Você está na página 1de 18

4

GEOLOGIA, INVESTIGAÇÕES
GEOTÉCNICAS
E TRATAMENTO SUBTERRÂNEO

GEOLOGIA DA ÁREA DE PROJETO 4.3


Principais Características 4.3

INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICAS E GEOTÉCNICAS 4.6

PRINCIPAIS DESCONTINUIDADES DAS FUNDAÇÕES 4.9

Descontinuidades 4.9
Zonas de Cisalhadas 4.9
Tratamento Subterrâneo 4.11

INSTRUMENTAÇÃO DA MALHA DE CHAVETAS 4.16

4.1
4
GEOLOGIA, INVESTIGAÇÕES
GEOTÉCNICAS
E TRATAMENTO SUBTERRÂNEO
GEOLOGIA DA ÁREA DE PROJETO

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

A área de projeto e o reservatório de Itaipu jazem sobre os grandes derrames


basálticos da bacia superior do rio Paraná, que pertencem à formação Serra
Geral da era jurássica inferior; veja na Fig. 4.1. As principais características
geológicas desta área, ilustradas na Fig. 4.2, são:
• Derrames basálticos essencialmente horizontais, com espessura de 20
a 60 m.
• Camadas de brecha intercaladas entre os derrames de basalto, de 1 a 30 m
de espessura, geralmente heterogênea, usualmente mais fraca e defor-
mável que o basalto.
• Descontinuidades dispostas em planos paralelos aos derrames de
basalto, geralmente localizadas nos contatos entre derrames, ou na base
da zona de transição.
• Permeabilidade horizontal, várias vezes maior que a permeabilidade vertical.
Os derrames de basalto são relativamente uniformes, variando desde
basalto cinza-escuro, de granulação fina a grosseira na porção central, à zonas
de transição vesicular, amigdaloidal e brechosa perto do limite superior.
A espessura, litologia e porosidade das camadas de brecha são altamente
variáveis. Durante o período entre dois derrames de lava, a superfície
escoriácea e irregular do derrame foi submetida ao intemperismo com erosão
e depósito de areia, ou silte, pela ação do vento e da água.

Vista geral das


escavações

4.3
Fig. 4.1 Mapa geológico geral

4.4
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

1 Eixo da barragem
• Perfuração rotativa
A, B, ...F Derrame basáltico
Basalto denso
Brecha
Basalto vesículo-amigdaloidal
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

Fig. 4.2 Seção geológica típica no local de Itaipu

Y Elevação (m)
1 Eixo da barragem
A, B, ...E Derrames basálticos
Basalto denso
Brecha
Basalto vesículo-amigdaloidal

O derrame subsequente então moldou e soldou ao leito do rio devido à ação de forças horizontais. A rocha
novamente este material, formando assim as camadas maciça do leito do rio também apresenta áreas de
superiores de brecha de cada derrame, de natureza cisalhamento, seguindo uma direção geral paralela ao rio,
heterogênea. com mergulho no sentido leste ou oeste, cisalhamento
Outro aspecto especial destes derrames basálticos é este causado mais provavelmente pela ação de forças
a descontinuidade singenética geralmente encontrada na compressivas horizontais na direção leste-oeste. As
base da zona vesículo-amigdaloidal de cada derrame. descontinuidades sub-horizontais associadas ao basalto
Este foi provavelmente o resultado da concentração de de composição mineral diferente constituem a
materiais argilosos neste horizonte, depositado quando característica peculiar desta área. A título de exemplo
o derrame se encontrava em estado viscoso. Uma causa destas juntas podemos citar as descontinuidades
alternativa para estas descontinuidades foi o movimento denominadas junta A na El. 12 e junta B na El.62.
de cisalhamento nesta linha divisória, entre a crosta Cada derrame apresenta três tipos distintos de rocha
superior, que já estava sólida, e o núcleo interno do basáltica:
derrame ainda em estado líquido e em movimento. • Basalto denso, caracterizado pela sua textura micro-
No local de projeto, os derrames de basalto cristalina, alta densidade (2,95) e alto módulo de
apresentam um mergulho regional de 3° em direção ao deformabilidade (> 2000 kN/cm2). Por causa da sua
nordeste. Os principais alinhamentos na área, conforme rigidez intrínseca, este basalto é altamente fraturado.
observado nas fotografias aéreas, têm orientação entre • O basalto vesículo-amigdaloidal possui uma textura
30° N a 50° O (17%), 50° N a 70° O (15%) e 30° N a 50° L similar à do basalto denso, porém, contém vesículas
(13%). Esta última corresponde ao alinhamento geral do e é bem menos fraturado que o basalto denso. Sua
rio Paraná na área de projeto. densidade varia de 2,6 a 2,7 e tem um módulo de
São cinco os derrames basálticos diretamente deformabilidade entre 1.000 e 1.500 kN/cm2 . Esta
relacionados ao projeto; foram denominados, em ordem litologia não apresenta zonas permeáveis.
ascendente, de A, B, C, D e E, com espessuras que • Brecha e lava escoriácea, composta de lava altamente
variam entre 30 e 70 m; veja a Fig. 4.3. Descontinuidades vesicular que engloba blocos angulosos de diferentes
sub-horizontais também foram encontradas, formadas tipos de basalto, arenito e silte, e que possui cavidades
pela erosão do rio Paraná, de modo que a massa rochosa irregulares parcialmente preenchidas com carbonato,
desconfinada sofreu um leve deslocamento em direção zeólita e quartzo amorfo e cristalino. As densidades

