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Resumo: O presente artigo visa, à luz da obra Annales do historiador romano Cornélio
Tácito (55 - 120), à análise da primeira perseguição sistemática perpetrada pelas potên-
cias imperiais efrentada pelos cristãos durante o regime de Nero (54 – 68). Procuraremos
compreender não apenas o desenrolar da perseguição em si, mas o contexto e a motiva-
ção que influenciaram a inclusão deste episódio na composição dos Annales. Trataremos
também de analisar o uso de determinados termos empregados por Tácito durante a sua
narrativa e a sua relação com o pensamento do próprio autor, bem como buscaremos
compreender qual era a situação dos cristãos na capital do Império por volta do terceiro
quartel do primeiro século.
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A ideia sobre a elaboração deste artigo surgiu durante a apresentação de um trabalho pelo dicente Wil-
liam Bottazinni Rezende na disciplina História Antiga II do curso de História do Centro Universitário
Claretiano de Batatais (SP), ministrada pela Profa. Ms. Semíramis Corsi Silva.
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Mestre e Doutoranda em História pela Universidade Estadual Paulista (UNESP de Franca). Docente do
Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP). E-mail: <semiramiscorsi@claretiano.edu.br>.
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Acadêmico do curso de História pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP). Ministra palestras
e aulas sobre temas ligados à História do Cristianismo e da Igreja Católica na cidade de Pouso Alegre (MG).
E-mail: <williambottazzini@yahoo.com.br>.
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Muitas datas são propostas como marco do início do Império Romano. Para nós, o Império deve ser mar-
cado com início em 27 a.C. quando pela primeira vez um general romano passa a receber uma série de títu-
los honoríficos como o de Imperator, esse general era Otávio, conhecido também pelo título de Augusto.
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As traduções contidas neste artigo, como esta do inglês para o português, são de autoria do autor Wil-
liam Bottazinni.
apesar de sentir que o mundo está “de cabeça para baixo” – com um
certo sentimento de simpatia ele pode observar a era da “liberdade” e
admirar a época heróica da República – ainda assim ele parece estar
convencido de que o Império é uma necessidade prática, e até mesmo
benéfico para as províncias.(ENCYCLOPEDIA BRITANNICA,
1957, p. 735).
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Compreendemos Principado como o governo do Princeps (Imperador romano). Os historiadores uti-
lizam o termo Principado para referir ao período corresponde aos primeiros séculos do Império Romano
(séculos, I, II e primeira metade do III d.C.).
Conforme nos informa Joly (2004, p. 44), nos Annales, uma das
obras-primas da História escrita entre os anos 115 e 120 de nossa era,
Tácito faz uma análise do período “[...] entre a morte de Augusto (14
d.C.) e a de Tibério (37 d.C.) (seis primeiros livros), os anos 47 a 54 do
Principado de Cláudio [...] e o governo de Nero até 66”.
Segundo a historiadora Juliana Bastos Marques (2010, p. 45).
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A tradução do nome da obra Annales para o português é Anais. Em geral encontramos textos historiográfi-
cos trazendo a obra com seu título traduzido. Nós, porém, preferidos utilizar o título no original em latim,
conforme indicações do Oxford Classical Dictionary.
Como observado por Joly (2004, p. 54), há neste trecho uma alusão
de Tácito aos componentes políticos inerentes à narrativa histórica . Ob-
viamente, a pretensa imparcialidade alegada não pode ser real, uma vez
que Tácito estava inserido em um contexto e em uma camada social espe-
cíficos, que condicionava sua maneira de perceber a história.
Joly (2004, p. 55), ainda conclui que:
Então, para acabar com os rumores, Nero forjou culpados e lhes in-
fligiu as mais atrozes punições naqueles, detestados por suas abomi-
nações, a quem o vulgo apelidava de Chrestianos. (A fonte do nome
era Chrestos, o qual, durante o governo de Tibério, fora enviado ao
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Não vemos problema em utilizar os termos “cristianismo” e, eventualmente, “Igreja Católica”, para este
período que estamos retratando, haja vista a existência destes termos já no primeiro século. No livro dos
Atos dos Apóstolos encontramos a seguinte menção: (...) e foi em Antioquia que os discípulos, pela primei-
ra vez, receberam o nome de “cristãos” (Atos 11:26). E é um bispo de Antioquia, o que por si só já mostra
uma certa hierarquia na Igreja primitiva, Inácio, que ao escrever uma epístola para a Igreja de Esmirna, dirá:
Onde comparecer o Bispo, aí esteja a multidão, do mesmo modo que, onde estiver Jesus Cristo, aí está a
Igreja Católica (Epístola aos Esmirnenses 8).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Sêneca foi um filósofo estoico e preceptor do jovem Nero. Fazia parte da ordem senatorial e ocupou
posições na corte imperial no governo do imperador Cláudio (41-54). Foi trazido de seu exílio em Córsega
por Agripina, a mãe de Nero e mulher de Cláudio, a fim de ser o preceptor do futuro imperador. Recebeu
ordens para se matar em 65 após envolvimento em conflitos políticos (HARVEY, 1998, p. 458).
REFERÊNCIAS
Fontes Documentais:
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Escritor cristão nascido na Capadócia entre 150 e 160 d.C., aproximadamente. De suas obras, a mais
conhecida foi Apologeticus, escrito em 197 (HARVEY, 1998, p. 485).
Fontes bibliográficas:
BILHMEYER, Karl; TUECHLE, Hermann. Storia della Chiesa: 1-l. Brescia: Morcel-
liana, 1989.
CASTRO-MAIA, Maria Cristina de. Virtus Ipsa: o retrato literário nos Annales de
Tácito. JIMÉNEZ, A. P. FERREIRA, J. R. (coord. ). O retrato e a biografia como es-
tratégia de teorização política. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra/Uni-
versidad de Málaga, 2004, p. 65-82.
DANIÉLOU, Jean. Des origines à la fin du troisième siècle. In: ROGIER, L. J.; AU-
BERT, R.; KNOWLES, M. D. Nouvelle histoire de l’Église: des origines à Grégoire le
Grand. Paris: Éditions Du Seuil, 1963. p. 113.
HAMMAN, A.-G. A vida cotidiana dos primeiros cristãos (95 -197). São Paulo: Pau-
lus, 1997.
HARVEY, Paul. Dicionário Oxford de Literatura Clássica. Rio de Janeiro: Jorge Za-
har, 1998.
JOLY, Fábio Duarte. Tácito e a Metáfora da Escravidão. São Paulo: EDUSP, 2004.
MARQUES, J. B. Estruturas narrativas nos Anais de Tácito, História da Historiografia,
Ouro Preto, n. 5, 2010, p. 44-57.
Title: The emperor Nero and the persecution of christians in the first century A.D.: A
study of Tacitus’work annales.
Author: Semíramis Corsi Silva; William Bottazzini Rezende.
ABSTRACT: The aim of the present article is, in the light of the work Annales of the
Roman historian Cornelius Tacitus (55 A.D. – 120 A.D.), to analyze the first systematic
persecution perpetrated by the imperial forces and faced by the Christians during the
regime of Nero (54 A.D. – 68 A.D.). Our goal is to understand not only the develop-
ment of the persecution itself, but the context and the motivation that influenced the
inclusion of this episode in the composition of the Annals. We will analyze the usage of
some terms employed by Tacitus in his account and their relation to the thoughts of the
author himself, and we will also examine the situation of the Christians in the capital of
the Empire around the third quarter of the first century.
Keywords: Roman Empire. Nero. Tacitus. Annals.