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A gestão pública moderna e a credibilidade

nas políticas públicas

João Batista Marques

Sumário
1. Introdução. 2. A gestão pública. 3. A mo-
derna gestão pública. 4. A credibilidade nas
políticas públicas. 5. Conclusão.

1. Introdução
À guisa de introdução, quero apresentar
este modesto trabalho ao profícuo reflexio-
nar dos estudiosos do tema que, seguramen-
te, terão maior clarividência e poderão
acrescentar significativas idéias e opiniões
mais abalizadas a respeito da prática da
Gestão da Coisa Pública. Não é objetivo deste
senão a tentativa de clarificar alguns con-
ceitos, tornar mais acessíveis as noções fun-
damentais do atuar dos agentes políticos na
gestação e gestão dos dinheiros que o povo,
conscientemente, delega ao Estado para que
este o administre da forma a mais eficaz e
eficiente possível. Também, consoante a fi-
nalidade deste, é aceitável oferecer subsídios
que possam instrumentalizar a consecução
de políticas públicas confiáveis e factíveis
de avaliação e que possam revigorar e forta-
lecer o Estado Democrático de Direito no
qual estamos inseridos.
A gestão pública moderna tem como
João Batista Marques é Advogado, Mestre
em Estudos Políticos Aplicados pela Fundación substrato a imprescindibilidade de um con-
Internacional y para Iberoamérica de Admi- teúdo ético, moral e legal por parte dos ato-
nistración y Políticas Públicas, Madrid, Espa- res que a informam. É igualmente um com-
nha, 2001. ponente dela a existência de um conteúdo
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pleno de elementos tecnológicos que facul- como dispor dos meios de informação sufi-
tem a utilização dos mesmos para submi- cientes para gerar com eficiência a gestão
nistrar à atuação dos intervenientes o po- que levam a cabo; e para que tudo isso seja
tencial de eficácia e eficiência que se espera possível e mais eficaz, é necessário que haja
da Administração dos bens públicos. uma estrutura administrativa interna capaz
A crença no resultado positivo da políti- de apresentar as soluções adequadas para
ca pública a ser implementada encontra-se os problemas com que se enfrentam os po-
em relação de interdependência com a cre- deres públicos na hora de implantar uma
dibilidade de que goza a Administração política pública.
Pública por intermédio dos seus gestiona- Para que o setor público esteja apto a aten-
dores. der as demandas sociais, para que, objeti-
vamente, possa funcionar, algumas condi-
2. A gestão pública ções hão que ser postas em evidência, ou
seja, a gestão há que ter como prioridade
As organizações, inobstante o fato de absoluta os interesses da sociedade; que o
serem públicas ou privadas, são entidades Estado-gestor tenha informações suficien-
por intermédio das quais se relacionam tes que possibilitem o exercício pleno de seu
pessoas em busca de metas não só indivi- poder-dever e, ao mesmo tempo, não se tor-
duais, como também metas coletivas, alme- ne demasiado paquidérmico; deve estar o
jando com tal propósito atingi-las de ma- Estado amparado por uma organização
neira a alcançar a máxima utilidade e bene- interna preparada, e deve ser movimen-
fício a um custo mínimo. tada por uma coordenação adequada, bem
O que diferencia, basicamente, a organi- como dotada de mecanismos motivado-
zação do setor público daquela que promo- res e incentivadores em relação ao seu
ve o setor privado para as empresas pode aparato humano.
ser vislumbrado por intermédio do poder A gestão do setor público, por sua vez,
de coação que tem o Estado em razão do significa o resultado da dedicação ao contí-
particular. Não se pode ver como traço dis- nuo estudo da organização interna do go-
tintivo entre as duas formas de organização verno, tendo em vista o seu próprio funcio-
a problemática da estrutura hierárquica, namento jurídico-político que, em ultima ra-
pois tanto uma como a outra utilizam o tio, consubstancia a gerência da adminis-
modelo de mando. tração do interesse comum. Note-se que este
A gestão que promove o Estado para estudo deve ter como horizonte os princípios
prestar os serviços que lhe são acometidos abstraídos da análise teórico-prática resul-
tem caráter singular. Pois, ao mesmo tempo tante da ótica da economicidade.
em que as empresas prestam um serviço ao
público, pondo ao seu dispor produtos e 3. A moderna gestão pública
serviços úteis, possuem esses entes como fim
último de sua existência a obtenção de lu- Ao falar sobre a modificação da lei de
cros a maior quantidade possível. Já com o funcionamento do Tribunal de Contas da
Estado acontece algo bem diferente com a Espanha, seu presidente pediu a introdu-
prestação de seus serviços. E para que um ção de elementos de gestão moderna: “uns
Estado possa bem cumprir com os seus fins, elementos que se poderiam incluir é a cria-
possa funcionar corretamente, os gestores ção de um registro de maus gestores”, prele-
públicos têm que ter primeiro em conta os cionava. O tribunal não só tem que pôr de
interesses gerais da sociedade e, por outro manifesto que houve má gestão, mas tam-
lado, devem estar respaldados pela legiti- bém deve determinar umas responsabilida-
midade democrática em seu maior grau, bem des. Isso não pode ser feito apenas pelos

