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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.341.997 - PR (2012/0185993-2)

RELATOR : MINISTRO LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR


CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO)
RECORRENTE : JAIR POEIRAS ASSUNÇÃO
ADVOGADO : CRISTIANE DE OLIVEIRA AZIM NOGUEIRA E OUTRO(S) -
PR024456
RECORRIDO : JAIR ASSUNÇÃO - ESPÓLIO
REPR. POR : LUZIA POEIRAS ASSUNÇÃO - INVENTARIANTE
ADVOGADOS : MOACYR CORRÊA NETO E OUTRO(S) - PR027018
MARCELO PELEGRINI BARBOSA E OUTRO(S) - SP199877B

DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto por JAIR POEIRAS ASSUNÇÃO, com


fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, em face de acórdão proferido pelo
eg. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, assim ementado:
"PROCESSUAL CIVIL - INVENTÁRIO - DECISÃO QUE ADERE A
PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO - QUESTÕES INADEQUADAS
E DEFICIENTEMENTE ABORDADAS NO PARECER MINISTERIAL -
NULIDADE DA DECISÃO QUE ACOLHEU, TOUT COURT AO
PARECER MINISTERIAL - MEAÇÃO - PRETENSÃO DE
DISCRIMINAÇÃO DO PATRIMÔNIO PARTILHÁVEL E ATRIBUIÇÃO
IMEDIATA À VIÚVA MEEIRA - APURAÇÃO IMEDIATA DOS
HAVERES - VIABILIDADE GARANTIA CONSTITUCIONAL DO
DIREITO DE PROPRIEDADE - PREEXISTÊNCIA DO DIREITO DE
PROPRIEDADE EM RELAÇÃO A ABERTURA DA SUCESSÃO -
RECENTE PRECEDENTE DO STJ - TESES DA IMPUGNAÇÃO
SUPERADAS PELA HODIERNA INTERPRETAÇÃO DO DIREITO -
INSERÇÃO DE VALORES NO FENÔMENO DA EXEGESE DA NORMA
(LUIS ROBERTO BARROSO E MIGUEL REALE) - SUPERAÇÃO DA
FASE PURAMENTE DOGMÁTICA - DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA - CONDIÇÃO ETÁRIA QUE RECLAMA MAIOR E MAIS
CÉLERE PROTEÇÃO JURÍDICA - RECURSO QUE OBJETIVA A
CONCRETIZAÇÃO DESSES PRINCÍPIOS - EXERCÍCIO PLENO E
LEGÍTIMO DAS FACULDADES DECORRENTES DESSE DIREITO -
POSSE E ADMINISTRAÇÃO DOS BENS COMPONENTES DA
MEAÇÃO - CONCESSÃO PARCIAL DOS PROVIMENTOS
ALMEJADOS NESTE RECURSO - AGRAVO CONHECIDO E
PROVIDO PARCIALMENTE.
1.- É nula a decisão agravada cuja motivação per relationem aos
quais se aderiu não aborda a integralidade das questões suscitadas ou
não se tem a exata compreensão dos limites da pretensão almejada.
2. - A abertura da sucessão, a condução dos bens partilháveis ao
processo de inventário, bem como, o exercício da inventariança pelo
herdeiro, não retiram da viúva-meeira o poder ou direito ao exercício
da posse e propriedade dos bens que compõem a sua meação.
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Restringe-se, todavia, o poder de disposição que se subordina à prévia
autorização judicial, pois, o patrimônio subsiste sob o controle
judicial, a fim de se atender as responsabilidades do espólio perante
terceiros credores, e a distribuição, em partilha, aos herdeiros do
saldo patrimonial líquido.
3. - Havendo elementos comprobatórios suficientes para se estimar a
montante da meação, ainda que de forma provisória e incidental,
deferem-se medidas específicas, no curso do inventário, para se
atender aos reclamos justificáveis da meeira octogenária, a fim de que
seu patrimônio lhe proporcione vida digna, salutar e confortável,
sobrelevando-se, assim, os princípios constitucionais da dignidade da
pessoa humana e da propriedade." (e-STJ, fls. 256/257)
Os embargos de declaração opostos foram rejeitados.

