Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EPOCA
O MÉTODO ATINI
MAIS UMA DA ONG
FLAMENGO
E FALLET
O APRENDIZ
BOECHAT
18.02.19
A HISTÓRIA
DE ADÉLIO
OS NOVOS RUMOS
DA INVESTIGAÇÃO SOBRE
O HOMEM QUE TENTOU
MATAR BOLSONARO
por Bruno Abbud
O TIGGO 5X E O AUDI Q3 TÊM
A DIFERENÇA É QUE O TIGGO 5X CUSTA MUITO
VEJA O QUE O TIGGO 5X TEM QUE O AUDI Q3 NÃO TEM
√ RODAS ARO 18” √ SMART KEY (CHAVE PRESENCIAL PARA
√ MAIOR DISTÂNCIA ENTRE-EIXOS: 2,63 m TRAVAMENTO, DESTRAVAMENTO E IGNIÇÃO)
√ RETROVISORES REBATÍVEIS ELETRICAMENTE √ MULTIMÍDIA DE 9” COM ESPELHAMENTO
√ CÂMERA DE RÉ COM GUIAS DINÂMICAS DE DIREÇÃO DE CELULAR COM APPLE CARPLAY
√ INDICADOR GRADUAL DE TEMPERATURA √ ASSISTENTE DE DESCIDA (ALÉM DE FREIO
E DE PRESSÃO DOS PNEUS ELÉTRICO, AUTO HOLD E ASSISTENTE
√ TETO SOLAR PANORÂMICO “TOTAL VISION” DE RAMPA, COMUM A AMBOS OS MODELOS)
COM CORTINA ELÉTRICA √ 5 ANOS DE GARANTIA SEM LIMITE
√ 8 AIR BAGS (FRONTAIS, LATERAIS E DE QUILOMETRAGEM
DE CABEÇA, DIANTEIROS E TRASEIROS) √ FARÓIS DE NEBLINA
cliente pcd
planos
especiais
BANCO DO MOTORISTA COM AJUSTE VOLANTE MULTIFUNCIONAL DE COURO, TETO SOLAR PANORÂMICO CENTRAL MULTIMÍDIA DE 9”, CÂMERA FREIO ELÉTRICO COM AUTO HOLD
ELÉTRICO DE 7 POSIÇÕES. COM COMANDOS DE TELEFONE, MULTIMÍDIA TOTAL VISION COM CORTINA TRASEIRA, ESPELHAMENTO DE SMARTPHONE E ASSISTENTE TOTAL DE RAMPA.
E PILOTO AUTOMÁTICO. ACIONADA ELETRONICAMENTE. E CONECTIVIDADE APPLE CARPLAY.
BANCOS REVESTIDOS DE COURO.
0800-772 4379
WWW.D21MOTORS.COM.BR
1.Tiggo5X 1.5T TXS (NAC) ano/modelo 18/19 R$ 96.990,00 a vista. 2. Tiggo5x 1.5T T (NAC) ano e modelo 18/19 R$ 86.990,00 a vista 3.Campanha Tabela Fipe válida para os modelos Tiggo5x 1.5T TXS e Tigg5x 1.5T T. Serão aceitos na troca no valor da Tabela Fipe os veículos que
a Campanha Tabela Fipe para o seu veículo usado nas concessionárias D21motors, os quais devem obrigatoriamente também reunir as seguintes condições cumulativas: 1a-Garantia de fábrica ativa. 2a-Registro de revisões realizadas dentro do prazo estipulado pela montadora e
vistoria indicado pelo concessionário D21motors. 4a-Chave reserva em perfeitas condições de uso, manual do proprietário, certificado de garantia com as revisões realizadas dentro do prazo determinado pela montadora nos termos do manual do proprietário. 5a-O veículo deve
tabela de preço das revendas D21motors. Os carros elegíveis nesta campanha devem ter ar-condicionado, vidros e travas elétricas e direção hidráulica/elétrica. 4. Seguro Completo Caoa Chery Total no valor de R$ 2.899,00 (pagamento em 8 parcelas iguais no valor de R$ 362,37)
será contratado através do sistema Kit Web da Alfa Seguradora, através do qual todo o processo deverá ser realizado pelo corretor de seguros indicado pela concessionária. A apólice de seguro será emitida no ato da entrega do veículo. Após a emissão da apólice será observada
produto. As coberturas dos produtos e serviços estão especificadas nas respectivas cláusulas contratuais. Todos os veículos Tiggo5X segurados obrigatoriamente necessitarão de instalação de rastreadores. A instalação será feita pela rede de concessionários Caoa Chery, a
Pasep com alíquota de 0,65% (zero vírgula sessenta e cinco por cento) e a Cofins com alíquota de 4% (quatro por cento). Campanha válida somente na troca dos modelos em estoque da concessionária. Consulte outras versões, outras cores e outros itens nas concessionárias
A MESMA TECNOLOGIA.
MENOS E ENTREGA MUITO MAIS.
TIGGO 5X. O MELHOR CUSTO-BENEFÍCIO
AUDI Q3
TXS 1.5 TURBO FLEX ATTRACTION 1.4 TURBO FLEX
R$
96.990 R$
134.990
seguro total
laNÇaMeNto tabela fipe
A PARTIR DE 8 pa r c e l a s d e
R$
86.990 No seu usado R$
363,00
estiverem com o seu documento único de transferência – DUT – no nome do comprador do veículo 0km ou em nome de parentes de 1° grau (pais, filhos e cônjuges), desde que comprovado o parentesco por meio de documentação oficial. Consulte a lista de veículos elegíveis para
com quilometragem limitada a 15.000 km por ano sem registro de sinistro, queixa de roubo e furto, e/ou avarias de grande monta. 3a-Enquadramento do veículo nas condições acima por laudo de vistoria cautelar pericial, com aprovação do veículo sem restrição, em empresa de
estar em perfeitas condições de uso, sem a necessidade de reparo e troca de peças. Caso haja a necessidade de pequenos reparos como pequenos riscos, amassados, trinca no para-brisa, substituição de pneus etc., a avaliação estará sujeita ao desconto do serviço conforme
válido para modelo Tiggo5X 1.5T T (NAC), 0km, ano/ modelo 2018/2019. 4.1 Seguro Completo Caoa Chery Total no valor de R$ 3.199,00 (pagamento em 8 parcelas iguais no valor de R$ 399,87) válido para o modelo Tiggo5X 1.5 TXS (NAC), 0km, ano/modelo 2018/2019. O seguro
a classe de bônus a que o segurado tem direito. Qualquer alteração desejada pelo segurado somente será processada após a emissão da apólice de seguro, segundo as condições tarifárias vigentes na data do cálculo. As disposições aqui referidas são uma breve descrição do
título de cortesia. Processo Susep 15414.100446/2004-81. O registro deste plano na Susep não implica, por parte da autarquia, incentivo ou recomendação à sua comercialização. O segurado está ciente, conforme Lei n. 12.741/2012, que incide sobre os prêmios de seguro, o PIS/
autorizadas da marca Caoa Chery -D21 Motors. As promoções constantes deste anúncio não são cumulativas entre si nem com nenhuma outra promoção que vier a ser veiculada no mesmo período. Condições válidas até 19/02/2019 ou enquanto durarem os estoques.
4
dos editores
edição
Vem aí a 5ª edição 2019
da pesquisa que revelará Modelos
inovadores
as 150 empresas de trabalho
mais inovadoras
do Brasil em 2019.
Participe!
6
do leitor
escreva para
epoca@edglobo.com.br
ÉPOCA 1075
Fica cada vez mais evidente a necessi- PERSONAGEM DA SEMANA
dade da reforma da Previdência com a O sítio de Atibaia gerou mais uma
unificação dos servidores públicos ci- condenação ao ex-presidente Lula
vis, os trabalhadores da iniciativa priva- Assim como na condenação do caso do
da e a adoção do modelo de capitaliza- tríplex, a juíza não conseguiu estabele-
ção. Não podemos ter gastos orçamen- cer o vínculo entre os contratos de em-
tários só com asfalto e favela. Além dis- presas com a Petrobras, a suposta lava-
so, existe o perigo da multiplicação dos gem de dinheiro e corrupção passiva.
fundos previdenciários dos servidores Claudio Zarate, via Facebook
públicos. São mais de 5 mil municípios.
Lorde Keynes não subirá o morro. São Morar em um tríplex no Guarujá e
as medidas do ministro Paulo Guedes, passar o fim de semana em um sítio de
nosso lorde Oliver Cromwell, que de- Atibaia, curtindo os filhos, netos e
mocratizarão a economia. amigos — se não fosse condenado pela
A VIDA DE CADA UM José Marques Vieira Filho, Rio de Janeiro, RJ Lava Jato — seria um destino muito
ÉPOCA apresentou os simplório para um ex-presidente que
principais pontos da reforma Antes de falar em reforma da Previ- permitiu o enriquecimento bilionário
da Previdência e mostrou dência, deveriam cobrar os R$ 450 bi- de amigos, políticos e empresários, no
como isso mudará lhões que as grandes empresas devem comando do maior esquema de desvio
a vida dos brasileiros à Previdência, acabar com as desvin- de dinheiro público da história do país.
Ainda que minha avó tenha conse- culações de receitas que retiram até Abel Pires Rodrigues, Rio de Janeiro, RJ
guido se aposentar por idade, teve de 30% dos recursos da Previdência para
recorrer a advogado e demorou para outras áreas e acabar com as desone- FLASHES DA UTI
sair. E quanto a mim? Tenho certeza rações dadas a grandes empresas e ao O Hospital Albert Einstein
de que não estarei viva para contar. agronegócio exportador. Depois dis- ganhou destaque ao receber
Aline Ferreira, via Facebook so, que primeiro façam a reforma na o presidente Jair Bolsonaro
Previdência dos congressistas e das Meu sonho era que todo hospital
Bolsonaro está reformado desde os Forças Armadas, em que se concen- grande do Brasil fosse como o Sírio-
32 anos e recebe sem nunca ter con- tra o maior déficit proporcional. Libanês ou o Albert Einstein. En-
tribuído. Alguns defendem o méri- Lauro Júnior Júnior, via Facebook quanto político tiver o direito de usar
to disso, mas é difícil entender isso hospital particular de excelência, na-
como mérito. Outros alegam que A reforma da Previdência, segundo da mudará na rede pública.
militar não fica aposentado, pois o se depreende das informações sobre Davi Gonçalves, via Facebook
país pode entrar em guerra de uma o posicionamento de áreas econômi-
hora para outra. Mas de qual guerra cas do governo, tem como objetivo CONCORDAMOS EM DISCORDAR
o Brasil participou nestes últimos maior enfrentar o déficit elevado. E O deputado Capitão Augusto
anos? Reformado tão novo, não de- dá destaque aos 30 milhões de apo- e o pesquisador Sérgio Adorno
veria receber salário integral. Se sentados e pensionistas da iniciativa têm visões distintas sobre
não se mudar a Previdência dos mi- privada. Como fica, no entanto, o dé- o projeto anticrime apresentado
litares, a reforma não adiantará. ficit dos vários setores da área públi- por Sergio Moro
Também não vale criar pensão para ca? A Previdência tem de destacar es- Capitão Augusto está mais próximo da
os militares e, logo depois, dar um sencialmente a área social, e não inte- realidade. Adorno tem um discurso
aumento salarial. resses de fundos de pensão privados. bonito, que seria ideal para a base da
Rogério Barbosa, via Facebook Uriel Villas Boas, Santos, SP educação em segurança e para impri-
7
mir em nossos jovens, que futuramen- QUE SENADO! expoentes do novo Senado. Parabéns
te serão os policiais e os profissionais li- O apresentador Jorge Kajuru ao povo de Goiás.
gados à segurança. Até que essa base (PSB-GO) estreou no Senado Romisson Santos, via Facebook
esteja literalmente efetivada e pronta colecionando polêmicas
para agir, precisamos combater a vio- É preciso trabalhar, e muito. Mas pa- QUE ASSEMBLEIA!
lência que assola nosso Brasil de Norte rece que os novos empossados estão Parlamentar que tomou
a Sul. E, para isso, precisamos de medi- preocupados o tempo todo em man- posse com a mulher sentada
das mais firmes contra os bandidos e ter o tom de campanha. A legislatura em seu colo espancou
medidas mais justas para as polícias. começou. Vamos trabalhar e fazer o a filha quando era prefeito
Mônica Delfraro David, Campinas, SP Brasil caminhar. de Piracanjuba
Carlos Silva, via Facebook Filho não é propriedade dos pais.