4.5
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

variam entre 2,1 e 2,4, e em alguns locais são inferiores


a 2. O módulo de deformação gira em torno de 700
kN/cm2. A elevada porosidade e interconexão das
cavidades resultam numa permeabilidade maior que
10-3 cm/s.
As descontinuidades encontradas normalmente nas
áreas de contato da parte superior da brecha e da parte
inferior do basalto denso eram aspectos de relevância
no que se refere à estabilidade das barragens e das outras
estruturas.

INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICAS E
GEOTÉCNICAS

Os levantamentos efetuados no início dos estudos de


projeto tiveram como meta principal estabelecer a
viabilidade do arranjo proposto. Foram feitas perfurações
rotativas com retirada de testemunhos, visando obter um
conhecimento geológico abrangente da área, definir as
características dos derrames basálticos, a sua espessura
e, o mais importante, a natureza das brechas. Nesta fase
Investigações geológicas por meio de sondagem na inicial, foram escavados também trincheiras e túneis
margem esquerda

Fig. 4.3 Fundação da barragem principal – seção geológica longitudinal

Y Elevação (m) 4 Poços de prospecção E1...E6 Barragem lateral direita Basalto denso
1 Perfil da escavação 5 Cortina de injeção transversal F1/2...F35/36 Blocos da Brecha
2 Chavetas 6 Limite da cortina de injeção barragem principal Basalto vesículo-amigdaloidal
3 Túneis de exploração 7 Descontinuidades A, B, ...E Derrames basálticos

4.6
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

exploratórios nas margens para examinar visualmente as


características das formações rochosas. Os exames e
testes in situ permitiram a definição das características
geotécnicas da brecha que, em função do seu baixo
módulo de deformação, foram consideradas camadas
problemáticas. Foram efetuados oito testes de
cisalhamento in situ na brecha e testes de macaco plano
nos túneis para determinar o módulo de deformação. As
amostras representativas obtidas através das perfurações
foram testadas em laboratório para definir as Investigação geológica da brecha B
características litológicas das diversas camadas na estrada de acesso
rochosas.
Investigações posteriores reuniram os dados
necessários para definir os níveis da fundação para a
estrutura e o tratamento da fundação. Essas investigações
também contribuíram para uma melhor compreensão das
descontinuidades horizontais, inicialmente inferidas a
partir da correlação dos dados obtidos das perfurações
e, posteriormente, confirmadas pelos afloramentos ao
longo das margens do rio. Foram realizadas sondagens
com amostragem integral e escavados poços e túneis
em vários locais com a finalidade de conhecer as
características geotécnicas das descontinuidades.
Um poço de exploração de 4m de diâmetro foi Levantamento geológico na
escavado desde a El. 125 até a El. 7 na margem direita margem direita
do rio, perto do eixo da barragem. Esse poço atravessava
a maioria das descontinuidades de importância para as
fundações da barragem principal. A partir deste poço
foram escavados túneis de exploração na El. 70, El. 59 e
El. 12 e, a partir do último, um outro túnel inclinado
alcançava a área de contato entre os derrames A e B na direita, e um túnel de 210 m de comprimento na El. 55,
El. 20. O túnel da El. 70 foi escavado de modo a permitir na margem esquerda. A junta sub-horizontal no derrame
uma investigação minuciosa das propriedades D foi investigada a partir do túnel escavado na margem
geotécnicas da brecha B. O objetivo dos túneis na El. 59 direita na El. 125.
e El. 12 era determinar quais eram as características das Para a obtenção de dados geotécnicos melhores e
seguintes descontinuidades: mais confiáveis das descontinuidades na El. 20 e El. 12
• As camadas e juntas soldadas com cimento calcítico poços e túneis de exploração foram escavados no leito
na El. 62 (junta B). do rio, depois do desvio do rio. Esses túneis revelaram
• Zonas fraturadas na base do derrame B. outras descontinuidades associadas à descontinuidade
• A área de contato dos derrames A e B na El. 20 e a A/B. Consistiam em juntas de cisalhamento com material
junta A na El. 12. argiloso envolvendo blocos de basalto, de espessura
Nos túneis da El. 62 e El. 20 foram efetuados testes de variando de 0,3 a 0,05 m, algumas mergulhando em
cisalhamento direto in situ sobre blocos de 1 m x 1 m, direção à margem direita e outras em direção à margem
nas descontinuidades. esquerda e, em certos pontos, mergulhando para
Depois do desvio do rio em outubro de 1978, a junta montante ou para jusante.
B foi investigada ao longo de dois túneis de drenagem: Os resultados dos testes in situ e de laboratório
um túnel de 165 m de comprimento na El. 60, na margem constam da Tabela 4.1.

