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Fêmeas Memórias – Esperança Aprisionada

Amazônia Real
06/02/2017 16:40

FÁTIMA GUEDES

Em todas as lágrimas há uma Esperança (Simone de Beauvoir).


Em breves momentos de escuta e acolhimento a delitantes condenados/as chegam-nos
sussurros, gemidos, tímidas queixas e não raro revolta… Dificilmente, brados de
esperança. Embora, seja ela a companheira inseparável de desvalidos/as.
A manhã chuvosa na Ilha Tupinambarana, em Parintins, no Amazonas, dificultava acesso
à área de ocupação ‘Paschoal Alágio’ onde me esperava a Personagem que ilustra mais
um capítulo de Fêmeas Memórias. Até o minúsculo barraco a que chamamos residência,
caminhos cobertos de lama ladeados por monturos de lixo e devastação, sequelas do
recente processo de ocupação desordenada daquela área. É o que sobra aos condenados a
migalhas de direitos sociais. Depois do que vi e ouvi é impossível manter neutralidade.
Ademais, os compromissos assumidos com legados de Justiça Social instigam-me
quebrar protocolos e cumplicizar-me com a intervenção e até mesmo enfrentamento à
logica perversa das desigualdades.
Entre lágrimas e soluços incessantes, Esperança concede-nos o privilégio da confiança e
confidência de suas memórias. Vez por outra, o pequeno Kinho, de três anos, interpõe-se:
‘Não chora, mamãe!’. Nesse cenário controverso aos códigos considerados humanos,
nossa Personagem produz do seu jeito o que chama vida:
Não sei por que vivo… Olho para trás, só escuridão e dor… Hoje, aos 38 anos, o que me
resta? Investir no desejo de me reinventar, de alimentar a esperança; que as pessoas me
deem uma oportunidade, uma chance de eu mostrar que mudei. Esperança é a outra
mulher que vive em mim e não me abandona.
Aos 21 de janeiro de 1979, na cidade de Manaus, bairro São Jorge, uma
adolescente de 15 anos traz ao mundo e entrega à avó materna uma raquítica fêmea
humana. Inicia-se aí, a jornada de Esperança:
Não sei quem é meu pai. Minha mãe me teve, mas nunca quis saber de nós.
Minha avó que cuidou de mim e de minha irmã. Minha mãe sempre negou que éramos
suas filhas; dizia que nós era suas irmãs. Fui crescendo, ouvindo isso e ficava muito
furiosa. Cresci com muita revolta e fazia de tudo pra atingir ela e deixar ela com raiva
também. Era uma forma de chamar atenção dela. Com sete anos, minha mãe/avó me
botou pra estudar na Escola Padre Pedro Gerlande. Lá eu fiz o fundamental. A oitava
série fiz no Castelo Branco, Bairro de São Jorge, a vida já cheia de problemas. E vim
concluir o ensino médio, já no presídio. Aos 13 anos, a revolta me dominou – brigava na
rua, fugia de casa, aí fui internada no Marize Mendes, instituição que abriga menores
infratores. Lá fiquei 3 meses. Saí mais revoltada ainda. Não tinha noção das coisas. Na
verdade, eu só queria atingir minha mãe; queria o amor dela de qualquer jeito, pois
nunca conheci meu pai. Hoje, entendo que ela não tinha nada pra me dar. Acho que fui
feita de qualquer jeito.
Na Trilha dos Delitos
Conforme avançam os diálogos e conquista-se confiança das personagens, torna-se mais
fácil vasculhar ‘calabouços’ existenciais. Por esse viés, constata-se que a geratriz da
delinquência subjaz nas ausências do direito à vida digna, na desestruturação familiar,
fatores geralmente retroativos aos modos de concepção (estupros, gravidez indesejada…)
e aos primeiros impactos de rejeição ao ser produzido ao acaso. Com a morte de
possibilidades humanizantes, já no adolescer, inicia-se o ciclo reprodutivo da trama. É o
testemunho de Esperança:
Com 14 anos, me envolvi com um ‘batedor de carteira’ do centro de Manaus
que também consumia muita droga e fugi de casa pra morar com ele. Aos 15 anos, fui
mãe do meu primeiro filho. Aquele homem me maltratava, me batia muito. Com 7 meses
de gravidez ele me bateu muito e, na consulta do pré-natal, estava toda marcada. Aí,
minha mãe/avó não queria mais que eu vivesse com ele, me levou de volta e me trancou
em casa, mas eu fugi e voltei com ele. Nessa vida, eu tive dois filhos com ele. Às vezes,
tirava o pão da nossa boca pra sustentar o vício. Aí, ele começou pegar droga pra manter
o vício dele: pegava e ele mesmo consumia. Foi aí que eu comecei pegar e vender pra
ele mesmo. Tinha 17 anos quando me envolvi nesse mercado, mas nunca consumi. Nesse
tempo, aconteceu um problema em Manaus com o negócio das drogas e viemos pra
Parintins. Eu tava com uns 20 e poucos anos. A gente ia e vinha, ia e vinha… Aí, fiquemos
de uma vez vendendo droga, aqui. Em 2007, fomos presos.