Tenho muito medo de que o pacote an- Educar e corrigir é, sim, uma obriga-
ticrime de Moro não passe no Congres- Ele tem a humildade de pedir a orien- ção, mas deve-se guardar o respeito
so. Muitos parlamentares têm receio de tação de Pedro Simon, Heloísa Hele- pela pessoa humana. O caráter do de-
facilitar as ações contra si mesmos. Os na e Cristóvão Buarque, políticos putado não é o de alguém capaz de
ajustes podem ser relaxados, mas a so- com carreira limpa, que nunca parti- dar o bom exemplo, fator preponde-
ciedade é quem paga por esses retroces- ciparam de conchavos, armações. Ka- rante para conduzir uma família.
sos. O pacote anticorrupção já foi por juru tem meu respeito. Nancy Souto, via Twitter
água abaixo, mesmo com o apoio maci- Marcus Aurelius, via Facebook
ço de toda a população. Ainda assim, es- Esse deputado é a cara do brasileiro:
peramos que o ministro não esmoreça, Engana-se quem pensa que Kajuru é adora fazer circo para os palhaços fi-
negociando “o que for possível” para o apenas uma figura folclórica. Pode carem aplaudido. Foi péssimo pre-
atual quadro político brasileiro. até ser, mas é bem-intencionado, tem feito em sua cidade. Vaidoso, faz de
João Coelho Vítola, Brasília, DF muito conteúdo e é um dos principais tudo para estar na mídia, e ainda
8
O MASSACRE DO HERDEIRO
No primeiro dia do ano,
o filho de Fernandinho Beira-Mar DIRETORA DE REDAÇÃO Daniela Pinheiro
epocadir@edglobo.com.br
deixou um rastro de violência
EDITOR-CHEFE Plínio Fraga
em Duque de Caxias Fernanda Delmas (coordenadora),
EDITORES EXECUTIVOS Maria
Ana Clara Costa, Eduardo Salgado, Flávia Barbosa,
Se estivesse preso como deveria, a se Letícia Sorg e Pedro Dias Leite
EDITOR Marcelo Giannini Coppola
olharem os crimes anteriores, nada dis- COLUNISTAS Conrado Hübner Mendes, Guilherme Amado, Helio Gurovitz e Monica de Bolle
so teria acontecido. A lentidão da Justi- COLABORADOR Ariel Palacios
ÉPOCA ON-LINE Liuca Yonaha (editora), Daniel Salgado
ça e infindáveis recursos dão nisso. WEB DESIGNER Giovana Tarakdjian; ESTAGIÁRIOS Larissa Infante e Matheus Rocha Silva
para o mal, foi o resultado do processo Avenida Nove de Julho, 5229, 9º andar, CEP 01407-907, Itaim Bibi – São Paulo – SP
de desgaste da classe política que con- MERCADO ANUNCIANTE | SEGMENTOS — MONTADORAS, MOBILIDADE, SERVIÇOS PÚBLICOS E SOCIAIS, GOVERNO SP,
AGRONEGÓCIOS, COMPANHIA AÉREA, INDÚSTRIA | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Renato Augusto Cassis
Siniscalco | EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Cristiane Soares Nogueira, Diego Fabiano, João Carlos
duziu o país a uma crise sem preceden- Meyer, Priscila Ferreira da Silva | SEGMENTOS — MERCADO FINANCEIRO, SEGUROS,
EDUCAÇÃO, IMOBILIÁRIO, CONSULTORIAS | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Emiliano Morad Hansenn |
tes. Existem pontos positivos, como EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA José Carlos Brandão, Milton Luiz Abrantes,
Selma Teixeira da Costa | SEGMENTOS — VAREJO, TELECOM, ELETROELETRÔNICOS, TI, TURISMO, ESPORTE,
aqueles que se referem à economia e à LAZER, CULTURA, ENTRETENIMENTO, MÍDIA | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Ciro Horta Hashimoto |
EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Christian Lopes Hamburg, Roberto Loz Junior |
Justiça. Há outros frágeis, como a in- SEGMENTOS — MODA, DECORAÇÃO, SAÚDE, BELEZA, HIGIENE PESSOAL E DOMÉSTICA E TURISMO |
DIRETORA DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Sandra Regina de Melo Pepe |
fluência maligna de um péssimo pro- EXECUTIVAS MULTIPLATAFORMA Eliana Lima Fagundes, Fátima Regina Ottaviani,
Caio Caprioli, Jessica de Carvalho Dias, Lilian Marche Noffs e Rodrigo Girodo |
ESCRITÓRIOS REGIONAIS | GERENTE MULTIPLATAFORMA Larissa Ortiz |
feta, que vive no exterior. Nesta altura UNIDADES DE NEGÓCIO — RIO DE JANEIRO — EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Daniela Nunes Lopes Chahim |
OPEC ON-LINE Danilo Panzarini | OPEC OFF-LINE Carlos Roberto de Sá, Douglas Costa |
do campeonato, o papel dos generais é EGCN — CONSULTORA DE MARCAS Olivia Cipolla Bolonha |
DESENVOLVIMENTO COMERCIAL E DIGITAL | DIRETOR Tiago Joaquim Afonso |
fundamental e benfazejo como ponto G.LAB Edward Pimenta | PROJETOS ESPECIAIS/EVENTOS Carlos Raices; ESTRATÉGIA DIGITAL — Santiago
Carrilho | DESENVOLVEDORES Fabio Marciano, Fernando Raatz, Marden Pasinato, Matheus
de equilíbrio, em virtude de uma vida Domingos, Raphael Rappoli | ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO DIGITAL Silvia Balieiro |
AUDIÊNCIA — DIRETOR DE PLANEJAMENTO DE VENDAS Ricardo Tarrazo Perez
O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de Verificação,
O nível de conhecimento e educação adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa — no 2012, da Editora Globo
S.A., é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações de GEE
sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado em conformidade com a NBR ISO 14064-1:2007 e
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Portugal tem imóveis de alto
padrão que harmonizam
passado e presente
GUIAS De BOLSO DA
LONELY PLANET
30. LAÇOS DE FAMÍLIA
O MÉTODO DAMARES
Outra índia tirada
da família, outra polêmica
38. O NOVATO
TRANQUILÃO
Deputado de primeiro
mandato falta mais
do que trabalha no começo
do processo legislativo
18.
ADÉLIO,
CRIMINOLOGIA
UMA HISTÓRIA
O que a Polícia Federal sabe
sobre o homem que tentou
matar Bolsonaro
COLUNISTAS
28. GUILHERME
AMADO
O primeiro “não”
do PT a Lula
82. CONRADO
HÜBNER MENDES
Febejapá new age
THIAGO FREITAS/AGÊNCIA O GLOBO
48. 68.
LEONARDO AVERSA / AGÊNCIA O GLOBO
capa: reprodução
PERSONAGEM DA SEMANA
por Claudio Angelo
RICARDO A IGNORÂNCIA
DO MINISTRO DO MEIO
AMBIENTE SOBRE
O MAIOR ÍCONE
DA PRESERVAÇÃO
DAS FLORESTAS
PERSONAGEM DA SEMANA 15
ADÉLIO,
UMA
HISTÓRIA
O presidente Jair Bolsonaro elencou, se-
manas atrás, uma série de suspeitas que
a poucos metros de distância, com este por-
tando uma faca enrolada em um jornal.
mantém em relação a Adélio Bispo de Oli- O presidente citou ainda que, dois meses
veira, o agressor que tentou assassiná-lo com antes do atentado, Bispo gastou “centenas de
uma facada há cinco meses, durante um ato reais em dinheiro vivo” na prática de tiro
da campanha eleitoral em Juiz de Fora, Mi- em clube frequentado por seus filhos —
nas Gerais. São oito tópicos que o presidente Carlos e Eduardo — em Florianópolis.
considera que não foram explicados sobre o Questionou como um desempregado com
ataque que sofreu ou que indicam a possibi- residência em Montes Claros, na data do
lidade de ação política no crime. crime, estava havia duas semanas em Juiz de
Nos dois primeiros, ele relembrou que Fora, a 700 quilômetros de distância, tendo
Bispo foi filiado ao PSOL até 2014 e que, pago a estadia em uma pensão antecipada-
nessa condição, em 6 de agosto de 2013, es- mente e em espécie. Estranhou que possuís-
teve no anexo 4 da Câmara dos Deputados, se quatro celulares e um computador portá-
como ficou registrado no sistema. No mes- til, tendo trabalhado com frequência como
mo dia do atentado, em 6 de setembro de servente de pedreiro. Lançou também dúvi-
2018, alguém registrou a entrada dele na Câ- das sobre a causa da morte de duas pessoas
mara a 1.000 quilômetros de distância da ci- que conviveram com ele na pensão em Juiz
dade em que de fato estava: “Álibi perfeito de Fora, nos dias subsequentes ao atentado.
caso fugisse do local do crime”, resumiu o Na primeira entrevista que concedeu co-
presidente. Ele relacionou também vídeo mo presidente, Bolsonaro mencionou Bis-
que mostra que um de seus filhos, desavisa- po: “No mesmo dia do crime, quatro advo-
damente, conseguiu desviar-se do criminoso gados se apresentaram para defendê-lo.
CRIMINOLOGIA 19
20 CRIMINOLOGIA
REPRODUÇÃO
CRIMINOLOGIA 21
REPRODUÇÃO
Foram examinadas conexões por meio de da- Para familiares, Bispo
dos de antenas telefônicas, lista de contatos era uma inspiração por ter
estudado, viajado e
nos quatro celulares apreendidos com Bispo perseguido seus objetivos
(dois inutilizados), e-mails e Facebook. O in-
quérito 503/2018, o segundo que apura o caso,
já conta com 800 páginas, ante 567 do primeiro.
“O objetivo é esgotar as possibilidades no intui-
to de identificar um terceiro que possa ter in-
fluenciado no crime”, disse Fernandes.
A resposta a uma das questões levanta-
das pelo presidente Bolsonaro aguarda o re-
sultado de perícia no sistema que registrou
o nome de Bispo na lista dos que tiveram
acesso à Câmara dos Deputados no dia do
atentado. O relatório do Instituto Nacional
de Criminalística de Brasília responderá se
foi realmente um engano, conforme versão
de uma sindicância feita na Casa, o nome do
agressor ter aparecido ali.