4.7
Tabela 4.1 Propriedades físicas da rocha de fundação
Tipo de Derrame Ensaios in situ Ensaios de laboratório
material Deformabilidade Resistência Deformabilidade Resistência
Rochas Ed x103 Es x103 υ kt φ c Ed x 103 Es x 103 υ φ c σc σt
Brecha basáltica
Maciça/média B 1,6-1,9 1,0 (1) 0,22 35 360 1,7 2,0 0,33
Média B 1,6-1,9 1,3 (1) 0,22 35 360 2,5 2,3 0,26
Cavernosa B 0,9-1,2 0,5 (1) 0,23 1,0 0,7 1,96
Maciça D 35 440
Cavernosa B 0,4 (3)
Cavernosa B 0,3 (3)
Média B 0,6 (3)
Observações:
Sã (4) 2,4 2,1 0,14 2,8
(1) Valores obtidos através
Levemente de macaco plano
intemperizada (4) 2,3 1,4 0,11 2,6 (2) Medições com
Intemperizada (4) 1,7 1,3 0,20 1,5 0,1 dilatômetro

Basalto vesicular B 2,5-4,0 0,30 (3) Ensaio de carregamento


de placa

4.8
Cinza são A 0,7 (3) (4) Esses são valores médios
Cinza A 0,8 (3) de diferentes medições
efetuadas durante o
São (4) 4,9 4,4 0,12 5,2 1,0
projeto de viabilidade
Levemente
intemperizado (4) 2,2 0,31 3,0
Intemperizado 2,5 1,8 0,20 3,3 0,5 Ed (kN/cm2 ) - módulo de
deformabilidade dinâmico
Basalto denso C 2,6 (2) 5,9 0,15 Es (kN/cm2 ) - módulo de
Cinza são B 1,7 (3) deformabilidade estático
Cinza sobre junta B B 0,1 (3) υ Coeficiente de Poisson
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

kt (kN/cm3 ) - rigidez
São (4) 5,1 6,4 0,19 9,3 2,0
tangencial ao cisalhamento
Juntas φ (Graus) - ângulo de atrito
Descontinuidade D El. 125 33-45 0-360 c (N/cm2 ) - coesão
Descontinuidade B El. 61 14 35 0 15-45 0-180 σc (kN/cm2 ) - resistência à
compressão simples
Contato A/B El. 20 8 26 0 30 0
σt (kN/cm2 ) - resistência à
Descontinuidade A El.12 30 70-360 tração
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

PRINCIPAIS DESCONTINUIDADES
DA FUNDAÇÃO

DESCONTINUIDADES

Junta sub-horizontal do derrame D


Esta descontinuidade afetava os blocos E1 até E6 da
barragem de contraforte e o bloco F1/2 da barragem principal
na margem direita, onde ocorria na El. 125. Na margem
esquerda está localizada na El. 116, debaixo dos blocos
F33/34 e F 35/36. Possui preenchimento de argila, levemente
ondulado, com espessura de 10 a 30 cm, com um ângulo
de atrito interno aproximado φ = 30° na margem direita e
25° na área próxima à estrutura de controle do desvio.

Contato entre os derrames de basalto C e D


Esta descontinuidade está localizada na El. 112, debaixo
dos blocos E e F 1/2 da barragem principal na margem Ombreira esquerda da estrutura de desvio entre
direita, onde a junta é aberta, lisa e cheia de argila plástica. El.105 e El.125. A descontinuidade D é visível no
As características geotécnicas melhoram gradualmente lado esquerdo da foto.
à medida que aumenta a distância desde a superfície do
terreno. Um φ de aproximadamente 20° foi estimado
era de 10 m. A brecha possui características geotécnicas
debaixo do bloco F1/2 e de aproximadamente 30° debaixo
heterogêneas que vão de compacta, com pouca
do bloco E 4. Esta descontinuidade também afetava os
porosidade, a cavernosa, inadequada como fundação
blocos F 33/34 e F 35/36 na margem esquerda onde, na
para as estruturas. O módulo de deformabilidade médio
El. 110, aparece com uma espessura de alguns
para a brecha compacta foi estimado em 700 kN/cm2, e
centímetros, sem irregularidades relevantes e com um φ
os parâmetros de resistência foram avaliados em φ = 35°
que se presumia alcançar cerca de 40°.
e c = 50 N/cm2 .
Área fraturada do basalto denso do derrame C
Junta A
Esta área consiste num feixe de fraturas descontínuas com
Esta junta apresenta-se como um horizonte levemente
superfícies oxidadas que afetam principalmente os blocos
intemperizado, sem fratura definida nas áreas onde o
F 33/34 e F 35/36 na margem esquerda, onde ocorrem
contato entre os derrames A e B é aberto. Na margem
na El. 96. Para esta zona foram estimados um φ = 40° e
esquerda, debaixo dos blocos F 19/20 a F 35/36, a
uma coesão de c = 40 N/cm2.
espessura do preenchimento de argila na junta era de 3
Junta B na El. 55 – 62 a 5 cm com o φ estimado de 35°.
Consiste num pacote de juntas, separadas umas das
outras de 1 a 5 cm, soldadas com carbonato de cálcio e
ZONAS CISALHADAS
parcialmente abertas. Em consequência do modo de
formação dos cristais de carbonato de cálcio, as juntas Zonas cisalhadas na base do derrame do
possuem um baixo valor de φ. A resistência desta junta basalto B
foi estimada em φ = 35° e c = 50 N/ cm2. As zonas cisalhadas do leito do rio, na base do derrame
B, constituíam o aspecto mais importante das fundações,
Brecha B na El. 70 – 80 quanto à estabilidade da barragem principal e da casa
A brecha mais espessa encontrada tinha uma espessura de força. As zonas cisalhadas formam pelo menos quatro
de 10 a 15 m, e na área da barragem a espessura média planos principais; veja a Fig. 4.4.

