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ESCOLA SUPERIOR MADRE CELESTE

CURSO DE DIREITO

ZILDOMAR SILVA DE SOUZA

INEFICIÊNCIA DO PODER PUNITIVO DO ESTADO COMO FATOR GERADOR


DA JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS: UM RETROCESSO NO PROCESSO
CIVILIZATÓRIO EM ANANINDEUA/PA.

Ananindeua
2018
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ZILDOMAR SILVA DE SOUZA

INEFICIÊNCIA DO PODER PUNITIVO DO ESTADO COMO FATOR GERADOR


DA JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS: UM RETROCESSO NO PROCESSO
CIVILIZATÓRIO EM ANANINDEUA/PA.

Trabalho Apresentado à disciplina de Trabalho


de Conclusão de Curso I, como requisito para
qualificação de obtenção de nota do 2º NPC da
Escola Superior Madre Celeste.
Orientadora: Dra Clêbia Costa

Ananindeua
2018
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------- 3

2. PROBLEMA DE PESQUISA ----------------------------------------------------------- 4

3. HIPÓTESE----------------------------------------------------------------------------------- 4

4. JUSTIFICATIVAS------------------------------------------------------------------------- 4

5. OBJETIVOS--------------------------------------------------------------------------------- 5

5.1 OBJETIVO GERAL------------------------------------------------------------------------- 5

5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS--------------------------------------------------------------- 5

6. REFERENCIAL TEÓRICO ------------------------------------------------------------ 6

6.1 ASPECTOS TELEOLÓGICOS DO ESTADO ----------------------------------------- 6


6.2 CONCEITO DE AUTONOMIA ---------------------------------------------------------- 8
6.3 LINCHAMENTO O PODER PUNITIVO DO ESTADO ---------------------------- 8
6.4 ANANINDEUA E OS CASOS DE ------------------------------------------------------- 11
7. METODOLOGIA -------------------------------------------------------------------------- 13

8. CRONOGRAMA--------------------------------------------------------------------------- 14

REFERÊNCIAS---------------------------------------------------------------------------------- 15
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1. INTRODUÇÃO

Tendo em vista a Origem e função constitucional do Estado, o presente trabalho


procura demonstrar e descrever empiricamente as mudanças no padrão comportamental de
cidadãos diante da ineficiência do poder punitivo do Estado, promovendo um retrocesso no
processo civilizatório.
A pesquisa pretende analisar o linchamento como uma conduta criminosa provocada
pela ausência de proteção legítima do Estado e de sua ineficiência em relação ao seu poder
punitivo com o interesse de demonstrar que um dos fatores geradores que levam um grupo de
pessoas racionais, cidadãos a praticar atos de violência ilegítimos motivados por um êxtase
determinado por um certo grau de “sabor” de vingança e falsa justiça.
A pesquisa nos mostrará que os contextos são variáveis, todavia, há elementos
comuns na maioria dos casos, tais como o caráter coletivo da ação, os preconceitos, os
temores e os sentimentos de ódio e vingança gerados pela sensação de anomia.
O que se questiona é: Quais fatores movem o sentimento e o comportamento coletivo
para a prática de fazer “justiça com as próprias mãos”, cujas consequências criminosas são:
lesão corporal, tentativa de homicídio ou mesmo homicídio.
A pesquisa visa contribuir com conhecimentos profissionais, sociais e acadêmicos
para assegurar a manutenção da justiça legítima confirmada pelo tácito contrato social, para
que possamos promover a eficiência e a eficácia de políticas públicas que assegurem a ordem,
a civilidade e a confiança jurídica por parte da sociedade.
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2 PROBLEMA DE PESQUISA

Como professor na Rede Pública de ensino ao longo de 10 anos, morador de


Ananindeua por 20 anos, e tendo vivenciado inúmeros casos de linchamento nesta cidade a
problemática desta pesquisa não poderia ser outra a não ser a inquietação mais profunda da
alma de quem presencia um linchamento: Como a ineficiência do poder punitivo do Estado
pode ser a causa do linchamento como fator que leva pessoas chamadas civilizadas a um
retrocesso em Ananindeua/PA?

