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GEOVANA GUIMARÃES
UBERLÂNDIA
2018
GEOVANA GUIMARÃES
UBERLÂNDIA
2018
1 Introdução
Esse presente protótipo de artigo tem como intuito buscar e apresentar as semelhanças
e diferenças entre os pensamentos de Locke e Rousseau a respeito do homem, da sociedade
civil e do Estado e, para sua construção, dispõe das seguintes fontes: a obra “O Segundo Tratado
Sobre o Governo” de autoria de John Locke e, “Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da
Desigualdade Entre os Homens” de Jean-Jacques Rousseau, contando também com o conteúdo
ministrado nas aulas de Introdução a Filosofia pelo Professor Doutor Gianni Fresu, além de
bibliografias adicionais encontradas online.
2. John Locke
Locke foi um dos grandes nomes da filosofia política, nascido no ano de 1632 em
Wrington – Inglaterra, dedicou sua vida para sua formação acadêmica e dispõe de diploma
no curso filosofia na Universidade de Oxford, o qual, posteriormente, lecionou grego,
retórica e filosofia. Foi uma figura importante para o empirismo, sendo considerado um de
seus líderes, e ideólogo do iluminismo e do liberalismo.
1
É um consenso para os contratualistas. É tido como um período anterior à construção da sociedade civil
contrariamente ao governo absolutista que regia na época, o mesmo desenvolve durante a
Revolução Gloriosa (1688-1689), um período marcante que, resultou no distanciamento do
governo pautado no absolutismo e da aproximação de uma disposição liberal burguesa, uma
de suas principais obras, já citada anteriormente, o Segundo Tratado Sobre o Governo.
“1º Que Adão não tinha, nem por direito natural de paternidade nem por
doação positiva de Deus, autoridade alguma sobre seus filhos ou domínio sobre
o mundo, como se pretende;
2º Que, se ele a tivesse, seus herdeiros, contudo não teriam direito a ela;...” 2
2
Dois Tratados Sobre o Governo, John Locke, 1689, cap. I, pp.379.
afastada de Deus e comprometendo a segurança da humanidade. Locke afirma que o homem é
uma tábula rasa que é moldada pela sociedade em que está inserido.
Após a análise do homem em seu estado natural, é importante dar sequência na formação
de uma organização administrativa e, é de intrínseca relevância afirmar que, na sociedade
política, seus membros devem renunciar o poder natural e confia-lo ao corpo político, para
moldar a sociedade mediante a regras fixas estabelecidas, sendo elas imparciais e idênticas para
todos que a compõem e, sendo função dos governantes verifica-las e executa-las. Ademais, a
partir do momento em que esse corpo social é montado se referenciando em leis e as cumprindo
ele passa a ser uma sociedade civil, que é o completo oposto do estado de natureza, em que
cada indivíduo age por si só e, ao ser montado um organismo social e o mesmo consentir com
as leis e os representantes, é formado o contrato social.
“... enquanto no estado de natureza ordinário ele tem a liberdade de julgar seu
próprio direito e, de acordo com o que estiver a seu alcance, sustenta-lo, neste
caso, sempre que sua propriedade for invadida por vontade ou ordem de seu
monarca, ele não só não tem a quem apelar, tal como devem ter os que vivem
em sociedade, mas é como se fosse degradado do estado comum das crianças
racionais, sendo-lhes negada a liberdade de julgar e defender seu próprio
direito, de modo que fica exposto a todas as misérias e inconvenientes que um
homem possa temer por parte de alguém que, além de encontrar-se num estado
irrestrito de natureza, é ainda corrompido pela adulação e está armado com o
poder.”3
Locke também faz críticas ferrenhas as monarquias absolutas ao ironizar aquele que
acredita que “o poder absoluto purifica o sangue dos homens e corrige a baixeza da natureza
humana”4 pois basta analisar histórias a respeito desses governos para se convencer do oposto,
além de afirmar que, um governo deve fazer juris prudência apenas sobre a localidade em que
3
Dois Tratados Sobre o Governo, John Locke; II Tratado – cap. VII, parágrafo 91, pp.463
4
Dois Tratados Sobre o Governo, John Locke; II Tratado – cap. VII, parágrafo 92, pp.463
tiver influência, criticando, assim, o príncipe absolutista ao penalizar imigrantes e mostrando
esse regime totalmente incompatível com a sociedade civil.
Ademais, é importante ressaltar que nenhum homem está acima das leis, pois aqueles
que agem tal como o contrário estariam inseridos no estado de natureza, e não podendo ser parte
integrada da sociedade civil. O autor também faz menção a liberdade inalienável, que pode ser
entendida como uma justificativa para o crescimento da burguesia sem restrições, sendo
denominada liberdade negativa, a qual é delimitada com o poder político.