4.9
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

Zona cisalhada 1. Localizada na ombreira direita, esta zona Zona cisalhada 3. Esta é menor que as zonas 1 e 2 e está
virtualmente coincide com o contato entre os derrames A e situada do lado de jusante da barragem. Apresenta um
B, aproximadamente na El. 20, subindo em direção à mergulho para jusante, favorável a deslizamentos.
margem esquerda até ser interceptada pela zona 2. Rejeitos Na direção de montante, esta zona se fecha e desaparece
de até 30 cm foram encontrados nesta zona, longe das antes de aflorar e, por esse motivo, não foi detectada durante
áreas de contato. Em algumas áreas, a zona cisalhada 1 os preparos da superfície de fundação. Na direção de
encontra-se preenchida com concentrações de argila jusante, ela praticamente alcança o contato A/B. Predomina
altamente plástica, e em outros locais, com material o preenchimento cataclástico com fragmentos de rocha
milonitizado. À medida que esta zona se aproxima e fraturada, às vezes envolta numa matriz argilosa. Há
finalmente se junta ao contato A/B, ela apresenta, em alguns evidentes indícios de movimento na direção E-O. Foi
pontos, um preenchimento de argila e, em outros, uma construída uma malha superior de túneis e chavetas na El.
descontinuidade aberta, muito permeável, conforme 30 para tratar esta zona.
demonstrado pelas infiltrações ocorridas nos túneis durante Zona cisalhada 4. Esta zona, cuja área mede apenas uns
a construção. Tudo indica que, por causa do alto grau de 40 m x 50 m, foi detectada entre a El. 30 e a El. 35. Nela
intemperismo, não foram observados espelhos de falha ou foram encontradas somente pequenas deformações
qualquer outro indício de movimento ao longo da causadas pelo processo de construção da barragem e, por
descontinuidade. este motivo, deixada sem tratamento. Um poço de 9,5 m
Zona cisalhada 2. Esta foi a primeira a ser detectada por de profundidade foi escavado para sua exploração e
aflorar debaixo da alma do bloco F17. A sua condição inspeção.
geomecânica é variada: nas elevações mais altas, apresenta As investigações exploratórias demonstraram que os
elevada concentração de argila; nos mais baixos níveis, preenchimentos desta zona eram irregulares, e confirmaram
predomina o contato rocha-rocha. sua localização e extensão conforme estabelecido
Onde a concentração de argila é elevada, há evidência originalmente pelas sondagens.
considerável de movimento, e foram observados rejeitos de As opiniões eram diversas quanto à origem das zonas
10 cm em média. No local onde esta zona intercepta a zona de cisalhamento na fundação principal do leito do rio. No
1, há uma espessa camada de rocha com múltiplas fraturas entanto, o consenso era de que essas descontinuidades
horizontais, as quais provocaram algumas quedas de pedras estavam relacionadas com tensões horizontais associadas
durante a escavação do túnel. O ângulo formado por estas à erosão do rio, produzindo uma típica configuração de
duas zonas é de 20°. Na área das fundações, esta zona ruptura por arqueamento-cisalhamento; veja a Fig.4.4.
tem uma direção predominante N-S e um mergulho para L Julgou-se pouco provável que estas zonas de
de 15°. cisalhamento tivessem origem na redistribuição de um

Fig. 4.4 Fundação da barragem principal - mecanismo provável de formação do rio

Y Elevação (m)
1 Perfil natural do terreno
2 Perfil da escavação
3 Contato A-B aberto
4 Contato A-B fechado
5 Margem direita
6 Margem esquerda
7 Zona de cisalhamento 1
8 Zona de cisalhamento 2
9 Zona de cisalhamento 3
10 Bloco da barragem
principal (F15 ... F21)
Basalto denso
Brecha