Opostos segundos embargos declaratórios, foram conhecidos parcialmente, e


nesta parte, rejeitados.

Nas razões do recurso especial, o recorrente aponta violação aos arts. 245, 515, §
3º, e 535, II, do CPC/73 e 1.991 do Código Civil, bem como divergência jurisprudencial. Além de
negativa de prestação jurisdicional, alega que o error in procedendo cometido pelo Tribunal de
origem poderia ter sido suscitado nos segundos embargos declaratórios, por se tratar de matéria
de ordem pública, não sujeita a preclusão. Sustenta que, ao declarar a nulidade da decisão
agravada, por ausência de fundamentação, o Tribunal a quo não poderia ter prosseguido no
exame do mérito, e sim determinado o retorno dos autos ao juízo monocrático. Afirma que só
existe definição e delimitação do patrimônio ideal da viúva meeira após a homologação da partilha
dos bens deixados pelo de cujus, devendo o espólio, até lá, ser administrado pelo inventariante.

O Ministério Público Federal manifestou-se pelo não provimento do recurso


(e-STJ, fls. 543/550).
É o relatório. Passo a decidir.
De início, cumpre salientar que o presente recurso será examinado à luz do
Enunciado 2 do Plenário do STJ: "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973
(relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos
de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça".

Na origem, trata-se de agravo de instrumento interposto por LUZIA POEIRAS


ASSUNÇÃO, nos autos do inventário dos bens deixados por JAIR ASSUNÇÃO, que indeferiu
medidas e providências requeridas pela viúva agravante.

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O Tribunal de origem entendeu que a decisão agravada não abordou a
integralidade das questões suscitadas e não compreendeu exatamente os limites da pretensão.
Assim, declarou nula a decisão agravada e deu parcial provimento ao recurso para determinar ao
inventariante que depositasse:
"a) no prazo de 10 (dez) dias a contar de sua intimação pessoal por
AR, em conta de poupança da agravante, cuja numeração, agência e
cidade deverão por ela ser informados nos autos, a importância de R$
30.000,00 (trinta mil reais) mensais, a ser deduzida, oportunamente,
do crédito dos rendimentos e frutos de sua meação;
b) no prazo de 10 (dez) dias, contados de sua intimação pessoal por
AR, a importância de R$ 358.205,00 (trezentos e cinquenta e oito mil e
duzentos e cinco reais), também sob depósito em conta poupança, com
comprovação nos autos de inventário, nos termos da fundamentação
supra.
E, ainda:
c) atribuir à agravante, na proporção do montante das quotas que
pertenciam ao falecido e, da meação da agravante, os créditos de
dividendos da empresa Accioly Importação e Comércio de Auto Peças
Ltda., devendo o agravado/inventariante depositar em conta
poupança, no prazo de 10 (dez) dias, os valores até agora percebidos
a esse título, bem como a atribuir à agravante os dividendos ainda
devidos pela referida sociedade empresarial;
d) atribuir à agravante, na proporção do montante das ações que
pertenciam ao falecido e, da meação da agravante, os créditos de
dividendos da empresa Irmãos Assunção S/A - Ind. Com. de Peças
para Automóveis, devendo o agravado/inventariante depositar em
conta poupança, no prazo de 10 (dez) dias, os valores até agora
percebidos a esse titulo e facultar à agravante a utilização de
instrumento processual para haver o que lhe é devido." (e-STJ, fls.
277/278)
Sobrevieram os primeiros embargos declaratórios, alegando: "desrespeito ao
artigo 5º, da Lei de Introdução ao Código Civil" (e-STJ, fl. 284); "omissão do acórdão em
relação às normas relativas ao condomínio - Artigos 1314. 1667, 1671, 1791 e 2019 do
Código Civil - Omissão e violação ao artigo 1010, do Código Civil - Omissão e violação
ao artigo 884, do Código Civil - Enriquecimento indevido" (e-STJ, fl. 287); "omissão ao
artigo 1031, Código Civil - Necessidade de observância ao princípio da preservação da
empresa" (e-STJ, fl. 290).
Ao final, o embargante pediu o acolhimento dos declaratórios, com efeitos
infringentes, "para sanar as omissões apontadas dos diversos dispositivos legais omitidos e
violados, alterando a imposição de entrega de numerários a Embargada, pois pertencentes

