Você está na página 1de 6

EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE RIO


GRANDE, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

AUTOS Nº 023/1.16.0010059-1

LUCINARA PEREIRA DA SILVA, brasileira, casada, educadora, portadora do


RG de nº 4086094011 e do CPF de nº 018.177.230-22, residente e domiciliada
na Rua Dr. Aveline, nº 80, Bairro Humaitá – Rio Grande/RS, por intermédio de
seu advogado(a) e bastante procurador, com escritório profissional sito à Rua
São José do Norte, nº 1810/108, Bairro Trevo, Rio Grande/RS onde recebe
notificações e intimações, vem mui respeitosamente à presença de Vossa
Excelência apresentar

EMBARGOS À EXECUÇÃO

contra REJANE MARIA ECHEVARRIA DA SILVEIRA, pelos motivos e


fundamentos expostos amplamente, no seguimento, de fato e de direito,
evidenciadores da total e correta, IMPROCEDÊNCIA da pretensão da
exequente, ora embargada, além do que visível e inapelavelmente constitui-se
CARECEDOR da ação executiva interposta.

I - SÍNTESE DO PEDIDO
1.1. Com efeito, Rejane Maria Echevarria da Silveira, fundamentou seu pedido
vestibular de execução, sob a alegação de ser credora da ora embargante, no
valor de R$ 37.137,66 (trinta e sete mil cento e trinta e sete reais e sessenta e
seis centavos), visto que na qualidade de fiadora da Sra. Maria das Graças
Medeiros Pereira, responde pelo pagamento dos alugueres e demais encargos
que esta deixou de honrar.
1.2. Requer ainda, o pagamento da importância devida, acrescida de correção
monetária, juros de mora, custas judiciais e honorários advocatícios.

II - CARÊNCIA DE AÇÃO
2.1. Carece a exequente do direito à execução, ante a falta de observância dos
pressupostos formais contemplados na lei processual civil.
2.2. Para propositura da ação de execução é necessário que o exequente exiba
o título de crédito original de responsabilidade do executado.
E fotocópia, AINDA QUE AUTENTICADA, não é título cambial, não podendo ser
objeto de execução.
2.3. No caso em exame, a exequente-embargada NÃO EFETUOU A JUNTADA
DOS DOCUMETOS ORIGINAIS, mas sim meras fotocópias.
No entanto, impugna-se as aludidas fotocópias, máxime os documentos
de fls10 à 11, os quais foram preenchidos manualmente.

III - DA TEMPESTIVIDADE DOS PRESENTES EMBARGOS


3.1. Conforme se pode verificar o mandado de intimação da Embargante quanto
à A EXECUÇÃO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO, ainda não foi juntado aos
autos.
Portanto, absolutamente oportuna e tempestiva a interposição desses
Embargos de Devedor, porquanto o prazo de 15 dias somente se esgotaria após
a juntada do mandado.

IV - DA EXTINÇÃO DA FIANÇA
4.1. Em primeiro lugar, cumpre a Embargante apontar que NÃO É
RESPONSÁVEL PELO PAGAMENTO DA DÍVIDA APONTADA NA EXORDIAL
DA EXECUÇÃO, TENDO EM VISTA A EXTINÇÃO DO CONTRATO DE
FIANÇA que a tornava devedor solidário ao locatário inadimplente.
4.2. Ocorre que o contrato de locação que serve como título executivo a embasar
a pretensão do Embargado previa como tempo de sua vigência entre 10/12/2008
e 09/06/2011 prevista, em seguida, na mesma cláusula, que o imóvel deveria ser
restituído ao locador até essa data.
Assim, o contrato de fiança, como pacto adjeto que era ao contrato de
locação, extinguir-se-ía na mesma data, necessária, por certo, a anuência do
fiador para que se estendesse a garantia, ao final do contrato principal.
Afinal de contas, a fiança há de ser por escrito e interpretada sempre
restritivamente, na forma do que dispõe o art.819, do Código Civil, sendo claro
que qualquer cláusula contratual em contrário a esse dispositivo legal não deve
ser encarada como válida, porque contrária à Lei.
Dessa forma, a Embargante não pode ser responsabilizada pelo débito,
realizado após o término do contrato principal e do acessório.
A Embargante não foi consultado acerca de sua disponibilidade em
permanecer como fiadora do contrato, com o advento de sua renovação por
prazo indeterminado, sendo inaceitável que permanecesse vinculada a uma
responsabilidade dessa natureza, indefinidamente, sem ser submetido à
consulta prévia.

