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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

MARJORIE ASTUTTE

A RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO CASAMENTO

CURITIBA
2012
A RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO CASAMENTO

CURITIBA
2012
Marjorie Astutte

A RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO CASAMENTO

Monografia apresentada ao Curso de Direito


da Faculdade de Ciências Jurídicas da
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito
parcial para a obtenção do título de Bacharel
em Direito.

Orientador: Professor Dr. Clayton Reis

CURITIBA
2012
TERMO DE APROVAÇÃO
MARJORIE ASTUTTE

A RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO CASAMENTO

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do titulo de Bacharel no curso de Direito da
Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ________ de ___________________ de 2012.

________________________________________
Bacharel em Direito
Universidade Tuiuti do Paraná

______________________________________
Orientador: Profº. Dr. Clayton Reis

_______________________________________
Prof.

________________________________________
Prof.
Dedico este trabalho à minha mãe Crystiane
Franco Cavalari Schweitzer e ao meu
padrasto Fabian Schweitzer pela força que
me deram ao longo desses anos e por
sempre acreditarem em mim.

E ainda, ao Professor Doutor Clayton Reis


pela dedicação e o tempo disponíveis durante
a orientação.
“O fim do Direito não é abolir nem restringir,
mas preservar e ampliar a liberdade” (John
Locke)
RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo demonstrar doutrinariamente e


jurisprudencialmente a possibilidade da responsabilização civil dos cônjuges em face
do instituto do casamento.
Ainda, demonstra as possibilidades de sua aplicação, quando da existência
de um dano causado por um cônjuge a outro.
Primeiramente, analisa aspectos gerais sobre o instituto do casamento,
abordando seu histórico, conceito, fundamentos e os direitos e deveres inerentes
aos cônjuges.
Após, aborda o tema da responsabilidade civil, conceituando-a, bem como
estabelecendo seus fundamentos, tais como a culpa, o dano e o nexo causal.
Ainda, distingue os danos morais e materiais e os tipos de culpa existentes.
Após, aborda o tema em si do presente trabalho, falando da responsabilidade
civil em face da quebra dos deveres dos cônjuges, sobre a anulação do casamento,
bem como suas causas e efeitos no ordenamento jurídico. Após fala sobre o divórcio
e a possível aplicação da responsabilidade civil neste instituto.
Por fim, demonstra as possibilidades de danos existente em relação ao
casamento, danos morais e materiais, bem como a indenização, sua quantificação e
a liquidação do dano, sempre abordando a doutrina e jurisprudência pátria.

Palavras chaves: Responsabilidade civil, Casamento, Dano moral, Dano material,


Deveres do casamento.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................8

1. FUNDAMENTOS DO CASAMENTO ......................................................................9


1.1 HISTÓRICO DO CASAMENTO ............................................................................9
1.2 CONCEITO DE CASAMENTO............................................................................13
1.3 OS DIREITOS E DEVERES DO CASAMENTO..................................................15

2. FUNDAMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................20


2.1 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL ....................................................20
2.2 DANO ..................................................................................................................23
2.2.1 Dano Moral.......................................................................................................24
2.2.2 Dano Material ...................................................................................................26
2.3 CULPA ...............................................................................................................28
2.4 NEXO CAUSAL...................................................................................................31

3. A RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO CASAMENTO ...........................33


3.1 QUEBRA DOS DEVERES DO CASAMENTO ....................................................33
3.2 ANULAÇÃO DO CASAMENTO...........................................................................42
3.2.1 Causas de Anulação do Casamento ................................................................42
3.2.2 Os Efeitos Jurídicos da Anulação.....................................................................45
3.2.3 A Responsabilidade Civil dos Cônjuges ...........................................................45
3.3 DIVÓRCIO...........................................................................................................48

4. DANOS E INDENIZAÇÃO ....................................................................................51


4.1 OS DANOS DECORRENTES DA VIOLAÇÃO DOS DEVERES DO
CASAMENTO............................................................................................................51
4.2 OS DANOS MATERIAIS E MORAIS...................................................................52
4.3 QUANTIFICAÇÃO DO VALOR DO DANO..........................................................55

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................58

REFERÊNCIAS.........................................................................................................61
8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso irá trazer uma pesquisa sobre a


responsabilidade civil nas relações matrimoniais.
Para tanto, é necessário uma abordagem geral dos institutos do casamento,
previsto nos artigos 1.511 e seguintes do Código Civil e da responsabilidade civil,
prevista nos artigos 186, 927 e seguintes, também do Código Civil.
Dessa forma, será feita uma análise primeiramente histórica do instituto do
casamento, para, então, abordarmos os aspectos gerais da responsabilidade civil e,
enfim, falarmos das hipóteses em que é possível a responsabilização de um dos
cônjuges em face do outro, de acordo com a doutrina e a jurisprudência de nossos
tribunais pátrios.
O Código Civil de 2002 que revogou o Código Civil de 1916, primeiro
instituído no Brasil, disciplina os institutos a serem analisados no presente trabalho
em capítulos distintos, sendo que a responsabilidade civil tem capítulo próprio, a
partir do artigo 927 do Código Civil, porém com previsão também a partir do artigo
186, do mesmo diploma legal.
Já o instituto do casamento está previsto no Código Civil Brasileiro dentro do
capítulo destinado às normas referentes ao Direito de Família, verificando-se
especificamente as normas sobre o casamento a partir do artigo 1.511.
Sendo assim, com a análise dos dois temas aqui propostos, ou seja,
responsabilidade civil e casamento, o objetivo do presente trabalho é verificar a
possibilidade de aplicação de ambos os institutos, com o fim de reparar algum dano
ocasionado por um dos cônjuges ao outro.
Com esse objetivo o estudo está dividido em quatro partes. O primeiro tema
apresenta os fundamentos do casamento, tais como seu histórico, conceito e os
direitos e deveres inerentes aos cônjuges.
Em seguida, traz os fundamentos da responsabilidade civil, indicando seu
conceito e seus elementos, ou seja, a culpa, o dano e o nexo causal.
Após, traz o tema em si do trabalho, demonstrando em quais casos é possível
a aplicação da responsabilidade civil em face do casamento, através das fontes
doutrinárias e da jurisprudência.
Por último, observam-se os possíveis danos, bem como a indenização e sua
quantificação, através da análise de doutrinas e jurisprudências.
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1. FUNDAMENTOS DO CASAMENTO

1.1 HISTÓRICO DO CASAMENTO

O ser humano é um ser social, o qual busca a felicidade em sua vida, ou seja,
vive em uma concepção eudemonista. Dessa forma, a formação de uma família,
inicialmente com o casamento, é uma das formas de concretização dessa felicidade.
O casamento é a forma mais solene de união conjugal. Mesmo com o
reconhecimento da união estável, o casamento é a forma mais antiga e tradicional
de unir duas pessoas, e a mais aceita pela sociedade.
Além do mais, o casamento, a união entre duas pessoas, surge através de
um sentimento, pelo qual as pessoas buscam realizar seus sonhos, desejos,
objetivos, bem como de compartilhar um com o outro todas as suas alegrias e
frustrações da vida.
Porém, mesmo com tamanha cumplicidade entre cônjuges, muitos
casamentos acabam não dando certo, sendo necessário que existam normas que
regulamentem, tanto a sua formação, como a sua dissolução, para que não haja
abuso ou, até mesmo, fraudes.
Sendo assim, por ser um instituto tão importante, o Estado traz normas
regulamentadoras sobre o casamento, interferindo diretamente na vida conjugal,
desde a sua formação, até seu término.
O casamento existe desde os primórdios. Muitos historiadores relatam que
nas civilizações antigas havia a poligamia, existindo várias mulheres para cada
homem e, também, em outras civilizações, havia vários homens para cada mulher.
Na civilização Babilônica, o casamento era monogâmico, porém, o marido
podia arranjar uma segunda esposa, caso a primeira não pudesse gerar filhos.
Em Roma, a família era patriarcal. Era o marido que comandava a família,
sendo que este era chefe político, religioso e até julgador da casa.
Uma das principais instituições da sociedade romana era o casamento, o qual
tinha como principal objetivo a procriação, para que os filhos continuassem o legado
de seus pais.
O principal e mais importante elemento do casamento romano era a afeição, a
vontade de estabelecer uma vida a dois.
10

Ainda, era necessário que a affectio maritalis perdurasse para uma garantia e
manutenção do casamento e, caso contrário, o vínculo matrimonial era extinto.
Nesse aspecto, Álvaro Villaça Azevedo (2002, p.39):

A afeição conjugal era indispensável fator à própria existência do


casamento, pois parece ter sido uma lição dos romanos, plantada como
semente de grande espiritualidade, que deu ao matrimônio esse colorido
imaterial. Entretanto, em regime de desigualdade de direitos entre o homem
e a mulher, a afeição conjugal viria a ser cultivada em sentido de constante
humanização, sob influência do cristianismo, como verdadeiro exemplo à
formação da família moderna, em que a independência dos membros da
família existe e sob um mútuo controle e respeito de um pelo outro.

Por sua vez, Carlos Roberto Gonçalves assinala (2010, p.32):

Em matéria de casamento, entendiam os romanos necessária a affectio não


só no momento de sua celebração, mas enquanto perdurasse. A ausência
de convivência, o desaparecimento da afeição era, assim, causa necessária
para a dissolução do casamento pelo divórcio.

Ainda, na Roma Antiga, não existia sequer uma cerimônia, seja legal ou
religiosa, para a validade do casamento, bastava a existência da coabitação para
que o casamento fosse válido.
Apesar da falta de regulação, o casamento tinha grande importância social.
Nesse sentido Alvaro Villaça destaca (2002, p.40):

Como o matrimônio romano não é uma relação jurídica, mas um fato social,
os princípios referentes á celebração, dissolução e proteção do matrimônio
não constituem uma regulamentação propriamente jurídica, mas que melhor
se enquadram no campo da ética. A celebração do matrimônio não é um
negócio jurídico, nem está ligado à observação de formas jurídicas. Seus
pressupostos não estão sujeitos a uma comprovação estatal.... Os vínculos
morais que ligam os cônjuges têm sido durante muitos séculos, suficientes
para assegurar a subsistência do matrimônio.

Era necessário, ainda, a capacidade jurídica matrimonial e o consentimento,


os quais eram dos nubentes e do pater famílias. Nesse sentido, José Cretella Junior
(1999, p.189):

[...] o matrimônio é justo ou legítimo se entre aqueles que contraem as


núpcias existir conubium, e se tanto o varão for púbere, quanto a mulher
núbil, e se um e outros consentem ou consentem seus pais, se sujeitos ao
poder destes.
11

Cabe ressaltar, ainda, que na sociedade romana haviam duas formas de


casamento, quais sejam: o cum manum e o sine manum
No cum manum, o homem tinha o poder marital sobre a mulher, e esta era
desvinculada de sua família, ingressando na família do marido com os seus bens.
Aqui a mulher não tinha qualquer autonomia, seja sobre seus bens, seja sobre si
própria.
Ainda, sobre o cum manum, este podia ser realizado de três formas, quais
sejam: a confarreatio, a coeptio e o usus.
A confarreatio é a forma mais antiga do casamento em Roma. Era realizado
de forma religiosa e era obrigatória a presença de dez testemunhas e dos
sacerdotes.
A coemptio era a cerimônia realizada pelos plebeus, a qual consistia na
simbólica venda da mulher ao homem.
O usus consistia na coabitação ininterrupta da mulher com o homem por mais
de um ano. Se, durante esse um ano, a mulher passasse três noites fora do
domicílio marital, era considerada solteira e continuava sob a tutela de seu pai.
O cum manum caiu em desuso e deu lugar ao sine manum, no qual a tutela
da mulher permanecia com seu pai.
Antigamente, as famílias tinham cunho de reprodução, era necessário ter
vários filhos para que estes trabalhassem e garantissem o sustento da casa, pois se
vivia em um regime agrário.
Cabe destacar que, durante a Idade Média, o casamento era de cunho
estritamente religioso, o qual era regido pelo direito canônico.
Após a Revolução Francesa, as famílias reduziram sua prole, diminuindo o
número de filhos.
No Brasil, o casamento civil só surgiu com o advento da Constituição de 1891.
Antes, na Constituição de 1824, não havia menção sobre o casamento civil, este era
estritamente de cunho religioso, o que demonstra a forte ligação entre o Estado e a
Igreja Católica.
Já a Constituição de 1934 trouxe um capítulo específico sobre a família, a
qual só era reconhecida se constituída através do casamento civil. Tal entendimento
perdurou até a Constituição de 1967.
12

O Código Civil de 1916 abrangeu o Direito de Família em três partes, o


casamento, o parentesco e o direito protetivo, conforme afirma Eduardo de Oliveira
Leite (2005, p.29).
Em 1962 surgiu o Estatuto da Mulher Casada (Lei nº 4.121/62), a qual
eliminou de vez a incapacidade da mulher. Antes disso, a mulher era considerada
como incapaz, necessitando da autorização do marido para realizar atos da vida
civil.
Ainda, até o advento da Lei do divórcio, em 1977 (numero da lei), o
casamento era indissolúvel, só podendo haver o desquite.
Com o advento da Constituição Federal de 1988, a família recebeu ampla
proteção do Estado.
Isso se verifica através do artigo 226 da Constituição Federal, que dispõe:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

Ainda, o § 5º do citado artigo, dispõe sobre a igualdade entre cônjuges, da


seguinte forma:

§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos


igualmente pelo homem e pela mulher.