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a sociedade estranha ao processo, sob pena de ingerência na vontade dos sócios e na
condução da sociedade, importando no enriquecimento indevido da Embargada, na
violação ao instituto do condomínio e na separação patrimonial entre dinheiro dos sócios
e da sociedade" (e-STJ, fl. 293).
Os embargos de declaração foram rejeitados, sem que houvesse negativa de
prestação jurisdicional por parte do Tribunal a quo.
Com efeito, a eg. Corte de origem dirimiu, fundamentadamente, as questões que
lhe foram submetidas. Malgrado não ter acolhido os argumentos suscitados pelo recorrente, o
Tribunal local manifestou-se expressamente acerca dos temas necessários à integral solução da
lide.

Impende ressaltar que "se os fundamentos do acórdão recorrido não se


mostram suficientes ou corretos na opinião do recorrente, não quer dizer que eles não
existam. Não se pode confundir ausência de motivação com fundamentação contrária aos
interesses da parte" (AgRg no Ag 56.745/SP, Relator o eminente Ministro CESAR ASFOR
ROCHA, DJ de 12.12.1994). Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados: REsp
209.345/SC, Relator o eminente Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJ de
16.05.2005; REsp 685.168/RS, Relator o eminente Ministro JOSÉ DELGADO, DJ de
02.05.2005.

Acrescente-se que, conforme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o


magistrado não está obrigado a se pronunciar sobre todos os pontos abordados pelas partes,
mormente quando já tiver decidido a controvérsia sob outros fundamentos (EDcl no REsp
202.056/SP, 3ª Turma, Rel. Min. CASTRO FILHO, DJ de 21.10.2001).

Já os segundos embargos declaratórios abordaram questão nova, não ventilada no


recurso anterior, nos seguintes termos:
"Outro aspecto extremamente relevante e que não foi observado por
essa Corte consiste no fato de que, tendo sido decretada a nulidade da
decisão agravada, por ausência de fundamentação (fls. 236), deveria
ter sido determinado o retorno dos autos ao Juízo monocrático, a fim
de que esse proferisse nova decisão, e não ter esse r. Órgão Julgador
prosseguido no julgamento do mérito do agravo, como o fez,
afrontando os princípios do devido processo legal (esculpido no art.
5º, inciso LIV da Constituição Federal) e do duplo grau de jurisdição,
bem como por incorrendo em supressão de instância...
(...)
Em resumo, sendo nula a decisão monocrática, inclusive por ausência

