Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Responsabilidade Civil em Face Do Casamento PDF
A Responsabilidade Civil em Face Do Casamento PDF
MARJORIE ASTUTTE
CURITIBA
2012
A RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO CASAMENTO
CURITIBA
2012
Marjorie Astutte
CURITIBA
2012
TERMO DE APROVAÇÃO
MARJORIE ASTUTTE
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do titulo de Bacharel no curso de Direito da
Universidade Tuiuti do Paraná.
________________________________________
Bacharel em Direito
Universidade Tuiuti do Paraná
______________________________________
Orientador: Profº. Dr. Clayton Reis
_______________________________________
Prof.
________________________________________
Prof.
Dedico este trabalho à minha mãe Crystiane
Franco Cavalari Schweitzer e ao meu
padrasto Fabian Schweitzer pela força que
me deram ao longo desses anos e por
sempre acreditarem em mim.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................8
REFERÊNCIAS.........................................................................................................61
8
INTRODUÇÃO
1. FUNDAMENTOS DO CASAMENTO
O ser humano é um ser social, o qual busca a felicidade em sua vida, ou seja,
vive em uma concepção eudemonista. Dessa forma, a formação de uma família,
inicialmente com o casamento, é uma das formas de concretização dessa felicidade.
O casamento é a forma mais solene de união conjugal. Mesmo com o
reconhecimento da união estável, o casamento é a forma mais antiga e tradicional
de unir duas pessoas, e a mais aceita pela sociedade.
Além do mais, o casamento, a união entre duas pessoas, surge através de
um sentimento, pelo qual as pessoas buscam realizar seus sonhos, desejos,
objetivos, bem como de compartilhar um com o outro todas as suas alegrias e
frustrações da vida.
Porém, mesmo com tamanha cumplicidade entre cônjuges, muitos
casamentos acabam não dando certo, sendo necessário que existam normas que
regulamentem, tanto a sua formação, como a sua dissolução, para que não haja
abuso ou, até mesmo, fraudes.
Sendo assim, por ser um instituto tão importante, o Estado traz normas
regulamentadoras sobre o casamento, interferindo diretamente na vida conjugal,
desde a sua formação, até seu término.
O casamento existe desde os primórdios. Muitos historiadores relatam que
nas civilizações antigas havia a poligamia, existindo várias mulheres para cada
homem e, também, em outras civilizações, havia vários homens para cada mulher.
Na civilização Babilônica, o casamento era monogâmico, porém, o marido
podia arranjar uma segunda esposa, caso a primeira não pudesse gerar filhos.
Em Roma, a família era patriarcal. Era o marido que comandava a família,
sendo que este era chefe político, religioso e até julgador da casa.
Uma das principais instituições da sociedade romana era o casamento, o qual
tinha como principal objetivo a procriação, para que os filhos continuassem o legado
de seus pais.
O principal e mais importante elemento do casamento romano era a afeição, a
vontade de estabelecer uma vida a dois.
10
Ainda, era necessário que a affectio maritalis perdurasse para uma garantia e
manutenção do casamento e, caso contrário, o vínculo matrimonial era extinto.
Nesse aspecto, Álvaro Villaça Azevedo (2002, p.39):
Ainda, na Roma Antiga, não existia sequer uma cerimônia, seja legal ou
religiosa, para a validade do casamento, bastava a existência da coabitação para
que o casamento fosse válido.
Apesar da falta de regulação, o casamento tinha grande importância social.
Nesse sentido Alvaro Villaça destaca (2002, p.40):
Como o matrimônio romano não é uma relação jurídica, mas um fato social,
os princípios referentes á celebração, dissolução e proteção do matrimônio
não constituem uma regulamentação propriamente jurídica, mas que melhor
se enquadram no campo da ética. A celebração do matrimônio não é um
negócio jurídico, nem está ligado à observação de formas jurídicas. Seus
pressupostos não estão sujeitos a uma comprovação estatal.... Os vínculos
morais que ligam os cônjuges têm sido durante muitos séculos, suficientes
para assegurar a subsistência do matrimônio.
Por sua vez, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2010, p. 112),
conceituam casamento da seguinte forma:
Por fim, o Código Civil de 2002 traz um breve conceito sobre casamento em
seu artigo 1.511, in verbis:
Dessa forma, verifica-se que o casamento não tem um conceito absoluto, mas
sim, várias formas diferentes de ser conceituado, mas sempre levando em
consideração a união estável e afetiva entre duas pessoas.