O Código Civil de 2002, recepcionou a proteção à família existente na


Constituição Federal de 1988 e, abrangeu vários temas do Direito de Família, entre
eles, e o mais importante para nós no presente estudo, o instituto do casamento, sua
formação e dissolução.
13

1.2 CONCEITO DE CASAMENTO

Várias são as formas de se conceituar o casamento. Cada doutrinador busca,


da sua maneira, chegar a um conceito do casamento.
Dessa forma, podemos conceituar o instituto do casamento como uma das
formas de constituição de uma família, na qual duas pessoas se unem afetivamente,
estabelecendo uma comunhão de vida, de maneira formal e solene.
O casamento é uma das formas de constituição de uma família, mas não é a
única. As famílias modernas se constituem, cada vez mais, de formas diversas, já
reconhecidas pelo direito.
A união estável é um exemplo de constituição de família sem que haja um
casamento formal.
Eduardo de Oliveira Leite (2009, p. 47) conceitua o casamento da seguinte
maneira:

Casamento é o vínculo jurídico entre o homem e a mulher que se unem


materialmente e espiritualmente para constituírem uma família. Estes são os
elementos básicos, fundamentais e lapidares do casamento.

Por sua vez, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2010, p. 112),
conceituam casamento da seguinte forma:

[...] o casamento é uma das formas de regulamentação social da


convivência entre pessoas que se entrelaçam pelo afeto.
Que ser humano carece de uma convivência plena, com ajuda mútua no
campo material, psicológico, sexual, biológico e espiritual parece certo e
incontroverso. O casamento é, assim, umas das formas de alcançar essa
plenitude, a partir da (con)vivência humana. É um mecanismo para a
constituição de uma família, com diversos objetivos e perspectivas
personalíssimas.

Ainda, vale a pena transcrever a idéia de casamento no direito argentino,


através do entendimento de Bossert e Zannoni (2000, p. 75)¹:

Si quisiéramos, pues, sintetizar ambas nociones, diríamos que el


matrimonio como acto jurídico se desenvolve en la teoria Del acto jurídico
familiar com SUS caracteres específicos y también com lãs connotaciones
que la teoría general Del acto jurídico aporta para su consideración. Por
outra parte, la relación jurídica matrimonial transciende em el estado de
família que el matrimonio establece entre los cónyuges y que lês permite
oponer no solo entre si, sino también respecto de terceros a los efectos de
14

ser reconocida la unión em cuanto engendra lãs prerrogativas y potestades


que estabelece la ley em cada caso.

Para muitos doutrinadores o casamento é visto como um contrato entre duas


pessoas, no qual estas se comprometem a cumprirem com diversos deveres e
obrigações decorrentes da lei, bem como lhes garante direitos, também previstos em
lei.
Nesse sentido José Lamartine Corrêa de Oliveira aduz (1990, p. 121):

[...] o negócio jurídico de Direito de Família por meio do qual um homem e


uma mulher se vinculam através de uma relação jurídica típica, que é a
relação matrimonial. Esta é uma relação personalíssima e permanente, que
traduz ampla e duradoura comunhão de vida.

Por fim, o Código Civil de 2002 traz um breve conceito sobre casamento em
seu artigo 1.511, in verbis:

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na


igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

Dessa forma, verifica-se que o casamento não tem um conceito absoluto, mas
sim, várias formas diferentes de ser conceituado, mas sempre levando em
consideração a união estável e afetiva entre duas pessoas.

____________________
1
Se quisermos sintetizar ambas as noções, diríamos que o casamento como um ato legal se
desenvolve na teoria dos atos do direito de família com seus caracteres específicos e as conotações
que a teoria geral do ato fornece para sua consideração. Por outro lado, a relação jurídica matrimonial
transcende o estado de família que estabelece o casamento entre cônjuges e permitindo-lhes não só
se opor entre si, mas também contra terceiros com a finalidade de ser reconhecida a união enquanto
forma das prerrogativas e as atribuições que estabelece a lei em cada caso. (tradução livre da
autora);
15

1.3 OS DIREITOS E DEVERES DO CASAMENTO

Homens e mulheres são iguais perante a Lei, conforme estabelece o inciso I


do artigo 5º da nossa Constituição Federal².
Ainda, a Carta Magna traz em sua redação, em capítulo específico sobre a
entidade familiar, expressamente a igualdade existente entre os cônjuges, conforme
verifica-se no §5º de seu artigo 226³.
Por sua vez, o Código Civil Brasileiro de 2002, também abrange a igualdade
entre os cônjuges em seu artigo 1.5114.
A partir do artigo 1.565 o Código Civil Brasileiro prevê direitos e deveres
existentes entre os cônjuges.
Sendo assim, verificamos que o artigo 1.5655 do Código Civil estabelece que
homem e mulher, através do casamento, assumem, mutuamente a condição de
consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família.
Ainda, em seu parágrafo primeiro6, estabelece como um direito dos cônjuges
acrescer ao seu o sobrenome do outro.
Por fim, o parágrafo segundo7 do referido artigo, traz a disposição de que o
planejamento familiar é de livre decisão do casal, verificando, mais uma vez, a
igualdade entre ambos.
O artigo 1.5668 dispõe um rol, não taxativo, sobre os deveres inerentes ao
casamento, tais como: fidelidade recíproca; vida em comum, no domicílio conjugal;
mútua assistência; sustento, guarda e educação dos filhos; respeito e considerações
mútuos.
_____________________
² Art. 5º, I, CF/88 – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
³ Art. 226, §5º, CF/88 – Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher;
4
Art. 1.511 CC/02 – O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de
direitos e deveres dos cônjuges.
5
Art. 1.565 CC/02 – Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de
consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família.
6
Art. 1.565, §1º, CC/02 – Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do
outro.
7
Art. 1.565, §2º, CC/02 – O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de
coerção por parte de instituições privadas ou públicas.
8
Art. 1.566, CC/02 – São deveres de ambos os cônjuges: I – fidelidade recíproca; II – vida em
comum, no domicílio conjugal; III – mútua assistência; IV – sustento, guarda e educação dos filhos; V
– respeito e considerações mútuos.
16

Porém, o rol de deveres constantes no artigo 1.566, como já dito, não pode
ser considerado como taxativo na vida a dois.
Nesse sentido, Inácio de Carvalho Neto (2005, p. 98) afirma:

Reconhece-se, ainda, a existência de outros deveres do casamento, não


relacionados no referido dispositivo, alinhando-se como tais, entre outros, o
dever de sinceridade, de respeito pela honra e dignidade própria e da
família, de não expor o outro cônjuge a companhias degradantes, de não
conduzi-lo a ambiente de baixa mora etc.

Os deveres atinentes ao casamento, existentes no artigo 1.566 do Código


Civil são de ordem pessoal e recíprocos, conforme afirma Eduardo de Oliveira Leite
(2005, p. 128):

São deveres de ordem pessoal e deveres recíprocos. De ordem pessoal,


porque fazem do casamento um modo de vida; porque regulamentam a vida
conjugal, a unidade do lar se cumpre na fidelidade e na assistência. São
deveres recíprocos, porque pesam igualmente sobre os dois cônjuges; eles
comprometem cada um em relação ao outro e vice versa.

Importante ressaltar que tal dispositivo foi transcrito do Código Civil de 1916,
sendo acrescentado somente o inciso V, qual seja, respeito e considerações
mútuos, o qual não havia previsão no referido Código.
Feito isto, passemos à análise de cada um dos deveres inerentes ao
casamento.
O primeiro dever contido no artigo 1.566, inciso I do Código Civil é o da
fidelidade recíproca, que se fundamenta no caráter monogâmico do casamento, ou
seja, é o dever inerente aos cônjuges de abster-se de praticar relações sexuais com
terceiros.
Nesse sentido Maria Helena Diniz aduz (2004, p.125):

O dever moral e jurídico de fidelidade recíproca mútua decorre do caráter


monogâmico do casamento e dos interesses superiores da sociedade, pois
constituiu um dos alicerces da vida conjugal e da família matrimonial.

Ainda, no mesmo sentido, Carlos Roberto Gonçalves afirma (2010, p. 190):

O dever em apreço inspira-se na idéia da comunhão plena de vida entre os


cônjuges, que resume todo o conteúdo da relação patrimonial. Impõe a
exclusividade das prestações sexuais, devendo cada consorte abster-se de
praticá-las com terceiro.
17

O segundo dever recíproco entre os cônjuges, elencado no inciso II do artigo


1.566 do Código Civil é o da vida em comum no domicilio conjugal.
Tal dever decorre da convivência que deve existir entre os cônjuges, porém,
não é absoluto e pode ser relativizado, conforme previsão do artigo 1.569 do Código
Civil, in verbis:

Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas
um ou outro podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a
encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses
particulares relevantes.

Tal dispositivo é de plena sabedoria, tendo em vista que a vida moderna faz
com que, muitas vezes, casais vivam em cidades ou até mesmo estados diversos,
tendo em vista suas profissões, encargos públicos ou até mesmo seus próprios
interesses de caráter relevante.
Nesse sentido, Eduardo de Oliveira Leite aduz (2005, p. 129):

O dever de convivência sexual não é da essência do casamento nos casos


de casamento in extremis bem como nos casos de consortes separados em
razão de doença ou da profissão.
Por isso, a jurisprudência já afirmou não constituir abandono do lar: o
deslocamento constante de um dos cônjuges devido à profissão; a
segregação da sociedade devido à moléstia grave; o trabalho de um dos
cônjuges em outra localidade.

Ainda, Arnoldo Wald acentua (2004, p.85):

[...] No entanto, e não obstante o dever de coabitação subsista, o art. 1.569


ressalva que quaisquer dos cônjuges podem se ausentar do domicílio
conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua profissão ou
a interesses particulares relevantes.

O terceiro dever elencado no inciso III do artigo 1.566 do Código Civil é o da


mútua assistência, o qual quer dizer que deve haver uma divisão, não só no que diz
respeito ao sentido material e econômico, mas também uma assistência moral entre
os cônjuges.
Sobre o assunto, Carlos Roberto Gonçalves afirma (2010, p.193):

O dever de mútua assistência obriga os cônjuges a se auxiliarem


reciprocamente, em todos os níveis. Assim, inclui a recíproca prestação de
socorro material, como também a assistência moral e espiritual. Envolve o
desvelo próprio do companheirismo e o auxílio mútuo em qualquer
circunstância, especialmente nas situações adversas.
18

O próximo dever elencado no artigo 1.566 do Código Civil está em seu inciso
IV, e diz respeito ao sustento, guarda e educação dos filhos, o qual também está
previsto no artigo 1.6349 do Código Civil. Tal dever é de extrema importância, uma
vez que diz respeito à direitos inerentes à crianças e adolescentes, filhos em comum
dos cônjuges.
A guarda é, além de um dever, um direito dos pais. Se descumprimento pode
acarretar a perda do poder familiar atinente aos pais, conforme prevê os artigos
1.63710 e 1.63811 do Código Civil Brasileiro.
Ainda, os deveres de educação e sustento dos filhos permanecem à ambos
os cônjuges, mesmo após o divórcio desses.
O dever de sustento concerne à subsistência dos filhos, mediante o
fornecimento de alimentação, vestuário, habitação, medicamentos e todo o
necessário à sobrevivência destes, conforme afirma Carlos Roberto Gonçalves
(2010, p.195).
Ainda, importante ressaltar que o dever de prover a educação dos filhos pode
perdurar até que estes estejam na universidade e não tenham condições de se
sustentar.
O último dever inerente aos cônjuges, elencado no artigo 1.566 em seu inciso
V, é o respeito e considerações mútuos. Sobre este dever devemos entender que
um cônjuge não deve maltratar o outro, e nem fazer falsas acusações, infundadas,
bem como que sejam humilhantes ao outro.
Sobre o assunto, Caio Mário da Silva Pereira comenta (2004, p.176):

Além da consideração social compatível com o ambiente e com a educação

____________________
9
Art. 1.634, CC/02 – Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I – dirigir-lhes a criação
e educação; II – tê-los em sua companhia e guarda; III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento
para casarem; IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais
não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; V – representá-los, até ais
dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes,
suprindo-lhes o consentimento; VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; VII – exigir que
lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.
10
Art. 1.637, CC/02 – Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério
Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até
suspendendo o poder familiar, quando convenha.
11
Art. 1.638, CC/02 – Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou mãe que: I – castigar
imoderadamente o filho; II – deixar o filho em abandono; III – praticar atos contrários à moral e aos
bons costumes; IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
19

dos cônjuges, o dever, negativo, de não expor um ao outro a vexames e


descrédito. É nesta alínea que se pode inscrever a “infidelidade moral”, que
não chega ao adultério por falta da concretização das relações sexuais, mas
que não deixa de ser injuriosa, e de apreciada pela justiça nos processos de
separação.

Ainda, neste sentido, Carlos Roberto Gonçalves afirma (2010, p.196):

O dever ora em estudo inspira-se na dignidade da pessoa humana, que não


é simples valor moral, mas um valor jurídico, tutelado no art. 1º, III , da
Constituição Federal. O respeito à honra e à dignidade da pessoa impede
que se atribuam fatos e qualificações ofensivas e humilhantes aos cônjuges,
um ao outro, tendo em vista a condição de consortes e companheiros de
uma comunhão plena de vida.

