Você está na página 1de 18

DOSSIÊ ESTADO NOVO: 60 ANOS

DA REVOLUÇÃO DE 30 AO GOLPE DE 37:


A DEPURAÇÃO DAS ELITES1
Dulce Chaves Pandolfi e Mario Grynszpan
Fundação Getúlio Vargas Fundação Getúlio Vargas/
Universidade Federal Fluminense
RESUMO
Este artigo tem o objetivo de relativizar análises correntes segundo as quais haveria uma relação de
continuidade e necessidade entre a Revolução de 30 e o Estado Novo. Para tanto, procura demonstrar como,
ao longo do período, atores estratégicos foram sendo excluídos ou incluídos em função de questões e
configurações de força que se apresentavam a cada momento, em um intenso processo de depuração das
elites.
PALAVRAS-CHAVE: Estado Novo (1937-1945); elites políticas; Revolução de 30; golpe de 1937.

I. INTRODUÇÃO naturais mais profundas do homem brasileiro. Tal


Para os ideólogos do Estado Novo, o golpe de processo, todavia, não havia transcorrido de forma
1937 foi o desfecho natural e necessário de um linear, tendo sido marcado por desvios liberais
processo que teve o seu ponto de partida na como a Constituição de 1934. Em conseqüência
Revolução de 1930. No discurso apologético dos desses desvios, um novo quadro de desagregação
vitoriosos à nova ordem; 1930 havia sido a e desordem se havia estabelecido.
investida inicial contra a experiência liberal da Tomava-se necessário, portanto, colocar o País
Primeira República, que havia conduzido o País à em seus devidos trilhos, impondo ordem ao caos,
desagregação e à anarquia. Argumentavam eles o que só poderia ser feito através de uma
que a desordem grassava em todos os campos da intervenção política saneadora. O golpe de 1937,
realidade brasileira, tomando patente a perda das sob a liderança de Getúlio Vargas, teria possibili­
reais tradições daNação que teria, assim, obstruído tado areal substituição do regime (GOMES, 1982:
seu caminho evolutivo normal2. Ao romper com 118). Desta forma, a instauração do Estado Novo,
0 passado liberal, a Revolução de 1930, na versão no discurso de seus ideólogos, foi a concretização
estadonovista, havia reativado as tendências de um destino inevitável, o reencontro do País com
1 Este artigo é uma versão ligeiramente modificada de
a sua própria natureza e vocação histórica
um trabalho anterior, de circulação restrita, publicado (GOMES, 1982: 115-116).
sob a forma de Textos pelo Centro de Pesquisa e Este mito de origem do Estado Novo tem
Documentação de História Contemporânea do Brasil exercido um forte peso nas análises históricas
(CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas. Ele é parte de sobre o período. Parte das interpretações tende a
uma extensa pesquisa realizada entre 1982 e 1984, que incorporar vários de seus elementos, particular­
teve como um dos seus principais produtos o livro O mente seu sentido teleológico. Mesmo alguns dos
golpe silencioso: as origens da república corporativa
(Rio de Janeiro, Rio Fundo, 1989). Coordenada por As - mais detalhados estudos e reconstituições da con­
pásia Camargo, a pesquisa contou, além dos dois au­ juntura que antecedeu o golpe enfocam o episódio
tores, com a participação de Eduardo Gomes e Maria como um dado, construindo sua argumentação
Celina D’Araújo, cujos comentários agradecemos. Op­ com base na existência de uma vertente autoritária
tamos pela utilização da expressão “depuração das que, ora inflando o fantasma do comunismo, ora
elites” uma vez que não se trata, aqui, de fazer uma a- utilizando-se dos serviços do integralismo, avan­
nálise específica das características, dos capitais e das çou de forma implacável sobre uma sociedade
posições sociais dos indivíduos referidos no texto, como desarticulada e uma elite impotente, ou até
exigiria um estudo de circulação das elites, tal como conivente.
consagrado pela literatura a partir de Vilfredo Pareto.
2 Para uma análise detida da ideologia estadonovista, Buscando trazer elementos de relativização
ver GOMES, 1982: 114.
7
DA REVOLUÇÃO DE 30 AO GOLPE DE 37
deste tipo de abordagem, procuraremos discutir o antecedeu o Estado Novo foi conseqüência direta
período que se estendeu da Revolução de 1930 ao da Revolução de 30, que reuniu forças sociais
golpe de 1937, tendo como objetivo principal a distintas. Já no pré-30, essas mesmas forças se
compreensão da dinâmica de um processo que aglutinaram em tomo da Aliança Liberal, que tinha
conduziu a um alijamento de importantes como objetivo maior romper com o que
segmentos das elites civis e militares. Uma forte considerava os vícios da antiga República, por
evidência deste processo de depuração é o fato de meio de uma vitória eleitoral.
que, quando da instalação do Estado Novo, parcela A campanha oposicionista, articulada em tomo
expressiva dos atores vitoriosos em trinta, e que da chapa Getúlio Vargas-João Pessoa, foi liderada
haviam assumido de imediato postos de comando inicialmente por homens de marcada atuação na
encontrava-se marginalizada do poder. Longe de República Velha, muitos deles representantes das
ser aleatória, no entanto, esta rotatividade se deu oligarquias dissidentes, que pouco ou nada tinham
em função da própria hierarquização dos objetivos de revolucionários. Eram ex-Presidentes da
programáticos do novo regime. República, como Artur Bemardes, Epitácio Pessoa
Mesmo concordando com a tese de que a e Venceslau Brás; Governadores ou ex-
Revolução de 30 não provocou alterações Govemadores, como Antônio Carlos Ribeiro de
substantivas em termos de estrutura de classes (ver Andrada, Olegário Maciel, João Pessoa e Getúlio
MARTINS, 1983: 669-689), pode-se afirmar que Vargas; chefes de importantes agremiações
são visíveis as transformações operadas a partir partidárias, como Borges de Medeiros, do Partido
de então no País. A inexistência de deslocamentos Republicano Rio-Grandense, Afonso Pena Júnior,
traumáticos de classes e a manutenção dos do Partido Republicano Mineiro, Assis Brasil, do
segmentos inferiores da sociedade dentro de rígi­ Partido Liberal Gaúcho, e Francisco Morato, do
dos limites garantiram o apoio significativo das Partido Democrático Paulista; e outros políticos,
oligarquias ao projeto de modernização que passou como João Neves da Fontoura, Batista Luzardo,
a ser adotado. Supor, entretanto, que a implantação Antunes Maciel, Lindolfo Collor, Osvaldo
de tal projeto se deu naturalmente, isto é, sem Aranha, Flores da Cunha, João Daudt de Oliveira,
conflitos, é negar a complexidade de um processo Francisco Campos, Odilon Braga e Carlos e
regido pela ambição que tinham os diversos Djalma Pinheiro Chagas (ver CAMARGO, 1983:
segmentos da sociedade de assegurar para si o 08-46).
controle da nova máquina de Estado que se A crítica dos aliancistas não se dirigia aos
montava. Supor, por isso mesmo, que a instalação princípios liberais adotados na Constituição de
do Estado Novo ocorreu de forma consensual é 1891, mas aos políticos que, a seu ver,
aceitar e incorporar o discurso dos atores vitoriosos monopolizavam o poder e desvirtuavam as
em 1937. A fraca reação ao golpe deve ser vista, instituições. Centravam seu discurso, portanto, na
na verdade, não apenas como anuência ou hipertrofia do poder Executivo, na fraude eleitoral
cumplicidade, mas também como resultado de um e na imposição pelo então Presidente da
bem-urdido esquema de desarticulação dos focos República, Washington Luís, do nome do seu
de resistência, esquema este que, de forma alguma, sucessor. Tais manifestações evidenciavam
avançou sem interrupções ou contratempos. segundo eles, um descumprimento da Constituição
A fase que se inaugurou com a Revolução de e um abuso do poder presidencial, caracterizando
30 foi marcada por profundos entrechoques de um divórcio entre o Estado e a Nação. Diante
grupos portadores de discursos e projetos diversos. disso, sua proposta era promover mudanças nos
Reconstituir este processo implica ressaltar a mecanismos eleitorais responsáveis por tais
diversidade de nossas elites e apontar para a desvios, implementando medidas que pudessem
existência de propostas alternativas que, apesar garantir a verdade eleitoral — como a
de derrotadas em 1937, tentaram, no decorrer dos obrigatoriedade de voto e a criação de uma justiça
sete anos precedentes, conquistar um espaço eleitoral autônoma —, através da atuação de
político. homens realmente comprometidos com os
II. A AMBIGÜIDADE DA ALIANÇA interesses do País (Cf. OLIVEIRA, 1983: 425-
LIBERAL 437). O sistema eleitoral encerrava, portanto, a
chave para a renovação efetiva dos quadros
A instabilidade política reinante no período que dirigentes.
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997
Ao lado desses políticos vamos encontrar, revolucionário. O que estava em jogo, na verdade,
entretanto, também na Aliança, os rebeldes era a diretriz que orientaria a organização do
“tenentes” — como Juarez Távora, Siqueira Estado brasileiro. Os “tenentes” e os seus aliados
Campos, João Alberto, Osvaldo Cordeiro de Farias propugnavam uma linha centralizadora, autoritária
e Miguel Costa — que, desde o início da década e reformista que possibilitasse a implementação
de vinte, tentavam, através da luta armada, de uma reforma agrária, a centralização do sistema
modificar a ordem vigente. Na oposição desde tributário, o fortalecimento das forças armadas
1922, os “tenentes” se definiam como anti- nacionais, a criação de uma legislação trabalhista,
oligárquicos e insistiam na necessidade de a federalização das milícias estaduais e a
reformas político-administrativas. Além da modernização da infra-estrutura do País.
moralidade das instituições, propunham, entre Criticando a “politicagem” reinante no período
outras medidas, a educação pública obrigatória, a anterior, sustentavam a necessidade de um regime
adoção do voto secreto e o redimensionamento forte e apartidário, contrapondo-se, em certo
do papel do Exército na sociedade. sentido, à democracia política. Para eles, portanto,
a participação do povo nos destinos da Nação só
A partir fundamentalmente de maio de 1930, deveria
com a derrota nas urnas da chapa aliancista, a que seria, ocorrer após uma maior conscientização,
proposta mais radical de conspiração ganhou reformas sociais por sua vez, uma decorrência das
vulto, colocando-se os oligarcas dissidentes a Já as correntes promovidascontrárias
pelos governantes.
ao “tenentismo”,
reboque dos “tenentes”. Operou-se, na passagem principalmente os agrupamentos oligárquicos do
da frente liberal para a frente armada, uma primeira Centro-Sul, lutavam pela implantação
triagem no seio das elites políticas3. A proposta princípios liberais, por uma maior autonomia dos dos
de luta armada entusiasmou um grande número estados e pela limitação dos poderes da União.
de aliancistas mais afinados com as posições Diversamente do “tenentismo”, porém, os grupos
“tenentistas”, que ficaram identificados como oligárquicos, além de representarem diferentes
“tenentes civis”, destacando-se neste novo con­
texto políticos como Osvaldo Aranha, José Amé­ interesses econômicos e regionais, não possuíam
rico, Virgílio de Melo Franco, Carlos de Lima Ca­ uma proposta reformista clara.
valcanti e Pedro Ernesto. A aliança que se concre­ Após a tomada do poder, o novo governo,
tizou entre as diversas tendências e os desdobra­ paralelamente à dissolução do Congresso Nacional
mentos que dela adviriam foram claramente e dos legislativos estaduais e municipais,
expressos por Juarez Távora em carta endereçada implementou outras reivindicações dos setores
a Joaquim Monteiro: “A aliança entre os radicais “tenentistas” como a criação de uma legislação
do Exército e os elementos mais moços e extrema­ trabalhista, a subordinação dos sindicatos à tutela
dos da Aliança Liberal prenuncia com certeza, o do Estado e a elaboração dos códigos de Minas e
confronto fatal, uma vez a revolução instaurada, de Aguas, ambos de orientação nacional-estatista.
entre os oligarcas e os revolucionários, pois, evi­ Também de inspiração “tenentista” foi o sistema
dente, não podíamos então, nem podemos agora, de Interventorias adotado pelo governo.
esperar que este ajuntamento político se resolva, Considerado um dos principais mecanismos de
depois de vencedora a revolução, a trocar pelo nos­ centralização, este sistema viria a constituir um
so o seu programa” (Carta de Juarez Távora a Joa­ importante instrumento de controle e uma cunha
quim Monteiro apud CAMARGO, 1983: 34). do poder central na política local. Ao contrário do
III. “TENENTISMO” E OLIGARQUIA: A Presidente que ocorria na República Velha, quando o
DISPUTA PELO PODER do estado vinculava-se às classes
dominantes locais, na nova situação o interventor
Com a vitória da revolução, acirrou-se o subordinava-se diretamente ao governo Federal
enfrentamento entre as diferentes facções que a (SOUZA, 1976). As normas de subordinação
promoveram. Além da disputa em torno da foram estabelecidas pelo Código dos Interventores
ocupação de cargos na administração pública, que, entre outras medidas, limitou a área de ação
manifestaram-se profundas divergências em dos estados, que ficaram proibidos de contrair
relação à condução do próprio processo empréstimos externos sem autorização do poder
central, de gastar mais de 10% da despesa ordinária
3 Ver, a este respeito, CAMARGO, 1983: 30. com serviços da polícia militar, de dotar as polícias
estaduais de artilharia e aviação, ou de armá-las
9
DA REVOLUÇÃO DE 30 AO GOLPE DE 37
em proporção superior à do Exército (FAUSTO, Governo Provisório e a implantação de um regime
1972: 52). constitucional. Muitos “revolucionários” passaram
De um modo geral, nos estados do Norte e do a acusar o governo de ter abandonado o programa
Nordeste a escolha dos interventores recaiu sobre da Aliança Liberal e tomaram a acenar com sua
os elementos “tenentistas”, podendo-se afirmar plataforma de estabelecimento do Estado de
que, nos primeiros anos do processo revolucioná­ direito, do sistema de representação baseado na
rio, ocorreu o fenômeno de “militarização das in- verdade eleitoral e do equilíbrio entre os poderes
terventorias”. No ano de 1931, por exemplo, à ex­ Executivo, Legislativo e Judiciário (Ver OLI­
ceção de Pernambuco e da Paraíba, todos os chefes VEIRA, 1983).
dos estados da região eram oriundos do setor mi­ IV. A REVOLUÇÃO DE 32: A DERROTA DO
litar4. Também no Centro-Sul do País, a grosso “TENENTISMO”
modo, a escolha dos interventores se fez à margem O tema da constitucionalização do País pola­
das tradicionais máquinas partidárias. Esta relação rizou desde o início o debate entre as forças dis­
entre os “elementos vindos de fora” e as forças tintas que haviam participado decisivamente da
políticas locais gerou descontentamentos e crises Revolução de 30. A proposta de constitucionali­
políticas, o que é demonstrado pela rotatividade zação, caso vitoriosa, levaria à realização de elei­
dos interventores nos primeiros anos do processo ções e à reativação dos partidos políticos. Para os
revolucionário (Ver LEVINE, 1980)5. agrupamentos desalojados do poder, tal pers­
Pressionado tanto pelos “tenentes” quanto pectiva era alentadora. A ebulição eleitoral deveria
pelas oligarquias estaduais, insatisfeitas nos seus acarretar vantagens para as oligarquias tradi­
respectivos estados com seus governantes, o cionais, já que estas exerciam forte controle no
Governo Provisório promoveu diversas substitui­ majoritário eleitorado rural. Não foi por outra
ções, ora conciliando com as oligarquias, ora com razão que esta bandeira funcionou como um pólo
as facções “tenentistas”. Em São Paulo, por aglutinador dos elementos mais díspares,
exemplo, ao nomear interventor federal, em mobilizando não apenas as facções explicitamente
novembro de 1930, o tenente João Alberto, Vargas contrárias à Revolução de 30, como também
tomou evidente sua intenção de diminuir o poder alguns segmentos nitidamente “revolucionários”
político da elite econômica mais forte do País. As e até mesmo partidários do governo Vargas que,
crises se sucederam a partir de então, levando a temerosos com o avanço do “tenentismo”, abra­
que, em um período de menos de dois anos, fossem çaram a causa constitucionalista. Entre os últimos
efetuadas cinco substituições na interventoria incluíam-se o Partido Democrático de São Paulo,
paulista. Rotatividade semelhante ocorreu em a seção do Partido Republicano Rio-Grandense e
diversos estados da federação. Os únicos inter­ o Partido Libertador gaúcho.
ventores nomeados em 1930 que permaneceram Para os “tenentes”, entretanto, o retomo à or­
no cargo durante os dois primeiros anos do período dem legal constituía uma séria ameaça de verem
discricionário foram Punaro Bley (Espírito Santo), frustradas suas perspectivas reformistas e de serem
Pedro Ludovico (Goiás), Olegário Maciel (Minas desalojados das posições de mando. Aglutinados
Gerais), Joaquim Magalhães Barata (Pará), Carlos principalmente no Clube 3 de Outubro, espécie
de Lima Cavalcanti (Pernambuco) e Flores da de comitê central do gmpo (SAES, 1981: 489),
Cunha (Rio Grande do Sul). defendiam abertamente a manutenção do regime
Diante da ofensiva dos setores vinculados ao ditatorial como condição sine qua non para a con­
“tenentismo”, que conseguiram exercer, nesta solidação da obra revolucionária apenas iniciada.
primeira fase do processo, uma forte influência O acirramento deste debate levou à radicali­
no aparelho de Estado, as oligarquias preteridas zação das posições e à eclosão, em julho de 1932,
deram o seu grito de guerra exigindo o fim do da Revolução Constitucionalista em São Paulo.
As divisões internas entre as principais facções
4 Sobre a influência do tenentismo na região Norte- regionais oligárquicas e a utilização, pelo Govemo
Nordeste do país ver PANDOLFI, 1980: 339-491. Provisório, de todos os recursos do poder, estimu­
5 Segundo o autor, entre 1930el935 os vinte estados lando cisões com vistas ao isolamento dos pau­
da Federação e o Distrito Federal foram governados por listas, garantiram a vitória legalista sobre o
noventa e quatro interventores. movimento.