V - DA IMPENHORABILIDADE DO IMOVEL DA EMBARGANTE


5.1. Em decorrência desta execução, foi penhorado o imóvel do Executado, ora
Embargante, que trata-se de bem de família por ser o único bem IMÓVEL de
propriedade do mesmo e por ser a moradia de sua família.
Reza o parágrafo único do artigo 1.º da Lei nº 8009/90:
“Art. 1.º O imóvel residencial próprio do casal, ou da
entidade familiar, é impenhorável e não responderá por
qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus
proprietários e nel residam, salvo nas hipóteses previstas
nesta Lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual
se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza
e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que
guarnecem a casa, desde que quitados.” (grifo nosso).
5.2. DA LEI DA IMPENHORALIDADE, por certo que a lei da impenhoralibilidade
do bem de família, Lei 8009/90, em seu artigo 3º, inciso IV, ressalva o bem de
família do devedor de taxas devidas em função do imóvel familiar como exceção
à regra da impenhorabilidade. Mas, como demonstraremos adiante, esse
dispositivo não tem aplicação no caso presente.
5.3. DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, a Constituição da República, em seu art.
1º, inciso III, estabelece que o Brasil é um estado democrático de direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana. No art. 3º, também inciso III
afirma que um dos objetivos fundamentais da República é erradicar a pobreza e
a marginalização e reduzir as desigualdades sociais.
5.4. A dignidade da pessoa humana é garantida através do respeito aos direitos
fundamentais, que são os direitos humanos garantidos constitucionalmente num
determinado estado-nação. A nossa Constituição estabelece como direito
fundamental em seu art. 5º que a propriedade atenderá a sua função social,
reconhecendo que a moradia é direito fundamental do ser humano, pois sem ela
não se pode falar em vida digna.
5.5. Por outro lado, a LEI DO BEM DE FAMÍLIA é claramente um dispositivo que
visa também a dar eficácia ao princípio de erradicação da pobreza, pois o
crescente endividamento da população e redução da oferta de emprego
fatalmente levam ao aumento da pobreza, que só se agrava se as pessoas não
têm onde morar.

VI - DO MÉRITO
6.1. Apesar da remota hipótese do mérito vir a ser cotejado, hodiernamente é
pragmático e consentâneo tratar do mérito, como corolário do mais salutar
apanágio do procedimento contencioso.
6.2. DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS, "O fiador demandado pelo pagamento da
dívida tem direito de exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro
excutidos os bens do devedor."
6.3. Portanto, a Execução de Título Extrajudicial contra os ora embargantes
somente seria admissível, após restar frustrada a execução contra a devedora
(locatária).
VII - DOS ALUGUERES UNILATERAIS E SEM OS REQUISITOS DO ART. 771
DO CPC
7.1. Os recibos de alugueres foram firmados unilateralmente, desprovidos de
qualquer fundamento fático ou legal, e principalmente, sem qualquer chancela
dos ora embargantes.
7.2. Na verdade, inexiste nos autos de Execução, prova do acerto das
importâncias lançadas nos recibos que instruem aquela.
7.3. Não é de ser reconhecida a exigibilidade de título executivo extrajudicial
consubstanciado em recibo de condomínio preenchido unilateralmente pelo
locador, sem a apresentação de qualquer elemento comprovador do acerto das
quantias ali consignadas