4.10
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

campo inicial de tensões naturais, resultantes somente do descontinuidade e do não confinamento desta parte da
peso da rocha e de suas propriedades elásticas devido à fundação por dois lados: a esquerda, devido à fundação
erosão do cânion do rio. Mesmo considerando 100 a 200 descendente em degraus, e a jusante, devido à
m de terreno de cobertura sobre o topo do vale, erodidos escavação profunda para a área de montagem direita.
durante as eras geológicas, as tensões horizontais O tratamento melhorou a resistência ao cisalhamento dos
resultantes seriam baixas e capazes de arquear apenas um planos de fraqueza, o suficiente para que os coeficientes
estrato de basalto relativamente fino (10 m), porém sem de segurança contra o cisalhamento-deslizamento na
cisalhá-lo, considerando que tais tensões são muito mais descontinuidade ficassem adequados.
baixas que a resistência à compressão simples do basalto.
Portanto, deve ter havido uma contribuição de tensões Tratamento subterrâneo das fundações da
horizontais exercidas, por assentamento regional, por barragem principal no leito do rio
compressão lateral da crosta, ou por uma combinação dos O tratamento das fundações mais extenso foi realizado
dois processos. debaixo dos blocos mais elevados da barragem principal,
no leito do rio.
Entre as diversas alternativas de tratamento
TRATAMENTO SUBTERRÂNEO
consideradas, tais como rebaixamento da escavação,
Tratamento subterrâneo da descontinuidade da escavação de trincheira ou diafragma de vedação,
margem direita remoção por lavagem dos materiais fracos e aplicação
O tratamento no contato entre os derrames C e D consistiu de injeções de cimento, chavetas, etc., duas foram
de uma malha de três chavetas longitudinais e de outra selecionadas para uma análise detalhada.
transversal debaixo dos blocos F1, E6, E5 e E4 da 1. Rebaixamento parcial de um terço da fundação de
barragem, totalizando cerca de 600 m de túneis e 6000 jusante.
m3 de enchimento de concreto; veja a Fig. 4.5. A 2. Chavetas de concreto nas zonas de contato A/B.
descontinuidade coincide com o contato C/D, na El. 112 A comparação destas duas alternativas de tratamento
aproximadamente. corretivo levou às seguintes conclusões:
O tratamento subterrâneo abarcou metade de um • Ambas as alternativas ofereceriam fatores de
bloco de gravidade aliviada e cinco blocos individuais de segurança equivalentes.
contrafortes. Tratamento esse necessário em função da • Ambas eram essencialmente iguais quanto à
baixa resistência ao cisalhamento do material argiloso na viabilidade técnica.

Fig. 4.5 Barragem


principal – tratamento
da fundação na
margem direita

1 Poço de acesso
2 Chavetas
3 Descontinuidade
4 Cortina de injeção
5 Túneis de drenagem

4.11
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

• Caso fosse rebaixado o nível da fundação para El. 20


seriam necessárias as seguintes quantidades
adicionais: 190.000 m3 de escavação e 180.000 m3
de concreto.
• Mesmo levando em conta os preços unitários mais
elevados das chavetas, a alternativa de tratamento
subterrâneo seria mais barata em 20%.
• Para a primeira alternativa seriam necessários 7 meses
para escavar a rocha e preenchê-la com concreto da
El.40 para a El.20, o que comprometeria o cronograma
de construção dos blocos elevados da barragem
principal.
• O tratamento subterrâneo (a segunda alternativa) poderia
ser executado simultaneamente à construção dos
blocos da barragem com um mínimo de interferência.
Com base nas conclusões citadas acima, optou-se
pela segunda alternativa que requeria o tratamento
subterrâneo com chavetas. O arranjo final consistia de Fig. 4.6 Barragem principal e casa de força no leito do
uma malha de oito chavetas paralelas e oito perpen- rio - Tratamento de fundação – planta na El. 20
diculares ao eixo da barragem; veja Figs. 4.6 e 4.7. As
1 Chavetas
chavetas individuais são constituídas de túneis de 3,5 m
2 Poço de investigação e acesso
de largura e 2,5 m de altura na El. 20, cerca de 15 a 20 m
3 Túnel perimetral de drenagem
abaixo da superfície, preenchidas com concreto e 4 Eixo da barragem
injetadas nos contatos. 5 Barragem principal – bloco de gravidade aliviada
O comprimento total das chavetas somava 2.600 m e o 6 Bloco da casa de força
volume total de concreto utilizado 30.000 m3. A malha está 7 Eixo da casa de força

circunscrita por um túnel perimetral de drenagem de 800


m de comprimento, escavado ao longo do contato A/B e
na cota aproximada de El. 20, o qual isola a região tratada • As áreas fracas e fraturadas deveriam ser localizadas,
para reduzir ao mínimo a subpressão na área interna. observadas e tratadas.

Critérios para o projeto de tratamento de fundação Análises convencionais de estabilidade. A área de


com chavetas. A malha de chavetas de concreto ao fundação, debaixo de cada bloco de gravidade aliviada
longo das descontinuidades foi projetada para oferecer necessitando de tratamento, foi definida através de
resistência contra o cisalhamento-deslizamento ao longo análises de estabilidade convencionais do equilíbrio limite
dos planos de fraqueza, além de substituir por concreto contra o cisalhamento-deslizamento com as seguintes
uma quantidade suficiente de veios e camadas mais hipóteses:
deformáveis para reduzir os recalques diferenciais das • Um plano de deslizamento horizontal, devido ao
fundações. pequeno declive (1° a 2°) da descontinuidade.
Os critérios básicos para o tratamento foram os seguintes: • Diagrama de subpressões de acordo com os critérios
• O comportamento da barragem e de suas fundações de projeto, levando em conta o efeito dos túneis de
deveria ficar bem dentro do campo elástico. drenagem.
• Deveria ser assegurada uma boa transmissão das • Fissuras verticais a jusante e montante, na fundação
forças através do plano das descontinuidades. até a El. 20, com plena carga hidrostática.
• As obras de construção da galeria de drenagem • A resistência lateral da rocha não foi considerada (entre
perimetral deveriam estar concluídas antes do a superfície da fundação e a descontinuidade, El. 40 e
enchimento do reservatório. El. 20), visto que a análise era bidimensional.