10
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997
Embora derrotada militarmente, a Revolução numerosas clivagens6. Foi diferenciada a
Constitucionalista conseguiu impor seus objetivos participação de diversos escalões hierárquicos no
políticos mas teve como ônus o afastamento de movimento: a maioria da oficialidade não aderiu,
vários elementos que nela se engajaram, e que e a minoria que aderiu era composta, predomi­
também estiveram presentes em 1930. Assim, o nantemente, de segmentos inferiores da oficia­
movimento paulista constituiu-se em um novo lidade.
marco depurador das antigas elites (cf. CAMAR­ Diante deste quadro, tomava-se premente a
GO, 1983: 38). Próceres os mais destacados e que, composição de uma cúpula militar afinada, que
em 1930, desencadearam o processo revolu­ pudesse fornecer o respaldo necessário ao regime
cionário, Assis Brasil, Artur Bemardes, Borges que se instaurava. Para tanto, foram rapidamente
de Medeiros e Epitácio Pessoa entre eles, vão estar promovidos vários dos oficiais subalternos que
praticamente excluídos da liderança política do apoiaram a revolução, entre os quais o próprio
País em 1932. Alguns retomarão posteriormente, Góis Monteiro, que teria uma importante parti­
traçando uma trajetória de oposição a Vargas. cipação no golpe de 1937. O passo seguinte foi a
Quanto aos “tenentes”, que haviam obtido im­ eliminação dos generais nomeados pelos antigos
portantes ganhos no período discricionário, sofre­ governos, o que se constituiu em uma tarefa bas­
ram, com a aceleração do processo de constitu- tante difícil, mas que se tomou possível, em parte,
cionalização do País, derrotas políticas que con­ graças à participação de vários deles no movimen­
tribuíram para sua desagregação enquanto grupo. to de 1932 (CARVALHO, 1983: 130-131).
Diante do novo panorama político, os adeptos Se até 1932 predominaram os generais ante­
do “tenentismo” se dividiram em quatro posições. riores a 1930, como João Gomes, Andrade Neves,
No grupo mais numeroso, composto sobretudo Tasso Fragoso e Valdomiro Lima, houve, a partir
pelos interventores, incluíam-se aqueles que en­ de 1933, uma combinação entre estes e novos
camparam a tese da constitucionalização, embora generais, como Góis Monteiro, Eurico Dutra,
considerando-a uma proposta prematura, e que Pargas Rodrigues, Guedes da Fontoura, Pantaleão
adotaram na prática as medidas impostas pela Pessoa e José Pessoa, ocupando Góis e Dutra
conjuntura política, partindo com vigor para a importantes posições no Ministério da Guerra e
rearticulação das agremiações partidárias e para o no Clube Militar (CARVALHO, 1983: 132). Tais
alistamento eleitoral. São representativas deste modificações, no entanto, não seriam suficientes
tipo de posição figuras como Juraci Magalhães para assegurar a harmonia dentro do Exército.
(interventor da Bahia), Carlos de Lima Cavalcanti V. O CONFRONTO NA CONSTITUINTE
(interventor de Pernambuco) e Juarez Távora.
Outro grupo assumiu uma postura de neutralidade Com a neutralização temporária, após a Revo­
e distanciamento diante da nova realidade, nele lução de 1932, de várias das mais expressivas li­
destacando-se o interventor do Ceará, Carneiro de deranças políticas tradicionais, o governo empre­
Mendonça. Alguns políticos como o ex-inter- endeu, no período anterior à Constituinte, um enor­
ventor do Rio Grande do Norte, Hercolino Cas- me esforço no sentido de formar e consolidar bases
cardo, desiludidos com o que consideravam os de apoio regional que lhe viessem a garantir a he­
desvirtuamentos da Revolução de 30, decidiram gemonia no processo de regulamentação e de ela­
se afastar do governo. Finalmente, outros, como boração dos princípios que regeriam a nova ordem.
o General Manuel Rabelo, radicalizaram suas A constitucionalização do País constituía uma
posições, insistindo em defender a implantação imposição tanto das forças “contra-revolucio-
de uma ditadura militar no País (Ver PANDOLFI, nárias” como de alguns setores “revolucionários”
1980:358). insatisfeitos com os rumos da Revolução de 30, e
A Revolução de 1932 constituiu, de fato, um o governo tentava absorver a derrota de 1932
importante marco no processo de depuração das procurando tirar dela os maiores benefícios. Seu
elites. As mudanças dela decorrentes fizeram-se sucesso dependeria da capacidade de colocar sob
sentir inclusive no interior do próprio Exército. seu controle o processo de organização política
Ao mesmo tempo em que projetou o Exército no (GOMES, 1981: 20).
centro de poder nacional, de maneira mais decisiva
do que na Primeira República, o movimento de 6 Para uma análise das Forças Armadas no período,
1930 expôs uma organização marcada por ver CARVALHO, 1983:110.