“Puxando Cana”
A dinamicidade da linguagem possibilita infinitas variações de uso e flui da necessidade
cultural e também como instrumento facilitador da comunicação. É comum em
categorias condenadas a exclusões uso de códigos linguísticos inusitados. Provavelmente,
uma estratégia de resguardar ou preservar o que lhes resta de privacidade e ao mesmo
tempo contrastar aos estranhos ruídos articulados nas instâncias do Estado Democrático
de Direito, longes do alcance e compreensão de grupos excluídos. Esperança desgastara
parte da juventude puxando cana:
Fiquei dez meses presa. Saí e, um mês depois, voltei. Daí foram mais 3 anos. Meu ex-
marido me mandou pegar uma droga e a polícia me flagrou. Meus filhos eram pequenos
e minha mãe/avó foi quem cuidou deles. No presídio, aconteceu outro problema. Meu ex-
marido me bateu muito e eu não quis mais ele. Ele já tinha outra pessoa que visitava ele,
mas não me deixava em paz. Sempre tentava me agredir. E lá no presídio não havia
separação; era tudo misturado. Falava pra direção, mas ninguém tomava providência.
Nesse tempo, passei a trabalhar lá na cozinha. Tinha outro rapaz que tava preso por
tentativa de homicídio e também trabalhava na limpeza; o meu ex tinha ciúme de mim
com ele; naquela época, nós só era amigos; não tinha nada entre nós. Nisso, teve uma
briga feia entre eles. E esse rapaz que, bem mais tarde se tornou meu marido, furou meu
ex que foi mandado pra Manaus. Lá, pegou uma infecção generalizada e morreu. Depois
disso, eu e o rapaz ficamos juntos. Com esse, tenho dois filhos. Após os três anos de cana,
saí pra ter meu filho, esse que hoje tem cinco anos. Fui presa de novo, por mais três anos,
numa escuta telefônica. Nesse período, o meu filho mais velho, da primeira relação, tinha
16 anos e se envolveu com droga em Manaus. Aos 17, foi morto no meio de um tiroteio.
Eu sofri muito. Não pude ver. Sei que sou culpada porque eu me envolvi nesse mundo
errado e ele se envolveu também. Depois, saí do presídio e engravidei, mas tive que
retornar, pois eu tava numa prisão domiciliar que já tinha vencido. Foi uma gravidez
muito complicada. Nesses 5 anos, eu estudei lá mesmo, concluí o ensino médio e passei
no ENEM pra Serviço Social, em 2010. Na época, a direção do presídio era muito ruim
com os presos e não tinha quem fizesse minha matrícula e também eu ia precisar de
acompanhamento policial para ir e vir da faculdade. Aí, perdi. Hoje, eu já teria
concluído. Engravidei novamente desse meu bebê, que agora está com 03 anos, peguei 6
meses de prisão domiciliar.Precisava amamentar e não tem estrutura no presídio. Dona
Joelma, Assistente Social que atendia os presos, me ajudou muito e eu consegui
prorrogar a domiciliar por um ano. Venceu e eu tive que voltar. Na domiciliar, a direção
do presídio monitora. Só posso sair de casa pra levar o bebê no médico e o juiz cobra do
posto uma declaração. Vencida o período, voltei e fiquei mais 3 meses. Confesso:
ninguém se acostuma ali, mesmo ficando muito tempo presa. Nesse retorno, sofri muito…
Pensava na minha vida perdida… Não soube o que foi uma infância feliz. Nem sei se tive
infância… Pensava tudo isso, mas calada, só na minha, puxando minha cana, de boa,
como dizem… Sem problemas, sem reclamar de nada. Queria sair dali por causa do meu
bebê que tem problema de convulsão. É desesperador. Ninguém imagina o que eu sofria
calada. Até que um dia, o Dr. Fábio Olinto foi lá, no presídio, eu mostrei o laudo médico
e ele entendeu minha situação. Esse juiz é muito bom de coração e me deu mais uma
chance pra cuidar do bebê, mas com todas as regras, de novo. As pessoas diziam que eu
não ia conseguir porque eu já era complicada com a justiça, mas ele me deu essa chance
da domiciliar.