4.12
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

• A resistência da cunha de rocha à jusante não foi usada para definir o arranjo das chavetas e a consequente
considerada, porque tal força só seria mobilizada distribuição das tensões nas descontinuidades.
depois que a deformação da fundação tivesse Inicialmente, foram consideradas chavetas com
alcançado o limite de elasticidade. orientação longitudinal, porque se acreditava que uma
• Que somente a primeira etapa da casa de força fosse chaveta normal à direção da carga hidráulica resistiria
construída. melhor às forças de cisalhamento. Descobriu-se, no
• Resistência ao cisalhamento das chavetas de concreto entanto, que as tensões tendiam a se concentrar nas
igual a 0,5 kN/cm 2; testes de laboratório haviam chavetas de montante, o que poderia levar a uma ruptura
confirmado este valor. progressiva. Outra alternativa, com as chavetas
• Contribuição da área sem tratamento com c = 0 e φ = transversais (orientadas de montante para jusante), por
15°. Embora este ângulo tivesse sido avaliado de 20° serem contínuas debaixo de cada alma dos blocos,
a 25°, por causa da grande diferença entre a proporcionaria uma resistência efetiva contra o
deformabilidade do concreto e aquela da des- cisalhamento sobre toda a largura, incluindo o efeito de
continuidade sem tratamento, o concreto alcança o arco sobre as áreas heterogêneas da fundação.
seu limite de resistência ao cisalhamento a níveis baixos Portanto, na busca para otimizar ambas as orientações
de deformação, enquanto que as tensões nas e obter um tratamento mais uniformemente distribuído,
descontinuidades são apenas mobilizadas. Isso decidiu-se adotar uma malha de túneis transversais e
justificou o baixo valor de φ adotado. longitudinais cheios de concreto para formar as chavetas.
• Nenhuma contribuição da carga vertical da barragem Os estudos desta solução resultaram nas seguintes
sobre as chavetas de concreto, porque as chavetas conclusões:
foram construídas simultaneamente com os blocos da • As chavetas longitudinais são submetidas a maiores
barragem. Foi estimado que somente 28% do peso tensões de cisalhamento, quanto menores os valores
da barragem contribuiria na mobilização da resistência da rigidez ao cisalhamento da descontinuidade.
ao atrito nas chavetas. • As tensões de cisalhamento são menores nas chavetas
A maior parte das hipóteses resultou em cálculos longitudinais e aumentam gradualmente até um
conservadores quanto à estabilidade da barragem. máximo nas chavetas transversais.
As análises indicaram que para se obter um fator de • As áreas nos extremos de montante e de jusante
segurança satisfatório era preciso que a área mínima a trabalham num nível de tensão de cisalhamento mais
ser tratada através de chavetas de concreto fosse em elevado.
torno de 25% da área bruta de fundação, debaixo dos • Em todos os casos, as tensões de cisalhamento estão
quatro blocos da barragem. abaixo dos limites admissíveis em toda a fundação tratada.
Estudos das tensões pelo método dos elementos
finitos. A análise pelo método dos elementos finitos foi

Fig. 4.7 Seção transversal do tratamento da


fundação da barragem principal e da casa de força

1 Cortina de injeção
2 Injeção de contato
3 Injeção de consolidação
4 Furos de drenagem
5 Poço de investigação e de acesso
6 Chavetas
7 Túnel de drenagem
A, B Designação de derrame
Basalto denso
Brecha

