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Abstract: This article summarizes a project entitled “Edu-communication, science and other
knowledge: a study of collaborative work in storytelling”, coordinated by the Federal University
of Mato Grosso in partnership with State Secretary of Education. In 2015 and 2016, the project
worked in nine [pilot] public schools of Mato Grosso – urban and rural –, working the collective
construction of knowledge in three main areas that are intrinsically related: history, creativity
and environmental education.Framed on storytelling, or transmedia narrative, teachers and
students built and shared the knowledge by community learning process. Interventions in
schools were based upon Paulo Freire’s participatory methods, and the student’s
interpretations were understood by Merleau-Ponty’s phenomenological approach.
Keywords: Environment Education; Storytelling; Transmedia narrative; Edu-communication;
phenomenology.
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Professora do Departamento do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de
Mato Grosso e pesquisadora do "Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Artes" da
Universidade Federal de Mato Grosso.
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Professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Mato Grosso e
pesquisador do "Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Artes" da Universidade
Federal de Mato Grosso.
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Professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Mato Grosso e
pesquisador do "Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Artes" da Universidade
Federal de Mato Grosso.
Momento: diálogos em educação, E-ISSN 2316-3100, v. 26, n. 2, p. 282-296, jan./jun. 2017 282
Introdução
Talvez seja possível afirmar que, a partir da década de 90, a Comunicação foi
uma área que revolucionou a civilização, apoiada pela expansão da Internet e
corroborando com a teoria de que cada sujeito4 poderia se transformar em uma mídia.
Em vista do papel que a Comunicação desempenha na sociedade, inclusive nas suas
dimensões educativas, ambientais, éticas e políticas, a narrativa transmídia pode servir
como elemento central da Educação Ambiental no processo pedagógico entre estudantes
e professoras(es).
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A ideia de sujeito usada por nós segue o entendimento de Paulo Freire sobre os indivíduos.
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autores, que convida o pesquisador ou a pesquisadora a se distanciar do coletivo para
seus próprios pensamentos, valores e existências; e c) a pesquisa sociopoética e a
cartografia do imaginário, que buscam diálogos entre a fenomenologia e a participante,
que valoriza a construção de confeto (conceitos e afetos), do saber, fazer e sentir a
educação ambiental com o corpo inteiro. Das oficinas grupais, dos diálogos de saberes
populares e acadêmicos, da tentativa de construir epistemologias não meramente
acadêmicas, nas esteiras das vivências com comunidades de aprendizagens e nas
escolhas de valores, reflexões e axiomas éticos.
De igual modo, não é nosso intuito postular as atividades realizadas nas escolas
e aqui relatadas como doutrina universal à educação, entendendo que os anseios variam
de um lugar a outro. Enxergamos essas variantes a partir da fenomenologia. Na nossa
própria pesquisa, observamos diferenças no desenvolvimento do trabalho em cada
centro escolar. Apenas nos resguardamos a apresentar neste artigo uma maneira que
julgamos pertinente de imbricar comunicação e educação. Essa junção viabiliza a
multiplicidade de opiniões e formas de ver o mundo, ora concordantes, ora dissonantes
entre si, algo que pode contribuir para os debates.
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Além disso, o desenvolvimento científico e tecnológico no manejo do solo
propiciou ao sistema explorar as áreas rurais, jogando no solo uma quantidade
considerável de agrotóxicos. Isso implica contaminação do lençol freático e dos
alimentos que chegam às casas de todos nós. Novas e mais fortes doenças passam a
desafiar a Medicina a criar tratamentos mais eficazes.
Para garantir direitos iguais a todos que convivem no mesmo espaço, uma
comunidade, um país ou até o planeta, a economia tem papel relevante e os parâmetros
ambientais, por sua vez, precisam ser respeitados para não haver excessos de um lado
que prejudiquem grupos de maior vulnerabilidade. Se a democracia concede direitos aos
indivíduos, os desrespeitos ambientais devem ser combatidos, pois subjugam espaços de
convivência de grupos mais expostos aos efeitos negativos.