11
DA REVOLUÇÃO DE 30 AO GOLPE DE 37
As eleições para a Assembléia Nacional centralização política. Mesmo havendo um certo
Constituinte, marcadas para três de maio de 1933, consenso em torno da necessidade de um
levaram não apenas as forças vitoriosas, mas federalismo aliado a um intervencionismo estatal,
também as derrotadas, a buscar maior articulação. a polêmica fixou-se no grau de centralização e de
Aos interventores foi atribuído o importante papel intervenção possíveis. Para os estados do Norte,
de unificar as forças políticas estaduais através de política e economicamente mais fracos e com
partidos e integrá-las em nível nacional, tendo-se maiores ligações com os elementos “tenentistas”,
destacado nesta tarefa Flores da Cunha (RS), a defesa do federalismo não poderia implicar no
Juraci Magalhães (BA) e Carlos de Lima Caval­ enfraquecimento do poder central e, conseqüen­
canti (PE). Com a proximidade do pleito, o Go­ temente, no desequilíbrio da distribuição de
verno Provisório engajou-se no processo eleitoral, benefícios em detrimento das regiões mais
tomando-se alvo de forte condenação dos setores dependentes. Para os estados mais poderosos, por
oposicionistas, que reuniam tanto derrotados em outro lado, era a maior autonomia em relação ao
1930 quanto facções vitoriosas mas descontentes poder central que poderia trazer dividendos
com o regime. O ministro da Justiça, Antunes políticos e econômicos mais significativos. Neste
Maciel, assumiu o papel de articulador nacional particular, as bancadas do Norte e Nordeste do
dos grupos situacionistas. País se contrapunham às do Centro-Sul,
Na grande maioria dos estados o resultado elei­ principalmente às de Minas Gerais e de São Paulo
toral revelou-se nitidamente favorável às agre­ (Ver GOMES, 1980).
miações situacionistas. No Rio Grande do Sul, dos Além da elaboração de uma nova carta cons­
dezesseis parlamentares eleitos, treze eram vincu­ titucional, a Assembléia Nacional Constituinte
lados ao Partido Republicano Liberal, chefiado deveria aprovar os atos do Governo Provisório e
pelo interventor Flores da Cunha. Em Minas eleger o novo Presidente da República. Apesar de
Gerais, o Partido Progressista, de Olegário Maciel, Vargas apresentar-se como o candidato mais forte,
fez trinta e um deputados contra seis do Partido sua eleição não estava totalmente assegurada. Com
Republicano Mineiro. Nos estados do Norte do vistas a afastar qualquer possibilidade de derrota,
País a proporção foi semelhante: na Bahia, por as forças varguistas, decidiram acelerar o processo
exemplo, o Partido Social Democrático, liderado eleitoral, propondo uma inversão na ordem dos
pelo interventor, elegeu vinte deputados em uma trabalhos. O Governo Provisório, através do
bancada de vinte e dois; e em Pernambuco as for­ deputado baiano Medeiros Neto, líder da maioria,
ças pró-Lima Cavalcanti, articuladas no Partido pressionou os interventores para que as respectivas
Social Democrático, elegeram quinze em uma ban­ bancadas aceitassem eleger o Presidente da
cada de dezessete parlamentares. Em São Paulo, República antes de promulgar a Constituição.
entretanto — palco da guerra civil, onde conse­ Capitaneada pelo Rio Grande do Sul, e apoiada
qüentemente a situação era bem mais complexa pelos interventores de Pernambuco, Bahia e Minas
— a Chapa Única, formada pelas duas agremia­ Gerais a proposta suscitou fortes reações, obri­
ções que desencadearam a Revolução Constitu- gando o governo a recuar em seu intento. A eleição
cionalista — Partido Democrático e Partido Repu­ realizou-se em dezessete de julho de 1934, um
blicano Paulista —, elegeu dezessete dos vinte e dia após a aprovação da nova Constituição.
dois deputados. Diante deste resultado, Vargas Apesar das dificuldades, Vargas obteve cento
sentiu ser necessária uma composição com a elite e setenta e cinco votos contra setenta e um dados
paulista, o que determinou a escolha, em julho de aos demais candidatos, assim distribuídos: Borges
1933, de Armando de Sales Oliveira, um de seus de Medeiros cinqüenta e nove, Góis Monteiro
representantes, para ocupar a interventoria do quatro, Protógenes Guimarães dois, Raul
estado. Fernandes um, Artur Bemardes um, Afrânio de
A Assembléia Nacional Constituinte foi insta­ Melo Franco um, Oscar Weinschenck um, Paim
lada no dia quinze de novembro de 1933, con­ Filho um e Levi Carneiro um (GOMES, 1980:56).
gregando representantes das diversas tendências Se o processo da eleição de Vargas, por um lado,
que, desde 1930, vinham-se debatendo no cenário foi expressão de sua força, por outro, denotou
político. também sua fraqueza. Além de não haver uma
A grande questão que organizou o debate unanimidade em tomo do seu nome, o processo
constituinte foi o confronto entre regionalismo e eleitoral foi conturbado por ameaças de golpes e