4.13
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

Escavação com explosivos e tratamento da


fundação subterrânea. A sequência de escavação dos
túneis para as chavetas foi planejada de modo a
proporcionar condições de trabalho seguras, evitar danos
à rocha sã e minimizar a interferência com a construção
da barragem. Os túneis tiveram que ser localizados ao
longo das áreas mais fraturadas e fracas, resultando
muitas vezes em escavar em áreas instáveis e perigosas.
Portanto, adotou-se uma ampla gama de métodos para
a estabilização da rocha.
As escavações a fogo dos túneis foram controladas
para evitar danos ao concreto, tanto nos blocos de
concreto da barragem localizados de 15 a 20 m acima, Túneis para chavetas transversais
como nas chavetas próximas ou no próprio maciço de
rocha. Assim, regras estritas foram estabelecidas para debaixo da cabeça de montante dos blocos centrais, devido
fiscalizar as vibrações oriundas das detonações, as quais à presença de uma camada de material fraco e deformável
determinaram a quantidade permitida de carga de situado a uma pequena profundidade, entre 10 e 15 m,
explosivos por espera e, por conseguinte, a velocidade conforme mostra a Fig. 4.6.
de avanço nas obras dos túneis. As velocidades das A estabilização sistemática da rocha era efetuada a
partículas estipuladas abaixo não podiam ser superadas cada avanço do túnel, imediatamente após a remoção
para o concreto da idade correspondente. dos escombros. Consistia tipicamente de chumbadores
de 2,4 a 3,2 m de comprimento e diâmetro de 16 a 25
Idade do concreto Máxima velocidade mm, e uma malha de aço fixada pelos mesmos
(horas) de partículas (cm/s) chumbadores ou grampos. Quando uma rocha altamente
fraturada era encontrada, tirantes protendidos eram
0-8 Sem restrição colocados, a partir da frente de trabalho, inclinados para
8 - 24 0,25 a frente e injetados, melhorando assim o desempenho e
24 - 36 0,5 acelerando o avanço da escavação. Nas regiões onde
36 - 48 1,0
havia blocos de rocha de pequeno volume (< 0,5 m3) e
48 - 60 1,75
a instalação de chumbadores não era viável, barras de
60 - 72 3,0
aço chatas eram colocadas, fixadas por chumbadores
> 72 5,0
em ambos os lados e moldadas para se adequar ao
contorno do túnel.
O avanço máximo para cada série de fogos foi de 1,6 m Quando as condições da rocha eram mais instáveis,
com a remoção do material escavado por equipamentos era necessária a aplicação de concreto projetado, ou
compactos especiais. Em algumas ocasiões, a presença como tratamento preliminar à perfuração para colocação
de duas ou mais descontinuidades no mesmo local requeria de chumbadores, ou para complementar outras medidas
a escavação do túnel em bancadas, resultando numa altura de estabilização.
final do túnel de 8 a 10 m (quando a altura de projeto era de Após a escavação e a estabilização da rocha, e depois
2,5 m). E, às vezes, produzia uma instabilidade localizada, da remoção do material solto de grandes dimensões, a
corrigida pela rápida colocação de concreto. Estes casos superfície exposta da rocha era lavada com água e jatos
foram previstos durante o planejamento das escavações e de ar comprimido para remover todo material fino que
os trabalhos orientados para que estes locais fossem pudesse impedir uma boa adesão entre o concreto e a
alcançados somente durante a última etapa de abertura de rocha. A zona cisalhada era submetida ao mesmo
cada túnel, reduzindo assim ao mínimo o tempo decorrido processo para remover toda a argila superficial. Um
entre a conclusão da escavação e o lançamento do mapeamento geológico detalhado era então efetuado e
concreto. Algumas chavetas foram também estendidas a área liberada para lançamento de concreto.

4.14
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

O concreto usado para o preenchimento dos túneis produzido pela abertura da junta por ocasião da
tinha uma resistência à compressão fck de 2,8 kN/cm2 com detonação ou pelo alívio de tensões acima, ou em torno
um ano de idade e um tamanho máximo do agregado do teto do túnel. A pressão efetiva da injeção era 0,6
de 38 mm. Era colocado a partir da superfície, através de vezes a altura da rocha sobre o teto do túnel, e tinha a
perfurações de 152 mm de diâmetro, com espaçamento finalidade de garantir a penetração nas pequenas fissuras
de 4 a 8 m, feitas com um martelo a percussão down- abertas na base do derrame B. Quando da conclusão
the-hole. O concreto era inicialmente vibrado dentro do das injeções, eram feitas perfurações rotativas para se
túnel até uma determinada altura e, em seguida, obter testemunhos da área injetada e efetuar ensaios de
prosseguia o processo de adensamento a partir da perda d’água sob pressão. Depois de decorridos seis
superfície descendo o vibrador pelos furos de lançamento meses, foi efetuada uma segunda etapa de injeções
do concreto. A última camada de concreto, perto do teto através de furos de sondagem entre as perfurações da
do túnel, continha um aditivo expansivo. Nos locais onde primeira etapa. Foi perfurado um total de 20.000 m de
os túneis tinham uma altura excepcional, a colocação do sondagem para injetar a área das chavetas.
concreto era efetuada em mais de uma camada. As juntas
de construção verticais, dentro das chavetas de concreto, Cortinas de injeção e drenagem
eram normalmente localizadas a meio caminho entre as Com base em dados comparativos provenientes de
interseções da malha do túnel. projetos similares, o tratamento por injeção de cimento,
As áreas de contato das chavetas com o teto eram geometricamente, foi constituído por duas linhas de furos
injetadas com calda de cimento desde a superfície através obrigatórios, espaçados de 3,0 m, e intercaladas por uma
de furos de sondagem, com espaçamento de 6 m. A terceira linha central, com furos a cada 1,5 m, que deveria
finalidade era preencher qualquer vazio produzido pela ser efetuada no caso em que as absorções de calda nos
retração do concreto ou pelo inadequado preenchimento furos próximos superassem o valor de 12,5 kg/m. A cortina
das irregularidades na superfície da rocha ou, então, de injeção foi posicionada no pé de montante dos blocos

Fig. 4.8 Instrumentação da


fundação da barragem
principal com tratamento das
chavetas de concreto - planta

1 Chavetas transversais e longitudinais


2 Túneis de drenagem
Piezômetro
Extensômetro múltiplo
Medidores triortogonais
Roseta de deformímetro
Pêndulo
Medidores de vazão
F Direção do fluxo