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A EA torna-se, assim, um substantivo composto, indissociável em sua
essência ontoepistemológica, com dimensões não somente naturais, mas
igualmente culturais. Valorizar a identidade da EA é, portanto, reconhecer
que as duas dimensões são intrinsecamente conectadas e interdependentes,
tornando os campos epistêmicos fortalecidos pelas lutas ambientalistas e
movimentos sociais.
Pensando nas dimensões e características de Mato Grosso, trata-se de um local
que apresenta diversidade ecológica distribuída em três biomas: Amazônia, Cerrado e
Pantanal, além de um ecossistema denominado Araguaia. Fora os atrativos relativos às
paisagens naturais, há as manifestações culturais cravadas em populações indígenas e na
arte popular (JABER; SATO; SILVA, 2012, p.2).
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erro na subjetividade do conhecedor, de sua visão do mundo e de seus
princípios de conhecimento. Daí os numerosos erros de concepção de ideias
que sobrevêm a despeito de nossos controles racionais (MORIN, 2000, p.20).
Nesse contexto, o diálogo e a consequente troca de saberes se colocam na
vanguarda por uma escola que faça adesão a outros valores, mais atuais. Paulo Freire,
então, trouxe uma proposta, calcada em quem está na escola para aprender, mas que, por
sua vivência específica, tem conhecimento a oferecer aos demais, inclusive ao
professor.
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novos instrumentos esteja sintonizado com um projeto político que garanta o
exercício universal do direito à expressão, no contexto de uma sociedade
solidária, que faça a cidadania prevalecer sobre o mercado –, o que importa
identificar é o potencial transformador que se estabelece nas relações entre as
novas gerações e as novas tecnologias (SOARES; VIANA, 2012, p.4).
Não de outro modo, consignar o ensino e o diálogo com a realidade traduzida,
interpretada, reconstruída, com o cotidiano em vigor nas suas mais diversas
manifestações. A ideia, para isso, de pavimentar o caminho entre pedaço e universo,
transitando por idas e vindas, é como Morin (2000, p.38) concebe a educação.
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com uma delas, sete foi o número em que a atuação se deu na primeira fase. A ideia foi
debater com o professorado e os estudantes uma nova relação didático-pedagógica na
sala de aula e transcender esse espaço por entender que as dinâmicas de ensino-
aprendizagem podem se dar em outros cenários.
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O pano de fundo da nossa atuação nas escolas foi a constatação de que, em vez
da supressão da internet e dos dispositivos digitais da sala de aula, é preciso pensar a
educação escolar inserida em uma realidade que contemple as tecnologias, uma vez que
elas já fazem parte do nosso dia a dia. De forma irremediável, será cada vez mais assim,
em especial nas rotinas de jovens entre 14 e 17 anos, sujeitos de pesquisa dos nossos
estudos.
A ideia das oficinas era justamente sugerir não apenas um cenário didático-
pedagógico mais dinâmico, como também um momento de ajustes e adaptações, de
acordo com a realidade de cada escola, resguardando igualmente os ineditismos da
existência humana e das relações interpessoais, tendo em vista que, desde o início, a
nossa pesquisa não teve como pressuposto levar um modelo terminado, em que não
houvesse a possibilidade de moldar a argila.
Para trabalhar com texto, foto, vídeo e áudio, a equipe do projeto foi dividida em
vários times – formados por docentes e estudantes do curso de Comunicação Social da
Universidade Federal de Mato Grosso. Essas turmas ficaram responsáveis por ministrar
as oficinas, dividindo a atuação em diversas frentes, já que era preciso estar em duas
escolas diferentes no mesmo dia.
Ao final, como resultado dos produtos gerados pelas oficinas, foram organizadas
apresentações abertas com a presença de pais e integrantes da comunidade. O objetivo
era marcar a finalização do projeto com a exposição pública do que havia sido
produzido por estudantes. Jornais, documentários, matérias em áudio e imagens
fotográficas, que tiveram alunas e alunos como produtores e participantes das
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atividades, compuseram a narrativa do conhecimento disponibilizada em diferentes
plataformas de mídia.
Entendemos que nenhuma ideia é suficientemente acabada, que não possa ser
transformada na relação das (os) envolvidas (os). Mesmo porque, uma vez considerada
a proposta engessada, implica pressupor a incapacidade de outras pessoas modificarem
os rumos do processo de acordo com suas carências, angustias e vontades.
