ibracon, há uma explanação de como aplicar o M 1d,mín
que parece ser bastante defensável e coerente.

183
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A seguir, será exposta e estudada a proposta presente nos comentários técnicos da NB-1,
publicado pelo Ibracon.
A NBR 6118:2003, em seu item 11.3.3.4.3, permite que o efeito das imperfeições
geométricas locais em um lance de pilar seja substituído, em estruturas reticuladas, pela
consideração do momento mínimo de 1ª ordem, cujo valor é obtido pela seguinte fórmula:
M 1d ,mín  N Sd .(0,015  0,03.h)

sendo: NSd a força normal solicitante com o seu valor de cálculo e h a altura da seção na
direção analisada, em metros.
No mesmo item, define-se ainda que os efeitos de 2ª ordem, quando calculados, devem ser
acrescidos a este momento mínimo.
Outro item importante de ser salientado: quando o momento MA < M1dmín, o coeficiente b =
1,0.
Logo, em primeiro momento, percebe-se que a consideração do momento mínimo, como o
próprio nome deixa claro, não tem o efeito aditivo de uma excentricidade acidental
adicional, como se preconizava na extinta NBR 6118:1980.
Também, em primeiro momento, o uso do M1d,mín não parece trazer grandes complicações,
visto que a sua formulação é muito simples. Note que ele é apenas dependente da força
normal e da dimensão da seção transversal do pilar. No fundo, se analisarmos a expressão,
nada mais é que um momento mínimo gerado por uma excentricidade de 1,5 cm acrescido
de 3% da dimensão da seção.
Mero engano. Veja, a seguir, uma situação bastante típica que já nos traz alguns
questionamentos.

Seja um pilar com índice de esbeltez igual a 50, cujos


momentos nas extremidades, MA e MB, sejam opostos
e com valores iguais ao momento mínimo M1d,mín,
conforme mostra a figura ao lado.

MB
Nesse caso,  b  0,6  0,4.  0,2  0,4   b  0,4
MA
25  12,5.0,08
Admitindo uma excentricidade relativa e1/h = 0,08, teremos: 1   65 .
0,4
Como pilar = 50 < 1 = 65, não é necessário calcular os efeitos locais de segunda ordem. E,
portanto, o momento crítico para o dimensionamento será igual ao M 1d,mín.

184
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Imagine então se para esse mesmo pilar os momentos


nas extremidades, MA e MB, continuem opostos,
porém com valores ligeiramente inferiores ao
momento mínimo M1d,mín, conforme mostra a figura
ao lado.

Nesse caso,  b  1,0 (MA < M1d,mín) e a excentricidade relativa praticamente seria a mesma,
25  12,5.0,08
de tal forma que: 1   26  35  1  35 .
1,0
Como pilar = 50 > 1 = 35, será necessário calcular os efeitos locais de segunda ordem. E,
portanto, o momento crítico para o dimensionamento será maior ao M 1d,mín, pois terá o
acréscimo do efeito de 2ª ordem (M2).

Note que para situações bastante similares, os resultados são diferentes, podendo ocasionar
uma relativa descontinuidade de valores finais.

Proposta prof. Graziano – ENECE 2004


Em virtude do comportamento que acabou de ser descrito, o prof. Franscisco Graziano
propôs no ENECE realizado em 2004 um novo tipo de abordagem para aplicação do
momento mínimo de primeira ordem, conforme está resumido a seguir.
Sejam as seguintes situações possíveis de atuação de momentos nas extremidades de um
pilar:

185
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 As linhas tracejadas representam o M1d,mín.
 As linhas em cinza representam o diagrama original de momentos fletores.
 As linhas azuis representam as formas efetivamente usadas no cálculo do pilar.
A proposta do prof. Graziano consiste em aplicar o momento mínimo de tal forma que as
situações onde poderiam ocorrer descontinuidades (II, III e V) sejam alteradas de maneira a
minimizar a discrepância de resultados.

As situações I, IV e V continuam equivalentes com a forma original.


Vale lembrar que a proposta do prof. Graziano leva a resultados a favor da segurança.

M1d,mín nas duas direções ?


Uma outra questão levantada sobre o momento mínimo de primeira ordem é quanto a sua
aplicação simultânea nas duas direções do pilar.
Vejamos o cálculo do M1d,mín para um pilar de seção retangular.

A pergunta é: será necessário verificar uma situação em que há a atuação dos dois
momentos mínimos, M1dx,mín e M1dy,mín, ao mesmo tempo?
À primeira vista, e também recorrendo a alguns exemplos de pilares calculados segundo o
ACI na literatura, percebe-se que não se deve aplicar os momentos mínimos totais nas duas
direções simultaneamente.
Mas, como solucionar isso?

Comentários NB-1, Ibracon


Diante das inúmeras questões relativas à aplicação de momento mínimo de primeira ordem,
a comissão CT-301, responsável pela elaboração de comentários da NBR 6118:2003, propõe
um novo tipo de abordagem para o problema em questão, que provavelmente fará parte da
revisão NBR 6118:2008.

186
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A proposta consiste em definir uma envoltória mínima de 1ª ordem, tomada a favor da
segurança, pela seguinte expressão:

Desta forma, a verificação do momento mínimo pode ser considerada atendida quando, no
dimensionamento adotado, obtém-se uma envoltória resistente que englobe a envoltória
mínima de 1ª ordem.

Por sua vez, quando há a necessidade de calcular os efeitos locais de 2ª ordem, a verificação
do momento mínimo pode ser considerada atendida quando, no dimensionamento adotado,
obtém-se uma envoltória resistente que englobe a envoltória mínima com 2ª ordem, cujos
momentos totais são calculados a partir dos momentos mínimos de 1ª ordem.

A consideração destas envoltórias mínimas pode ser realizada através de duas análises à
flexão composta normal, calculadas de forma independente dos momentos fletores de 1ª
ordem atuantes nos extremos do pilar.

187
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

É importante notar que:


 A definição da envoltória mínima com e sem 2ª ordem independe do diagrama de
momentos fletores solicitantes no lance do pilar. Ou seja, a descontinuidade apresentada
nos itens anteriores deixará de existir.
 Não há a aplicação simultânea do momento mínimo total nas duas direções.

EXEMPLO 22
Seja um pilar de 30 cm x 30 cm, com comprimento equivalente de 3 m e força normal de
cálculo igual a 210 tf, conforme mostra a figura a seguir, montar a envoltória mínima de
primeira ordem.

b  30cm e h  30cm
le 300
 x  12.  12.  34,6
h 30
le 300
 y  12.  12.  34,6
b 30

Antes de iniciar os cálculos, é interessante observar quais dados são necessários para fazer a
verificação do M1d,mín. São eles: seção transversal, comprimento equivalente le e força
normal de compressão. Note que não é necessário conhecer previamente o diagrama de
momentos fletores solicitantes.

A. Flexão composta normal com atuação de M1dx,mín e


M1dy,mín
Como a seção é simétrica, temos:
M 1dx,mín  M 1dy,mín  210.(0,015  0,03.h)  210.(0,015  0,03.0,2)  210.0,024  5,04tf .m

 bx  1,0 , pois M1dA = M1d,mín

188
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
e  M /N   5,04 / 210 
25  12,5. 1x ,mín  25  12,5. 1dx,mín Sd  25  12,5. 
1x   h   h   0,3   26  35    35,0
 bx  bx 1,0
1x

1 y  1x  35,0

Como   34,6  1  35,0 , não é necessário calcular os efeitos locais de 2ª ordem em


nenhuma das direções.

B. Esforços mínimos para dimensionamento


O pilar deverá ser dimensionado de modo que a sua resistência ( N Rd , M Rdx , M Rdy ) atenda as
condições mínimas de solicitação listadas a seguir. São duas flexões compostas normais
isoladas.

B.1 Flexão normal com atuação de M1dx,mín


N Sd  210tf ; M Sdx  M 1dx,mín  5,04tf .m ; M Sdy  0,0tf .m

B.2 Flexão normal com atuação de M1dy,mín


N Sd  210tf ; M Sdx  0,0tf .m ; M Sdy  5,04tf .m

C. Envoltória mínima
De acordo com os esforços calculados anteriormente, a envoltória mínima de 1ª ordem fica
definida:

O dimensionamento do pilar deve gerar uma envoltória resistente que englobe totalmente a
envoltória mínima de 1ª ordem.

189
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 23
Com os mesmos dados o exemplo 21, refaça os itens a.1 e a.2 agora adotando a envoltória
mínima de 1ª ordem.

EXEMPLO 24
Vamos resolver agora um exemplo que está presente nos comentários da NB-1.
Seja um pilar de 20 cm x 60 cm, com comprimento equivalente de 3 m e força normal de
cálculo igual a 210 tf, conforme mostra a figura a seguir.

b  20cm e h  60cm
le 300
 x  12.  12.  17,3
h 60
le 300
 y  12.  12.  52,0
b 20

Independente dos momentos fletores que o pilar estará submetido, para verificar a
envoltória mínima devem ser realizadas duas análises à flexão composta normal.

190
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A. Flexão normal com atuação de M1dx,mín
M 1dx,mín  210.(0,015  0,03.h)  210.(0,015  0,03.0,6)  6,93tf .m

 bx  1,0 , pois M1dA = M1d,mín


 e1x , mín   M 1dx, mín / N Sd   6,93 / 210 
25  12,5.  25  12,5.  25  12,5. 
 h   h   0,6 
1x     25,7  35  1x  35,0
 bx  bx 1,0

Como  x  17,3  1x  35,0 , não é necessário calcular os efeitos locais de 2ª ordem.

