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EVIDÊNCIAS DE PADRÕES DE REGULARIDADE NOS LIVROS

DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA DO ENSINO FUNDAMENTAL

Caroline Tatiane Silva Nascimento1


Révero Campos da Silva2
1
PUC Minas/Departamento de Matemática e Estatística, caroline.tatiane@hotmail.com
2
PUC Minas/Departamento de Matemática e Estatística, revero@pucminas.br

Resumo

O presente estudo tem por objetivo averiguar como os padrões de regularidade são
abordados em uma dada coleção de livros didáticos de matemática do Ensino Fundamental
II. Por meio da análise qualitativa de uma coleção de livros didáticos, composta de quatro
volumes, orientados para o uso do 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental, buscou-se por
evidências de padrões de regularidade matemática nas atividades de ensino e/ou nas
abordagens teóricas. Após fazer levantamento bibliográfico acerca do papel da Álgebra no
Ensino Fundamental e pesquisar sobre as contribuições dos padrões de regularidade no
ensino de álgebra elementar, extraíram-se dos volumes analisados algumas atividades de
ensino e/ou abordagens teóricas onde observaram-se evidências de padrões de regularidade
matemática, para, em seguida, organizá-las a partir das categorias propostas por Hanke
(2008). Percebeu-se, durante esse estudo, a evidência de padrões de regularidade
matemática em vários conteúdos abordados ao longo da coleção de livros analisada. É
considerável destacar que os autores estabeleceram essas conexões não apenas nas
atividades de ensino, mas também ao apresentar os conteúdos matemáticos em algumas
seções desses livros didáticos.

Palavras-chave: Padrões de regularidade; Álgebra elementar; Livro didático.

Introdução

A partir da análise de uma coleção de livros didáticos de matemática buscou-se,


nesta investigação, identificar como os padrões de regularidade são abordados ao longo do
Ensino Fundamental II. A coleção escolhida foi aquela que a pesquisadora – que também é
professora no Ensino Fundamental – adota em sua sala de aula e está dentre as aprovadas
pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD-2014).
O interesse em abordar o tema surge da dificuldade dos alunos dessa professora em
compreender a linguagem algébrica – constatação possibilitada pelos anos de trabalho da
pesquisadora nas séries finais do Ensino Fundamental. Entende-se que um trabalho
pedagógico com a Álgebra elementar, no esforço de o estudante reconhecer um padrão de
regularidade implícito nas atividades de ensino, seja uma forma natural de estimular o
pensamento algébrico, além de conduzir esse estudante à atribuição de sentido e
significado ao trabalho com a Álgebra elementar, permitindo-lhe uma melhor compreensão
da linguagem matemática sistematizada.
Devido à dificuldade da pesquisadora, em sua prática docente, de desenvolver o
pensamento algébrico em estudantes do 6° ao 9º ano do Ensino Fundamental, buscou-se
identificar, em uma coleção de livros didáticos de matemática, evidências de padrões de
regularidade que contribuíssem para que estudantes da escola básica melhor
compreendessem a linguagem matemática sistematizada.
De acordo com os PCN (BRASIL, 1998), o estudo de Álgebra na escola básica tem
por finalidade a procura por padrões de regularidade que fomentem o desenvolvimento do
pensamento algébrico dos estudantes, favorecendo a eles a capacidade de generalização e
compreensão da linguagem algébrica.
Este trabalho de investigação é de natureza bibliográfica, subsidiado pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais que também sinalizam a exploração de padrões de
regularidade no desenvolvimento da capacidade de raciocínio algébrico, onde se orienta
evitar um ensino de Álgebra com abordagem excessivamente mecanizada e destituída de
sentido e significado.
Nesse sentido, o estudo da Álgebra elementar deve contribuir para que os
estudantes desenvolvam e exercitem a capacidade de abstrair e generalizar para, com isso,
usufruir de uma poderosa ferramenta para resolver problemas, tanto dentro da Álgebra
quanto na Matemática em geral.
Os quatro volumes de matemática da coleção selecionada e suas respectivas
atividades de ensino e/ou abordagens teóricas foram analisados de forma qualitativa, com o
objetivo de buscar por evidências de padrões de regularidade matemática que
favorecessem o estudante a interpretar as “letras” em diferentes contextos da matemática
escolar.
Na intenção de responder a pergunta diretriz – sobre como os padrões de
regularidade matemática são abordados numa dada coleção de livros didáticos do Ensino
Fundamental – algumas metas nortearam os esforços dedicados ao desenvolvimento deste
trabalho de investigação: levantamento bibliográfico acerca do papel da Álgebra no Ensino
Fundamental; pesquisa sobre as contribuições dos padrões de regularidade no ensino de
Álgebra elementar e a identificação de algumas atividades de ensino e/ou abordagens
teóricas extraídas da coleção de livros didáticos analisada, no intuito de identificar modelos
de atividades de ensino que potencializem o desenvolvimento do pensamento algébrico.
As atividades e/ou abordagens teóricas analisadas neste trabalho servem de material
de apoio ao professor que ensina álgebra na escola básica, orientando-o no
(re)planejamento de sua aula e na diversificação das estratégias de ensino, como sinalizam
os documentos oficiais:
[...] os adolescentes desenvolvem de forma bastante significativa a
habilidade de pensar abstratamente, se lhes forem proporcionadas
experiências variadas envolvendo noções algébricas, a partir dos ciclos
iniciais, de modo informal, em um trabalho articulado com a Aritmética.
Assim, os alunos adquirem base para uma aprendizagem de Álgebra
mais sólida e rica em significados.
(BRASIL, 1998, p. 117).
Partir de situações de aprendizagem que conduzam o estudante a analisar, verificar
e validar o resultado encontrado se mostra como uma situação didática propícia a despertar
o interesse e a curiosidade desse aprendiz. Além disso, a utilização de padrões de
regularidade matemática proporciona ao estudante a oportunidade de observar e verbalizar
as suas constatações e registrá-las simbolicamente, tornando o estudo da Álgebra elementar
mais significativo e natural.
O papel da Álgebra na escola básica