Fomentaríamos, assim, o prolongamento das opressões e dos abismos de desigualdades
já consagrados na sociedade e que, a lamentar-se, a educação acaba reproduzindo. A
nossa visão vai de encontro a isso.
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A máxima fenomenológica vai na contramão disso. Ao valorizar a singularidade de
cada sujeito e fenômeno, temos informações de escolas urbanas e rurais de Mato Grosso
próprias daqueles contextos, com pessoas específicas, num intervalo de tempo
determinado. Em outro momento, com pessoas diferentes, as impressões seriam
distintas.
Essa dinâmica se dá porque o idealismo não tem força suficiente para construir
solitariamente o conhecimento, assim como a experiência não é capaz, em isolamento,
de traduzir as idiossincrasias da realidade. Indistintos, ideia e empirismo compõem a
percepção, que mudará à medida que os olhos de quem investiga não forem os mesmos.
A verdade não se encontra cá ou acolá, e sim na interação eu-outro-mundo.
Esta é a razão pela qual, para nós, a “educação como prática da liberdade”
não é a transferência ou a transmissão do saber nem da cultura; não é a
extensão de conhecimentos técnicos; não é o ato de depositar informes ou
fatos nos educandos; não é a “perpetuação dos valores de uma cultura dada”;
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não é o “esforço de adaptação do educando a seu meio”. [...]Para nós, a
“educação como prática da liberdade” é, sobretudo e antes de tudo, uma
situação verdadeiramente gnosiológica. Aquela em que o ato cognoscente
não termina no objeto cognoscível, visto que se comunica a outros sujeitos,
igualmente cognoscentes.
Educador-educando e educando-educador, no processo educativo libertador,
são ambos sujeitos cognoscentes diante de objetos cognoscíveis, que os
mediatizam (FREIRE, 2013, p.106-107).
Inserir professoras (es) e estudantes em roda, rechaçando a lógica frente-fundo
das salas de aula tradicionais, contribui para uma outra possibilidade de ambiente
escolar. Dinamizando as atividades e os papeis de todos e todas, observamos a mudança
de comportamento das (os) alunas(os) no sentido de se engajarem mais no dia a dia da
escola. O trabalho conjunto entre professoras(es) e alunas(os) no decorrer do
desenvolvimento do projeto como princípio basilar do processo colaborativo fez
emergir o entendimento de que o encontro de sujeitos em uma convivência comum
requer o reconhecimento da existência mútua. O ser humano somente “começa a existir
pelo olhar do outro; ora, sem existência, a própria vida se extingue” (TODOROV, 2014,
p.87). Ao ver no aluno um sujeito, o professor compartilha o seu conhecimento e é, por
sua vez, também como sujeito reconhecido pelo aluno. Esta simbiose traz benefícios a
todos. Mais ainda, exige para a sua consecução, encadeamento, um esforço constante de
transparência, firmeza e afetos.
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Chega-se, então, ao momento em que nos encontramos: partindo do
conhecimento científico sobre as questões ambientais, entendemos ser necessário
plantar os pressupostos e alternativas da Educação Ambiental em escolas da educação
básica de Mato Grosso. Ao atuar junto a adolescentes e jovens estudantes, o projeto
“Educomunicação, ciência e outros saberes” buscou, dentre outras finalidades, despertar
o olhar de professoras(es) e alunas(os) para os problemas já em andamento.
Foi assim que os(as) proponentes do projeto levaram às escolas uma ideia
apenas iniciada, porque em qualquer hipótese um modelo pode ser finalizado por
determinadas pessoas num espaço específico e ser levado a realidades diferentes, cujas
vivências são outras, sem que adequações sejam feitas.
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Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 11.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 58.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
PASSOS, Luiz Augusto; SATO, Michèle. Notas desafinadas do poder e do saber: qual a
rima necessária à educação ambiental? Disponível em:
<http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/700>. Acesso em
06.out.2015.
Momento: diálogos em educação, E-ISSN 2316-3100, v. 26, n. 2, p. 282-296, jan./jun. 2017 295
Joselândia. Disponível em: <https://www.seer.furg.br/remea/article/view/3985/2471>.
Acesso em: 05.out.2015.
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