B. Flexão normal com atuação de M1dy,mín


M 1dy,mín  210.(0,015  0,03.b)  210.(0,015  0,03.0,2)  4,41tf .m

 by  1,0 , pois M1dA = M1d,mín


 e1 y , mín   M 1dy, mín / N Sd   4,41 / 210 
25  12,5. 
 25  12,5. 
 25  12,5. 
 b   b   0,2  Como
1 y     26,3  35  1 y  35,0
 by  by 1,0
 y  52,0  1 y  35,0 , é necessário calcular os efeitos locais de 2ª ordem.
Utilizando a formulação direta do método do pilar-padrão com rigidez  aproximada (que
estudaremos posteriormente), tem-se:
M S1d  M 1dy,mín  4,41tf .m

A  5.b  5.0,2  1,0

N Sd .le2 210.32
B  b 2 .N Sd   5.b.M S1d  0,2 2.210   5.0,2.4,41  1,9
320 320
C   N Sd .b 2 .M S1d  210.0,2 2.4,41  37,0

 B  B 2  4. A.C 1,9   1,9 2  4.1,0.  37,0


M Sdy,tot    7,12tf .m
2. A 2.1,0

C. Esforços mínimos para dimensionamento


A armadura longitudinal do pilar deverá ser dimensionada de modo que a sua resistência
( N Rd , M Rdx , M Rdy ) atenda as condições mínimas de solicitação listadas a seguir.

C.1 Flexão normal com atuação de M1dx,mín


N Sd  210tf ; M Sdx  M 1dx,mín  6,93tf .m ; M Sdy  0,0tf .m

C.2 Flexão normal com atuação de M1dy,mín


N Sd  210tf ; M Sdx  0,0tf .m ; M Sdy  7,12tf .m

191
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
D. Envoltórias mínimas
De acordo com os esforços calculados anteriormente, as seguintes envoltórias mínimas
ficam então definidas:

O dimensionamento do pilar deve gerar uma envoltória resistente que englobe totalmente a
envoltória mínima com 2ª ordem, que foi gerada a partir a envoltória mínima de 1ª ordem.
Perceba que, com a representação gráfica em planta, fica fácil compreender bem como
verificar o momento mínimo de 1ª ordem.

Concluindo
A verificação do M1d,mín por meio das envoltórias mínimas independe dos momentos fletores
atuantes no pilar. Se por exemplo, para o pilar estudado anteriormente existissem várias
hipóteses de diagramas de momentos fletores, conforme mostra a figura a seguir, a
verificação do momento mínimo de primeira ordem seria realizada apenas uma única vez.

192
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

ESFORÇOS DEVIDO À FLUÊNCIA


A fluência, ou seja, o acréscimo de deformações no concreto ao longo do tempo sob a
aplicação de uma tensão constante gerada pelas ações permanentes, gera esforços
adicionais no lance de pilar em virtude do aumento de deslocamentos.
A NBR 6118:2003, item 15.8.4 “Consideração da fluência”, indica a necessidade do cálculo de
efeitos gerados pela deformação lenta em pilares cuja esbeltez for superior a 90, por meio
de uma formulação aproximada que adiciona uma excentricidade equivalente ecc na análise.

193
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

, sendo:
- Ne = 10.Eci.Ic/le2;
- Eci o módulo de elasticidade tangente do concreto;
- Ic a inércia bruta da seção de concreto;
- le o comprimento equivalente na análise local;
- MSg e NSg esforços solicitantes devido à combinação quase-permanente;
-  o coeficiente de fluência.
De acordo com essa formulação, a fluência é definida como uma majoração dos efeitos de 1ª
ordem, conforme mostra a figura a seguir.

Como o próprio texto normativo deixa bem claro, trata-se de uma maneira aproximada de
considerar a fluência. Dessa forma, não se pode exigir uma precisão absoluta em relação ao
comportamento real de um pilar de concreto armado sob a ação de cargas de longa
duração.

194
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Outro processo
Outro processo para consideração da fluência bastante interessante, mas também
aproximado, se baseia na correção do diagrama tensão-deformação do concreto.

De forma aproximada, os acréscimos de deformações no concreto ao longo do tempo são


incorporados por meio da majoração das curvaturas por (1+ c), sendo c igual o coeficiente
de fluência definido na NBR 6118:2003 (tabela 8.1) multiplicado pela fração dos esforços que
produzem a fluência.

Isso influencia de forma direta a obtenção da rigidez secante EI sec a partir do diagrama N, M,
1/r.
Veja o exemplo a seguir de uma seção com os seguintes dados:
 Seção 30 cm x 60 cm
 Armadura composta de 16  20 mm
 Concreto C30, c = 1,4
195
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 Aço CA50, s = 1,15

Para uma força normal de cálculo igual a 200 tf e, inicialmente, sem admitir o efeito da
fluência, temos:

A rigidez secante obtida pelo diagrama N, M, 1/r é de 2183,0 tf.m 2.


Agora, considerando um coeficiente de fluência equivalente igual a 1,5, veja como essa
rigidez é alterada.

A rigidez secante obtida para a mesma seção se reduz para 1174,7 tf.m2.
Esse processo não é largamente utilizado na prática, e precisa ser melhor avaliado.
Maiores informações podem ser obtidas no capítulo 9 do livro “Solicitações Normais” do
Profº Péricles Brasiliense Fusco.

196
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

PILAR-PAREDE
Esse é, com certeza, um dos temas que tem mais gerado controvérsias no meio técnico
profissional após a aprovação da NBR 6118:2003. Existem várias razões para isso, pois, como
veremos mais adiante, se trata de um assunto que ainda tem uma longa e difícil trajetória de
estudos na busca de uma solução que tenha uma abrangência mais adequada e significativa.
Dessa forma, o que será exposto a seguir não pode, em hipótese alguma, ser considerado
como uma verdade absoluta. O que se pretende aqui é fornecer uma visão ampla de um
problema que ainda necessita ser resolvido e melhor estudado.

Definição
Segundo a NBR 6118:2003, item 14.4.2.4, pilar-parede é um elemento bidimensional,
usualmente disposto na vertical e submetido preponderantemente à compressão, que pode
ser composto por uma ou mais superfícies (ou lâminas) associadas.

Nesse mesmo item da norma de concreto, tem-se: “Para que se tenha um pilar-parede, em
alguma dessas superfícies a menor dimensão deve ser menor que 1/5 da maior, ambas
consideradas na seção transversal do elemento do pilar”.

197
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Pilar-parede não é um pilar comum!


Antes de iniciar o cálculo de um pilar-parede, é importante refletir um pouco sobre suas
funções e particularidades, que o tornam um elemento particular e notoriamente diferente
de um pilar comum.
Em edifícios altos usuais, além de resistir às cargas verticais, um pilar-parede, em conjunto
com os pórticos formados pelas vigas e pilares, tem grande responsabilidade na manutenção
da estabilidade global da estrutura. Trata-se de um típico elemento de contraventamento.
Quando esse tipo de edificação é solicitado por ações horizontais (ex.: vento), um pilar-
parede resiste uma parcela significativa dos esforços resultantes. Veja, a seguir, um exemplo
hipotético, mas bastante representativo.
Seja um edifício composto por oito pavimentos, conforme mostram as figuras a seguir.

198
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Note que o pilar intermediário P6 possui dimensões (20 cm X 180 cm) que o caracteriza
como um pilar-parede.
Como esperado, esse pilar resiste a uma boa parcela dos esforços gerados pelas ações
verticais e horizontais (vento), conforme mostra a figura a seguir.

199
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Perceba que o pilar-parede P6, dentro do contexto global do edifício, quando solicitado pela
ação horizontal, praticamente tem um comportamento de uma barra engastada na base,
resistindo momentos fletores significativos nos dois primeiros lances. O mesmo não ocorre
nos demais pilares que fazem parte dos pórticos de contraventamento.

Seção plana?
É uma hipótese quase que constante no dimensionamento de um elemento de concreto
armado, a manutenção da seção plana após as deformações. Pergunta: num pilar-parede
submetido à flexão composta oblíqua, isso é válido?

Particularidades
Devido a imposições arquitetônicas e estruturais, o emprego de pilares-parede em edifícios
de concreto armado tem sido muito comum no Brasil. Em países sujeitos a efeitos sísmicos,
o uso desse elemento como parte integrante da estrutura resistente, sempre foi uma prática
usual e recomendada. São os chamados “reinforced concrete walls” e “shear walls”.
Contudo, é importante visualizar claramente que existem discrepâncias entre o que é
empregado nos países com sismo e o que é adotado no Brasil. Embora as dimensões da
seção transversal dos pilares presentes em estruturas no exterior os caracterizem como
pilar-parede (hi < bi/5), a esbeltez em torno da menor dimensão não é tão elevada como nos
pilares-parede comuns em estruturas no nosso país.
Veja, a seguir, o exemplo de uma estrutura definida no Canadá.

200
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Nesse exemplo, os pilares-parede têm espessura de 40 cm a 50 cm, totalmente diferente da


situação nacional, onde se pode observar o emprego de pilares-parede com até 14 cm de
espessura.

Segurança
Imagine um pilar-parede de 19 cm X 200 cm com pé-direito duplo de 6 m no hall de um
edifício comercial de alto padrão, “sustentando” uma carga vertical aplicada em 20 pisos, ao
mesmo tempo em que tem que resistir a ação do vento.
Agora, imagine que ao efetuar o cálculo desse mesmo pilar-parede, você tem como
resultado uma taxa de armadura praticamente igual a mínima (0,6%.A c = 15,2 cm2  20 
10 mm).
Mesmo que intuitivamente, sem fazer cálculos, não fica evidenciada uma certa necessidade
de aumentar a segurança desse elemento devido à sua responsabilidade no comportamento
da estrutura?
Evidentemente, para se ter uma resposta correta e defensável dessa questão é necessário
fazer estudos teóricos e práticos aprofundados, e não apenas usar a intuição como
referência (embora na Engenharia de Estruturas, esse quesito, às vezes, é tão importante
quanto um cálculo refinado).
Enquanto não se dispõe de uma formulação teórica que “acerte” em 100% dos casos com a
boa e coerente prática da Engenharia, é importante focar um dimensionamento sempre a
favor da segurança. Embora não tenhamos nenhum caso de patologia ocorrido em função
da esbeltez excessiva de pilares-parede (felizmente), fica difícil mensurar a situação real
desses elementos em relação ao ELU.
É exatamente sobre esse enfoque (a segurança) é que deve ser encarado o que será exposto
a seguir, que nada mais é do que a aplicação do que está prescrito na atual norma de
concreto, a NBR 6118:2003.

