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ATRAÍDOS COM CORDAS DE AMOR

O Êxodo descreve como o Deus dos


Exércitos interviu para libertar Seu povo da
escravidão no Egito. Em virtude desse ato grandioso,
os hebreus contariam os atos de Deus, passando-os
de geração a geração. O Êxodo é a manifestação do
tremendo poder de Deus, controlando com sua
soberania diversas pragas que atingiram os egípcios
e abrindo o Mar Vermelho para que Seu povo o
atravessasse. No entanto, esse evento não demonstra
apenas o grande poder de Deus. Esse evento
testemunha a grandeza do amor de Deus pelo Seu
povo. Muitos anos após o Êxodo, o profeta Oseias
relembra a intervenção de Deus nesses termos:
“Atraí-os com cordas humanas, com laços de
amor...” (Os 11:4). A graça de Deus é maravilhosa.
Ainda que nenhum de nós mereça qualquer bem de
suas mãos, Ele nos favorece com Seu amor. Mas
essa graça não é só maravilhosa. Ela também é
soberana. O que isso significa? Isso quer dizer que a
graça de Deus é irresistível. Mas precisamos
entender bem o que significa “Graça Irresistível”,
pois o adjetivo “irresistível” pode causar alguma
confusão.

Alguém pode resistir à graça de Deus?


Nossa tendência é basear muitas de nossas respostas
sobre Deus, vida eterna, moralidade, e outras coisas,
em nossa experiência. A experiência parece ser um
guia confiável. Ninguém pretende fazer uma cirurgia
com um médico inexperiente. Também não
queremos confiar o motor de nosso carro a um
mecânico aprendiz. Você sempre deve ir ao mesmo
cabeleireiro confiando em seu traquejo. Se você vai
ao dentista também espera que ele tenha bagagem. A
experiência parece ser a rainha da sabedoria. E se
confiamos na experiência quando lidamos com
algum assunto desses que listamos acima, por que
não confiar nela para tudo o mais? A nossa
experiência parece ensinar que muitas pessoas
resistem à graça de Deus. Você deve presenciar isso
diariamente. É provável que você tenha um parente
incrédulo e que sempre resiste ouvir a mensagem do
evangelho. Ou talvez você pregue constantemente
para seus amigos e eles se recusam a crer em Jesus.
Bom, aí está! A experiência resolve tudo mesmo! “É
óbvio que alguém pode resistir à graça”, você pensa!
“A minha experiência mostra isso todos os dias! O
defeito não está na graça de Deus! O defeito é das
pessoas, que resistem à graça de nosso Senhor”. E
para não ficar só na experiência, você diz, vou
provar na Bíblia! Em Atos 7:51 está escrito:
“Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração
e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo;
assim vós sois como vossos pais”. Viu só?! Os
homens resistem à graça de Deus! Uma dose de
experiência e um versículo bíblico foi tudo o que
você considerou para dar um veredito final sobre a
graça de Deus.