3 HIPÓTESE

Cientes que na cidade de Ananindeua no Estado do Pará, localizada na Região


Metropolitana de Belém, como reflexo de um judiciário brasileiro lento e pouco eficaz, bem
como os serviços públicos precários, desde a educação, saúde, as polícias militar e civil e
outros órgãos que deveriam assegurar a paz social não o fazem e acabam por contribuir para
este retrocesso, o linchamento, uma justiça feita com as próprias mãos.

A solução para essa ineficiência do poder punitivo do estado para evitar o linchamento
inicia primeiramente com uma diagnose por meio de entrevista, cuja finalidade é buscar o
perfil psicológico dos envolvidos nos casos de linchamento, em segundo lugar é preciso que o
Estado possa estabelecer ações e políticas públicas eficientes e eficazes que tragam a
segurança e a confiança jurídica à população, e finalmente que a justiça satisfaça princípios
básicos de equidade e legitimidade.

4 JUSTIFICATIVA

Dentre todas as funções dos operadores do direito, pode-se afirmar que defender a
ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais indisponíveis,
fortalecendo e aperfeiçoando as condições para uma sociedade mais justa, neste trabalho,
buscando uma interdisciplinaridade, mas com foco nas áreas do direito penal, em específico
ao direito de punir do Estado.

A importância acadêmica deste trabalho nas áreas do Direito Penal, da Filosofia,


Sociologia e Psicologia jurídica, da Teoria Geral do Estado, do Direito Constitucional e da
própria História do Direito, cuja relevância científico-acadêmico pode contribuir com ideias e
documentos que somem conhecimentos e materiais sobre o linchamento e suas consequências
como lesão corporal, homicídio, e outras.
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A relevância social é fomentar atitudes de civilidade, urbanidade, paz, respeito aos


direitos humanos e aos princípios do contraditório e da ampla defesa, buscando conscientizar
que atitudes baseadas em sentimentos de ódio, vingança acabam por produzir mais injustiças.

A contribuição deste trabalho no âmbito profissional servirá como matéria


complementar estimulando a reflexão, o conhecimento, e o debate sobre as consequências do
linchamento e as obrigações do Estado para com seus membros, bem como desenvolverá uma
autocritica sobre a ineficiência do poder punitivo como fator gerador do linchamento,
fortalecendo atitudes de denuncias tanto contra o comportamento desta comunidade, como
contra a ausência do Estado em relação ao índice de criminalidade e impunidade neste
município como gerador do linchamento e a desassistência aos familiares e vitimados por tal
conduta criminosa.

5 OBJETIVOS

5.1 OBJETIVOS GERAIS

O presente trabalho tem como objetivo geral evidenciar que a ineficiência do poder
punitivo do Estado, acarreta condutas criminosas (linchamento) coletivas associadas ao
sentimento de falsa justiça, fazendo com que comunidades ditas civilizadas possam praticar
atos de violência ilegítimos para punir os infratores da lei, demonstrando que a ausência do
Estado na Cidade de Ananindeua provoca um profundo sentimento de “anomia”,
insegurança e incredulidade no poder judiciário.

5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Discutir os conceitos básicos dentro do ordenamento jurídico, tais como Estado e sua
origem, cidadão e cidadania, Teoria da anomia, linchamento, políticas públicas eficientes e
eficazes e seus contrários, poder punitivo do Estado, Equidade, Tácito contrato social,
justiça, sistema judicial e prisional.

b) Realizar pesquisas bibliográficas e documentais sobre o linchamento, envolvendo


livros, artigos científicos para coletas de informações e decisões referentes ao tema.

c) Através das coletas de dados, demonstrar como a ineficiência do poder punitivo do


Estado pode ser a causa do linchamento como fator que leva pessoas chamadas civilizadas a
um retrocesso em Ananindeua/PA, analisando dois casos específicos de duas delegacias de
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Policia de Ananindeua, bem como obter o laudo de necropsia para analisar a violência
ocasionado pela vingança da população.