201
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Apenas a título de informação, na recente publicação “Reinforced Concrete: Mechanics and
Design” de James G. MacGregor e James K. Wight, existe um capítulo destinado ao estudo
mais detalhado de pilares-parede.

EFEITOS LOCALIZADOS DE 2ª ORDEM


Conforme já foi apresentado no capítulo anterior, os efeitos de 2ª ordem presentes numa
estrutura de concreto armado podem ser subdivididos em: globais, locais e localizados.

Nos pilares-parede simples (uma lâmina) ou compostos (mais de uma lâmina), além dos
efeitos locais no lance como um todo, podem surgir efeitos concentrados em suas
extremidades devido ao aumento do esforço normal provocado pela atuação do momento
fletor segundo sua direção mais rígida. Esses são os chamados efeitos localizados de 2ª
ordem.

202
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Dispensa da análise dos efeitos localizados


Na NBR 6118:2003, item 15.9.2, tem-se:
Os efeitos localizados de 2ª ordem de pilares-parede podem ser desprezados se, para cada
uma das lâminas componentes do pilar-parede, forem obedecidas as seguintes condições:

a) a base e o topo da lâmina devem estar convenientemente fixados às lajes do edifício, que
conferem ao todo o efeito de diafragma horizontal.
b) a esbeltez i de cada lâmina deve ser menor que 35, podendo o cálculo dessa esbeltez i
ser efetuado através da expressão dada a seguir:

l ei
i  3,46.
hi

onde, para cada lâmina: lei é o comprimento equivalente e hi é a espessura.

O valor de lei depende dos vínculos de cada uma das extremidades verticais da lâmina,
conforme mostra a figura a seguir.

203
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Ou seja, num pilar retangular e num com formato “U”, tem-se:

Processos de cálculo
Existem inúmeras formas de calcular os efeitos localizados de 2ª ordem em um pilar-parede.
Seja uma metodologia simples ou mais sofisticada, é fundamental que as não-linearidades
presentes (física e geométrica) sejam retratadas de maneira coerente.
A seguir, serão estudados dois processos de cálculo com detalhes. O primeiro, mais simples,
é baseado no método aproximado recomendado na NBR 6118:2003. Já, o segundo se baseia
numa modelagem um pouco mais refinada (modelo com malha).
204
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Método aproximado – NBR 6118:2003
Aplicabilidade
Esse método somente pode ser adotado quando a esbeltez de cada lâmina for inferior a 90.

Descrição
Esse método é descrito no item 15.9.3 da NBR 6118:2003. Os efeitos localizados de 2ª
ordem são calculados a partir da subdivisão das lâminas do pilar-parede em faixas.

A largura de cada faixa deve ser ai = 3.h ≤ 100 cm.

Decomposição de esforços
O esforço total atuante no pilar é decomposto para cada uma das faixas considerando uma
distribuição de tensões linear ao longo da seção, conforme ilustra a figura a seguir.

205
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
O momento fletor decomposto na direção menos rígida de cada faixa geralmente é
pequeno, prevalecendo quase que sempre a aplicação do M 1d,mín. Em torno da direção mais
rígida (travada), não é necessário considerar o M1d,mín.

Cálculo dos efeitos de 2ª ordem


Cada faixa é calculada separadamente, como se fosse um pilar isolado.
Para análise dos efeitos de 2ª ordem, pode ser utilizado qualquer método aproximado (pilar-
padrão com 1/r aproximada, pilar-padrão com rigidez  aproximada ou pilar-padrão
acoplado a diagrama N, M, 1/r) ou o Método Geral.
O fato de cada faixa ser analisada de forma isolada é uma das grandes críticas ao método,
visto que a interação entre elas (que existe) é ignorada.

EXEMPLO 25
Trata-se de um pilar-parede retangular cujos dados são apresentados na figura a seguir.

Esse exemplo foi apresentado em uma das palestras do ENECE2006.


Vamos analisar os efeitos localizados de 2ª ordem por meio do processo aproximado da NBR
6118:2008, utilizando o método geral para o cálculo das faixas.

206
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A. Cálculo sem efeitos localizados
Inicialmente, apenas com o intuito de discutir mais a frente sobre o acréscimo de armadura
gerado pela análise dos efeitos localizados, vamos calcular o pilar-parede somente
considerando somente os efeitos locais de 2ª ordem, lembrando que, segundo a NBR
6118:2003, isso não é permitido.

A.1 Cálculos iniciais

12.3,0
x   52
0,2
M Ax  M Bx  8,4tf .m
M 1dx,mín  868.0,015  0,03.0,2  18,2tf .m

8,4
 bx  0,6  0,4.  1,0
8,4
 8,4 / 868 
25  12,5. 
1x   0,2 
 25,6  35  1x  35
1,0

12.3,0
y   3,5 ; 1 y  35
3,0

A.2 Cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem


Como x = 52 > 1x = 35 e y =3,5 < 1y = 35, então é necessário calcular os efeitos de 2ª
ordem na direção x. Para isso, vamos utilizar o método do pilar-padrão com rigidez 
aproximada.
M S1d  M 1dx,mín  18,2tf .m
A  5.b  5.0,2  1,0
N Sd .le2 868.3,0 2
B  b 2 .N Sd   5.b.M S1d  0,2 2.868   5.0,2.18,2  7,92
320 320
C   N Sd .b 2 .M S1d  868.0,2 2.18,2  632,9

 B  B 2  4. A.C 7,92   7,92 2  4.1,0.  632,9


M Sd ,tot    29,4tf .m
2. A 2.1,0
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:
868
  0,675
0,2.3. 3000
1,4

 29,4 
  32.1  5. .0,675  39,9
 0,2.868 

207
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
18,2
M Sd ,tot   29,4tf .m  OK!
52 2
1
120.39,9 / 0,675

A.3 Dimensionamento
Os esforços que deversão ser cobertos pelo dimensionamento são:
 NSd = 868 tf; MSdx = 8,4 tf.m; MSdy = 210 tf.m (topo e base)
 NSd = 868 tf; MSdx = 29,4 tf.m; MSdy = 210 tf.m (meio)
Uma possível configuração de armadura que resiste adequadamente esses esforços é
apresentada a seguir.

Essa armadura equivale a uma taxa geométrica de 1,7%.Ac (100,5 cm2).

B. Cálculo com efeitos localizados


B.1 Armadura
Dividindo a lâmina do pilar-parede em 5 faixas com largura de 60 cm, e calculando os efeitos
localizados pelo método geral por meio de sucessivas verificações (já que para aplicação
desse método é necessário conhecer previamente a armação), chega-se a seguinte
configuração de armadura necessária:

Essa armadura equivale a uma taxa geométrica de 2,3%.Ac (138,2 cm2) e representa um
acréscimo de 38% em relação ao cálculo sem a consideração dos efeitos localizados.
Como os momentos fletores em torno da direção mais rígida atuam de forma simétrica, a
distribuição das armaduras também deve ser simétrica.

208
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
OBS.: recomenda-se sempre definir uma configuração de armaduras simétrica em pilares-
parede retangulares, a fim de evitar erros de posicionamento das mesmas durante a
construção.

B.2 Decomposição de esforços e rigidezes das faixas


Conhecendo a armadura e o esforço normal oriundo da decomposição da força normal (N Sd
= 868 tf) e do momento fletor (Myd = 210 tf.m) atuante no pilar, pode-se calcular a rigidez
secante EI para cada faixa da lâmina por meio da montagem de diagramas N, M, 1/r.

209
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

B.3 Cálculo dos efeitos localizados


Com a rigidez definida em cada faixa, pode-se então fazer uma análise não-linear geométrica
discretizando cada faixa em vários segmentos (barras), com intuito de obter os efeitos
localizados de 2ª ordem.
Os principais resultados são apresentados resumidamente nas figuras a seguir.

210
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Percebe-se o surgimento de efeitos localizados de 2ª ordem na extremidade do pilar-parede


comprimida pelo momento fletor que atua na direção mais rígida.

211
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 26
Nesse exemplo, vamos estudar um pilar composto por 3 lâminas com um formato de um
“U”, cujos dados são mostrados a seguir.

Ele representa uma situação típica de uma caixa de elevador comum nos edifícios de
concreto armado.
Analisando a esbeltez de cada lâmina de acordo com o comprimento l e corrigido em função
de suas vinculações, percebe-se que é necessário calcular os efeitos localizados de 2ª ordem,
conforme mostra a figura a seguir.

212
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A. Cálculo sem efeitos localizados

O dimensionamento sem a consideração


dos efeitos localizados de 2ª ordem (em
desacordo com a NBR 6118:2003)
conduziria a um dimensionamento com
112  10 mm (88 cm2).

213
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
B. Cálculo com efeitos localizados

O dimensionamento
com a consideração
dos efeitos localizados
de 2ª ordem
calculados pelo
processo aproximado
da NBR 6118:2003
conduziria a um
dimensionamento
com 90  16 mm (181
cm2). Isso representa
um aumento de 105%
em relação à análise
sem os efeitos
localizados.

A decomposição de esforços e
o cálculo de rigidez das faixas é
realizado de forma similar ao
que foi feito no exemplo
anterior.

214
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

215
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Percebe-se o surgimento de efeitos localizados de 2ª ordem na extremidade livre do pilar-


parede comprimida pelo momento fletor.