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controles internos de cada órgão da Admi- “a gestão pode definir-se em termos
nistração do Estado, que depende do gover- de processamento de informação, di-
no, mas por intermédio do Tribunal de Con- vidido entre reunir informação, trans-
tas, que depende do parlamento. miti-la, analisá-la, armazená-la, libe-
Cabe, então, refletir sobre o que vem a ser rá-la e finalmente empregá-la na to-
a gestão moderna. mada de decisões,no controle e na
As modernas práticas de gestão, como avaliação” (tradução livre).
suplicado pelo Presidente do Tribunal de Um dos pilares essenciais sobre a eficiên-
Contas Espanhol, são também conhecidas cia no gestionar da coisa pública pode, even-
pela expressão inglesa “value for money” e tualmente, ter o seu foco de análise visto sob
constituem um conjunto de medidas prag- o ângulo do que significa o Controle para a
máticas, levadas a efeito pela Administra- gestão.
ção Pública, que se fundamentam em uma A efetividade de um controle da gestão
lógica econômica a ser empregada nos va- vai depender do conhecimento das finali-
lores dos serviços públicos. Caracterizam- dades, dos meios e dos resultados das polí-
se por interpretação valorativa, do ponto de ticas públicas que se implantam; depende,
vista econômico, do serviço que presta o por outro lado, do valor que se dá à infor-
Estado ao cidadão e tem como traço distin- mação obtida com a implantação; e também
tivo a gestão por objetivos, avaliados, pois, da correção dos eventuais equívocos que
por medidas de realização; são utilizadas intervenham no desenho da política.
como parâmetro as regras de mercado com O controle deve ser de modo tão amplo
todos os seus mecanismos; dá-se primazia que possibilite um feedback completo da ati-
à competitividade como forma de dinami- vidade proposta na política pública. Deve
zar a relação custo-benefício dos serviços ter como traço característico um espectro
públicos; e, por fim, promove a eleição de amplo que permita a análise desde o ponto
um novo sistema de autoridade, de respon- de vista da legalidade do gasto, que possa
sabilidades e de contabilidade. ter uma resposta baseada na prontidão,
Segundo Juan ANTONIO GARDE (2001), para permitir que a avaliação constitua fer-
“a nova Gestão Pública trata de reno- ramenta motivadora de conseqüências po-
var e inovar o funcionamento da Ad- líticas para os gestores e, forçosamente, deve
ministração, incorporando técnicas centrar-se na eficiência do gasto, pois não
do setor privado, adaptadas as suas se admite um gasto do dinheiro público
características próprias, assim como que não seja bem feito, em todos os seus
desenvolver novas iniciativas para o aspectos.
logro da eficiência econômica e a efi- Naturalmente, a medida proposta pelo
cácia social, subjaz nela a filosofia de insigne Presidente do Tribunal de Contas
que a administração pública oferece de Espanha encontra respaldo nas mais re-
oportunidades singulares, para me- centes teorias que justificam a moderniza-
lhorar as condições econômicas e so- ção da gestão pública.
ciais dos povos”. Também se podem ouvir ecos do acima
A novel gestão se baseia na informação, enunciado no Informe NOLAN (1999) pu-
cuja essência assume o caráter do conteúdo blicado na Grã-Bretanha em 1995 com o tí-
da ação de ter que ser transmitida, depois tulo Standards in public life e que constitui
de analisada e armazenada, bem como ser um documento de valor inestimável de con-
liberada, para que possa servir para as fu- sulta e estudo dos comportamentos éticos
turas tomadas de decisões, para novo con- dos funcionários públicos e dos agentes
trole e para a subseqüente avaliação. De acor- políticos. Traz o documento importantes
do com METCALFE y RICHARDS (1987), recomendações, inclusive com o estabeleci-