Rotina no Cárcere
A sociedade considerada ‘livre’ ignora ser refém do ‘legalismo democracida’ e,
consequentemente, prisioneira da ilusão do ‘ir e vir’. O fator diferencial entre
aprisionados ‘livres’ e presidiários são as regras e os métodos de controle. Sobre a
questão, com certa reserva, Esperança traça um rascunho:
Não é fácil a vida de presidiária… Às vezes, nós somos assediadas… Antes era pior, era
muito difícil… Preso é sempre o preso… A relação era complicada… Agora melhorou
bem. O Sêo Bosco conversa, tenta ajudar os presos da maneira como ele pode. Antes
dele, era muito difícil; ruim mesmo. A gente comia muita sopa de pé de galinha e
ossada… Era só. Agora, já tem até uma comida razoável – feijão, arroz, carne, frango…
Já tô mais de ano fora de lá. A minha domiciliar venceu, o advogado está tentando
prorrogar por mais um ano até conseguir meu semiaberto. Tá nas mãos do Juiz, eu voltar
ou não pro presídio. Nem gosto de pensar nisso…
Lá, dentro da cadeia, eu fui abusada sexualmente pelo meu ex-marido. Ele foi falar
comigo, na sela e, mesmo ele tendo outra pessoa, ele me jogou no chão e me violentou.
Aí, eu senti mais nojo dele e não quis mais saber dele definitivamente. Quando a gente
vai presa e entra pra parte das celas, os caras lá dizem assim: ‘Quem manda aqui são
vocês’. Aí, os presos que entram têm de obedecer as lideranças… Ninguém diz nada.
Mercado Inóspito
Quando o diálogo se arrisca decodificar o mercado da droga, Esperança se retrai e
desconversa… Respeito. É compreensível… Nos desabafos escapados, há nítidos
temores… Entendo como sequelas que comprometem a própria segurança:
A gente entra pra esse mercado por necessidade. Quando a gente não encontra trabalho,
quando não tem de onde tirar para matar a fome ou por causa de doença a gente faz de
tudo… Aí, se os lascados forem pedir ajuda dos financiadores da droga, a única ajuda
que eles dão é com droga; ajuda entre aspas… A ajuda que eles falam é só pra eles. Na
verdade, as ‘mulas’ ou os ‘aviões’, como chamam, são chamados de traficantes… Eles
não são traficantes. São trabalhadores do tráfico, porque o lucro é todo pros
financiadores. A única coisa que se ganha é cadeia. Os financiadores são invisíveis. O
contato com eles é só por telefone. Quando algum vendedor precisa falar com eles,
aquele número não existe mais.
Eu trabalhava vendendo pasta. Quando eu vendia, o quilo custava R$ 7.000,00 (sete mil
reais). A gente tinha que devolver esse valor inteiro. O que a gente ganhava era muito
pouco. E, se não pagar, a gente é cobrada, ameaçada… Aí tem que pagar. Só ficava pra
comer mesmo e mal pra vestir. É só.