6 REFERÊNCIAL TEÓRICO

6.1 ASPECTOS TELEOLÓGICOS DO ESTADO

Considerando que as provas nem sempre levam a punibilidade e que no linchamento


a prática da “justiça” é imediata independente de provas, e que o sentimento de anomia
conduz a um Estado de Natureza, que segundo Hobbes (2006, p. 70): é quando “não existem
leis matrimoniais, nem leis referentes à educação das crianças”, portanto, gerando a
insubmissão aos limites postos pelo poder do Estado, desta forma, quanto maior for a
insuficiência de punibilidade por parte do Estado, maior será o grau de retorno ao estado de
natureza, isto é, a possibilidade de pessoas buscarem a justiça com as próprias mãos.

As complexidades para compreender os aspectos teleológicos do Estado nos levariam


a discutir diversas teorias com inúmeros conceitos de Estado e suas finalidades, então não
abordaremos detalhadamente estes aspectos, mas partiremos do princípio comum entre os
diversos doutrinadores de que o Estado é uma sociedade política que deve criar condições
para a consecução dos fins particulares de seus membros.

A despeito das muitas teorias sobre a origem do Estado Jellinek (2000, p.199 e 262)
afirma que há cinco necessidades: “necesidad religiosa, de una necesidad física, jurídica,
moral y psicológica”, e conclui que quanto “La doctrina de los fines del Estado”, há uma
relação íntima entre sua finalidade e sua estrutura, esta justifica o ser do Estado, enquanto
aquela justifica suas ações e ambos juntos completam o processo de vida do Estado. Portanto
é preciso haver satisfação dos cidadãos para viver neste Estado, haja vista não poderem viver
fora dele e terem obrigação moral de se submeter ao mesmo.

Para Kelsen (2006, p.316) afirma que “É usual caracterizar-se o Estado como uma
organização política. Com isso, porém, apenas se exprime que o Estado é uma ordem de
coação” Todavia, quanto a obrigação de punir do Estado Kelsen (2006, p.335) afirma que
“com dever de punição do Estado, não se exprime este dever funcional do órgão, mas apenas
se exprime um postulado ético-politico endereçado à ordem jurídica: o de ligar uma conduta
socialmente perniciosa uma pena, a título de sansão”.
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A finalidade como elemento formador do Estado que responsabiliza, na tarefa de


punir, de forma eficiente que traduza em satisfação dos membros para viver e se submeter às
normas legislativas do Estado. Nesta pesquisa, divergindo de algumas posições doutrinarias
por acreditar existir uma finalidade específica para o Estado faremos voz juntamente com
Dalmo Dallari (1998), que reúne interdisciplinarmente uma multiplicidade de conhecimentos,
nos permitindo um panorama do próprio Direito Constitucional, abrangendo o interesse do
nosso tema, nos permitindo compreender como o Estado é responsável pelo processo
civilizatório, haja vista que Direito Público tem por obrigação o aperfeiçoamento do Estado,
tratando o fato social e a ordem pública com eficácia e com justiça.

Para Dalmo Dallari (1998, p. 24) o Estado é responsável pelos valores éticos, pelos
fatos concretos e pelas normas técnicas e formais e ainda define que a finalidade do Estado é
“o bem comum de um povo situado em determinado território”, culminando no fato de que o
todas as condições de vida social devem favorecer o desenvolvimento integral da
personalidade humana. Dallari (1998, p. 07) em sua introdução demonstra que há três
diretrizes fundamentais sobre as orientações do Estado:

a) uma orientação que se poderia identificar com uma Filosofia do Estado,


enfatizando a busca de uma justificativa para o Estado em função dos valores éticos
da pessoa humana, acabando por se distanciar excessivamente da realidade concreta
e por colocar em plano nitidamente inferior as preocupações de ordem pragmática;
b) uma segunda orientação coloca-se em sentido oposto, procurando ser
eminentemente realista, dando absoluta preponderância aos fatos concretos,
considerados completamente à parte de qualquer fator abstrato, aproximando-se
muito de uma Sociologia do Estado; c) a terceira das grandes correntes é a que reúne
os autores que só admitem e só consideram o Estado como realidade normativa,
criado pelo direito para realizar fins jurídicos, afirmando-se um formalismo jurídico
que só estuda o Estado a partir de considerações técnico-formais.

