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Políticas Públicas
2018/2019
“What is common to the greatest number gets the least amount of care.”
Aristóteles
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Índice
O bem comum................................................................................................................................ 4
A tragédia dos comuns .................................................................................................................. 5
Agenda 2030.................................................................................................................................. 8
Bibliografia ................................................................................................................................... 9
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Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da cadeira de políticas públicas inserida no
plano de estudos do mestrado de administração público-privada da faculdade de direito
da Universidade de Coimbra no qual é realizada uma breve discussão sobre o tema a
tragédia dos comuns.
O bem comum
O que podemos entender por bem comum, o bem constitui uma necessidade intrínseca ao
ser humano. O bem corresponde a uma dependência de sobrevivência de cada um, sendo
este tangível e descoberto pelo individuo à medida que este se desenvolve enquanto
sujeito. Atingir um bem, ou a finalidade para esse bem pressupõe a concretização e
felicidade individual. A felicidade por si conduz a um estado autossuficiente, que resulta
também da vida em comunidade. O importante é compreender o que é o bem comum,
compreendê-lo não como assimilação de bens individuais de um sujeito, mas uma
plenitude coletiva, comunitária, um bem de todos. Como discutido mais adiante o bem
comum não poderá ser individualizado beneficiando somente um e sacrificando as partes
restantes de uma comunidade.
A natureza do bem é deste modo indivisível, se entendermos que se pode repartir por
todos de forma igual de forma definitiva, pois este realiza-se num tempo e num espaço, e
por isso existe uma impossibilidade de dividi-lo de forma igual para todos, pois este é
insuficiente. Pode ser renovável, mas dependente do espaço e do tempo em que o bem se
insere. Num entendimento mais profundo o Estado existe pela realização dos bens
comuns dos quais se originam os direitos e deveres. O bem comum é assim um lugar onde
existem bens individuais comuns a todos, o que não obriga a que estes partilhem dos
mesmos valores, mas que garantam as condições necessárias da preservação do bem
comum além de qualquer fim individual.
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A tragédia dos comuns
A denominação “tragédia dos comuns” foi utilizada pela primeira vez por William Forster
Lloyd em 1833 e reavivado em 1968 pelo ecologista Garrett Hardin, do qual descreve o
que acontece quando vários indivíduos partilham um mesmo bem limitado, como a pesca,
pasto, espaço, quando todas estas situações a curto prazo enfrentam o interesse individual
contra o bem comum o que leva ao excesso do uso dos recursos e tragédia para a
comunidade, sobre exploração dos terrenos, sobrepopulação, poluição e a problemas
sociais e ambientais.
O exemplo dado por Garrett ilustra como um interesse individual e a busca em prol dos
seus interesses aquando da partilha de um bem comum leva ao que é designado como a
tragédia dos comuns. Enquanto sociedade temos de criar políticas que não só criem
condutas, mas também ensinamentos que se perpetuem no tempo para que os recursos
sejam partilhados de modo sustentável e que não resulte na extinção dos mesmos.
A tragédia do bem comum pode ser justificada pelo individualismo, como descrito por
Aristóteles “What is common to the greatest number gets the least amount of care.”, o
individuo tende a cuidar do que é seu e a não prestar tanta atenção ao que é comum. O
homem que na sua casa tem um jardim, corta a relva, apanha as ervas de daninha, trata
do que é seu, mas esse mesmo homem não se desloca para cuidar do jardim que se
encontra no meio da cidade, ou da aldeia que pertence a todos, e está do mesmo modo
disponível a todos mas que não tem a mesma dedicação e atenção de todos e por vezes
tende a ser negligenciado. A falta de dedicação é justificada por o individuo saber que
esse mesmo jardim irá ser cuidado por outrem. Todos estes comportamentos são
justificados pela sociedade que vem assentando no pensamento individualista do qual
carece a noção de comunidade, de partilha e olhar pelo outro que leva ao excesso e á
tragédia já referida.
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Os problemas como a poluição, a escassez de água, a desflorestação, sobrepopulação,
aquecimento global, pobreza, têm a atenção das políticas sustentáveis que pretendem
maximizar o que ainda se encontra à disposição da população e na criação de sistemas de
reutilização dos recursos. A população tem comprovado que é capaz de realizar algo
extraordinário como formação de contratos sociais, acordos comunitários, eleger
governos e passar leis que protegem o coletivo dos impulsos individuais. Os
ensinamentos que se devem transmitir é de que o que é bom para todos é bom para cada
um de nós.
A tragédia é inevitável, seja por ação pessoal, governança interna e externa. Os valores
éticos moldam assim os comportamentos dos indivíduos, sejam estes apreendidos na
escola, em casa ou com a comunidade. A ação pessoal é a primeira forma de agir e a mais
particular porque se traduz na ação de cada um sobre o problema, podendo criar efeitos
nos comportamentos alheios, não através de pressões, mas de exemplos que influenciem
outros comportamentos e podem criar partilha e senso de comunidade. A melhor solução
é criar consciência do que são bons e maus comportamentos. A tendência individualista,
como já ilustrado, pode prevalecer sobre uma boa consciência no uso dos recursos e por
isso existe a necessidade da governança interna. As regras e pressões sociais da vivência
em comunidade em conjunto com a governança externa, que se traduzem em
regulamentos e diretivas e pelas quais o Estado enquanto força de ordem exerce as suas
funções trabalham em conjunto para uma solução global.
A quando do uso de um bem comum temos de nos colocar as seguintes questões morais:
será correto que todos tenham os mesmos comportamentos individualistas?; será justo
para todos? Todas as ações tomadas têm as suas consequências e cada um tem de saber
distinguir o bem do mal, ser um individuo moralmente e eticamente correto. Não deve
ser aceitável a reprodução de comportamentos incorretos, mas sim de comportamentos
corretos que de certo modo criem um sistema sustentável. A tragédia é assim evitável,
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percebendo que nem todos partilhamos das mesmas crenças morais o trabalho de
consciencialização tem de ser contínuo. Assim se justifica que ações coletivas têm mais
hipóteses de sucesso, criam união dentro do grupo e criam acordos para sustentabilidade
que resultam na aplicação de políticas. Um grupo unido e comunicativo onde existe
respeito e normas consegue resolver a tragédia, o problema comum, evitando o uso
excessivo dos recursos. A melhor forma de nos relacionarmos e cuidarmos do espaço que
nos rodeia é conhecê-lo e respeitá-lo, uma ligação com o próximo ajuda na socialização
e cria entendimento com as necessidades alheias.
O governo tem assim a obrigação de aplicar políticas para regular os bens comuns. Existe,
no entanto, uma dificuldade de uniformidade entre os sistemas legais dos países, não só
por serem sistemas políticos com valores e constituições dispares, mas também pelos
problemas intrínsecos a cada um, que dificulta uma maior união para a sustentabilidade.
Em função disso os países que existem em comunidade conseguem resolver a tragédia
através da imissão de regulamentos e diretivas que controlam e impedem o uso excessivo
dos recursos.
Talvez a real tragédia seja a capacidade que os governos têm para aplicação das leis, para
um uso sustentável dos recursos, mas devido à corrupção, uma falta de entendimento
comum e incentivos próprios tornam isso impossível. A visão individual de cada governo
impede uma visão coletiva entre nações, com isso e apesar de serem capazes de resolver
os problemas existentes tomam decisões erradas.
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Agenda 2030
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Bibliografia