Você está na página 1de 5

DECISÃO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO.


CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO
ESTADUAL. LEI N. 1.417/02 DO MUNICÍPIO DE
CAJAZEIRAS. 1. REPERCUSSÃO GERAL DA QUESTÃO
CONSTITUCIONAL: DESNECESSIDADE. INTIMAÇÃO
DO ACÓRDÃO RECORRIDO ANTERIOR A 3.5.2007.
2. AUSÊNCIA DE DISPOSITIVOS PARADIGMAS DE
REPRODUÇÃO OBRIGATÓRIA DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE
LEI LOCAL: INCIDÊNCIA DA SÚMULA 280 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.

Relatório

1. Recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III,


alínea a, da Constituição da República contra o seguinte julgado do
Tribunal de Justiça da Paraíba:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Preliminar de


ilegitimidade ativa. Procurador-Geral do Estado, previsão do
art. 105, I, a, 3, da CE. Rejeição. Lei municipal. Serviço de
água e esgoto. Prestação diretamente pela edilidade.
Possibilidade. Inteligência do artigo 30, V, da CF/88, c/c o
artigo 11, V, parágrafo único, da CE. Improcedência da ação.
Na forma do art. 105, I, a, 3, da Constituição Estadual, o
Procurador-Geral do Estado tem legitimidade para ajuizar ação
direta de inconstitucionalidade.
Compete aos Municípios a prestação, direta ou sob regime de
concessão ou permissão, dos serviços públicos de interesse
local, dentre eles o fornecimento de água e esgoto (art. 30, V,
da Constituição Federal c/c art. 11, V, parágrafo único, da
Constituição do Estado da Paraíba).
A Constituição do Estado da Paraíba veda a delegação dos
serviços de fornecimento de água e esgoto a empresa que não
seja a CAGEPA. No entanto, nada impede que o município preste
os serviços diretamente” (fl. 124).

No voto condutor do acórdão recorrido tem-se que:

“O Procurador-Geral do Estado da Paraíba promoveu Ação Direta


de Inconstitucionalidade da Lei Municipal n. 1.417/2002, do
Município de Cajazeiras, que instituiu o Serviço Autônomo
Municipal de Água e Esgoto – SAMAE (f. 23).
Sustenta que a previsão da referida lei de explorar o serviço
de abastecimento de água e esgoto do Município de Cajazeiras
viola o artigo 11, parágrafo único, da Constituição Estadual.
Alega que a CAGEPA é concessionária dos serviços de água e
esgoto em todo o Estado da Paraíba, sendo a única autorizada a
explorar o referido serviço.
(...)
O parágrafo único do art. 11 da Constituição Estadual dispõe:
‘Art. 11. omissis.
Parágrafo único. A concessão ou permissão para exploração dos
serviços públicos de abastecimento de água e de esgoto
sanitário, prevista no item V deste artigo, somente será feita
à empresa pública estadual constituída para este fim’” (fls.
126–127).

2. A Recorrente alega que o Tribunal a quo teria contrariado os arts.


25, § 3º, 26, inc. I, e 30, inc. I e V, da Constituição da República.

Argumenta que, “Ao sancionar a legislação, instituindo o serviço


autônomo municipal de água e esgoto – SEMAE, como entidade autárquica
municipal, dando a este novo órgão status de autarquia municipal e
conferindo-lhe, portanto, independência administrativa, personalidade
jurídica e patrimônio próprios, agiu o Município norteado pela mais
absoluta ilegalidade, confrontando a Constituição Estadual,
especificamente o seu artigo 11, parágrafo único, que taxativamente
dispõe que os serviços de abastecimento de água e esgoto sanitário são
atividades exclusivas da empresa pública estadual constituída para esse
fim” (fl. 192).

Sustenta que “a pretensão do Município de titularizar a prestação dos


serviços em análise resta prejudicada porque a titularidade do serviço de
saneamento básico pressupõe a titularidade do domínio da água. (...) As
águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,
ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da
União, pertencem aos Estados (art. 26, I, da CF), nada sendo atribuído
aos Municípios. (...) Diante do desenho legislativo, é vedado aos
Municípios a invasão de competência específica do Estado, a quem cabe
outorgar os direitos de uso de seus recursos hídricos, como já o fez a
partir da edição da Lei estadual n. 6.636/98” (fl. 216).

Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO.

3. Inicialmente, quanto à preliminar de repercussão geral, é de se


anotar que a então Recorrente foi intimada do acórdão recorrido antes de
3.5.2007, o que dispensa a demonstração da repercussão geral da questão
constitucional em capítulo especial do recurso extraordinário, nos termos
do que decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal no Agravo de
Instrumento 664.567-QO, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence.

4. Razão jurídica não assiste à Recorrente.

5. O disposto no parágrafo único do art. 11 da Constituição da


Paraíba não é norma de reprodução obrigatória da Constituição da
República.
Para concluir de forma diversa do acórdão recorrido, seria necessária
a análise da Lei municipal n. 1.417/02 e da Constituição do Estado da
Paraíba. Assim, a afronta à Constituição da República, se existente, seria
indireta, o que não viabiliza o processamento do recurso extraordinário.
Incide na espécie a Súmula 280 do Supremo Tribunal Federal.

Nesse sentido:

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO.


MILITAR. PENSÃO. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL (SÚMULA 280). OFENSA CONSTITUCIONAL
INDIRETA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (RE
409.617-AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe 7.8.2009 –
grifos nossos).

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUSÊNCIA DE


PREQUESTIONAMENTO. LEGISLAÇÃO LOCAL. 1. O Tribunal a quo não se
manifestou explicitamente sobre os temas constitucionais tidos
por violados. Incidência das Súmulas ns. 282 e 356 do Supremo
Tribunal Federal. 2. A controvérsia foi decidida com fundamento
na legislação local. Incidência da Súmula n. 280 deste
Tribunal. Agravo regimental a que se nega provimento” (AI
764.823-AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe
13.11.2009).

E:

“CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA. LEI MUNICIPAL. CONTROLE


CONCENTRADO: TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADUAL. C.F., art. 125, §
2º. SERVIDOR PÚBLICO: PROCESSO LEGISLATIVO. C.F., art. 61, §
1º, II, c. I. - Tratando-se de ação direta de
inconstitucionalidade da competência do Tribunal de Justiça
local - lei estadual ou municipal em face da Constituição
estadual - somente a questão de interpretação de norma central
da Constituição Federal, de reprodução obrigatória na
Constituição estadual, é que autoriza a admissão do recurso
extraordinário. II. - Leis que disponham sobre servidores
públicos do Poder Executivo são de iniciativa reservada ao
Chefe do Poder Executivo (C.F., art. 61, § 1º, II, c). III. -
Negativa de trânsito ao RE. Agravo não provido” (RE 353.350-
AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ 21.5.2004 –
grifos nossos).

Não há, pois, o que prover quanto às alegações da Recorrente.

6. Pelo exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário (art. 557,


caput, do Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno
do Supremo Tribunal Federal).

À Secretaria Judiciária para que faça constar como Recorrente o


Estado da Paraíba e como sua representante a Procuradoria-Geral do Estado
da Paraíba.

Publique-se.

Brasília, 5 de fevereiro de 2010.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

Você também pode gostar