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Nada disso é razoável nem tem qualquer indício de moralidade. E o que é pior: admitindo
multas absurdamente altas por faltas de pouca ou nenhuma relevância, a lei possibilita
que um funcionário público tenha um poder descomunal sobre o contribuinte, abrindo a
possibilidade de actos ilícitos.
O Poder Legislativo não pode criar leis que firam os princípios gerais de direito e
também os princípios implícitos na Constituição, o principio da razoabilidade e da
proporcionalidade. Do mesmo modo que não se deve admitir, somente porque existe lei,
penas excessivas na esfera do Direito Penal — doutrina pacífica atualmente; da mesma
maneira que não se pode aceitar a fixação de tributos de caráter confiscatório, que
agridam o princípio da capacidade contributiva, porque abusivos e desproporcionais —
pacífico na doutrina igualmente; enfim, se em qualquer ramo do direito não se pode
acolher, passivamente, que o Estado legisle ferindo preceitos básicos do sistema de
equilíbrio entre o seu poder e os direitos e garantias individuais, com maior razão , no
contexto do direito administrativo o mesmo não pode se dar. A multa cobrada é
nitidamente desproporcional à infração cometida e fere a capacidade de pagamento do
autor... Por isso, vemos sentido em cancelar a aplicação da multa, considerando
inconstitucional a lei que fixa seu valor, por desrespeitar os princípios da razoabilidade
e da proporcionalidade.
Com efeito, o princípio do Estado de Direito consagrado no nosso texto constitucional é assaz
visto que está vinculada à garantia e protecção dos direitos fundamentais dos cidadãos, os
fins que a norma visa prosseguir terão de ser fins legítimos.
Uma outra questão que se levanta é a de saber se a adequação comporta igualmente um juízo
acerca do grau de eficiência da medida proposta. Nesta perspectiva, não só se avaliaria se a
medida seria capaz de atingir o fim, mas se o faria conseguindo resultados óptimos. Ora, no
presente caso a resposta parece-nos ser negativa. Escapa à intenção do princípio da
proporcionalidade a optimização da relação meio fim.
O valor das multas a serem aplicadas deve ser proporcional ao valor objeto da
obrigação tributária, sob pena de destruição do bem de onde surgirão os recursos para o
Estado, à título de tributo, ou seja, a proporcionalidade da multa se impõe sob pena de
destruição da fonte do tributo, que é o contribuinte.
Por exemplo, basta lembrar que o comportamento ilícito tem suas variáveis. Pelo menos duas,.
A primeira diz respeito aos agentes. A segunda, aos eventos. Quanto aos agentes, os não éticos
podem ser divididos entre os que fazem por estilo de vida, como os criminosos que montam
uma estrutura de mercado e governo paralelos; e os que fazem por necessidade, como os que
se colocam à beira da calçada e estão mais para sobreviventes do que para imorais. Já em
relação aos eventos, devemos admitir que há distinção entre a transgressão como recurso
emergencial, como a do camarada que aceita ser achacado pela autoridade que criou a
dificuldade para vender a facilidade, e a transgressão como meio de vida, como a da autoridade
que vive criando dificuldade.