Dessa forma, restam analisados todos os direitos e deveres inerentes aos


cônjuges e listados no artigo 1.566 do Código Civil, o qual, como já vimos, não é
taxativo.
20

“Todos somos responsáveis de tudo ante


todos” (Dostoievski)

2. FUNDAMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil consiste no dever de reparar um dano causado a


outrem em decorrência de um ato ilícito. Seus elementos básicos são: culpa, dano e
o nexo causal.
Este instituto está previsto no Código Civil de 2002, em capítulo próprio, a
partir do artigo 92712. Ainda, importante ressaltar que a responsabilidade civil não
está prevista somente neste capítulo, sendo que os artigos 18613 e 18814 do Código
Civil, que falam sobre os atos ilícitos, estão diretamente ligados ao instituto ora
estudado.
Sobre o conceito de responsabilidade civil, Maria Helena Diniz (2007, p.35)
entende:

A responsabilidade civil é a aplicação das medidas que obriguem uma


pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão
de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por
alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

Dessa forma, verifica-se que a responsabilidade civil pode ser dividida em


contratual e extracontratual ou aquiliana. A primeira decorre da violação direta de um
contrato já existente, estabelecido pelas partes. A segunda decorre de uma violação
direta da Lei.

_____________________
12
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar,
por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
13
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
14
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.
21

Nesse sentido, Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.26) afirma:

Na responsabilidade extracontratual, o agente infringe um dever legal, e, na


contratual, descumpre o avençado, tornando-se inadimplente. Nesta, existe
uma convenção prévia entre as partes que não é cumprida. Na
responsabilidade extracontratual, nenhum vínculo jurídico existe entre a
vítima e o causador do dano, quando este pratica o ato ilícito.

Ainda, sobre a responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana, Carlos


Roberto Gonçalves (2009, p.26), aduz:

Quando a responsabilidade não deriva de contrato, diz-se que ela é


extracontratual. Neste caso, aplica-se o disposto no art. 186 do Código Civil.
Todo aquele que causa dano a outrem, por culpa em sentido estrito ou dolo,
fica obrigado a repará-lo. É a responsabilidade derivada de ilícito
extracontratual também chamada aquiliana.

Destarte ainda, que a responsabilidade civil extracontratual está prevista nos


artigos 186 a 188 do Código Civil, e a contratual nos artigos 389 e seguintes do
mesmo diploma legal.
Ainda, existe em nosso ordenamento jurídico a responsabilidade civil
subjetiva e a objetiva. A primeira é a que depende de culpa, ou seja, é necessário
que a culpa do agente seja demonstrada para responsabilizá-lo. A segunda, é
exceção à regra, ou seja, independe de culpa, é a teoria do risco. Nesse caso, o
agente responde pelo dano causado, independentemente de culpa.
Sobre o tema Silvio de Salvo Venosa (2009, p. 12) afirma:

Reiteramos, contudo, que o princípio gravitador da responsabilidade


extracontratual no Código Civil ainda é o da responsabilidade subjetiva, ou
seja, responsabilidade com culpa, pois esta também é a regra geral
traduzida em vigor no caput do art. 927. [...] A responsabilidade objetiva, ou
responsabilidade sem culpa, somente pode ser aplicada quando existe lei
expressa que a autorize ou no julgamento do caso concreto, na forma
facultada pelo parágrafo único do art. 927. Portanto na ausência de lei
expressa, a responsabilidade pelo ato ilícito será subjetiva, pois esta é ainda
a regra geral no direito brasileiro.

Sendo assim, resta importante destacar o contido no artigo 927 do Código


Civil:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
22

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente


de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.

Dessa forma, verificamos que a responsabilidade civil objetiva é a exceção do


nosso ordenamento jurídico, só podendo ser aplicada em casos específicos, uma
vez que a regra geral se traduz na responsabilidade civil subjetiva, ou seja, aquela
que depende da comprovação da culpa.
23

2.2 DANO

O dano é um dos requisitos fundamentais da responsabilidade civil. Sem ele


não há que se falar em indenização, uma vez que não haverá dever de reparação.
Ainda, sua premissa existe no sentido de que, havendo o dano, ou seja, um
prejuízo material e/ou imaterial causado a outrem, haverá o dever de reparar o
agente lesionado, de forma a retornar a seu status quo ante, ou seja, ao estado em
que se encontrava antes do prejuízo.
Porém, nem sempre é possível uma reparação integral (no caso de dano
moral), mesmo assim, haverá o dever de indenizar, buscando-se, de alguma forma,
compensar o dano causado. Ou seja, em se tratando de dano moral, o valor da
indenização deve ser de forma equivalente, para que, de alguma forma, compense o
dano moral sofrido pelo agente.
Sobre o assunto, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2009,
p.38), afirmam:

Sendo a reparação do dano, como produto da teoria da responsabilidade


civil, uma sanção imposta ao responsável pelo prejuízo em favor do lesado,
temos que, em regra, todos os danos devem ser ressarcíveis, eis que,
mesmo impossibilitada a determinação judicial de retorno ao status quo
ante, sempre se poderá fixar uma importância em pecúnia, a título de
compensação.

Ainda, há que se levar em conta que nem sempre o dano será de cunho
patrimonial, no qual é possível auferir um valor certo para repará-lo. Existe também,
em nosso ordenamento jurídico o dano de cunho imaterial, moral, que decorre da
ofensa aos direitos da personalidade. Nesse caso, não temos como quantificá-lo
para retornar ao seu status quo ante, pois trata-se de um bem impossível de ser
reparado.
Neste sentido, importante frisar a idéia de Clayton Reis (2010, p. 6):

A universalidade do patrimônio de uma pessoa envolve a somatória de bens


materiais e imateriais que fazem parte do acervo de valores da pessoa
humana. Desloca-se, neste sentido, o conteúdo meramente econômico
existente na idéia de dano. O dano deve ser enquadrado como uma
unidade de valor – na ótica patrimonial e extrapatrimonial. No mundo
jurídico particularmente materialista, tudo tem um valor certo e determinado,
menos a dignidade, é claro. Se não adotarmos esta teoria do valor do dano,
será impossível estabelecermos o pretium doloris, ou o preço que se
atribuirá à lesão aos nossos valores ideais.
24

[...]
Todavia, a idéia de que somente as lesões aos bens materiais são
suscetíveis de reparação é falsa, segundo se entende e resta demonstrado
pela doutrina e jurisprudência. Os bens não patrimoniais, não obstante
possam ser objetos de reparação a exemplo dos materiais, o são, na
realidade, estimados a título diverso daqueles em que há uma notória e
clara preocupação na restituição ao status quo ante, circunstância que não
se observa neste caso. Na realidade é impossível reconstituir o patrimônio
violado de um bem que não pode ser medido, pesado, recomposto e aferido
pelos meios físicos de medição atualmente conhecidos.

Dessa forma, verifica-se que a quantificação do dano moral é muito mais


difícil de ser decretada do que a reparação de um dano material, uma vez que a dor
não tem preço, mas sim, busca-se uma forma de diminuí-la.
Por fim, verificado que o dano pode ser de cunho moral ou material,
passemos a análise específica de cada um deles.

2.2.1 Dano Moral

O dano moral é um dano de cunho imaterial, ou seja, decorre da violação ao


direito inerente à pessoa humana, tal como a dignidade, a vida, a saúde, a honra, a
imagem, a privacidade, entre outros.
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2009, p. 55) conceituam o
dano moral da seguinte maneira:

O dano moral consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário,


nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos
afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da
pessoa (seus direitos da presonalidade), violando, por exemplo, sua
intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados
constitucionalmente.

Dessa forma, como se trata de um direito não patrimonial, não há como


quantificá-lo de forma exata. Para tanto, é necessário verificar quais as
conseqüências causadas em cada sujeito, para, de alguma forma, tentar compensar
a vítima.
Nesse sentido, Maria Helena Diniz (2007, p.88) aduz:

O dano moral vem ser a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa


física ou jurídica (CC, art. 52; Súmula 227 do STJ), provocada pelo fato
lesivo. Qualquer lesão que alguém sofra no objeto de seu direito repercutirá,
necessariamente, em seu interesse; por isso, quando se distingue o dano
25

patrimonial do moral, o critério da distinção não poderá ater-se à natureza


ou índole do direito subjetivo atingido, mas ao interesse, que é pressuposto
desse direito, ou ao efeito da lesão jurídica, isto é, o caráter de sua
repercussão sobre o lesado, pois somente desse modo se poderia falar em
dano moral, oriundo d uma ofensa a um bem material, ou em dano
patrimonial indireto, que decorre de evento que lesa direito extrapatrimonial,
como, p. ex., direito à vida, à saúde, provocando também um prejuízo
patrimonial, como incapacidade para o trabalho, despesas com tratamento.

Ainda, sobre o tema Clayton Reis (2010, p. 7) entende:

A reparação, em tais casos, reside no pagamento de uma soma pecuniária,


fixada em face do arbitrium boni iuris do magistrado, de forma a possibilitar
à vítima uma compensação em decorrência da dor íntima vivenciada.

Destarte, o citado autor entende que o dano moral decorre de uma lesão
direta à dignidade da pessoa humana (2010, p.8):

A partir do momento em que a Constituição brasileira de 1988 elegeu como


direito fundamento do Estado Democrático a dignidade da pessoa, que
representa um acervo de valores ideiais que qualificam o ser humano,
passou-se a considerar o dano moral como ofensao ao princípio da
dignidade da pessoa.

Convém destacar, outrossim, o entendimento do Tribunal de Justiça do


Estado do Paraná sobre a caracterização do dano moral:

A negativa despropositada gerou sentimento de insegurança e desgaste


psicológico abalando moralmente a apelada que já estava fragilizada pela
própria doença.
Essas circunstâncias ultrapassam o limite de um mero dissabor, obrigando
a recorrente a buscar o Poder Judiciário para ver seus direitos garantidos.
Convém destacar, ainda, que a desnecessidade de comprovação do dano
moral é questão já pacificada nos tribunais, tendo em vista que este decorre
da própria ofensa: “Neste ponto a razão se coloca ao lado daqueles que
entendem que o dano moral está ínsito na própria ofensa, de tal modo que,
comprovado o fato danoso, ipso facto está demonstrado o dano moral à
guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti, que
decorre das regras (página 15 de 17 Des. Mário Rau, julg. 18.03.2002)
(TJPR - 9ª C.Cível - AC 866888-2 - Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba - Rel.: Renato Braga Bettega - Unânime - J.
09.08.2012)

Veja-se que não basta um mero dissabor, aborrecimento de um determinado


fato. O dano moral deve abalar psicologicamente o sujeito ofendido, ocorrendo
violação de sua dignidade ou direito da personalidade.
26

Por fim, importante destacar que o dano moral deve ser quantificado da
melhor forma possível em cada caso concreto, para que se possa buscar uma
compensação equivalente em face do abalo sofrido pelo ofendido.

2.2.2 Dano Material

O dano material decorre de um ato ilícito ou um descumprimento contratual,


os quais acarretam prejuízos meramente patrimoniais ao sujeito lesado.
Nesse sentido, Maria Helena Diniz (2007, p.66) aduz:

O dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que afeta um interesse


relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração, total
ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de
avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável. Constituem danos
patrimoniais a privação do usa da coisa, os estragos nela causados, a
incapacitação do lesado para o trabalho, a ofensa a sua reputação, quando
tiver repercussão na sua vida profissional ou em seus negócios.
O dano patrimonial mede-se pela diferença entre o valor atual do patrimônio
da vítima e aquele que teria, o mesmo momento, se não houvesse a lesão.
O dano, portanto, estabelece-se pelo confronto entre o patrimônio realmente
existente após o prejuízo e o que provavelmente existiria se a lesão não se
tivesse produzido. O dano corresponderia à perda de um valor
pecuniariamente determinado. O dano patrimonial é avaliado em dinheiro e
aferido pelo critério diferencial. Mas, às vezes, não se faz necessário tal
cálculo, se for possível a restituição ao status quo ante por meio de uma
reconstituição natural.

Importante ressaltar que o dano material pode, não raras as vezes, estar
intimamente ligado ao dano moral, pois um prejuízo, mesmo que de cunho material,
pode acarretar ao ofendido um abalo de cunho moral.
Dessa forma, o magistrado deve verificar, em cada caso concreto, se houve
realmente a concretização de um dano moral, quando da ocorrência do dano
material sofrido.
Sobre o tema Clayton Reis (2010, p. 7) afirma:

[...] o dano material é aquele que afeta exclusivamente os bens concretos


que compõem o patrimônio da vítima. Pode-se conceituar, ainda, como
lesivo todo ato que, afetando o indivíduo no seu trabalho, reputação ou vida
profissional, tenha reflexos sobre o patrimônio físico.

Ainda, o mesmo autor (2010, p.7) diferencia o dano material do dano moral da
seguinte forma:
27

A diferença entre essas duas lesões reside, substancialmente, na forma em


que se opera a sua reparação. Enquanto no caso dos danos materiais a
reparação tem como finalidade repor os bens lesionados ao seu status quo
ante, ou possibilitar à vítima a aquisição de outro bem semelhante ao
destruído, o mesmo não ocorre, no entanto, com relação aos danos
extrapatrimoniais. Neste, é impossível repor as coisas ao seu estado
original.

Sendo assim, verifica-se que o dano material sempre será passível de um


valor pecuniário para sua reparação integral, de forma a recuperar a coisa como
originalmente se encontrava, ou seja, ao seu status quo ante.
Já o dano moral não terá um valor certo, uma vez que atinge o direito da
personalidade do sujeito. Sendo assim, cabe ao magistrado o dever de fixar um
valor razoável em cada caso concreto, de forma que este minimize a dor e o
sofrimento da vítima.
28

2.3 CULPA

A culpa é um dos elementos da responsabilidade civil, mas precisamente da


responsabilidade civil subjetiva, que é a regra do nosso Código Civil e, na qual é
necessária a sua comprovação para que haja o dever de reparar o dano.
O artigo 186 do Código Civil assim dispõe:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Veja-se que os elementos que caracterizam a culpa no citado artigo são: ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência. Ou seja, não basta a existência
de um dano para haver a reparação civil em sede de responsabilidade subjetiva, é
necessária e, indispensável a comprovação da culpa no caso concreto.
O sujeito age com culpa quando deixa de fazer algo que deveria fazer ou
vice-versa, ou seja, o sujeito não toma as cautelas necessárias que qualquer homem
médio teria o cuidado de observar ao agir ou omitir-se em determinada situação,
causando um dano a outrem.
Nesse sentido, Silvio de Salvo Venosa (2009, p.23) afirma:

Em sentido amplo, a culpa é a inobservância de um dever que o agente


devia conhecer e observar.