Para uma melhor análise da contribuição dos padrões de regularidade para o ensino
da Álgebra, tornou-se necessário conhecer as concepções de alguns autores sobre o papel
dessa área da Matemática na escola básica.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais sinalizam que o pensamento algébrico, por
meio da exploração de situações de aprendizagem, deve propiciar o estudante a “observar
regularidades e estabelecer leis matemáticas que expressem a relação de dependência entre
variáveis.” (BRASIL, 1998, p. 81). Ou seja, trabalhar a observação e o registro das
regularidades identificadas é uma forma eficaz de se introduzir a linguagem algébrica
dando ao aprendiz a oportunidade de investigar a regularidade existente, transformando-a
em uma lei matemática que expresse a relação de dependência entre variáveis.
É preciso evitar um ensino de Álgebra com abordagem excessivamente mecanizada
e destituída de sentido e significado. Torna-se importante fazer com que o estudante
entenda as variáveis e o porquê da existência delas, como orientam os documentos oficiais:

É interessante também propor situações em que os alunos possam


investigar padrões, tanto em sucessões numéricas como em
representações geométricas e identificar suas estruturas, construindo a
linguagem algébrica para descrevê-los simbolicamente. Esse trabalho
favorece a que o aluno construa a ideia de Álgebra como uma linguagem
para expressar regularidades.
(BRASIL, 1998, p. 117).
Os estudantes precisam se apropriar dos recursos da Álgebra, por exemplo, para
ajudá-los na resolução de vários tipos de problemas. Para isso é necessário que ela seja
bem introduzida na escola básica, como constam das orientações sinalizadas na Proposta
Curricular de Matemática do município de Belo Horizonte: “Os adolescentes devem
perceber as vantagens que a linguagem algébrica oferece para traduzir e resolver diversos
tipos de problemas, ampliando a concepção de variável para incluir a dimensão de
incógnita”. (BELO HORIZONTE, 2012, p. 37). Isso significa que o ensino de Álgebra na
escola básica deve oportunizar ao estudante conhecer as diferentes interpretações das
letras, através de atividades contextualizadas, possibilitando a construção da linguagem
algébrica de forma natural e significativa.
Um problema detectado no ensino de Álgebra é que ele tem se limitado, em grande
parte, à aplicação de regras e procedimentos, principalmente através da resolução de
exercícios repetitivos. Como afirma Usiskin (1995), em geral, é solicitado do estudante que
ele saiba apenas aplicar essas regras e procedimentos numa determinada expressão
algébrica ou, ainda, que resolva problemas-tipo propostos nos livros didáticos.
É fundamental que o professor conheça métodos atuais que facilitem o ensino desse
tema e não levem a uma “técnica automática” de um “simbolismo extremado”, com vistas
ao desenvolvimento do pensamento algébrico dos alunos. Para Usiskin (1995), incentivar o
estudante a analisar algumas atividades com padrões de regularidade pode ser uma ponte
para o simbolismo algébrico, o entendimento e a resolução de problemas:
A álgebra começa como a arte de manipular somas, produtos e potências
de números. As regras para essas manipulações valem para todos os
números, de modo que as manipulações podem ser levadas a efeito com
letras que representam números. Revela-se então que as mesmas regras
valem para diferentes espécies de números [...] e que as regras inclusive
se aplicam a coisas [...] que de maneira nenhuma são números. Um
sistema algébrico consiste em um conjunto de elementos de qualquer tipo