Antes de prosseguirmos, é necessário fazer


uma advertência quanto ao lugar de nossas
experiências em relação à vida cristã. Apesar de
parecer um guia confiável, nossa experiência é falha.
Alguns exemplos bíblicos são suficientes para
demonstrar isso. Em João 12 Jesus fala com o Pai
para que o nome Dele seja glorificado. Eis o que se
segue: “Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma
voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra
vez o glorificarei. Ora, a multidão que ali estava, e
que a ouvira, dizia que havia sido um trovão. Outros
diziam: Um anjo lhe falou” (v. 28-29). A voz que
veio do céu dizia claramente: “Já o tenho
glorificado, e outra vez o glorificarei”. Mas alguns
que estavam ali pensaram ter ouvido um trovão.
Outros achavam que era um anjo. Eles chegaram a
conclusões erradas por confiarem em sua
experiência. Também no evangelho de Mateus
lemos: “Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se
Jesus para eles, andando por cima do mar. E os
discípulos, vendo-o andando sobre o mar,
assustaram-se, dizendo: É um fantasma. E gritaram
com medo. Jesus, porém, lhes falou logo, dizendo:
Tende bom ânimo, sou eu, não temais”. (Mt 14:25-
27). Aqui novamente os discípulos chegaram a uma
falsa conclusão porque confiaram em sua
experiência. Eles viram alguém andando por sobre o
mar e pensaram que era um fantasma. Eles estavam
terrivelmente enganados. Bom, isso deve ser
suficiente para demonstrar que nossa experiência
falha. E podemos ter plena confiança de que nossa
experiência está nos guiando pelo caminho correto,
mas no final podemos estar terrivelmente enganados.
Dessa forma, a experiência não deve ser invocada
para decidir sobre alguma doutrina. Somente a
Palavra de Deus deve ser nosso guia. Somente a
Palavra de Deus é suficiente. A Palavra de Deus não
pode falhar, mas nossa experiência falha. Portanto,
deixemos a Palavra de Deus ser lâmpada para nossos
pés e luz para nossos caminhos (Sl 119: 105).
Vejamos, portanto, o que a Palavra de Deus diz
sobre esse assunto.

CHAMADO EXTERNO E CHAMADO


INTERNO

Uma pessoa pode resistir ao Espírito Santo?


Será que graça irresistível significa que uma pessoa
é salva sem seu consentimento? Será que ela é
arrastada aos pés da cruz? Para responder a essas
perguntas precisamos entender bem o que a graça
irresistível é.

Começaremos, portanto, com algumas


definições e forneceremos o fundamento bíblico
para essas definições. No século XVII as igrejas
reformadas convocaram um Sínodo para analisar um
documento com cinco artigos da remonstrância.
Os Remonstrantes eram um grupo de teólogos e
ministros dos Países Baixos cujo principal
representante é Jacobus Arminius. No artigo IV de
seu documento os Remonstrantes afirmavam:

Que esta graça de Deus é o começo, a


continuação e o fim de todo o bem; de
modo que nem mesmo o homem
regenerado pode pensar, querer ou
praticar qualquer bem, nem resistir a
qualquer tentação para o mal sem a
graça precedente (ou preveniente) que
desperta, assiste e coopera. De modo
que todas as obras boas e todos os
movimentos para o bem, que podem
ser concebidos em pensamento,
devem ser atribuídos à graça de Deus
em Cristo. Mas, quanto ao modo de
operação, a graça não é irresistível,
porque está escrito de muitos que eles
resistiram ao Espírito Santo.
De acordo com os Remonstrantes, há uma
graça que atua no ser humano que é chamada graça
preveniente. Sem essa graça nenhum ser humano
pode vir à fé em nosso Senhor Jesus. Essa graça
desperta, assiste (auxilia) e coopera com o homem
pecador, fazendo-o capaz de escolher o bem. É em
virtude dessa graça que o homem crê, faz boas
obras, entende o evangelho. Isso que descrevemos
pode ser chamado de resultados da graça
preveniente. Mas além do resultado dessa graça,
precisamos considerar seu modo de atuação. Será
que essa graça é suficiente para a salvação? De
acordo com os Remonstrantes essa graça não é
suficiente, mas ela é necessária. Ela é necessária
porque sem ela não há fé, não há boas obras. Mas ela
não é suficiente, pois pode ser resistida. Por isso os
Remonstrantes disseram naquele documento: “Mas,
quanto ao modo de operação, a graça não é
irresistível, porque está escrito de muitos que eles
resistiram ao Espírito Santo”.
Ao analisar o artigo IV da Remonstrância,
O Sínodo de Dort expôs primeiramente o
entendimento da fé Reformada e posteriormente os
erros dos Remonstrantes. A resposta do Sínodo está
registrada em um documento denominado Cânones
de Dort. Vejamos:

Deus realiza o Seu beneplácito nos


eleitos e opera neles a verdadeira
conversão da seguinte maneira: Ele
cuida para que o evangelho lhes seja
pregado e ilumina poderosamente as
suas mentes pelo Espírito Santo de
sorte que possam compreender e
discernir corretamente as coisas do
Espírito de Deus. Pela operação eficaz
do mesmo Espírito regenerador, Ele
também penetra até os recantos mais
íntimos do homem, abre os corações
fechados e abranda os endurecidos,
circuncida o que era incircunciso e
infunde novas qualidades na vontade:
faz viver a vontade outrora morta; a
que era má, converte em boa; a
indisposta, em solícita; a rebelde, em
obediente. Ele muda e fortalece de tal
maneira essa vontade que, assim
como uma árvore boa, seja capaz de
produzir o fruto das boas obras.1

Para entendermos melhor o erro dos


Remonstrantes quanto a esse assunto vamos
distinguir didaticamente o chamado externo do
chamado interno. O chamado externo consiste na
pregação da Palavra que é dirigida aos escolhidos e
aos não eleitos. Esse chamado sempre é resistido.
Quando Estevão pregava a Palavra aos líderes
religiosos ele terminou sua exposição dizendo:
“Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração
e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo;
assim vós sois como vossos pais” (Atos 7:51).
Observe que “vossos pais” são os ancestrais do
público de Estevão. Deus havia enviado muitos
profetas para chamar esses “pais” ao
arrependimento. A profecia não surge por iniciativa
humana. Antes, sua origem é divina. Pedro escreveu:
“Porque a profecia nunca foi produzida por vontade

1
OS Cânones de Dort. Disponivel em:
<http://reforma500.com.br/wp-content/uploads/2016/10/Os-
C%C3%A2nones-de-Dort.pdf>. Acesso em: 31 agosto 2017.
de homem algum, mas os homens santos de Deus
falaram inspirados pelo Espírito Santo”. (2 Pe 1:21).
Aqueles profetas foram inspirados pelo Espírito
Santo. Quando o povo rebelde se recusava a atender
ao chamado divino eles não estavam recusando os
profetas, mas o próprio Espírito Santo. Por isso
Estevão diz que os homens de duro coração
“sempre” resistem ao Espírito Santo. Deus enviou
muitos profetas, enviou Moisés. Mas aqueles
homens apedrejaram os profetas, prenderam os
homens de Deus. Deus enviou seu próprio Filho. E
aqueles homens crucificaram o Filho de Deus. O
coração de pedra sempre resiste ao Espírito Santo. O
homem natural é propenso a resistir: “Ora, o homem
natural não compreende as coisas do Espírito de
Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode
entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente”.(1 Co 2:14). Então Estevão está
falando da resistência dos homens ao chamado
externo, o que é “natural” para o pecador que está
em inimizade contra Deus. Jesus conta uma parábola
comparando o Reino dos Céus a um rei que
“celebrou as bodas de seu filho” (Mt 22:2). Muitos
foram convidados para ir a essa festa. Mas eles se
recusaram a ir. Alguns até mataram os enviados do
rei. Os homens são culpados por recusarem o
convite de Deus: “E o rei, tendo notícia disto,
encolerizou-se e, enviando os seus exércitos,
destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua
cidade. Então diz aos servos: As bodas, na verdade,
estão preparadas, mas os convidados não eram
dignos”. (Mt 22:7,8). Depois o rei mandou seus
servos ir fazer o convite a outras pessoas (aos
gentios). Um dos convidados, no entanto, entrou na
festa sem as vestes nupciais. Ele foi lançado para
fora. Por que esse convidado não pôde ficar na
festa? “Porque muitos são chamados, mas poucos
escolhidos”. (Mt 22:14).

Então, o chamado externo atinge a muitos.


Mas apenas os escolhidos, cujas vestes foram
lavadas pelo sangue do Cordeiro, entrarão no Reino
dos Céus. Esse convite é abrangente, é dirigido a
muitas pessoas. Mas as pessoas fazem pouco caso
dele. O Rei dos reis enviará a sua ira em momento
oportuno e destruirá esses “homicidas”.