12
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997
conspirações militares. Por trás de algumas destas bém, conforme será visto adiante, o próprio Legis­
conspirações estava o próprio ministro da Guerra, lativo, em um segundo momento, aceitaria esva­
Góis Monteiro, insatisfeito com o processo de ziar o seu poder em favor do Executivo, forne­
liberalização que vinha ocorrendo. “Não se tra­ cendo-lhe instrumentos excepcionais bastante
tava, portanto, de um processo sucessório tranqüi­ drásticos. Ou seja, se os constituintes de 34 procu­
lo, certificado da autoridade e legitimidade do raram salvaguardar os poderes do Legislativo limi­
então chefe de Estado” (GOMES, 1980: 35). tando os do Executivo, as mesmas salvaguardas
Um indicador evidente do quadro de insa­ começaram a ruir a partir de 1935, a tal ponto que,
tisfação reinante foi o resultado da aprovação dos já em meados do ano seguinte, a iniciativa política
atos do Governo Provisório; dos duzentos e vinte estaria nas mãos do Executivo, ficando o Legis­
deputados presentes no plenário, apenas cento e lativo a reboque.
trinta e cinco votaram a favor. Outras duas O resultado das eleições realizadas em outubro
questões relativas à votação das disposições tran­ de 1934 possibilitou a permanência no Congresso
sitórias geraram fortes polêmicas: a transformação de muitos dos constituintes eleitos em 1933, além
da Constituinte em Assembléia ordinária e a ele­ de garantir para o govemo a maioria parlamentar.
gibilidade dos interventores ao cargo de governa­ Também em cada estado ocorreram eleições para
dores constitucionais. Após longos debates, ficou as Assembléias Legislativas, que deveriam ela­
estabelecido que haveria eleições para o Poder borar as constituições estaduais e eleger indireta­
Legislativo, e a Assembléia Constituinte funcio­ mente os respectivos governadores, bem como
naria com suas atribuições ordinárias apenas até a exercer ordinariamente as funções parlamentares.
posse do novo Congresso. Por outro lado, os Mais uma vez, Vargas procurou atuar neste
interventores poderiam se candidatar ao cargo de novo processo eleitoral de forma a reforçar seus
governador, que seria escolhido de forma indireta núcleos de apoio regionais. Interessava ao govemo
pelas respectivas constituintes estaduais. federal promover mudanças em alguns estados,
O que se tentou de fato com a Constituição de deslocando grupos que ocupavam o poder. A
1934, foi estabelecer uma ordem “liberal” e “mo­ interferência de Vargas provocou resistências por
derna”, que não se chocasse com o fortalecimento parte de antigos interventores, que não estavam
do Estado e com o seu papel ativo na órbita dos dispostos a abrir mão dos seus cargos, tendo
assuntos econômicos e sociais. Entretanto, esse ocorrido conflitos no Pará, Maranhão, Rio Grande
fortalecimento do Estado, de sua eficiência e do Norte, Santa Catarina e no estado do Rio de
representatividade, não deveria ser confundido Janeiro.
com o poder intervencionista do Executivo federal. Este foi outro momento fundamental de rotati­
Esta era a questão fundamental para aqueles que vidade das elites: em apenas nove dos vinte estados
haviam desencadeado a Revolução de 32. Para da federação os interventores foram reconduzidos
evitar os vícios da Velha República, os liberais ao poder. Encontravam-se entre eles os cinco
representados na Constituinte preocuparam-se em governadores politicamente mais fortes: Armando
assegurar o predomínio do Legislativo no sistema de Sales Oliveira (SP), Flores da Cunha (RS),
político nacional, tomando-o a base da vida gover­ Benedito Valadares (MG), Juraci Magalhães (BA)
namental e o meio de controlar e deter o avanço e Carlos de Lima Cavalcanti (PE). Permaneceram
do Executivo (GOMES, 1980: 65-70). ainda na chefia do Executivo estadual Manuel
Significativamente, Vargas foi obrigado a Ribas (PR), Punaro Bley (ES), Pedro Ludovico
conciliar com uma série de propostas com as quais (GO) e Osman Loureiro de Farias (AL).
não se identificava, a fim de garantir sua própria Diferentemente do período discricionário, em
eleição. Assim, mesmo tendo sido possível ao que as substituições de interventores se sucediam
Govemo Provisório controlar o processo jurídico- com bastante freqüência, no período constitucional
político da constitucionalização, o resultado deste os governantes adquiriram maior estabilidade,
processo criou um profundo desagrado. Não foi embora nem sempre se apresentassem dóceis às
por outra razão que, em seu primeiro discurso co­ diretrizes do govemo Federal. Na fase anterior,
mo Presidente constitucional, Vargas expressou as nomeações e substituições se faziam mediante
o seu desacordo em relação à Carta aprovada decretos expedidos pelo Presidente da República;
(ARQUIVO Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. FGV/ na fase constitucional, porém, uma vez eleitos, os
CPDOC. GV 34.07.15/12). Paradoxalmente tam­
13
DA REVOLUÇÃO DE 30 AO GOLPE DE 37
governadores só podiam ser substituídos por de força e autonomia, o Poder Legislativo passou
decisão das Assembléias estaduais. gradativamente a abrir mão de suas prerrogativas
Esta estabilidade não se deveu, contudo, apenas em favor de um Executivo cada vez mais forte.
aos procedimentos de ordem legal. Sem dúvida, a O temor dos liberais diante da organização do
ação de Vargas no sentido de garantir bases de movimento popular mostrou-se evidente quando,
sustentação regional teve sucesso. Não foi por em abril de 1935, logo após a criação da ANL e
outra razão que a maioria dos governadores eleitos sob o impacto das várias greves que vinham ocor­
em 1935 permaneceu nos seus cargos mesmo após rendo, o Congresso aprovou a Lei de Segurança
a implantação do Estado Novo. No entanto, em­ Nacional. Outros passos mais comprometedores
bora o número de governadores alijados em 1937 ocorreriam após o levante comunista deflagrado
seja reduzido, ele é significativo pois inclui estados em novembro do mesmo ano em Natal, Recife e
politicamente importantes — como Rio Grande Rio de Janeiro(D?ARAÚJO, 1984). A partir de
do Sul, Bahia e Pernambuco — que haviam dado, então, o comunismo tornou-se não apenas um
durante o período revolucionário, forte sustentação inimigo do governo, mas um perigo à sociedade
a Vargas e ao governo Federal. como um todo, cabendo a esta engajar-se no seu
VI. OS LIMITES DO LIBERALISMO combate, na ação repressiva (D’ARAUJO, 1984).
O processo político brasileiro radicalizou-se Em novembro de 1935, portanto, o Legislativo
com a implantação do governo constitucional. O aprovou a adoção de várias medidas de repressão
movimento social passou a demonstrar maior que iriam influir diretamente no cerceamento do
vigor, conseqüência, em parte, da própria efer­ próprio poder parlamentar. O estado de sítio foi
vescência eleitoral. O nacionalismo, a defesa das decretado em todo o País por trinta dias, sendo
liberdades democráticas e a luta contra o fascismo renovado posteriormente por mais noventa.
constituíram os grandes temas mobilizadores do Quando isto ocorreu, o Congresso aprovou ainda
debate nacional do período. Também a Ação três emendas à Constituição que teriam sérios
Integralista Brasileira (AIB), criada em 1932 com desdobramentos políticos no período subseqüente:
profundo caráter antiliberal, transformou-se em a primeira delas previa a possibilidade de o Pre­
uma organização de massas enraizada em diversas sidente da República, com autorização da Câmara
regiões do País. Parte fundamental deste processo dos Deputados e do Senado Federal, declarar a
foi a criação da Aliança Nacional Libertadora comoção intestina grave, com finalidade subver­
(ANL), em março de 1935, sob a liderança das siva das instituições políticas e sociais, equiparada
esquerdas. Seu programa se dirigia contra o lati­ ao estado de guerra em qualquer parte do território
fúndio, contra o imperialismo, contra o fascismo nacional; pela segunda, perderia a patente e o pos­
e em favor da democracia. Pregando a formação to, por decreto do Poder Executivo, sem prejuízo
de um governo popular-nacional-revolucionário, de outras penalidades, o oficial que praticasse ato
a ANL conseguiu atrair rapidamente a simpatia ou participasse de movimento subversivo, quer
de amplos setores da população, principalmente fosse da ativa, da reserva ou reformado; a terceira
da classe média (Ver RODRIGUES, 1981: 361- emenda previa o mesmo que a anterior, só que
443). Importantes “tenentes” civis e militares, para o caso dos funcionários civis, ativos ou
como Miguel Costa, Hercolino Cascardo, Agildo inativos.
Barata, João Cabanas, Silo Meireles e Roberto Ao mesmo tempo em que intensificava os me­
Sisson, que haviam atuado de maneira destacada canismos de repressão e de controle da sociedade,
na linha de frente da Revolução de 30 e ocupado Vargas obtinha o apoio necessário para sua
postos-chaves no processo revolucionário, in­ implantação. De fato, o governo faria um intenso
gressaram na organização, rompendo de forma uso do “perigo comunista”, não somente no
radical com os rumos da política governamental. sentido de legitimar sua ação perante a população,
Se a proposta liberal venceu em 1934, em uma eliminando elementos divergentes, mas também
demonstração do peso que os grandes estados e no sentido de mais facilmente alcançar seus
as oligarquias estaduais mantinham ao nível da objetivos políticos.
política nacional, este liberalismo seria rapida­ A prisão de diversas lideranças comunistas nos
mente redimensionado. No momento em que o primeiros meses de 1936 e a apreensão de im­
movimento popular começou a dar demonstração portantes documentos em seu poder, os quais,