Outra suspeita do presidente, a relação de
Bispo com a morte de duas pessoas na mesma
pensão onde ele estava hospedado em Juiz de
Fora, a PF considera esclarecida. A primeira
morte foi a da mulher do dono do imóvel, que
estava internada havia meses em razão de um
câncer terminal. A segunda morte foi do hós- do advogado ao qual recorrera e guardou os
pede Rogério Ignácio Villas, um viciado em R$ 4.200 remanescentes.
drogas. O operador de telemarketing Wesley Bispo chegara a Florianópolis com a aju-
Rodrigues, que vive na pensão até hoje e con- da dos familiares de Montes Claros, que pa-
viveu com Villas, contou: “O Rogério reclama- garam as passagens de R$ 340, com baldea-
va dos problemas cardíacos que tinha. Era ção em São Paulo. Além da construtora, tra-
uma pessoa que exagerava bastante na bebida. balhou numa temakeria no bairro Coquei-
A morte dele foi mais por causa dos exageros ros, entre março e junho de 2018.
dele. Andava com os usuários de crack da ci- “O resultado da quebra de sigilo bancá-
dade e dormia na rua com eles”. rio não trouxe nada digno de nota”, disse o
A PF também esmiuçou o dinheiro de que procurador Marcelo Medina. “São contas
Bispo dispunha nos dias que antecederam o para recebimento de salário, de alguém que
atentado. Parte viera de um acordo trabalhista tem muitos empregos junto a empregadores
com a construtora Gamm Empreendimentos, distintos, e acabou sendo natural que tivesse
de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. muitas contas e cartões. Mas não houve po-
Por dez meses, entre janeiro e outubro de 2016, der aquisitivo incompatível. A movimenta-
Bispo foi servente de pedreiro na construção ção bancária dele era normal.”
de dois edifícios residenciais no município ca- O alistamento num curso de tiro em Flo-
tarinense. Ganhava R$ 1.200 por mês e dormia rianópolis nasceu dos sentimentos de ho-
em um quarto alugado. A locadora descre- mem melindrado pelas perseguições que en-
veu-o como um homem quieto e sem amigos. xergava a seu redor, segundo disse ele em
depoimento à Justiça. Foi ao Clube e Escola
REPRODUÇÃO
OAB que lista as prerrogativas do advogado,
o sigilo do cliente é um direito absoluto.
para possíveis conexões de Bispo com o PCC. fluência de terceiros”, reafirmou o delegado.
Um dos elos investigados foi Klayton Ramos “Apesar de todas as diligências, não consegui-
de Souza, seu sobrinho. Ele foi preso pela ter- mos identificar alguma vinculação dele com
ceira vez quatro dias depois do atentado con- grupos políticos ou facções criminosas. Prova,
tra Bolsonaro, capturado ao tentar roubar um para fins de processo, não existe”, deixou claro.
carro em Campinas. Em janeiro de 2015, Sou- O procurador Marcelo Medina, do Minis-
za e seu irmão, Gleyson, haviam sido presos, tério Público Federal de Minas Gerais, refor-
enquadrados por receptação. Sete meses de- çou: “Não há nada de concreto neste mo-
pois, Souza foi preso novamente, desta vez mento para apontar que alguém ligado a gru-
sob acusação de roubo e tráfico. po político radical ou facção tenha efetiva-
Ao examinar o Facebook de Souza, agentes mente participado”. O segundo inquérito tra-
da PF encontraram entre os contatos um suspei- mita sob sigilo e deve ser concluído em abril.
to de pertencer ao PCC. Lucas Silva aparece nu- A defesa afirma que Bispo agiu sozinho,
ma foto segurando um maço de dinheiro com o incentivado pela agressividade das palavras
braço que exibe a tatuagem de um palhaço — de Bolsonaro, conforme contou em depoi-
um código do crime para matadores de policiais. mento. “A linha da defesa é comprovar que
Em novembro passado, Souza foi chama- o discurso de ódio do candidato influenciou
do a depor. No depoimento, ao qual ÉPOCA Adélio”, disse Zanone de Oliveira. Ele espera
teve acesso, nega ter vínculos com qualquer que seu cliente fique preso por seis a oito
facção, diz que só soube do atentado contra anos. Considera que Bispo estaria seguro pa-
Bolsonaro por meio da TV e informa desco- ra viver em liberdade só daqui a dois manda-
nhecer Lucas Silva, embora fossem amigos tos presidenciais. “Hoje, o lugar mais seguro
no Facebook. Afirma que não ouviu “qual- para ele é a penitenciária.”
quer informação de colegas ou ex-colegas do
sistema prisional que possam ter agido em
conjunto com Adélio” no atentado.
O delegado Rodrigo Fernandes ouviu Adé-
A 1.400 quilômetros dali, em Montes Cla-
ros, Maria das Graças Ramos, de 44
anos, irmã de Bispo, ainda se mostra perple-
lio Bispo em três depoimentos — dois em Juiz xa com o crime. “O porquê ninguém conse-
O momento em que de Fora e o último em Campo Grande. Onze gue compreender”, disse. “É um enigma.”
Bispo perfura o intestino dias depois do crime, ouviu Bispo creditar a Reproduziu o último diálogo que teve com
de Bolsonaro. Deus e “a vozes” que ouvia a ordem para a fa- ele: “Ô, Tuca, procure um psicólogo, meu fi-
O criminoso não
esperava sair vivo do cada. Está para ouvi-lo pela quarta vez. “Por lho. Você não está bem”, contou, usando o
centro de Juiz de Fora ora não há nenhum indício de que houve in- apelido dado ao irmão durante a infância.
“Ele respondeu: ‘Não estou doido, quem tá
doido aqui são vocês.” E foi embora.
Maria das Graças se recordou do caçula
com lágrimas nos olhos. No dia em que recu-
sou a ajuda de um psicólogo, como em outras
ocasiões, Bispo havia se irritado com o cocô da
cachorra da família — Neguinha — bem à
frente da porta do banheiro. Disse que mataria
a cachorra a pau. “Ele às vezes ficava exaltado
por causa de nada”, contou seu sobrinho, J.,
que preferiu não se identificar por segurança.
No dia seguinte, Bispo abandonou o emprego
que tinha de servente de pedreiro, pegou um
ônibus e partiu para Santa Catarina, em mais
uma viagem não planejada, como costumava
fazer desde a adolescência. Os familiares só vol-
taram a vê-lo na televisão, em meio ao
noticiário sobre o crime que cometera.
Em 6 de setembro, a irmã acordou com o
telefonema de uma vizinha, que lhe pediu para
RICARDO MORAES/REUTERS
ligar o aparelho de TV da casa de três quartos,
26 CRIMINOLOGIA
Nos arquivos, os peritos encontraram currí- o quintal e costumava contar histórias sobre
culos, orçamentos de brinquedos infantis, apos- o que vivera na estrada. Certo dia, apareceu
tilas de inglês, preços de aparelhos de ginástica, para o café da tarde na casa de Rodrigues.
um curso preparatório para ingresso na polícia Repentinamente, levantou-se da mesa e an-
de Nova York, a localização das academias ao ar dou até o quintal, gesticulando e falando so-
livre de Uberaba e uma investigação sobre os zinho. Depois voltou e se sentou, como se
custos das obras do Departamento Nacional de nada tivesse acontecido. Em outra ocasião,
Infraestrutura de Transportes (DNIT). encanou com os celulares. “A gente estava
Aos 40 anos, Bispo optou por uma vida de conversando, batendo papo, e ele veio e dis-
nômade. Rodou pelo Brasil sozinho, chegou a se: ‘Desliga o celular e remove a bateria por-
ficar noivo de uma policial — a única notícia que a gente está sendo monitorado e tem
que se tem de um relacionamento seu —, estu- pessoas na escuta’”, contou Rodrigues. “Ele
dou inglês e teatro. Entre 1999 e 2018, segundo estava com mania de perseguição.”
apurou a PF, teve 39 empregos. Trabalhou co- Ao comentar com Bispo suas paranoias, Jo-
mo servente de pedreiro, balconista de farmá- siane ficou assustada. “Ele disse que estava sen-
cia, auxiliar de cozinha, operador de tele- do monitorado por causa da maçonaria e que a
marketing, garçom, numa fábrica de xampu e maçonaria o perseguia. Contava que era moni-
num navio de cruzeiro. Tinha o sonho de atra- torado todo o tempo e que nos locais aonde ia
vessar um oceano e de ter uma filha. “Ele sem- as pessoas que estavam com ele também eram
pre deu os pulos dele, nunca quis depender de monitoradas. Mania de perseguição, mesmo.”
ninguém”, afirmou Maria das Graças. O conta- Bispo pesquisava muito na internet sobre
to com a família, escasso, era retomado quan- maçonaria. Acusava o ex-presidente Michel
do aparecia de surpresa, batendo no portão. Temer, a quem atribuía título de grão-mes-
“De sete anos para cá, os sintomas de persegui- tre, de lhe ter roubado a ideia da criação do
ção foram se agravando”, disse o sobrinho. Ministério da Segurança Pública e do Con-
“Ele começou a falar que o telefone dele anda- selho Nacional de Segurança Pública, um ar-
va sempre grampeado, que pessoas o estavam remedo de Projeto de Lei que rascunhou em
escutando, que estava sendo perseguido”. 2014. A polícia encontrou vários projetos do
tipo na mala de mão que guardava na pen-
guiamado@edglobo.com.br
SERGIO LIMA/AFP
A presidente
do PT, Gleisi Hoffman
(ao centro), é vista
como uma das razões
do isolamento do partido
até por membros
da própria direção
Ciro Gomes já repete
como bordão o ataque:
“Lula está preso, babaca”
MATHEUS ALVES/CUCA DA UNE/TWITTER
O
MÉTODO
DAMARES
LAÇOS DE FAMÍLIA 31
REPRODUÇÃO
LAÇOS DE FAMÍLIA 33
REPRODUÇÃO
entraram na terça-feira com ação popular
na Justiça Federal para pedir o afastamento
imediato da ministra do cargo.
No caso da ministra, a relação com Lulu
atravessou os anos no anonimato e na infor-
malidade. No caso da índia Arã, a situação é
ainda mais grave, porque houve tentativa
formal de adoção de sua filha, o que com-
provaria a intenção da Atini de não devolver
a menina a seu povo. Tanto no caso de Lulu
quanto no caso do bebê retirado da mãe, a
dirigente da Atini, Márcia Suzuki, é perso-
nagem central da trama. Depois de levar Lu-
lu do Xingu, Márcia levou o bebê de Arã a
seu próprio irmão, Marcos dos Santos, e a
sua cunhada, Angélica, que prontamente
entraram na Justiça com um processo for-
mal de adoção. O casal, mesmo sabendo que
a menina recém-nascida tinha mãe, tratou
logo de batizá-la com outro nome. Foi ao
saber da adoção envolta em questões suspei-
tas que a Justiça do Rio de Janeiro abriu
uma investigação para apurar os motivos
que levaram a criança indígena a ser afasta-
da da família e do povo sateré-mawé.
que a filha retorne para a genitora e do Além de atuar em casos em que é acusa- QUEM SÃO AS
possível adiamento em razão da espera da da de subtrair indígenas de suas aldeias, a CRIANÇAS LEVADAS
PARA A ONG ATINI
bebê e avaliação para que seja autorizado o Atini atende até hoje crianças doentes acom-
seu eventual retorno com a bebê para sua panhadas por seus pais em tratamentos na HARANI
comunidade indígena de origem”. O retor- cidade. Em respostas enviadas à reportagem Retirada da área
suruwahá em novembro
no foi autorizado em 2013, mas a Justiça no início do mês, a Atini afirmou que todas de 2002, entrou em um
não determinou a reunião com a filha, já as crianças indígenas em sua propriedade processo de adoção
há dois anos com o irmão de Márcia e sua em Brasília estão acompanhadas de familia- por um casal não
indígena na cidade
esposa. A essa altura, os tios maternos de res. Isso não impede, porém, que quem mo-
Arã já haviam retornado à aldeia e enviado ra nas aldeias peça o retorno das crianças, LULU
um ofício, por meio da Funai, pedindo o como ocorreu no caso de índios kamayurás, Foi levada da aldeia
kamayurá, no Parque
retorno da jovem também. saterés-mawés e suruwahás. Nos dois últi- do Xingu, Mato Grosso,
mos casos, houve registros e investigação. para a cidade aos 6
P ara além das histórias de Arã e Lulu, a No caso de Lulu, a ministra se amparou anos. A justificativa era
fazer um tratamento
própria ministra Damares Alves já deu em outros parentes da menina índia, dentário. Não retornou
declarações que indicam a existência de ou- incluindo Piracumã e Kamaiulá, considera- em definitivo e foi criada
por Damares
tras crianças tiradas de aldeias nas mesmas dos seus pais adotivos, para negar que te-
condições. Em 2017, Damares contou a his- nha cortado os contatos com a família. ARÃ
tória da criação da Atini em um discurso “Lulu não foi arrancada dos braços dos fa- Jovem sateré-mawé,
foi levada para a cidade
na Câmara dos Deputados. “Os índios co- miliares. Ela saiu com total anuência de to- aos 14 anos, com a
meçaram a ouvir que havia um movimento dos e acompanhada de tios, primos e ir- justificativa de cuidar
nesta casa falando sobre avançar neste tema mãos para tratamento ortodôntico, de pro- de sua saúde mental.