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de análise e pronunciamento de todas as questões suscitadas pela
parte, como mencionado no r. acórdão, não poderia essa Egrégia
Câmara suprimir um grau de jurisdição e se pronunciar sobre o mérito
do recurso. Mesmo porque, uma vez declarada nula, não mais
subsiste, a decisão agravada, não havendo como se prosseguir no
julgamento do recurso interposto contra essa decisão.
Verifica-se, portanto, a ocorrência de nulidade absoluta do acórdão
pro ferido no julgamento do agravo de instrumento em razão de error
in procedendo, que pode e deve ser reconhecida através dos presentes
declaratórios, podendo ser decretada até mesmo de ofício.
(...)
Por fim, nem se poderia alegar que a possibilidade de prosseguimento
do julgamento do referido agravo estaria albergada pelo art. 515, §
3º do CPC, uma vez que não se trata de sentença, mas de decisão
monocrática; a decisão recorrida não foi reformada, mas tida como
integralmente nula; e existem diversos aspectos fáticos controvertidos
a serem discutidos e comprovados nos autos, não se podendo
desconsiderar, ainda, o fato de que a decisão monocrática e os dois
pareceres proferidos pelo Ministério Público do Paraná (em 1º e 2º
graus) foram contrários à pretensão da embargada." (e-STJ, fls.
308/311)
Ocorre que, nos termos da jurisprudência consolidada desta Corte Superior, os
segundos embargos de declaração devem apontar vício no julgamento dos primeiros embargos de
declaração, e não no julgamento anterior, pois o prazo para a respectiva impugnação já se esvaiu
em virtude da preclusão consumativa. Assim, incabível a inovação recursal apresentada nos
segundos embargos declaratórios, no tocante ao alegado error in procedendo.
A propósito, confiram-se:
" EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. OMISSÃO,
CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE OU ERRO MATERIAL.
INEXISTÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUTIR DECISÃO
PRECLUSA. INOVAÇÃO RECURSAL. DESCABIMENTO. MANIFESTO
CARÁTER PROTELATÓRIO DO RECURSO. INCIDÊNCIA DA MULTA
DO § 2º DO ARTIGO 1.026 DO CPC/2015. EMBARGOS
REJEITADOS.
1. Nos limites estabelecidos pelo artigo 535 do Código de Processo
Civil de 1973 e pelo artigo 1.022 do CPC/2015, os embargos de
declaração destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade ou
eliminar contradição eventualmente existentes no julgado combatido,
bem como a corrigir erro material. Precedentes.
2. Nos termos da consolidada jurisprudência desta Corte Superior, os
segundos embargos de declaração estão restritos ao argumento da
existência de vícios no acórdão proferido nos primeiros aclaratórios,
sendo descabida a discussão acerca da decisão anteriormente
embargada, pois o prazo para a respectiva impugnação extinguiu-se
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em virtude da preclusão consumativa.
3. Na espécie, não se verifica, nos primeiros declaratórios, nenhum
dos vícios que permitam o manejo da insurgência, limitando-se os
embargantes a rediscutir os fundamentos do decisum proferido no
julgamento dos embargos de divergência e confirmados integralmente
pelo Colegiado em sede de agravo regimental.
4. Ademais, incabível a inovação recursal nos embargos de
declaração. Precedentes.
5. Embargos de declaração rejeitados, em face do seu nítido caráter
protelatório, com incidência da multa de 1% (um por cento) sobre o
valor da causa atualizado, nos termos do artigo 1.026, § 2º, do
CPC/2015."
(EDcl nos EDcl no AgRg nos EREsp 1230609/PR, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/10/2016, DJe 26/10/2016)

"PROCESSO PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA
DE OMISSÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. Os embargos de declaração têm a finalidade simples e única de
completar, aclarar ou corrigir uma decisão ambígua, omissa, obscura
ou contraditória, conforme dispõe o art. 1022 do novo CPC.
2. No presente caso, por meio dos aclaratórios, é nítida a pretensão da
parte embargante em provocar o rejulgamento da causa, situação
que, na inexistência das hipóteses previstas no art. 1022 do novo
CPC, não é compatível com o recurso protocolado.
3. Os segundos Embargos de Declaração devem apontar vício no
julgamento dos primeiros Embargos de Declaração, e não em
decisão anterior, cujo prazo para recurso já se esvaiu, pois
operada a preclusão consumativa (EDcl nos EDcl no AgRg nos EREsp
n. 1.341.709/PI, Corte Especial, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, DJe de 30/3/2015).
4. A embargante, no presente recurso, sustenta que subsistem
omissões, que não foram enfrentadas nos primeiros aclaratórios.
Entretanto o vício apto a ensejar o segundo recurso de embargos é
aquele oriundo no julgamento dos primeiros embargos de declaração,
e não em decisão anterior, como requer a ora recorrente."
5. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 1180948/RS, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
20/09/2016, DJe 26/09/2016)