____________________
1
Se quisermos sintetizar ambas as noções, diríamos que o casamento como um ato legal se
desenvolve na teoria dos atos do direito de família com seus caracteres específicos e as conotações
que a teoria geral do ato fornece para sua consideração. Por outro lado, a relação jurídica matrimonial
transcende o estado de família que estabelece o casamento entre cônjuges e permitindo-lhes não só
se opor entre si, mas também contra terceiros com a finalidade de ser reconhecida a união enquanto
forma das prerrogativas e as atribuições que estabelece a lei em cada caso. (tradução livre da
autora);
15
Porém, o rol de deveres constantes no artigo 1.566, como já dito, não pode
ser considerado como taxativo na vida a dois.
Nesse sentido, Inácio de Carvalho Neto (2005, p. 98) afirma:
Importante ressaltar que tal dispositivo foi transcrito do Código Civil de 1916,
sendo acrescentado somente o inciso V, qual seja, respeito e considerações
mútuos, o qual não havia previsão no referido Código.
Feito isto, passemos à análise de cada um dos deveres inerentes ao
casamento.
O primeiro dever contido no artigo 1.566, inciso I do Código Civil é o da
fidelidade recíproca, que se fundamenta no caráter monogâmico do casamento, ou
seja, é o dever inerente aos cônjuges de abster-se de praticar relações sexuais com
terceiros.
Nesse sentido Maria Helena Diniz aduz (2004, p.125):
Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas
um ou outro podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a
encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses
particulares relevantes.
Tal dispositivo é de plena sabedoria, tendo em vista que a vida moderna faz
com que, muitas vezes, casais vivam em cidades ou até mesmo estados diversos,
tendo em vista suas profissões, encargos públicos ou até mesmo seus próprios
interesses de caráter relevante.
Nesse sentido, Eduardo de Oliveira Leite aduz (2005, p. 129):
O próximo dever elencado no artigo 1.566 do Código Civil está em seu inciso
IV, e diz respeito ao sustento, guarda e educação dos filhos, o qual também está
previsto no artigo 1.6349 do Código Civil. Tal dever é de extrema importância, uma
vez que diz respeito à direitos inerentes à crianças e adolescentes, filhos em comum
dos cônjuges.
A guarda é, além de um dever, um direito dos pais. Se descumprimento pode
acarretar a perda do poder familiar atinente aos pais, conforme prevê os artigos
1.63710 e 1.63811 do Código Civil Brasileiro.
Ainda, os deveres de educação e sustento dos filhos permanecem à ambos
os cônjuges, mesmo após o divórcio desses.
O dever de sustento concerne à subsistência dos filhos, mediante o
fornecimento de alimentação, vestuário, habitação, medicamentos e todo o
necessário à sobrevivência destes, conforme afirma Carlos Roberto Gonçalves
(2010, p.195).
Ainda, importante ressaltar que o dever de prover a educação dos filhos pode
perdurar até que estes estejam na universidade e não tenham condições de se
sustentar.
O último dever inerente aos cônjuges, elencado no artigo 1.566 em seu inciso
V, é o respeito e considerações mútuos. Sobre este dever devemos entender que
um cônjuge não deve maltratar o outro, e nem fazer falsas acusações, infundadas,
bem como que sejam humilhantes ao outro.
Sobre o assunto, Caio Mário da Silva Pereira comenta (2004, p.176):
____________________
9
Art. 1.634, CC/02 – Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I – dirigir-lhes a criação
e educação; II – tê-los em sua companhia e guarda; III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento
para casarem; IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais
não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; V – representá-los, até ais
dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes,
suprindo-lhes o consentimento; VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; VII – exigir que
lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.
10
Art. 1.637, CC/02 – Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério
Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até
suspendendo o poder familiar, quando convenha.
11
Art. 1.638, CC/02 – Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou mãe que: I – castigar
imoderadamente o filho; II – deixar o filho em abandono; III – praticar atos contrários à moral e aos
bons costumes; IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
19
_____________________
12
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar,
por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
13
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
14
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.