Engravidou de um jovem
e começaram a bater à porta dos gabinetes, cesso de desnutrição e desidratação. Tam- na chácara e sua filha foi
pedindo socorro. Foi assim que eu me tor- bém veio a Brasília estudar.” entregue a outro casal
nei mãe de uma menina, aqui nesta casa, Damares Alves intermediou também a
XAGANI
uma menina kamayurá que corria risco em adoção de outra criança xavante por um Filho de um líder político
sua aldeia”, disse. “Foi assim que o deputa- pastor em São Carlos, São Paulo. Procurado, do grupo Suruwahá, saiu
do Henrique Afonso, do PT do Acre, se tor- tanto o pastor quanto o deputado Henrique da aldeia e acompanhou
uma viagem de crianças
nou pai de um menino xavante”, conti- Afonso afirmaram que regularizaram na e adolescentes de sua
nuou. “Foi à porta do gabinete dele que foi Justiça a guarda definitiva dos xavantes que etnia para tratamento em
pedido socorro. E foi assim que eu me tor- adotaram, mas não passaram por um pro- São Paulo, patrocinada
pela Atini. O MPF se
nei mãe de uma segunda menina, também cesso de adoção, já que as crianças mantêm queixa de que a Funasa
xavante. Quando bateram à porta do gabi- seus vínculos com a aldeia Xavante, em Ma- não providenciou
nete, pedindo socorro.” to Grosso. “Assim o movimento Atini cres- seu retorno
ÉPOCA questionou Damares nesta se- ceu e se transformou na instituição Atini,
mana sobre quem é essa segunda filha e a porque não havia onde colocar as crianças.
circunstância de sua adoção. Por sua asses- A instituição nasceu para acolher as crian-
soria, a ministra disse que teve a guarda ças”, contou Damares no discurso de 2017.
provisória da criança enquanto ela fazia um
tratamento e que depois a menina foi enca-
minhada para outra família na cidade, que a
adotou formalmente. “A menina visita a al-
E m 2006, Márcia Suzuki e Edson Suzuki,
seu marido, que ainda atuavam na ONG
Jocum, foram contratados pela Fundação
deia com frequência, e sua mãe biológica Nacional de Saúde (Funasa) para atuar co-
faz visitas regulares a seu lar adotivo.” mo intérpretes da língua suruwahá no aten-
LAÇOS DE FAMÍLIA 35
Integrantes da ONG
Atini rezam agradecendo
a aprovação do Projeto
da Lei Muwaji
na CCJ da Câmara
dos Deputados, texto
que prevê a punição
a agentes de saúde que
se omitam em casos
de infanticídio em aldeias
HAKANI
Levada em 2001 para
tratamento médico no
Hospital das Clínicas de
Ribeirão Preto, São
Paulo, é uma das
indígenas que a Atini
alega ter salvado de ser
enterrada viva. Foi
adotada por Edson
e Márcia Suzuki
ANUHARI E INIKIRU
Foram levados da aldeia
suruwahá aos 12 e 9
anos, respectivamente.
Em 2009, quando o MPF
investigava a retirada das
crianças da aldeia,
foram encontrados na
chácara da Atini
SUMAWANI
Criança levada ao
hospital em abril de 2003,
foi retirada da aldeia
Suruwahá. Passou
por uma cirurgia
AMALÉ
Segundo Márcia Suzuki,
é um menino que foi dimento a uma criança chamada Iganani, dade posteriormente: Ahuhari, de 12 anos, e
salvo de ser enterrado diagnosticada com retardo de crescimento e Inikiru, de 9. Os parentes das crianças exigi-
vivo da aldeia kamayurá
e recebia apoio
de desenvolvimento neuropsicomotor. A ram o retorno delas à tribo, e em 2008 o MPF
da entidade partir daí, teria ocorrido a retirada de um foi informado da situação. Em 2009, todos
grupo de indígenas da comunidade. eles foram encontrados na chácara da Atini.
Dois extensos relatórios da Funai, ela- Por mais de uma vez, os relatórios da Funai
borados em 2011, registram o que ocorreu. citam que a comunidade não se conformou
Para a Funai, houve uma “subtração” dos com a ausência das crianças e que não houve
índios. Deixaram a tribo a menina Iganani e consentimento para a saída do grupo.
sua mãe, Muwaji Suruwahá. Segundo a Atini, A Funai concluiu naquele ano de 2011 ser
Iganani fora condenada à morte por enve- necessário pedir uma “busca e apreensão de
nenamento por causa de uma paralisia cere- incapazes”, de forma que a guarda fosse de-
bral. Muwaji, então, teria procurado os mis- volvida à aldeia. Em 2013, o delegado da Po-
sionários para “enfrentar” a própria tribo. lícia Federal Manoel Vieira da Paz Filho
Mãe e filha foram levadas para São Paulo concluiu que não foram confirmadas as in-
para tratamento médico. formações sobre retiradas de indígenas de
Os relatórios da Funai apontam que ou- suas tribos sem o conhecimento de servido-
tras duas crianças foram retiradas da comuni- res da Funai e dos líderes das tribos.
36 LAÇOS DE FAMÍLIA
com a gravadora. “Minha vida, independen- sobrevive à cláusula de barreira, pelo DEM,
temente da carreira de sucesso, sempre foi sigla do presidente da Câmara, Rodrigo
difícil, por conta de ser popular, mas fazer Maia, e do prefeito de Salvador, ACM Neto.
poucos shows, ser preso a uma produtora, Kannário está satisfeito com o que viu
com um contrato draconiano, onde toda a em Brasília nos três dias em que exerceu a
verba que eu fazia com meu talento não vi- função — o dia da posse e os dias 12 e 13
nha para minha mão”, disse. de fevereiro. “Estava preparado para uma
Questionado sobre como vai empregar chatice. Mas achei do meu naipe, adrenali-
seu talento no serviço público, Kannário na o dia inteiro.” Questionado sobre o pa-
afirmou não ter ainda um plano concreto. radoxo de ter gostado tanto do novo tra-
Também revelou temer que sua genialidade balho e, mesmo assim, ter faltado a maior
inspire adversários políticos. “Claro que eu parte dos dias, atribuiu a ausência aos
não vou dizer quais são minhas ideias agora. compromissos como músico. “Não foi
Mas que tem, tem. Você sabe que, se eu di- obrigatória minha presença. Todo mundo
vulgar coisas que eu venha a fazer futura- sabe que tenho minha carreira artística.
mente, nego pode roubar minha ideia. De- Tenho de me virar nos trinta para poder
pois que estiver concreto, tudo organizado, atender as duas demandas. No verão, as
falo. O que tenho certeza é que o que nós te- demandas de micareta fora de época na
mos na mente são coisas que ninguém aqui Bahia são muitas”, disse, antes de garantir
pensou”, prometeu o deputado, que está em que não terá dificuldades em conciliar
vias de trocar seu partido, o PHS, que não agendas. “Organizando, dá tudo certo.”
COMO
NASCE
UMA
SENTENÇA
NA SALA DA JUSTIÇA 43
Os bastidores do processo
decisório de cada ministro do STF
— e por que isso é fundamental
para compreender o Judiciário
por Carolina Brígido
“Quanto mais gente apta a votar, melhor”, o histórico do colegiado. Ela costuma ser fiel O ministro Marco
pensou. Depois de analisar mais os fatos, às decisões tomadas pela Corte no passado e Aurélio Mello (à dir.)
ponderou que os 3,4 milhões de títulos cance- também a seus votos dados em processos se- é o único a decidir sem
a ajuda de juízes
lados não necessariamente seriam de eleito- melhantes. Weber tem, ainda, uma caracterís- auxiliares e a gravar o
res. Havia títulos duplicados e de pessoas fa- tica ímpar entre ministros do STF: não é voto para ser transcrito
lecidas. Por fim, decidiu posicionar-se contra. adepta de declarações públicas, palestras ou por sua assessora de
gabinete, Cláudia
Quando o processo é muito relevante, Bar- entrevistas à imprensa. A introspecção tam- Almeida
roso escreve a decisão à mão, em um papel bém prevalece em seu gabinete. Assessores da
pautado amarelo. Antes, usava caneta bico de ministra costumam reclamar que ela não con-
pena com cartucho de tinta. Recentemente, versa muito com a equipe antes de elaborar
decidiu trocá-la por canetas de gel, que dão uma decisão. Pede apenas uma pesquisa de
mais agilidade à escrita. Já redigiu livros dessa decisões passadas e nunca revela como vai vo-
forma. Depois, ele mesmo transcreve para o tar. Há servidores em seu gabinete que jamais
computador. Sua paixão por canetas é notória. despacharam com ela. Weber só costuma dar
Na mesa de trabalho, ele tem uma coleção. ouvidos aos três juízes auxiliares que atuam
Nos bolsos internos e externos do paletó, car- em sua equipe. Durante o julgamento do
rega sempre uma lapiseira, duas canetas mar- mensalão, o hoje ministro da Justiça e Segu-
ca-texto — uma amarela e uma azul — e três rança Pública Sergio Moro era um deles.
canetas para escrita — uma azul, uma preta e Os demais seis ministros do STF não se
uma vermelha. Cada uma tem um bolso certo encaixam em um grupo específico. O com-
para se alojar, metodicamente, todos os dias. portamento deles varia a depender do tipo
DANIEL MARENCO/AGÊNCIA O GLOBO
tem outras prioridades. Celso de Mello gosta fessores. Claro, não levo nenhum caso con-
de examinar os processos sozinho. Ele é um creto. É bom para eu sentir o termômetro
dos ministros que mais levam tempo para da comunidade jurídico-acadêmica.”