4.15
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

nos trechos D, F, I, e em galerias na estrutura de desvio,


casa de força e vertedouro. Os trabalhos se
desenvolveram segundo o método split-spacing (método
das subdivisões sucessivas) partindo de um
espaçamento inicial de 12 m entre furos. Observou-se
que após o tratamento da rocha na região do leito do rio,
a perda d’água específica (PE) residual do maciço foi
inferior a 10 Lugeons, exceto na brecha “B”, somente sob
o bloco F27/28, onde esse valor se apresentou entre 10
e 100 Lugeons, devido às características peculiares de
injetabilidade desse horizonte geológico. As cortinas de
drenagem são constituídas por uma ou mais linhas de
furos espaçados no máximo 6 m, perfurados até uma
profundidade mínima igual a 80% da profundidade da
cortina de injeção profunda adjacente ou igual a 50% da
altura hidrostática máxima no plano de fundação da
estrutura sobrejacente.
Os capítulos dedicados às respectivas estruturas
oferecem maiores detalhes sobre as medidas tomadas
Fig. 4.9 Barragem principal – recalque durante o
acerca das cortinas de injeção e drenagem.
tratamento subterrâneo

Y Elevação do bloco da barragem principal


X tempo (meses) INSTRUMENTACÃO DA MALHA DE
Y1 Recalque em mícron
1 Início da escavação perto do extensômetro
CHAVETAS
2 Conclusão da escavação perto do extensômetro
3 Âncora superior do extensômetro Os seguintes instrumentos foram instalados na rocha de
4 Âncora inferior do extensômetro fundação na área submetida a tratamento subterrâneo e
5 Localização de âncoras de extensômetros nas próprias chavetas:

Piezômetros 16
Extensômetros múltiplos 9
Medidores de junta triortogonais 12
Rosetas de deformímetros 4
Medidores de vazão 5

A Fig. 4.8 mostra a localização dos instrumentos na


malha de tratamento subterrânea, debaixo dos quatro
blocos centrais da barragem principal.
Durante a escavação dos túneis, os extensômetros
múltiplos que foram instalados antes do início das obras
subterrâneas foram úteis para detectar áreas potencialmente
perigosas devido à excessiva sobrescavação e para adotar
medidas especiais de estabilização de rocha.
Fig. 4.10 Relação entre detonação e recalque À medida que progredia a obra de tratamento
subterrâneo, foi possível, a partir das medições periódicas
Y Recalque em mícron / por detonação medida pelo extensômetro
X Distância ( m) do extensômetro até o local do fogo dos extensômetros, medir os recalques provocados pelos
fogos, o progressivo aumento de peso da barragem, a

4.16
GEOLOGIA E TRATAMENTO - USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

concretagem dos túneis e as injeções sob pressão. Onde


fossem encontradas elevadas taxas de deformação, as
causas eram identificadas, e medidas adicionais de
tratamento efetuadas para controlar os recalques. As
leituras dos extensômetros, depois de completada a
escavação dos túneis e antes do seu preenchimento com
concreto, mostraram claramente que o processo de
recalque aumentava toda vez que a altura do túnel se
aproximava da espessura da rocha sobreposta.
Os dados dos instrumentos assinalavam um aumento
de deformação vertical à medida que a escavação se
aproximava do extensômetro, possivelmente em
consequência da consolidação do material de
preenchimento fraco e do fechamento das fissuras nas
descontinuidades causadas pelas vibrações das
explosões. A Fig. 4.9 mostra o comportamento típico da
fundação, que, inicialmente, sob o peso da barragem,
apresentou uma velocidade constante de recalque. Em
janeiro de 1981, conforme registro da âncora inferior do
extensômetro, a velocidade aumentou à medida que a
escavação do túnel se aproximava do instrumento. Depois
de terminada a escavação, a taxa de recalque diminuiu
de forma significativa.
A Fig. 4.10 ilustra claramente o efeito do fogo sobre as
deformações medidas por um extensômetro que
atravessava a zona de cisalhamento 1. A cada explosão, a
distâncias menores de 15 m entre o local da explosão e o
extensômetro, o recalque aumentava exponencialmente,
mesmo quando eram empregadas cargas muito baixas de
explosivos.
As velocidades de recalque registradas variavam
desde 5 mm/100 dias para os locais onde as obras de
escavação ou de concretagem ainda estavam em
andamento, até 1 mm/100 dias, ou menos, para as áreas
já concretadas e estabilizadas.
A finalidade dos outros instrumentos consistia em
monitorar o desempenho das chavetas individuais, como
também o de toda a fundação tratada como um monólito
global, uma vez concluído o tratamento da barragem e o
enchimento do reservatório. Além dos extensômetros,
piezômetros, medidores triortogonais e deformímetros
instalados na malha subterrânea de tratamento, os dois
pêndulos invertidos, situados em poços escavados
através da malha e ancorados a aproximadamente 20 m
abaixo das zonas de tratamento, também monitoraram o
desempenho global da barragem e do reforço das
descontinuidades na fundação.

4.17

Você também pode gostar