21
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
22
2.2 DANO
Ainda, há que se levar em conta que nem sempre o dano será de cunho
patrimonial, no qual é possível auferir um valor certo para repará-lo. Existe também,
em nosso ordenamento jurídico o dano de cunho imaterial, moral, que decorre da
ofensa aos direitos da personalidade. Nesse caso, não temos como quantificá-lo
para retornar ao seu status quo ante, pois trata-se de um bem impossível de ser
reparado.
Neste sentido, importante frisar a idéia de Clayton Reis (2010, p. 6):
[...]
Todavia, a idéia de que somente as lesões aos bens materiais são
suscetíveis de reparação é falsa, segundo se entende e resta demonstrado
pela doutrina e jurisprudência. Os bens não patrimoniais, não obstante
possam ser objetos de reparação a exemplo dos materiais, o são, na
realidade, estimados a título diverso daqueles em que há uma notória e
clara preocupação na restituição ao status quo ante, circunstância que não
se observa neste caso. Na realidade é impossível reconstituir o patrimônio
violado de um bem que não pode ser medido, pesado, recomposto e aferido
pelos meios físicos de medição atualmente conhecidos.
Destarte, o citado autor entende que o dano moral decorre de uma lesão
direta à dignidade da pessoa humana (2010, p.8):
Por fim, importante destacar que o dano moral deve ser quantificado da
melhor forma possível em cada caso concreto, para que se possa buscar uma
compensação equivalente em face do abalo sofrido pelo ofendido.
Importante ressaltar que o dano material pode, não raras as vezes, estar
intimamente ligado ao dano moral, pois um prejuízo, mesmo que de cunho material,
pode acarretar ao ofendido um abalo de cunho moral.
Dessa forma, o magistrado deve verificar, em cada caso concreto, se houve
realmente a concretização de um dano moral, quando da ocorrência do dano
material sofrido.
Sobre o tema Clayton Reis (2010, p. 7) afirma:
Ainda, o mesmo autor (2010, p.7) diferencia o dano material do dano moral da
seguinte forma:
27
2.3 CULPA
Veja-se que os elementos que caracterizam a culpa no citado artigo são: ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência. Ou seja, não basta a existência
de um dano para haver a reparação civil em sede de responsabilidade subjetiva, é
necessária e, indispensável a comprovação da culpa no caso concreto.
O sujeito age com culpa quando deixa de fazer algo que deveria fazer ou
vice-versa, ou seja, o sujeito não toma as cautelas necessárias que qualquer homem
médio teria o cuidado de observar ao agir ou omitir-se em determinada situação,
causando um dano a outrem.
Nesse sentido, Silvio de Salvo Venosa (2009, p.23) afirma:
Para que haja obrigação de indenizar, não basta que o autor do fato danoso
tenha procedido ilicitamente, violando um direito (subjetivo) de outrem ou
infringindo uma norma jurídica tuteladora de interesses particulares. A
obrigação de indenizar não existe, em regra, só porque o agente causador
do dano procedeu objetivamente mal. É essencial que ele tenha agido com
culpa: por ação ou omissão voluntária por negligência ou imprudência,
como expressamente se exige no art. 186 do Código Civil.
Agir com culpa significa atuar o agente em termos de, posteriormente,
merecer a censura ou reprovação do direito. E o agente só pode ser
pessoalmente censurado, ou reprovado na sua conduta, quando, em face
das circunstâncias concretas da situação, caiba a afirmação de que ele
podia e devia ter agido de outro modo.
A culpa pode ser dividida em: culpa in eligendo e culpa in vigilando. A primeira
decorre de uma má escolha. Já a segunda decorre da falta de vigilância, falta de
cuidado.
Nesse sentido, Silvio de Salvo Venosa (2009, p.28) aduz:
Ainda, a culpa pode decorrer tanto de uma ação quanto de uma omissão,
sejam elas por imprudência, imperícia ou negligência.
30
Destarte que essas não são as únicas espécies de culpa existentes no nosso
ordenamento jurídico.
Ainda, importante ressaltar que a culpa pode ter vários graus, podendo ser
levíssima, leve, grave e até gravíssima, o que deve ser verificado em cada caso
concreto para a quantificação do dano causado.
Por fim, verifica-se a necessidade da comprovação da culpa para que haja a
responsabilização subjetiva na esfera cível, de modo que, sem esta, não há que se
falar em reparação.