tomar decisões. Costumava virar madruga-
das no tribunal ao som de música clássica,
regadas a litros de café forte. Agora, por re-
comendação médica, tem deixado o tribunal
Q uando recebe um processo importante,
Gilmar Mendes age diferente: chama
toda a equipe para sua sala e faz um
um pouco mais cedo. “Alguns temas se repe- “brainstorming”, na definição de um asses-
tem, então já há uma jurisprudência consoli- sor. “Ele escuta dos estagiários ao juiz, ou-
dada, sedimentada. Mas há temas novos, en- ve todo mundo. Pode ser a maior bobagem
tão é preciso refletir sobre eles. É preciso dita, ele ouve.” Quando os processos são
analisar, ver se aquela posição é compatível de grande impacto, Mendes também pede
com a maneira que cada um tem de ver o à equipe pesquisas com decisões tomadas
mundo. Eu gosto de elaborar os textos”, con- em outros países. Ele ouve, ainda, especia-
tou no ano passado a ÉPOCA. listas sobre temas mais áridos, como os
Cármen Lúcia também gosta de elaborar processos tributários. Quando o processo é
sozinha suas decisões quando o caso é de constitucional, o ministro decide de forma
muita relevância. Em processos triviais, ela mais solitária. Autor de livros que são refe-
passa a recomendação para um assessor, que rência no ramo do Direito, ele é tido como
elabora um texto-base. Depois, ela revisa. “A um dos maiores juristas do país. Dias Tof-
decisão final é sempre dela”, contou um dos foli, atual presidente do Tribunal, também
funcionários do gabinete. Fachin tem muitos gosta de conversar com os assessores, mas
processos no gabinete em decorrência da La- não com todos juntos. Normalmente, cada
va Jato. Professor de Direito Civil, ele foi sor- um fica responsável por um tipo de pro-
teado relator dos processos sobre desvios da cesso, sob a orientação do ministro. Quan-
Petrobras em fevereiro de 2017, no mês se- do um processo é trivial, seus assessores redi-
guinte à morte de Teori Zavascki. Como não gem o voto, e cabe a Dias Toffoli apenas revi-
era especialista em Direito Penal, foi um sar o texto. Quando o assunto é muito im-
grande desafio. Por isso, ele solicitou a ajuda pactante, escreve tudo sozinho. “Quem deci-
de juízes que já haviam auxiliado Zavascki. O de é ele, mas ele sempre pergunta: ‘O que você
processo decisório de Fachin é típico de um acha? Assim está legal? Tem alguma outra su-
acadêmico. Primeiro, ele determina como se- gestão?’. Ele tem esse debate com os assesso-
rá a decisão. Costuma escolher uma solução res”, contou um integrante da equipe. Quan-
que já defendeu em causas anteriores. De- do Toffoli não é o relator do processo, leva
pois, pede à equipe uma pesquisa com de- para o plenário anotações para votar na hora,
cisões no sentido contrário, para se certificar de improviso. Quando um processo de sua
de que sua opção é mesmo juridicamente viá- relatoria é levado ao plenário, o ministro tem
vel e que está apto para rebater o argumento por hábito antecipar o voto para os colegas,
de colegas que votem no sentido oposto. para facilitar na hora do julgamento.
Magistrado desde 1990, Lewandowski Antecipar o voto é um símbolo de defe-
revelou que usa a intuição. “Um juiz expe- rência ao colegiado que perdeu força nos
riente é como um médico experiente. O últimos tempos, à medida que o individua-
profissional antigo tem suas impressões e lismo da Corte passou a prevalecer. Enten-
experiências gravadas no subconsciente”, der como os ministros decidem ajuda a
disse. A depender do assunto, o ministro já compreender que o Judiciário, mais do que
tem suas convicções, vindas de decisões an- um Poder, é um organismo pulsante, resul-
teriores. Em caso de dúvida, consulta asses- tado não de uma ação coordenada, mas de
sores e pede pesquisas sobre decisões pas- métodos, convicções e rituais solitários de
sadas. Ele também conta com uma ajuda cada magistrado. Há espaço também para o
Assim que toma
uma posição sobre privilegiada: como dá aula de Direito na voluntarismo, nem sempre salutar ao
o caso a ser julgado, Universidade de São Paulo (USP) toda se- ambiente democrático. Em outra perspectiva,
o ministro Luiz Fux gunda-feira, eventualmente ouve os colegas ao se conhecerem os meandros do processo
(à esq., de pé) se reúne
com assessores sobre um assunto mais espinhoso. “Discuto decisório, fica claro que o STF, sob constante
para discutir seu voto com eles questões em tese na sala dos pro- ataque, não é terra sem lei.
48 VIDAS INTERROMPIDAS
COMO
OS
JOVENS
MORREM
VIDAS INTERROMPIDAS 49
S
empre que Enzo de Souza Carvalho, de 18 anos, subia a
ladeira rumo ao Morro do Fallet, no Rio Comprido, re-
gião central do Rio de Janeiro, sua mãe ficava desespe-
rada. A mulher, uma funcionária de uma empresa de
planos de saúde de 42 anos, ia atrás do adolescente e o
tirava de lá aos gritos e tapas. Não queria o filho an-
dando com “más companhias”. No último dia 8, entretanto, Enzo
estava na favela. Foi morto dentro de uma casa na entrada da comu-
nidade, junto a outros oito jovens, por policiais do Batalhão de
Choque. A operação, que terminou com 15 mortos em duas favelas
da região, foi considerada um sucesso pela PM do Rio.
O jovem e a mãe moravam juntos num apartamento no bairro do
Rio Comprido, colado ao Fallet. Enzo teve uma infância da classe mé-
dia baixa carioca: tinha um quarto só para ele, fazia aulas de teatro e
frequentava a piscina de clubes no bairro vizinho da Tijuca, comemo-
rava seus aniversários com festas temáticas, tinha uma cadelinha de
estimação. Em fotos publicadas nas redes sociais por seus parentes, é
possível ver o menino, ainda criança, brincando num pula-pula no pá-
tio de uma universidade carioca, onde sua avó trabalha até hoje.
Parentes afirmam que o menino passou a frequentar o Fallet
mais assiduamente após a morte do pai, por afogamento, há dois
anos. Uma parte de sua família paterna vivia no morro, e Enzo tinha
muitos amigos na favela, pois sempre estudou em escolas públicas
Enzo (no alto) e Christian no entorno da comunidade. Na época, o adolescente também come-
(acima). Mortes trágicas, çou a namorar uma moradora do morro, onde era conhecido como
o primeiro na favela, o
segundo no Centro de “olho de piscina”, por causa da íris verde, herança de uma bisavó.
Treinamento do Flamengo Perto de completar 18 anos, Enzo começou a deixar de lado os es-
tudos. Até o nono ano do ensino fundamental, teve uma trajetória
exemplar na escola. A partir daí, tornou-se relapso e passou a repetir
de ano com frequência. Angustiada, sua mãe o matriculou em aulas
noturnas na rede pública para que recuperasse o tempo perdido. De
dia, o jovem trabalhava como jovem aprendiz na universidade onde
sua avó trabalha. Precisava de dinheiro para comprar roupas e tênis.
Quando completou 18 anos, em maio do ano passado, Enzo deci-
diu: iria morar no Fallet, perto dos amigos e da namorada. Abando-
nou os estudos e o trabalho. Nos últimos dez meses, o jovem peram-
bulou por casas de parentes e amigos na favela, sem endereço certo.
FOTOS: ENZO DE SOUZA CARVALHO/ARQUIVO PESSOAL | CHRISTIAN ESMÉRIO CÂNDIDO: REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
50
Enterro dos jovens A ÉPOCA, a mãe contou que tentou, de to- vizinho Morro da Coroa e expulsaram trafi-
mortos durante operação das as maneiras, impedir que o filho saísse de cantes de uma quadrilha rival.
policial nos morros do
Fallet, do Fogueteiro e casa. “Ele se encantou com aquele mundo do O Batalhão de Choque ficou responsável
dos Prazeres, no morro. Sempre tentei mostrar que o mundo por conter a disputa no Fallet. A versão da
cemitério São João era muito maior do que aquilo lá. Sempre PM descreve um confronto com respostas
Batista, em Botafogo.
A dor silenciosa não foi que podia, eu tentava tirá-lo de lá. Chama- proporcionais da tropa. Os policiais afir-
transmitida pela televisão va-o para sair, para ir ao cinema, para viajar. mam ter recebido uma denúncia anônima
Mas ele vivia naquela fantasia. Antes de fa- de que havia traficantes escondidos dentro
zer 18 anos, eu brigava, trancava ele em casa. de uma casa na Rua Eliseu Visconti, princi-
Mas, depois, não pude fazer mais nada”, con- pal via de acesso à favela do Rio Comprido.
tou ela, que pediu para não ser identificada A casa foi cercada e iniciou-se o confronto.
por medo de represálias. Ao todo, nove homens — todos jovens de
Duas semanas antes de Enzo ser morto, 15 a 22 anos — foram feridos e, em seguida,
ela tentou convencê-lo a ir com a família e a socorridos pelos próprios PMs e levados ao
namorada para a praia em Itaipuaçu, em Hospital Souza Aguiar. No local, foram
Maricá, na Região Metropolitana do Rio, on- apreendidos dois fuzis, dez pistolas, quatro
de eles costumavam passar férias na infância granadas. Outras 11 pessoas foram presas, in-
do menino. Uma chuva torrencial impediu a cluindo Gilmar Douglas Quintanilha Braz,
viagem. A mãe não viu mais o filho. conhecido como “Gilmarzinho”, de 32 anos,
apontado pela polícia como um dos chefes
hospital mostram que quatro das vítimas do, na hora errada”, disse a mãe de Enzo,
foram atingidas por tiros nas pernas. Um que saiu do encontrou aos prantos.
dos mortos foi baleado no rosto. Outro As famílias dos 15 jovens mortos duran-
chegou sem roupas ao hospital. Nenhum te a operação não negam o envolvimento
PM que participou da ação foi ferido. deles com o tráfico de drogas da favela,
Na residência que foi alvo da operação, mas dizem que os jovens se renderam e ne-
mora uma família pobre com uma idosa e gam que eles tenham trocado tiros com a
uma criança, que estavam em casa no momen- polícia. “A polícia tem de prender, e não
to da operação e foram expulsos do local para exterminar jovens rendidos”, afirmou uma
que os agentes entrassem. A casa parece um parente de um dos jovens.
cenário de filme de guerra: tem mais de 40 Testemunhas afirmaram que uma dupla
marcas de disparos, espalhadas por todos os de irmãos mortos juntos, dentro de casa, em
cômodos. Paredes e portas foram perfuradas, outro ponto da favela, foi torturada por 40
vidros foram quebrados. A família que vive ali minutos pelos PMs antes de ser assassinada.
quer agora ser indenizada pelo Estado. Maikon e David Vicente da Silva, de 17 e 22
Em seu perfil oficial numa rede social, a anos, dormiam em casa quando a mãe saiu
PM comemorou o resultado da operação: “Não para ir ao supermercado. Quando voltou, os
iremos parar. Conte com a Polícia Militar!”. dois já haviam sido levados ao hospital pe-
los policiais. “Não dá nem para falar que
PILAR OLIVARES/REUTERS
Interior da casa em que
polícia disse ter entrado
em confronto com jovens
ligados ao tráfico. Mais
de 40 buracos de balas
só nas paredes
Parentes e amigos de
Christian Esmerio durante
o enterro do jogador
do Flamengo e da seleção;
homenagem em campo
e nome lembrado na camisa
do clube que amava
FOTO: RICARDO MORAES/REUTERS
54 VIDAS INTERROMPIDAS
H
á o costume, nas divisões de Torres, entre 2010 e 2012, para dar lugar ao
base dos clubes de futebol, de Parque Madureira, projeto da prefeitura do
se referir ao ano de nasci- Rio na esteira dos Jogos Olímpicos de 2016.
mento — e não à idade atual O endereço de Christian mudou para as
dos atletas — para facilitar imediações do Morro da Congonha e do
sua identificação no espaço- Morro do Cajueiro, controlados por facções
tempo do esporte. A origem pressupõe uma criminosas. Nesse meio-tempo, o futebol
medida mais fiel do ponto da vida em que se deixou de ser brincadeira e virou meio de
encontram. Christian Esmério Cândido, go- vida. Christian começou no Madureira e,
leiro do Flamengo, da Seleção Brasileira e aos 8 anos, chegou a ser levado para fazer
uma das dez vítimas do incêndio no Ninho testes no Vasco. Não ficou porque faltava
do Urubu no dia 8 de fevereiro, completaria ajuda de custo em São Januário. Completar
16 anos no mês que vem. Para efeitos práti- a renda da família já era artigo de primeira
cos, no entanto, era da “geração 2003”. importância naqueles tempos.