Mas além do chamado externo, há também


o chamado interno. Enquanto o chamado externo é
feito por seres humanos enviados por Deus, o
chamado interno é feito pelo próprio Espírito Santo.
Na Bíblia esse chamado recebe muitos nomes. Ele é
denominado novo nascimento, regeneração, batismo,
etc. O chamado externo, como dissemos, é sempre
resistido, pois o homem natural não aceita as coisas
do Espírito. Mas o chamado interno é irresistível,
pois se trata do agir soberano do Espírito Santo.
Assim como Deus disse: “Haja luz” e houve luz,
assim também ocorre quando o vento do Espírito
sopra sobre o vale de ossos secos, ou seja, a vida
surge! Vejamos agora algumas passagens que falam
acerca desse chamado: “E lhes darei um só coração,
e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da
sua carne o coração de pedra, e lhes darei um
coração de carne; Para que andem nos meus
estatutos, e guardem os meus juízos, e os cumpram;
e eles me serão por povo, e eu lhes serei por Deus”
(Ez 11:19,20). O coração, nas Escrituras, refere-se à
parte imaterial do homem. O ser humano é formado
a partir da união do corpo (barro) e alma. Essas duas
partes constituem o ser humano. As palavras “alma”,
“espírito” e “coração” são sinônimos. O coração é de
onde procedem as saídas da vida (Pv 4:23). O
coração pensa (Mc 2:8), imagina (Gn 6:5), produz
sentimentos (Pv 15:13), etc. O coração produz atos
intelectuais e volitivos. Os atos volitivos envolvem
afetos (amor, ódio, alegria, tristeza) e envolvem
determinações, escolhas, decisões (atos executivos).

A Queda no Éden afetou tanto os atos


intelectuais quanto os atos volitivos. Ou seja, na
Queda o homem não perde nem a capacidade de
raciocinar, nem a capacidade de escolher e nem sua
função afetiva. Mas agora o uso dessas “faculdades”
está inclinado para o pecado. Em outras palavras, o
pecado afeta a razão humana e sua volição (parte
afetiva e executiva). Por terem sido afetadas pelo
pecado, essas faculdades resistem ao chamado de
Deus. O coração do homem se tornou
tremendamente corrupto: “Enganoso é o coração,
mais do que todas as coisas, e perverso; quem o
conhecerá?” (Jr 17:9). Esse coração corrupto é o que
o profeta Ezequiel chamou de coração de pedra. Ali
o profeta diz o que o Senhor fará: tirará o coração de
pedra e dará um coração de carne. Deus diz que fará
isso para que “andem nos meus estatutos, e guardem
os meus juízos, e os cumpram”. Ou seja, o novo
coração é capaz de obedecer a Deus porque Deus
venceu toda a resistência. Esse é o chamado interno.
Deus muda nossa afeição: “Nós o amamos a ele
porque ele nos amou primeiro” (1 João 4:19). Antes
éramos inimigos de Deus. Mas agora nós “o
amamos”. Paulo fala como a afeição redimida
acompanha a comunicação do evangelho: “Antes
fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus
filhos. Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa
vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o
evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias
almas; porquanto nos éreis muito queridos”. (1 Ts
2:7, 8). Os crentes não devem causar contendas,
brigas, dissensões, mas “e ao servo do Senhor não
convém contender, mas sim, ser manso para com
todos, apto para ensinar, sofredor; Instruindo com
mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus
lhes dará arrependimento para conhecerem a
verdade” (2 Tm 2:24,25). Ou seja, o evangelho
transforma nossas afeições. A graça de Deus
também restaura nossa vontade, isto é, nossa
capacidade de fazer escolhas, tomar decisões:
“Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus
para as boas obras, as quais Deus preparou para que
andássemos nelas” (Ef 2:10). E finalmente, a graça
de Deus redime nosso intelecto: “Tendo iluminados
os olhos do vosso entendimento, para que saibais
qual seja a esperança da sua vocação, e quais as
riquezas da glória da sua herança nos santos; E qual
a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós,
os que cremos, segundo a operação da força do seu
poder” (Ef 1:18,19). Veja que essa redenção não
ocorre por etapas, pois o que chamamos de intelecto
e volição são atos do coração. É o coração que é
transformado no ato da regeneração. Receber um
novo coração é ter a mente e a vontade transformada
para receber a Cristo e Seu evangelho. Paulo diz que
os crentes são “iluminados” para saber a esperança
“da sua vocação”. O chamado divino, através do
evangelho e tornado eficaz pelo Espírito Santo, é
para que os “santos” (escolhidos, separados)
recebam uma herança: a terra prometida. Para que
eles recebam essa herança uma operação poderosa
teve que ocorrer, vencendo toda a resistência e
incredulidade e produzindo fé. É por isso que o
apóstolo diz que “cremos, segundo a operação da
força do seu poder”.