Lembrando que a responsabilidade objetiva, que é a exceção à regra,
independe de culpa, trata-se da teoria do risco (art. 927, parágrafo único do Código
Civil), ao contrário da responsabilidade civil subjetiva, a qual, como vimos, é
necessária a comprovação da culpa do agente causador do dano.
31
produz responsabilidade, quando ele tem por causa uma falta cometia ou
um risco legalmente sancionado.
Ainda, existem três teorias que explicam o nexo de causalidade, são elas: a
teoria da equivalência das condições, a teoria da causalidade adequada e a teoria
da causalidade direta ou indireta.
A teoria da equivalência das condições adota o entendimento de que, todos
os atos que ocorreram anteriormente ao dano e, de alguma forma contribuíram para
tal, devem se equivaler, por isso “equivalência das condições”.
A teoria da causalidade adequada entende que, não basta o fato anterior ao
dano, é necessário que tal fato seja a causa adequada do dano.
Pela teoria da causalidade direta ou indireta, entende que o dano decorre de
uma causa imediata relacionada a ele. Esta é a teoria mais adotada pelo nosso
ordenamento jurídico (art. 402 do Código Civil).
Sendo assim, verifica-se que o nexo causal é um elemento da
responsabilidade civil completamente indispensável para a existência da reparação
de algum dano.
Dessa forma, sem a sua devida verificação, não podemos comprovar a
existência ou não do dano ou do fato gerador deste, não sendo possível, portanto,
responsabilizar alguém.
33
_____________________
15
Art. 1.566, CC/02 – São deveres de ambos os cônjuges: I – fidelidade recíproca; II – vida em
comum, no domicílio conjugal; III – mútua assistência; IV – sustento, guarda e educação dos filhos; V
– respeito e considerações mútuos.
34
pelo homem, este somente era condenado ao pagamento de multa e, ainda, isso só
ocorria quando havia escândalo público.
Com o advento da Lei nº 11.106/05, o adultério deixou de ser crime no âmbito
penal, porém, no âmbito moral da sociedade é tido como algo desprezível, o qual
pode causar injúria grave ao outro cônjuge.
Dessa forma, quando preenchidos os requisitos da responsabilidade civil (ato
ilícito, dano e nexo causal), já estudados, haverá o dever de indenizar o cônjuge,
uma vez que, evidentemente, o adultério provoca desrespeito aos direitos da
personalidade do outro cônjuge, causando-lhe constrangimentos, sofrimento, danos
psíquicos, entre outros.
Sendo assim, tendo em vista se tratar de um dano que viola os direitos da
personalidade, este terá cunho estritamente moral, o qual deve ser quantificado em
cada caso pelo magistrado.
Porém, mesmo havendo a violação de um dever conjugal, causando ao
cônjuge um sofrimento relativamente aos seus direitos da personalidade, a
jurisprudência pátria vem entendendo de forma diversa a aplicação de indenização
em tais casos.
4. (...)
(AP. 70038896718, 8ª Câmara Cível, TJRS, Des. Rel. Luiz Felipe Brasil
Santos)
Importante ressaltar, também, que a pessoa com quem o cônjuge trai o outro,
ou seja, a figura do “amante”, ou ainda uma pessoa que saiba e seja tido como
“cúmplice” da infidelidade de um dos cônjuges, não pode ser responsabilizada
civilmente pela quebra dos deveres conjugais, tendo em vista que este, como o
próprio nome já diz, são inerentes aos cônjuges.
Sobre o assunto o Superior Tribunal de Justiça já decidiu:
____________________
16
Art. 244, CP – Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de
dezoito anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de sessenta anos, não
lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixa, sem justa causa, de socorrer descendente ou
ascendente, gravemente enfermo. Pena – detenção de um a quatro ano, e multa, de uma a dez
vezes o maior salário mínimo vigente no país.
37
Caso haja a quebra do dever de mútua assistência material, esta terá cunho
estritamente moral, uma vez que atinge os direitos da personalidade do outro
cônjuge.
Porém, para que haja o dever de indenizar, como em todos os outros casos,
deve haver a comprovação de ato ilícito, dano e nexo causal.
Sobre o tema o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já decidiu:
Outro dever inerente aos cônjuges, previsto no artigo 1.566, em seu inciso IV
é o de sustento, guarda e educação dos filhos.
Tal dever concerne na responsabilidade de ambos os cônjuges em manter
seus filhos, dar educação, bem como exercer o poder familiar a eles inerentes.