C. Enrijecimento das extremidades livres


Uma alternativa muito eficente para se evitar o acréscimo exagerado de armaduras nas
extremidades livres de pilar-parede, onde os efeitos localizados de 2ª ordem são
preponderantes, é enrijecer esses locais por meio da criação de “dentes de concreto”.
Trata-se de um tipo de solução que os construtores não apreciam, pois dificulta a execução
da obra. Porém, é extremamente eficaz.
Veja, a seguir, um exemplo de enrijecimento num pilar de caixa de escadas.

216
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 27
Vamos analisar o pilar-parede que calculamos a pouco criando “dentes de concreto” de 20m
nas extremidades livres, conforme ilustra a figura a seguir.

217
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Analisando a esbeltez de cada lâmina de acordo com o comprimento le corrigido em função
de suas vinculações (que agora deve levar em conta os “dentes de concreto” como
enrijecedores das extremidades livres), percebe-se que não é mais necessário calcular os
efeitos localizados de 2ª ordem, conforme mostra a figura a seguir.

218
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Dessa forma, o dimensionamento


conduziria a um dimensionamento
com 116  10 mm (91 cm2).
A criação dos “dentes de concreto”
evitaria a necessidade de acréscimo
de armaduras nas pontas.

Apenas para comprovar que esse resultado está compatível, vamos subdividir o pilar-parede
em faixas e verificá-las.

219
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Embora a extremidade com o “dente de concreto” seja solicitada por uma força normal de
compressão maior (a área da faixa aumenta), note que os efeitos localizados de 2ª ordem
nas extremidades são pequenos. Os esforços de 2ª ordem passam a ser maiores nas faixas
que estão no meio das lâminas.

220
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

MODELO COM MALHA


Conforme já foi dito no início deste capítulo, o cálculo de pilares-parede é um dos assuntos
mais discutidos e criticados no meio técnico profissional após a entrada em vigor da NBR
6118:2003.
Quando comparada com a extinta NB1-1980, na qual o pilar-parede era calculado somente
como um pilar comum, o dimensionamento considerando os efeitos localizados de 2ª ordem
pelo processo aproximado previsto na norma atual, gerou um acréscimo significativo na taxa
de armadura necessária.
Alguns artigos técnicos foram publicados procurando evidenciar a imprecisão do método
proposto na NBR 6118:2003. Esse fato deve, sim, ser considerado, mas com ressalvas.
Os efeitos localizados de 2ª ordem, no Estado Limite Último (ELU), em paredes de concreto
com grande esbeltez podem ocorrer e precisam ser considerados de forma a introduzir uma
maior segurança nesses elementos que, como já vimos, possuem uma grande
responsabilidade na estabilidade da estrutura de um edifício.
O fato de até hoje não existir algum caso de patologia registrado que demonstre que os
efeitos localizados foram responsáveis por algum dano estrutural, não justifica a não
consideração desses efeitos no cálculo. Não podemos esperar que o ELU seja atingido em
um caso real para nos cercar de mais segurança no projeto estrutural.
Evidentemente, como em qualquer outro problema de Engenharia, é necessária a execução
de ensaios em laboratório para se ter uma noção mais realista do comportamento de
pilares-parede. Somente dessa forma, chegaremos à conclusão se o que está definido na
norma atual está realmente superestimando os efeitos localizados de 2ª ordem.
Enquanto esses ensaios não forem realizados, é importante que a análise numérica desse
tipo de elemento seja cada vez mais aperfeiçoada, de tal forma a obter resultados mais
precisos e confiáveis.
A maior crítica com relação ao processo aproximado definido na NBR 6118:2003 é a
subdivisão das lâminas do pilar-parede em faixas independentes entre si como se fossem
pilares isolados, pois isso vai contra a situação real.
A seguir, será apresentado e estudado por meio de exemplos um novo tipo de modelagem
que representa uma evolução do processo presente na norma.
Nessa modelagem, o pilar-parede continua sendo dividido em faixas, porém as mesmas
passam a ser interligadas umas às outras por meio de elementos transversais, resultando
numa malha de barras.

221
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Cada faixa é modelada por barras longitudinais que são interligadas por barras transversais.

Dada a força normal (NSd) após a decomposição dos esforços totais no pilar-parede, bem
como a configuração de armaduras existente, são montados vários diagramas N, M, 1/r que
definem uma rigidez EIsec (a partir da linearização) para cada faixa.
Os efeitos de 2ª ordem são calculados por um processo iterativo que busca a posição final de
equilíbrio de todo conjunto.
As imperfeições geométricas são consideradas por meio da aplicação do momento mínimo
de 1ª ordem (M1d,mín) em cada faixa.

222
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Enfim, trata-se de uma modelagem em que as não-linearidades física e geométrica são
consideradas de forma bastante refinada. Nada mais é do que o Método Geral aplicado a um
conjunto de barras.

Esforços transversais
Devido à presença das barras transversais no modelo, além dos esforços ao longo de cada
faixa, obtêm-se também os esforços solicitantes (N, M e V) na direção transversal do pilar-
parede.
Esses esforços podem ser utilizados no dimensionamento da armadura transversal
(estribos), lembrando que essas armaduras também devem ser verificadas e dimensionadas
para resistir outros tipos de efeitos, como por exemplo, a flambagem das barras
longitudinais.

223
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

No item 18.5 da NBR 6118:2003, tem-se:


“A armadura transversal de pilares-parede deve respeitar a armadura mínima de flexão de
placas, se essa flexão e a armadura correspondente forem calculadas. Em caso contrário, a
armadura transversal deve respeitar o mínimo de 25% da armadura longitudinal da face.”
Esse é um outro item que gerou uma grande discussão no meio técnico profissional,
principalmente por ter gerado um consumo excessivo de armadura transversal em pilares-
parede, muito embora na extinta NB-1:1980, item 6.3.1.4, a taxa mínima exigida era de 50%,
condição esta que poderia ser desprezada quando As > 2%.Ac ou l > 12,5mm.
A seguir, vamos resolver os mesmos exemplos calculados anteriormente pelo processo
aproximado da NBR 6118:2003, agora com a modelagem com malha.

EXEMPLO 28
Trata-se de um pilar-parede retangular (já estudado anteriormente), conforme mostra a
figura abaixo.

224
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A lâmina é subdivida em 5 faixas com largura de 60 cm, cada qual com uma configuração de
armadura pré-definida.

Com a armadura e o esforço normal oriundo da decomposição da força normal (N Sd = 868 tf)
e do momento fletor (Myd = 210 tf.m) atuante no pilar, calcula-se a rigidez secante EI para
cada faixa da lâmina por meio da montagem de diagramas N, M, 1/r.

225
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
É adotada a rigidez à flexão integral nas barras transversais (EI c), enquanto que a rigidez à
torção das mesmas é desprezada.
Com as rigidezes de todos os elementos definidos, pode-se então fazer uma análise não-
linear geométrica com intuito de obter os efeitos localizados de 2ª ordem.
Os principais resultados são apresentados resumidamente nas figuras a seguir.

226
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

227
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Conclusões
 A modelagem com malha se comportou de forma adequada.
 A ligação entre as faixas gerou uma diminuição dos efeitos localizados de 2ª ordem
(de 2,4 tf.m para 2,0 tf.m). Porém, nesse exemplo, isso não refletiria num decréscimo na
armadura consumida nas extremidades do pilar-parede.
 Os momentos fletores nas barras transversais foram muito pequenos, reflexo da
ligeira deformação dos alinhamentos horizontais. Contudo, esses resultados não podem ser
considerados de forma exclusiva para o estabelecimento de uma armadura transversal
mínima.
 Para se ter uma resposta mais conclusiva com relação aos efeitos localizados de 2ª
ordem, bem como da definição da armadura transversal necessária, deve-se estudar
inúmeros outros casos que podem estar presentes em estruturas de edifícios de concreto
armado. Veja apenas um deles a seguir.

EXEMPLO 29
Trata-se de um pilar em “U” (já estudado anteriormente), conforme mostra abaixo.

228
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Os principais resultados obtidos pela modelagem com malha são apresentados a seguir.

229
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

230
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Conclusões
 A modelagem com malha se comportou de forma adequada.
 A ligação entre as faixas gerou uma diminuição significativa dos efeitos localizados de
2ª ordem (de 4,6 tf.m para 1,0 tf.m), não justificando o acréscimo de armadura consumida
nas extremidades do pilar-parede gerado pela aplicação do processo aproximado (faixas
isoladas).
 Os momentos fletores nas barras transversais foram não foram tão pequenos, pois as
lâminas com uma borda livre praticamente “engastaram” na superfície vinculada do pilar-
parede. Esses esforços indicaram a necessidade da colocação de armaduras transversais
(estribos).

EXEMPLO 30
Finalmente, vamos fazer a análise do pilar em “U” com dentes de concreto em suas
extremidades livres por meio da modelagem com a malha.

231
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

232
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Conclusões
 Novamente, a modelagem com malha se comportou de forma adequada.
 Assim como no processo aproximado, os “dentes de concreto” se mostraram muito
eficientes com relação à estabilidade nas extremidades do pilar-parede. Os efeitos
localizados de 2ª ordem passaram a ser desprezíveis.
 Os “dentes de concreto” também tiveram uma influência significativa na resposta nas
barras transversais do pilar-parede. A necessidade de armadura transversal (estribos) para
resistirem aos esforços gerados pela flexão das lâminas diminuiu sensivelmente.

