Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
201.03 crítica
sinopses
como citar
idiomas
original: português
compartilhe
201
201.00 patrimônio
Ordenamentos urbanos
nas Missões Jesuíticas
dos Guarani – parte 2
Luiz Antônio Bolcato
Custódio
201.01 vernacular
Arquitetura vernacular
Em busca de uma
definição
Rubenilson Brazão
Teixeira
201.02 teoria
Bauhaus, Dessau, Alemanha, 1926. Arquiteto Walter Gropius Arquiteturas do vazio
Foto Karine Daufenbach Paulo Bicca
201.04 ensino
Identidade profissional
As recentes notícias e reportagens acerca da Bauhaus, relacionadas em sua e formação do arquiteto
maioria às comemorações do centenário de fundação da escola em 2019 (1), Dilemas contemporâneos
colocaram a oportunidade para abrir esta discussão. Especialmente a Luiz Felipe da Cunha e
matéria do The New York Times “On the Bauhaus trail in Germany”, Silva
publicada em 10 de agosto último (2), despertou a atenção. Nada de novo.
O artigo em questão não lança nenhum novo olhar para além de reiterar uma 201.05 patrimônio
narrativa já bastante costumeira. E é justamente aí que reside seu São Paulo Railway 150
interesse, na contribuição para perpetuar uma visão simplista e canônica anos
sobre a escola, “algo de uma influência tão forte que é difícil hoje Patrimônio industrial
encontrar algum aspecto do design, da arquitetura ou das artes que não ferroviário ameaçado
traz os seus vestígios” (3). Através de uma sedutora narrativa – que Cecília Rodrigues dos
poderia ser atribuída aos primeiros historiadores do Movimento Moderno – Santos, Claudia Lage e
credita todo o Movimento, sua diversidade e complexidade, a determinados Gustavo Secco
eventos (neste caso, a Bauhaus) e a alguns poucos heróis (Walter Gropius)
e, mais que esclarecer os fatos, concorre para sua mitificação. Uma visão
tão sedimentada quanto parcial, validadora da Bauhaus enquanto evento
isolado, que surge polarizando acontecimentos e atitudes que a sua época
já eram relativamente generalizadas nas escolas alemãs.
Bauhaus, Dessau, Alemanha, 1926. Arquiteto Walter Gropius
Foto Karine Daufenbach
Sem dúvida, um dos grandes feitos de Walter Gropius foi reunir em uma
mesma escola grandes nomes da arte e da arquitetura de vanguarda do
século 20, como Josef Albers, Paul Klee, Wassily Kandinsky, László
Moholy-Nagy, Oskar Schlemmer, Lyonel Feininger e Mies van der Rohe.
Todavia, a maior parte das novidades pedagógicas introduzidas na Bauhaus,
creditadas ao seu fundador, vinha sendo colocada em prática há alguns
anos em outras escolas, dentro de um movimento de reforma do ensino das
escolas profissionalizantes do país: como a divisão das tarefas entre
Formmeister – professor responsável pela forma; e Werkmeister – professor
responsável pela realização do trabalho manual (5). Já na Escola de Artes
Aplicadas de Weimar, predecessora da Bauhaus, sob a direção de Henry van
de Velde, eram experientes artesãos os responsáveis pela formação prática
dos estudantes.
A produção nas oficinas, entre outras coisas, seguida pela Bauhaus, era
sugestão comum ao ensino colocado em prática em muitas escolas de língua
alemã. A formação artesanal, do aprender fazendo, foi introduzida nas
Escolas de Artes Aplicadas de Berlim, Düsseldorf, Estrasburgo, Stuttgart,
Breslau, Viena, que tinham, em algumas delas, prática orientada ao
mercado (7). Nessas cidades, acompanhavam-se as transformações
encabeçadas em solo alemão; por exemplo, seguindo o modelo da Deutscher
Werkbund, são fundadas em 1912 a Werkbund austríaca e no ano seguinte, a
seção suíça.
Mas há uma razão de ordem social e cultural mais abrangente para o não
reconhecimento da escola em seu país, que aquela colocada pelo jornal
norte-americano. Segundo Gerhard Fehl, o crescente predomínio da produção
mecânica e o recalcamento do trabalho manual foi, junto com a guerra
perdida e a introdução da democracia parlamentar, o terceiro grande
trauma alemão dos anos 1920 (15). Grande parte da pequena burguesia e da
classe média aspirava ao retorno de uma sociedade com base no trabalho
manual, temia a grande indústria e a racionalização, as novas máquinas e
tudo que se parecesse com elas (16). De certa maneira, a Bauhaus e a
Arquitetura Moderna como um todo, representavam essa tendência
capitalista de produção (ainda que, na realidade, isso seja bem diverso)
e incorporavam a ideia de um mundo muito diferente com que sonhava boa
parte dos cidadãos. A crise de 1929 só fez aumentar o receio e a
insegurança com que viam o futuro, e a vontade de ver restabelecida a
“ordem” das coisas.
notas
1
São várias as atividades programadas entre 2016 e 2019 pelo mundo: a divulgação
online de grande acervo de trabalhos de alunos e professores da Bauhaus pelos
Harvard Art Museums, entre desenhos e fotografias; diversas exposições; e,
principalmente, concurso e construção de novos museus em Weimar, Dessau e
Berlim para abrigar a coleção relacionada à escola. Cf.: <www.bauhaus100.de>.