Porém, tal dever também ao deve estar limitado à aspectos materiais, mas
também a aspectos imateriais, afetivos, uma vez que a família é a base da
sociedade e é através dela que temos apoio, afeto, limites, entre outros.
Dessa forma, havendo a quebra desses deveres para com os filhos, seja de
um, ou ambos os pais, haverá o dever de indenizar.
Veja-se que, tal dever, não existe entre os cônjuges, mas sim entre pais e
filhos. Trata-se de uma obrigação de ambos os pais.
Sobre este aspecto o STF decidiu recentemente, que é cabível a indenização
por danos morais decorrente do abandono afetivo pelos pais.
Sendo assim, de acordo com esta recente e inédita decisão, caso haja a
quebra dos deveres dos pais para com os filhos, haverá o dever de indenizar.
Ainda, caso a quebra do dever seja exclusivamente sobre o sustento, o filho
poderá buscar judicialmente a prestação alimentícia.
Por fim, cumpre frisar que o abandono dos filhos também é tipificado no
Código Penal como crime, conforme artigo 244, anteriormente citado.
O próximo e último dever inerente aos cônjuges e previsto em Lei é o do
mútuo respeito e considerações, previsto no inciso V do artigo 1.566 do Código Civil
Brasileiro.
Como já visto, tal dever se insere no respeito que deve existir entre os
cônjuges, a não ofensa à honra e a integridade física dos nubentes.
É um dever de abster-se em praticar algum ato que ofenda, tanto a
integridade moral, quanto à integridade física do outro cônjuge.
Ainda, importante frisar que, o não cumprimento desse dever, pode acarretar
crime tipificado no Código Penal. Ou seja, caso haja ofensa à honra do outro
cônjuge, poderá haver a caracterização de um crime de injúria, calúnia ou
difamação.
Caso haja ofensa física, uma agressão, poderá haver o crime de lesão
corporal ou, ainda, a incidência da Lei Maria da Penha.
Além de caracterizar a crime, a conduta do cônjuge agressor poderá acarretar
o dever de indenizar o cônjuge inocente, uma vez que há a existência de um ato
ilícito, um dano de cunho moral, bem como o nexo causal.
40
Veja-se que desde antes do advento do Código Civil de 2002 o STJ já tinha
um posicionamento sobre a responsabilidade civil ante uma conduta injuriosa de um
dos cônjuges.
Sobre o tema Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.66) aduz:
____________________
17
Art. 1548, CC/02 – É nulo o casamento contraído: I – pelo enfermo mental sem o necessário
discernimento para os atos da vida civil; II – por infringência de impedimento.
18
Art. 1550, CC/02 – É anulável o casamento: I – de quem não completou a idade mínima para casar;
II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; III – por vício de
vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; IV – do incapaz de consentir ou manifestar, de modo
inequívoco, o consentimento; V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; VI – por
incompetência da autoridade celebrante.
19
Art. 1521, CC/O2 – Não podem casar: I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco
natural ou civil; II – os afins em linha reta; III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o
adotado com quem o foi do adotante; IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até
o terceiro grau inclusive; V – o adotado com o filho do adotante; VI – as pessoas casadas; VII – o
cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte.
43
idade núbil, quando não autorizado pelo seu representante legal; por vício de
vontade; do incapaz de consentir ou manifestar consentimento; realizado pelo
mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato,
e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges ou por incompetência da autoridade
celebrante.
No primeiro caso, é importante ressaltar que o nosso Código Civil estabelece
que a maioridade é de 18 anos, conforme artigo 5º20.
Ainda, verifica-se através do artigo 1.51721 que, embora a maioridade se dê
aos 18 anos, a idade mínima para casar é de 16 anos, desde que haja a autorização
dos pais ou responsável legal.
Sendo assim, na segunda hipótese, caso não haja a autorização necessária
para casar antes da maioridade o casamento poderá ser anulado.
Porém, em tal hipótese existe uma exceção, que está prevista no artigo
22
1.551 do Código Civil Brasileiro, o qual dispõe que o casamento não será anulado
por motivo de idade, caso haja gravidez.
A terceira hipótese trata do vício da vontade. Haverá o vício da vontade nos
casos de erro essencial quanto à pessoa, conforme previsão legal no artigo 1.55623
do Código Civil Brasileiro.