14
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997
segundo as autoridades, demonstravam ser o de reagir.
movimento comunista mais extenso do que se De acordo com a Constituição aprovada em
supunha, forneceram a justificativa para a 1934, as eleições diretas para Presidente da Re­
decretação do estado de guerra em março do pública, Câmara e Senado Federal estavam previs­
mesmo ano, e que vigoraria até meados de 1937. tas para janeiro de 1938. Logo após a posse dos
Conferindo ao governo poderes de repressão eleitos seriam escolhidos, também pelo voto
praticamente ilimitados, a medida, aprovada pelo direto, os Governadores de estado. Descortinava-
próprio Poder Legislativo, diferentemente do que se, por conseguinte, um novo momento
ocorrera com o estado de sítio, tomava vulneráveis privilegiado para a redefinição do jogo político e
até mesmo os parlamentares, visando não foi por acaso que a questão sucessória sensibi­
fundamentalmente esfacelar apequena e aguerrida lizou de maneira muito forte as elites do País. Se­
oposição no Congresso, sobre cuja cabeça gundo a legislação em vigor, Vargas não poderia
começou a pairar como uma espada de Dâmocles ser reconduzido ao poder, tomando-se legalmente
(GRYNSZPAN, 1983: 3 8). Na prática, os possível a prorrogação de seu mandato apenas
parlamentares foram os primeiros atingidos. mediante uma reforma constitucional, para a qual
Transcorridos apenas dois dias da decretação do seria necessário o apoio de dois terços do
estado de guerra, quatro deputados — Otávio Congresso Nacional.
Silveira, Domingos Velasco, Abguar Bastos e João
Mangabeira — e um senador — Abel Chermont Em meados de 1936, através do Ministro do
— foram presos sob a acusação de envolvimento Trabalho Agamenon Magalhães, Vargas realizou
com o comunismo. uma sondagem junto aos governadores sobre tal
Mas não só os parlamentares seriam atingidos possibilidade. Os governadores do Rio Grande do
por esse dispositivo excepcional. Numerosíssimas Sul, Flores da Cunha, de São Paulo, Armando Sa­
prisões de elementos civis e militares, acusados les, da Bahia, Juraci Magalhães e de Pernambuco,
de envolvimento com o levante comunista, foram Carlos de Lima Cavalcanti, mostraram-se con­
feitas à sua sombra, entre elas, a do Prefeito do trários. Portanto, diversamente do que havia
Distrito Federal, Pedro Ernesto, antigo “tenente” ocorrido em 1934, quando os estados mais im­
civil e participante da Revolução de 30 que, assim, portantes presentes na Constituinte garantiram sua
se via alijado do jogo político. eleição, estes mesmos estados, tendo quase todos
à frente figuras de ponta na Revolução de 30,
A repressão ao levante comunista de 1935 mostraram-se agora favoráveis a que um outro
promoveu, desta forma, o expurgo de algumas nome ocupasse a chefia do País, mantendo, desta
expressivas lideranças de 1930. A ANL e opróprio forma, o princípio da alternância do poder. O
Partido Comunista do Brasil já haviam absorvido principal resultado da sondagem foi deixar claro,
elementos atuantes que, desiludidos com os rumos destarte, que o apoio necessário para a reforma da
da revolução e impacientes quanto à realização Constituição dificilmente seria conseguido,
das pretendidas reformas, assumiram postura de ficando praticamente vedada a possibilidade da
forte contestação ao regime. permanência de Vargas no poder pela via legal.
VII. O REALINHAMENTO DAS ELITES Este foi um momento de fundamental importância
para a definição do projeto golpista.
A conjuntura política de 1936 e 1937 girou Assunto constante nos bastidores políticos
em tomo de três questões centrais: o combate ao desde 1935, a sucessão presidencial assumiu a
comunismo, a sucessão presidencial e a desarticu­ cena em 1936, ganhando as páginas dos jornais.
lação do governador Flores da Cunha. Movimen­ As articulações que se vinham realizando
taram-se em torno desses temas os principais representavam todavia uma ameaça à unidade do
centros nevrálgicos da política — Congresso, bloco situacionista, que não conseguira chegar a
govemo Federal, governos estaduais e Exército. um consenso sobre a questão. Flores da Cunha
Neste movimento altemarám-se sucessivos ali­ trabalhava a candidatura do mineiro Antônio
jamentos e realinhamentos, de tal formá que, ao Carlos Ribeiro de Andrada, Presidente da Câmara;
final de 1937, consolidou-se um núcleo em tomo o Governador Juraci Magalhães defendia a do
de Vargas, Góis e Dutra, fechado com a necessi­ Senador Medeiros Neto; Armando Sales, por seu
dade de um golpe de Estado, contrapondo-se a turno, alimentava esperanças de ver seu próprio
forças debilitadas, divididas e já sem condições nome lançado.
15
DA REVOLUÇÃO DE 30 AO GOLPE DE 37
A estratégia de Vargas foi a de adiar o debate acerca do candidato7. Vendo fracassado o único
sucessório ao máximo, em uma tentativa de ga­ meio que, em sua opinião, seria capaz de resolver
rantir a coesão de seu bloco no Congresso e, con­ o problema sucessório sem enfrentamentos, a
seqüentemente, a aprovação de medidas que faci­ Frente Unica, contudo, se desligou do bloco opo­
litassem a implementação do projeto continuísta. sicionista, sendo seguida por representantes de
O chefe da Nação argumentava que, diante da Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Paraná e
persistência da ameaça comunista, o momento Rio Grande do Norte.
político apresentava-se extremamente delicado, Ao mesmo tempo em que se discutia a sucessão
podendo qualquer disputa mais acirrada dar novo presidencial dava-se início à implementação de
alento ao inimigo comum. Tornava-se premente um plano elaborado por Góis Monteiro para a
a união de todas as forças políticas nacionais, com desarticulação de Flores da Cunha. Inflado pelo
a eliminação dos pontos de atrito existentes, ou próprio Vargas que, a partir de 1930, necessitou
pelo menos o adiamento do seu debate. Como um formar fortes pólos de apoio regional, Flores
destes pontos era a própria sucessão, e não havia adquirira um grande peso na política nacional,
constitucionalmente uma forma de eliminá-la da tornando-se a principal base de sustentação do
pauta política, dever-se-ia tentar adiá-la. Se as Presidente. Seu partido, o Republicano Liberal,
forças situacionistas concordaram com o adia­ desempenhou um importante papel na
mento, o mesmo não aconteceu com a minoria Constituinte, abrindo caminho para as propostas
parlamentar oposicionista, que obrigou o governo governamentais. Dotado ainda de uma bem ar­
a negociar. mada brigada e de numerosos corpos provisórios,
Várias propostas de acordo foram feitas que constituíam um verdadeiro exército particular,
durante o ano de 1936, tendo o governo como o Governador gaúcho representava uma
interlocutor a Frente Única Gaúcha — coligação considerável força militar. Muito cedo, contudo,
oposicionista formada pelo Partido Republicano Flores extrapolaria sua função de força auxiliar
Rio-Grandense e o Partido Libertador, e líder do do governo, tentando influir sobre os rumos da
bloco da minoria. A intransigência de parte a parte, política nacional. Foi marcante a sua intervenção
contudo, impediu a efetivação de um pacto. Diante nos processos sucessórios estaduais durante o ano
deste quadro, o debate recrudesceu e com ele a de 1935, buscando a eleição de seus aliados.
convicção de que somente uma candidatura única, Também marcante revelou-se a sua intromissão
de consenso, que não desembocasse em um peri­ nos assuntos militares, explorando e alimentando
goso enfrentamento entre os diversos partidos, cisões no seio das Forças Armadas. Foi ele, ainda,
poderia garantir a realização da sucessão. um dos principais responsáveis pela demissão do
Acreditando mais uma vez poder intervir de General Góis Monteiro do Ministério da Guerra
forma decisiva neste processo, e a partir de uma em maio de 1935, substituído pelo General João
série de entendimentos com Vargas, a Frente Gomes.
Única elaborou uma fórmula de oito pontos, com A atuação política de Flores terminou por gerar
a qual o Presidente, pelo menos aparentemente, áreas de atrito com o governo e o Exército, de
manifestava-se de acordo. A proposta previa a onde partiram as iniciativas para a sua
formação de uma comissão mista composta pela neutralização. Diante disso, o governador assumiu
oposição e pela situação, comissão esta que um comportamento cada vez mais agressivo com
elaboraria o programa de governo do próximo o governo Federal e o Exército, reforçando
Presidente. Apenas após a elaboração do pro­ paralelamente suas próprias forças militares.
grama, e em data não fixada previamente, o O final do ano de 1936 foi marcado, portanto,
sucessor de Vargas seria escolhido. por importantes mudanças tanto nos meios
A fórmula foi recusada por destacados líderes políticos quanto nos militares. Na política, as
oposicionistas, como Artur Bemardes, do Partido forças se realinharam e trocaram de posição de
Republicano Mineiro, Roberto Moreira, do Partido acordo com suas orientações e estratégias,
Republicano Paulista, e Otávio Mangabeira, da preparando-se para o embate da sucessão que se
Concentração Autonomista da Bahia. Esses
políticos argumentavam que, ao aceitar a proposta,
Vargas tinha em mente fazer render a discussão 7 Sobre as tentativas de acordo na política nacional ver
em tomo do programa, e com isso adiar a decisão GRYNSZPAN, 1983.