sobre os quais operam funções como a adição e a multiplicação,
contando apenas que essas operações satisfaçam certas regras básicas.
(USISKIN, 1995, p.9).
Esse autor entende que as finalidades da Álgebra relacionam-se com diferentes
concepções de Álgebra, que estão relacionadas com a importância dada aos diversos usos
das variáveis. As concepções analisadas por Usiskin (1995) foram sintetizadas na tabela
abaixo.

Tabela 1: Concepções da Álgebra


Concepções da Álgebra Uso das variáveis Resumo simplificado
Aritmética generalizada Generalizações e Noção que é fundamental na
Modelos modelagem matemática.
(traduzir e generalizar)
Meio de resolver certos Incógnitas, constantes Álgebra como o estudo de
problemas (resolver e simplificar) procedimentos para
resolver certos tipos de
problemas, em que temos a
variável como incógnita.
Estudo de relações Argumentos, parâmetros Álgebra como o estudo
(relacionar, gráficos) de relações entre quantidades,
podendo a variável ser um
argumento, seja um valor do
domínio da função, ou um
parâmetro, seja um número do
qual outros dependam.
Estrutura Sinais arbitrários no Álgebra como o estudo
papel de estruturas, em que a
(manipular, justificar) variável é um objeto arbitrário
numa estrutura relacionada por
certas propriedades.
Fonte: BALDIM, Márcia Aparecida, 2008, p. 16.

O conceito de variável que os estudantes irão desenvolver vai depender das


concepções da Álgebra que serão abordadas ao longo de toda a escolaridade, tendo em
vista que a abordagem por meio de padrão de regularidade tem como objetivo a análise e o
registro do padrão observado em uma linguagem algébrica, facilitando assim a
“compreensão do significado das letras e das operações estabelecidas entre elas.” (Usiskin,
1995, p. 9).
É evidente a importância do ensino da Álgebra na educação básica, onde se deve
privilegiar o trabalho com as “letras”, mas de forma significativa, estimulando no estudante
o desenvolvimento do pensamente algébrico. A abordagem com atividades que apresentam
padrões de regularidade, além de promover um processo de ensino-aprendizagem eficiente
– do ponto de vista da aprendizagem escolar, de conteúdos da Matemática – tem
implicações na formação dos estudantes para a compreensão do mundo que os cerca,
dando-lhes a oportunidade de desenvolver uma análise algébrica mais detalhada, como
discorre Usiskin:
Podemos cristalizar algumas questões importantes no ensino e
aprendizagem da álgebra inserindo no quadro de concepções da álgebra
e usos das variáveis, concepções que se alteram com a explosão das
aplicações da matemática. A álgebra continua sendo um veículo para a
resolução de certos problemas, mas também é mais do que isso. Ela
fornece meios para se desenvolverem e se analisarem relações. E é a
chave para a caracterização e a compreensão das estruturas
matemáticas. Dados esses trunfos e a matematização crescente da
sociedade, não é de surpreender que a álgebra seja hoje a área-chave de
estudo da matemática da escola básica e que essa posição de destaque
provavelmente perdure por muito tempo.
(USISKIN, 1995, p.21).
Com isso fica clara a importância da Álgebra no currículo escolar básico e na
atualidade, destacando que esse campo da Matemática é uma importante ferramenta a ser
considerada no processo de formação dos estudantes focado em um ensino-aprendizagem
de qualidade e de significado para os aprendizes. Portanto, as metodologias utilizadas pelo
professor devem considerar um papel ativo do estudante, como orientam alguns
documentos oficiais:

Deve-se evitar a formalização excessiva e concentrar-se no


desenvolvimento de habilidades conceituais e manipulativas, estimulando
o uso de mecanismos informais como intuição, analogia, reconhecimento
de padrões, análise de casos particulares e generalizações, aproximação,
estimativas. Por outro lado, na 7ª e 8ª séries, quando já se atingiu
alguma maturidade, é adequado e desejável introduzir de modo
gradativo o método lógico dedutivo, apresentando e requerendo do aluno
demonstrações simples em álgebra e geometria.
(MINAS GERAIS, 2006, p.15).
Isso significa que o estudante precisa participar ativamente do seu processo de
aprendizagem, sendo o professor um mediador dessa aprendizagem; alguém que provocará
o aluno a pensar, analisar e validar a solução da atividade proposta. E para o estudo da
Álgebra é fundamental propor atividades investigativas que desenvolvam no estudante o
pensamento algébrico de forma natural e significativa.

Padrões de regularidade na Matemática

Padrões podem ser observados em vários campos. Na Matemática, os padrões


propiciam inúmeras aplicações, razões por que alguns matemáticos a definem como a
ciência dos padrões. Hanke (2008) analisa que:

Sendo o padrão uma presença contínua na vida de qualquer indivíduo, a


sua utilização na construção do pensamento algébrico, além de dar
significado à simbologia e às abstrações algébricas, assegura o exercício
dos elementos caracterizadores do pensamento algébrico.
(HANKE, 2008, p. 63).
Assim, como os padrões de regularidade estão presentes na vida das pessoas, eles
podem ajudar no desenvolvimento do pensamento algébrico de uma forma eficaz, dando
sentido ao estudo da Álgebra elementar na escola básica.
Existe uma infinidade de padrões de interesse da Matemática e é importante
destacar que, segundo a literatura, não há uma definição exata para padrão. Os padrões
para Hanke (2008, p.64) “são encontrados na natureza, na física, na biologia, na geografia,
na arte etc.”. Mesmo afirmando que não existe uma definição precisa para padrão, através
de um exemplo ela caracteriza, de forma intuitiva, essa ideia:

[...] quando Pitágoras intui que em todo triângulo retângulo, o quadrado


da hipotenusa é a soma dos quadrados dos catetos, suas primeiras
argumentações partem de observações, análise, identificação de
regularidades, intuição e a construção de um padrão. Somente mais
tarde é que ele conclui seu trabalho com uma demonstração
sistematizada. Na física, quando Galileu desperta para o fato de que
todos os objetos caem em direção ao solo (regularidade), isso o conduz a
ideia da gravidade. Essas e inúmeras outras situações revelaram um
padrão.
(HANKE, 2008, p.63).
Apesar de Hanke (2008) associar o enunciado mais famoso ao nome Pitágoras, o
mesmo não pode ser afirmado como sendo o “Teorema de Pitágoras”, pois pela história
esse teorema era conhecido por diversos povos mais antigos do que os gregos e pode ter
sido um saber comum na época de Pitágoras e que de acordo com Roque (2012):