"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NOS
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL.
PRINCÍPIO PROCESSUAL DA UNIRRECORRIBILIDADE.
DECLARATÓRIOS QUE TORNAM A IMPUGNAR DECISÃO JÁ
AGRAVADA ANTERIORMENTE, INDICANDO OUTROS
PARADIGMAS PARA A SUPOSTA DIVERGÊNCIA. AUSÊNCIA DE
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OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO, OMISSÃO OU ERRO MATERIAL.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. O princípio processual da unirrecorribilidade, associado à
existência de prazos preclusivos para a interposição de recursos,
impede que uma mesma decisão seja recorrida em momentos
processuais diversos.
2. É evidentemente possível que haja uma sucessão de Embargos de
Declaração, mas desde que cada um desses recursos impugne a
decisão a que se dirige, demonstrando um vício antes inexistente ou um
vício que persistiu ao longo dos julgados, embora reiteradamente
objetado.
3. Os segundos Embargos de Declaração devem apontar vício no
julgamento dos primeiros Embargos de Declaração, e não em decisão
anterior, cujo prazo para recurso já se esvaiu, pois operada a
preclusão consumativa.
4. Embargos de Declaração rejeitados."
(EDcl nos EDcl no AgRg nos EREsp 1341709/PI, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, CORTE ESPECIAL, julgado em
18/03/2015, DJe 30/03/2015)
Acrescenta-se que a Corte Especial já se manifestou no sentido de que a teoria
da causa madura (artigo 515, § 3º, do Código de Processo Civil de 1973) se aplica ao julgamento
de agravo de instrumento, consoante se verifica no seguinte julgado:
"PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
DEFERIMENTO DE LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS.
VÍCIO DE FUNDAMENTAÇÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
TEORIA DA CAUSA MADURA (ART. 515, § 3º, CPC).
APLICABILIDADE.
1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública movida contra diversos
sujeitos alegadamente envolvidos em licitações superfaturadas de
medicamentos e material hospitalar em que está implicada a
Prefeitura Municipal de Cachoeiro do Itapemirim. A indisponibilidade
de bens requerida na Petição Inicial foi deferida pelo Juízo de 1º
Grau e submetida a Agravo de Instrumento.
2. O Tribunal de origem reconheceu a apresentação de argumentos
genéricos, mas aplicou a teoria da causa madura (CPC, art. 515, §
3º), supriu o vício de fundamentação e manteve a decisão recorrida.
3. A recorrente sustenta impossibilidade de o Tribunal a quo aplicar o
art. 515, § 3º, do CPC em Agravo de Instrumento, amparando-se em
precedentes do STJ que tratam da matéria de forma sucinta.
4. A decisão proferida no AgRg no Ag 867.885/MG (Quarta
Turma, Relator Ministro Hélio Quaglia Barbosa, DJe 22.10.2007)
examina conceitualmente o art. 515, § 3º, com profundidade.
Ali, consignou-se: 4.1. "A novidade representada pelo § 3º do art. 515
do Código de Processo Civil nada mais é do que um atalho,
legitimado pela aptidão a acelerar os resultados do processo e
desejável sempre que isso for feito sem prejuízo a qualquer das
partes; ela constituiu mais um lance da luta do legislador contra os
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males do tempo e representa a ruptura com um velho dogma, o do
duplo grau de jurisdição, que por sua vez só se legitima quando
for capaz de trazer benefícios, não demoras desnecessárias. Por
outro lado, se agora as regras são essas e são conhecidas de todo
operador do direito, o autor que apelar contra a sentença
terminativa fá-lo-á com a consciência do risco que corre; não há
infração à garantia constitucional do due process porque as regras
do jogo são claras e isso é fator de segurança das partes, capaz de
evitar surpresas" (DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova Era do
Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, pp. 177/181).
4.2. "Diante da expressa possibilidade de o julgamento da causa ser
feito pelo tribunal que acolher a apelação contra sentença
terminativa, é ônus de ambas as partes prequestionar em razões ou
contra-razões recursais todos os pontos que depois pretendam levar
ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça.
Eles o farão, do mesmo modo como fariam se a apelação houvesse
sido interposta contra uma sentença de mérito. Assim é o sistema posto
e não se vislumbra o menor risco de mácula à garantia constitucional
do due process of law, porque a lei é do conhecimento geral e a
ninguém aproveita a alegação de desconhecê-la, ou de não ter
previsto a ocorrência de fatos que ela autoriza (LICC, art. 3º)"
(DINAMARCO. idem) .
5. A doutrina admite aplicação do art. 515, § 3º, do CPC aos Agravos