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mento de códigos de condutas éticas para resses dos membros de cada órgão e
aqueles que trabalham na vida pública. O como apresentar reclamações)”.
documento, ainda, aporta relevantes aspec- Portanto, fica justificado que a medida
tos para o tema do Controle, corroborado proposta pelo ilustre presidente do Tribu-
pelas sábias palavras de Sir David Cooke- nal Espanhol de Contas tem boas condições
sey, Presidente da Comissão de Auditoria para possibilitar um maior controle sobre
daquele país as contas públicas.
“Cremos que sempre que se gasta Provavelmente, os custos com a supervi-
o dinheiro público em quantidades são seriam diminuídos, pois ficaria, na prá-
significativas, se deveria aplicar os tica, muito mais difícil haver desvio nos gas-
princípios da auditoria pública. Com tos realizados pelos agentes públicos. Pos-
os princípios da auditoria pública sibilitada estaria uma maior qualidade da
queremos dizer, que se deveria nomear gestão, pois a ninguém ocorreria estar dis-
auditores externos que deveriam ser posto a assumir o risco político, nem pôr em
independentes dos organismos aos risco a carreira na administração pública, o
quais se pratica a auditoria; que a au- que significa uma melhora considerável na
ditoria deveria consistir em não so- disposição de eficiência dos gastos.
mente uma auditoria de probidade Por outro lado, a questão não resulta de
que comprove que o dinheiro se gasta fácil aplicação nas administrações públicas,
de forma honesta e correta, mas tam- em geral, inclusive por uma razão cultural
bém que deveria comprovar que se em países de pouca tradição democrática,
gaste o dinheiro bem ...; para concluir: pelo que comprometeria politicamente mui-
os auditores deveriam poder publicar tos setores que fazem da atividade pública
informes no interesse público sempre uma forma de aquisição de recursos para o
que creiam que é importante que o próprio patrimônio ou para o patrimônio
público saiba onde houve malversa- de outrem.
ção ou mal uso dos dinheiros públicos. Ademais, imagino que existem, e sem-
Estes informes no interesse público fun- pre haverá, pessoas que não estão compro-
cionam como uma espécie de freio e metidas com os legítimos interesses da socie-
equilíbrio muito importantes para as- dade, por seus comportamentos que deno-
segurar que se mantenham os altos ní- tam um desapreço pelo cumprimento das
veis de conduta na vida pública”. normas estatuídas no estado democrático
No documento formulado pela ORGA- de direito. Sem embargo, isso não deve sig-
NIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DE- nificar o impedimento para se pôr em mar
SENVOLVIMENTO ECONÔMICO – OCDE, cha uma cruzada contra os desonestos, os
está pontualizado que um controle efetivo malversadores dos bens públicos, dos que
terá que ter publicação com se utilizam da função pública em benefício
“informes e contas anuais, incluída próprio.
informação acerca do papel e compe- A título de resumo, a administração da
tência do órgão, os planos a longo coisa pública deve estar resguardada de to-
prazo e a estratégia; os membros do dos os tipos de ilicitudes e irregularidades
órgão, os resultados comparados com que possam provocar manchas na gestão
os objetivos-chave, objetivo para o ano dos dinheiros públicos, e, para tanto, há que
vindouro, o compromisso com uma ser dotada de um conjunto de instrumentos
administração aberta e métodos para relacionados com a gestão desses fundos,
consegui-la; e onde se pode obter in- que sejam utilizados para definir responsa-
formação adicional (incluído como se bilidades e também expectativas entre as
pode inspecionar o registro de inte- partes interessadas, para que se possa con-