Sobre o tema Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.296) entende:

Para que haja obrigação de indenizar, não basta que o autor do fato danoso
tenha procedido ilicitamente, violando um direito (subjetivo) de outrem ou
infringindo uma norma jurídica tuteladora de interesses particulares. A
obrigação de indenizar não existe, em regra, só porque o agente causador
do dano procedeu objetivamente mal. É essencial que ele tenha agido com
culpa: por ação ou omissão voluntária por negligência ou imprudência,
como expressamente se exige no art. 186 do Código Civil.
Agir com culpa significa atuar o agente em termos de, posteriormente,
merecer a censura ou reprovação do direito. E o agente só pode ser
pessoalmente censurado, ou reprovado na sua conduta, quando, em face
das circunstâncias concretas da situação, caiba a afirmação de que ele
podia e devia ter agido de outro modo.

Ainda, Clayton Reis (apostila, p. 14) aduz:


29

O conceito de culpa se encontra necessariamente atrelado ao de


responsabilidade, ou seja, será responsável quem agindo de forma contrária
à ordem jurídica – violar direito. Nesse conceito, sempre haverá a violação
de um dever jurídico de se comportar de forma que a sua conduta não
cause danos a outrem.
[...]
A culpa pressupõe uma conduta indesejada pelo agente no meio social em
que vive, de tal sorte que acarreta prejuízo os direitos de outrem,
contrariando o preceito romano consistente na parêmia neminem laedere.

A culpa pode ser dividida em: culpa in eligendo e culpa in vigilando. A primeira
decorre de uma má escolha. Já a segunda decorre da falta de vigilância, falta de
cuidado.
Nesse sentido, Silvio de Salvo Venosa (2009, p.28) aduz:

Culpa in eligendo é a oriunda da má escolha do representante ou do


preposto, como, por exemplo, contratar empregado inabilitado ou imperito.
Culpa in vigilando é a que se traduz na ausência de fiscalização do patrão
ou comitente com relação a empregados ou terceiros sob seu comando.

No mesmo sentido, Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.302) assevera:

A culpa in eligendo é a que decorre da má escolha do representante ou


preposto. In vigilando é a que resulta da ausência de fiscalização sobre
pessoa que se encontra sob a responsabilidade ou guarda do agente.

Ainda, a culpa pode ser dividida em: culpa in comittendo ou culpa in


omittendo. A primeira está relacionada à uma ação e, por sua vez, a segunda
relaciona-se com uma omissão do sujeito.
Sobre o tema, Silvio de Salvo Venosa (2009, p.29) afirma:

Culpa in comittendo ocorre quando o agente pratica ato positivo, geralmente


caracterizado por imprudência e culpa in omittendo decorre de uma
abstenção indevida, caracterizando negligência.

Na mesma perspectiva, Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 302) explica:

A culpa in comittendo ou in faciendo resulta de uma ação, de um ato


positivo do agente. A culpa in omittendo decorre de uma omissão, só tendo
relevância para o direito quando haja o dever de não se abster.

Ainda, a culpa pode decorrer tanto de uma ação quanto de uma omissão,
sejam elas por imprudência, imperícia ou negligência.
30

Sobre o tema Maria Helena Diniz (2007, p.41) aduz:

A imperícia é a falta de habilidade ou inaptidão para praticar certo ato; a


negligência é a inobservância de normas que nos ordenam agir com
atenção, capacidade, solicitude e discernimento; e a imperícia é a
precipitação ou o ato de proceder sem cautela.

Destarte que essas não são as únicas espécies de culpa existentes no nosso
ordenamento jurídico.
Ainda, importante ressaltar que a culpa pode ter vários graus, podendo ser
levíssima, leve, grave e até gravíssima, o que deve ser verificado em cada caso
concreto para a quantificação do dano causado.
Por fim, verifica-se a necessidade da comprovação da culpa para que haja a
responsabilização subjetiva na esfera cível, de modo que, sem esta, não há que se
falar em reparação.
Lembrando que a responsabilidade objetiva, que é a exceção à regra,
independe de culpa, trata-se da teoria do risco (art. 927, parágrafo único do Código
Civil), ao contrário da responsabilidade civil subjetiva, a qual, como vimos, é
necessária a comprovação da culpa do agente causador do dano.
31

2.4 NEXO CAUSAL

O nexo causal, também chamado de liame de causalidade ou nexo de


causalidade, é outro elemento atinente à responsabilidade civil.
Para que haja a responsabilização civil, deve haver a comprovação do nexo
de causalidade entre o dano e o ato ilícito ou a conduta do agente. Caso contrário,
não há que se falar em reparação.
Portanto, o nexo causal é a relação de causa e efeito existente entre o dano e
a conduta ilícita.
Tal elemento é indispensável ao instituto da responsabilidade civil, seja ela
subjetiva ou objetiva.
Sobre o tema Silvio de Salvo Venosa (2009, p.47) aduz:

É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da


relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de
elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas
nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimento um dano,
não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há
como ser ressarcida. Nem sempre e fácil, no caso concreto, estabelecer a
relação de causa e efeito.

Nesse sentido, Maria Helena Diniz (2007, p.107) afirma:

A responsabilidade civil não pode existir sem a relação de causalidade entre


o dano e a ação que o provocou.
O vínculo entre o prejuízo e a ação designa-se “nexo causal”, de modo que
o fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou como sua
conseqüência previsível. Tal nexo representa, portanto, uma relação
necessária entre o evento danoso e a ação que o produziu, de tal sorte que
esta é considerada como sua causa. Todavia, não será necessário que o
dão resulte apenas imediatamente do fato que o produziu. Bastará que se
verifique que o dano não ocorreria se fato não tivesse acontecido. Este
poderá não ser a causa imediata, mas, se for condição para a produção do
ano, o agente responderá pela conseqüência.

No mesmo sentido, Carlos Roberto Gonçalves (2009, p. 330) ensina:

Um dos pressupostos da responsabilidade civil é a existência de um nexo


causal entre o fato ilícito e o dano produzido. Sem essa relação de
causalidade não se admite a obrigação de indenizar. O art. 186 do Código
Civil a exige expressamente, ao atribuir a obrigação de reparar o dano
àquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem.
O dano só pode gerar responsabilidade quando for possível estabelecer um
nexo causal entre ele e o seu autor, ou, como diz SAVATER, “um dano só
32

produz responsabilidade, quando ele tem por causa uma falta cometia ou
um risco legalmente sancionado.

Ainda, existem três teorias que explicam o nexo de causalidade, são elas: a
teoria da equivalência das condições, a teoria da causalidade adequada e a teoria
da causalidade direta ou indireta.
A teoria da equivalência das condições adota o entendimento de que, todos
os atos que ocorreram anteriormente ao dano e, de alguma forma contribuíram para
tal, devem se equivaler, por isso “equivalência das condições”.
A teoria da causalidade adequada entende que, não basta o fato anterior ao
dano, é necessário que tal fato seja a causa adequada do dano.
Pela teoria da causalidade direta ou indireta, entende que o dano decorre de
uma causa imediata relacionada a ele. Esta é a teoria mais adotada pelo nosso
ordenamento jurídico (art. 402 do Código Civil).
Sendo assim, verifica-se que o nexo causal é um elemento da
responsabilidade civil completamente indispensável para a existência da reparação
de algum dano.
Dessa forma, sem a sua devida verificação, não podemos comprovar a
existência ou não do dano ou do fato gerador deste, não sendo possível, portanto,
responsabilizar alguém.
33

3. A RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO CASAMENTO

3.1 QUEBRA DOS DEVERES DO CASAMENTO

A responsabilidade civil atinge, não somente relações jurídicas negociais, mas


também as relações jurídicas atinentes ao direito de família. Nesse aspecto, o
presente trabalho passa a analisar a aplicabilidade da responsabilidade civil no
instituto matrimonial.
Os deveres inerentes ao casamento, como já visto no capítulo 1, estão
previsto no artigo 1.56615 do Código Civil Brasileiro, e são: a fidelidade recíproca, a
vida em comum no domicílio conjugal, a mútua assistência, o sustento, a guarda e a
educação dos filhos, bem como o respeito e considerações mútuos.
Vale lembrar que tais deveres não são taxativos, mas meramente
exemplificativos.
Sobre o tema, Inácio de Carvalho Neto (2005, p. 273) aduz:

Apresentam-se como danos morais imediatos aqueles que atingem a esfera


da personalidade do cônjuge lesado, causando-lhe sofrimento, dentre os
quais estão os oriundos do descumprimento do dever de fidelidade, por
adultério ou pela prática de ato que demonstre a intenção de satisfação do
instinto sexual for do tálamo; ao dever de coabitação, pelo abandono
voluntário e injustificado do lar e pela recusa de satisfação do débito
conjugal; do dever de mútua assistência, pela prática de tentativa de
homicídio, de sevícias e de injúrias raves; e do dever de sustento, guarda e
educação dos filhos, pela prática de maus tratos contra os infantes, por
exemplo.

Pelo dever de fidelidade recíproca, entende-se pelo dever de ambos os


cônjuges abster-se de praticar relações sexuais com terceiros, ou seja, é o dever de
lealdade, de não praticar o adultério.
Antigamente o adultério era tratado como crime pelo Código Penal, o qual
previa penas diferenciadas para homens e mulheres.
Quando a mulher era quem praticava o adultério a pena era mais grave, ou
seja, a mulher era punida com a pena de prisão de 2 a 8 anos. Já quando praticado

_____________________
15
Art. 1.566, CC/02 – São deveres de ambos os cônjuges: I – fidelidade recíproca; II – vida em
comum, no domicílio conjugal; III – mútua assistência; IV – sustento, guarda e educação dos filhos; V
– respeito e considerações mútuos.
34

pelo homem, este somente era condenado ao pagamento de multa e, ainda, isso só
ocorria quando havia escândalo público.
Com o advento da Lei nº 11.106/05, o adultério deixou de ser crime no âmbito
penal, porém, no âmbito moral da sociedade é tido como algo desprezível, o qual
pode causar injúria grave ao outro cônjuge.
Dessa forma, quando preenchidos os requisitos da responsabilidade civil (ato
ilícito, dano e nexo causal), já estudados, haverá o dever de indenizar o cônjuge,
uma vez que, evidentemente, o adultério provoca desrespeito aos direitos da
personalidade do outro cônjuge, causando-lhe constrangimentos, sofrimento, danos
psíquicos, entre outros.
Sendo assim, tendo em vista se tratar de um dano que viola os direitos da
personalidade, este terá cunho estritamente moral, o qual deve ser quantificado em
cada caso pelo magistrado.
Porém, mesmo havendo a violação de um dever conjugal, causando ao
cônjuge um sofrimento relativamente aos seus direitos da personalidade, a
jurisprudência pátria vem entendendo de forma diversa a aplicação de indenização
em tais casos.

CASAMENTO. SEPARAÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO


MORAL. RELACIONAMENTO EXTRACONJUGAL. PRETENSÃO
INDENIZATÓRIA DA EX-COMPANHEIRA CONTRA O VARÃO.
DESCABIMENTO. NAS RELAÇÕES FAMILIARES É COMUM A
OCORRÊNCIA DE MÁGOAS E RESSENTIMENTOS, SENTIMENTOS QUE
CAUSAM DOR, MAS QUE NÃO CARACTERIZAM UM ATO ILÍCITO
INDENIZÁVEL. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. APELAÇÃO
DESPROVIDA. (AP. 70035614882, 8ª CÂMARA CÍVEL, TJRS, DES. REL.
LUIZ ARI AZAMBUJA RAMOS)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE SEPARAÇÃO, ALIMENTOS, GUARDA,


VISITAÇÃO, PARTILHA E PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL. ALEGAÇÃO DE ADULTÉRIO. PRELIMINAR DE NULIDADE DE
SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. ADOÇÃO DO
PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INOCORRÊNCIA DE MÁCULA NA
DECISÃO (PRECEDENTES DO TJRS E DO STF).
1. (...)
2. A ruptura de um casamento, qualquer que seja a causa, gera mágoa,
raiva, sensação de abandono, frustração e estes sentimentos serão
intensos e profundos. Pretensões de natureza indenizatória estão
usualmente associadas a tais ressentimentos – sobras de um casamento
que termina.
3. Não é por meio da fixação de uma indenização que se dará a catarse
emocional da recorrente para expurgar de si a profunda mágoa pelo
desenlace matrimonial, o conhecimento do adultério e o fato da existência
de filho extramatrimonial, porque não há reparação econômica possível
para curar seus ressentimentos.
35

4. (...)
(AP. 70038896718, 8ª Câmara Cível, TJRS, Des. Rel. Luiz Felipe Brasil
Santos)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE


UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM PARTILHA DE BENS, ALIMENTOS E
INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA
DO JUIZ NÃO VIOLADO. JUIZA DA CAUSA QUE ENCERROU A
INSTRUÇÃO E PROLATOU A SENTENÇA. PRELIMINAR DE NULIDADE
REJEITADA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTE DE
INFIDELIDADE. NÃO- CABIMENTO NA ESPÉCIE. INEXISTÊNCIA DE ATO
ILÍCITO. CONDUTA QUE, POR SI SÓ, NÃO GERA DANO INDENIZÁVEL.
SENTENÇA DE PRIMEIRO GRAU ESCORREITA. RECURSO
CONHECIDO E NÃO-PROVIDO.
(...) A controvérsia reside no cabimento ou não de indenização por dano
moral decorrente da conduta de infidelidade perpetrada pelo recorrido
diante da relação extraconjugal que manteve durante o período que
conviveu em união estável com a recorrente. Com efeito. Ainda que se
possa reconhecer, na hipótese dos autos, a existência de relação
extraconjugal do apelado com terceira pessoa, fato este incontroverso, já
que confessado pelo próprio recorrido no depoimento pessoal prestado em
Juízo (fls. 168 dos autos em apenso) e corroborado pelas duas
testemunhas inquiridas no processo (fls. 169 e fls. 187 idem), tal conduta,
no entanto, a despeito de eventuais dissabores sofridos pela recorrente, não
gera, por si só, dano indenizável, porquanto não se constitui na prática de
ato ilícito, mas sim em mero dissabor inerente as relações afetivas
existentes. (AP. 714009-6, 11ª Câmara Cível, TJPR, Des. Rel. Fernando
Wolff Bodziak, DJ 25/04/2011)

Separação judicial. Proteção da pessoa dos filhos (guarda e interesse).


