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Com o escopo de definir os pontos de debate separa-se cada aspecto por tópicos. Senão
vejamos.
Para a compreensão do tema, primeiramente, cumpre examinar o art. 70, parágrafo único,
da Constituição do Brasil, lavrado nos seguintes termos:
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos
ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
pecuniária.
Da leitura do dispositivo observa-se que a prestação de contas pode ser exigida de tanto
da pessoa física ou da pessoa jurídica. A titularidade do dever de acentar contas dependerá
basicamente da relação jurídica existente entre as partes.
Em que pese a consulta versar sobre recursos municipais, no que se refere à obrigação de
dar contas anuais, primeiramente deve-se reproduzir o previsto na Constituição em seu
artigo 84, XXIV:
A conclusão primeira que se chega é que é a pessoa física do Prefeito que deve prestar
contas. Nesse caso, o Prefeito age em nome próprio, e não em nome do Município. Tal
obrigação é ex lege.
Por essa razão, é necessário que haja a separação das contas – devendo, inclusive,
serem processadas em autos distintos – quando ocorrer que o cargo de Prefeito tenha
sido ocupado por mais de uma pessoa durante o exercício financeiro. Com efeito,
cada mandatário será responsável pelo respectivo período.
A apresentação das contas anuais pelo Prefeito ao Tribunal de Contas, não o libera do
encargo de prestar contas imediatamente na Câmara de Vereadores, dado que a
Constituição Federal, artigo 31, § 3º, em combinação com a Lei de Responsabilidade
Fiscal, art. 49, impõe que as contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão
disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico
responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições
da sociedade.
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal,
mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo
Municipal, na forma da lei.
§ 1º – O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais
de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos
Municípios, onde houver.
§ 2º – O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito
deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos
membros da Câmara Municipal.
Art. 49. As contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis,
durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável
pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade.
Cabe nota que por se tratar de uma obrigação oriunda de vínculo contratual o ente
fiscalização é aquele que transfere o recurso. Logo, ser o recurso é federal será o ente
concedente federal que irá tomar contas e com o auxílio do Tribunal de Contas da União.
No mesmo sentido, se o concedente é estadual, a prestação de contas deverá ser feita por
este com o auxílio do respectivo Tribunal de Contas.
Não obstante, vale relembrar que estar “em dia quanto […] à prestação de contas de
recursos anteriormente dele recebidos” é um dos requisitos para celebração de novo
convênio nos termos da alínea “a”, inciso IV, §1º, art. 25 da Lei Complementar nº
101/2001.
Art. 25. Para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferência voluntária a
entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de
cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação
constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde.
2. DO DECRETO-LEI Nº 201
[…]
O dispositivo é de clareza solar, constata-se que é mais que mero dever, pois perfaz
conduta tipificada, a omissão do Chefe do Executivo de prestar contas à Câmara de
Vereadores bem como aos órgão competentes.
Art. 9º
[…]
§ 4º Até o final dos meses de maio, setembro e fevereiro, o Poder Executivo demonstrará
e avaliará o cumprimento das metas fiscais de cada quadrimestre, em audiência pública
na comissão referida no § 1o do art. 166 da Constituição ou equivalente nas Casas
Legislativas estaduais e municipais.
Noutros termos, o Poder Executivo deverá prestar contas comprovando e expondo análise
referente ao cumprimento de metas fiscais em audiência pública na comissão específica
da Câmara Municipal. A periodicidade é até o final dos meses de maio, setembro e
fevereiro. Em suma, deverão ser realizadas três audiências por ano que analisará as metas
fiscais do município.
Especificamente, sobre as despesas com pessoal e seus limites, conforme o art. 19 e 20,
deverão ser realizadas ao final de cada quadrimestre, segundo o art. 22 da LRF.
Art. 22. A verificação do cumprimento dos limites estabelecidos nos arts. 19 e 20 será
realizada ao final de cada quadrimestre.
Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total
com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá
exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:
VI - com inativos, ainda que por intermédio de fundo específico, custeadas por
recursos provenientes:
c) das demais receitas diretamente arrecadadas por fundo vinculado a tal finalidade,
inclusive o produto da alienação de bens, direitos e ativos, bem como seu superávit
financeiro.
Art. 20. A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os seguintes
percentuais:
I - na esfera federal:
a) 2,5% (dois inteiros e cinco décimos por cento) para o Legislativo, incluído o
Tribunal de Contas da União;
c) 40,9% (quarenta inteiros e nove décimos por cento) para o Executivo, destacando-
se 3% (três por cento) para as despesas com pessoal decorrentes do que dispõem os incisos
XIII e XIV do art. 21 da Constituição e o art. 31 da Emenda Constitucional no 19,
repartidos de forma proporcional à média das despesas relativas a cada um destes
dispositivos, em percentual da receita corrente líquida, verificadas nos três exercícios
financeiros imediatamente anteriores ao da publicação desta Lei Complementar; (Vide
Decreto nº 3.917, de 2001)
II - na esfera estadual:
I - o Ministério Público;
II - no Poder Legislativo:
Registrem-se que a não apresentação das contas anuais devidas pelo Prefeito enseja várias
consequências jurídicas.