PILARES EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO


NBR 15200:2004
Em vigor desde 2004, a NBR 15200 "Projeto de estruturas de concreto em situação de
incêndio" estabelece critérios para o projeto de estruturas de concreto que visam limitar o
risco à vida humana, da vizinhança e da propriedade exposta ao fogo. Seu objetivo é garantir
que a estrutura projetada atenda dois requisitos diante da ação do fogo: a função suporte
(capacidade resistente) e a função corta-fogo (não permitir que o fogo atravesse o elemento
estrutural e gere combustão fora da área compartimentada).
Resumidamente e de forma simplificada, essa norma estabelece que, em condições usuais,
as estruturas devem ser projetadas em temperatura ambiente e, dependendo de suas
características e uso, devem ser verificadas em situação de incêndio. Esta verificação deve
ser feita apenas no ELU e deve satisfazer a equação reduzida apresentada a seguir:

De forma aproximada, considera-se que o incêndio não gera solicitações adicionais


preponderantes nos elementos (Fq,exc = 0) e também que o mesmo se trata de uma ação
excepcional de baixa probabilidade de ocorrência, situação essa que, de acordo com a NBR
6118:2003, permite-se que o coeficiente f2 = 0, válido para combinação ELU, possa ser
substituído pelo coeficiente 2 da combinação quase-permanente. Essa consideração gera
uma razoável diferença no cálculo das solicitações em situação de incêndio (S d,fi), já que o 2
tem valores inferiores a 0, e principalmente porque 2 é igual a zero para o vento (NBR
6118:2003).
A resistência de cálculo em situação de incêndio (Rdi) é influenciada pela temperatura gerada
pelo fogo no elemento estrutural (). A NBR 15200:2004 estabelece curvas que definem a
variação da resistência e do módulo de elasticidade em função da temperatura , para o
concreto, aço convencional e aço protendido. Tanto as resistências (fck, fyk e fpyk) como os
módulos de elasticidade (Ec, Es e Ep) decrescem à medida que a temperatura aumenta.

233
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Método tabular
A expressão apresentada anteriormente, Sd,fi ≤ Rdi pode ser verificada analiticamente para
uma seção de concreto armado, desde que a temperatura  seja conhecida. Contudo, é
muito difícil estabelecer o valor dessa variável uma vez que é preciso prever como o fogo, e
consequentemente a temperatura, se distribui na estrutura. Como definir qual a
temperatura  que uma determinada viga no interior de um edifício atingirá durante um
suposto incêndio?
Diante dessa dificuldade, há processos mais simplistas propostos na NBR 15200 que
permitem averiguar o atendimento da expressão acima, sem que seja necessário fazer uma
análise térmica. Dentre eles, o Método Tabular, que consiste numa verificação por meio da
definição de dimensões mínimas dos elementos estruturais de acordo com a magnitude da
ação do fogo.
A ação do fogo na estrutura é representada de forma aproximada pelo TRRF (Tempo
Requerido de Resistência ao Fogo), que é tempo de exposição do edifício ao incêndio-padrão
(curva idealizada), cujo valor pode ser determinado na NBR 14432:2001 "Exigências de
resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações - Procedimentos" em função das
características da construção e de seu uso. Veja, a seguir, a tabela padrão que define o TRRF.

Note que os valores padrões do TRRF são: 30, 60, 90 e 120 minutos.
Opcionalmente, é possível reduzir o valor do TRRF obtido pela NBR 14432 em até 30 minutos
por meio da adoção de outros procedimentos mais precisos, como por exemplo o Método
do Tempo Equivalente. Nesse processo, leva-se em conta a área compartimentada, a carga

234
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
de incêndio, a ventilação e os mecanismos de combate e prevenção (brigada de incêndio,
sprinklers, detectores de fumaça, ...).
A seção 7.2 da NBR 15200 contém 12 tabelas para aplicação do Método Tabular. São valores
mínimos de dimensões e da distância do eixo da armadura longitudinal à face de concreto
exposta ao fogo (c1), especificados para lajes (apoiadas em vigas, lisas e nervuradas), pilares
(comuns e paredes), tirantes e vigas (biapoiadas e contínuas).
Ainda nesse método, têm-se:
 Não são consideradas as armaduras transversais, pois os ensaios mostram que em
incêndio a ruptura por cisalhamento não é predominante.
 Podem ser consideradas as espessuras dos revestimentos na verificação das
dimensões e do c1 mínimos, sendo que a eficiência dos mesmos pode ser de 67 % a 250 %,
dependendo do tipo de material empregado.

Verificação de pilares em situação de incêndio


No caso de pilares e pilares-paredes, os valores mínimos (bmin e c1min) definidos nas tabelas
presentes na NBR 15200:2004, variam de acordo com o adimensional µfi e o número de
faces expostas. O coeficiente µfi é a relação entre o esforço solicitante normal em situação
de incêndio (NSdi) e o esforço resistente normal em temperatura ambiente (N Rd). Veja, a
seguir, a tabela válida para verificação de pilares.

De forma aproximada, pode-se considerar NSdi = 0,7.NSd, de tal forma que µfi = 0,7.NSd / NRd.

Proposta Profº Valdir


No caso de pilares, a tabela presente na atual NBR 15200:2004 é considerada, na prática, um
tanto restritiva. Os valores mínimos foram determinados considerando um comprimento
equivalente (le) igual a 6 m, o que para edifícios usuais é um valor bastante fora do padrão.
Diante disso, há uma proposta do Prof. Dr. Valdir Pignatta da Silva apresentada no artigo
“Dimensionamento de pilares de concreto armado em situação de incêndio. Uma alternativa

235
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
ao método tabular da NBR 15200:2004”, publicado na revista "IBRACON Structures and
Materials Journal", 2008, v.1, n.4, p. 379 a 392. Veja, a seguir, uma tabela proposta para µfi =
0,7.

Essa proposta visa estabelecer valores que permitam conceber uma estrutura mais
econômica e condizente com os padrões atuais. E, provavelmente, fará parte da futura
revisão da NBR 15200.

Outras necessidades
É importante ressaltar que o Engenheiro não deve se preocupar apenas com a segurança
estrutural da edificação em situação de incêndio, que é o que a NBR 15200 visa garantir, mas
deve atentar também aos regulamentos e instruções técnicas do Corpo de Bombeiros e com
as normas federais, estaduais e municipais. Nestes se encontram medidas de segurança
muito importantes, tais como: acesso de viatura na edificação e áreas de risco, separação
entre edificações, saídas de emergência, controle de fumaça, etc.

EXEMPLO 31
Trata-se de um edifício comercial de concreto armado localizado na cidade de São Paulo,
composto por um subsolo, um pavimento térreo, um 1º pavimento, um pavimento Tipo com
7 repetições, uma cobertura e Ático. A altura entre o ponto que caracteriza a saída situada
no nível de descarga e o piso do último pavimento é de 29,3 m.
De acordo com a NBR 14432, o TRRF deve ser igual a 90 minutos.
O corte esquemático do edifício, a planta de arquitetura e de formas do pavimento 1oAndar
são apresentadas mais adiante.
a) Utilizando o método tabular da NBR 15200:2004, verifique se o pilar P6 do pavimento
1oAndar atende os requisitos mínimos em situação de incêndio.

236
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
b) Se a aplicação do método do tempo equivalente justificasse a redução do TRRF para
60 minutos, o referido pilar P6 passaria na verificação segundo a NBR 15200?

237
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

238
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

ASPECTOS GERENCIAIS DE PROJETO


Os processos mais exatos (se é que existe “exatidão” na Engenharia) são normalmente
aqueles mais valorizados pelo meio acadêmico. Para um pesquisador, por exemplo, não
importa muito se o que está sendo adotado é algo inviável de ser colocado em prática.
Interessa, sim, a precisão dos resultados, o uso de formulações inovadoras e deduções
rebuscadas.
Paralelamente a esse panorama, existe o profissional que efetivamente faz o uso dos
processos criados em pesquisas na vida real. É a pessoa que precisa “colocar a estrutura de
pé” e que necessita gerenciar um conjunto de fatores ao mesmo tempo, dentre eles a
segurança, o conhecimento, a responsabilidade, a experiência, o bom-senso e a
produtividade. Nesse caso, nem sempre o mais preciso é o mais indicado para ser usado de
forma generalizada no cotidiano.
Vejamos um exemplo a seguir.

Para o pesquisador, se o esforço no ponto M ultrapassar em 0,001 tf.m a resistência da


seção, o pilar não passa. Já, para o profissional, existem duas alternativas: ou “o pilar passa”,
pois está seguro de que existem outras aproximações tomadas à favor da segurança, ou o
“pilar não passa”, pois quer introduzir mais segurança à estrutura.
Enfim, são duas formas distintas de se encarar a Engenharia de Estruturas, cada qual com a
sua devida importância. O crescimento e a valorização dessa área, a Engenharia de
Estruturas, depende do sucesso de ambas as frentes, tanto a profissional como a acadêmica.
O principal objetivo desse curso foi apresentar conceitos e informações a respeito do cálculo
de pilares de forma prática, objetiva, sem se aprofundar demasiadamente nas formulações
matemáticas. Ou seja, de uma forma mais direcionada para o Engenheiro que necessita
projetar estruturas de concreto armado.

239
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Dessa forma, pretende-se fazer aqui um resumo de aspectos gerenciais importantes no que
se refere ao cálculo de pilares sem se deter ao preciosismo matemático e ao rigor científico.
O intuito é aliar os conceitos apresentados ao longo curso com a prática do dia-a-dia, de tal
forma a auxiliar na tomada de decisões durante a elaboração de um projeto.
Não encare o que vai ser apresentado a seguir como regras fechadas, imutáveis e infalíveis.
São apenas colocações que devem ser encaradas sempre de forma muito crítica, pois na
Engenharia de Estruturas “cada caso é um caso”.

Importância dos pilares


Em primeiro lugar, é sempre muito importante relembrar que os pilares são elementos
essenciais no bom comportamento estrutural de um edifício. Dessa forma, verificar os
resultados emitidos por um sistema computacional passa a ser uma tarefa que necessita ser
realizada sempre com extremo cuidado e atenção.
No fundo, todo Engenheiro sabe da importância dos pilares. O que acontece é que, devido a
exigências arquitetônicas e principalmente ao intenso ritmo do cotidiano, isso acaba sendo
esquecido e o Engenheiro passa a correr mais riscos desnecessários.