Agora podemos ver claramente que graça


irresistível não significa que Deus salva o homem
contra a sua vontade, como se estivesse arrastando o
homem pelos cabelos. Antes, Ele produz o querer e
o efetuar (Fp 2:13). Paulo Anglada esclarece:
“Longe de violar a vontade do homem, a graça
eficaz ou o chamado irresistível do Espírito Santo
liberta a vontade escravizada do homem, iluminando
o seu coração, retirando-o das trevas espirituais,
habilitando-o a compreender a verdade [...]”.2 O
Rev. Gise J. Van Baren escreveu:

Afirmar o caráter irresistível da graça


divina enfatiza a ideia de que a graça
não só conduz seu povo à glória, mas
ela o prepara para a glória e opera
nele o desejo de entrar na glória. A
graça é irresistível no sentido de que
por ela o joelho que, de outra forma,
não se dobraria, dobra-se; o coração
que, de outra forma, seria duro como
pedra, é amolecido. Inexiste o que
possa impedir o cumprimento do
propósito divino de salvar seu povo
por meio da graça.3

Quando escrevia aos crentes em


Tessalônica Paulo expôs parte da Ordo Salutis
(ordem da salvação): “Mas devemos sempre dar
graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor,
por vos ter Deus elegido desde o princípio para a
salvação, em santificação do Espírito, e fé da
verdade; Para o que pelo nosso evangelho vos

2
ANGLADA, P. Calvinismo: As antigas Doutrinas da Graça. 3ª.
ed. Ananindeua: Knox Publicações, 2009, p. 100.
3
Hanko. H.; , Hoeksema. H.; VAN BAREN, G. J. Os Cinco pontos
do Calvinismo. Brasília: Monergismo, 2013, p. 108.
chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor
Jesus Cristo”. (2 Ts 2:13,14). Deus escolheu aquelas
pessoas para a salvação, elas foram regeneradas
(santificadas) pelo Espírito e isso se deu quando
foram chamadas através do evangelho para
alcançarem a “glória de nosso Senhor Jesus Cristo”.
À igreja em Corinto Paulo escreveu: “Porque os
judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria;
Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é
escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.
Mas para os que são chamados, tanto judeus como
gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e
sabedoria de Deus”. (1 Co 1:22-24). Alguns que
eram gregos receberam o chamado externo, mas
foram resistentes. Eles achavam que o evangelho era
loucura. Outros que eram judeus também receberam
o chamado externo, mas se recusaram a aceitá-lo.
Tais judeus achavam que o Cristo crucificado era
um escândalo e não quiseram crer. Mas dentre
judeus e gregos há aqueles que receberam um
chamado interno. Para esses o evangelho é o poder
de Deus, e sabedoria de Deus. Eles puderam
entender essa sabedoria não porque fossem mais
inteligentes ou melhores. Mas porque a graça de
Deus deu a eles um novo coração. Quando
Nicodemos foi ter com Jesus, nosso Senhor lhe disse
o seguinte: “O que é nascido da carne é carne, e o
que é nascido do Espírito é espírito.
Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é
nascer de novo” (João 3:6,7). O novo nascimento é
esse chamado interno e soberano do Espírito Santo.
Nós não causamos o novo nascimento. Está fora de
nosso controle. Não depende do nosso querer, pois
“O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas
não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é
todo aquele que é nascido do Espírito” (João 3:8). O
Espírito atua regenerando de acordo com Sua
vontade. Ele é soberano. Ele sopra onde quer!