Danos morais (reparação). Cabimento.
1. O cônjuge responsável pela separação pode ficar com a guarda do filho
menor, em se tratando de solução que melhor atenda ao interesse da
criança. Há permissão legal para que se regule por maneira diferente a
situação do menor com os pais. Em casos tais, justifica-se e se recomenda
que prevaleça o interesse do menor.
2. O sistema jurídico brasileiro admite, na separação e no divórcio, a
indenização por dano moral. Juridicamente, portanto, tal pedido é possível:
responde pela indenização o cônjuge responsável exclusivo pela
separação.
3. Caso em que, diante do comportamento injurioso do cônjuge varão, a
Turma conheceu do especial e deu provimento ao recurso, por ofensa ao
art. 159 do Cód. Civil, para admitir a obrigação de se ressarcirem danos
morais.
(REsp 37.051/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, TERCEIRA TURMA,
julgado em 17/04/2001, DJ 25/06/2001, p. 167)

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE DIVÓRCIO - CUMULAÇÃO


COM PEDIDO DE ARROLAMENTO DE BENS E INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS - POSSIBILIDADE - INEXISTÊNCIA DE
INCOMPATIBILIDADE ENTRE AS PRETENSÕES - EVIDENTE RELAÇÃO
DE PERTINÊNCIA ENTRE OS PEDIDOS - ADOÇÃO DO PROCEDIMENTO
ORDINÁRIO - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE FAMÍLIA - OBSERVÂNCIA
DOS REQUISITOS PREVISTOS NO ARTIGO 292 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL - DECISÃO REFORMADA - RECURSO PROVIDO-
36

(TJPR - 12ª C.Cível - AI 809738-1 - Foro Central da Comarca da Região


Metropolitana de Curitiba - Rel.: Clayton Camargo - Unânime - J.
08.02.2012)

Importante ressaltar, também, que a pessoa com quem o cônjuge trai o outro,
ou seja, a figura do “amante”, ou ainda uma pessoa que saiba e seja tido como
“cúmplice” da infidelidade de um dos cônjuges, não pode ser responsabilizada
civilmente pela quebra dos deveres conjugais, tendo em vista que este, como o
próprio nome já diz, são inerentes aos cônjuges.
Sobre o assunto o Superior Tribunal de Justiça já decidiu:

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. ADULTÉRIO. AÇÃO


AJUIZADA PELO MARIDO TRAÍDO EM FACE DO CÚMPLICE DA EX-
ESPOSA. ATO ILÍCITO. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DE
NORMA POSTA.
1. O cúmplice de cônjuge infiel não tem o dever de indenizar o traído, uma
vez que o conceito de ilicitude está imbricado na violação de um dever legal
ou contratual, do qual resulta dano para outrem, e não há no ordenamento
jurídico pátrio norma de direito público ou privado que obrigue terceiros a
velar pela fidelidade conjugal em casamento do qual não faz parte.
2. Não há como o Judiciário impor um "não fazer" ao cúmplice,
decorrendo disso a impossibilidade de se indenizar o ato por
inexistência de norma posta - legal e não moral - que assim determine. O
réu é estranho à relação jurídica existente entre o autor e sua ex-
esposa, relação da qual se origina o dever de fidelidade mencionado
no art. 1.566, inciso I, do Código Civil de 2002. 3. De outra parte, não se
reconhece solidariedade do réu por suposto ilícito praticado pela ex-esposa
do autor, tendo em vista que o art. 942, caput e § único, do CC/02 (art.
1.518 do CC/16), somente tem aplicação quando o ato do co-autor ou
partícipe for, em si, ilícito, o que não se verifica na hipótese dos autos.
4. Recurso especial não conhecido.
(RECURSO ESPECIAL Nº 1.122.547 - MG (2009/0025174-6), 4ª Turma,
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO DJ: 27/11/2009)

Ainda, Washington de Barros Monteiro (2004, p.146/147), entende que o


dever de fidelidade não está restrito à relação sexual, mas também à traição virtual,
a qual, da mesma forma, pode caracterizar um dano moral ao outro cônjuge:

[...] É evidente o retrocesso daqueles que concluem que a infidelidade


virtual não seria descumprimento a esse dever, por inexistir relação sexual

____________________
16
Art. 244, CP – Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de
dezoito anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de sessenta anos, não
lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixa, sem justa causa, de socorrer descendente ou
ascendente, gravemente enfermo. Pena – detenção de um a quatro ano, e multa, de uma a dez
vezes o maior salário mínimo vigente no país.
37

importa a busca da satisfação sexual fora do par conjugal e não a relação


sexual propriamente dita, que pode ou não existir. Um e-mail, uma consulta
no plano virtual. Há muito o direito evoluiu para concluir que na infidelidade
em sala de patê papo virtual, com o intuito de satisfação do instinto sexual
com terceira pessoa, são provas da existência da infidelidade.

Veja-se que a idéia do autor está completamente dentro da realidade atual,


tendo em vista a expansão e a facilidade de acesso à internet.
Outro dever previsto no artigo 1.566, em seu inciso II, é o da coabitação, o
qual, como já dito, não pode ser absoluto.
O próprio artigo 1.569 dispõe sobre a possibilidade de um ou outro cônjuge se
ausentar do lar conjugal.
Assim, para que haja a quebra desse dever, deve haver o abandono do lar
voluntariamente e injustificadamente.
Tal conduta, de abandono do lar, é tão importante que está tipificada no
Código Penal, em seu artigo 24416 como crime, cuja pena prevista é a de detenção
de um a quatro anos de prisão e multa, que pode variar de uma ou a dez vezes
maior que o salário mínimo.
Ainda, importante frisar que o dever de coabitação está intimamente ligado à
vida conjugal e sexual dos cônjuges, sendo que, não somente o abandono do lar,
como também a negativa reiterada e injustificada de praticar relações sexuais,
podem ser causas da quebra do dever da coabitação.
Porém, para que haja o dever de indenizar, deve haver a comprovação dos
institutos da responsabilidade civil, ou seja, ato ilícito, dano e nexo causal, caso
contrário, não há que se falar em indenização.
Outro dever inerente aos cônjuges, que pode gerar o dever de indenizar, é o
da mútua assistência, previsto no inciso III do artigo 1.566 do Código Civil Brasileiro.
A mútua assistência, como já visto, abrange deveres tanto materiais, quanto
imateriais. A mútua assistência material diz respeito à prestação pecuniária existente
no lar conjugal e, mútua assistência imaterial diz respeito ao sentimento existente
entre os cônjuges, o respeito, o cuidado em enfermidades, ou seja, como é dito nas
celebrações dos casamentos religiosos: “Na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença”.
Se houver a quebra do dever de mútua assistência material, haverá o dever
de indenizar, porém na forma de ação de alimentos.
38

Caso haja a quebra do dever de mútua assistência material, esta terá cunho
estritamente moral, uma vez que atinge os direitos da personalidade do outro
cônjuge.
Porém, para que haja o dever de indenizar, como em todos os outros casos,
deve haver a comprovação de ato ilícito, dano e nexo causal.
Sobre o tema o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já decidiu:

Desta forma, é imprescindível não só a prova da conduta ilícita, mas,


especialmente, do nexo de causalidade entre o agir do recorrido e o
alegado dano, o que, in casu, não ocorreu. De todo modo, não se deve
ignorar que o sentimento de tristeza e mágoa é inerente ao desenlace
matrimonial, não sendo restituível mediante indenização, porquanto
simplista e maniqueísta eleger um culpado pelo fim da relação.
(Ap. 0000457-81.2007.8.26.0068, 4ª Câmara de Direito Privado, TJSP, Des.
Rel. Enio Zuliani, DJ 09/05/2012)

Outro dever inerente aos cônjuges, previsto no artigo 1.566, em seu inciso IV
é o de sustento, guarda e educação dos filhos.
Tal dever concerne na responsabilidade de ambos os cônjuges em manter
seus filhos, dar educação, bem como exercer o poder familiar a eles inerentes.
Porém, tal dever também ao deve estar limitado à aspectos materiais, mas
também a aspectos imateriais, afetivos, uma vez que a família é a base da
sociedade e é através dela que temos apoio, afeto, limites, entre outros.
Dessa forma, havendo a quebra desses deveres para com os filhos, seja de
um, ou ambos os pais, haverá o dever de indenizar.
Veja-se que, tal dever, não existe entre os cônjuges, mas sim entre pais e
filhos. Trata-se de uma obrigação de ambos os pais.
Sobre este aspecto o STF decidiu recentemente, que é cabível a indenização
por danos morais decorrente do abandono afetivo pelos pais.

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO.


COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à
responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no
Direito de Família.
2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento
jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que
manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da
CF/88.
3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida
implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de
omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem juridicamente
39

tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e companhia - de


cuidado - importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a
possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono
psicológico.
4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno
cuidado de um dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo
mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei,
garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma
adequada formação psicológica e inserção social.
5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou,
ainda, fatores atenuantes - por demandarem revolvimento de matéria fática
- não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial.
6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é
possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada
pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada.
7. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1159242/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 24/04/2012, DJe 10/05/2012)

Sendo assim, de acordo com esta recente e inédita decisão, caso haja a
quebra dos deveres dos pais para com os filhos, haverá o dever de indenizar.
Ainda, caso a quebra do dever seja exclusivamente sobre o sustento, o filho
poderá buscar judicialmente a prestação alimentícia.
Por fim, cumpre frisar que o abandono dos filhos também é tipificado no
Código Penal como crime, conforme artigo 244, anteriormente citado.
O próximo e último dever inerente aos cônjuges e previsto em Lei é o do
mútuo respeito e considerações, previsto no inciso V do artigo 1.566 do Código Civil
Brasileiro.
Como já visto, tal dever se insere no respeito que deve existir entre os
cônjuges, a não ofensa à honra e a integridade física dos nubentes.
É um dever de abster-se em praticar algum ato que ofenda, tanto a
integridade moral, quanto à integridade física do outro cônjuge.
Ainda, importante frisar que, o não cumprimento desse dever, pode acarretar
crime tipificado no Código Penal. Ou seja, caso haja ofensa à honra do outro
cônjuge, poderá haver a caracterização de um crime de injúria, calúnia ou
difamação.
Caso haja ofensa física, uma agressão, poderá haver o crime de lesão
corporal ou, ainda, a incidência da Lei Maria da Penha.
Além de caracterizar a crime, a conduta do cônjuge agressor poderá acarretar
o dever de indenizar o cônjuge inocente, uma vez que há a existência de um ato
ilícito, um dano de cunho moral, bem como o nexo causal.
40

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já decidiu:

RESPONSABILIDADE CIVIL – DANO MORAL – SEPARAÇÃO -


AGRESSÃO FÍSICA – LESÕES – MATERIALIDADE - EXCESSO –
Conflitos sentimentais por separação ainda não devidamente equacionada,
não traduzem permissivo a ofensa física – desnecessária a ofensa verbal
para configurar o dano moral – ausente prova de quem deu início à
discussão, responde o responsável pelo excesso, comprovado na espécie,
presente o dano moral puro – ação procedente – proveram o apelo -
unânime. (Décima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul – Relator Des. Jorge Alberto Schreiner Pestana - Apelação
Cível Nº 70004462669 – Data do Julgamento 08 de maio de 2003)

No mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça:

SEPARAÇÃO JUDICIAL. PROTEÇÃO DA PESSOA DOS FILHOS


(GUARDA E INTERESSE). DANOS MORAIS (REPARAÇÃO).
CABIMENTO.
1. O cônjuge responsável pela separação pode ficar com a guarda do filho
menor, em se tratando de solução que melhor atenda ao interesse da
criança. Há permissão legal para que se regule por maneira diferente a
situação do menor com os pais. Em casos tais, justifica-se e se recomenda
que prevaleça o interesse do menor.
2. O sistema jurídico brasileiro admite, na separação e no divórcio, a
indenização por dano moral. Juridicamente, portanto, tal pedido é possível:
responde pela indenização o cônjuge responsável exclusivo pela
separação.
3. Caso em que, diante do comportamento injurioso do cônjuge varão, a
Turma conheceu do especial e deu provimento ao recurso, por ofensa ao
art. 159 do Cód. Civil, para admitir a obrigação de se ressarcirem danos
morais.
(REsp 37.051/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, TERCEIRA TURMA,
julgado em 17/04/2001, DJ 25/06/2001, p. 167)