Rompendo Grades
Fotos ilustrativas: Floriano Lins

Grades… Independentemente do formato, impõem-se como limitações a possibilidades


de um desenvolvimento humano saudável. Embora sem as algemas metálicas, grades
acompanham a historicidade de Esperança, interceptando conexões com possibilidades
humanizantes. No entanto, a Mulher Esperança, alma gêmea com quem mantém diálogo
íntimo e permanente, sustenta-a no desafio:
Minha vida é isso… Não tenho nada mais pra esconder… Vivo buscando saídas dignas…
Quero me levantar definitivamente dessa prisão em que eu entrei. Essa minha situação
nem me deixou cuidar direito dos meus filhos. Enquanto eu tava presa, o meu filho mais
novo passou muito tempo na rede e teve problema pra andar, se movimentar. Minha
sogra que cuidava dele, tem problemas de saúde e meu marido trabalha pescando e passa
muito tempo fora. Hoje, meu bebê faz acompanhamento no CAPS com psiquiatra, porque
não tem neuropediatra, né? Vive sob efeito de FENOBARBITAL, um remédio controlado
e agora, associaram mais uma outra pílula. Estou cavando túneis na vida. Passei no
IFAM para Administração, em 8º lugar, concorrendo com mais de 100 pessoas. Aí tem
outra dificuldade. A domiciliar me proíbe até de trabalhar, de exercer qualquer coisa, de
tudo. Isso é muito ruim; eu tenho filhos… Eu preciso trabalhar… Por mais que meu filho
tenha esses problemas, se acontecer alguma coisa e eu estando fora, tenho como chegar
de repente pra socorrer ele; presa eu não tenho como. O advogado me explicou que eu
não posso estudar, porque o Juiz pode entender que, se eu tenho alguém pra cuidar do
meu filho, pra eu estudar, pode ter alguém pra ficar com ele pra eu continuar presa.
Mesmo proibida, estudo escondido. Vou pra aula todo dia. É uma oportunidade que eu
não posso perder jamais. Agora esse ano, já faço o segundo módulo. E eu pretendo pedir
pro Dr. Fábio me autorizar estudar. Não sei o que será decidido na próxima audiência.
Acho que ele não vai me mandar de volta por causa da superlotação e por todas essas
guerras de facção. O presídio é pequeno, mas tem… É difícil… Se houver uma rebelião
lá, o alvo mais fácil são as mulheres. Não tem separação… Eu espero em Deus que ele
tenha complacência, mais uma vez… Ninguém imagina meus dramas interiores. Passo
muitas necessidades… Não quero mais essa vida de droga. Não, não quero mais…
(Soluços…) Aqui, em casa, moram 4 pessoas: eu, meu marido e as duas crianças. A única
renda que tenho é bolsa família – R$ 142,00. A minha filha de 11 anos mora com a tia
dela. Tem vez que eu chego da aula, à noite, não tem nada em casa… Eu durmo de tanta
fraqueza e fome. Meu marido também está desempregado. Ele pesca com o padrasto,
mas, no tempo do boi, ele é artista pelo Garantido. Já viajou até pra São Paulo… Já
fomos pela Câmara pra conseguir trabalho pra ele nas obras; ele tem experiência na
carteira de ajudante de pedreiro. Agora, vou tentar o seletivo da SEMED. Tenho que
tentar… Quero ter vida digna como as outras pessoas… (Chora) Se eu conseguir
trabalho, pela manhã, eu deixo meu filho com a minha filha, de 11 anos, na casa da tia
deles. Elas tomariam conta. Se der alguma convulsão, ficaria mais rápido pra eu acudir.
Eu estudo de noite. 6 horas é a medicação dele. Entre 7 e 8 horas, ele já está dormindo.
Antes de eu ir pra aula, ele já fica mamado e medicado. Ele não dá problema de noite; é
mais durante o dia. Estou procurando uma vaga pra ele estudar. Se eu conseguir, aí fica
melhor. Num horário ele estuda; no outro, minha filha fica com ele. Tenho cursos de
Informática e Administração pelo CETAM, e faço o técnico de Administração no IFAM.
Não busco trabalho só na área em que eu estudo; se aparecer serviço geral, faxina, o
que importa é eu poder trabalhar… Só quero trabalhar… Quero ter uma renda que venha
de forma digna. Quando eu vou ao Fórum que eu vejo aquelas moças trabalhando,
pegando o nome das pessoas que querem falar com o Juiz, com os Defensores ou com o
Promotor eu me pergunto: por que não dão um trabalho assim pra gente?… Por que não
dão uma oportunidade pra gente que quer uma chance?… A gente é sempre vista com
outros olhos. Por exemplo, quando eu fiz o Curso do CETAM, eu estagiei numa
Ferragem, mas eles nunca souberam que eu era ex-presidiária. Se soubessem, jamais
teriam me aceito. Tenho Certeza. Mas não desisto!