16
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997
avizinhava. Já pudemos ver a saída da Frente desagregadora de elementos externos no seio da
Única das oposições, juntamente com outros instituição.
elementos. Por outro lado, o Governador paulista
Armando Sales, até então aliado do governo tinhaPara a nova visão que se conformava, e que
em Góis Monteiro seu principal elaborador,
Federal, desincompatibilizou-se em dezembro de a maneira de consolidar a organização militar seria
1936, consolidando uma candidatura que a sua “impermeabilização”
aglutinaria as forças contrárias a Vargas. O Partido Tal impermeabilização seriaemobtida
relação à política.
Republicano Paulista, também oposição aos go­ se a política do meio social. Assim, eliminando-este projeto
vernos estadual e Federal, reagiu a esta candidatura político “intervencionista-controlador”8 não se
e se alinhou com o bloco situacionista; e Flores referia apenas aos aspectos internos da estrutura
da Cunha, por seu turno, assumiu explicitamente
uma postura oposicionista. Ao mesmo tempo, da organização militar, mas também, e indisso­
luvelmente, ao próprio Estado e à sociedade como
antigos e fiéis aliados de Vargas, como Juraci um todo, apontando para a necessidade de uma
Magalhães e Carlos de Lima Cavalcanti, demons­ ordem centralizada, autoritária e sem participação
traram sinais de rebeldia, não conciliando com política.
soluções continuístas.
Com relação aos meios militares, diversas meioA ahegemonia
uma dupla
deste projeto foi afirmada em
batalha travada pelo Exército:
substituições foram feitas nos comandos do Sul contra o comunismo e contra Flores da Cunha
visando a uma maior eficácia na ação contra (D’ARAÚJO, 1984: 09). O levante comunista ser­
Flores. Passo importante neste sentido foi dado viu de base para uma violenta
com a substituição do Ministro da Guerra João da eliminação das propostasinvestida no sentido
Gomes, reticente à intervenção no Sul, pelo identificadas com a vertente “reformista” demais
alternativas,
General Eurico Gaspar Dutra, ligado a Góis querda. Por outro lado, na autêntica operação es­ de
Monteiro. guerra que foi movida contra Flores da Cunha, o
VIII. VARGAS E OS MILITARES: A ARTI­ grupo “neutralista” acabou cedendo terreno para
CULAÇÃO DE UM NOVO PROJETO a corrente liderada por Góis Monteiro.
Se a articulação da via golpista teve início a A nova visão de Exército e de sociedade
partir de meados de 1936, um passo crucial neste encontrou eco em Vargas e no grupo que em tomo
sentido foi dado com a reaproximação entre dele se formava, tendo à frente Agamenon Ma­
Vargas e o General Góis Monteiro. Nesse galhães e Francisco Campos. Para este grupo, o
momento confluíram dois projetos que, até então, liberalismo excludente defendido pelas oligarquias
corriam paralelos: um deles, visando a construção tomara-se inviável diante do aumento das mani­
de um Exército forte, profissional e nacional, e festações e das pressões realizadas pelos diversos
outro apontando para a construção de uma nova setores da sociedade. Era preciso incorporar esses
ordem, mais centralizada e autoritária novos atores, esvaziando o conteúdo político de
(D’ARAÚJO, 1984: 44). suas reivindicações, bem como eliminar suas or­
ganizações mais radicais, de forma a manter em
Em meio às graves crises e conflitos em que o marcha,
Exército se viu envolvido a partir de 1930, modernização. sem abalos e sobressaltos, o processo de
conformou-se em seu interior um modelo sário consolidarPara tanto, consideravam neces­
regulador de suas relações com a política, distinto poderes para intervir no sentidoforte,
um Executivo com amplos
dos que até então predominaram — o “neutralista” e quebrar resistências, autônomo e não, talrumos
de corrigir
e o “reformista”. Tais modelos haviam-se previsto pela Constituição de 1934, limitado ecomo con­
mostrado impraticáveis diante das circunstâncias trolado pelo Legislativo. Este era visto de forma
políticas ç altamente prejudiciais à consolidação bastante depreciativa, como sendo composto por
da organização militar. Enquanto a corrente partidos inconsistentes, que lutavam por interesses
“reformista”, na sua vertente de esquerda, pessoais, entravando o desenvolvimento da Nação.
alimentara clivagens verticais, pondo em xeque a
hierarquia, o que terminou desembocando nas Não havia porque ficar sujeito a eles e nem mesmo
porque mantê-los.
revoltas de 1935, a “neutralista”, que tinha como
um dos seus representantes o General João Gomes,
defendera um total alheamento da política,
possibilitando que se fizesse presente a influência 8 O teimo é de CARVALHO, 1983.
17
DA REVOLUÇÃO DE 30 AO GOLPE DE 37
IX. O JOGO DA SUCESSÃO E A ELIMI­ consolidou a posição de Benedito Valadares em
NAÇÃO DE ANTIGOS ALIADOS Minas, garantindo assim um possível apoio ao
A partir de meados de 1936 tomou-se patente projeto em curso por parte daquele estado, peça
um movimento por parte de Góis e de Vargas no fundamental no jogo de forças políticas nacionais;
sentido de remover obstáculos, tanto no Exército dividiu o Partido Republicano Mineiro e enfra­
quanto na política, visando à consolidação de um queceu a facção liderada por Artur Bemardes, que
quadro favorável ao desfecho golpista. Eviden- fora contrário à aproximação com o Partido Pro­
ciou-se, neste processo, a grande habilidade de gressista e, juntamente com a oposição baiana e
Vargas, bem como seu conhecimento do sistema parte do Partido Republicano Paulista, recusara-
oligárquico, do qual saberia aproveitar-se aprofun­ se a qualquer acordo com o governo Federal9.
dando cisões e divergências regionais e explo­ Outro realinhamento político importante teve
rando receios e antigas lealdades, de forma a con­ lugar em São Paulo. Quando, em dezembro de
solidar sua posição e minar as que lhe eram opos­ 1936, o Governador paulista se desincompatibili-
tas. Fortalecer algumas lideranças e eliminar outras zou do cargo colocando sua candidatura à Pre­
tomou-se um ponto fundamental para a realização sidência da República na mesa de negociações,
daquele projeto. Além do Rio Grande, as atenções ocorreu um duplo movimento por parte da cúpula
de Vargas e de seus aliados civis e militares se palaciana. Por um lado, o governo Federal tentou
voltavam para Minas, São Paulo, Bahia e Pernam­ aproximar-se dos setores oposicionistas vincula­
buco, os estados politicamente mais importantes dos ao Partido Republicano Paulista e contrários
no contexto. à candidatura do líder do Partido Constitucionalis-
A desarticulação, ainda no seu nascedouro, da ta, Armando Sales (BRANDI, 1983: 112)10. Por
candidatura Antônio Carlos, que vinha sendo outro, buscou desestabilizar aquela candidatura e
impulsionada pelo Governador Flores da Cunha, até mesmo impedir que para ela convergisse uma
foi bastante representativa desse tipo de ação do perigosa conjunção de forças.
governo Federal. Vargas, em colaboração com o O Ministro Agamenon Magalhães e o Gover­
Governador Benedito Valadares, promoveu em nador Benedito Valadares foram os escolhidos por
Minas uma aproximação entre forças situacio­ Vargas para executar esta tarefa. O objetivo maior
nistas e setores da oposição: de um lado o Partido era neutralizar os governadores dos dois estados
Progressista — chefiado pelo Governador e do mais importantes do Norte: Juraci Magalhães, da
qual Antônio Carlos era líder na Câmara Federal Bahia, e Carlos de Lima Cavalcanti, de Pernam­
— e, de outro, elementos de Partido Republicano buco. Na verdade, pouco tinham estes governa­
Mineiro, como Cristiano Machado, Bias Fortes, dores contra Armando Sales, que já demonstrara
Virgílio e Afrânio de Melo Franco, Djalma e Paulo à frente do estado de São Paulo ser um ad­
Pinheiro Chagas e Policarpo Viotti. ministrador eficiente. Acontece, porém, que
Como resultado desta aproximação, Antônio acreditavam que somente o consenso em tomo de
Carlos, que não havia sido consultado sobre o um nome que não contasse com a desaprovação
assunto, renunciou à liderança do partido na de Vargas seria capaz de criar uma corrente irre­
Câmara. O golpe de misericórdia foi dado em 1937 sistível para garantir a sucessão. E este nome não
quando, por uma estreita margem de votos, poderia ser o de Armando Sales, em relação ao
Antônio Carlos perdeu a presidência da Câmara qual o Presidente emitia claros sinais de rejeição.
para o também mineiro Pedro Aleixo, fortemente Acreditavam ainda ser possível, naquele momen­
apoiado pelo governo Federal. Com esta ação, to, que o Norte unido pudesse impor um nome
Vargas conseguiu matar vários coelhos de uma representativo da região (PANDOLFI, 1983 : 54).
só cajadada; desferiu um violento golpe contra o Revelaram-se, portanto, dois importantes
líder mineiro, solapando suas bases estaduais e elementos que seriam explorados por Vargas para
comprometendo sua candidatura que, pelo trânsito
que obtivera em nível nacional ao significar uma
continuidade com 1930 e pela própria 9 A respeito do acordo mineiro ver GRYNSZPAN,
antecedência com que vinha sendo trabalhada, 1983: 61-65.
poderia representar uma ameaça ao projeto 10 Um exemplo da aproximação de Vargas com o PRP
continuísta, constituindo-se em um perigoso pólo é a nomeação de Fernando Costa para o Departamento
aglutinador de diferentes vertentes políticas; Nacional do Café.
18
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997