A demonstração desse teorema, encontrada nos Elementos de Euclides,


faz uso de resultados que eram desconhecidos na época da escola
pitagórica. Não se conhece nenhuma prova do teorema geométrico que
tenha sido fornecida por um pitagórico e parece pouco provável que ela
exista.
(Roque, 2012, p. 86).
Voltando ao exemplo de Hanke (2008), entende-se que os padrões remetem a certos
tipos de regularidades, que primeiramente são apenas observadas para, posteriormente,
serem demonstradas e/ou generalizadas. Ao se referir aos padrões, no campo da
Matemática, a autora afirma que “dentro da Matemática, encontramos várias estruturas e
padrões que, de acordo com suas características e particularidades, podem ser
categorizados em numéricos, visuais, geométricos, figurativo-numérico, geométrico-
numérico etc.” (HANKE, 2008, p. 67).
A seguir, a autora apresenta alguns estilos de padrões matemáticos.
Figura 1: Alguns estilos de padrões matemáticos

Fonte: HANKE, 2008, p. 68.

Neste trabalho buscou-se identificar padrões numéricos e figurativo-numéricos em


atividades de ensino e/ou abordagens teóricas de livros didáticos de Matemática do 6° ao
9° do Ensino Fundamental. Acredita-se que conduzir o ensino da Matemática a partir de
experiências com padrões de regularidade é uma tentativa de torná-lo mais significativo;
além de conduzir o estudante a vivenciar o processo de construção da Matemática,
privilegiando o desenvolvimento do pensamento algébrico e a elaboração de uma
linguagem simbólica.
É preciso fazer o estudante perceber as regularidades existentes nos padrões e nas
situações-problema que ajudam a desenvolver o pensamento algébrico. Nesse sentido os
Parâmetros Curriculares Nacionais destacam que:

[...] é mais proveitoso propor situações que levem os alunos a construir


noções algébricas pela observação de regularidades em tabelas e
gráficos, estabelecendo relações, do que desenvolver o estudo da Álgebra
apenas enfatizando as manipulações com expressões e equações de uma
forma meramente mecânica.
(BRASIL, 1998, p. 118).
Fica evidente a importância de se trabalhar com padrões de regularidade no
ensino da Álgebra elementar, no esforço de desenvolver o pensamento algébrico de uma
forma mais significativa.
A partir desta pesquisa sobre os padrões de regularidade na Matemática,
decidiu-se identificar, em particular, os padrões numéricos e figurativo-numéricos,
buscando averiguar como esses padrões estão presentes em atividades de ensino e/ou
abordagens teóricas da coleção de livros didáticos analisada.

Metodologia da pesquisa

Este trabalho de investigação é de natureza bibliográfica que, de acordo com


Fiorentini e Lorenzato (2006, p.103), “é um tipo de pesquisa feita preferencialmente por
documentos escritos, em que a coleta de informações ocorre por meio de fichamento das
leituras realizadas.”. Esses autores, dentre os vários tipos de estudos bibliográficos,
caracterizam o tipo estado-da-arte:

[...] tendem a ser mais históricos e procuram inventariar, sistematizar e


avaliar a produção científica numa determinada área (ou tema) de
conhecimento, buscando identificar tendências e descrever o estado do
conhecimento de uma área ou de um tema de estudo.
(FIORENTINE; LORENZATO, 2006, p. 103).
Sendo assim, a pesquisa bibliográfica contempla uma análise criteriosa acerca do
tema em estudo, da qual resulta um registro detalhado das informações adquiridas. A
escolha das fontes bibliográficas foi feita com a sugestão do orientador.
As análises da coleção de livros didáticos escolhida foram feitas de forma
qualitativa e, segundo os autores Fiorentini e Lorenzato (2006), existem diferentes
maneiras de se analisar um conteúdo. Em Educação Matemática destaca-se a análise de
livros didáticos onde “[...] pode-se analisar os conteúdos e a forma como são abordados; os
erros conceituais; a ideologia subjacente ao texto e as ilustrações etc.” (FIORENTINE;
LORENZATO, 2006, p. 138). No estudo em questão foram considerados como categorias
de análise os padrões numéricos e figurativo-numéricos.
A coleção analisada pela pesquisadora – que também é professora no Ensino
Fundamental – é aquela que utiliza em sua sala de aula: Matemática dos autores Luiz
Márcio Imenes e Marcelo Lellis. Preocupou-se em averiguar se essa coleção estava dentre
as aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD-2014), por meio do Guia
de Livros Didáticos. Em seguida, iniciou-se a pesquisa analisando a coleção do 6° ao 9°
ano do Ensino Fundamental, na intenção de buscar por evidências de padrões numéricos e
figurativo-numéricos em atividades de ensino e/ou abordagens teóricas da coleção de
livros didáticos analisada.
Na resenha da coleção analisada é realçado que:
Com uso moderado de regras, inova-se na abordagem da álgebra,
buscando-se desmistificar sua dificuldade. A mesma intenção revela-se
na sistematização feita sem exageros da nomenclatura e da simbologia.
Os assuntos são retomados de um ano para o outro, ampliados e
explorados em problemas variados e interessantes. Há equilíbrio entre o
calculo algébrico e o emprego da álgebra para modelizar situações
cotidianas.
(BRASIL, 2013, p. 50).
A partir desse parecer é possível inferir que os autores dessa coleção tiveram a
preocupação em abordar a Álgebra de uma forma mais compreensível, tentando
desmistificar sua dificuldade, saindo das regras exageradas para uma introdução voltada
para situações cotidianas.
Para alcançar os objetivos propostos, fez-se um levantamento bibliográfico acerca
do papel da Álgebra no Ensino Fundamental; pesquisou-se sobre as contribuições dos
padrões de regularidade no ensino de Álgebra elementar e identificaram-se algumas
atividades de ensino e/ou abordagens teóricas, extraídas da coleção de livros didáticos
analisada, no intuito de apontar modelos de atividades de ensino que potencializassem o
desenvolvimento do pensamento algébrico.
Ao extrair dos livros didáticos as atividades de ensino e/ou abordagens teóricas
onde se perceberam evidências de determinado padrão de regularidade, estas foram
classificadas como padrão numérico ou padrão figurativo-numérico.
A análise dos livros didáticos

Conforme mencionado anteriormente, buscou-se, nos quatro volumes da coleção,


por evidências de padrões de regularidade em atividades de ensino e/ou abordagens
teóricas para, em seguida, classificá-las como padrão numérico ou figurativo-numérico.
Apresentaram-se algumas atividades de ensino extraídas da coleção, durante as
análises. As demais atividades e/ou abordagens teóricas, relacionadas com a temática
investigada, foram organizadas em um quadro-síntese, agrupadas em duas categorias:
padrão numérico ou figurativo-numérico, como consta da seção Apêndice.
No primeiro volume da coleção referente ao segmento do 6° ano do Ensino
Fundamental, são apresentadas atividades de ensino que evidenciam padrões de
regularidade matemática. Em alguns conteúdos foi possível observar a presença desses
padrões na parte teórica, podendo o professor motivar o aprendiz a identificar a
regularidade implícita na atividade proposta. Segue um exemplo de atividade extraída
desse primeiro volume.

Figura 2: Atividade de ensino

Fonte: IMENES & LELLIS, 2010, 6° ano, p. 106

A atividade encontra-se no capítulo 5, que trata sobre múltiplos e divisores de


números naturais. Observa-se que a atividade está relacionada com padrão figurativo-
numérico onde o autor inicia com uma sequência e solicita ao estudante a dar continuidade
à mesma. Esse tipo de questão conduz o aprendiz a analisar e a validar o levantamento
feito, a partir da observação do padrão de regularidade.
Analisando a sequência é possível identificar uma fórmula matemática que indica a
quantidade de bolinhas necessárias para a construção das próximas figuras. Entretanto,
como não é abordada a linguagem algébrica nesse segmento escolar, os autores não pedem
para fazer esta transformação, embora o professor possa acrescentar mais esta análise. Esse
tipo de atividade pode proporcionar ao aluno um momento de investigação e análise de
fórmulas matemáticas, dando sentido à linguagem algébrica, em contraposição a um ensino
de álgebra focado, muitas vezes, na manipulação exaustiva de fórmulas prontas.
No volume do 8° ano, no capítulo que introduz o tema “Produtos Notáveis”, os
autores propõem uma atividade que remete ao padrão numérico, na intenção de apresentar
a fórmula do “quadrado da soma de dois termos”, como indicado a seguir:
Figura 3: Atividade de ensino