Ecos de Esperança
As inquietações de Kinho com os soluços reprimidos da Mãe nos adverte que é
hora de poupar a ambos; dar uma pausa… Deixar que as circunstâncias proporcionem
momentos menos dolorosos… A ‘invasão’ ao arquivo privativo de Esperança é
consequência da conquista de confiança e do pleno entendimento sobre as intenções que
me levaram ao seu encontro. Deste amanho solidário, brotaram laços, trocas,
compromissos, sonhos e propósitos sinceros… São ecos de Esperança:
Nunca mais quero envolvimento com droga. Digo pra mim, pra jovens e mulheres que
pensam isso como futuro. Dinheiro de droga é amaldiçoado: vem fácil e vai fácil. Quando
a gente vai pra cadeia tudo acaba. E, às vezes, quando a gente cai na real, já é muito
tarde. É uma vida que se foi; uma família que se destrói. Eu não aconselho ninguém se
envolver com drogas, aliás, em nenhum mundo ilícito. Eu, particularmente digo: meu
mundo acabou. Se eu voltasse no tempo e com todas essas experiências, jamais teria
entrado nesse caminho… Nunca. Nunca. Eu já andei muito atrás de trabalho, até agora,
nada. Mas não perco a esperança; eu não desisto de procurar que alguém me dê essa
oportunidade. Dizem que as pessoas não mudam, que não tem mais chances… Mudam
sim; as pessoas mudam. Basta uma chance… Serem ajudadas… Só precisamos de uma
oportunidade. Quero poder estudar, fazer meu curso. Trabalhar dignamente… Acredito
que ainda tenha pessoas dispostas a acreditar em nós e estender a mão.
Ultrapassava o meio-dia… O que vi naquele barraco: condições subumanas de
sobrevivência e um Kinho, raquítico, oferendo consolo à Mãe; e ouvi: relatos pontuados
de violências… Reclamar por algo pessoal é injusto e mesquinho. Que as ‘reclamações’
se façam em coro, no mínimo, com força sensibilizadora e, mais ainda, com poder de
intervir sobre as estruturas do Estado Democrático de Direito produtoras de desigualdades
e exclusões.

Antes que as Grades se Fechem…


Quando adentramos ‘pântanos’ desconhecidos e/ou silenciados, sem repugnâncias ou
medos de sujar os sapatos, deparamo-nos com um universo/adverso difícil de mensurar,
dada a complexidade de enredos, trajetórias e personagens. Há muito a conhecer e
investigar sobre calabouços histórico-humanos… Noticiários ou formulações
preconcebidas não alcançam a dimensão de dois momentos conflitantes: o antes e o
depois de experiências em ‘chiqueiros prisionais’… São materialidades propícias a
pesquisas científicas… Defendemos o poder da Ciência, enquanto instrumento de
humanização. Urge, portanto, esquecer a ‘neutralidade’, por algum momento e, por fim,
contribuir nas transformações estruturais por um mundo justo e humano. São as
possibilidades que movem a história, reafirma o Educador Paulo Freire, A história,
enquanto possibilidade, não tem um rumo predefinido, mas se movimenta
implacavelmente entre permanências e rupturas, apesar de todas as formas de opressão.

Notas:
Kinho – Nome fictício para o filho mais novo de Esperança
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial
CETAM – Centro de Educação Tecnológica do Amazonas
IFAM – Instituto Federal do Amazonas
SEMED – Secretaria Municipal de Educação e Desporto
Sêo Bosco – Diretor da Unidade Prisional de Parintins/AM
Dr. Fábio Olinto – Juiz de Direito da Comarca de Parintins/AM
Chiqueiro Prisional – Expressão proferida pelo Promotor de Justiça, Dr. André Seffair,
referindo-se às condições subumanas do Presídio de Parintins/AM.
Legalismo Democracida – Pejorativo ao modelo produtor de desigualdades, exclusões,
barbáries…
Puxando cana – Relativo a grades. O termo vem do latino /crates/.Portanto, “grade feita
de canas entrelaçadas”. Origem da gíria ‘estar em cana’; ‘puxar cana’.

Leia os outros artigos da série:


Fêmeas Memórias – Algemas silenciadas
Fêmeas Memórias – Álquia Esquenta o Debate
Fêmeas Memórias – Utopias de uma Borboleta

Os artigos de autoria de Fátima Guedes fazem parte do Projeto – Fêmeas Memórias:


Trajetórias de Mulheres Violentadas sexualmente, presas da Justiça e ex-
presidiárias no município de Parintins, no Amazonas.

Fátima Guedes é educadora popular e pesquisadora de conhecimentos tradicionais da


Amazônia. Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ),
tem especialização em Estudos Latino-Americanos pela Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF) em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) em
Guararema (SP). Foi fundadora da Associação de Mulheres de Parintins, da Articulação
Parintins Cidadã e Militante da Marcha Mundial das Mulhe

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