manter desunidas as forças políticas: os fortes desencadeadas com vistas à sucessão presidencial,
laços de lealdade e de dependência que uniam os Vargas vinha apertando o cerco em tomo de alguns
estados nortistas ao governo Federal e as antigas focos regionais de resistência ao continuísmo. Em
rivalidades entre Norte e Sul. A rejeição da candi­ Pernambuco, o governador Lima Cavalcanti foi
datura Sales por Vargas e, em conseqüência, o re­ acusado publicamente de envolvimento com o
forço de seu caráter oposicionista, colocavam comunismo, abrindo-se em seu partido uma
sérios obstáculos para aqueles estados do Norte, dissidência liderada pelo Ministro Agamenon
política e economicamente mais frágeis, e que por Magalhães, com quem ele disputava a liderança
isso mesmo procuravam ampliar suas prerroga­ no estado. Na Bahia começavam a circular boatos
tivas, buscando melhores posições sob as asas do de que haveria ali uma intervenção Federal. No
poder central. Ao alimentar as esperanças de lançar Rio Grande do Sul, o General Góis Monteiro pre-
um nome nortista, acirraram-se antigos ressenti­ parava-se para derrubar militarmente o Governa­
mentos regionais, inviabilizando desta forma o dor Flores da Cunha.
apoio àquela que era apontada como a candidatura Se tais fatos revelaram-se, por um lado, re­
sulista, antitrinta e que representaria mais uma vez presentativos da escalada do govemo, em estreita
a escravização do Norte ao Sul do País. aliança com os setores militares, no sentido de
A partir de janeiro de 1937 desencadeou-se eliminar posições que lhe eram divergentes,
uma intensa movimentação das forças atestaram também, por outro, sua fraqueza política
situacionistas no sentido de organizar uma grande e progressiva ilegitimação. Dentre as posições
convenção nacional que apontaria o verdadeiro eliminadas estavam algumas que faziam parte do
candidato de unidade à sucessão de Vargas. Tendo bloco situacionista, ou pelo menos haviam feito.
como principal animador o Governador Benedito O projeto continuísta não contava com o apoio de
Valadares, estas facções procuravam ainda levar expressivas forças políticas, avançando à custa da
o Presidente a um engajamento decisivo no sua neutralização ou de sua eliminação. O govemo
processo de sua sucessão. Este, contudo, tinha via desagregar-se lentamente sua folgada e
outros planos e tentaria intervir no processo de obediente maioria. Na verdade, o Congresso já se
forma a enfraquecê-lo e retardá-lo, procurando encaminhava para uma ação mais reflexiva e
ganhar tempo. mesmo questionadora, embora não chegasse a
O nome que vinha sendo articulado por Bene­ negar a real necessidade e a eficácia das medidas
dito Valadares como de unidade, e que terminaria propostas pelo govemo (D’ARAÚJO, 1984: 55-
sendo aceito, era o do paraibano José Américo de 58). Diante de tal quadro, acirrado pela questão
Almeida. Baseava-se tal opção no argumento de da intervenção no Rio Grande, Getúlio foi obri­
que, como “tenente civil”, ele havia participado gado a um breve recuo.
ativamente da Revolução de 30, além de ser um A intervenção militar no Rio Grande do Sul
representante do Norte e ter boa passagem junto à foi marcada para maio de 1937. A execução do
cúpula palaciana. Na verdade, esta candidatura estado de guerra naquele estado, que até então
enfrentaria algumas dificuldades pois José Amé­ coubera ao Governador, foi transferida em abril
rico encontrava-se afastado da política havia para o Comandante da 3a Região Militar, General
algum tempo, e não tinha seu nome encabeçando Lúcio Esteves. Fortalecido com a execução da
as listas de preferências dos principais governa­ medida, o General promoveu a desarticulação de
dores do Norte, como Lima Cavalcanti — que por alguns corpos provisórios, procurando enfraquecer
ele nutria antigos ressentimentos — e Juraci o dispositivo militar do governo estadual. Para
Magalhães — que priorizava o nome do Senador auxiliar na intervenção, em virtude da dimensão
baiano Medeiros Neto. O grau destas dificuldades dos contingentes controlados por Flores em
pode ser aferido pelo fato de que somente às relação às forças federais localizadas no estado,
vésperas da convenção, realizada afinal em maio bem como da quantidade e da qualidade do ma­
de 1937, a candidatura de José Américo ficaria terial bélico de que dispunha, Lúcio Esteves
acertada (PANDOLFI, 1983: 47), apesar dos requisitou a Brigada Militar de Minas Gerais. Por
intensos esforços do governo para que ela não três razões, no entanto, o plano terminou não se
chegasse a ocorrer. efetivando. A primeira delas foi a recusa de
Concomitantemente às articulações políticas Benedito em ceder a sua brigada; tal recusa rela-
cionava-se com a questão sucessória, pela qual o
19
DA REVOLUÇÃO DE 30 AO GOLPE DE 37

Governador vinha de fato trabalhando, mas em de nenhuma outra agremiação partidária.


relação à qual temia-se não haver um real intento A candidatura José Américo de Almeida,
do Presidente em levar adiante. Portanto, além de apesar de identificada com as forças alinhadas ao
negar-se a ceder a brigada, o Governador, sen- governo Federal, em nenhum momento obteve o
tindo-se fortalecido, começou a conclamar as apoio de Vargas que, ao contrário, fez o possível
forças políticas para que participassem da para esvaziá-la, configurando um quadro político
convenção nacional, confirmando sua realização ambíguo. Em certo sentido, as candidaturas de
para vinte e cinco de maio. Sem a brigada mineira, Armando Sales e de José Américo revestiram-se
a intervenção no Sul tornava-se uma perigosa de um caráter oposicionista, uma vez que ambas,
aventura, ainda mais tendo em vista o fato de que ao aspirarem suceder Getúlio na Presidência,
— e esta é a segunda razão para o fracasso do representavam a negação do seu projeto
plano — o próprio comandante da 3a RM, embora continuísta. Quanto à candidatura Plínio Salgado,
viesse neutralizando as forças militares de Flores a situação era bem diferente, tendo facilitado a
da Cunha, mostrava-se reticente quanto à ação ação do chefe do governo com sua pregação
direta contra o Governador. Segundo o General anticomunista. Consultado previamente sobre o
Lúcio Esteves, o Rio Grande não representaria golpe, Plínio não só concordou como chegou a
uma ameaça se contra ele o governo central não discutir a inserção da AIB no novo regime que
atentasse e se fosse mantido o calendário eleitoral seria implantado (D’ARAÚJO, 1984: 87-88).
com a decorrente posse dos eleitos (D’ARAÚJO,
1984). A terceira razão foi o vazamento de Pouco tempo após o lançamento das candi­
informações sobre os planos de intervenção, in­ daturas, o paulista José Carlos de Macedo Soares
formações estas que foram amplamente divulgadas foi convocado para ocupar a pasta da Justiça, que
na Câmara dos Deputados pelo gaúcho Ascânio vinha sendo acumulada pelo Ministro do Trabalho
Tubino, representante do Partido Republicano Agamenon Magalhães. À frente do ministério,
Liberal, gerando fortes repercussões. Macedo Soares recebeu carta branca para
Diante disso, o governo Federal viu-se suspender o estado de guerra, medida que vigorava
obrigado a recuar não somente em seus intentos no País desde 1936, não enviando ao Congresso
intervencionistas no Sul, mas também na proposta novo pedido de renovação. Nesse rastro foram
de adiamento da convenção nacional, e a promover soltos diversos presos políticos, entre os quais
uma abertura no ambiente político. parlamentares. Obrigado a recuar, reforçando o
seu lado distensivo, o governo decidiu retardar a
Entre abril e maio de 1937 o processo suces­ implementação do projeto golpista.
sório se afirmou, sendo lançados oficialmente três Em meio ao momentâneo clima de abertura
nomes à sucessão de Vargas. O primeiro deles foi política, a campanha eleitoral avançou, observan­
Armando de Sales Oliveira, indicado em do-se ao mesmo tempo um esvaziamento do pro­
convenção do Partido Constitucionalista, que cesso eleitoral. A própria candidatura situacionista
recebeu o apoio do Partido Republicano Liberal, foi perdendo gradativamente sua consistência. Na
chefiado pelo Governador Flores da Cunha, e de disputa pelo eleitorado, José Américo, procurando
diversos agrupamentos estaduais oposicionistas, marcar sua diferença em relação a Armando Sales,
destacando-se entre eles a Concentração que se apresentava como oposição, passou a
Autonomista da Bahia, liderada por Otávio sustentar um discurso mais radical que seu con­
Mangabeira. Ele obteve, ainda, a adesão de uma corrente e com um forte apelo popular, fruto de
parte minoritária do Partido Republicano Paulista, sua herança “tenentista” Além deste aspecto, sua
resistente a uma aproximação com Vargas. O excessiva preocupação com o Norte levou a um
segundo nome foi o de José Américo de Almeida, deslocamento progressivo das forças que o
aclamado na convenção nacional e que, à exceção apoiavam. O próprio Benedito Valadares, que
de São Paulo e do Rio Grande, conseguiu o apoio havia garantido o lançamento do candidato e a
oficial de todos os partidos políticos situacionistas. realização da convenção nacional, tornou-se, a
O terceiro nome, finalmente, foi o de Plínio partir de fins de setembro, um defensor da idéia
Salgado, cuja candidatura foi confirmada em da retirada das candidaturas e da necessidade de
plebiscito realizado pela Ação Integralista uma reforma constitucional visando a prorrogação
Brasileira. Por seu perfil ideológico nitidamente dos mandatos (PANDOLFI, 1983: 90-91).
definido, esta candidatura não recebeu a adesão
20
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997