III- na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de 3 (três) a 5 (cinco) anos, pagamento de
multa civil de até 100 (cem) vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais
ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 (três) anos.
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios
localizados em Território Federal, exceto quando:
5. JURISPRUDÊNCIAS
1. Afastada pela Justiça Comum, em sede de ação civil pública, a prática de ato de
improbidade em relação aos mesmos fatos que ensejaram a rejeição de contas pelo
Tribunal de Contas, não há falar na incidência da inelegibilidade da alínea g do inciso I
do art. 1º da LC nº 64/90, que pressupõe a rejeição de contas por decisão irrecorrível
proferida pelo órgão competente, decorrente de irregularidade insanável que configure
ato doloso de improbidade administrativa.
Cuida-se de ação civil pública (ACP) ajuizada contra ex-prefeito pela falta de prestação
de contas no prazo legal referente a recursos repassados pelo Ministério da Previdência e
Assistência Social. Nesse panorama, constata-se não haver qualquer antinomia entre o
DL n. 201/1967 (crimes de responsabilidade), que conduz o prefeito ou vereador a um
julgamento político, e a Lei n. 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa – LIA),
que os submete a julgamento pela via judicial pela prática dos mesmos fatos. Note-se não
se desconhecer que o STF, ao julgar reclamação, afastou a aplicação da LIA a ministro
de Estado, julgamento de efeito inter pars. Mas lá também ficou claro que apenas as
poucas autoridades com foro de prerrogativa de função para o processo e julgamento por
crime de responsabilidade, elencadas na Carta Magna (arts. 52, I e II; 96, III; 102, I, c;
105, I, a, e 108, I, a, todos da CF/1988), não estão sujeitas a julgamento também na Justiça
cível comum pela prática da improbidade administrativa. Assim, o julgamento, por esses
atos de improbidade, das autoridades excluídas da hipótese acima descrita, tal qual o
prefeito, continua sujeito ao juiz cível de primeira instância. Desinfluente, dessarte, a
condenação do ex-prefeito na esfera penal, pois, conforme precedente deste Superior
Tribunal, isso não lhe assegura o direito de não responder pelos mesmos fatos nas esferas
civil e administrativa. Por último, vê-se da leitura de precedentes que a falta da notificação
constante do art. 17, § 7º, da LIA não invalida os atos processuais posteriores, a menos
que ocorra efetivo prejuízo. No caso, houve a citação pessoal do réu, que não apresentou
contestação, e entendeu o juiz ser prescindível a referida notificação. Portanto, sua falta
não impediu o desenvolvimento regular do processo, pois houve oportunidade de o réu
apresentar defesa, a qual não foi aproveitada. Precedentes citados do STF: Rcl 2.138-DF,
DJe 18/4/2008; Rcl 4.767-CE, DJ 14/11/2006; HC 70.671-PI, DJ 19/5/1995; do STJ:
EDcl no REsp 456.649-MG, DJ 20/11/2006; REsp 944.555-SC, DJe 20/4/2009; REsp
680.677-RS, DJ 2/2/2007; REsp 619.946-RS, DJ 2/8/2007, e REsp 799.339-RS, DJ
18/9/2006. REsp 1.034.511-CE, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 1º/9/2009.
2. No entanto, a questão foi revista por esta Turma e passou-se a considerar que as multas
deverão ser revertidas ao Estado ao qual a Corte está vinculada, mesmo se aplicadas
contra gestor municipal.
Abaixo algumas notícias divulgadas sobre processos interpostos pelo Ministério Público
em face a não prestação de contas.
Firmado em 2005, o convênio, no valor de R$ 350 mil, que tinha o objetivo de construir
50 casas populares, estabelecia a prestação de contas até 60 dias após a data de liberação
da última parcela transferida.
Segundo as investigações do MPMA, o ex-prefeito tinha prazo até 3 de abril de 2013 para
prestar contas ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), sobre as receitas e despesas
realizadas pela Prefeitura de Davinópolis durante o exercício de 2012, mas não o fez.
Ao não prestar contas dos recursos recebidos, o réu incidiu na prática do crime previsto
no artigo 1º, VI, do Decreto-Lei nº 201/67. Se condenado, poderá cumprir pena de três
meses a três anos de detenção, além da inabilitação, pelo prazo de cinco anos, para o
exercício de cargo ou função pública, eletivo ou de nomeação, sem prejuízo da reparação
civil do dano causado.
6. POSSÍVEIS SOLUÇÕES
Em face ao embargos à prestação de contas deve ser adotado, portanto, pedidos de exames
dos livros oficiais e demais informações, mediante ofício da Câmara.
[…]
Com efeito, impedir exame de livros ou desatender informações da Câmara são infrações
político-administrativas que podem resultar na cassação do mandato do Prefeito.
7. CONCLUSÕES
Por fim, trata-se de dever legal dos mais sensíveis e sério e não poderia ser de outra forma,
pois trata-se de recursos públicos oriundos da contribuições dos munícipes.