Arthur W. Pink escreveu um precioso


estudo sobre a doutrina bíblica da Soberania de
Deus. Nesse livro ele diz o seguinte sobre o novo
nascimento:

O novo nascimento consiste em muito


mais do que somente derramar
algumas lágrimas de remorso
temporário por causa do pecado. É
muito mais do que mudar o curso da
vida; é mais do que substituir maus
hábitos por bons costumes. É algo
diferente do mero prezar e praticar
ideais nobres. Vai infinitamente além
do ato de vir à frente e apertar a mão
de algum evangelista popular, assinar
um cartão de compromisso e filiar-se
a uma igreja. O novo nascimento não
é apenas uma renovação de boas
intenções e virar uma nova folha; é
antes o início e a recepção de uma
nova vida. Não é uma simples
reforma; é uma completa
transformação. Em poucas palavras, o
novo nascimento é um milagre, o
resultado da operação sobrenatural de
Deus. É algo radical, revolucionário,
duradouro.4

A OBRA SERÁ COMPLETA

Paulo, em sua carta aos Filipenses, escreve:


“E estou plenamente convicto de que aquele que
iniciou boa obra em vós, há de concluí-la até o Dia
de Cristo Jesus” (Fp 1:6). O novo nascimento é o

4
PINK, A. W. Deus é Soberano. 2ª. ed. São José dos Campos:
Fiel, 1997, p. 89.
início, no contexto temporal, da boa obra na vida do
crente. A ideia de início implica continuidade. A
pessoa regenerada recebeu o dom da fé e um novo
coração. Mas a jornada não termina aí. A resistência
pecaminosa, rebelde e insistente, foi vencida pelo
poder do Espírito Santo. Mas essa obra se
consumará apenas na eternidade. O velho Adão está
em processo de mortificação, mas ele ainda tem
dado alguns suspiros. Isso significa que mesmo o
crente pode resistir ao Espírito Santo. Mas a
resistência do crente é ao chamado externo,
novamente. Isso não significa que ele perde o novo
coração. Isso apenas demonstra que ainda há
resquícios do pecado na vida do crente. Mas a
maneira que Deus trata com Seu povo é distinta da
maneira que Ele lida com incrédulos. O crente
precisa mortificar a carne diariamente. Ele precisa
negar a si mesmo constantemente. Quando ele peca,
precisa se arrepender, confessar seus pecados e
abandoná-los, “pois o Senhor disciplina a quem ama,
e educa todo aquele a quem recebe como filho” (Hb
12:6).
A resistência do crente pode se diferencia
da resistência do incrédulo por vários fatores. Um
deles é que “Aquele que é nascido de Deus não peca
habitualmente; porque a semente de Deus
permanece nele, e não pode continuar no pecado,
porque é nascido de Deus” (1 João 3:9). O novo
nascimento proporciona ao crente o poder necessário
para resistir à tentação. É possível para o crente cair
em pecado, mas essa não é uma prática na vida do
cristão. Isso porque Deus completará a obra que Ele
mesmo iniciou. O novo nascimento também é
chamado de batismo com o Espírito Santo. Não
existe crente que não foi batizado pelo Espírito, pois
só é crente aquele que tem o Espírito Santo: “Vós,
porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que
o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém
não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”
(Rm 8:9). Todos os crentes, portanto, têm o Espírito.
O crente é aquele que nasceu de novo. Crente não é
o que vai à igreja aos domingos, dá esmolas, fala
palavras espirituais, mas não tem o Espírito. Esse é o
religioso. Crente é aquele que, tendo recebido o
Espírito, é guiado por Ele: “Pois todos os que são
guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de
Deus” (Rm 8:14). O religioso pode se afastar dos
caminhos de Deus e nunca mais voltar. Mas o
crente, por mais que se afaste por um momento, não
pode resistir permanentemente à atração do Espírito
de Deus: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o
que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”
(João 6:37). A graça de Deus, sendo irresistível,
pode completar a boa obra iniciada: “Ninguém pode
vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e
eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:44). Se a
graça de Deus fosse resistível, então a obra poderia
ficar no meio do caminho. Jesus certa vez ensinou
esses princípios a seus discípulos:

Pois qual de vós, querendo edificar


uma torre, não se assenta primeiro a
fazer as contas dos gastos, para ver se
tem com que a acabar? Para que não
aconteça que, depois de haver posto
os alicerces, e não a podendo acabar,
todos os que a virem comecem a
escarnecer dele, Dizendo: Este
homem começou a edificar e não pôde
acabar. (Lc 14:28-30).
Obviamente, ninguém irá zombar de Deus
por ele não ter completado a boa obra que Ele
iniciou! Ele continua atuando por meio de Sua graça
na vida dos eleitos: “E a vontade do que me enviou é
esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que
me deu, mas que eu o ressuscite no último dia” (João
6:39). Se a graça de Deus fosse resistível então Jesus
perderia muitos daqueles que o Pai lhe deu. Ou seja,
a doutrina da graça resistível é uma doutrina
estranha às Escrituras, pois prefere manchar o
caráter soberano de Deus a limitar a vontade da
criatura. A doutrina da graça resistível ensina que o
homem é soberano e Deus é o servo que deve
obedecer e respeitar a escolha do homem. A doutrina
da graça irresistível ensina que Deus é soberano para
transformar a vontade corrupta, redimir a razão
caída e completar a boa obra na vida dos eleitos. Em
suma, essa doutrina diz que o chamado do Espírito
Santo é um chamado soberano e o morto que ouve a
sua voz vive! Podemos encerrar esse estudo com o
belo resumo da Confissão de Fé de Westminster, em
seu capítulo X, sobre a Vocação Eficaz:
I. Todos aqueles que Deus
predestinou para a vida, e só esses, é
ele servido, no tempo por ele
determinado e aceito, chamar
eficazmente pela sua palavra e pelo
seu Espírito, tirando-os por Jesus
Cristo daquele estado de pecado e
morte em que estão por natureza, e
transpondo-os para a graça e salvação.
Isto ele o faz, iluminando os seus
entendimentos espiritualmente a fim
de compreenderem as coisas de Deus
para a salvação, tirando-lhes os seus
corações de pedra e dando lhes
corações de carne, renovando as suas
vontades e determinando-as pela sua
onipotência para aquilo que é bom e
atraindo-os eficazmente a Jesus
Cristo, mas de maneira que eles vêm
mui livremente, sendo para isso
dispostos pela sua graça.
QUESTIONÁRIO
1) Em que fonte devemos confiar quando o
assunto é religião, moralidade, política,
educação, etc.
a. ( ) Em nossa experiência
b. ( ) Em nossa razão
c. ( ) Na razão e na experiência
d. ( ) Na experiência e nas Escrituras
e. ( ) Somente nas Escrituras

2) Descreva brevemente quem foram os


Remonstrantes e qual foi o seu principal
representante:

3) Marque a resposta correta:


a. ( ) O chamado externo consiste na
pregação da Palavra que é dirigida aos
escolhidos e aos não eleitos. Esse chamado
jamais é resistido.
b. ( ) Enquanto o chamado externo é feito por
seres humanos enviados por Deus, o
chamado interno é feito pelo próprio Espírito
Santo. Esse chamado sempre é resistido.
c. ( ) O chamado interno é irresistível, pois se
trata do agir soberano do Espírito Santo.
d. ( ) Os homens, em nenhuma hipótese,
podem resistir ao Espírito Santo.
e. ( ) O chamado externo atinge apenas os
eleitos.

4) Se a graça de Deus for resistível Ele poderá


completar a boa obra? Justifique sua
resposta:

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