Veja-se que desde antes do advento do Código Civil de 2002 o STJ já tinha
um posicionamento sobre a responsabilidade civil ante uma conduta injuriosa de um
dos cônjuges.
Sobre o tema Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.66) aduz:

Parece-nos que, se o marido agride a esposa e lhe causa ferimentos


graves, acarretando, inclusive, diminuição de sua capacidade laborativa, tal
conduta, além de constituir causa para a separação judicial, pode
fundamentar ação de indenização de perdas e danos, com suporte nos arts.
186 e 950 do Código Civil. Da mesma forma deve caber a indenização, se o
dano causado, e provado, for de natureza moral.
41

Dessa forma, verifica-se que o comportamento de um cônjuge perante o


outro, gerando-lhe ofensas, seja verbal ou física, podem acarretar o dever de
indenizar.
Por fim, da análise de todos os deveres inerentes aos cônjuges, verificamos
que a quebra destes podem gerar algum tipo de responsabilidade civil, seja de
cunho moral, seja de cunho material.
Ainda, importante frisar que o mero dissabor pelo término do relacionamento
ou até mesmo a falta de amor entre os cônjuges, não geram o dever de indenizar,
visto que esses sentimentos afloram normalmente quando do término de uma
relação matrimonial.
42

3.2 ANULAÇÃO DO CASAMENTO

O casamento realizado sem observância de todos os requisitos legais, pode


ter vícios, os quais geram a nulidade ou anulabilidade do matrimônio.
Ocorrerá a nulidade nos casos previstos no artigo 1.54817 do Código Civil, ou
seja, quando o vício existente for insanável, ferir a ordem pública.
Haverá a anulabilidade do casamento nos casos previstos no artigo 1.55018
do Código Civil, o que ocorre quando os vícios existentes podem ser sanáveis, são
mais leves e não ferem a ordem pública.
Nesse instituto, é facultado, tanto aos cônjuges quanto aos interessados, a
possibilidade requerer a decretação de nulidade ou não do casamento.

3.2.1 Causas de Anulação do Casamento

Como já dito anteriormente as causas de anulação do casamento são as


previstas nos artigos 1.548 e 1.550.
O artigo 1.548 prevê as causas de nulidade do casamento, quais sejam: o
casamento contraído pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os
atos da vida civil e o por infringência de impedimento.
As causas de impedimento do casamento estão previstas no artigo 1.52119 do
Código Civil Brasileiro.
Já o artigo 1.550 do Código Civil Brasileiro prevê as causas de anulabilidade
do casamento, quais sejam: de quem não completou a idade mínima; do menor em

____________________
17
Art. 1548, CC/02 – É nulo o casamento contraído: I – pelo enfermo mental sem o necessário
discernimento para os atos da vida civil; II – por infringência de impedimento.
18
Art. 1550, CC/02 – É anulável o casamento: I – de quem não completou a idade mínima para casar;
II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; III – por vício de
vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; IV – do incapaz de consentir ou manifestar, de modo
inequívoco, o consentimento; V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; VI – por
incompetência da autoridade celebrante.
19
Art. 1521, CC/O2 – Não podem casar: I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco
natural ou civil; II – os afins em linha reta; III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o
adotado com quem o foi do adotante; IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até
o terceiro grau inclusive; V – o adotado com o filho do adotante; VI – as pessoas casadas; VII – o
cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte.
43

idade núbil, quando não autorizado pelo seu representante legal; por vício de
vontade; do incapaz de consentir ou manifestar consentimento; realizado pelo
mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato,
e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges ou por incompetência da autoridade
celebrante.
No primeiro caso, é importante ressaltar que o nosso Código Civil estabelece
que a maioridade é de 18 anos, conforme artigo 5º20.
Ainda, verifica-se através do artigo 1.51721 que, embora a maioridade se dê
aos 18 anos, a idade mínima para casar é de 16 anos, desde que haja a autorização
dos pais ou responsável legal.
Sendo assim, na segunda hipótese, caso não haja a autorização necessária
para casar antes da maioridade o casamento poderá ser anulado.
Porém, em tal hipótese existe uma exceção, que está prevista no artigo
22
1.551 do Código Civil Brasileiro, o qual dispõe que o casamento não será anulado
por motivo de idade, caso haja gravidez.
A terceira hipótese trata do vício da vontade. Haverá o vício da vontade nos
casos de erro essencial quanto à pessoa, conforme previsão legal no artigo 1.55623
do Código Civil Brasileiro.
Ainda, o artigo 1.55724 do mesmo diploma legal, traz um rol sobre no que
consiste o erro essencial sobre a pessoa.
Dessa forma, havendo alguma dessas possibilidades, o casamento poderá
ser anulado.

_____________________
20
Art. 5º, CC/02 – A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habiitada à
prática de todos os atos da vida civil.
21
Art. 1.517, CC/02 – O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se
autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade
civil.
22
Art. 1.551, CC/02 – Não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez.
23
Art. 1.556, CC/02 – O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houver por parte de um
dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto á pessoa do outro.
24
Art. 1.557, CC/02 – Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: I – o que diz
respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior
torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II – a ignorância de crime, anterior ao
casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III – a ignorância, anterior ao
casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou
herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de as descendência; IV – a ignorância,
anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em
comum ao cônjuge enganado.
44

A outra hipótese de anulação do casamento prevista no artigo 1.550, em seu


inciso IV, é a da incapacidade de consentir ou manifestar consentimento de modo
inequívoco.
Tal dispositivo está diretamente ligado com a idéia de casamento forçado, por
ameaça ou coação.
Isto também está previsto no artigo 1.55825 do Código Civil, o qual prevê que
o casamento será anulável quando o consentimento de um ou ambos os cônjuges
decorrer de temor e mal considerável e iminente para a vida, saúde, honra, sua ou
de seus familiares.
Dessa forma, caso haja alguma ameaça a um ou ambos os nubentes, para
que concordem em contrair matrimônio, este poderá ser anulado.
As outras duas hipóteses de anulação são auto explicativas, ou seja, em uma
delas, caso o mandatário realize o casamento com um dos nubentes, sem que
nenhum deles saiba da revogação do mandato e, desde que não haja coabitação
entre os cônjuges após a celebração do casamento, este poderá ser anulado.
Ainda, no último caso previsto no artigo 1.550 do Código Civil, caso a
autoridade celebrante não seja competente, o casamento também poderá ser
anulado.
Importante frisar que as causas de nulidade do casamento não têm prazo
para serem alegadas por qualquer interessado, tendo em vista que se tratam de
vícios que ferem a ordem pública.
Já as causas de anulabilidade do casamento têm prazos para serem
requeridas pelos cônjuges ou por algum interessado. Os prazos para requerer a
anulação do casamento estão previstos no artigo 1.56026 do Código Civil.

____________________
25
Art. 1.558, CC/02 – É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um
ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e
iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares.
26
Art. 1.560, CC/02 – O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data
da celebração é de: I – cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550; II – dois anos, se
incompetente a autoridade celebrante; III – tres anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557; IV –
quatro anos, se houver coação. §1º. Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o
casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez
essa idade; e da data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes. §2º. Na
hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a
partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebração.
45

3.2.2 Os Efeitos Jurídicos da Anulação

Os efeitos jurídicos da nulidade e da anulabilidade do casamento são


diversos.
Primeiramente, quanto à declaração de nulidade do casamento, que são as
hipóteses em que o vício existente fere a ordem pública, seus efeitos são ex tunc, ou
seja, o casamento se torna inválido desde o momento de sua celebração.
Dessa forma, não haverá a incidência dos efeitos civis do casamento, a não
ser que tenha havido a boa-fé dos cônjuges.
Nesse caso, por mais que os efeitos do casamento sejam ex tunc, não haverá
prejuízo a terceiros de boa-fé, conforme previsão do artigo 1.56327.
Ainda, os filhos havidos no casamento, também não poderão ser prejudicados
em seus direitos.
Nos casos de anulação do casamento, os efeitos jurídicos serão ex nunc, ou
seja, não retroagem à data da celebração do casamento.
Nessa hipótese, o casamento produzirá seus efeitos normalmente até o ato
de sua anulação.
Caso não haja pedido de anulação do casamento no prazo previsto em Lei
(artigo 1.560 do Código Civil), este será considerado plenamente válido.

3.2.3 A Responsabilidade Civil dos Cônjuges

Além dos casos de descumprimento dos deveres conjugais, a nulidade ou


anulação do casamento podem gerar o dever de indenizar, desde que um dos
cônjuges tenha agido de má-fé e seja causador da nulidade ou anulação.
Tanto nesses casos, de nulidade e anulação, devera haver a comprovação do
ato ilícito, do dano e do nexo causal, para que seja possível a condenação do
cônjuge que agiu de má-fé a indenizar o cônjuge de boa-fé.

____________________
27
Art. 1.563, CC/02 – A sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à data da sua
celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a
resultante de sentença transitada em julgado.
46

O que mais comumente se vê na doutrina e na jurisprudência, são os casos


em que o cônjuge esconde de sua parceira sua impotência sexual, tanto a mulher
quanto o homem escondem sua infertilidade, sua verdadeira opção sexual, anomalia
física, doença grave e incurável e até a transmissão de doenças, entre outros.
Dessa forma, o magistrado deve verificar em cada caso concreto se houve ou
não alguma causa de nulidade e, principalmente de anulação do casamento. Ainda,
o juiz deve verificar se há a possibilidade de aplicação da responsabilidade civil por
parte de um dos cônjuges, verificando a existência dos requisitos necessários, quais
sejam: ato ilícito, dano e nexo causal.
Nas causas de anulação do casamento, o mais comum é a alegação de erro
essencial quanto à pessoa, tendo em vista que, muitas vezes os cônjuges escondem
um do outro problemas funcionais, físicos, psíquicos e até mesmo de
comportamento, havendo, assim, o dever de indenizar o cônjuge inocente.
Sobre o tema, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu em aplicar o dano
moral ao cônjuge inocente, tendo em vista que o outro cônjuge escondeu sua
impotência sexual de sua parceira e, só após ao casamento foi descoberta tal farsa.
Cumpre transcrever a ementa da referida decisão:

ANULAÇÃO DE CASAMENTO. ERRO ESSENCIAL EM RELAÇÃO À


PESSOA DO OUTRO CÔNJUGE. CARACTERIZAÇÃO. DANO MORAL
ARBITRADO EM 100 SALÁRIOS MÍNIMOS QUE É REDUZIDO À
METADE. VERBA HONORÁRIA QUE DEVE SER FIXADA. HIPÓTESE
ADEMAIS QUE CARACTERIZA SUCUMBÊMCIA EM PARTE MÍNIMA DO
PEDIDO, A INCIDIR O PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 21 DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. OBSERVÂNCIA TAMBÉM DA SÚMULA 326 DO
STJ. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA MANTIDA, ALTERADA APENAS A
VERBA HONORÁRIA PARA 10% DO VALOR DA CONDENAÇÃO.
RECURSO PROVIDO EM PARTE. (Ap. 0031731-05.2009.8.26.0000, TJSP,
Rel. João Pazine Neto, DOU 26/06/2012)

Ainda, a douta juíza da 4ª Vara de Família e Sucessões de Uberlândia, Minas


Gerais, proferiu sentença em 2005, concedendo à cônjuge inocente indenização por
dano moral, uma vez que seu cônjuge havia praticado crime anterior ao casamento,
o qual esta só veio a conhecer após a celebração do casamento:

No caso vertente, é inegável o dano moral sofrido pela requerente, que


após convolar núpcias com o requerido, veio descobrir que o mesmo fora
condenado pela morte de sua esposa, e ainda, que possui dois filhos,
enquanto, durante o namoro se apresentava como solteiro. A decepção, o
desgosto, a angustia e a situação vexatória vivênciada pela requerente
merece ser balisada através da indenização. O quantum a ser arbitrado não
47

exprime com clarividência a extensão do dano sofrido, mas é uma forma


reparação do dano. (Uberlândia, 08 de novembro de 2005.
FABIANA DA CUNHA PASQUA Juíza de Direito - 4ª Vara de Família e
Sucessões)

Sendo assim, verifica-se que muitas das causas de nulidade ou anulação do


casamento, podem ensejar o dano moral, uma vez que, caso um dos cônjuges tenha
agido de má-fé, haverá direta ofensa à personalidade da pessoa humana, bem como
a existência dos requisitos necessários para a caracterização da responsabilidade
civil.
48

3.3 DIVÓRCIO

Atualmente o divórcio é a única forma de dissolução da sociedade conjugal.


Isto porque, com o advento da Emenda Constitucional nº 66/2010, a separação
judicial deixou de existir, visto que o divórcio passou a ser imediato.
Antes da referida Emenda, era necessário que os cônjuges pedissem a
separação judicial e, somente após dois anos da separação podiam requerer o
divórcio.
Isto impedia que os cônjuges contraíssem novas núpcias, podendo, no
entanto, viver em união estável.
Com o advento da Emenda Constitucional nº 66/2010, o divórcio passou a ser
imediato, não sendo necessário esperar sequer um dia para que o seja feito.
Dessa forma, a antiga redação do artigo 226, §6º da Constituição Federal
passou a ser definida desta forma:

Art. 226. [...]