O que se vê diante de tais orientações é que atualmente o Estado extremou sua conduta
gerando conclusões unilaterais e imperfeitas, prejudicando sua relação com seu povo, gerando
sentimento de anomia, ai o poder punitivo do estado se torna ineficiente, ou seja, o bem
comum que serviria para desenvolver a civilidade por meio da criação de condições sociais,
permitindo que cada cidadão conseguisse seus respectivos fins particulares, ao contrario o
próprio Estado, acaba por se tornar fator de injustiça, provocando cidadãos de bem a terem
que determinar suas próprias leis, sua própria justiça.
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6.2 CONCEITO DE AUTONOMIA

Para Sandel (2012, p.349) Justiça depende de uma visão igualitária liberal inovando o
pensamento político, cuja concepção baseia-se na visão kantiana de autonomia, portanto, as
escolhas que fazemos, são contingências moral e arbitrárias, e que, portanto, não agimos com
real autonomia. A prática da justiça não é concepção de virtude ou valores morais, mas as
escolhas feitas sob um “véu de ignorância”, ou seja, sem que ninguém soubesse a qual classe,
credo, cor e raça pertencem, de modo que não ocorresse nenhuma forma de desequilíbrio
moral tendencioso, pois todos estariam à mercê de suas próprias decisões. A justiça
desenvolvida em cada cidadão, mesmo quando o Estado for ausente, a autonomia, uma lei
interiorizada em cada indivíduo, permitirá o cumprimento do tácito contrato social, tanto
por parte do Estado, quanto por parte dos seus cidadãos.

6.3 O PODER PUNITIVO DO ESTADO

O poder punitivo do Estado é ineficiente em função de fatores diversos que vão da


burocracia, desmando das instituições, desvios de finalidades dos órgãos punitivos, até a
corrupção. Para que um Estado seja democrático precisa de um mínimo de legitimidade, é
aqui o âmago do nosso problema, pois quando o povo resolve fazer justiça com as próprias
mãos, ignorando o Poder da Justiça, está declarando e demonstrando sua insubmissão e
destemor às leis e a ordem.

O sentimento é de anomia, onde o Estado democrático de direito, a dignidade da


pessoa humana, a presunção de inocência só serve para atender aos chamados Direitos
humanos com aplicação eficiente a infratores da lei, “parece” que a solução encontrada pela
população de Ananindeua ou de qualquer outro lugar onde não haja o mínimo de segurança
e confiança no Poder Estatal, será a justiça com as próprias mãos.

Para analisar a ineficiência do poder punitivo do estado como fator gerador da justiça
com as próprias mãos e responsabiliza-lo pelo retrocesso no processo civilizatório faz-se
necessário antes buscar fundamentos sobre os fenômenos de origem, formação, estrutura,
organização, funcionamento e finalidades do Estado.

A ausência do poder público e sua ineficiência na garantia da segurança e da sua


capacidade de punir geraram um complexo sentimento de abandono, impunidade, injustiça e
revolta, ou seja, o puro sentimento de anomia, em outras palavras, o Estado por meio de suas
instituições sociais que deveriam cumprir as leis, falharam em seus objetivos, tais
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como as polícias, os tribunais, as prisões, etc. Portanto, quanto maior a ineficiência do poder
punitivo do estado maior é o grau de anomia, maior será o grau de possibilidades para que
haja justiça com as próprias mãos, como podemos analisar os cinco casos de linchamento a
serem abordados neste trabalho.