O Estado, para Locke, carece de ser uma democracia representativa, em que o povo
escolhe um representante para coordenar o rumo da sociedade civil, sempre deixando claro que,
caso haja abuso de autoridade, o povo deve se manifestar contrariamente e afastar o homem do
poder pois, o representante deve garantir, essencialmente, a propriedade5 da população, a qual
tem por direito e dever seguir as leis. O autor, no capítulo X, faz questão de explicitar as
tipologias de governo existentes – democracia, oligarquia e monarquia – e afirma que a
população pode formar governos mistos entre essas três variações citadas anteriormente.
Retornando aos três poderes, o autor valoriza o poder legislativo em função dos demais
e o coloca como o poder supremo pois ao formular as leis é capaz de ditar as diretrizes e
consegue esculpir uma sociedade, como observado no trecho na sequência. O poder executivo
está subordinado as leis.
E, para concluir, a dissolução do governo pode ser dada de maneira externa – com a
invasão de outros Estados – e de maneira interna – quando o povo se manifesta contra o abuso
de poder do governados, quando ele usa o legislativo de maneira egoísta -. A dissolução interna
5
A vida, a liberdade e os bens materiais
6
Dois tratados sobre o governo, John Locke – II Tratado, cap. X, parágrafo 132, pp. 501.
é um tópico importante a ser tratado pois, o povo, ao confiar sua propriedade nas mãos de um
indivíduo e esse o deixa na miséria, ele tem o dever de retira-lo do poder.
3. Jean-Jacques Rousseau
O filósofo social, teórico e político suíço, nascido em 1722, foi um dos mais populares
iluministas, foi um grande influente para a Revolução Francesa – a qual, em resumo, significou
o fim do absolutismo e dos privilégios da nobreza – pois o mesmo valorizava, essencialmente,
a liberdade do homem. Se posicionava contrário ao racionalismo, uma vez que, acreditava na
bondade humana em seu estado natural. Fazendo, também, referência à conjuntura do homem,
da sociedade civil e do Estado, sendo esses os tópicos que serão explanados no desenvolvimento
desse segmento.
No estado de natureza, Rousseau divide a ideia de homem em três tipos, o homem físico,
o qual é definido pela organização fisiológica perfeita, e tem a capacidade de adquirir todos os
sentidos dos animais; o homem psicológico, o qual, também, é assemelhado com os animais no
âmbito dos sentidos e da maneira como dirige entretanto, o mesmo possui a liberdade; já o
homem moral tem como primeiro princípio a auto conservação e, como segundo princípio a
piedade. Através dessas análises pode-se depreender a ideia que a desigualdade é quase nula no
estado de natureza, porém, essa desigualdade natural se multiplica conforme a sociedade.
Ainda sobre o estado de natureza, pode-se afirmar que o indivíduo, é bom, inocente e
livre, mas o avanço das instituições, da propriedade privada e das relações sociais baseadas na
desigualdade, o modifica, o autor defende, também, a ideia de que o homem é qualificado pela
linguagem, pela moralidade e pelo raciocínio e é construído conforme seu trabalho e sua
história, e a terra lhe fornecia o que era preciso para sua sobrevivência.
Para o filósofo, o primeiro fundador da sociedade civil, foi aquele que, delimitou sua
propriedade e convenceu aos demais que era verdade, propriedade essa que, posteriormente,
desencadeou guerras, horrores e miséria, entretanto, a ideia de posse não surgiu de repente, deu-
se através de uma sucessão de fatos, sendo esses: o sentimento de auto conservação do homem,
a concorrência com os animais e o aumento do gênero humano. Ao se tratar da terra, uma vez
reconhecida como propriedade e, para se fazer justiça, é feita a partilha e, ao ter um bem passível
de perda, e sofrer a mesma, o indivíduo estará sujeito a represália, enfatizando a desigualdade.
7
Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens. Discurso Sobre as Ciências e as
Artes; ROUSSEAU, JJ. Vol. II; editora Nova Cultural; p. 75.
todos os cidadãos. O povo deve se organizar em um só corpo político e, deixar de pensar no
individual e focar apenas no bem comum, a fim de estabelecer um governo, logo se posiciona
a favor da democracia em que a vontade popular é decidida através de assembleia, garantindo
a liberdade democrática – positiva –, a qual garante ao indivíduo de atuar efetivamente dos
processos de decisões políticas.
O autor faz uma crítica obstinada para a sociedade civil, acredita que a mesma devia ter
sido interrompida no momento em que forma delimitas as propriedades afinal com ela adveio
a ambição e a necessidade de se fazer mais forte e se servir do mais fraco, comprometendo a
liberdade do mais pobre, provocando, inclusive, a escravidão.