Visão gerencial
Nos dias de hoje, de um modo geral, os Engenheiros de Estruturas estão confiando demais
nos computadores. Isso é um fato consumado. A visão global do projeto e a sensibilidade
com relação à ordem de grandeza dos resultados estão sendo “perdidas”.
Para que isso seja evitado, mais do que saber executar os cálculos nos mínimos detalhes, é
necessário saber gerenciar o projeto.
No caso de pilares, antes mesmo de entrar a fundo no seu dimensionamento, é fundamental
detectar quais são os pontos críticos da estrutura. Qual lance de pilar eu não posso errar?
Qual aquele que devo introduzir mais segurança? Quais são aqueles que eu não preciso me
preocupar?

240
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
As respostas dessas questões são a chave para um bom cálculo de pilares. Acontece que
respondê-las, quase sempre, não é uma tarefa fácil e direta como se imagina.
A seguir, serão apresentados alguns pontos que podem auxiliá-lo a responder essas
perguntas.

Concepção e análise estrutural


Foque a análise estrutural em primeiro lugar. Se essa etapa for bem resolvida, “meio
caminho estará andado” para que o projeto seja um sucesso. Muitas vezes, quando surgem
problemas no dimensionamento, os porquês dessas ocorrências são encontrados na
modelagem adotada. O dimensionamento das armaduras é reflexo direto da análise
estrutural.
Uma simples visualização gráfica da distribuição de esforços ao longo do edifício já pode
auxiliar bastante.
Na medida do possível, duplique edifícios, estude várias alternativas, de tal forma a obter
uma “estrutura ideal”. Nisso, o computador pode nos ajudar bastante.
Um estrutura bem concebida e analisada adequadamente dificilmente gerarão problemas
durante o dimensionamento e detalhamento de pilares.

Valores globais
Durante a elaboração de um projeto estrutural, não é função do Engenheiro de Estruturas
verificar os resultados obtidos por um sistema computacional nos mínimos detalhes. Nem
existe tempo disponível para isso. O objetivo é evitar que erros grosseiros passem de forma
despercebida.
Por isso, num primeiro momento, é conveniente recorrer a relatórios que forneçam
resultados globais que despertem algum tipo de sensibilidade com relação aos cálculos
efetuados pelo computador. Somente utilize relatórios que possuem detalhes de esforços,
que geralmente são listagens “infinitas”, quando for necessário averiguar algum valor
específico após o checklist inicial.
Não adianta abrir um relatório de montagem de carregamentos utilizados no
dimensionamento de pilares para ser verificado do início ao fim. Ele é bastante útil apenas
no momento em que se deseja saber, por exemplo, porque a magnitude de um esforço num
determinado lance de pilar está exagerada.
A seguir, serão apresentados e discutidos alguns valores que podem ser úteis durante a
avaliação global do cálculo de pilares.

Índice de esbeltez
Basicamente, os pilares podem ser classificados de acordo com o seu índice de esbeltez da
seguinte forma:

241
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Nas estruturas usuais de concreto armado, a grande maioria dos pilares tem um índice de
esbeltez inferior a 90. Em certos casos particulares na qual a arquitetura do edifício impõe
uma geometria mais ousada, adotam-se pilares mais esbeltos (90 < ≤ 140). Casos de
pilares com índice de esbeltez superior a 140 são raros e devem ser evitados.

A definição do índice de esbeltez de um trecho de pilar depende diretamente das condições


de vínculo em suas extremidades. Usualmente, elas são consideradas livres ou restritas à
translação e à rotação, muito embora na vida real de edifícios de concreto armado, que é
monolítica, nenhum desses casos (totalmente livre ou totalmente restrito) ocorra.
Embora os sistemas computacionais atuais procurem detectar as condições de vínculo dos
pilares de forma automática, é sempre conveniente averiguar se os valores de esbeltez de
cada lance estão dentro do esperado.

242
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Lembre-se sempre que um pilar com  = 90 já é bastante esbelto. Num trecho biapoiado
com seção de 25 x 40, para atingir esse valor é necessário um comprimento equivalente de
6,5 m.
É conveniente evitar a adoção de pilares esbeltos num edifício de forma generalizada, pois
isso pode comprometer à segurança do edifício. Os pilares esbeltos são mais sensíveis às
imperfeições geométricas e aos efeitos de 2ª ordem.
Não é porque existem processos que permitem o cálculo de pilares com até  = 200, que os
pilares com esbeltez elevada devem ser definidos de forma generalizada e arbitrária.
Após o processamento do edifício, procure separar os trechos de pilares com  > 90 para
serem avaliados com mais detalhes.

243
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Taxa de compressão
Um pilar de concreto armado está predominantemente sujeito a uma compressão gerada
pelas ações atuantes no edifício. De uma forma geral, é interessante avaliar o nível de
compressão nos lances de pilares calculando a tensão ou a força normal adimensional
gerada pelas cargas verticais totais.

 Sd ( f .N Sk ) / Ac N Sd / Ac N Sd
   
 Rd f ck /  c f cd Ac . f cd

244
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

É difícil estabelecer um limite máximo para a tensão de compressão ou para a força normal
adimensional, visto que o dimensionamento final da seção do pilar é dependente de
diversos outros fatores. Mas, de uma forma geral,  ≥ 1,0 já representa uma taxa de
compressão considerável.
Após o processamento do edifício, procure dar atenção a trechos de pilares com  ≥ 1,2, e
verifique a possibilidade diminuir a taxa de compressão aumentando a seção de concreto ou
alterando a estrutura.
Além disso, é recomendável que os pilares tenham taxas de compressão similares na base
do edifício, de tal forma a evitar uma situação em que alguns deles estejam “folgados” e os
outros “muito carregados”.

Taxa de armadura
A NBR 6118:2003 estabelece 0,4%.Ac e 8%.Ac como taxas geométricas de armaduras
longitudinais mínimas e máximas numa seção de pilar, respectivamente. Na prática, valores
acima de 2%.Ac já podem ser considerados elevados.
Após o processamento do edifício, separe os trechos de pilares que possuem uma taxa de
armadura superior a 2%.Ac, e verifique a possibilidade diminuir esse valor aumentando a
seção de concreto ou alterando a estrutura.

245
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Na vida real
De acordo com o exposto anteriormente, não significa que nunca possamos definir um lance
com  > 90 ou com  > 1,2 ou com uma taxa de armadura superior a 2%.Ac, pois, na vida
real, são situações que invariavelmente acontecem.
O importante é ter noção do que elas representam para o comportamento da estrutura, de
tal forma a sempre priorizar um cálculo de pilares que alie segurança e economia.
Cada Engenheiro, com a sua experiência, deve ir memorizando em sua mente valores ou
índices globais que o auxiliem a gerenciar o cálculo de pilares. Na prática, muitas vezes, isso
acaba até sendo mais importante do que saber calcular “um pilar na mão”.

Imperfeições geométricas
Já foi dito que um pilar de concreto armado é bastante sensível perante as imperfeições
geométricas locais, e que a consideração das mesmas é obrigatória em seu cálculo.
A NBR 6118:2003 estabelece duas alternativas para se considerar as imperfeições
geométricas locais: pela verificação do momento mínimo de primeira ordem (M1d,mín) ou
pela aplicação de uma excentricidade adicional gerada por uma inclinação a. Daí, vem a
pergunta: qual devo utilizar?
No Brasil, é mais comum o uso do M1d,mín, que tende a gerar um dimensionamento à favor
da segurança (não é regra geral). Durante esse curso, foi estudado com detalhes apenas a
aplicação do M1d,mín por meio da definição das envoltórias mínimas, proposta na publicação
“Comentários da NB-1” do Ibracon.

246
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Apenas para relembrar, essa envoltória é verificada sem grandes dificuldades por meio de
duas flexões compostas normais.

Efeitos locais de 2ª ordem


Esse foi o tema mais estudado durante todo o curso.
Devido ao fato de que a recente norma de concreto permite a aplicação de 4 métodos
distintos, gerou-se muitas dúvidas com relação a esse assunto no meio técnico profissional.
Qual método devo utilizar?
Conforme já foi apresentado, cada um dos métodos tem suas próprias limitações muito bem
prescritas na NBR 6118:2003. No entanto, sob o ponto de vista gerencial de projeto, pode-se
definir a abrangência de cada um dos processos de uma forma um pouco mais específica.
Isso será discutido nos itens seguintes.

Aspectos gerais
Conforme se pôde observar durante a resolução dos exemplos ao longo do curso, o uso de
processos mais sofisticados (pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r e método geral)
tende a levar a um dimensionamento mais econômico. Em certos casos, a redução da
armadura não é pequena.

No entanto, é importante ter em mente que o uso de processos mais refinados, e a


conseqüente redução de armaduras, leva a uma estrutura “mais enxuta”, e portanto, que
247
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
fica mais propensa a atingir um Estado Limite Último. Na vida real, não temos a noção exata
do quanto estamos perto ou longe do ELU considerado nos cálculos.
Por isso, é recomendável que o uso de processos mais refinados no dimensionamento de
armaduras de pilares, de forma generalizada, seja feito apenas se o Engenheiro tenha total
segurança e controle da modelagem utilizada para simular a estrutura. Caso contrário, deve-
se sempre primar pela segurança da estrutura.
É muito importante lembrar que existem especialistas renomados que defendem que uma
maior segurança seja introduzida no cálculo atual dos pilares.
Vale a pena se arriscar?

Estudar e experimentar
Nos sistemas computacionais atuais, pode-se verificar um lance de pilar por qualquer um
dos métodos de forma bastante fácil. Isso auxilia, e muito, no entendimento do assunto (que
é complexo), em adquirir mais confiança nos resultados emitidos pelo computador e em
enxergar melhor as aproximações inerentes de cada método.
É recomendável, portanto, que se utilize o software como ferramenta de aprendizado, e não
apenas como ferramenta de projeto. Na medida do possível, estude casos aplicando os 4
métodos disponíveis para análise dos efeitos locais de 2ª ordem.