§6º. O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

Porém, por mais que tal emenda tenha facilitado o divórcio entre os cônjuges,
não podemos dizer que a separação judicial está totalmente extinta, uma vez que os
artigos que a disciplinam no Código Civil (1.571 a 1.582) permanecem ali
inalterados.
Ainda, com o simples divórcio não há a possibilidade de se discutir a culpa
pelo fim da sociedade conjugal, mas somente dissolvê-la.
Sobre o tema O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já decidiu:

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. EX-CÔNJUGE. DANO


MATERIAL. ALIMENTOS. PATERNIDADE DESCONSTITUIDA EM AÇÃO
NEGATÓRIA DE PATERNIDADE.
DANO MORAL. Não há dano a ser reparado quanto aos dissabores
decorrentes do término da sociedade conjugal. Para a configuração da
responsabilidade de indenizar é imperioso a existência do dano, ilícito e
nexo de causalidade. A infidelidade, por si só, não caracteriza o dano,
sendo necessária a demonstração do momento ou fato que lhe causou o
constrangimento público alegado. Ademais, não há mais a perquirição da
culpa na dissolução da sociedade conjugal, sob pena de violação a
liberdade, a intimidade e a vida privada do casal. Também não cabe buscar
a indenização frente ao cúmplice do ex-cônjuge, visto que inviável exigir
deste o cumprimento de deveres inerentes ao casamento. A procedência da
ação negatória de paternidade não gera direito a indenização, haja vista que
não se amolda ipso facto as hipóteses de dano moral.
49

DANO MATERIAL. Em primeiro lugar, destaca-se a ilegitimidade passiva


dos apelados, porquanto a pensão alimentar foi concedida em prol do
menor. Em segundo, salienta-se que a verba alimentar é irrepetível, não
sendo cabível o ressarcimento pleiteado.
APELAÇÃO DESPROVIDA. (AP. CÍVEL 70031864119, 7ª CÂMARA CÍVEL,
TJRS, REL. JORGE LUIS DALL’AGNOL).

SEPARAÇÃO JUDICIAL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PROVA.


DESCABIMENTO. 1. O reconhecimento de dano moral no casamento ou na
união estável reclama extrema cautela e apuração criteriosa dos fatos. 2.
Descabe estabelecer indenização por alegada agressão e adultério, quando
tais fatos não restaram comprovados, restando incontroversa apenas a
efetiva ruptura da vida conjugal. Recurso provido. (Ap. Cível 7003360452, 7ª
Câmara Cível, TJRS, Rel. Sergio Fernando Vaconcellos Chaves).

Dessa forma, caso um dos cônjuges queira discutir a culpa pelo fim do
casamento, será necessário que ingresse com a ação de separação judicial.
Isso se faz necessário, muitas vezes, tendo em vista o abalo causado ao
cônjuge inocente, pela quebra dos deveres conjugais, os quais podem acarretar o
dever de indenizar.
Tendo em vista que no divórcio não há discussão de culpa pelo fim da
sociedade conjugal, aqui não há que se falar em responsabilidade civil, uma vez que
a única intenção dos consortes é de se separem e seguirem suas vidas.
Sendo assim, a possibilidade de indenização por dano moral deve ser vista
em ação própria ou em ação de separação judicial, desde que comprovado os
requisitos da responsabilidade civil, pois, como já dito, o mero dissabor pelo fim do
casamento não gera o dever de indenizar.
Nesse sentido, a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE SEPARAÇÃO, ALIMENTOS, GUARDA,


VISITAÇÃO, PARTILHA E PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL. ALEGAÇÃO DE ADULTÉRIO. PRELIMINAR DE NULIDADE DE
SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. ADOÇÃO DO
PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INOCORRÊNCIA DE MÁCULA NA
DECISÃO (PRECEDENTES DO TJRS E DO STF).
1. [...]
2. A ruptura de um casamento, qualquer que seja a causa, gera mágoa,
raiva, sensação de abandono, frustração e estes sentimentos serão
intensos e profundos. Pretensões de natureza indenizatória estão
usualmente associadas a tais ressentimentos – sobras de um casamento
que termina.
3. Não é por meio da fixação de uma indenização que se dará a catarse
emocional da recorrente para expurgar de si a profunda mágoa pelo
desenlace matrimonial, o conhecimento do adultério e o fato da existência
de filho extramatrimonial, porque não há reparação econômica possível
para curar seus ressentimentos.
4. [...]
50

DERAM PARCIAL PROVIMENTO À APELAÇÃO E NEGARAM


PROVIMENTO AO RECURSO ADESIVO. UNÂNIME.
(AP. CÍVEL 70038896718, 8ª CÃMARA CÍVEL, TJRS, REL. LUIZ FELIPE
BRASIL SANTOS).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DANOS MORAIS. EX-CÔNJUGES.


IMPROCEDÊNCIA DA ACAO CONFIRMADA.
Caracterizando o sofrimento de abandono e a tristeza da autora pela ruptura
do casamento, sentimentos inarredáveis e naturais que qualquer separação
ocasiona, dito `dano` não caracteriza dever de indenizar vez que tais
conseqüências são incitas ao rompimento da relação, sem constituir ilícito
indenizável.
APELAÇÃO DESPROVIDA.
(AP. CÍVEL 70043668789, 7ª CÃMARA CÍVEL, TJRS, REL. ANDRÉ LUIZ
PLANELLA VILLARINHO).

Sendo assim, não basta que haja um sofrimento em relação à separação, o


que é inerente à uma dissolução conjugal, ou seja, o mero dissabor, a mera mágoa
pelo término do relacionamento não pode e não deve gerar um dever de indenizar,
sob pena de se banalizar o dano moral.
O que deve ser feito é uma ponderação, em cada caso concreto, verificando
se realmente houve algum dano para ser indenizado, seja de cunho moral, seja de
cunho material, ou se apenas há um sentimento de tristeza e mágoa decorrente da
dissolução do vínculo conjugal, o qual, como visto nas jurisprudências colacionadas,
não gera nenhum dever de indenizar.
Dessa forma, como já dito, o dano moral deve ser comprovado, juntamente
com os requisitos da responsabilidade civil, para que haja a possibilidade de gerar
uma indenização ao cônjuge inocente.
51

4. DANOS E INDENIZAÇÃO

4.1 OS DANOS DECORRENTES DA VIOLAÇÃO DOS DEVERES DO


CASAMENTO

Os danos decorrentes da violação dos deveres inerentes aos cônjuges, sejam


eles os previstos no artigo 1.566 do Código Civil ou sejam os implícitos pela
sociedade conjugal, podem gerar o dever de indenizar.
Normalmente, os danos, quando existentes, são de cunho estritamente moral,
uma vez que abalam o psicológico dos nubentes, ferem seus direitos da
personalidade, bem como o expõe a vexames perante a sociedade.
Ainda, não se pode confundir a pensão alimentícia advinda da separação com
o dano causado ao cônjuge inocente, visto que suas naturezas são distintas.
Sobre o tema Augusto C. Belluscio, Eduardo A. Zannoni e Ainda Kemelmajer
de Carlucci (1983, p.5)28 afirmam:

En el estadio final de la evolución de la jurisprudencia, la Corte de Casación


sentó el criterio de que – independiente de la pensión alimentaria concedida
por el art. 301 del Cód. Civil al cónyuge inocente, que reparaba los
perjuicios derivados del divorcio en síel cónyuge inocente podía obtener
indemnización de daños y perjuicios por aplicación del art. 1382 y en las
condiciones del derecho común, si resultaba de los hechos que habían
motivado el divorcio un perjuicio material y moral distinto del derivado de la
ruptura del vínculo conyugal y que la concesión de alimentos tenía por
objeto reparar.

Dessa forma, o magistrado deve analisar em cada caso concreto a existência


ou não de dano de cunho moral e quantificá-lo, de forma que o dano possa ser
compensado ao cônjuge inocente e punir o cônjuge culpado.
Importante ressaltar, ainda, que o juiz deve analisar cada caso concreto com
cuidado, verificando a existência ou não de um dano pelo rompimento da relação
conjugal, seja este de cunho moral, seja este de cunho material.
____________________
28
No estágio final da evolução da jurisprudência, o Tribunal de Cassação estabeleceu a visão de que
- independente de manutenção concedida pelo art. 301 do Código Civil ao cônjuge inocente, que
reparou o dano resultante do divórcio, o consorte inocente poderia obter uma indenização por perdas
e danos, nos termos do art. 1382 e nas condições de direito comum, se resultassem dos fatos que
haviam motivado a dissolução do vínculo nupcial, um dano material e moral diferente daquele que
resultou a ruptura do vínculo matrimonial, e que a pensão teve por objeto reparar. Portanto, não há
como confundir a pensão alimentícia com o ressarcimento do ato ilícito conjugal. (tradução livre da
autora).
52

Não se pode considerar, também, que a pensão alimentícia a ser fixada,


possa substituir eventual dano moral ou patrimonial, visto que suas naturezas
diferem. A pensão alimentícia, como o próprio nome já diz, tem caráter estritamente
alimentar, para que o cônjuge necessitado tenha um mínimo de dignidade para sua
subsistência.
Já a indenização, seja esta de cunho moral ou material, tem caráter punitivo,
de forma que o seu objetivo é punir o cônjuge culpado e compensar o sofrimento do
cônjuge inocente.
53

4.2 OS DANOS MATERIAIS E MORAIS

Os danos pela ruptura da sociedade conjugal podem ser tanto de cunho


moral, como de cunho material.
Ocorrerão os danos de cunho moral, quando houver a quebra dos deveres
conjugais, sejam os deveres previstos no rol do artigo 1.566 do Código Civil, sejam
os deveres inerentes à uma relação conjugal, de modo que acarrete ao cônjuge
inocente danos à sua personalidade, bem como o exponha a vexame perante a
sociedade.
Neste sentido, a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANO EXTRAPATRIMONIAL.


FIM DO CASAMENTO. ADULTÉRIO.
1. O adultério, aqui reconhecido, é justa causa para o fim do
relacionamento, mas não implica, ipso facto, dever de reparação pecuniária
às dores que seu conhecimento gera no cônjuge traído. É evidente que a
ruptura de um casamento prolongado e, de regra, com intenso
relacionamento afetivo traz em si mágoas, sensação de abandono,
frustração de sonhos. Estes sentimentos serão ainda mais intensos e
profundos quando há adultério e, certamente agravados, no caso, pela
condição de incapacidade da autora, vítima de AVC. São lamentáveis e
tristes fatos da vida. Porém não ensejam a responsabilização civil quando
causam o fim das relações matrimoniais.
2. Como ensina a doutrina de Sérgio Cavalieri Filho, somente pode ser
reputado como dano moral o vexame, sofrimento ou humilhação que, de
forma extrema e fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e
desequilíbrio em seu bem-estar.
NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME.
(Ap. Cível, 70041984683, TJRS, 8ª Câmara Cível, Rel. Luiz Felipe Brasil
Santos).

Sendo assim, o dano moral deve ser devidamente comprovado, não podendo
ser fixado com base apenas em um sofrimento pelo término do relacionamento.
Deve haver uma humilhação, um vexame, de modo que fuja da normalidade,
interferindo diretamente no psicológico do cônjuge inocente, de modo que cause um
desequilíbrio de seu bem-estar.
Os danos de cunho material podem ser decorrentes diretamente do fim do
casamento, tais como a pensão alimentícia, os gastos com a partilha dos bens, com
a mudança do outro cônjuge, como também decorrentes do dano moral ocasionado,
tais como o lucro cessante e tratamento médico em caso de agressão física.
Nesse sentido, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:
54

APELAÇÃO CÍVEL. FAMÍLIA. SEPARAÇÃO. GUARDA. ALIMENTOS.


PARTILHA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
DANO MORAL. SUCUMBÊNCIA.
1. GUARDA. A relação das partes autoriza ser estabelecida a guarda
compartilhada entre o casal, pois assim já vem sendo faticamente exercida,
sem qualquer prejuízo aos filhos ou ao casal.
2. ALIMENTOS. Possível se mostra a majoração dos alimentos fixados à
ex-esposa, porquanto, além de durante os 18 anos de casamento nunca ter
exercido atividade lucrativa, teve altíssimo padrão de vida autorizado e
mantido pelo varão, provedor da família. Os alimentos devem ser fixados
até que se ultime a partilha de bens, período em que a alimentanda poderá
organizar-se financeiramente e passar a exercer atividade lucrativa. Já os
alimentos aos filhos vão mantidos no patamar fixados na sentença, tanto em
pecúnia quanto in natura, pois atendem às necessidades dos meninos.
3. PARTILHA E DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
Possível se mostra a desconsideração da personalidade jurídica da
empresa constituída pelo casal, para a qual foram transferidos os bens
conjugais e pessoais, pois verificado o intuito de fraudar a meação da
esposa, reservando maior participação social ao varão. Neste ponto, ainda
devem ser partilhados por metade a cada cônjuge, além dos bens
amealhados no decorrer do casamento, aqui incluídas as cotas e as ações
das empresas constituídas na constância do matrimônio, a valorização das
ações ou quotas sociais do varão, também no período do matrimônio,
relativamente às empresas das quais ele já era sócio quando do
casamento. Entretanto, tal valorização deverá ser apurada em liquidação de
sentença.
4. DANO MORAL. Descabe a condenação do varão ao pagamento de
danos morais à ex-esposa, porquanto não configurado conduta ilícita, nem o
nexo causal entre sua atuação na oferta e pagamento dos alimentos e o
alegado dano por inclusão do nome da esposa nos cadastros negativos dos
órgãos de proteção ao crédito.
5. SUCUMBÊNCIA. Os ônus sucumbenciais devem ser redimensionados,
pois, com o resultado destes recursos, resta o varão sucumbente em maior
parte.
(AP. CÍVEL, 70042329458, TJRS, 7ª CÃMARA CÍVEL, REL. ROBERTO
CARVALHO FRAGA).