de Instrumento (Dinamarco, Cândido Rangel. A reforma da reforma,
6ª ed., São Paulo: Malheiros, 2003, pp. 162-163; Wambier, Teresa
Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro, 4ª ed., São Paulo: RT,
2006, pp. 349-350; Rogrigues, Marcelo Abelha. Manual de Direito
Processual Civil, 5ª ed., São Paulo, RT, pp. 643-644; Alvim, J. E.
Carreira. Código de Processo Civil reformado, 7ª ed., Curitiba,
Juruá, 2008, p. 351).
6. Particularidades do caso concreto recomendam a aplicação da
teoria, sem que haja prejuízo ao contraditório, à ampla defesa e ao
dever de fundamentação: a) não se pode dizer que a decisão de 1º
grau foi, em tudo, omissa. No que diz respeito ao fumus boni iuris, ela
faz referência à "farta documentação em anexo consubstanciada na
investigação procedida pelo Ministério Público" e ao fato de que "a
fraude ocorrida se encontra em destaque". Em relação ao periculum
in mora, afirmou: "certo é que se houver notícia aos envolvidos de
que tramita ação civil pública em seus nomes, haverá o grande risco
de ineficácia de uma possível sentença de procedência" (fls.
57-58/e-STJ); b) por ter aplicado o art. 515, § 3º, do CPC, o
Tribunal de origem trouxe, em motivação mais minuciosa, as razões
pelas quais a providência acautelatória efetivamente deveria ter
sido concedida. Ou seja, a partir do efeito substitutivo, o vício de
fundamentação foi sanado, eliminando eventual prejuízo à parte; c) é
possível cogitar que o Tribunal a quo tenha se valido inclusive da
interpretação sistemática do art. 515, § 4º, do CPC, que outorga ao
Magistrado a possibilidade de saneamento de nulidade por meio da
realização de ato processual - aqui, consistente na outorga de
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fundamentação suficiente a um ato de império. Corrobora esse
raciocínio o fato de que, após a motivação expressa no acórdão do
Agravo, a recorrente optou por não alegar qualquer ofensa à ampla
defesa, limitando-se à questão processual posta; d) não houve
prejuízo ao contraditório e à ampla defesa porque a manifestação do
Tribunal local se deu a partir de Agravo de Instrumento interposto
pela própria parte prejudicada pela decisão liminar - oportunidade
suficiente para que se insurgisse contra a decisão que deferiu a
indisponibilidade de bens; e) a maturidade da causa está na própria
limitação de cognição outorgada no exame de tutelas de urgência:
modula-se a exigência de profundas investigações, especialmente
quando já exercido efetivo contraditório. Some-se ainda a
circunstância de ter sido juntada cópia integral dos autos, o que
permitiu o conhecimento dos fatos e dos fundamentos jurídicos da
pretensão da parte - dentro do razoável ao momento processual e no
âmbito da questão posta; f) a temática do periculum in mora para
deferimento da indisponibilidade de bens foi tratada nos termos da
jurisprudência da Primeira Seção (REsp 1.319.515/ES, Rel. Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Ministro Mauro
Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 21.9.2012). Até mesmo a
decisão de 1º grau, a despeito de sucinta, não destoa da ideia de que
não se devem esperar dados concretos de insolvência para
determinar medida destinada a evitá-la; g) entendimento diverso
do aqui esposado levaria à seguinte providência: o provimento do
recurso para anular o acórdão e determinar que o juízo de 1º
grau proferisse nova decisão. Considerando o teor de sua
fundamentação, é razoável pressupor a ratificação da decisão de piso
(ainda que mais robusta), a repetição do Agravo de Instrumento, a
repetição do respectivo acórdão e a manutenção do status atual
(afinal, a recorrente não se insurgiu contra nenhum outro fundamento
do decisum ora atacado).
Tratar-se-ia de manifesto prejuízo à celeridade, economia processual
e efetividade do processo; um desserviço à premissa de outorga
tempestiva de decisões em atividade jurisdicional, sem benefício
algum às partes do processo.
7. Por fim, de essencial relevância destacar que a jurisprudência do
STJ admite a não aplicação da teoria da causa madura quando for
prejudicada a produção de provas pela parte de forma exauriente, o
que não acontece na presente hipótese, já que se trata de
recebimento da inicial da Ação de Improbidade e de determinação
cautelar da medida de indisponibilidade dos bens, situações em que o
juízo exara provimento de exame precário das provas juntadas com a
inicial, sem prejuízo de prova em contrário no curso da ação.
8. Recurso Especial não provido."
(REsp 1215368/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, CORTE
ESPECIAL, julgado em 01/06/2016, DJe 19/09/2016)
Na espécie, o acolhimento da pretensão do recorrente, com o retorno dos autos