Pilar-padrão com 1/r aproximada X Pilar-padrão com  aproximada


Para o dimensionamento de pilares retangulares com armadura simétrica e  < 90, sugere-se
aplicar o método do pilar-padrão com rigidez  aproximada. Esse processo, ao mesmo
tempo em que é um pouco mais econômico que o pilar-padrão com 1/r aproximada, já foi
exaustivamente estudado, é seguro e está sendo largamente aplicado nos dias atuais.
Em casos de pilares com  < 90, não-retangulares ou com armadura assimétrica, recomenda-
se o uso do pilar-padrão com 1/r aproximada.

Pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r


Na grande maioria dos casos, o método do pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r
resultará num dimensionamento mais econômico que os métodos comentados no item
anterior.
É importante ressaltar que pequenas variações do valor da rigidez extraída do diagrama em
relação ao  aproximado, podem gerar alterações bruscas no momento total final (M Sd,tot).
O uso o pilar-padrão acoplado é obrigatório para o dimensionamento de pilares com
esbeltez entre 90 e 140.
Em casos de pilares não-retangulares ou com armadura assimétrica, seu uso deve ser feito
com certas restrições.
Embora possa ser aplicado no dimensionamento de pilares com  < 90, de forma
generalizada, recomenda-se o uso do pilar-padrão acoplado a diagramas somente em casos
específicos. Por exemplo: quando o Engenheiro da obra solicita a verificação de um lance de
pilar em que o seu concreto não atingiu a resistência esperada, e é necessário analisar com
mais precisão se o mesmo pode ser mantido ou precisa ser refeito.

248
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Método geral
Para o dimensionamento de armaduras, de forma generalizada, sugere-se utilizar sempre os
métodos aproximados, devido ao fato de que processamento com o método geral é bem
mais lento do que o cálculo com qualquer processo aproximado, pois para cada trecho de
pilar analisado pelo método geral é necessário executar uma busca iterativa da sua posição
final de equilíbrio.
Num processamento que leve em conta todos os pilares de um edifício via método geral
pode-se tornar muito mais oneroso que o cálculo com um dos métodos aproximados. Isso
pode prejudicar significativamente a produtividade durante a elaboração do projeto.
Assim como o pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r, o método geral é mais indicado
para verificação de situações específicas, como foi exemplificado no item anterior. Nesses
casos, sua grande vantagem é que ele nos consegue retratar a real situação do pilar perante
o ELU.
O uso do método geral é obrigatório para pilares com  > 140. Recomenda-se adotar um
coeficiente ponderador adicional (n = 1,4) nesses casos.

Pilar-parede
A análise de pilares-parede ainda tem um longo e difícil caminho de estudos e pesquisas, de
tal forma a se chegar a resultados sempre seguros e coerentes com a prática.
Encare o processo aproximado para análise dos efeitos localizados de 2ª ordem presente na
NBR 6118:2003 apenas como um estágio inicial, e não como algo definitivo. Alguns artigos já
mostraram que esse método, em certos casos, pode se tornar impreciso.
Enquanto aguardamos uma solução definitiva para esse problema, é necessário bom-senso
na tomada de decisões.
Na medida do possível, evite a adoção de pilares-paredes com grandes esbeltez, pois isso
resultará num elevado consumo de armaduras em suas extremidades livres. Muitas vezes,
ao aumentar um pouco a espessura da lâmina, os efeitos localizados de 2ª ordem podem se
tornar insignificantes.
Uma outra boa alternativa já abordada anteriormente é o enrijecimento das extremidades
do pilar-parede com “dentes de concreto”.
Os efeitos localizados de 2ª ordem somente são preponderantes em paredes de concreto
com elevada esbeltez.

Casos especiais
Em casos particulares e especiais, sempre procure privilegiar a segurança.

Isso, sim, é uma regra geral no dimensionamento de pilares de concreto


armado.

249
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

TENDÊNCIAS
Prever o futuro é uma tarefa bastante complicada, mas é possível fazer algumas indicações
com relação ao cálculo de pilares de concreto armado.

Complexidade inevitável
Embora todo tipo de aproximação de um problema de Engenharia seja algo extremamente
salutar (na essência, fazer Engenharia, muitas vezes, é simplificar o que existe na vida real), o
cálculo de pilares tenderá a ser cada vez mais refinado e sofisticado, tornando-se,
inevitavelmente, mais complexo.
Se existisse uma fórmula simples que possibilitasse o cálculo de todo e qualquer tipo de pilar
de forma precisa, segura e infalível, seria ótimo! Talvez isso venha a ocorrer no futuro, mas é
pouco provável por enquanto.

Uso intenso de computadores


O uso de computadores estará cada vez mais presente na análise de pilares. No dia-a-dia de
elaboração de projetos estruturais, onde cada vez mais a produtividade se torna um
requisito indispensável, fica difícil imaginar o trabalho de um Engenheiro de Estruturas sem
o auxílio de sistemas computacionais.

NBR 6118:2008
A evolução da nossa norma de concreto, a NBR 6118, seja talvez uma das necessidades mais
importantes de toda Engenharia de Estruturas, uma vez que a mesma é o mecanismo mais
eficiente para se fazer o elo entre a teoria e a prática.
No que se refere ao cálculo de pilares, as novidades que podem fazer parte da próxima
revisão da NBR 6118 prevista para 2008, são:
 Melhoria no texto que descreve o momento mínimo de 1ª ordem (M1d,mín), indicando
o uso das envoltórias mínimas como forma de verificação das imperfeições geométricas
locais.

250
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
 Inclusão da formulação direta do método do pilar-padrão com rigidez  aproximada.
 A  5.h
 N .l 2
,tot  B.M Sd ,tot  C  0 , onde:  B  h 2 .N Sd  Sd e  5.h.M S1d
2
A.M Sd
 320
C   N Sd .h 2 .M S1d

 B  B 2  4. A.C
M Sd ,tot 
2. A
 Melhorias com relação ao cálculo dos efeitos localizados de 2ª ordem em pilares-
parede que, conforme já foi dito anteriormente, ainda tem muito que evoluir.

Futuros modelos
Conforme já foi apresentado logo no início desse curso, o cálculo de pilares que efetuamos
hoje em dia possui várias aproximações.
Vamos relembrar como calculamos os pilares atualmente.
Inicialmente, a estrutura como um todo é calculada no computador por meio de uma
modelagem numérica (modelo global).

- Os pilares estão imersos


nesse modelo global,
vinculados às vigas.
- A rigidez à flexão EI da
seção transversal dos
pilares é minorada a fim
de considerar a não-
linearidade física de
forma aproximada (0,7.EIc
ou 0,8.EIc).
- Os efeitos globais de 2ª
ordem são avaliados pelo
coeficiente z ou pelo
processo P-.
- Podem ser consideradas
as imperfeições
geométricas globais.

251
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Uma vez efetuado o cálculo global, cada lance de pilar é extraído desse modelo e passa a ser
analisado de forma isolada (modelo local).
- As vinculações no topo e na
base passam a ser tratadas
de forma bastante
simplificada (apoios simples
ou engaste).
- A não-linearidade física,
por sua vez, é considerada
de forma mais refinada (1/r
aprox., rigidez aprox., rigidez
acoplada a diagrama N, M,
1/r).
- Os efeitos locais de 2ª
ordem são então avaliados
por pilar-padrão ou processo
iterativo mais refinado (“P-
”).
- São consideradas as
imperfeições geométricas
locais e a fluência.
Note que foram adotados dois tipos de modelos, global e local, na análise de um mesmo
pilar. E que, para cada um deles, são impostas simplificações distintas, embora o elemento
estudado seja o mesmo.
- Por que considerar a NLF de forma distinta nos modelos globais e locais?
- Os efeitos de 2ª ordem globais e locais não acontecem de forma conjunta?
Enfim, são aproximações necessárias para se viabilizar o dimensionamento de pilares
durante a elaboração de um projeto estrutural no atual estágio da Engenharia.
É de se esperar, no entanto, que esse tipo de abordagem evolua. É quase que certo que o
cálculo de pilares vai ser aperfeiçoado de tal forma que essas simplificações, aos poucos,
sejam deixadas de lado.

Pórtico Não-linear Físico e Geométrico (NLFG)


A seguir, será apresentado um novo tipo de modelagem, chamado daqui em diante de
“Pórtico NLFG” (pórtico não-linear físico e geométrico), que pode se tornar comum no dia-a-
dia do Engenheiro de Estruturas.

252
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Seja uma estrutura hipotética de concreto


armado, conforme mostra a figura ao lado.

Processo de verificação

Imagine que as armaduras nos pilares e nas vigas sejam


conhecidas, e que se deseja verificar a estrutura no Estado
Limite Último (ELU) perante as solicitações normais,
considerando as não-linearidades (física e geométrica) de
forma refinada.

Discretização
Toda a estrutura é então modelada por meio de um pórtico espacial, sendo que cada vão de
viga e lance de pilar é discretizado por várias barras.

Essa discretização mais refinada permitirá uma melhor análise dos efeitos das não-
linearidades física e geométrica.

253
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Não-linearidade física
A não-linearidade física nas vigas e pilares do Pórtico NLFG é considerada por meio da
obtenção de rigidezes à flexão EI a partir das relações momento-curvatura (M x 1/r ou N, M,
1/r) em cada seção do pórtico espacial.
As rigidezes de cada barra que representam um trecho de viga ou pilar são calculadas de
acordo com a geometria e as armaduras detalhadas em cada elemento estrutural, bem
como os esforços solicitantes iniciais obtidos por um pré-processamento. Dessa forma, a
consideração aproximada comumente adotada nos modelos ELU (0,4.EI c para vigas e 0,8.EIc
para pilares), é integralmente substituída por um cálculo mais refinado.

Nos pilares, são calculadas as rigidezes à flexão nas duas direções (EI y e EIz). Nas vigas, é
calculada apenas a rigidez à flexão EIy. A rigidez lateral EIz, comumente modificada para
simular o efeito de diafragma rígido das lajes, não é corrigida.