Christian cresceu em meio a projetos es- No Madureira, onde ficou até os 13 anos,
portivos ambiciosos e remoções de moradia, o jovem goleiro chamava a atenção pelas de-
ambos alimentados pela realização da Olim- fesas e também por passagens cômicas, típi-
píada no Rio de Janeiro. Passou, no caminho cas de um adolescente inquieto. Certa vez
entre sua casa e os treinos, por flutuações nas brigou com um colega no treino e ouviu do
taxas de criminalidade e reorganizações de treinador: “Você está fora, Christian!”. Pe-
transporte. Mudou hábitos e passatempos: o gou suas coisas, foi para casa e lá ficou por
menino que brincava de goleiro na rua, com vários dias. O treinador estranhou a ausên-
meias improvisadas como luvas, redirecionou cia e foi atrás do menino. Quis saber por
sua vida e as amizades para o alojamento do que ele vinha faltando os treinos, já que ti-
Centro de Treinamento George Helal, em nha sido apenas expulso de uma atividade,
Vargem Grande, Zona Oeste do Rio, onde sua sem ter qualquer suspensão. Christian se
Artista plástico e amigos
de Arthur Vinicius, trajetória foi interrompida abruptamente. surpreendeu: “Eu achei que o senhor tinha
jogador do Flamengo Com seus pais, Cristiano e Andreia Cân- dito que eu estava fora do Madureira”.
morto na sexta-feira, dido, e o irmão mais velho, Cristiano Junior, Na época, parentes e funcionários do clu-
grafitaram homenagem
em muro vizinho ao colégio Christian formava uma das cerca de 1.000 be ficavam preocupados com o trajeto de 1,5
em que ele estudou famílias removidas da comunidade Vila das quilômetro feito por Christian de casa até a
AGÊNCIA O GLOBO
VIDAS INTERROMPIDAS 55
Rua Conselheiro Galvão, onde fica o está- “Ele estudava em um colégio lá dentro mes-
dio do Madureira. Os embates entre trafi- mo, tinha internet, videogame, TV, comida,
cantes dos vizinhos Morro da Serrinha e tudo. Aí a carreira decolou.”
Morro do Cajueiro, de facções rivais, causa-
vam constantes tiroteios e operações policiais
na região. Quando finalmente ganhou sua
chance no Flamengo, em 2015, a preocupa-
G oleiros costumam dizer, em tom resig-
nado, que sua posição é ingrata. O pro-
tagonismo só vem junto com sofrimento,
ção aumentou: embora a estação do BRT quando atacantes rivais bombardeiam o gol e
Transcarioca, inaugurada meses antes, facili- o camisa 1 é a última resistência à explosão de
tasse o deslocamento, Christian tinha de alegria do adversário. Mesmo assim, Christian
acordar às 4 horas da manhã, caminhar por raramente era visto sem um sorriso no ros-
ruas desertas e depois ainda pegar outro ôni- to. Em 2018, acumulou convocações para as
bus até o Ninho do Urubu. A vida pareceu seleções sub-15 e sub-17. Também brilhou
ficar mais fácil quando o Flamengo acolheu pelo Flamengo, defendendo um pênalti na
o menino no alojamento da base. Até uma final do Carioca Sub-15 e garantindo o título
As relíquias certa rebeldia com os estudos foi sanada. rubro-negro diante do Fluminense.
guardadas pela “Quando ele se mudou para o Ninho do As comemorações pelas taças e conquistas
família de Arthur
Vinicius: medalhas, Urubu, foi como passar da água para o vi- pessoais eram efusivas, mas o jovem goleiro
prêmios e bola nho”, contou Alan Silva, tio de Christian. também fazia questão de mostrar à família que
a felicidade era diária. Quase diariamente,
AGÊNCIA O GLOBO
Christian compartilhava pelo WhatsApp
vídeos de brincadeiras com colegas no aloja-
mento. Algumas vezes, pregavam peças uns nos
outros — uma recorrente era remover o estra-
do da cama de um colega antes que se deitasse.
Em outras, mandavam recados para familiares
e namoradas. A rotina de treinos e isolamento
do futebol não endurecia os jovens atletas.
“Eram crianças, estavam brincando de tra-
balhar”, disse Thiego Santos, amigo da família
e um dos muitos ombros amigos na carreira
de Christian. “E tudo era para dar o melhor a
seus familiares. O Christian só falava em cres-
cer na vida no sentido de ajudar os pais.”
Christian, da “geração 2003”, passou a
noite de quinta para sexta-feira no CT do
Flamengo por causa da amizade com Arthur
Vinicius, zagueiro da “geração 2004”. Arthur,
zagueiro, vinha seguindo os passos de
Christian e já tinha conseguido convocações
para a seleção sub-15. Ele faria aniversário
no sábado. Como passava a semana longe da
família, natural de Volta Redonda, alguns jo-
vens da base rubro-negra se mobilizaram
para fazer uma festa surpresa na manhã da
sexta-feira. No dia seguinte, Thiego e o em-
O FOGO NO CENTRO DE TREINAMENTO presário Renan Costa buscariam Christian
DO FLAMENGO COMEÇOU APÓS para revelar sondagens de clubes europeus.
UM CURTO-CIRCUITO NO SISTEMA O primeiro contrato profissional, com o
DE AR-CONDICIONADO NOS Flamengo, seria assinado no dia 5 de março,
CONTÊINERES QUE ABRIGAVAM aniversário do goleiro. Neste caso, a idade
JOGADORES. O MATERIAL INFLAMÁVEL era mais importante do que ser da “geração
DE REVESTIMENTO ACELEROU 2003”: Christian precisava completar 16
A PROPAGAÇÃO DAS CHAMAS anos para assinar o vínculo.
56 CONCORDAMOS EM DISCORDAR
MARTINS×SILVA
L’HUMANITÉ, O HISTÓRICO
JORNAL DA ESQUERDA FRANCESA,
SE AFUNDA EM DÍVIDAS
E PEDE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
por Fernando Eichenberg, de Paris
mbolle@edglobo.com.br
JMeioquanto
air Bolsonaro tuíta bobagens do leito hospitalar en-
o país sofre com suas tragédias. O ministro do
Ambiente descarta Chico Mendes e o chama de gri-
O problema é que com essa fala
pé no chão Guedes parece um turista
leiro. A turma mais assanhada do governo ataca a Igreja acidental no governo Bolsonaro.
Católica, porque, afinal, no mundo da direita religiosa ul-
traconservadora, o catolicismo agora é “de esquerda”. Pa- Transcorrido mês e meio após a posse, o governo Bolsona-
pa Francisco fica chateado, mas, como na definição de ro nada mostrou até agora além de tuítes, muitos ministros
Paulo Guedes esquerdistas “têm bom coração”, tudo é despreparados, filhos que se julgam presidentes da Repú-
perdoável. Armar a população é a solução para todos os blica paralelos pelo sangue e pelo DNA, ideólogos alucina-
problemas de violência e fim de papo. Miolo mole tem dos que vociferam contra os demônios que habitam suas
quem não acredita em nada disso. O corolário é que miolo cabeças. Em meio a essa balbúrdia, nada sabemos de con-
mole é o que têm os generais... creto ainda sobre a reforma da Previdência. Primeiro nos
Troças à parte com um governo que pede para que disseram que a reforma seria desvelada após a posse. De-
sejam feitas dia sim, outro também — olha a semelhança pois avisaram que o anúncio seria feito em Davos. De-
com o dilmismo aí, gente —, li a entrevista de Paulo Gue- pois... bem, depois não disseram mais nada. Evidentemen-
des para o Financial Times. O ministro, claramente, gosta te, Paulo Guedes está trabalhando na reforma, quiçá já te-
de um bom sound bite: “O Brasil precisa de uma peres- nha até todos os detalhes alinhavados. Contudo, qualquer
troika”; “Pessoas de esquerda têm miolo mole e bom co- reforma, sobretudo uma com a envergadura da reforma da
ração. As pessoas de direita têm a cabeça mais dura e... o Previdência, precisa de um fiador político. Quem é o fia-
coração não tão bom”; criar-se-á no Brasil uma “socieda- dor político da reforma? Bolsonaro hospitalizado que in-
de popperiana aberta”; “Éramos uma democracia de sistiu em trabalhar e despachar nestas últimas semanas até
uma perna só”; “Passei toda a vida gerando alfa e vendo agora não disse palavra sobre a reforma da Previdência.
governos sucessivos destruírem beta. Agora quero me- Inquieto, o vice Mourão defendeu as reformas econômicas
lhorar o beta brasileiro”. Confesso que, após ler esses tre- acima de tudo, para o enorme desagrado dos religiosos
chos, sobretudo a fala de operador de mesa, bateu sauda- governistas e dos filhos atiçados.
de visceral da mesóclise. Vai dar em que este governo Bolsonaro? Difícil saber,
Dito isso, a entrevista não foi ruim. Guedes destacou mas por enquanto arrisco um palpite: é possível que a eco-
corretamente o isolacionismo comercial brasileiro que nomia caminhe razoavelmente bem — nenhuma maravi-
impede ganhos de produtividade, transferências tecno- lha, mas o suficiente para justificar o sentimento de que o
lógicas e investimentos como trava que deve ser remo- Brasil volta aos trilhos pouco a pouco. No mais, acredito
vida imediatamente. Acusou o clientelismo inerente às que teremos um show ininterrupto de miolos moles falan-
ineficiências de um Estado excessivamente intervencio- tes. Como venho dizendo, cabe aos generais garantir que a
nista pelo engessamento e pela disseminação da corrupção moleza dos miolos fique restrita às declarações estapafúr-
no país. Afirmou que as reformas econômicas precisam dias repletas de espécie de ideologia incoerente sobre a po-
dar atenção à redução dos privilégios, inclusive para que se lítica externa brasileira, a política educacional, a política
possam enfrentar com mais coerência os problemas de de- para o meio ambiente, as políticas para os direitos huma-
sigualdade. Mostrou ser realista em relação às inevitáveis nos. Caberá aos generais garantir que as maluquices fi-
restrições políticas que terá pela frente e reconheceu que quem circunscritas à retórica. Ao menos assim teremos
consertar a economia brasileira não será tarefa fácil. algum divertimento nos próximos quatro anos.
64
STEPHANE GRANGIER/CORBIS
9 PERGUNTAS PARA GUILLUY 65
2. mas não produz sociedade — isto é, não integra a maioria das pessoas.
O que liga os Estados Unidos de Trump à França dos coletes amarelos?
O eleitorado de Trump e os coletes amarelos têm as mesmas condições
sociológicas e geográficas. Os Estados Unidos que elegeram o republi-
cano são a antiga classe média do país, trabalhadores que estavam inte-
grados na economia, muitas vezes no Cinturão da Ferrugem, e que
deixaram de ter condições econômicas e sociais favoráveis. Eu os cha-
mo de os Estados Unidos periféricos, em referência a essas populações
em territórios rurais. Também foi o caso do Brexit no Reino Unido,
apoiado pela antiga classe média, nesses mesmos territórios rurais. O
movimento populista nos países desenvolvidos tem sempre a mesma
geografia, é sempre sustentado pela antiga classe média, distante das
metrópoles. Essa geografia não é a da pobreza. Há pobres entre esses
setores, mas há também partes das classes populares que são muitas
vezes invisibilizadas. Colocam-se sobretudo os imigrantes, que são os
novos pobres, na frente delas, ocultando os demais. Os pobres são as-
sim instrumentalizados pela burguesia para se proteger das classes po-
pulares, como se estas não pudessem exigir mais proteção social ou sa-
5. Primeira vez?
está embaixo. É a primeira vez na história que isso acontece.
ARQUIVO PESSOAL
Em 1965, a coluna noticiou que o escri-
tor francês Jean Cocteau abrira uma expo-
sição em Paris. Ele chegou ao escritório e,
calmo, disse:
“O Cocteau morreu há dois anos, e o
anafabelo sou eu.”