Ambos os autores contratualistas, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, possuem ideias que
divergem e convergem e, cabe a esse segmento, após a análise detalhada das três noções citadas
acima, explicita-las.
8
Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens. Discurso Sobre as Ciências e as
Artes; ROUSSEAU, JJ. Vol. II; editora Nova Cultural; p. 98.
4.1 A Respeito do Homem
Os dois autores partem da premissa que, antes de se formar em sociedade, o homem está
inserido em um estado natural, em que o mesmo é livre e se mantém em igualdade com os
demais, entretanto, para Locke, que é um filósofo empírico e racional, o homem é como uma
folha em branco que será moldada socialmente, sem submissão ou sujeição e coloca todos como
filhos de um único Deus, portanto, com base na igualdade, nenhum homem é superior aos
demais.
Enquanto que, para Rousseau, o homem é bom em seu estado natural porém o convívio
em sociedade o corrompe, tem a formação individual de cada um embasado no seu próprio
trabalho e sua própria história. Divide o homem em três segmentos: o físico, o psicológico e o
moral9 o que justifica a desigualdade natural. Ou seja, ambos concordam com o estado natural,
em serem livres; concordam também com a ideia de que o humano garante sua sobrevivência e
sua propriedade em função da terra, logo, mantém, também, afinidade quanto a ideia de auto
conservação, que ainda no estado natural, o homem deve se preocupar apenas com a própria
preservação.
Ambos filósofos concordam que, ao se produzir sua propriedade privada e, junta a ela a
ideia de posse o homem começa a moldar a sociedade em que, a população abre mão das
vontades individuais e se formam em um só organismo que, através de leis, deve favorecer a
todos. Para Locke, a propriedade privada advém de buscar algo natural e transforma-lo,
justificando, assim a expansão colonial e a escravidão, enquanto que, para Rousseau, está
definido em cercar algo, defini-lo como seu e fazer os demais concordarem.
Para Locke, a formação da sociedade civil, que é o oposto do estado de natureza, tem a
função de garantir a igualdade a todos seus membros, com políticas voltadas para o bem geral
e, os homens que transgredem as leis, não são membros da sociedade pois ainda pertencem ao
seu estado natural, todos os indivíduos são iguais perante a lei. Já para o filósofo suíço, se
organizar em sociedade é um motor para as guerras pois, quando se tem uma propriedade que
é passível de perda, a mesma se transforma em razão para desigualdade política, e um homem
acaba por ter-se como superior a outro, provocando em alguns casos, a perda da liberdade
individual, como a escravidão.
9
Definidos na pag.
Há um consenso, também, referente ao abuso de poder do governante, o qual, ao
colocar as vontades individuais em detrimento das vontades coletivas, o povo tem o
direito – e o dever – de retira-lo do poder e substituí-lo por outro, logo refazendo o
contrato social. Para Rousseau, que se posiciona como democrático, as decisões deve
ser tomadas através de uma assembleia popular em que todos os cidadãos tem voz pois,
os representantes são subordinados ao povo.
a. A Respeito do Estado
O Estado, deve ser aceito por todos e, carece dos três poderes, para minimizar as chances
de haver uma tirania, pois, os autores se posicionaram totalmente contrário a ela, também
contrários ao absolutismo. Para Rousseau o Estado deve formar o povo para que o mesmo não
encontre sua liberdade e igualdade restringida, enquanto os governantes estabelecem uma
conexão entre os cidadãos e o bem maior do Estado por meio de leis que garantam a liberdade,
necessitam de agir de maneira não intrusiva e harmonizar a vontade geral. Embora tenha sido
taxado de totalitário por alguns liberais – por achar necessário o povo se formar em um único
corpo político e abdicar de suas vontades individuais –, se mantém favorável a democracia pura
a qual é exercida a soberania do povo através de assembleias.
Já, para John Locke, que é o pai do liberalismo econômico, que se pauta na limitação
do poder e na não imposição divina de governante, defende a diversidade ideológica-social,
acredita também que a divisão dos três poderes é a melhor forma de constituição, tendo o
legislativo como o expoente. Acredita que o governo deve garantir a paz, a tranquilidade e a
tolerância religiosa, além de garantir uma justiça objetiva e fazer juris prudência apenas em sua
localidade. Em sumo, Rousseau acredita que o povo deve formar um único corpo político, se
enquadrando nas necessidades da maioria e o Estado, de maneira não intrusiva, atendê-las,
enquanto Locke defende um governo limitado, para que haja maior facilidade para o
crescimento da burguesia, classe social em que ele se encontrava.