Ainda, o artigo 1.55724 do mesmo diploma legal, traz um rol sobre no que
consiste o erro essencial sobre a pessoa.
Dessa forma, havendo alguma dessas possibilidades, o casamento poderá
ser anulado.
_____________________
20
Art. 5º, CC/02 – A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habiitada à
prática de todos os atos da vida civil.
21
Art. 1.517, CC/02 – O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se
autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade
civil.
22
Art. 1.551, CC/02 – Não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez.
23
Art. 1.556, CC/02 – O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houver por parte de um
dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto á pessoa do outro.
24
Art. 1.557, CC/02 – Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: I – o que diz
respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior
torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II – a ignorância de crime, anterior ao
casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III – a ignorância, anterior ao
casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou
herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de as descendência; IV – a ignorância,
anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em
comum ao cônjuge enganado.
44
____________________
25
Art. 1.558, CC/02 – É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um
ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e
iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares.
26
Art. 1.560, CC/02 – O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data
da celebração é de: I – cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550; II – dois anos, se
incompetente a autoridade celebrante; III – tres anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557; IV –
quatro anos, se houver coação. §1º. Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o
casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez
essa idade; e da data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes. §2º. Na
hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a
partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebração.
45
____________________
27
Art. 1.563, CC/02 – A sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à data da sua
celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a
resultante de sentença transitada em julgado.
46
3.3 DIVÓRCIO
Porém, por mais que tal emenda tenha facilitado o divórcio entre os cônjuges,
não podemos dizer que a separação judicial está totalmente extinta, uma vez que os
artigos que a disciplinam no Código Civil (1.571 a 1.582) permanecem ali
inalterados.
Ainda, com o simples divórcio não há a possibilidade de se discutir a culpa
pelo fim da sociedade conjugal, mas somente dissolvê-la.
Sobre o tema O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já decidiu:
Dessa forma, caso um dos cônjuges queira discutir a culpa pelo fim do
casamento, será necessário que ingresse com a ação de separação judicial.
Isso se faz necessário, muitas vezes, tendo em vista o abalo causado ao
cônjuge inocente, pela quebra dos deveres conjugais, os quais podem acarretar o
dever de indenizar.
Tendo em vista que no divórcio não há discussão de culpa pelo fim da
sociedade conjugal, aqui não há que se falar em responsabilidade civil, uma vez que
a única intenção dos consortes é de se separem e seguirem suas vidas.
Sendo assim, a possibilidade de indenização por dano moral deve ser vista
em ação própria ou em ação de separação judicial, desde que comprovado os
requisitos da responsabilidade civil, pois, como já dito, o mero dissabor pelo fim do
casamento não gera o dever de indenizar.
Nesse sentido, a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:
4. DANOS E INDENIZAÇÃO
Sendo assim, o dano moral deve ser devidamente comprovado, não podendo
ser fixado com base apenas em um sofrimento pelo término do relacionamento.
Deve haver uma humilhação, um vexame, de modo que fuja da normalidade,
interferindo diretamente no psicológico do cônjuge inocente, de modo que cause um
desequilíbrio de seu bem-estar.
Os danos de cunho material podem ser decorrentes diretamente do fim do
casamento, tais como a pensão alimentícia, os gastos com a partilha dos bens, com
a mudança do outro cônjuge, como também decorrentes do dano moral ocasionado,
tais como o lucro cessante e tratamento médico em caso de agressão física.
Nesse sentido, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:
54
Sendo assim, verifica-se que a pensão alimentícia, que é uma das formas de
reparação de dano material no término de uma relação conjugal, deve ser fixado
levando em conta vários critérios, entre eles o padrão de vida que o cônjuge
necessitado vivia, de forma a manter seu status social; a falta de trabalho do cônjuge
inocente, sendo que, desta forma, normalmente nos casos da mulher, exerce função
exclusiva de cuidar da casa e da família, bem como levando em conta a
necessidade real dos alimentos.
Dessa forma, quando do término de uma sociedade conjugal, haverá de ser
analisado a incidência ou não de algum dano, seja de cunho moral, seja de cunho
material.
55
Sendo assim, a quantificação do dano moral pode ser um problema, visto que
incide na livre escolha do juiz, o que, muitas vezes, não há como definir se houve
justiça ou injustiça. Isso ocorre, pois cada qual interpreta o dano de sua forma,
sendo que para uns o valor da indenização deve ser alto e, para outros deve ser
baixo.