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seguir os resultados que foram coletivamente política submetida à coordenação do
pactuados. governo – é perpétua; nunca se ganha
de uma vez por todas. Recuperar a
4. A credibilidade nas políticas credibilidade pode levar muito mais
públicas tempo que ganhá-la pela primeira vez.
Se a confiança é quebrada, haveria que
Discutir o papel da credibilidade como dar a seguinte alavancada na refor-
determinante dos custos de transação do in- ma, e fazê-lo já ( ... ) As pessoas resis-
tercâmbio político parece estar umbilical- tem às mudanças quando o governo
mente ligado ao tema da gestão pública carece de credibilidade, até que o con-
moderna, cujo desafio maior é ser capaz de traste entre seu comportamento ante-
apresentar um desenvolvimento sustentá- rior e os imperativos das novas medi-
vel, eficaz e eficiente. das imponham sobre a economia cus-
No mesmo documento formulado pela tos importantes que haveriam sido
OCDE, acima referido, está assentada a preo- perfeitamente evitáveis”.
cupação de muitos de seus membros, que é O problema da credibilidade das políti-
o sentimento de um “declive manifesto da cas públicas de um governo está imbricado
confiança na administração pública”. Os ci- primacialmente, e de maneira quase inexo-
dadãos parecem estar perdendo a confiança rável, com os seguintes e importantes aspec-
nos responsáveis pela tomada de decisões, tos, a saber: em primeiro lugar, com o con-
com as correspondentes repercussões nega- ceito de estabilidade de suas instituições;
tivas sobre a legitimidade do governo e das em segundo plano, com a configuração en-
instituições estatais. O denominado “défi- tre aquilo que é público e aquilo que é priva-
cit de confiança” vem alimentado por es- do, pois se encontra refletida pela Adminis-
cândalos divulgados pelos meios de comu- tração Pública, cuja síntese constitui o pa-
nicação, que abarcam desde atos indevidos pel de intermediação entre os objetivos últi-
dos funcionários até casos de autêntica cor- mos do Setor Público e os interesses da socie-
rupção. Poucos ou nenhum dos países mem- dade civil; em terceiro lugar, com a consti-
bros daquela organização hão se livrado do tuição de uma espécie de necessidade per-
escândalo ou da realidade dos fatos. O mes- manente de mudança que, ao final e ao cabo,
mo documento conclui que “há uma maior diz respeito ao alcance e à dimensão mes-
tendência a apoiar-se na promoção de valo- ma das políticas públicas a serem objeto da
res e o aumento da transparência mediante intervenção; e, por fim, com os mecanismos
procedimentos de denúncia e mecanismos sociais plasmados pela pluralidade de ato-
de declaração prévia de interesses”. res, pela crescente iniciativa dos particula-
Sir Robert Douglas, ex-ministro de Eco- res e pelo dinamismo dos mercados, nota-
nomia da Nova Zelândia e impulsor da re- damente em um contexto de globalização e
forma gerencialista iniciada por aquele país em face do crescente desenvolvimento dos
em 1984, entende que, por melhor que pu- diversos segmentos do terceiro setor.
desse estar intencionada a implantação de A gestão da res publica segundo Juan
uma política pública, de nada adiantaria se ANTONIO GARDE (1996):
cercar de todas garantias de aplicação se “hoje mais do que nunca gestionar
não estivesse presente o pressuposto da con- organizações públicas é administrar
fiança que o cidadão deposita nos seus ges- recursos, informação e decisões atra-
tores governamentais, e nesse particular vés de mecanismos de integração. A
prelecionava: integração de recursos, de equipamen-
“A batalha pela coerência e a cre- tos, de objetivos, de departamentos, de
dibilidade – centrais em toda decisão níveis de governo, de interesses, de