O direito de punir, previsto na Constituição, em seu art. 144, dispõe que “A segurança
pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e do patrimônio”. Estabelecendo não apenas um direito, mas um dever ao
Estado por meio de processo. Todavia, a ineficiência do poder punitivo do Estado se
consolida pela falta de eficiência e eficácia quanto à proteção dos bens jurídicos, inclusive
quanto a finalidade da pena, que de acordo com o código Penal em seu Artigo 59, deveria ser
aplicada para reprovar e prevenir o crime, o que em função de determinadas limitações
acabam por não cumprir sua função.

O Estado tenta resolver o problema criando leis e mais leis, que não são efetivadas,
tornando-as ilegítimas, e acirrando ainda mais a anomia e demonstrando sua ineficiência ou
incompetência, já que não trata a desigualdade social. Assim ressalta Bicudo (2010, p.184)
que:

O modelo de Direito Penal legítimo deve estar afinado com um Estado e uma
sociedade civil que promovam políticas públicas e particulares, no sentido de
minimizar a desigualdade social e favorecer a construção de uma crescente
cidadania em que sejam asseguradas as condições de todas as pessoas auferirem seus
direitos fundamentais à subsistência, a vida, a saúde e a educação.

Ao Direito Constitucional soma-se o Direito Penal com deve de proteger determinados


bens jurídicos penais, os quais são valores individuais e da sociedade: vida, liberdade,
propriedade, integridade física, honra, patrimônio público etc. O que obriga, ainda que sob
limitações, o Estado a incriminação de determinadas condutas. Não basta ao Estado criar leis
é preciso vigiar e punir os casos de descumprimento, seja para prevenir, advertir ou reeducar.
Desta forma se o Estado se omitir, negligenciando a punição ou a mesma seja insuficiente,
desproporcional ao delito, o que se manifestará será uma injustiça.

O jus puniendi (direito de punir), não é um mero direito, mas um dever a ser exercido
exclusivamente pelo Estado, previsto na própria Constituição Federal, art. 144, caput,
estabelece que a segurança pública seja dever do Estado e direito e responsabilidade de todos,
como afirma Marques (2009, p.05):
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O direito que tem o Estado de aplicar a pena cominada no preceito secundário da


norma penal incriminadora, contra quem praticou a ação ou omissão descrita no
preceito primário causando um dano ou lesão jurídica, de maneira reprovável.

A ineficiência do poder punitivo do estado, por não aplicar as sanções, ou aplicar


desmedidamente, já que é exclusivo ao Estado o dever e não as próprias vítimas, amigo ou
parentes, ou mesmo a sociedade. O fator gerador da justiça com as próprias mãos, como um
retrocesso no processo civilizatório, dá-se pelo fato de que as pessoas, abaladas
emocionalmente e motivadas pela ausência do poder público, pela desproporcionalidade entre
a pena e a infração e a insuficiência do poder punitivo em ressocializar acabam por manifestar
a mais pura revolta e vontade de vingança.

Haja vista que as pessoas que sofreram algum tipo de violência ou apenas com um
compulsivo pavor da violência buscam sua própria justiça. Não é possível argumentar a
legítima defesa, art. 25 CP ou direito de queixa do art. 30 e 31 do CPP, pois no primeiro caso
trata-se do direito de se defender e não de punir; no segundo apenas a pretensão de eventual
punição, em ambos os casos o dever de punir será sempre do Estado. Caso haja justiça com as
próprias mãos, o crime de exercício arbitrário das próprias razões previsto com suas
penalidades elencados nos arts. 345 e 346 do CP, exceção legitima previsão no art. 345 além
da legítima defesa, o art. 1210, § 1° do CC, que autoriza:

O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria


força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir
além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

O direito-dever de punir é monopólio do Estado com as devidas limitações legais. A


Constituição Federal de 1988 elenca dignidade da pessoa humana, em seu art. 1º, inciso III,
como uma dessas limitações demonstrando a evolução da pena. Foucault, em sua Obra Vigiar
e Punir, nos adverte o quanto era desumano a aplicação da pena aos condenados, e descreve
uma verdadeira evolução histórica da legislação penal e seus métodos coercitivos e punitivos
adotados pelo poder público na repressão do crime. Todavia, o que ainda vemos hoje é que o
Estado ainda não conseguiu equilibrar a satisfação da sociedade em relação a pena e a própria
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eficiência do poder punitivo, gerando uma ressocialização ideal. Para Foucault (1997, p.32), a
punição é um exercício permanente de vigilância:

Não se deveria dizer que a alma é uma ilusão, ou um efeito ideológico, mas afirmar
que ela existe que tem uma realidade, que é produzida permanentemente, em torno,
na superfície, no interior do corpo pelo funcionamento de um poder que se exerce
sobre os que são punidos — de uma maneira mais geral sobre os que são vigiados,
treinados e corrigidos, sobre os loucos, as crianças, os escolares, os colonizados,
sobre os que são fixados a um aparelho de produção e controlados durante toda a
existência”

Quanto as frustrações relacionadas às relações do homem em sociedade e com as leis e


aplicabilidade das mesmas visando ao bem estar social, sem, contudo atingir sua finalidade
afirma Lopes (2003, p. 304):

Delitos de grupo contra a vida: o ataque do grupo a uma ou várias pessoas, tem
geralmente um motivo de vingança ou satisfação compensadora de frustrações
anteriores. Um exemplo desse tipo de delito é o linchamento à negros, judeus,
espancamentos aferidos à mendigos, índios e pessoas Indefesas.

O linchamento, então seria uma frustração gerada pela insuficiência do poder punitivo
que leva as pessoas chamadas civilizadas a se motivares, pelas mais variadas razões a
extravasarem os estímulos que receberam durante suas vidas.

6.4 ANANINDEUA E OS CASOS DE LINCHAMENTO

Ananindeua faz parte da região metropolitana de Belém, cujo desenvolvimento iniciou


com investimentos na área da indústria com apoio do governo federal. A formação da
população girou em torno da construção de conjuntos habitacionais que concentrou um
grande contingente populacional, ainda que insuficiente a toda população, o que acabou por
originar uma periferia em forma de “invasões” como identifica Melo (2012, p 07). com toda
sorte de anomalias sociais, falta de saneamento, drenagem, iluminação.

Consequentemente os casos de agressão e linchamento têm crescido em Ananindeua


causado pelo crescimento populacional sem as devidas ações de governo voltadas para a
segurança pública. Para Exemplificar analisou-se 2 casos:
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a) Um jovem que foi morto a pauladas e esfaqueado na manhã do dia


23/04/2018 no bairro Águas Branca,.Weverson Cardoso Arnaud, de 19 anos,
estaria cometendo assaltos na praça Dois de Junho, próximo ao local, foi
perseguido por um grupo de pessoas que realizaram o linchamento. Testemunhas
contam que Weverson foi morto por volta de 6h. O rapaz e um comparsa estariam
praticando assaltos desde madrugada na praça. Em certo momento, algumas
pessoas teriam reagido aos crimes e perseguido a dupla. Nesse momento, o
comparsa de Weverson conseguiu fugir, mas o rapaz foi alcançado pelo grupo e
agredida com socos, chutes e paulada. O jovem não resistiu aos ferimentos e
morreu no local.
b) Um homem morreu após ser perseguido e linchado na madrugada de
24/09/2018 na passagem Fé em Deus. A vítima foi identificada como
Melquezedeque Rodrigues dos Santos, de 41 anos. Segundo informações, ele
estava embriagado quando atacou a filha adolescente e a cortou usando uma faca.
Tão logo tiveram conhecimento da situação, um grupo de pessoas foi atrás dele,
que tentou fugir, mas foi alcançado e linchado até a morte.