Dessa forma, para melhor quantificar o dano, o magistrado deve-se colocar
no lugar da vítima, como se o dano ali discutido tivesse ocorrido contra ele, e, de
certa forma, verificar qual a intensidade do abalo sofrido pelo lesado, de forma a
quantificar o dano da melhor maneira possível.
Sobre o tema, Clayton Reis (2010, p. 179) afirma:
Ainda, para medir o dano moral, o magistrado deve levar em conta o grau de
culpa do sujeito causador, bem como a extensão do dano à vítima.
Para que não haja injustiças, tais como o enriquecimento sem causa, a
quantificação do dano, deve levar em conta, também, a situação financeira tanto do
ofensor, quanto da vítima.
Nesse sentido a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo:
Maria Helena Diniz (2007, p 102), propõe algumas regras para quantificar o
dano:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
queira provar a culpa do outro pelo término do relacionamento, poderá utilizar a via
da separação judicial para fazê-lo.
Com o advento da Emenda Constitucional nº 66/2010, o divórcio passou a
ser imediato e, ainda, podendo ser feito extrajudicialmente.
Após, foi analisado que os danos decorrentes da violação dos deveres do
casamento podem ser tanto de cunho moral, como de cunho material.
Ainda, a quantificação do dano deve ser proporcional ao prejuízo causado,
seja este de cunho moral ou material. Dessa forma, o magistrado deve analisar caso
a caso o valor do dano a ser fixado.
Vale ressaltar que o objetivo do trabalho foi demonstrar a possibilidade de
aplicação de indenização nas relações conjugais, entre marido e mulher.
Ao longo do estudo foram apresentadas as conclusões sobre as inúmeras
discussões existentes a respeito do tema da responsabilidade civil em face do
casamento, podendo destacar, que a jurisprudência dominante resiste na aplicação
de indenização por danos advindos do término de um matrimônio.
Verificou-se que não basta a mera alegação de sofrimento e dissabor pelo
fim do casamento, mas deve haver a comprovação de que realmente houve um
dano causado por um cônjuge à outro, o qual, de certa forma, seja passível de
indenização.
Ainda, viu-se que em todas as dissoluções de sociedades conjugais há
sentimentos avessos, ruins, os quais, por si só, não geram o dever de indenizar,
visto que em todo término de relação há a manifestação de tais sentimentos.
Por fim, com análise de todo o trabalho, verificamos que há a possibilidade
de reparação de um dano no término de um casamento, seja pela quebra dos
deveres inerentes aos cônjuges, seja pelos deveres implícitos em uma relação.
61
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Alvaro Villaça. Estatuto da Família de Fato. 2ª edição. São Paulo: Atlas.
2002.
BELLUSCIO, Augusto C.; ZANNONI, Eduardo A.; CARLUCCI, Ainda Kemelmajer de.
Responsabilidad Civil en el Derecho de Família. Buenos Aires: Hammurabi. 1983.
COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. 2ª Edição. São Paulo: Martins Fontes.
1987.
CRETELLA JÚNIOR. José. Curso de Direito Romano. 22ª edição. Rio de Janeiro:
Forense. 1999.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, Direito de Família. Vol. 5. 19ª
Edição. São Paulo: Saraiva. 2004.
______. Curso de Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil. Vol. 7. 21ª Edição.
São Paulo: Saraiva. 2007.
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil,
Responsabilidade Civil. 7ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2009.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Direito de Família. Vol. 6. São
Paulo: Saraiva. 2010.
______. Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil. Vol. 4. São Paulo: Saraiva.
2009.
LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil Aplicado, Direito de Família. Vol. 5. São
Paulo: Revista dos Tribunais. 2005.
LÔBO, Paulo. Direito Civil, Famílias. 2ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2009.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, Direito de Família. Vol. V.
17ª Edição. Rio de Janeiro: Forense. 2009.
______. Instituições de Direito Civil, Contratos. Vol. 3. 13ª Edição. Rio de Janeiro:
Forense. 2009.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Direito de Família. Vol. 6. 8ª Edição. São
Paulo: Atlas. 2008.
______. Direito Civil, Responsabilidade Civil. 9ª Edição. São Paulo: Atlas. 2009.
WALD, Arnoldo. O Novo Direito de Família. 15ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2004.