VIII - DA MULTA – HONORÁRIOS EXTRAJUDICIAIS


8.1. Incabível a cobrança da multa pela via executiva
8.2. Incabível a cobrança de Honorários extrajudiciais por serviços prestados pro
profissionais - O TJDF (Tribunal de Justiça do Distrito Federal) destacou que “a
fixação prévia de honorários advocatícios impõe ao consumidor o pagamento de
despesas sem que ele possa aferir a realidade do pagamento ao causídico”. No
STJ, o relator, ministro Marco Buzzi, também considerou a cobrança ilegal. Ele
afirmou que os honorários deveriam ser suportados pelo credor e somente então
exigidos do devedor, em reembolso, não cabendo "cobrança direta do advogado
em relação ao devedor em mora, pois não há entre eles relação jurídica
decorrente da celebração do contrato de prestação de serviços advocatícios".
O ministro analisou a cláusula prevista em contrato de adesão que pré-
arbitra os honorários à luz do CDC, e considerou ilegal a cobrança de
honorários advocatícios extrajudiciais. O ministro Buzzi ponderou, ao reafirmar
voto proferido em sessão de 2014, que a cobrança dos honorários
advocatícios em valores pré-fixados “importa dupla oneração ao consumidor”
e, acolhido entendimento contrário, “estaríamos a legitimar verdadeiro
enriquecimento ilícito da financeira”, eis que esta também teria a possibilidade
de obter judicialmente, segundo o CPC, honorários fixados entre 10 e 20% do
valor da condenação.
“Teríamos a certeza de que, estando o consumidor em
mora ainda que por um único dia no atraso do pagamento
na parcela, a cláusula de cobrança de honorários
advocatícios extrajudiciais incidiria de plano, apesar de
que ausente qualquer comprovação por parte da
instituição financeira da efetiva e real utilização do serviço
profissional da advocacia extrajudicial na cobrança da
dívida. (...) A disposição negocial prevendo os honorários
advocatícios em 20% por cobrança extrajudicial viola
frontalmente o artigo 51, incisos IV e XXII, do CDC, pois
constitui vantagem exagerada ao impor ao consumidor a
obrigação de ressarcir os custos da cobrança.”
Ademais, não havendo cláusula que assegure o mesmo direito ao
consumidor, realmente deve ser reconhecida a abusividade da cláusula que
prevê a cobrança de encargos relacionados à cobrança judicial
e extrajudicial da dívida. Nos termos do artigo 51 , inciso XII do Código de
Defesa do Consumidor. Assim, NÃO HÁ NO CONTRATO JUNTADO PELA
PARTE AUTORA, UMA CLÁUSULA QUE CONFIRA AO LOCATÁRIO A MESMA
POSSÓBILIDADE DE COBRANÇA DE HONORÁRIHOS EXTRAJUDICIAIS DO
LOCADOR.

IX - AD CAUTELAM
9.1 Por derradeiro, na remota hipótese de injusta e absurda condenação dos ora
embargantes - o que admite-se apenas ad argumentandum -, a correção
monetária somente poderá incidir a partir do ajuizamento da execução (Lei nº
6.899/81) e não da emissão dos recibos, posto que inexiste nos autos prova da
certeza, liquidez e exigibilidade dos valores pleiteados.
9.1 Impugnasse os valores contidos na Memória de Cálculos juntados pela
Autora, reconhecendo que segundo o CDC o valor máximo da multa podendo
ser aplicada é de 2%, seguindo atualização correta dos valores conforme
memorial descritivo em anexo (doc.1)

DO REQUERIMENTO
Diante do exposto, requer a V.Exa., se digne em:
1) receber os embargos à execução, e autuado em apenso à execução nº
023/1.16.0010059-1, ficando a mesma suspensa;
2) a apreciação das preliminares, e por via de consequência, a extinção da
execução, sem julgamento do mérito, julgando procedentes os presentes
embargos, condenando o embargado nas cominações legais e processuais de
estilo;
3) na remota hipótese de Vossa Excelência, entender de forma diversa, protesta-
se pela produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente
depoimento pessoal da embargada, sob pena de confissão, testemunhal,
pericial, juntada de novos, para que ao final seja julgado procedentes os
presentes embargos, para o fim de:
4) o Benefício da Assistência Judiciária Gratuita, nos termos do artigo 4º da Lei
1060/50, com redação introduzida pela Lei 7510/86.

5) declarar nulas as cláusulas abusivas inseridas no Contrato de Locação em


questão, notadamente as quarta, e por via de consequência, julga improcedente
a execução intentada contra os ora embargantes, posto que esta somente seria
admissível, após restar frustrada a execução contra a devedora (locatária);
6) julgar incabível a execução intentada, visto que a fiança concedida pela ora
embargante, findou em data de 09/05/2011;
7) julgar improcedente a execução em exame, visto que os valores pleiteados
não possuem os requisitos do artigo 586 do CPC (vide tópicos 5.16 até 5.26);
8) declarar incabível a cobrança de multa pela via executiva, quando senão
reduzi-la ao percentual (2%) previsto em lei (CDC);
9) julgar ilíquido, incerto e inexigível os valores relativos a condomínio pleiteados
pela exequente-embargada;
10) condenar a embargada ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios;
11) no caso de absurda condenação, determinar a incidência de correção
monetária a partir do ajuizamento da execução.

Estima-se à causa, o valor de R$ 37.137,66 (trinta e sete mil cento e trinta e sete
reais e sessenta e seis centavos
Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Rio Grande, 08 de agosto de 2017

David Silva de Souza


OAB/RS – 86224

Você também pode gostar