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ao juízo de origem, representaria um manifesto prejuízo a celeridade, economia processual e
efetividade do processo, sem benefício algum às partes do processo.
No mérito, consoante observou o Tribunal de origem, a pretensão da viúva
agravante não era a de prestação de alimentos, e sim percepção de importância mensal de frutos
e rendimentos de seu patrimônio, na condição de meeira.
Assim, ao entender equivocada a argumentação do agravado, ora recorrente, no
sentido de que a meeira somente terá seus bens após a partilha, configurando ilegítimo o
desapossamento da meação praticado no inventário, decidiu em sintonia ao entendimento do
Superior Tribunal de Justiça.
Com efeito, a viúva, na qualidade de meeira, é proprietária antes mesmo da
abertura da sucessão e, assim sendo, tem o direito impostergável de usufruir de seu patrimônio
sem solução de continuidade, não lhe retirando o processo de inventário seu direito subjetivo de
propriedade, posse dos bens e faculdade de administração. Consequentemente, há de ser
atribuído à meeira, o exercício das prerrogativas que sua condição de inegável titular da meação
que o ordenamento jurídico lhe outorga: a administração e a fruição desses bens.
Nesse sentido, confira-se:
"DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA E SUCESSÕES.
INVENTÁRIO E PARTILHA. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
TEMPESTIVIDADE E CORRETA FORMAÇÃO DO RECURSO.
RESERVA DE BENS SOBRE A PROVÁVEL MEAÇÃO DA
EX-COMPANHEIRA ANTERIORMENTE DEFERIDA. POSSE E
ADMINISTRAÇÃO DOS BENS QUE A INTEGRAM. PRINCÍPIO DA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
1. Consiste o litígio entre o inventariante, sobrinho do falecido, e
aquela que afirma ser ex-companheira do autor da herança, pelo
período de 37 anos, até seu falecimento, tendo por base fática a
estabelecida pelo TJ/BA, no sentido de que é alta a probabilidade de
que a união estável perdurou o tempo aludido, pendente ainda de
julgamento ação para o seu reconhecimento.
2. A administração pelo inventariante do acervo hereditário, tornado
indivisível pelas regras do Direito das Sucessões, não esbarra no
direito de meação, este oriundo do Direito de Família, e que é
conferido ao companheiro quando da dissolução da união estável ou
pela morte de um dos consortes.
3. O art. 1.725 do CC/02 estabelece o regime da comunhão parcial de
bens para reger as relações patrimoniais entre os companheiros,
excetuando estipulação escrita em contrário. Assim, com a morte de um
dos companheiros, do patrimônio do autor da herança retira-se a
meação do companheiro sobrevivente, que não se transmite aos
herdeiros do falecido por ser decorrência patrimonial do término da
união estável, conforme os postulados do Direito de Família. Ou seja,
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Superior Tribunal de Justiça
entrega-se a meação ao companheiro sobrevivo, e, somente então,
defere-se a herança aos herdeiros do falecido, conforme as normas
que regem o Direito Sucessório.
4. Frisa-se, contudo, que, sobre a provável ex-companheira, incidirão
as mesmas obrigações que oneram o inventariante, devendo ela
requerer autorização judicial para promover qualquer alienação, bem
como prestar contas dos bens sob sua administração.
5. Recurso especial conhecido, mas não provido."
(REsp 975.964/BA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 15/02/2011, DJe 16/05/2011)
Diante do exposto, nos termos do art. 255, § 4º, II, do RISTJ, nego provimento ao
recurso especial.
Publique-se.
Brasília, 19 de dezembro de 2017.

MINISTRO LÁZARO GUIMARÃES


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO)
Relator

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