Enfim, o problema em Ananindeua (como em qualquer lugar que se tenha o


sentimento de anomia) consiste no fato de que se sabe que a Justiça vai demorar demais para
aplicar a pena, para punir o indivíduo que causou o ato ilícito. Então a comunidade acaba
tendo a sensação de que, deve praticar uma ação de execução sumária praticando a justiça
com as próprias mãos. Isto significa resposta imediata para série de anseio por justiça e uma
consciência coletiva da lentidão processual ou ineficiência do poder punitivo.
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7 METODOLOGIA

Na metodologia, para fins de elucidação de como foi elaborado o presente trabalho


realizar-se-á pesquisas bibliográficas e documentais sobre o linchamento, envolvendo livros,
artigos científicos para coletas de informações e decisões referentes ao tema. Por este motivo
será feita uma pesquisa por fontes secundárias, como as notícias de jornal, que contribuirão
para localizar a ocorrência de linchamentos, onde então serão eventualmente investigados,
cuja estratégia é reportar-se ao local para entrevistar a comunidade e delegacia que atendeu a
ocorrência para buscar informalmente informações sobre os fatos que nos permitam entender
o que levou aquela comunidade, de forma direta ou indireta, optar pela justiça com as próprias
mãos e quais foram às atitudes tomadas pelo poder público em relação àquela situação.

Pretende-se que os entrevistados descrevam a ação que presenciaram ou participaram,


e se possível que avaliem a escolha que tomaram. Esta estratégia nos permitirá compreender
alguns significados comportamentais e motivacionais sobre essa ação criminosa. Não há
pretensão nesta pesquisa de apresentar fontes seguras, haja vista as fontes sobre o tema são
falhas e controvertidas, todavia serão fontes úteis para o desenvolvimento do tema. Embora,
sobre a historicidade do linchamento serão usadas bibliografias que analisam
quantitativamente o assunto. As entrevistas pretendem identificar quais foram os fatores
geradores da ação e quais consequências na vida de participantes, espectadores e vítimas de
linchamento. Portanto, as fontes secundárias serão obtidas por meio de análise bibliográfica,
enquanto que as primárias por meio de entrevistas realizadas com moradores, linchadores,
escrivães, investigadores e delegados de Ananindeua onde ocorreram cinco (5) linchamentos
e também com os próprios. A estratégia é buscar compreender como a ineficiência do poder
punitivo do estado pode ser fator gerador do linchamento.
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8 CRONOGRAMA

Ago/18 Set Out Nov Dez Jan/20 Fev Mar Abr Mai
19
ESCOLHA DO
TEMA
ELABORAÇÃO X X
DO PROBLEMA E
OBJETIVOS
REFERENCIAL X X
TEÓRICO
METODOLOGIA X
ELABORAÇÃO E X
DEPÓSITO DO
ANTEPROJETO
QUALIFICAÇÃO X
DO PRE
PROJETO
AJUSTE COM X X
ORIENTADOR
COLETA DE X X
DADOS
ANÁLISE DOS X X
DADOS
AJUSTES X
FORMAIS E
DEPÓSITO
REDAÇÃO DO X X
TRABALHO
REVISÃO E X
REDAÇÃO FINAL

ENTREGA DA X
MONOGRAFIA
DEFESA DE TCC X
15

REFERENCIAS

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mecum. 25ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 503 - 555.

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BRASIL. Constituição Federal (1988). In: CÉSPEDES, Lívia e Dias, Fabiana. Vade mecum.
25ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 04 - 108.

BRASIL. Código Civil (2002). In: CÉSPEDES, Lívia e Dias, Fabiana. Vade mecum. 25ª ed.
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BICUDO, Tatiana Viggiani. Por que punir? Teoria geral da pena. São Paulo: Saraiva,
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FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Trad. Raquel


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HOBBES, Thomas. Leviatã. Ed. Martin Claret, São Paulo, 2006.

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Sandel, Michael, Uma Teoria da Justiça. 6ª ed.,Rio de Janeiro: 2012, p. 177),


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Ananindeua. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/suspeito-de-assalto-e-
linchado-por-populacao-e-morre-em-praca-publica-em-ananindeua.ghtml Acesso em 31 de
outubro de 2018.

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em: https://www.diarioonline.com.br/noticias/policia/noticia-542505-homem-morre-apos-ser-
perseguido-e-linchado-na-cabanagem.html Acesso em 31 de outubro de 2018.

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