O Turco era perseguido pela fama de
não escrever o que publicava e de não sa-
ber português ou qualquer outro idioma.
Incomodava-se, mas levava a fama com
humor. Quando anunciou que escreveria
um livro sobre sua visita à União Soviética,
Sérgio Porto, seu maior algoz, sugeriu que
o título fosse 000 contra Moscou. Esse era o
tempo em que James Bond fazia sucesso
com o filme 007 contra Moscou. Sugestão
aceita, e 000 ficou.
Ibrahim escrevia direto, sem cuidado al-
gum, porque sabia que seus textos seriam
corrigidos pelo fiel “Fernandão”. Havia no
Turco uma disfunção verbal. Certo dia ele
produziu a seguinte frase:
“O Mike Krimchatowsky está maluco.
A o longo de 13 anos Ibrahim foi um bom
amigo de Boechat. Chamava-o de “Chi-
ta”, sabe-se lá por quê. Fizeram algumas via-
Ricardo Boechat
e o colunista Ibrahim
Sued trabalharam
juntos de 1970 a 1983
Disse que durante a guerra derrubou 17 gens juntos, e as idas a Paris foram memorá-
Massachusetts.” veis. Afinal, o filho de imigrante libanês que
Deveria ter dito Messerschmitts, mas viveu a pobreza no velho centro do Rio de
pronunciou direito as saladas de letras de Janeiro era um cavaleiro da “Légion d’Hon-
Krimchatowsky e Massachusetts. neur” e, desde o dia em que colocou a fiti-
Fechada a coluna, o velho Sampaio — nha vermelha na lapela, nunca mais senta-
passador das roupas de Ibrahim desde o ram-no na Sibéria dos restaurantes franceses.
tempo em que ele tinha dois ternos — saía Boechat aprendeu tudo e, anos depois,
pela cidade levando as cópias para as reda- tornou-se o principal colunista de O Globo.
ções. Ia de ônibus, puxando a perna com- Sua marca foi a daquele escritório: a notícia
prometida por um AVC. A presença de pura e simples, se possível, com alguma gra-
Sampaio no escritório do Turco era uma ça. Na Band, ele acrescentou sua desassom-
das mostras de sua enorme generosidade. brada contundência com uma naturalidade
Com alguma frequência, Ibrahim leva- que, tanto na televisão como no rádio, mos-
va seu assecla para uma sauna no Copaca- trava que havia ali um grande jornalista. Re-
bana ou para a mesa cativa que tinha no pórter pode não acreditar em Deus, mas
falecido restaurante Le Bec Fin. Era uma tem uma alma especial.
roda de amigos onde o pior que poderia
acontecer era o aparecimento de um Elio Gaspari trabalhou com Ibrahim Sued
“chumbeta” que puxasse conversa para de 1965 a 1967, foi o autor da nota da exposição
de Jean Cocteau e teve a amizade do Turco
tentar plantar uma nota na coluna. A e de Boechat até que eles se foram, um em 1995,
paciência do Turco esgotava-se. o outro na última segunda-feira
H.G.
71
hgurovitz@edglobo.com.br
@gurovitz
VENDEDORA DE 28 ANOS
RESGATOU MOTORISTA
DE CAMINHÃO QUE SE
CHOCOU COM HELICÓPTERO
por Leiliane Rafael da Silva
em depoimento a Sérgio Roxo
ELA AGIU,
ENQUANTO
ELES
FOTOGRAFAVAM
E u, meu marido e nossos três filhos (uma
menina de 8 anos, um menino de 4 e um
bebê de 4 meses) vivemos parte dos dias da
aula à tarde. Quando a gente estava passan-
do próximo ao Morro Doce (bairro localiza-
do às margens da estrada), falei para meu
semana na casa de minha sogra em Cajamar marido: “Nossa, aquele helicóptero está
(cidade da Grande São Paulo) e parte na casa muito baixinho. Acho que vai pousar na
de minha mãe, em Pirituba (bairro da Zona pista”. Não tinha nenhum barulho diferente
Oeste de São Paulo). Por isso, a gente pega nem soltava fumaça. Ele disse: “Não vai,
sempre a Anhanguera (rodovia onde caiu o não”. Eu falei: “Vai, sim”. Eu nunca tinha
helicóptero que transportava o jornalista Ri- visto um helicóptero de perto.
cardo Boechat). Na segunda-feira (dia do aci- Ele passou por cima de nós, e, quando
dente), acordei na casa de minha sogra às eu olhei para trás, vi uma pessoa pulando.
9h30. Tomamos café da manhã e, por volta A parte da frente estava mais baixa do que
das 10h20, eu e meu marido saímos de moto a de trás. Depois, o helicóptero se chocou
para levar nossas coisas até a casa de minha com a carreta que estava saindo do Rodoa-
mãe. As crianças ficaram com uma amiga nel e já explodiu. A batida foi bem de fren-
minha. Não temos carro, então a gente foi te na cabine. Um pedaço do helicóptero
de moto mesmo, levando bolsa, sacola e coi- caiu perto da mureta de divisão das pistas e
Leiliane Rafael sas do bebê penduradas. Eu estava na garu- um outro pedaço em cima da pessoa que
da Silva socorre pa. Chegamos a Pirituba, deixamos as coisas havia pulado. Eu falei para meu esposo:
o caminhoneiro, que e pegamos a moto para voltar. Em Cajamar, “Para a moto”. Ele voltou pelo canto da pis-
depois a abraçou
e a chamou de seu apanharia as crianças e seguiríamos de ôni- ta na contramão. Desci, arranquei o capace-
anjo da guarda bus para Pirituba. Os dois maiores tinham te e saí correndo em direção ao caminhão.
MONTAGEM SOBRE REPRODUÇÃO
74 VIVI PARA CONTAR
Preocupado, meu marido ainda tentou me Ajudei a socorrê-lo mais uma vez. Os poli-
segurar, mas soltei o braço dele. O motorista ciais o colocaram na viatura e o levaram para
do caminhão estava vivo, felizmente. Ele me o hospital. Fiquei preocupada. Depois de tu-
falou que não sentia as pernas, que estavam do que fizemos para salvá-lo, não queria que
presas nas ferragens. Estava caindo muita nada acontecesse. Mais tarde, fui até o hospi-
gasolina no chão. Pensei que poderia explo- tal para ver como ele estava. Ele me abraçou
dir novamente. Falei para o moço: “Vou ti- e disse que eu sou seu anjo da guarda. Falou
rá-lo daqui”. Ele começou a ficar nervoso. que eu o tinha salvado na estrada e depois
Peguei uma faca com o pessoal que estava na delegacia. Eu respondi que ele que é meu
trabalhando na limpeza do mato da estrada anjo da guarda porque, se não fosse o cami-
e cortei o cinto. Com o capacete consegui nhão, o helicóptero teria caído em cima da
quebrar o para-brisa porque a porta da cabi- nossa moto e nós teríamos morrido.
ne do caminhão estava emperrada e a gente
não conseguia abrir. Tinha gente que grita-
va: “Doida, sai daí porque vai explodir”.
Mas eu queria salvar aquela pessoa.
Q uando já estava escurecendo, fui até a
casa de minha sogra pegar meus filhos.
Minha amiga que estava cuidando deles con-
Meu marido veio me ajudar e consegui- tou que o Alexandre (de 4 anos) me viu na
mos afastar o painel do caminhão que havia televisão e ficou chorando para eu ir para
se soltado com a batida e prendia o motoris- casa. Peguei as crianças e fomos para Piritu-
ta. Em seguida, conseguimos tirá-lo. Leva- ba de carro de aplicativo. Quando cheguei à
mos o motorista até o gramado no canto da casa de minha mãe, desabei. Comecei a cho-
estrada. Ele me falou que precisava da agen- rar, chorei bastante. Coloquei as crianças na
da e do celular que estavam na cabine para cama, mas não consegui dormir. Estava com
avisar a empresa e a família sobre o acidente. uma tosse forte, acho que por causa da fu-
Voltei lá, peguei e entreguei para ele. Depois, maça que inalei. Passei a noite em claro.
fui na direção do helicóptero. Vi uma pessoa Não sei se pelo nervoso que tinha passado
no meio do fogo com a mão levantada pe- ou por causa do café. Eu tenho um vaso san-
dindo ajuda. Cheguei bem perto, ia pegar na guíneo entupido na cabeça por causa de
mão dele, mas os funcionários da concessio- uma malformação de nascença e preciso ser
nária (que administra a rodovia) não deixa- operada. A recomendação é não passar es-
ram, porque diziam que eu me queimaria tresse, porque esse vaso pode romper, mas
junto. A pessoa já estava em chamas, e eu na hora do acidente nem pensei nisso. Vi os
não poderia fazer mais nada. Falaram tam- vídeos que as pessoas fizeram na hora do
bém que poderia acontecer uma nova explo- acidente e percebi que realmente corri muito
são. Realmente, logo em seguida, ocorreu risco, mas não me arrependo. Lamento não
uma nova explosão e acho que aí essa pessoa ter ajudado mais. Acho que a gente tem
que pedia ajuda acabou morrendo. sempre de ajudar o próximo. Faz parte do
Não senti medo. Só queria saber de aju- meu instinto. Se eu vejo duas pessoas bri-
dar. Nunca tinha passado por nada nem pa- gando na rua, tento separar. Quando fiquei
recido com isso. Fui para a delegacia em se- internada, ajudava os outros pacientes, tro-
guida e, só mais tarde, soube que o jornalista cava fraldas. Quero agora fazer minha cirur-
(Ricardo Boechat) estava no helicóptero. Na gia para resolver esse problema que tenho
delegacia, o motorista (João Adroaldo To- na cabeça e poder voltar a trabalhar como
manckeves) passou mal e chegou a desmaiar. vendedora, como sempre fiz.
75
VENES CAITANO
A ORIGEM
DAS
GRACINHAS
O quarto de uma série
de dez textos sobre
como nasceram os
emojis, a linguagem
dos tempos modernos
por Keith Houston
tradução de Matheus Rocha
se juntou ao conselho em 2015, faz de sua bem-intencionadas que possam ser e desinte-
participação uma forma de promover a cul- ressadas que tentem ser — assume a respon-
tura dos escritos árabes. Mais especificamen- sabilidade pela linguagem do mundo informa-
te, o país deseja que a Unicode conserte o cional. Infelizmente para a Unicode, os emojis
modo como codifica certos caracteres pre- fizeram alargar as possibilidades de críticas.
sentes no Alcorão. Bangladesh e Índia, que
ingressaram em 2010, usam o espaço para
defender o alfabeto do subcontinente india-
no: algumas letras bengalis são pesadas de-
C omo vimos, a grande missão da Unicode
Consortium é elaborar um único núme-
ro para cada caractere que faça parte da es-
mais para ser usadas, enquanto o tratamento crita humana. Com os símbolos do Unicode
dado pela Unicode ao alfabeto indiano tem 1.0 retirados de uma coleção de caracteres já
atraído críticas por uma variedade de razões existentes, como o americano Ascii, o japo-
técnicas. Tâmil Nadu se juntou ao grupo um nês Shift-JIS e, meu predileto, o Spellbinding
ano mais tarde, em parte para estimular a Gost 10859-64, da antiga União Soviética, a
Unicode a melhorar o tratamento dispensado pergunta de lá para cá é: quais novos carac-
à região e em parte para provocar o governo teres devem se admitidos?