Fonte: IMENES & LELLIS, 2010, 8° ano, p. 207

No item (a) da atividade analisada, os autores solicitam que se complete a tabela


efetuando as operações, no desejo de que o estudante identifique o padrão de regularidade
nos cálculos realizados. No item seguinte, solicitam que seja aplicado o padrão de
regularidade identificado anteriormente, agora em cálculos envolvendo figuras
geométricas. Avançam no item (c) quando pedem para o estudante registrar, por escrito e
do seu modo, o padrão de regularidade observado. Isso é importantíssimo, pois, em geral,
os estudantes têm dificuldade de escrever matematicamente. A atividade analisada envolve
o padrão numérico.

Considerações Finais

A partir da pesquisa realizada observou-se que o volume do 6° ano apresentou um


maior número de atividades de ensino que remetem a padrões de regularidade numérica e
figurativo-numérica. Essa evidência foi diminuindo nos volumes das séries seguintes e,
gradativamente, os autores inseriram atividades que exigiam dos estudantes a
representação do padrão de regularidade observado, por meio da linguagem algébrica.
No volume do 7° ano, onde a linguagem algébrica é efetivamente introduzida, as
atividades de ensino estimulam os estudantes a escreverem a fórmula matemática
relacionada ao padrão de regularidade observado. Avalia-se que esse procedimento
pedagógico pode possibilitar ao estudante uma melhor compreensão da linguagem
algébrica, em contraposição a um ensino de Álgebra elementar focado na manipulação de
fórmulas e que, em geral, é destituído de sentido e significado.
Identificou-se no volume do 8° ano uma quantidade reduzida de atividades de
ensino relacionadas a padrões de regularidade, e poucas delas indicavam a necessidade do
registro de uma fórmula matemática que representasse o padrão observado.
No 9° ano, os padrões de regularidade identificados na coleção foram mais
frequentes no capítulo que versava sobre funções.
Constatou-se que atividades de ensino e/ou abordagens teóricas relacionadas ao
padrão numérico são mais evidentes do que aquelas relacionadas ao padrão figurativo-
numérico. Entretanto, nos volumes finais da coleção analisada, a quantidade de atividades
desse tipo vai diminuindo, como registrado no quadro-síntese que consta da seção
Apêndice deste trabalho.
Partir de situações de aprendizagem que conduzam o estudante a analisar, verificar
e validar o resultado encontrado se mostra como uma situação didática propícia a despertar
o interesse e a curiosidade desse aprendiz. Além disso, a utilização de padrões de
regularidade matemática proporciona ao estudante a oportunidade de observar e verbalizar
as suas constatações e registrá-las simbolicamente, tornando o estudo da Álgebra elementar
mais significativo e natural.
Como ampliação e continuidade deste trabalho de pesquisa é sugerida a realização
de uma pesquisa de campo que possa analisar a prática docente de um determinado
professor da escola básica, na intenção de constatar como se dá o ensino-aprendizagem de
Álgebra elementar ou, ainda, a elaboração de uma sequência didática que conduza um
trabalho com Álgebra elementar na perspectiva da investigação de padrões de regularidade,
numa situação escolar.
As atividades e/ou abordagens teóricas analisadas neste trabalho servem de material
de apoio ao professor que ensina Álgebra na escola básica, orientando-o no
(re)planejamento de suas aulas e na potencialização das estratégias de ensino.

Referências

BALDIM, Márcia Aparecida. Resolução de problemas como metodologia de ensino e


aprendizagem de equações do 1º grau. Londrina, 2008. Produção didático-pedagógica,
Universidade Estadual de Londrina.

BELO HORIZONTE, Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. Proposições


Curriculares do Ensino Fundamental: matemática. RME-BH, 2012.

BRASIL, Ministério da Educação. Guia de livros didáticos PNLD 2014: Matemática


Anos Finais do Ensino Fundamental, Brasília: MEC, 2013.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais.


Brasília: MEC/SEE, 1998.