Nos pilares, as rigidezes são calculadas


exatamente de acordo com o diagrama
N, M, 1/r definido na NBR 6118:2003.
Ou seja, considera-se uma tensão de
pico igual a 1,1.fcd, com a possibilidade
de considerar f3 = 1,1.

254
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Já, nas vigas, as rigidezes são obtidas


com o diagrama calculado com
0,85.fcd e f3 = 1,0.
As forças normais nas vigas também
são consideradas.

Tanto nas vigas e pilares, as rigidezes podem ser obtidas por meio da linearização dos
diagramas momento-curvatura nas quais as duas direções são desacopladas (reta), ou por
meio da curva oblíqua (superfície) obtida com os esforços solicitantes concomitantes nas
duas direções.

Não-linearidade geométrica
A não-linearidade geométrica, ou seja, a influência da forma da estrutura à medida que o
carregamento é aplicado sobre a mesma, é considerada por meio de uma análise não-linear
na qual a posição de equilíbrio da estrutura é calculada iterativamente (P-).

255
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

A grande diferença é que, como cada lance de pilar e vão de viga é discretizado em inúmeras
barras, além dos efeitos globais de 2ª ordem, são flagrados também os efeitos locais de 2ª
ordem, de forma conjunta e concomitante.

Outro grande avanço é que as vinculações nos extremos de cada lance de


pilar no cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem são consideradas de forma
mais realista. Não há mais a aproximação de considerar cada trecho
biapoiado ou engastado na base.

Imperfeições geométricas
No Pórtico NLFG, podem ser consideradas imperfeições geométricas globais ou locais. Essas
imperfeições são impostas no modelo através da alteração direta da geometria da estrutura.

256
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Uma grande vantagem desse tipo de abordagem é que os efeitos gerados pelas imperfeições
locais passam a ser absorvidas por todo conjunto de vigas e pilares, e não mais apenas por
um lance de forma isolada.

Fluência
O efeito da fluência ou deformação lenta do concreto é considerado por meio de uma
correção direta nas deformações em cada seção, que por sua vez influencia diretamente na
curvatura da mesma.
Essa correção é feita através de uma majoração nas deformações no concreto
(encurtamentos) por (1+ ), sendo  o coeficiente de fluência definido na NBR 6118:2003.

Dessa forma, a obtenção da rigidez EI do diagrama momento-curvatura é alterada.

Verificação ELU
Ao término do processamento, após a obtenção dos esforços finais em cada barra do Pórtico
NLFG, é realizada a verificação de cada trecho de viga e pilar perante os esforços normais
(força normal + momentos fletores) no Estado Limite Último (ELU), levando-se em conta
todas as prescrições presentes na NBR 6118:2003.

A seguir, serão apresentados alguns exemplos analisados no Pórtico NLFG

257
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO ESTACA
Exemplo de verificação de uma estaca (pilar) de seção variável submersa no mar que
sustenta uma parte de uma superestrutura de uma ponte por meio do pórtico não-linear
físico e geométrico (NLFG) do TQS. Foram consideradas vinculações elásticas na parte
inferior do elemento para simular o solo, bem como também no topo para adequar a rigidez
de uma ponte. Seus dados são apresentados a seguir.

258
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Inicialmente, foi criado um edifício com pisos intermediários onde serão definidas as molas
do solo e a variação de seção da estaca.

A estaca foi modelada por um único elemento com variação de seção. Foi executado o
processamento global para montagem de um modelo inicial. Depois, foram impostas as
condições de contorno (molas) e os carregamentos no programa de edição de dados de
pórtico.

259
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
No editor de pilares, foram adicionadas as armaduras previamente conhecidas.

Foram configurados os critérios do pórtico não-linear físico e geométrico. O cálculo da


rigidez EI foi habilitado somente para pilares (estaca). A favor da segurança, foi determinada
a análise pela reta, muito embora fosse possível também utilizar a superfície N, M, 1/r (curva
oblíqua) para cada seção.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A imperfeição geométrica foi simulada por uma inclinação global, resultando uma
excentricidade no topo de 4,2 m em ambas as direções.

Executando o processamento do pórtico NLFG, chegou-se numa rigidez média igual a


0,24*.EIc.

Lembrando que foi adotado um GamaC = 1,9, conforme definido nos dados da estaca.

261
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
A rigidez secante obtida pelo diagrama N, M, 1/r é apresentada a seguir.

Seria possível fazer a análise também utilizando a rigidez obtida pela superfície N, M, 1/r
para cada seção.

Dessa forma, rigidez média atingiria 0,46*.EIc.

262
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
No visualizador de pórtico NLFG, é possível visualizar os diagramas de deslocamentos (1ª e
2ª ordem) e força normal (NSd = 430,7 tf no topo e NSd = 539,8 tf na base).

Força cortante (VSd = -23,0 no topo) e momento fletor numa direção (M Sd = -231,6 tf.m no
topo e MSd = 156,4 tf.m junto ao topo do solo submerso).

263
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Força cortante (VSd = -31,4 no topo) e momento fletor na outra direção (M Sd = 312,1 tf.m no
topo e MSd = -220,8 tf.m junto ao topo do solo submerso).

A seção crítica é a do topo, cuja curva de interação é apresentada a seguir.

264
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLO SÓCULO
Trata-se de um edifício hipotético ilustrado abaixo cujo objetivo é analisar pilares com
sóculos.

Note que foram definidos 4 pavimentos: um contendo as sapatas, outro para simular o solo
(com 2 pisos repetidos), o térreo (chamado de Fundação para ficar compatível com a sua
nomenclatura) e o primeiro pavimento. Os quatro pilares, que são idênticos, possuem 3,0 m
acima do topo da sapata confinados pelo solo, acrescidos de 3,5 m livres até as vigas do 1º
pavimento. Nos três primeiros pavimentos, os pilares possuem seção de 60 cm X 60 cm. Já,
no último, possuem 50 cm X 50 cm. Veja as plantas a seguir.

265
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
Ao processar o edifício globalmente, ativando o dimensionamento, detalhamento e desenho
de vigas e pilares, obtêm-se automaticamente o seguinte desenho de armação.

O dimensionamento das armaduras dos pilares levou em consideração a variação de seção,


pé-direito de 6,25 m (6,5 – ½ da altura da viga) e apoios articulados no topo e na base (bi-
rotulado). Isso fica claro ao visualizar o relatório de montagem de carregamentos do
CAD/Pilar, parcialmente mostrado abaixo.

266
EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
É importante salientar que o lançamento usual desta estrutura no sistema conduziria a um
cálculo de um pilar bi-rotulado com pé-direito de 6,25 m e seção única. Para introduzir a
variação de seção no cálculo automático efetuado pelo sistema, foram definidadas cargas
verticais com valores muito pequenos nos pilares no pavimento Fundação dentro do
Modelador Estrutural.
Até o presente momento, as condições de vinculação conferidas pelo solo não foram
consideradas. Para atender este requisito, bem como refinar a análise, passarei a utilizar o
Pórtico Não-Linear Físico e Geométrico (Pórtico NLFG).
A geração deste modelo é baseada no pórtico espacial ELU do edifício e utiliza as reais
armaduras detalhadas nas vigas e nos pilares para cálculo da rigidez EI a partir de diagramas
N, M, 1/r.

Partindo destes princípios, foram introduzidos coeficientes de molas arbitrários nos nós do
pórtico ELU que estão vinculados pelo solo.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Ao processar o Pórtico NLFG, então, obtém-se os seguintes resultados (diagrama de


momentos fletores).

A rigidez EI em cada trecho dos pilares foi calculada levando-se em consideração a variação
de seção e as reais armaduras detalhadas.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

Os efeitos locais de 2ª ordem que, neste caso são pequenos, pois os pilares são robustos,
foram calculados por uma análise não-linear geométrica refinada. Veja abaixo o diagrama de
deslocamentos.

No visualizador de Pórtico NLFG, a verificação ELU à flexão composta oblíqua nas vigas e nos
pilares pode ser facilmente realizada.

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)

EXEMPLOS RESOLVIDOS
A seguir, uma lista dos exemplos resolvidos durante o curso:
Descrição Tipo de resolução
01 Cálculo de adimensionais Manual
02 Curva de interação TQS
03 Solicitações iniciais Manual + TQS
NLF via N, M, 1/r TQS
NLG via P- TQS
04 Solicitações globais de 2ª ordem Manual + TQS
05 Coeficientes b e 1 Manual
06 Pilar-padrão com 1/r aproximada Manual + TQS
07 Variação de  TQS
08 Pilar-padrão com  aproximada (processo iterativo) Manual + TQS
09 Pilar-padrão com  aproximada (formulação direta) Manual + TQS
10 Diagrama N, M, 1/r segundo a NBR 6118:2003 TQS
11 Pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r Manual + TQS
12 1/r e rigidez  equivalentes Manual + TQS
13 Ábaco -- Manual + TQS
14 Método geral TQS
15 Método geral (pilar engastado na base) TQS
16 Todos métodos Manual + TQS
17 Flexão composta oblíqua I Manual + TQS
18 Flexão composta oblíqua II Manual + TQS
19 Flexão composta oblíqua III Manual + TQS
Superfície N, M, 1/r e desacoplamento via linearização TQS
20 Flexão composta oblíqua (todos processos) Manual + TQS
21 Imperfeição geométrica local via 1 Manual
22 M1d,mín (sem 2ª ordem) I Manual
23 M1d,mín (sem 2ª ordem) II Manual
24 M1d,mín (com 2ª ordem) Manual
25 Pilar-parede retangular Manual + TQS

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EE05 – Pilares (Alio E. Kimura)
26 Pilar-parede “U” TQS
27 Pilar-parede “U” com enrijecimento TQS
28 Pilar-parede retangular (malha) TQS
29 Pilar-parede “U” (malha) TQS
30 Pilar-parede “U” com enrijecimento (malha) TQS
31 Verificação em situação de incêndio Manual + TQS

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