Sendo assim, verifica-se que a pensão alimentícia, que é uma das formas de
reparação de dano material no término de uma relação conjugal, deve ser fixado
levando em conta vários critérios, entre eles o padrão de vida que o cônjuge
necessitado vivia, de forma a manter seu status social; a falta de trabalho do cônjuge
inocente, sendo que, desta forma, normalmente nos casos da mulher, exerce função
exclusiva de cuidar da casa e da família, bem como levando em conta a
necessidade real dos alimentos.
Dessa forma, quando do término de uma sociedade conjugal, haverá de ser
analisado a incidência ou não de algum dano, seja de cunho moral, seja de cunho
material.
55

4.3 QUANTIFICAÇÃO DO VALOR DO DANO

Nas ações de indenização, quando se trata de um dano meramente material,


sua quantificação se torna fácil, tendo em vista que se trata de um valor patrimonial.
A grande problemática nos tribunais se consolida quando da quantificação
das indenizações de cunho moral, uma vez que não existem critérios específicos em
lei para quantificá-lo.
Dessa forma, o juiz, ao analisar cada caso concreto, deve quantificar o dano
moral da melhor forma possível, de modo que este venha a amenizar a dor sofrida
pela vítima, bem como de punir ofensor.
Sobre o tema Carlos Roberto Gonçalves (2009, 368) aduz:

O problema da quantificação do dano moral tem preocupado o mundo


jurídico, em virtude da proliferação de demandas, sem que existam
parâmetros seguros para a as estimação. Enquanto o ressarcimento do
dano material procura colocar a vítima no estado anterior, recompondo o
patrimônio afetado mediante a aplicação da fórmula “danos emergentes-
lucros cessantes” a reparação do dano moral objetiva apenas uma
compensação, um consolo, sem mensurar a dor.
Em todas as demandas que envolvem danos morais, o juiz defronta-se com
o mesmo problema: a perplexidade ante a inexistência de critérios
uniformes e definidos para arbitrar um valor adequado.

Sendo assim, a quantificação do dano moral pode ser um problema, visto que
incide na livre escolha do juiz, o que, muitas vezes, não há como definir se houve
justiça ou injustiça. Isso ocorre, pois cada qual interpreta o dano de sua forma,
sendo que para uns o valor da indenização deve ser alto e, para outros deve ser
baixo.
Dessa forma, para melhor quantificar o dano, o magistrado deve-se colocar
no lugar da vítima, como se o dano ali discutido tivesse ocorrido contra ele, e, de
certa forma, verificar qual a intensidade do abalo sofrido pelo lesado, de forma a
quantificar o dano da melhor maneira possível.
Sobre o tema, Clayton Reis (2010, p. 179) afirma:

Os danos extrapatrimoniais não podem ser objeto de avaliação absoluta, se


considerarmos que se trata de questão na qual predomina o imponderável.
Neste caso, por mais preciso que seja o quantum indenizatório, sempre
ocorrerá o arbítrio do magistrado, em virtude de não ser um dano real ou de
natureza material em que se observa a fixação do quantum debeatur, de
acordo com a extensão do prejuízo.
56

Ainda, para medir o dano moral, o magistrado deve levar em conta o grau de
culpa do sujeito causador, bem como a extensão do dano à vítima.
Para que não haja injustiças, tais como o enriquecimento sem causa, a
quantificação do dano, deve levar em conta, também, a situação financeira tanto do
ofensor, quanto da vítima.
Nesse sentido a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo:

Responsabilidade Civil. Dano moral. Violação dos deveres do casamento.


Pedido judicialmente possível. Prova satisfatória dos fatos narrados na
inicial. Ação julgada procedente. Montante indenizatório que não pode ser
irrisório, sob pena de não servir ao cumprimento de seu objetivo específico,
nem excessivamente elevado, de modo a propiciar enriquecimento sem
causa. Verba ajustada. Recurso da autora provido, não provido o do réu.
(Ap. Cível 9121.849.39.2007.8.26.0000, TJSP, Rel. Elliot Akel, DOU
22/11/11).

Maria Helena Diniz (2007, p 102), propõe algumas regras para quantificar o
dano:

a) evitar indenização simbólica e enriquecimento sem justa causa, ilícito


ou injusto da vítima. A indenização não poderá ser ínfima, nem ter valor
superior ao dano, nem deverá subordinar-se à situação de penúria do
lesado; nem poderá conceder a uma vítima rica uma indenização inferior ao
prejuízo sofrido, alegando que sua fortuna permitiria suportar o excedente
do menoscabo;
b) não aceitar tarifação, porque esta requer despersonalização e
desumanização, e evitar porcentagem do dano patrimonial;
c) diferenciar o montante indenizatório segundo a gravidade, a extensão
e a natureza da lesão;
d) verificar a repercussão pública provocada pelo fato lesivo e as
circunstâncias fáticas;
e) atentar às peculiaridades do caso e ao caráter anti-social da conduta
lesiva;
f) averiguar não só os benefícios obtidos pelo lesante com o ilícito, mas
também a sua atitude ulterior e situação econômica;
g) apurar o real valor do prejuízo sofrido pela vítima e do lucro cessante,
fazendo uso do juízo de probabilidade para averiguar se houve perda de
chance ou de oportunidade, ou frustração de uma expectativa. Indeniza-se
a chance e não o ganho perdido. A perda da chance deve ser avaliada pelo
magistrado segundo o maior ou menor grau de probabilidade de sua
existência (p. ex., se um grande pugilista ficar incapacitado, por ato culposo
de alguém, deverá ser indenizado pela probabilidade das vitórias que
deixará de obter);
h) levar em conta o contexto econômico do país. No Brasil não haverá
lugar para fixação de indenizações de grande porte, como as vistas nos
Estados Unidos;
i) verificar não só o nível cultural e a intensidade do dolo ou o grau da
culpa do lesante em caso de responsabilidade civil subjetiva, e, se houver
excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poder-se-á
57

reduzir, de modo equitativo, a indenização (CC, art. 944, parágrafo único),


como também as posses econômicas do ofensor para que não haja
descumprimento da reparação, nem se lhe imponha pena tão elevada que
possa arruiná-lo;
j) basear-se em prova firme e convincente do dano;
k) analisar a pessoa do lesado, considerando os efeitos psicológicos
causados pelo dano, a intensidade de seu sofrimento, seus princípios
religiosos, sua posição social ou política, sua condição profissional e seu
grau de educação e cultura;
l) procurar a harmonização das reparações em casos semelhantes;
m) aplicar o critério justum ante as circunstâncias particulares do caso
sub judice (LICC, ART. 5º), buscando sempre, com cautela e prudência
objetiva, a equidade e, ainda, procurando demonstrar à sociedade que a
conduta lesiva e condenável, devendo, por isso, o lesante sofrer a pena.

Sendo assim, verifica-se que o magistrado deve ser sensato ao aplicar um


valor para um dano moral, levando em conta vários critérios. Ainda, o magistrado
deve levar em conta, principalmente, a possibilidade financeira do causador do
dano, a condição financeira do lesionado, bem como a intensidade do sofrimento
causado.
Tais critérios são de suma importância, para que o valor do dano seja
aplicado corretamente, que sua valoração seja feita de forma justa, de modo que o
dano moral atinja sua finalidade, que nada mais é do que punir o sujeito causador do
dano e, compensar, amenizar o sofrimento do sujeito lesionado.
Dessa forma, verifica-se que o valor do dano moral deve ser aplicado com
cuidado, bom senso, de forma que não cause injustiças ao lesante e vantagens
excessivas ao lesionado.
58

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente estudo foi abordado o instituto do casamento e da


responsabilidade civil, bem como as hipóteses de indenização nas relações
conjugais.
Inicialmente foi verificado o histórico do casamento, demonstrando que este
instituto existe desde a antiguidade. Ainda, o casamento era um dos institutos mais
importantes que existiam, principalmente em Roma, onde este teve várias formas de
ser celebrado. Primeiramente foi analisado que para a existência do casamento era
necessário a existência da affectio maritalis.
Ainda, não era necessário a existência de uma cerimônia em si, bastava que
houvesse a convivência entre homem e mulher e a afeição entre estes.
Por muitos anos o casamento existiu com o fim de procriar, tendo em vista o
regime agrário em que os povos viviam no mundo.
Com o advento da Revolução Industrial, o casamento deixou de ter o caráter
de procriação e as famílias passaram a ter menos filhos.
No Brasil, o casamento civil surgiu somente com o advento da Constituição
de 1891. Antes disso, o casamento era apenas de cunho religioso.
Desde então, houveram várias alterações legislativas em relação à família
no país. A criação do Estatuto da Mulher Casada em 1962, a Lei do Divórcio em
1977, a Constituição Federal de 1988, a qual deu ampla proteção à família e,
finalmente o Código Civil de 2002.
Em seguida, conceituou-se o casamento, de forma que este é a união
amorosa entre duas pessoas, as quais buscam a criação de uma família.
Após, foi verificado os deveres e direitos existentes entre os cônjuges,
tipificados em rol exemplificativo no artigo 1.566 do Código Civil, quais sejam: a
fidelidade recíproca, a vida em comum no domicílio conjugal, a mútua assistência, o
sustento, guarda e educação dos filhos e respeito e considerações mútuos.
Após a análise do instituto do casamento, foi feita a análise do instituto da
responsabilidade civil, sendo esta, primeiramente conceituada como o dever de
reparar um dano causado a outrem. Ainda, a responsabilidade civil está prevista no
Código Civil nos artigos 186, 187, 927 e seguintes.
Os elementos da responsabilidade civil são: o dano, a culpa e o nexo causal.
59

O dano é elemento fundamental da responsabilidade civil, uma vez que sua


inexistência não gera o dever de indenizar. Ele é dividido em dano moral e dano
material.
O primeiro decorre de uma violação dos direitos da personalidade, de uma
dor íntima da pessoa e é de difícil valoração. Já o dano material é de cunho
exclusivamente patrimonial.
A culpa é elemento que só existe em alguns casos, ou seja, não é absoluta,
sua verificação somente ocorrerá nos casos em que o dever de reparar um dano
dependa de sua comprovação. Portanto, a culpa só será verificada nos casos de
responsabilidade civil subjetiva. Quando se tratar de responsabilidade civil objetiva,
a culpa não deverá ser comprovada, ou seja, o dever de reparar existirá
independentemente de culpa.
O nexo causal é o elo existente entre o dano e o ato ilícito. Para que haja o
dever de indenizar deve haver a comprovação da existência do nexo causal, ou seja,
se o ato causou um determinado dano.
No terceiro capítulo, adentrou-se no tema em si do presente trabalho,
analisando cada um dos deveres inerentes aos cônjuges e tipificados no artigo 1.566
do Código Civil, bem como a sua possível indenização pela quebra e desrespeito
destes. Nessa análise, foi verificada a posição doutrinária, bem como a posição da
jurisprudência nacional em casos concretos.
Após, foi verificada o instituto da anulação do casamento e suas causas,
sejam elas de nulidade ou anulabilidade.
As causas de nulidade do casamento estão previstas no artigo 1.548 do
Código Civil. Já as causas de anulabilidade do casamento estão previstas no artigo
1.550 do Código Civil Brasileiro.
Em ambas as situações poderá haver o dever de um cônjuge indenizar o
outro, caso este tenha dado causa para a anulação do casamento.
Em seguida, foi verificado o instituto do divórcio, que atualmente é a única
forma de dissolução da sociedade conjugal, visto que a separação judicial, que
existia para a discussão sobre a culpa pelo término do casamento, caiu em desuso.
Ainda, não podemos afirmar que a separação judicial está extinta, visto que
permanece sua previsão no Código Civil, bem como que, caso algum dos cônjuges
60

queira provar a culpa do outro pelo término do relacionamento, poderá utilizar a via
da separação judicial para fazê-lo.
Com o advento da Emenda Constitucional nº 66/2010, o divórcio passou a
ser imediato e, ainda, podendo ser feito extrajudicialmente.
Após, foi analisado que os danos decorrentes da violação dos deveres do
casamento podem ser tanto de cunho moral, como de cunho material.
Ainda, a quantificação do dano deve ser proporcional ao prejuízo causado,
seja este de cunho moral ou material. Dessa forma, o magistrado deve analisar caso
a caso o valor do dano a ser fixado.
Vale ressaltar que o objetivo do trabalho foi demonstrar a possibilidade de
aplicação de indenização nas relações conjugais, entre marido e mulher.
Ao longo do estudo foram apresentadas as conclusões sobre as inúmeras
discussões existentes a respeito do tema da responsabilidade civil em face do
casamento, podendo destacar, que a jurisprudência dominante resiste na aplicação
de indenização por danos advindos do término de um matrimônio.
Verificou-se que não basta a mera alegação de sofrimento e dissabor pelo
fim do casamento, mas deve haver a comprovação de que realmente houve um
dano causado por um cônjuge à outro, o qual, de certa forma, seja passível de
indenização.
Ainda, viu-se que em todas as dissoluções de sociedades conjugais há
sentimentos avessos, ruins, os quais, por si só, não geram o dever de indenizar,
visto que em todo término de relação há a manifestação de tais sentimentos.
Por fim, com análise de todo o trabalho, verificamos que há a possibilidade
de reparação de um dano no término de um casamento, seja pela quebra dos
deveres inerentes aos cônjuges, seja pelos deveres implícitos em uma relação.
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REFERÊNCIAS

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