federal indiano, com quem tem uma rixa so- Para um caractere textual, como os que
bre codificação. Além disso, Andhra Pradesh, encontramos no corpo de um e-mail ou no
outro estado indiano, foi membro de 2011 a texto de um livro, o preço para entrar é rela-
2014, quando esperava melhorar o perfil e a tivamente baixo. É necessário estar em uso e
interoperabilidade de seu alfabeto, o telugu. deve ser um único caractere indivisível. Ima-
Um cínico poderia olhar para tudo isso e gine, por exemplo, que você queira digitar
se perguntar: teriam a Índia e a Península uma fictícia (e incrível) letra g̈ com uma úni-
Arábica sido abençoadas com governos com ca tecla em um dos milhões de aparelhos que
preocupações altruístas, que se uniram à estão de acordo com os padrões da Unicode
Unicode em uma demonstração de pureza ao redor do mundo. Você submete uma pro-
de seus corações? Ou seria plausível supor posta à organização — e eles rejeitam sumaria-
que a Unicode não seja sempre a melhor es- mente, porque língua alguma do mundo usa g̈.
colha na hora de lidar com alfabetos não la- Mesmo que seu amado g com trema existisse
tinos? Vale lembrar que a Unicode também na vida real, a Unicode rejeitaria da mesma
ficou sob fogo cruzado na China, no Japão e forma, porque a letra poderia ser criada com-
na Península Coreana ao se tornar a porta- binando a letra latina G minúscula (g) e o
bandeira da unificação linguística dessas três caractere que indica a diérese (¨).
regiões. A proposta é um esforço controver- No que se refere ao que podemos cha-
so para reduzir o número de caracteres ne- mar de símbolos — caracteres incluídos ao
cessários para representar o alfabeto desses redor do texto, mas que não são inteira-
povos. A ideia de unificação é conduzida mente parte dele —, as coisas ficam mais
pelo Grupo de Relatório Ideográfico, uma complicadas. Os símbolos na fonte Zapf
comissão que, embora independente, está li- Dingbats e em outras fontes Pi foram inte-
gada ao assunto. No entanto, o carimbo da grados à Unicode 1.0 sem que fossem feitas
Unicode nos trabalhos do grupo o tornou muitas perguntas. Mas, de lá para cá, a em-
suscetível a efeitos colaterais. presa se tornou mais exigente, e qualquer
Esses são problemas que nascem quando proposta de inclusão precisa passar por um
um pequeno grupo de pessoas — por mais rosário de critérios. O caractere já está sen-
TRADUZINDO EM IMAGENS 79
Exemplos de carinhas
uma comunidade de usuários?
A Unicode entende que os emojis de
Shigetaka Kurita são símbolos, e eles reú-
O caráter incerto do emoji é algo que a
própria Unicode ajudou a construir.
Nos quatro anos que separam a Unicode
do sistema-padrão versão
11.0 da Unicode nem todos os requisitos positivos ao mes- 6.0, quando o emoji entrou pela primeira
vez no sistema-padrão, e a publicação da
Unicode 7.0, em 2014, o organismo ignorou
fortemente os ícones. Apenas duas figuras
foram adicionadas em 2014. A carinha com
um discreto sorriso e um rosto com uma le-
ve cara feia. A intenção era completar as ca-
tegorias de satisfação presentes nos banhei-
ros de aeroportos, que eram formadas por
. Em 2015, no entan-
to, apenas um ano depois, a nova Unicode
8.0 incorporou nada menos que 41 emojis.
Entre eles havia carinhas ( ); ani-
mais ( ); lugares sagrados ( );
materiais esportivos ( ); e muitos ou-
tros. Foi anunciada uma grande mudança
no modo como a Unicode tratava os emojis,
uma reviravolta com a qual a companhia
ainda está aprendendo a lidar.
Logo após lançar a Unicode 7.0 com um
insignificante acréscimo de rostinhos,
Mark Davis e Peter Edberg, respectivamente
o presidente e o diretor técnico da Unicode,
veicularam uma circular sobre a situação
dos emojis. Eles escreveram: “Os emojis se
tornaram extremamente populares. Ainda
assim, o modo como a Unicode decidiu re-
presentá-los deixou muitas pessoas confu-
sas ou desapontadas”.
Eles não estavam equivocados. O emoji
havia ganhado grandes proporções desde
sua estreia, em 2010, mas era visível que
os usuários estavam insatisfeitos com a ofer-
ta de ícones. Além do mais, como Davis e
Edberg explicaram, os usuários estavam
confusos com a aparente arbitrariedade dos
COPYRIGHT © 1991-2018 UNICODE, INC. ALL RIGHTS RESERVED.
80 TRADUZINDO EM IMAGENS
emojis em seus teclados — sem mencionar a aceito no Unicode se ele preencher uma
injustiça de toda aquela situação. ausência clara — como nos esportes lista-
Para começar, havia a predominância de dos —; se a Unicode Consortium achar
ícones ligados ao Japão, como trem-bala, que ele será popular — com base em
( ), criaturas do folclore japonês ( )e hashtags ou outros medidores —; ou se a
símbolos culturais ( ), tudo isso em empresa tiver certeza de que vai ser popu-
detrimento de símbolos semelhantes de ou- lar — porque muitas pessoas estão pedindo
tros países. Profissões, como a de construtor, por ele. Emojis muito gerais, muito especí-
policial, dançarina ( ), eram retra- ficos ou modismos são rejeitados.
tadas dentro de um estereótipo masculino ou O que isso significa é que emojis agora
feminino, e, da mesma forma, a imagem de estão sujeitos a um tipo de evolução dirigi-
casais e famílias era elaborada dentro de con- da, que ocasionalmente dá errado. Qual-
ceitos heterossexuais ( ). Não havia quer pessoa suficientemente motivada pode
também qualquer variação nos tons de pele. simplesmente puxar sardinha para seu lado.
Carinhas sorridentes e pequenas figuras hu- A ex-jornalista do New York Times Jennifer
manas eram desenhadas com um tom irreal Lee fez exatamente isso ao propor um emo-
de amarelo, mas estava nítido que não havia ji de bolinho chinês, uma comida mundial-
emojis de cores mais escuras. Por fim, as pes- mente reconhecida, cuja ausência era um
soas queriam mais emojis: Edberg e Davis ci- dos grandes pontos cegos em relação à cul-
taram artigos do site BuzzFeed, de revistas tura. Por outro lado, quando o produtor de
como New York Magazine e Business Insider rádio Mark Bramhill defendeu a inclusão
em que, eles afirmaram, havia uma consistên- de uma pessoa em posição de lótus, ele não
cia surpreendente de pedidos por símbolos. fez isso por altruísmo, mas sim para forne-
Tudo isso obrigou a Unicode a dar um cer material para um episódio de um pod-
passo sem precedentes e abrir o sistema de cast popular de design chamado 99% Invisi-
padrões a novos emojis, um luxo negado a ble. Motivos equivocados como esse são
todos os ícones anteriores e posteriores. Nos abundantes no caso de companhias que pe-
preparativos da publicação da Unicode 8.0, dem para consumidores fazerem lobby em
os próprios Edberg e Davis acrescentaram seu nome. A Taco Bell produziu uma cam-
vários emojis novos na esperança de preen- panha colaborativa na qual estimulava seus
cher os buracos mais flagrantes do sistema. frequentadores a tuitar em apoio ao emoji
Entre os novos símbolos, havia esportes que de taco que acabou sendo adicionado à
não eram originários do Japão, como o crí- Unicode 8.0. A Durex, por outro lado, fa-
quete ( ), hóquei no gelo, hóquei sobre lhou ao tentar angariar o mesmo nível de
grama ( ), tênis de mesa ( ) e bad- apoio para um emoji de camisinha.
minton ( ). Foram acrescentados itens ali-
mentares como taco ( ), uma garrafa de
champanhe ( ) e queijo ( ), que haviam
sido sugeridos em artigos de revista e cam-
O rganizações sem fins lucrativos também
veem emojis como alternativa à propa-
ganda tradicional. Em 2016, um grupo cul-
panhas publicitárias. Além disso, o mais sig- tural catalão fez uma petição ao WhatsApp
nificativo, incorporaram-se cinco caracteres para adicionar um emoji do tradicional por-
“seletores”, que mudavam a cor de pele dos rón catalão, ou frasco de vinho, sem perce-
emojis existentes. De Shervin Afshar, da ber que a Unicode Consortium seria uma
HighTech Passport, Ltd., e Roozbeh Pourna- aposta melhor. Outros lugares, como Escó-
der, do Google, veio a proposta de acrescen- cia, Inglaterra e Gales, receberam recente-
tar símbolos religiosos, como terços, a Caa- mente sua própria bandeira em formato de
ba, uma sinagoga, entre outros. emoji depois de uma proposta bem-sucedi-
O resultado foi uma grande expansão no da de Owen Wilson, um jornalista galês. Pa-
conjunto de emojis na versão 8.0 da Unico- trocínio corporativo e propaganda regional
de, formalmente aprovada em 2015 e dispo- colidiram quando a companhia espanhola
nível nos smartphones e computadores no Fallera alistou o comediante Eugeni Ale-
final daquele ano. A comporta estava aberta. many para promover um emoji de paella. A
Nesse novo mundo de emojis sugeridos campanha #PaellaEmoji resultou na aprova-
por usuários, um novo símbolo pode ser ção da ideia pela Unicode, mas o emoji re-
TRADUZINDO EM IMAGENS 81
REPRODUÇÃO
A campanha sultante fez algumas pessoas torcer o nariz textos e lemos sites sem nos preocupar com
#PaellaEmoji, promovida quando a Apple não exibiu os ingredientes a forma como nossas letras e palavras fo-
por uma empresa
espanhola, conseguiu tradicionais, como coelho e feijões-verdes. ram armazenadas ou comunicadas. Isso
incorporar o símbolo Esse tipo de caso ilustra como emojis dife- não quer dizer que os fabricantes de com-
do tradicional rem de outros caracteres. Caso seu pedido de putadores e softwares não estivessem se es-
prato valenciano
à linguagem digital emoji tenha sido aprovado pela Unicode, você forçando para fazer tudo isso funcionar,
terá pouco a dizer sobre como ele se parecerá mas, hoje em dia, graças à Unicode, a situa-
quando for ao mundo. Em um universo ideal, ção melhorou muito.
isso não seria um problema — afinal de con- Com o advento do emoji, entretanto, e
tas, quantos designers discordam sobre como particularmente desde a Grande Expansão
a letra “A” deveria se parecer? —, mas emojis de 2014, o público está prestando muito
se desenvolvem tão rapidamente que nada po- mais atenção. O ritmo anual da Unicode de
de ser subestimado. Em 2016, por exemplo, a trazer novas versões tem estimulado uma
Apple decidiu revisar seu emoji de arma para “estação dos emojis”, na qual comentaristas
que ele se parecesse com uma arma de água, e criticam a nova versão dos ícones que bre-
não com uma arma real. Por dois anos, a vemente aparecerão em computadores, ta-
da Apple estava de acordo com a representa- blets e smartphones. Nem toda essa atenção
ção realista das armas presentes em boa parte é positiva — a Unicode Consortium tem si-
de suas concorrentes — até que uma mudança do criticada por seus membros serem ho-
coletiva em 2018 fez com que todas as outras mens brancos antiquados; já o emoji é criti-
pistolas sofressem atualizações. Por muito cado por ser culturalmente tendencioso e
tempo, o emoji de bandeira cruzada da Sam- por carecer de representatividade —, mas a
sung ( ) mostrava a bandeira da Coreia, em ribalta tem encorajado a empresa a se refa-
vez da usual bandeira do Japão. Já durante to- zer e a refazer as pequenas figuras que con-
do o ano de 2014, o coração amarelo do Goo- trola, tudo isso sob a luz da equidade.
gle se apresentava de forma inadequada como Existem ainda rumores de que a Unicode
um coração rosa e peludo. A Unicode é um ficaria contente em sair completamente dos
sistema de padrões, já o emoji não é. negócios ligados aos emojis para poder se
voltar novamente ao trabalho de codificar os
chubner@edglobo.com.br