2
Publicação online em 10/08/2016 em
http://www.nytimes.com/2016/08/14/travel/bauhaus-germany-art-design.html?&_r=0.
A versão impressa foi publicada em 14 ago. 2016.
3
“one so wildly influential that it’s difficult today to find some corner of
design, architecture or the arts that doesn’t bear its traces”.
4
“Das Bauhaus war nicht die einzige avantgardistische Schule in Deutschland,
aber diejenige, die am meisten von sich reden machte.” PEHNT, Wolfgang.
Deutsche Architektur seit 1900. 2aed. Ludwigsburg/München, Wüstenrot
Stiftung/Deutsche Verlags-Anstalt, 2006, p. 124.
5
PEHNT, Wolfgang, Op. cit., p. 125.
6
“Lernen durch Tun galt als zufunkftsträchtige Pädagogik, Kopistentätigkeit,
Ornamentzeichnen und Reißbrettkunst als verderblicher Einfluß”. PEHNT,
Wolfgang, Op. cit., p. 120.
7
Idem, ibidem, p. 127.
8
Idem, ibidem, p. 123.
9
Cf. http://www.museumsportal-berlin.de/de/ausstellungen/die-frankfurter-
kunstschule-moderne-main/
10
“daß die Unterdrükung durch die Nazis dem Andenken des Bauhauses zugute
gekommen ist.” Posener, Julius. Die Krise in der Architektur um 1930. In:
WINGLER, Hans M. (org). 100 Jahre Walter Gropius. Schließung des Bauhauses
1933. Simpósio. Berlim, 28 mar. 1983, p. 13.
11
“Etwa so wird es gezeigt: Bauhaus und Werkbund hatten die Erneuerung der
Architektur herbeigeführt; eine neue Architektur, die wir noch heute, nach mehr
als fünfzig Jahren, bewundern, war eben dabei sich durchzusetzen, da fiel der
Vorhang. Was es ganz so?” POSENER, Julius. Op. cit. p. 7.
12
POSENER, Julius. Op. cit. p. 8.
13
“But there’s a bigger reason, which can be glimpsed through the window of a
Deutsche Bahn train hurtling through the outskirts of nearly any German city.
The proliferation of cheap, boxlike concrete-slab high-rises that spread like
bacteria throughout Germany’s bombed-out cities after World War II is a Bauhaus
legacy, for better or worse”.
14
“Yet a closer look at Bauhaus and the German modernist architectural movement
known as Neues Bauen, or New Objectivity, makes clear how little these
movements had to do with the prefab obscenities of postwar modernism”.
15
FEHL, Gerhard. Die Moderne unterm Hakenkreuz. Ein Versuch, die Rolle
funktionalistischer Architektur im Dritten Reich zu klären. In: FRANK, Hartmut
(org.). Faschistische Architekturen: Planen und Bauten in Europa 1930 bis 1945.
Hamburg, Christians, 1985, p. 103-104.
16
Idem, ibidem, p. 104.
17
“Ihren Höhepunkt erreichte Gropius’ Wirksamkeit zweifellos, als er 1937-51 auf
dem Architektur-Lehrstuhl der Harvard University zum estem Mal eigene Schüler
hatte, von denen über 100 später als Hochschullehrer in aller Welt seine Lehre
weitergaben und in Architektur umsetzen.” NERDINGER, Winfried. Walter Gropius’
Beitrag zur Architektur des 20. Jahrhunderts. In: Wingler, Hans M. (org). 100
Jahre Walter Gropius. Schließung des Bauhauses 1933. Simpósio. Berlim, 28 mar.
1983, p. 18. Vale lembrar que Gropius atuou pouquíssimo tempo como professor na
Bauhaus.
18
Esse processo também se fez acompanhar da posterior publicação da biografia
“Walter Gropius: Mensch und Werk” de 1954 (simultaneamente em alemão, inglês,
francês e português), pelo fiel parceiro de longa data, Siegfried Giedion.
19
“Wanderprediger der Moderne”, literalmente, “pregador viajante do Moderno”. Cf.
NERDINGER, Winfried, Op. cit. p. 18.
20
Ideia reiterada na seguinte passagem: “como nenhum outro representante da
Arquitetura Moderna, ele promoveu suas ideias e atuou para sua difusão e
efetivação, [...] que se poderia designá-lo, certamente, como ideólogo-chefe da
Arquitetura Moderna” (Wie kein anderer Vertreter der modernen Architektur hat
er für deren Ideen geworben und für ihre Verbreitung und Durchsetzung gewirkt,
so daß man ihn [...] wohl zu Recht als ‘Chefideologen des Neues Bauens’
bezeichnen könnte). Cf. NERDINGER, Winfried, Op. cit. p. 18.
21
Exposição “The Bauhaus 1919-1928”, co-curadoria de Herbert Bayer, designer ex-
aluno da escola. Recentemente, o MoMA disponibilizou amplo material
digitalizado sobre suas exposições passadas, desde 1929, ano de sua fundação,
até o presente, que inclui documentos, imagens das exposições e os respectivos
catálogos. Sobre a exposição acima, Cf.:
https://www.moma.org/calendar/exhibitions/2735?locale=pt; catálogo editado por
Bayer, Gropius e sua esposa, a escritora e fotógrafa Ise Gropius.
sobre a autora
comentários
Adicione um comentário...