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fórmulas de regulação, aparece como expectativa geral é que as políticas públicas
fator relevante e, tudo isso, alinhado originadas no seio do setor público sejam
com um permanente processo de ne- destinadas a dar soluções adequadas, e não
gociação. A adaptação, como respos- simplesmente gastos desnecessários ao erá-
ta necessária às mudanças não pre- rio. É importante ressaltar que o cidadão não
vistas do entorno e a sua complexida- é apenas um consumidor inerte dos servi-
de, necessita de altas quotas de flexi- ços que presta o Estado; é mais, é uma espé-
bilidade, iniciativa e capacidade de cie de acionista de uma grande empresa
integração para responder aos impre- denominada Setor Público. É seu desejo, por
vistos com eficácia. Os paradoxos e conseguinte, estar protegido por normas de
os conflitos não são situações excep- revelação e responsabilidade no trato de
cionais, são a cotidianidade em nos- seus interesses, bens e serviços.
sas decisões organizativas”. O insigne professor Francisco Cabrillo,
E de tudo isso se pode falar em outra carac- da Universidade Complutense de Madrid,
terística que resulta ser indispensável para expõe interessante colocação em torno do
a consecução de uma gestão eficiente e de- tema da credibilidade da gestão pública e
sejada pelas pessoas que é a necessidade fundamenta suas explicações no que deno-
de, ao implementar determinada ação go- mina “Teoria das expectativas razoáveis”,
vernamental, esta ser, pois, crível, já que o que consiste em termos gerais no que se se-
político deve sempre ter em conta os proble- gue: para que uma política pública funcio-
mas que afligem os cidadãos, para que se ne adequadamente e tenha bom êxito, é ne-
possam vislumbrar a opinião e as razões cessário e imprescindível que as pessoas
dos mesmos. Faz-se necessário, portanto, creiam que o governo a cumprirá em sua
que se defina conjuntamente o problema concepção, execução e que o resultado seja,
pelo gestor público e pelos clientes usuários, ao mesmo tempo, a um custo mínimo e com
para que seja implantada uma política de- o máximo de benefício possível. É o mesmo
sejável e adequada, resultado do proces- que dizer que o governo cumpra com o que
so de gestão democrático. ficou delineado, programado para a políti-
A credibilidade na gestão pública, natu- ca pública, pois, se assim não agir, as pes-
ralmente, há de resultar como fator determi- soas descontam a expectativa de que a me-
nante para o logro da política pública que dida vai até o seu termo final.
se pretenda pôr em curso, pois esta necessi- As políticas públicas que pretendam
ta ser fiável diante dos exigentes olhos do implantar-se têm que ter o respaldo da con-
usuário contribuinte que já não está mais tão fiança que as pessoas depositam na admi-
despreocupado com a gestão de seus interes- nistração pública, para que não haja desne-
ses confiados aos agentes gestores. Segundo, cessário desperdício dos recursos públicos
ainda, Juan ANTONIO GARDE (2001), com um programa que, não contando com a
“A gestão pública neste contexto crença que dá a legitimidade, redundará em
interdependente aparece como instru- assombroso fracasso.
mento ativo da tomada de decisões Exemplo ilustrativo do que se afirma em
políticas ao incorporar valores sociais, torno da credibilidade da política de gestão
avaliar incidências das decisões e da coisa pública, e que teve êxito, pode ser
operar como marco organizado de verificado no âmbito da macroeconomia bra-
consenso social, integrando e promo- sileira recente, em que o governo, com o ob-
vendo a participação da sociedade jetivo de promover o equilíbrio orçamentá-
civil nas decisões públicas”. rio, visando, acima de tudo, reduzir os gas-
O povo cada vez mais exige gestores go- tos no setor público, introduziu uma políti-
vernamentais conscientes de seu papel. E a ca, que se fez por demais crível para a socie-