X. A CONSOLIDAÇÃO DO GOLPE à exceção de Bahia e Pernambuco, para comunicar


Importantes mudanças foram efetuadas nos o que estava para acontecer e pedir apoio. Nos
comandos militares a partir de junho de 1937, estados politicamente mais fracos, o sucesso da
neutralizando de forma eficaz os últimos focos de missão foi total.
resistência à intervenção no Sul e ao golpe. O Ge­ Bahia e Pernambuco encontravam-se acuados
neral José Pessoa que, juntamente com Valdomiro diante de uma ameaça de intervenção. Em São
Lima, mostrara-se contrário ao projeto interven­ Paulo, enquanto as forças armandistas protes­
cionista, foi substituído no cargo de inspetor do tavam, o Governador Cardoso de Melo Neto, que
Comando do Distrito da Artilharia de Costa. vinha adotando uma política de gradativo
Valdomiro Lima foi preterido na Chefia do alinhamento com o governo Federal, terminou
Estado-Maior do Exército em favor de Góis Mon­ concordando com a proposta de mudança do
teiro. O General Lúcio Esteves, por sua vez, foi regime. No Rio Grande, Flores renunciou ao
substituído pelo General Daltro Filho no comando governo depois de se ver cercado e perder o
da 3a Região Militar (D’ARAÚJO, 1984: 78-79). controle sobre a Brigada Militar gaúcha. Na
No mês de setembro do mesmo ano, inex­ realidade, dos estados mais fortes, apenas Minas
plicável mas significativamente, o governo Gerais participou diretamente das articulações
realizou antecipadamente as cerimônias relativas golpistas.
à intentona comunista. Alguns dias depois, o Em dez de novembro de 1937 o Congresso foi
Ministério da Guerra divulgou o famoso “Plano cercado por tropas da Polícia Militar. No mesmo
Cohen” — documento forjado que relatava a dia, Vargas anunciou à Nação o início de uma nova
preparação de uma nova ofensiva comunista —, era e apresentou a nova Constituição elaborada
com base no qual o governo pediu ao Congresso por Francisco Campos.
o retomo ao estado de guerra. XI. REMONTANDO O QUEBRA-CABEÇA
O novo pedido de decretação do estado de Se a ação de Vargas ao longo deste processo
guerra foi fortemente bombardeado pelos setores foi no sentido de desarticular os obstáculos que
oposicionistas, que eram minoria no Congresso. se interpunham em seu caminho, quer fossem
Estes setores contestavam as evidências de que oriundos da oposição, quer da própria situação, é
realmente houvesse uma ameaça subversiva, importante lembrar que tal ação não se desen­
associando o novo pedido a uma tentativa do volveu de forma contínua. Durante o seu percurso
governo de impedir a realização das eleições. a resistência foi significativa, forçando Getúlio,
Apesar da expressividade das forças políticas de por vezes, a paradas e mesmo recuos.
oposição, identificadas com a candidatura Ar­
mando Sales, e apesar de, mesmo entre os setores Concordar com a adoção de mecanismos
considerados situacionistas, haver um grande intervencionistas, repressivos e autoritários não
número de elementos contrários ao continuísmo e significou necessariamente aceitar o projeto
ao golpe, o pedido foi aprovado. Não foi o temor golpista, ou mesmo o continuísmo de Vargas por
ao comunismo que motivou esse comportamento, via legal. O governo jamais conseguiu o apoio
e sim o temor ao militarismo; pairavam sobre o essencial de dois terços do Congresso para
Congresso pesadas ameaças de que, caso a medida reformar a Constituição e prorrogar o mandato
não fosse aprovada, o Exército o fecharia. presidencial.
Instalou-se, portanto, um processo em que as Entre os membros das elites políticas contrárias
forças contrárias ao continuísmo, cedendo à solução continuísta, dois tipos de comportamento
constantemente para evitar o pior — primei­ permeavam tanto a situação quanto a oposição:
ramente o comunismo e depois a intervenção um mais conciliador, que acreditava poder
militar —, facilitaram a ação de Vargas, ação esta comprometer o Presidente com o processo
que terminaria por se voltar contra aquelas mesmas eleitoral, e outro mais contestatório. Entretanto, a
forças. Desta forma, até fins de outubro não se ausência de uma proposta democrática e de um
manifestaram sérias resistências ao projeto projeto liberal mais consistentes entre os vários
golpista. De acordo com instruções de Benedito segmentos das elites, quer fossem representantes
Valadares, o Deputado mineiro Negrão de Lima das facções “tenentistas”, das oligarquias
saiu em missão pelos estados do Norte e Nordeste, dissidentes ou dos setores derrotados em trinta,
21
DA REVOLUÇÃO DE 30 AO GOLPE DE 37

contribuiu para o fechamento do regime, apesar oficiais e a ascensão de novos. Para expressivos
das diferentes táticas por eles adotadas. Isto pode segmentos “tenentistas”, a constitucionalização do
ser percebido ao longo dos diversos momentos do País representou a própria falência dos ideais
período pós-trinta. Logo em seguida à revolução revolucionários. Não foi por outra razão que vários
manifestou-se uma forte tendência para se manter deles abandonaram a política ou partiram para
o regime discricionário como condição essencial formas radicais de contestação ao regime. Tam­
para a consolidação das reformas políticas e so­ bém as sucessões estaduais representaram um mo­
ciais. Na fase constitucional, quando o movimento mento privilegiado para a rotatividade das elites.
popular ganhou maior expressão, parcela Com o levante comunista de 1935, ao mesmo
significativa da classe política, temerosa, defendeu tempo em que antigos revolucionários foram mar­
medidas repressivas e desmobilizadoras. Na ginalizados por adotar uma postura radical, Vargas
campanha presidencial de 37, esses limites tam­ conseguiu o apoio de parcela significativa da
bém se tornaram bastante evidentes. Desde os classe política para a implementação de medidas
primeiros instantes em que se instalou o debate mais centralizadoras e autoritárias. Concomitante-
sucessório, a proposta de candidatura unitária foi mente à adoção dessas medidas instalou-se o de­
colocada como condição essencial para a realiza­ bate sucessório, provocando novos re-alinha-
ção das eleições, com base na justificativa de que mentos e o alijamento de outros atores. Final­
o Brasil, face aos constantes conflitos internos, mente, a intervenção no Rio Grande do Sul
não poderia suportar uma acirrada disputa aprofundou a depuração, eliminando importantes
eleitoral. segmentos civis e militares.
Cabe ainda ressaltar que, se o golpe de dez de Ao término deste processo, vários dos antigos
novembro de 1937 se voltou contra os setores ex­ e fiéis aliados de trinta ficaram marginalizados
tremistas e contra os agrupamentos oposicionistas, politicamente. Entre eles vamos encontrar nomes
ele também atingiu aquelas elites situacionistas como os de Flores da Cunha, Juraci Magalhães,
que, sem questionar a proposta vencedora em Carlos de Lima Cavalcanti, Antônio Carlos
1930, apenas se contrapuseram ao continuísmo de Ribeiro de Andrada, Raul Pilla, Lindolfo Collor,
Vargas como a única solução para superar os Antunes Maciel, José Américo de Almeida, Artur
impasses vividos pela Nação. Na verdade, o golpe Bemardes, Juarez Távora, Miguel Costa e Pedro
representou mais um importante momento do Ernesto. As articulações golpistas foram
processo de depuração das elites que se tomou comandadas, além de Vargas, por Góis Monteiro,
perceptível a partir de trinta. Eurico Dutra, Francisco Campos, Agamenon
O confronto entre “tenentes” e oligarquias, por Magalhães, Benedito Valadares, Filinto Müller e
si só, foi responsável por diversos alijamentos nos Negrão de Lima. A linha de frente do golpe não
instantes que se seguiram à Revolução. Já na foi a mesma da Revolução de 30.
disputa pelos cargos, vários elementos foram Deve-se ressaltar, finalmente, que este trajeto
expelidos. Este processo se aprofundaria nos não foi percorrido de forma linear. A fim de se
conflitos desencadeados pelo debate em tomo da manter à frente do processo político, Vargas teve
manutenção do regime discriminatório ou da que redefinir constantemente seus esquemas de
constitucionalização do País. Assim, com a aliança. Os sucessivos alijamentos e realinha-
Revolução de 1932, novos rearranjos ocorreram mentos não decorreram todavia de um plano pre­
tanto nas elites civis quanto nas militares. Os viamente estabelecido, mas sim das necessidades
derrotados, entre os quais alguns setores re­ que se apresentaram a cada conjuntura em função
volucionários de trinta, foram momentaneamente da lenta maturação da pauta de prioridades do
afastados, ao mesmo tempo em que abriu-se no regime.
Exército a oportunidade para a renovação na
cúpula que possibilitou a eliminação de antigos Recebido para publicação em setembro de 1997.

Dulce Chaves Pandolfi (pandolfi@fgv.br) é Pesquisadora do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas


Mario Grynszpan (mario@fgv.br) é Pesquisador do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas e Professor
da Universidade Federal Fluminense.

22
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDI, Paulo. (1983). Vargas da vida para a conciliação no ano de 1936. Rio de Janeiro. FGV/
história. Rio de Jaúeiro, Zahar. CPDOC, mimeo.
CAMARGO, Aspásia. (1983). “A revolução das LEVINE, Robert. (1980). O regime de Vargas,
elites: conflitos regionais e centralização política”. 1934-1938: os anos críticos. Rio de Janeiro, Nova
In: A Revolução de 30. Brasília, Editora Uni­ Fronteira.
versidade de Brasília. MARTINS, Luciano. (1983). “A Revolução de
CARVALHO, José Murilo de. (1983). “Forças 1930 e seu significado político”. In: A Revolução
Armadas e política. 1930-1945”. In: A Revolução de 30. Brasília, Editora Universidade de Brasília.
de 30. Brasília, Editora Universidade de Brasília. OLIVEIRA, Lúcia Lippi. (1983). “As idéias fora
D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. (1984). Milita­ do tempo”. In: Simpósio sobre a Revolução de
res, repressão e o discurso anticomunista no golpe 30. Porto Alegre, ERUS.
de 1937. Rio de Janeiro, FGV/CPDOC, mimeo. PANDOLFI, Dulce Chaves. (1980). “Atrajetória
FAUSTO, Boris. (1972). Pequenos ensaios de do Norte: uma tentativa de ascenso político”. In:
história da República: (1889/1945). São Paulo, GOMES, Ângela Maria de Castro, (coord.).
Cadernos CEBRAP, n.° 10. Regionalismo e centralização política. Rio de
GOMES, Ângela Maria de Castro, (coord.). Janeiro, Nova Fronteira.
(1980). Regionalismo e centralização política. Rio PANDOLFI, Dulce Chaves. (1983). O golpe de
de Janeiro, Nova Fronteira. 37 e a sucessão presidencial: a candidatura de
GOMES, Ângela Maria de Castro. (1981). “Con­ José Américo de Almeida. Rio de Janeiro, FGV/
fronto e compromisso no processo de constitu- CPDOC.
cionalização (1930-1935)”. In: FAUSTO, Boris. RODRIGUES, Leôncio Martins. (1981). “O
(org.). O Brasil republicano. Vol. 3, São Paulo, PCB: os dirigentes e a organização”. In: FAUSTO,
Difel. Boris. (org.). O Brasil republicano. Vol. 3, São
GOMES, Ângela Maria de Castro. (1982). “O Paulo, Difel.
redescobrimento do Brasil”. In : OLIVEIRA, Lúcia SAES, Décio. (1981). “Classe média e política
Lippi, VELLOSO, Mônica Pimenta e GOMES, no Brasil. 1930-1964”. In :FAUSTO, Boris. (org.).
Ângela Maria de Castro. Estado Novo: ideologia O Brasil republicano. Vol. 3, São Paulo, Difel.
e poder. Rio de Janeiro, Zahar. SOUZA, Maria do Carmo Campello de. (1976).
GRYNSZPAN, Mário. (1983). Acordos e desa­ Estados e partidos políticos no Brasil. São Paulo,
cordos na política nacional. As tentativas de Alfa-Omega.

23

Você também pode gostar