FIORENTINI, Dario; LORENZATO, Sergio. Investigação em Educação Matemática:


percursos teóricos e metodológicos. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. (Coleção
Formação de Professores).

HANKE, Tânia Aparecida Ferreira. Padrões de regularidades: uma abordagem no


desenvolvimento do pensamento algébrico. 2008. (Dissertação de Mestrado).

IMENES, Luiz Márcio; LELLIS, Marcelo. Matemática. 6° ao 9° ano. 1. ed. São Paulo:
Moderna, 2010.
MINAS GERAIS, Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Conteúdos Básicos
Comums: Proposta Curricular – Matemática, 2006.

ROQUE, Tatiana. História da matemática. Uma visão crítica, desfazendo mitos e lendas.
Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

USISKIN, Zalman. Concepções sobre a Álgebra da escola média e utilização das variáveis.
In: COXFORD, Arthur F.; SHULTE, Albert P. (Org.). As idéias da Álgebra. Tradução
Hygino H. Domingues. São Paulo: Atual, 1995. Cap. 2, p. 9–22.
APÊNDICE 1: Quadro com as atividades de ensino e apresentação de conteúdos que
envolvem padrões de regularidade, selecionadas durante a análise dos livros didáticos.

COLEÇÃO: IMENES & LELLIS – 2010 – 6° ANO


Atividade Página Padrão Padrão
Numérico Figurativo-Numérico
Atividade 2 14 x
Atividade 6 15 x
Atividade 3 35 x
Atividades 2 e 3 41 x
Atividades 9 e 10 42 x
Atividade 28 66 x
Apresentação de conteúdo 103 x
Atividades 1, 2 e 3 105 x
Atividade 4 106 x
Atividades 6 e 10 106 x
Apresentação de conteúdo 107 x
Atividade 17 110 x
Apresentação de conteúdo 119 x
Atividade 1 121 x
Atividade 2 121 x
Atividade 4 181 x
Apresentação de conteúdo 195 x
Atividade 33 215 x
Atividade 34 215 x
Atividade 28 231 x
Atividades 3, 4 e 5 255 x
Atividade 10 256 x
Atividade 13 258 x
Atividades 14 e 15 259 x
Atividade 19 260 x
Apresentação de conteúdo 261 x
APÊNDICE 2: Quadro com as atividades de ensino e apresentação de conteúdos que
envolvem padrões de regularidade, selecionadas durante a análise dos livros didáticos.

COLEÇÃO: IMENES & LELLIS – 2010 – 7° ANO


Atividade Página Padrão Padrão
Numérico Figurativo-Numérico
Apresentação de conteúdo 55 x
Conversar para Aprender (item b) 58 x
Atividade 5 59 x
Atividade 13 61 x
Apresentação de conteúdo 63 x
Atividade 30 69 x
Atividade 1 77 x
Atividade 3 146 x
Atividade 35 160 x
Atividades 1 e 2 198 x
Atividade 1 216 x
Atividades 5 e 7 217 x
Atividades 13 e 15 219 x

APÊNDICE 3: Quadro com as atividades de ensino e apresentação de conteúdos que


envolvem padrões de regularidade, selecionadas durante a análise dos livros didáticos.

COLEÇÃO: IMENES & LELLIS – 2010 – 8° ANO


Atividade Página Padrão Padrão
Numérico Figurativo-Numérico
Atividade 1 16 x
Atividade 8 17 x
Atividades 32 e 33 25 x
Atividade 39 41 x
Atividade 34 118 x
Atividade 42 207 x
Apresentação de conteúdo 233 x
APÊNDICE 4: Quadro com as atividades de ensino e apresentação de conteúdos que
envolvem padrões de regularidade, selecionadas durante a análise dos livros didáticos.

COLEÇÃO: IMENES & LELLIS – 2010 – 9° ANO


Atividade Página Padrão Padrão
Numérico Figurativo-Numérico
Atividade 1 44 x
Atividade 4 208 x
Atividade 5 209 x
Atividade Ação 210 x
Atividade 9 211 x
Atividade 10 211 x
Atividade 12 212 x

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