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dade, de contenção dos gastos com salários O gestor da coisa pública é, por conse-
do funcionalismo público federal, impon- guinte, um vocacionado para o servir ao
do-lhes um congelamento de salários por social, antes mesmo de qualquer interesse
mais de sete anos. Outro importante progra- particular; aquele que, alçado à condição de
ma que pôs de manifesto a expectativa de mandatário dos anseios e necessidades da
credibilidade do povo brasileiro em seus sociedade, deve procurar estar propenso ao
gestores foi o programa de privatização le- atendimento das condições necessárias e
vado a efeito nos últimos anos. Deve ser res- suficientes para a consecução do bem-estar
saltado que, em princípio, não se acredita- do povo. Deve, pois, ser capaz de vislum-
va ser possível, haja vista a posição gover- brar o entorno, analisá-lo profundamente e
namental débil, mas que, com o passar dos propor as modificações que se façam indis-
anos, pode-se confirmar que a intenção era pensáveis, balizando-se pela economicida-
válida e que tinha o mérito de ser verdadeira. de, pela ética, pela moral, pelos bons costu-
mes e pelas regras jurídicas imanentes à fun-
5. Conclusão ção pública.

Neste mundo globalizado de final de


século e início de um novo milênio, o Esta-
do, como invenção humana recente, nada Bibliografia
mais deve significar que aquela instituição
ANTONIO GARDE, Juan. Gerencia y administración
personificada em seus agentes políticos e financiera. Madrid: Instituto de Estudios Fiscales,
em seus agentes gestores, aquele ente ins- 1996.
trumental de que se vale a sociedade para
______ Gestión Pública: consideraciones teóricas y
promover a mediação dos interesses da co- operativas. Madrid: FIIAPP, 2001.
letividade, objetivando fomentar o seu in-
GONZALEZ-PÁRAMO, J. M. et al. Gestión pública:
trínseco desenvolvimento.
fundamentos técnicas y casos. Barcelona: Ariel,
A Administração Pública se move nesse 1997.
contexto pela delegação, pelo assentimento
METCALFE; RICHARDS. Improving public mana-
que depositou a sociedade em seus agentes, gement. Londres: Sage Publications, 1987.
para que esses realizem da melhor forma
possível o ministério de que todos necessita- NOLAN, Lord. Normas de conducta para la vida pú-
blica. Madrid: Documentos INAP, 1999.
mos, uma vez que ao particular não é dada a
faculdade nem o dever de realizar o bem co- ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DE-
SENVOLVIMENTO ECONÔMICO. La ética em el
mum, mas ao Estado, que a este se substituiu.
servicio publico. [S. l.]: OCDE, [1- - -?].
A gestão pública, portanto, e consideran-
do o princípio econômico da escassez, em PABLOS, Laura de, et al. El control económico del
gasto público. Presupuesto y Gasto Público, [S. l.],
que as demandas sociais são ilimitadas e os
n. 11. p. 115-142, 1993.
recursos financeiros para satisfazê-las são
escassos, deve primar pelo gestionamento VALIÑO CASTRO, Aurelia. Los instrumentos de in-
formación para la gestión pública: principales deficien-
adequado, eficaz e eficiente de tudo aquilo cias y propuestas de reforma: documentos de tra-
que for gerado no seio social, sempre tendo bajo. Disponível em: <http://www.ucm.es/
em vista o interesse do coletivo. BUCM/cee/doc&98199819.htm>.

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