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Se espero ver uma cadeira em um lugar e quando vejo ela não está lá, me deparo com
um nada de cadeira. O nada não estava lá antes, ele surgiu a partir de uma quebra de
expectativa em que esperava ver um objeto em determinado lugar e ele não estava lá.
O silêncio, portanto, não deve ser visto como entidade que existe independente do
som. Sem uma concepção inicial de som, não há uma concepção de silêncio. O som basta
existir para ser, e o nada de som para alguém que escuta, se manifesta através da falta de som
(ou melhor dizendo, por uma diminuição drástica do volume sonoro). Mas se alguém que
nasceu surdo se depara com o silêncio, não o consegue perceber, pois para ele o silêncio é
uma totalidade: não existe nada além do nada (silêncio) e, portanto, não há necessidade de se
categorizar e interpretar o que não se escuta.
Para esta pessoa que nasceu surda, o som não é algo que se percebe ou que pode ser
identificado e não há uma necessidade de nomear esse nada. Voltando ao exemplo anterior,
há inúmeras cadeiras que também não estão lá, mas não se faz necessário perceber esses
nadas sem haver a expectativa de que essas inúmeras cadeiras deveriam estar lá. Como não se
esperava que estivesse, não se fala desse nada. A mesma coisa com o silêncio.
Como pode-se ver, o som existe, para alguém que o escuta, e basta isso para que seja
percebido. Contudo, o nada não basta “existir” para que seja percebido, justamente por que
não existe. De tal modo o nada é posterior ao ser, de tal forma que o silêncio é posterior ao
som.
Não porque não houvesse som ao redor, mas porque houve uma expectativa de se
ouvir um som que foi quebrada. De tal maneira, o silêncio não é um “nada” absoluto que
transcende o ser do som e que existe independente dele – afinal houve silêncio na sala de
concerto mesmo que ainda houvesse som.